Artigo de Revisão
ISSN: 1983-7194
Modelos competitivos da distância percorrida por futebolistas profissionais:
uma breve revisão
Competitive models of distance covered by professional soccer players: a brief review
Braz TV
1,2,3
1- Universidade Metodista de Piracicaba- -SP/Brasil
2- Laboratório de Avaliação Física e Monitoramento Treinamento Desportivo – SP/Brasil
3- Bolsista CAPES-PROSUP
Resumo
O objetivo do presente estudo centra-se na revisão dos i) modelos competitivos da distância
percorrida nos jogos por futebolistas profissionais, ii) modelos competitivo da distância percorrida pelas
diferentes posições de jogo e dos iii) modelos competitivos da distância percorrida nos diferentes tempos
dos jogos. A fim de esclarecer o objetivo proposto, foram analisadas 30 referências internacionais e
nacionais de periódicos indexados, (pesquisados por meio das bases de dados referidas pelo portal CAPES:
Pubmed, Scopus, EBSCO Hosts e Wilson Web) e livros com registro no International Standard Book
Number. Especificamente quanto à distância percorrida por futebolistas profissionais durante os jogos, têmse alguns direcionamentos: i) baseados em pesquisas dos últimos cinco anos, futebolistas profissionais
percorreram em média 10012m a 11393m durante as partidas; ii) a maioria das pesquisas apontam que
meio-campistas percorrem maior distância nos jogos, seguidos pelos laterais, atacantes, zagueiros e
goleiros; iii) está consolidado na literatura que a distância média percorrida no 1º tempo é maior do que 2º
tempo de jogo.
Palavras-chave: modelos competitivos; distância percorrida; futebol.
Correspondência:
Tiago Volpi Braz
Laboratório de Avaliação Física e Monitoramento do Treinamento Desportivo (LAFIMT)
Universidade Metodista de Piracicaba- Campus Taquaral
Rodovia do Açúcar, KM 156
Piracicaba – SP
CEP: 13.400-911
Email: [email protected]
2
Rev Bras Futebol 2009 Jan-Jun; 02(1): 02-12
Braz TV
Modelos competitivos no futebol
Artigo de Revisão
Abstract
The objective of the present study focuses on the revision of the competitive models the distance
covered by professional soccer players on the games, (ii) competitive models of distance covered by the
different positions of the game and of the (iii) competitive models of distance covered in different periods of
the game. In order to clarify the proposed objective, it were analyzed 30 national and international references
periodics, (investigated by the databases and data referred CAPES portal: Pubmed, Scopus, EBSCO hosts
and Wilson web) and books enrolled on the International Standard Book Number. Specifically regarding the
distance covered by professional soccer players during the games, it has some directive points: (i) based on
studies of the last five years, professional soccer players covered on average 10012m to 11393m during the
matches; (ii) the majority of studies show that midfielders cover greater distance on the games, followed by
external defenders, forwards, central defenders and goalkeepers; (iii) its understood in the literature that the
average distance covered in the first half is greater than in the second half of the game.
Key words: competitive models; distance covered; soccer.
Introdução
O entendimento do que ocorre durante a
normalmente, têm sido considerados sob a perspectiva
atividade competitiva nas diversas modalidades tem
física do jogo, traduzidos na distância total percorrida
sido alvo de grande interesse dos cientistas do
pelos futebolistas, número de saltos, sprints, corridas
desporto. Tal premissa vem sendo aclarada pela
de alta intensidade, trote, deslocamentos de costas ou
formulação dos modelos competitivos físicos, técnicos,
lateralmente.
táticos, psicológicos e a complexa inter-relação destes
Estas informações tem sido importante para
componentes. De forma geral, estes modelos permitem
atuação junto a estes desportistas quando se pensa no
i) identificar tendências, princípios e padrões de
processo organizacional e estrutural do treinamento
comportamentos
para as competições, já que os meios e métodos de
competitivos,
ii)
monitorar
a
performance competitiva e iii) adequar os modelos
preparação
competitivos
especificidade que acometem suas ações competitivas.
aos
modelos
de
preparação
dos
acabam
sendo
direcionados
pela
A adequação dos modelos competitivos aos modelos
desportistas.
No futebol, diversas pesquisas direcionam-se
de preparação dos futebolistas tem sido apontada por
[1]
diversos autores como fator primordial na orientação
comunicações
deste processo de preparação[2-6], sobretudo quando
na busca destes modelos.
revelaram
que
a
Reilly e Gilbourne
distribuição
de
realizadas nos quatro primeiros Congressos Mundiais
[5]
trata-se da elite da modalidade .
de futebol, publicados no Journal of Sport Science,
Um dos modelos competitivos físicos que têm
confirmaram o interesse na análise do jogo, sendo o
sido largamente tratados na literatura é a distância total
principal assunto abordado, 51 dos 296 estudos
percorrida
relacionavam-se a tal problemática. Tais estudos,
3
por
futebolistas
durante
os
jogos.
[7]
Recentemente, Di Salvo, Baron e Cardinale
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modelaram a distância percorrida por 791 futebolistas
Inicialmente, há que se considerar os fatores
em 68 partidas no continente europeu; Rampinini et
que influenciam o controle da variável abordada na
al.
[8]
investigaram modelos de ações e deslocamentos
presente revisão. Sendo assim, a distância percorrida
de uma mesma equipe mediante o confronto com
por futebolistas durante os jogos dependem da posição
equipes de maior e menor nível competitivo; Barros et
de jogo[5], do estilo da equipe[2], do nível competitivo[10],
al.
[9]
buscaram modelos para futebolistas profissionais
[5]
em competições brasileiras e Di Salvo et al
focaram a
análise das funções táticas exercidas pelos futebolistas
[4]
do tipo de competição , da condição física dos
[5]
[11]
futebolistas , do espaço da competição
da
[4]
modalidade ,
dos
diferentes
[8]
, da evolução
momentos
da
[4]
no que concerne a distância total percorrida, diferença
temporada , dos métodos de análise , das condições
entre os tempos, tipos e intensidade das ações
ambientais[10] e da própria dinâmica do jogo[12]. A fim de
acometidas no jogo.
visualizar
Diante de tais pressupostos, é claro o interesse
os
competitivas
fatores
(no
que
influenciam
presente
estudo,
as
ações
tratado
pela
em investigar futebolistas durante seu momento
distância percorrida nos jogos) preconizadas pelos
competitivo,
futebolistas durantes as partidas, propõem-se a figura
principalmente
no
que
concerne
a
distância percorrida por estes desportistas durante os
1.
jogos. Desta forma, o objetivo do presente estudo
A diferença entre os níveis competitivos dos
centra-se na revisão dos i) modelos competitivos da
futebolistas no que tange a distância percorrida parece
distância
futebolistas
estar relacionada ao volume de deslocamentos em
profissionais, ii) modelo competitivo da distância
corridas de alta intensidade[10]. Por outro lado, o tipo de
percorrida pelas diferentes posições de jogo e dos iii)
competição
percorrida
nos
jogos
por
mediado
[3]
pelos
diferentes
sistemas
modelos competitivos da distância percorrida nos
competitivos
diferentes tempos dos jogos, delineamento este,
eliminatórios, grupos ou pontos corridos) e seu grau de
comumente considerado em pesquisas que tocam a
importância para a equipe analisada, bem como o
problemática.
espaço dos campos de jogos[11] permitidos pela regra
(em
grande
parte,
sistemas
da modalidade, devem ser considerados para análise
da distância percorrida pelos futebolistas durante os
Métodos
A fim de esclarecer o objetivo proposto, foram
jogos.
analisadas 30 referências internacionais e nacionais de
Em contrapartida, parece evidente que o
periódicos indexados, (pesquisados por meio de bases
treinamento empregado para estes desportistas estão
de dados referidas no portal CAPES: Pubmed, Scopus,
relacionados ao desempenho que estes apresentam
EBSCO Hosts e Wilson Web) e livros com registro no
durante
International Standard Book Number.
percorreram
sua
atividade
maior
competitiva.
distância
nos
Futebolistas
jogos
quando
submetidos a um programa de treinamento intervalado
Modelo
competitivo
percorrida nos jogos
4
da
distância
durante oito semanas[13], apontando relação desta
variável
com
a
otimização
dos
indicadores
neuromusculares e cardiorrespiratórios controlados no
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estudo, mostrando que a condição física interfere na
entre os vários momentos (início, meio e final) do ciclo
atividade competitiva dos futebolistas. Impellizeri et
de treinamento durante a temporada competitiva.
al.
[6]
mostraram que a aplicabilidade dos meios de
Acerca
disto,
valoriza-se
a
sistematização
e
preparação escolhidos durante a organização do
organização do treinamento de maneira ótima em
treinamento influenciam as ações competitivas dos
detrimento
futebolistas. Nesta linha, estudos de Mohr, Krustup e
[10]
Bangsbo
[8]
e Rampinini et al.
das
novas
demandas
impostas
pela
[4]
modalidade .
identificaram diferenças
Figura 1. Fatores que influenciam as ações competitivas realizadas por futebolistas durante os jogos.
5
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Esta tendência evolutiva tem sido aclarada em
diferenciando-se da complexidade acometida pelos
pesquisas do início da atual década. Strudwick e
padrões técnicos e táticos. De qualquer forma, em
[14]
Reilly
referem
que
futebolistas
analisados
em
ambos
os
casos,
atividade
percorreram aproximadamente 1500m a mais que os
imprevisibilidade
futebolistas do início da década de 90 da mesma liga.
ações/acontecimentos do jogo, sempre em decorrência
Fatores como as mudanças de regras envolvendo os
das relações de cooperação e de oposição, ocorrida
goleiros e as substituições contribuíram para tais
num contexto aleatório influenciado e determinado
Recentemente,
relaciona-se
tal
evolução a intensidade na qual os futebolistas realizam
pelas
e
estará
dos
futebolistas
modificações .
equipes
competitiva
temporadas da elite inglesa (1998/1999 e 1999/2000)
[4]
e
a
associada
complexidade
à
das
sucessivas configurações que o jogo vai
apresentando[12].
as ações durante o jogo[5,10] , já que nos últimos anos,
Outro fator influenciador está relacionado aos
não se tem observado diferenças para a distância
métodos de análise das ações competitivas dos
[10,15,16]
percorrida durante as partidas
, como verificado
meios
na tabela 1 deste estudo.
A
durante
distância
os
jogos
futebolistas. De fato, estes métodos evoluíram dos
percorrida
também
é
pelos
futebolistas
influenciada
pelas
manuais
de
anotação
para
os
meios
informáticos, culminando recentemente na digitalização
automática por meio da captura de imagem sob
[5,7,15]
condições ambientais (clima frio, quente, úmido ou
diferentes perspectivas do jogo. Alguns estudos
seco) da competição. Apesar de alguns estudos
reportaram a utilização de 8 a 12 câmeras por partida,
apontarem que estas condições possam atenuar a
outra metodologias tem-se utilizado de 4 câmeras[9,17].
[4,10]
, não
Da mesma forma, tem sido relatado na literatura
encontrou-se pesquisas que descrevessem valores da
diversos programas para análise competitiva, entre
distância percorrida considerando as peculiaridades
eles,
fadiga dos futebolistas durante as partidas
o Amysco®
[18]
,
[5]
Prozone® ,
[9,17]
Dvideo®
e
[19]
ambientais de cada jogo, no entanto, está claro que
Tacto®
tais aspectos influenciam o comportamento competitivo
encontrados
destes
futebolistas, assim como para outras variáveis, haja
desportistas,
bem
como
o
de
outras
modalidades.
. Tais desígnios podem refletir nos resultados
para
a
distância
percorrida
por
vista a variabilidade de métodos de análise relatados
Por outro lado, a dinâmica do jogo de futebol
anteriormente.
será determinante para a síntese dos padrões de
Apesar da gama de fatores influenciadores
comportamento realizados pelos jogadores durante as
presentes na formação dos modelos competitivos da
partidas. Apesar da variável distância percorrida nos
distância percorrida por futebolistas profissionais, não
jogos depender da relação do futebolista com o
se tem notado variabilidade para esta variável na
adversário
atualidade.
e
dos
companheiros
de
equipe,
o
menos
Estudos recentes, especialmente nos últimos
influente quando comparado aos modelos técnico-
cinco anos[5,7-9,10,15,16,18,20,21,24], tem demonstrado que
táticos, já que a análise é realizada sob a perspectiva
futebolistas profissionais percorrem em média 10012m
das
a 11393m durante as partidas (tabela 1).
componente
6
ações
imprevisibilidade
competitivas
de
parece
um
ser
único
jogador,
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Tabela 1. Média (±DP) da distância percorrida por futebolistas profissionais.
Autores
Ananias et al.
[22]
(1998)
Futebolistas
Distância (m)
6 brasileiros
10392
Rienzi et al.
[23]
(2000)
17 da América do Sul
8638 ± 1158
Rienzi et al.
[23]
(2000)
6 ingleses
10104 ± 703
18 italianos
10860 ± 180
24 dinamarqueses
10330 ± 260
12 ingleses
10274 ± 609
55 do Brasil
10012 ± 1024
300 europeus
11393 ± 1016
791 europeus
11010 ± 1120
[10]
(2003)
Mohr et al.
[10]
(2003)
Mohr et al.
[20]
Thatcher, Batterham
(2004)
[9]
Barros et al. (2007)
[5]
Di Salvo et al. (2007)
[7]
Di Salvo, Baron e Cardinale (2007)
Randers, Jensen e Krustup
[21]
23 dinamarqueses
10800 ± 170
Randers, Jensen e Krustup
[21]
23 suecos
10150 ± 210
22 times ingleses
10492/10789
[16]
18 europeus
10864 ± 918
[8]
124 europeus
11097 ± 778
[8]
120 europeus
10827 ± 760
327 1ª div. italiana
10827/11647
20 europeus
10339/10549
(2007)
Odetoyinbo, Wooster, Lane
Rampinini et al.
(2007)
[15]
(2007)
(2007)
Rampinini et al. (2007)
Rampinini et al. (2007)
Rampinini et al.
[24]
(2007)
Zubillaga et al.
[18]
Modelo
competitivo
(2007)
da
distância
percorrida pelas diferentes posições de
encontradas
pesquisas
que
tocam
a
problemática das posições de jogo, são utilizadas
diferentemente na literatura. Por exemplo, nos estudos
jogo
de Bangsbo
As ações competitivas monitoradas no futebol
têm sido amplamente consideradas sob a perspectiva
das diferentes posições de jogo na qual os futebolistas
atuam durante as partidas. No estudo clássico de Reilly
e Thomas
[25]
, já se notava diferença para a distância
percorrida nas partidas por goleiros, zagueiros, laterais,
meio-campistas e atacantes. Apesar de comumente
7
serem
[26]
[23]
, Rienzi et al.
[27]
O’Donoghue
, Bloomfield, Polman e
tem-se defensores, meio-campistas e
[14]
atacantes; Strudwick e Reilly
Bangsbo
[10]
e Mohr, Krustup e
consideraram laterais, zagueiros, meio­
campistas e atacantes; Barros et al.[9] e Di Salvo et al.[5]
nortearam-se pelos zagueiros, laterais, meio-campistas
que atuam nas laterais e no centro do campo e
atacantes.
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[5]
modelaram
biológica deve ser considerado, pois indivíduos de
fisicamente 300 futebolistas de elite em 20 jogos da
mesma posição de jogo ainda são diferenciados pelo
Primeira Liga Espanhola e 10 jogos da Liga dos
componente genotípico peculiar a sua estrutura auto­
Campeões
organizacional de treinamento.
Recentemente, Di Salvo et al.
da
Europa.
Confirmou-se
que
meiolaterais
Apesar de todo o exposto, é consenso que
11990±776m) e laterais (11410±708m) apresentaram
meio-campistas percorrem maior distância durante os
valores maiores para a distância percorrida durante as
jogos, seguido pelos laterais, atacantes, zagueiros e
partidas do que zagueiros (10627±893m) e atacantes
goleiros[5,7-9,10,14,17,25,26,29].
campistas
(centrais
12027±625m;
(11254±894m). Da mesma forma, pode ser notado no
[14]
estudo de Strudwick e Reilly
uma tendência evolutiva
Contrapondo
este
direcionamento, estudos de Reilly e Thomas
Bangsbo, Norregaard e Thorso
[26]
[25]
e
encontraram valores
entre as posições de jogo no que concerne a distância
maiores para atacantes em relação a laterais e
percorrida. Apontaram valores aproximados para o
defensores. Na tabela 2 encontram-se os valores da
início da década de 90 e da atual década: 8900m para
distância
11100 m para os laterais, 7800m para 10400m para os
profissionais divididos pelas posições de jogo.
zagueiros, 9800m
Modelo
para 12100m para os
meio-
campistas e 8800m para 10600m para os atacantes.
Apesar de tais resultados contemplarem a progressão
da variável citada no presente estudo, há que se
analisar
estes
dados
considerando
jogo das equipes de ambos os casos, bem como as
novas funções exercidas por determinadas posições, já
que atualmente, determinados futebolistas tem sido
caracterizados por atuar em mais de uma função tática,
tendência
esta,
amplamente
apreciada
pelos
treinadores contemporâneos e que podem influenciar
diretamente
o
comportamento
de
suas
ações
Tem sido relatado para a distância percorrida
nos jogos variabilidade para grupos de jogadores de
mesma posição. Tal premissa relaciona-se diretamente
com os componentes técnico-táticos do jogo, já que
exclusivamente
a
relação
com
o
adversário e companheiros de equipe, seja de maneira
coletiva, em zonas pré-determinadas ou em ações
individualizadas. Neste caso, o fator individualidade
8
jogos
competitivo
em
futebolistas
da
distância
jogos
Determinadas pesquisas tem apontado que a
fadiga
no
futebol
pode
manifestar-se
como
a
deterioração das ações dos futebolistas até o final da
partida[4,9]. Intrigante é o entendimento de como esta
deterioração ocorre quando considerada as ações
[6­
competitivas dos futebolistas. A maioria dos autores
10,16]
tem considerado estas ações comparando os
valores quantitativos do primeiro e segundo tempo de
jogo. Esta parece ser uma vertente importante a ser
seguida no contexto da modalidade, já que os modelos
competitivas.
contemplam
nos
percorrida nos diferentes tempos dos
diferentes
apontamentos, em especial, o modelo técnico-tático de
percorrida
competitivos entre os tempos dos jogos ilustram os
pormenores que acarretam a fadiga no futebol,
principalmente sob a perspectiva física do jogo.
No modelo competitivo físico do futebol tal
relação está bem consolidada, pois sabe-se que
futebolistas
profissionais
tendem
a
apresentarem
diminuição da distância percorrida do primeiro para o
segundo tempo de jogo[7,9,17,18], bem como a diminuição
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Tabela 2. Média (±DP) da distância percorrida por futebolistas profissionais divididos pelas posições de jogo.
Autores
GO
ZA
LA
MC
AT
3972
7759
(521)
8245
(816)
9805
(787)
8397
(710)
-
-
10100
11400
10500
(1999)
-
-
-
-
10460
(591)
[29]
-
10150
11020
11020
10550
-
10400
11100
12100
10600
-
9740
(220)
10980
(230)
11000
(210)
10480
(300)
2750
9145
11444
11154
10083
9029
(860)
10020
(653)
10627
(893)
9995
(652)
10642
(663)
10476/10598
(702/890)
11570
(986)
12027/11990
(625/776)
11748
(612)
9612
(772)
Reilly e Thomas[25](1976)
Bangsbo et al.
[26]
(1991)
[28]
Miyagi et al.
(2000)
Hennig e Briehle
[14]
Strudwick e Reilly
(2001)
[10]
(2003)
Mohr et al.
Misuta
[17]
(2004)
[9]
Barros et al. (2007)
-
Di Salvo, Baron et al.[7](2007)
-
Di Salvo et al. (2007)
[5]
-
[8]
Rampinini et al. (2007)
-
11410
(708)
11233
(664)
11254
(894)
10233
(677)
Legenda: GO=goleiros; ZA=zagueiros; LA=laterais; MC=meio-campistas; AT=atacantes; ()=desvio padrão
de
deslocamentos
em
alta
[10]
intensidade
.
que 93% dos 55 futebolistas brasileiros analisados
Determinadas pesquisas tem tentado mostrar a mesma
percorreram maiores distâncias no tempo inicial das
[24]
relação para os componentes quantitativos técnicos
,
partidas, especificamente, tal diferença evidenciou-se a
no entanto, ainda carecem de maiores evidências, já
partir do oitavo minuto da etapa final do jogo. Outras
que a complexa
que
pesquisas não ratificaram diferenças em futebolistas
envolvem o entendimento da modalidade dependerá da
europeus no que concerne a análise seqüencial dos
quantificação
a
minutos ante os deslocamentos entre os tempos de
subjetividade dos dados qualitativos, principalmente
jogo, todavia, apontam que a performance dos
quando são considerados os modelos competitivos
futebolistas diminui no segundo tempo, especialmente
técnico-táticos do jogo.
nos 15 minutos finais[10,30].
trama de acontecimentos
objetiva
destas
variáveis
aliada
Seguindo tal contexto, importante considerar que a
fadiga
ocasionada
jogos,
temporada competitiva poderia influenciar as ações
evidencia-se em três momentos: i) posteriormente a
competitivas realizadas pelos futebolistas, já que na
ações intensas em curto período de tempo, ii) na fase
atualidade, a maioria das equipes realizam elevado
inicial do 2º tempo e iii) próximo ao final das
número de jogos em curto período de tempo.
[10,30]
partidas
.
entre
os
Especificamente
tempos
dos
Por outro lado, a seqüência de jogos durante a
quanto
a
[9]
percorrida durante os jogos, Barros et al.
9
distância
reportaram
Recentemente,
Odetoyinbo,
Wooster
e
Lane[15]
investigaram os efeitos da seqüência de jogos para o
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modelo competitivo físico do jogo, verificando em 22
equipes da elite da Inglaterra como se comportou a
Conclusão
distância percorrida e a intensidade na qual são
As informações discutidas no presente estudo estarão
realizados estes deslocamentos diante da fadiga
atuando no processo de preparação dos futebolistas
ocasionada pela seqüência de três partidas em cinco
por meio de três vertentes principais: i) identificação de
dias, reportando valores de 10695 ± 882m para o 1º
tendências, princípios e padrões de comportamentos
jogo, 10789 ± 809m para o 2º jogo e 10492 ± 1001m
competitivos,
para o 3º jogo. Embora ser claro certo decréscimo na
competitiva e iii) adequação dos modelos competitivos
distância total percorrida do 1º para o 3º jogo, esta não
aos modelos de preparação dos desportistas. Tais
parece ser a principal variável a ser considerada, já
vertentes são diretamente aclaradas pela construção
que a diferença relaciona-se as atividades de alta
dos modelos competitivos dos jogos, norteando-se
intensidade realizadas pelos futebolistas, tanto para a
pelos
diferença entre os tempos como para a análise da
psicológicos e sua complexa relação no âmbito das
seqüência de partidas em períodos curtos de tempo
ações
[5,7,10,29].
No estudo de Mohr, Krustup e Bangsbo
monitoração
componentes
distância
[10]
ii)
competitivas.
percorrida
físicos,
da
técnicos,
Especificamente
por
performance
futebolistas
táticos,
quanto
à
profissionais
são
durante os jogos, tem-se alguns direcionamentos: i)
citados alguns fatores que relacionam-se a fadiga
baseados em pesquisas dos últimos cinco anos,
ocasionada pelo jogo: diminuição da concentração de
futebolistas
glicogênio muscular, acumulação de lactato, acidez
10012m a 11393m durante as partidas; ii) a maioria
gerada pela quebra de creatina-fosfato e em ambientes
das pesquisas apontam que meio-campistas percorrem
quentes e úmidos, desidratação e redução de funções
maior distância nos jogos, seguidos pelos laterais,
cerebrais. Tal premissa está diretamente relacionada a
atacantes, zagueiros e goleiros; iii) está consolidado na
diferença
literatura que a distância média percorrida no 1º tempo
quantitativa
das
ações
competitivas
acometidas pelos futebolistas durante os jogos, como
profissionais
percorreram
em
média
é maior do que 2º tempo de jogo.
pode ser visto na tabela 3, também ilustrado pela
diferença percentual entre a distância percorrida no
primeiro para o segundo tempo de jogo.
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Tabela 3. Média (±DP) da distância percorrida por futebolistas profissionais entre os tempos dos jogos
Autores
(n)
1º T (m)
2º T (m)
D (%)
14 (P)
5520
5250
5
6 (P)
5446
4945
9
(1999)
1 (P)
5315 ± 330
5141 ± 306
3
[29]
70 (DC)
-
-
4
(2000)
17 (P)
4605 ± 625
4415 ± 634
4
Mohr et al.[10](2003)
18 (P)
5510
5350
3
Mohr et al.[10](2003)
24 (P)
5200
5130
1
14 (P)
5419/5567
5207/5004
4 ou 10
3 (J)
-
-
12
Di Salvo et al.[5](2007)
300 (P)
5709 ± 485
5684 ± 663
0,5
Barros et al.[9](2007)
55 (P)
5173 ± 394
4808 ± 375
7
Rampinini et al. (2007)
18 (P)
-
-
8
Rampinini et al.[16](2007)
416 (P)
5966
5862
2
Zubillaga et al.[18](2007)
20 (P)
5121/5297
5218/5252
1 ou 2
Bangsbo et al.
Ananias et al.
[26]
(1991)
[22]
(1998)
[28]
Miyagi et al.
Hennig e Briehle
Rienzi et al.
Misuta
[17]
[23]
(2000)
(2004)
[19]
Caixinha et al.
(2004)
[8]
Legenda: ()=desvio padrão; (P) profissionais; (DC) diversas categorias; (J) juniores; D (%) diferença percentual entre o primeiro e
segundo tempo de jogo.
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