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VARIAÇÃO HORÁRIA DA TRANSPIRAÇÃO E DA TEMPERATURA FOLIAR NAS FACES NORTE E SUL DA LINHA DE
PLANTIO DE POMAR DE LIMA ÁCIDA
Irigoyen, Andrea Inés1, Angelocci Luiz Roberto 2, Jordão Rocha Fábio 3 e Marcos Vinicius Folegatti4
1
Depto. Introducción a las Ciencias Agrarias FCA UNMdP-INTA Balcarce; Prog. Pós-graduação em Física do Ambiente Agrícola; Depto. Ciências
Exatas ESALQ-USP; CP9-13418-9000, Piracicaba; E-mail: [email protected]; [email protected]; 2 Depto. Ciências Exatas ESALQUSP; bolsista CNPq; CP9-13418-9000, Piracicaba; 3 Prog. Pós-graduação em Irrigação e Drenagem; Depto. Engenharia Rural ESALQ-USP; CP913418-9000, Piracicaba; 4 Depto. Engenharia Rural ESALQ-USP; bolsista CNPq; CP9-13418-9000, Piracicaba.
PALAVRAS CHAVE: porometria,citros
MATERIAL E MÉTODOS
As determinações na cultura foram realizadas num
pomar com 1 ha de superfície, plantado em 2001, com linhas de
plantio na direção leste-oeste e espaçamento entre plantas de 7
m x 4 m, sendo as copas do clone IAC 5 enxertado em
citrumelo ´Swingle`. O pomar situa-se no Campo Experimental
de Irrigação do Departamento de Engenharia Rural da Escola
Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ-USP),
Piracicaba, SP (22º42’ sul, 47º39’ oeste, altitude de 511 m). As
plantas encontravam-se com uma altura média de 4,0 m e 4,9 m
de diâmetro da copa (Barboza, 2007). O pomar foi irrigado por
gotejamento de modo a manter 100% das necessidades hídricas.
A transpiração foliar (T) de 24 folhas plenamente expandidas
no extrato médio da planta e nas faces expostas da linha do
plantio foi determinada utilizando um porômetro de equilíbrio
dinâmico e balanço nulo LI-COR 1600 (Licor, Inc., Lincoln,
EUA) ao longo de 18 dias de medidas realizadas no período
compreendido entre 12/9/2007 e 30/11/2007. A temperatura
foliar (Tf) foi medida com termopar na câmara porométrica. Os
valores horários de T e Tf obtidos entre as 9:00 e as 17:00 horas
foram discriminados por faces (norte e sul). O teste de ShapiroWilk foi utilizado para avaliar a normalidade das amostras. O
teste não-paramétrico de Kolmogorov-Smirnov foi aplicado
para avaliar as hipóteses nulas de igualdade de distribuição de
freqüências de valores observados de T e Tf nas faces norte e
sul, com nível de significância igual a 0,05. O teste nãoparamétrico de Kruskall-Wallis foi aplicado para avaliar as
hipóteses nulas de igualdade de distribuição de freqüências de
valores observados de T e Tf nos diferentes horários e quando
necessário, o teste de Tuckey com nível de significância igual a
0,05 foi utilizado. Os padrões de variação horária de T das faces
norte e sul na escala estacional e mensal foram comparados
com os respectivos descritos para Tf e para gs apresentado em
Irigoyen et al. (2008a).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A transpiração foliar (T) na estação apresentou
valores médios horários na faixa de 2,5 a 5,0 g cm-2 s-1. A
hipótese nula de igualdade de distribuição de valores de T em
folhas localizadas nas faces norte e sul foi rejeitada para todos
os horários quando avaliada a estação completa. Valores mais
elevados foram observados na face sul, mas o comportamento
ao longo do dia foi similar nas duas faces, exibindo os valores
mais elevados no meio-dia (Figura 1).
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T (µmol cm-2 s-1 )
INTRODUÇÃO
A modelagem da transpiração da planta baseada na
integração do processo ocorrendo ao nível de folha precisa de
conhecimento da variabilidade espacial e temporal da
condutância à difusão de vapor (gs) e da transpiração foliar (T).
A estrutura do dossel afeta os intercâmbios radiativos e
convectivos. Estes efeitos são, ainda, mais significativos no
caso de coberturas descontínuas como os pomares. Alguns
modelos de trocas gasosas visando facilitar o tratamento das
variações da radiação no dossel consideraram sub-modelos
correspondentes às frações iluminadas e sombreadas do dossel.
Assim, os modelos de Bonan (1996) e Dickinson et al. (1998)
abordaram por separado a taxa de assimilação e a condutância
estomática de cada uma das frações, mas sob o pressuposto de
não variação da temperatura foliar nestas frações. Dai et al.
(2004), aprimoraram este enfoque a partir de um modelo de
duas grandes folhas, discriminando fração iluminada e
sombreada, para a estimativa de temperatura do dossel,
fotossíntese e condutância. Mills et al. (1999) discutiram o
efeito da posição na copa sobre a condutância à difusão de
vapor (gs) em laranjeiras de diferente idade. As diferenças de gs
entre faces norte e sul foram mais evidentes em plantas adultas.
Um efeito de redução na temperatura foliar (Tf) e no gradiente
de pressão de vapor entre a folha e o ar devido ao
sombreamento foi mencionado por Syvertsen e Lloyd (1994).
No sudeste do estado de São Paulo e durante um
período de alta demanda atmosférica, diferentes densidades de
fluxo de fótons fotossintéticos incidentes (DFFF) foram
medidas em folhas localizadas nas faces expostas norte e sul da
linha de plantio num pomar adulto de lima ácida (Irigoyen et al,
2008a). Por outra parte, foram observadas diferenças entre
faces na condutância à difusão de vapor (gs). A DFFF foi a
variável do ambiente local com maior associação com gs e T
(Irigoyen et al., 2008b). Por isso, é de interesse avaliar se existe
alguma relação entre os padrões de transpiração e de
temperatura foliar observados. Este trabalho teve por objetivos:
a) descrever a variação horária da transpiração foliar (T) e da
temperatura foliar (Tf) nas faces da copa expostas para o norte
e o sul da linha de plantio de pomar de lima ácida durante uma
estação de alta demanda atmosférica; b) relacionar o padrão de
variação de T com os padrões de variação da condutância à
difusão de vapor (gs) e da temperatura foliar (Tf).
norte
8
sul
6
4
2
0
8
10
12
14
16
18
hora local
Figura 1. Valores médios horários de transpiração foliar (Tr)
medidos em folhas localizadas nas faces norte e sul da linha do
plantio. As barras verticais indicam o desvio padrão do valor
médio (I norte; I sul).
Funções polinomiais de segundo e terceiro grau
ajustam-se adequadamente na descrição da variação de T no
período diurno. Analisando a variabilidade entre meses,
observou-se a mesma relação entre as faces (sul>norte) e apenas
no mês de setembro a hipótese nula de igualdade de distribuição
de valores médios horários de T não foi rejeitada (Tabela Nº1).
XII Reunión Argentina de Agrometeorología, 8 al 10 de octubre de 2008. San Salvador de Jujuy - Argentina
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Tabela Nº1.Valores médios horários e desvio padrão de
transpiração foliar (Tr) medida nas duas faces da linha de
plantio discriminados por mês dentro da estação do ano.
T ( g cm-2 s-1)
norte
3,80 (2,61) a
3,76 (2,75) b
3,21 (1,57) b
Mês
Setembro
Outubro
Novembro
n total=3784
sul
3,91 (2,76) a
4,66 (2,85) a
3,73 (1,65) a
Letras diferentes indicam que a hipótese nula de igualdade de
distribuição de freqüências da variável foi rejeitada pelo Teste
Kolmogorov-Smirnov ao nível de significância de 0,05.
A temperatura foliar (Tf) na estação apresentou
valores médios horários na faixa de 24,4 a 33,1ºC. A hipótese
nula de igualdade de distribuição de freqüências nos valores de
transpiração foliar (T) em folhas localizadas nas faces norte e
sul foi rejeitada apenas nos horários de 13:00 e 17:00 horas
quando avaliada a estação completa (Figura 2). A temperatura
foliar não foi diferente entre folhas das duas faces quando se
consideraram os dados discriminados por mês dentro da estação
(Tabela Nº2).
40
norte
sul
Tf (ºC)
35
30
25
20
8
10
12
14
16
18
hora local
Figura 2. Valores médios horários de temperatura foliar (Tf)
medidos em folhas localizadas nas faces norte e sul da linha de
plantio. As barras verticais indicam o desvio padrão (I norte; I
sul).
Tabela Nº2. Valores médios horários e desvio padrão de
temperatura foliar (Tf) medida nas duas faces da linha de
plantio, discriminados por mês dentro da estação do ano.
Mês
Setembro (n=1060)
Outubro (n= 1428)
Novembro (n=1296)
Tf (ºC)
norte
27,5 (4,3) a
30,2 (3,6) a
29,4 (3,9) a
n total=3784
sul
27,1 (4,0) a
29,9 (3,3) a
29,4 (3,8) a
Letras diferentes indicam que a hipótese nula de igualdade de
distribuição de freqüências da variável foi rejeitada pelo Teste
Kolmogorov-Smirnov ao nível de significância de 0,05.
Quanto à densidade de fluxo de fótons fotossintéticos
(DFFF) incidentes nas folhas, os valores médios foram maiores
na face norte do que na sul, em setembro e outubro, seguindo o
descrito por Irigoyen et al (2008), enquanto em novembro,
observaram-se maiores valores de DFFF na face sul. Portanto, a
relação de Tf entre faces não mostrou relação com a radiação
incidente sobre as folhas. A relação entre faces (sul>norte)
discutida para T não acompanha o padrão de variação de Tf.
Por outra parte, a relação entre faces para T coincide com
aquela encontrada para a condutância à difusão de vapor neste
mês (Irigoyen et al., 2008b).
Na análise da variabilidade ao longo do dia, observouse que em setembro não se apresentaram diferenças
significativas entre as duas faces em nenhum dos horários. Em
outubro, a igualdade de distribuição de valores de T nas duas
faces foi apenas observada nos horários de 9:00 e 17:00 horas e,
no mês de novembro, apenas nas 9:00 horas. A mesma relação
entre faces foi encontrada para a condutância à difusão de vapor
em setembro. Por sua vez, as relações entre faces para T em
outubro e novembro não foram coincidentes com as discutidas
para gs por Irigoyen et al. (2008b).
CONCLUSÕES
Os padrões de variação da transpiração (T) medida em
folhas das faces norte e sul da linha de plantio coincidiram com
os padrões de variação da condutância à difusão de vapor (gs).
A temperatura foliar (Tf) medida na câmara porométrica não
apresentou os padrões diferenciados para T e gs entre faces.
Portanto, o padrão de variação de T está mais associado ao
padrão de gs, e até parece adequado inferir serem desprezíveis
as variações de T devidas a variações no gradiente de pressão
de vapor decorrentes de diferenças na temperatura da folha.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- BARBOZA, R.C.A. 2007. Evapotranspiração da lima ácida
‘Tahiti’ (Citrus latifólia Tan.) determinada por lisimetria de
pesagem. Dissertação. ESALQ. USP. 63 p.
- BONAN, G.B. 1996. A land surface model (LSM version 1,0)
for ecological, hydrological and atmospheric studies. Tecnical
description and User-s Guide. Note 150 pp.
- DAI, Y. et al. 2004. A two-big-leaf model for canopy
temperature, photosynthesis and stomatal conductance. J. of
Climate, v.17, p. 2281-2299.
- DICKINSON, M. et al. 1998. Interactive canopies for climate
model. J. of Climate, v.11, 2823-2836.
- IRIGOYEN, A.I.; ANGELOCCI, L.R.; ROCHA, F.J.;
FOLEGATTI, M.V. 2008.a. Determinação da condutância
foliar à difusão de vapor de água e da densidade de fluxo de
fótons fotossintéticos incidentes nas faces norte e sul da linha
de plantio de pomar de lima ácida. XV Congresso Brasileiro de
Meteorologia. São Paulo. 5 p.
- IRIGOYEN, A.I.; ANGELOCCI, L.R.; ROCHA, F.J.;
FOLEGATTI, M.V. 2008. b. Relação da condutância
estomática e da transpiração foliar de lima ácida irrigada com
variáveis ambientais. XV Congresso Brasileiro de
Meteorologia. São Paulo. 5 p.
- MILLS, T.M.; MORGAN, K.T.; L.R. PARSONS. 1999.
Canopy position and leaf age affect stomatal response and water
use of citrus. J. of Crop Production v. 2, p. 163-179.
- SYVERTSEN, J.P.; J.J. LLOYD. 1994. Citrus. In: Schaeffer
B., Andersen PC (ed.) Handbook of Environmental Physiology
of Fruits Crops: Subtropical and Tropical Crops, CRC Press,
Boca Raton, Florida.
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