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IV Mostra de Pesquisa
da Pós-Graduação
PUCRS
A Garantia dos Direitos Humanos Internacionalmente Consagrados
no Ordenamento Jurídico Brasileiro
Sérgio Roberto de Abreu, Regina Ruaro (orientadora)
Programa de Pós Graduação em Direito, Faculdade de Direito, PUCRS,
Resumo
A presente pesquisa visa analisar a natureza das normas internacionais de direitos humanos e
sua garantia no ordenamento jurídico brasileiro. Para tal fim, o presente estudo foi realizado
através de pesquisa bibliográfica e documental, utilizando-se do método histórico e dedutivo,
com abordagem descritiva. Problema de pesquisa: Qual é a garantia de efetivação dos direitos
humanos internacionalmente consagrados no ordenamento jurídico brasileiro? Inicia com a
abordagem sobre a natureza das normas internacionais de direitos humanos identificando a
tendência atual de reconhecimento do seu caráter de imperatividade (jus cogens) e gerador de
obrigações erga omnes, que impõe aos Estados o dever de cumprirem seus compromissos
com o ser humano, superando o tradicional princípio da reciprocidade. A evolução da
normatização internacional, em especial no pós-Segunda Guerra Mundial, impulsionada pela
institucionalização das Organizações das Nações Unidas, desenvolveu os sistemas
internacionais de proteção. A nível global, a regência das Nações Unidas, com a Declaração
Universal de Direitos Humanos; no âmbito regional, com a OEA, o sistema interamericano
integrado pela Comissão e Corte Interamericana de Direitos Humanos, sob o regramento da
Convenção Americana de Direitos Humanos. Esta abordagem inicial serviu de base para a
análise sobre a garantia efetivada no ordenamento jurídico brasileiro, mediante a
incorporação, aplicação e hierarquização das normas internacionais de direitos humanos.
Discorre sobre posicionamentos divergentes quanto ao trato constitucional da questão. De um
lado, o Judiciário, através do STF, fundamentado no Direito Internacional tradicional, afirma
que os instrumentos internacionais são paritários as leis ordinárias. Esta posição tende a ser
modificada em vista de recentes mudanças na composição dos Ministros que aponta para a
elevação para normas supralegais. Por outro lado, reúnem–se os doutrinadores que postulam
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pelo Direito Internacional dos Direitos Humanos, entendendo que o art.5(2) garante o status
de norma constitucional e tem sua incorporação e aplicação imediata, consoante o art. 5 (1).
Com a EC nº 45, foi introduzido o parágrafo 3 que requer quorum e votação bicameral nos
moldes das emendas para considerar as normas internacionais de direitos humanos
constitucionais. Esta modificação introduz uma forma de categorização nas normas de direitos
humanos determinada pela discricionariedade política do legislativo, distinguindo entre
normas com status constitucional e outras de natureza infraconstitucional (legal ou
supralegal), o que contraria os princípios da universalidade e da indivisibilidade dos direitos
humanos. Conclui, então, que o ordenamento jurídico brasileiro, com a recente modificação,
não oferece uma garantia eficaz e segurança jurídica plena de proteção, restando fragílima a
força normativa dos direitos humanos.
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