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ICTR 2004 – CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM RESÍDUOS E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Costão do Santinho – Florianópolis – Santa Catarina
OTIMIZAÇÃO DO PROCEDIMENTO PARA RECUPERAÇÃO DO MERCÚRIO DO
AMÁLGAMA DENTÁRIO
Flávia Godoy Iano
Ovídio S. Sobrinho
Marlus Alves Pereira
Thelma L. Silva
Jesus D. Pécora
José M. Granjeiro
PRÓXIMA
Realização:
ICTR – Instituto de Ciência e Tecnologia em Resíduos e Desenvolvimento Sustentável
NISAM - USP – Núcleo de Informações em Saúde Ambiental da USP
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OTIMIZAÇÃO DO PROCEDIMENTO PARA RECUPERAÇÃO
DO MERCÚRIO DO AMÁLGAMA DENTÁRIO
Flávia Godoy Iano1; Ovídio S. Sobrinho2;Marlus Alves Pereira 3; Thelma L. Silva4, Jesus D. Pécora5;
José M. Granjeiro6
1. RESUMO
As alternativas para recuperação e reciclagem de resíduos na área odontológica têm
se desenvolvido rapidamente no ambiente universitário. No Laboratório de Resíduos
Químicos (LRQ) do Campus da USP em Bauru foi implementando um projeto de
recuperação de resíduos de amálgama dentário, originário das clínicas da
Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) e do Hospital de Anomalias Craniofaciais
(HRAC). O amálgama é constituído, aproximadamente, de mercúrio (50%), prata
(30%) e outros metais. A metodologia utilizada é uma adaptação daquela proposta
por Pécora em 1998, e baseia-se na utilização de mantas de aquecimento
envolvendo o frasco Kjedahl e inserção de um sistema de segurança para o
aprisionamento de vapor de mercúrio em cristais de enxofre. As duas mantas, com
capacidade para 500mL e temperatura no ninho ao redor de 400ºC, foram colocadas
de forma a cobrir o Kjedahl. Todo o processamento é feito em capela com exaustão.
Este protocolo permitiu a redução do tempo de processamento em cerca de 10
vezes (240-300 minutos para 30 minutos) e permite a recuperação de até 96% do
mercúrio presente no amálgama. O processo atenuou também a exposição do
técnico aos riscos físicos, químicos e ergonômicos que a metodologia original
proporcionava, bem como proporcionou melhoria ambiental e economia de recursos
energéticos necessários para execução do processo modificado, substituindo uma
fonte energética finita, orgânica fóssil, por uma fonte elétrica ambientalmente mais
adequada. Concluímos que as modificações implementadas resultaram em
significativa melhoria do procedimento para recuperação do mercúrio do amálgama.
Palavras Chaves: Resíduo químico, Amálgama, Mercúrio, lmpacto ambiental.
1 Aluna de Graduação Farmácia-Bioquímica (UNIP-Campus Bauru); Bolsista de Iniciação Científica –
Depto Ciências Biológicas/Bioquímica - FOB-USP
2 Químico; Técnico em Laboratório – Depto Ciências Biológicas/Bioquímica - FOB-USP
3 Educador Ambiental - Depto Ciências Biológicas/Bioquímica - FOB-USP
4 Doutoranda em Biologia Funcional e Molecular – Técnica Especialista em Laboratório – Depto
Ciências Biológicas/Bioquímica - FOB-USP
5 Professor Titular - Depto de Odontologia Restauradora/Endodontia - Faculdade de Odontologia de
Ribeirão Preto - USP
6 Professor Associado - Depto Ciências Biológicas/Bioquímica - FOB-USP
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2. INTRODUÇÃO
De um modo geral a atividade humana sempre gerou alguma forma de
resíduo, alguns deles nocivos ao meio ambiente e, por conseguinte, ao próprio
homem. Entretanto, alguns fatores, dentre os quais podem-se destacar aqueles
relacionados ao crescimento populacional e desenvolvimento industrial, acentuaram
notavelmente a geração de resíduos no mundo (BENDASSOLLI, 2003).
Nas últimas décadas tornou-se evidente a necessidade de se tomar
providências para o controle da emissão de resíduos, evitando que os recursos
naturais como água, solo e ar tornem-se ainda mais degradados. Os efeitos desta
geração indiscriminada que atingem também o homem têm levado a sociedade à
maior conscientização do real perigo para a sua subsistência (BENDASSOLLI,
2003).
Diversas instituições, inclusive as Universidades, vêm buscando gerenciar e
tratar seus resíduos de forma a diminuir o impacto causado ao meio ambiente,
criando também um novo hábito: a consciência profissional e o senso crítico dos
alunos, funcionários e professores (AFONSO, 2003).
Os impactos causados no ambiente hoje estão previstos em leis rígidas e
convergem para a adequação de procedimentos que preservem a vida de forma
geral (MALTHUS, 1982).
É importante salientar que uma das mais recentes leis que trata do tema
Política Ambiental, diz respeito aos crimes cometidos contra o meio ambiente – Lei
de Crimes Ambientais – 9.605 de 12/02/98, incutindo ao causador do dano as
sanções civis e penais através de um processo em cascata, desde o causador até o
responsável pelo empreendimento ou entidade constituída, conforme os artigos 2o. e
3o. das disposições gerais da lei.
Nas clínicas odontológicas privadas e nas instituições de atendimento ou de
ensino, o amálgama é um resíduo sólido importante e significativo; composto de
metais pesados, tais como mercúrio (50-55%), prata (32,5-37%), estanho (1214,5%), cobre (0-3%) e zinco (0-1%). Dentre estes metais o mercúrio, metal líquido e
pesado, é tido como o mais perigoso, pois tem ponto de fusão de 38,6 oC e ponto de
ebulição de 356,9 oC e, mesmo na temperatura ambiente, volatiliza vapores tóxicos,
atingindo vegetais e animais (LEITE, 1996; SAQUY, 1997) e oferecendo altos riscos
de contaminação durante o seu manuseio, uma vez que a principal via de
penetração desse metal no organismo é a via respiratória (GLINA; ANDRADE;
SATUT, 1998).
Os profissionais da equipe de saúde bucal estão diariamente expostos ao
mercúrio e aos riscos de contaminação, que pode ocorrer através da manipulação
do amálgama, de gotas do metal derramadas acidentalmente, da remoção do
excesso de mercúrio da massa de amálgama, de amalgamadores com vazamento,
de condensadores ultra-sônicos, de falhas do sistema de sucção quando da
remoção de restaurações antigas (SAQUY, 1996), ou ainda dos vapores emanados
das “sobras” de amálgama armazenado inadequadamente nos consultórios (RUPP;
PAFFENBARGER, 1971).
O amálgama foi introduzido na odontologia moderna por TAVEAU (1876), que
utilizava uma “pasta prateada”, constituída pela simples combinação de prata e
mercúrio, em restaurações dentárias permanentes. Devido às dificuldades
encontradas para a obtenção de prata purificada, o autor passou a misturar o
mercúrio com a limalha de moedas, as quais continham prata e outros metais em
sua composição, para a obtenção da pasta.
Apesar de intensa controvérsia (STOCK, 1926; WANNAG e SKJAERASEN,
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1975; LARINI e SALGADO, 1981; VIMY; TAKAHASH e LORSCHEIDER, 1990)
DODES (2001), sabe-se que muitas doenças têm como causa a contaminação por
mercúrio (WINDHOLZ et al 1983; SAQUY et al., 1997). O efeito do mercúrio na
cavidade bucal pode provocar o sangramento gengival, a perda do osso alveolar, a
perda dos dentes, o excesso de salivação, o mau hálito, gosto metálico,
leucoplasias, estomatites e pigmentação nos tecidos.
Contudo, um problema muito grave é o destino da sobra de amálgama ou
daquele removido de restaurações antigas. É fato notório que o destino final deste
resíduo é o lixo comum, em confronto direto com a legislação ambiental vigente.
JOSELOW (1968) pesquisando 50 consultórios dentários encontrou, em 14%
destes, concentrações de mercúrio no ar acima dos limites de tolerância
estabelecidos. WILSON e WILSON (1982) avaliaram, pela espectrofotometria de
absorção atômica, o vapor de mercúrio emanado durante a trituração do amálgama
e após a abertura da cápsula, em diversos modelos de amalgamadores mecânicos.
Concluíram que o vazamento de vapores durante a trituração com cápsula é muito
pequeno, enquanto que, após a abertura da cápsula, os níveis de vapores ficaram
em níveis bastante aceitáveis. Contudo, NASCIMENTO et al. (1991) testaram a
perda de mercúrio ocorrida durante a trituração mecânica do amálgama em
diferentes cápsulas e concluíram que nenhuma delas pôde ser considerada
hermética.
SAQUY & PÉCORA (1996) ressaltam que alguns cuidados devem ser
tomados, tais como: a) evitar derrame de mercúrio no piso e nos móveis do
consultório; b) manipulação com mão enluvada, uso de máscara e de óculos; c)
consultório dotado de alta exaustão; d) reduzir a relação mercúrio/limalha; e) não
utilizar amalgamadores com fuga de mercúrio; f) não utilizar condensadores
automáticos; g) evitar falha no sistema de alta sucção do consultório. h) uso de alta
sucção durante a remoção de uma restauração e utilizar brocas novas e água
gelada para este procedimento
VALENZUELA (1985) propôs um método para reciclagem do mercúrio
presente nos resíduos de amálgama dos consultórios odontológicos. O método
consistia em aquecimento dos resíduos de amálgama a 650ºC, produzindo assim a
evaporação do mercúrio, que se condensava em outro recipiente, mediante um
sistema de refrigeração. Esse mercúrio continha altos graus de impurezas e
elementos orgânicos, que depois foram removidos através de lavagem do mercúrio
em solução de ácido nítrico a 1% e em soluções de cianureto de potássio e peróxido
de sódio a 1%, diluídos em água destilada. Em seguida, ele era submetido à
secagem e destilado, resultando em um mercúrio com cerca de 99% de pureza. Em
1998, Pécora et al., propuseram uma metodologia simples e acessível para a
recuperação do mercúrio e prata do amálgama utilizando a destilação fracionada do
mercúrio e a extração da prata em ácido nítrico concentrado.
MAGRO et al (1994) e ELIAZUR BENITEZ et al (1995) salientaram a
importância dos resíduos de amálgama odontológico nos consultórios e
aconselharam a colocação dos resíduos em recipientes inquebráveis e
hermeticamente fechados. MAGRO et al (1994) recomendavam a colocação de
solução fixadora sobre os resíduos e ELIAZUR BENITEZ et al (1995)
recomendavam a utilização de água. Hoje se sabe que nem a água e nem a solução
fixadora impedem a passagem do vapor de mercúrio. Em 1996, SAQUY comparou a
eficácia de diversas substâncias na retenção da emissão de vapores de mercúrio,
originários dos resíduos de amálgama. Concluiu que a mais eficaz é a solução
fixadora de radiografias, que foi capaz de reter a emissão dos vapores por 17 dias,
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seguida pela água, que reteve durante 14 dias.
Engajada no processo de conscientização e reestruturação, a USP vem
estimulando e implantando programas de gestão ambiental, a exemplo do programa
USP Recicla que se tornou uma alternativa comprovadamente eficaz. Através de um
processo educativo o programa utiliza-se da filosofia dos 3 R’s – reduzir, reutilizar e
reciclar, onde é feita a gestão dos resíduos sólidos gerados (papel, plásticos, vidros,
metais e orgânicos) os quais são encaminhados para reutilização e reciclagem.
A Faculdade de Odontologia de Bauru, ciente de seu papel neste processo,
implantou o Laboratório de Resíduos Químicos – LRQ que trata alguns resíduos
químicos perigosos, dentre eles o amálgama.
OBJETIVO
Imbuídos do espírito de preservação ambiental e de melhoria nos processos
do Campus, objetivamos com este trabalho, elaborar um programa de
gerenciamento dos resíduos especiais das FOB/USP e do HRAC, estabelecer
procedimentos para o controle e a gestão ambiental dos resíduos de amálgama,
minimizando os riscos à saúde dos seres vivos.
Os objetivos específicos são:
ƒ Mapear as áreas geradoras de resíduos de amálgama na FOB/USP;
ƒ Elaborar o Plano de Gestão que envolva, além do mapeamento e controle da
geração dos resíduos, sua recuperação e regresso ao setor produtivo
(laboratórios e empresas);
ƒ Recuperação do mercúrio à partir do amálgama em até 96%;
ƒ Atender à Legislação Ambiental vigente.
3. MATERIAL E MÉTODO
MATERIAL
O material deste trabalho é o resíduo de amálgama dentário produzido na
clínica odontológica da FOB/USP e do HRAC. O mapeamento inicial elaborado nas
clínicas identificou uma produção aproximadamente 1.200 cápsulas/mês.
MÉTODO
Recuperação do mercúrio de amálgama
O processo de recuperação do mercúrio dos resíduos do amálgama será feito
através da técnica de destilação a vácuo, tratando-se de uma adaptação da
metodologia proposta por Pécora (1998) e implantada na Faculdade de Odontologia
de Ribeirão Preto, USP no Laboratório de Resíduos Odontológicos (LAGRO) com
apoio da FAPESP.
O sistema (Figura 1) é composto por um frasco Kjedahl (500mL) com abertura
esmerilhada, levado à temperatura de aproximadamente 400OC (com auxílio de
mantas térmicas) ligado através de um conector com as juntas esmerilhadas a um
kitassato. Para evitar a contaminação do ambiente de trabalho, há um sistema de
segurança composto por recipiente contendo ácido nítrico e uma bomba de
exaustão, protegida por um filtro com enxofre, ambos conectados por mangueiras;
todo o processamento é feito em capela de exaustão.
Após a destilação do mercúrio onde se obtém o resíduo 2 (composto
principalmente por prata); o mercúrio recuperado é bi-destilado para aumentar a
pureza.
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6
1
2
4
5
3
Figura 1 – Sistema para recuperação do mercúrio do amálgama: O processo de
destilação é iniciado quando o frasco Kjedahl (1) contendo o amálgama é aquecido
pelas mantas (2) até cerca de 400ºC, destilando o mercúrio que é coletado no
kitassato (3) mantido em banho de gelo (facilitando a condensação do mercúrio). O
sistema está conectado a outro kitassato contendo HNO3 1% (4) para a retenção de
possíveis vapores de mercúrio que não tenha condensado em (3). A baixa pressão
no sistema é mantido por uma bomba de vácuo (5) cuja saída é protegida por um
filtro contendo enxofre (6) eliminado o risco de contaminação do meio ambiente.
Destino do Mercúrio e do Resíduo Sólido do Amálgama
O mercúrio recuperado será devolvido ao setor produtivo pelo Departamento
Financeiro da FOB-USP, sendo os proventos recebido revertidos ao LRQ para
custeio parcial do sistema. O resíduo sólido será encaminhado ao LAGRO
(Laboratório de Gerenciamento de Resíduos Odontológicos – Faculdade de
Odontologia de Ribeirão Preto – USP), sendo que o mesmo possui recursos
financeiros (FAPESP, proc. 01/01065-1), humanos e infra-estrutura para a
recuperação final. Os recursos provenientes da venda dos metais recuperados serão
utilizados para custeio do processo realizado pelo LAGRO.
4. RESULTADOS
O mapeamento das áreas geradoras de amálgama na FOB e no HRAC
(Tabela 1) evidenciam que as principais área geradoras localizam-se nas clínicas de
atendimento aos pacientes das diversas especialidades, em particular as localizadas
na FOB, além do laboratório de Materiais Dentários da FOB.
Ao longo de 10 meses 2 Kg de resíduos de amálgama foram coletados e
enviados ao LRQ (Tabela 2). Destes, foi possível recuperar, em média, 879,5 g de
mercúrio com uma eficiência média de cerca de 90%. O rendimento mínimo obtido
foi de 82,9% contra o máximo de 92,3%. Utilizando mantas semi-esféricas
conseguiu-se um rendimento de 86,6% em 10 min, mas dificuldades no ajuste do
sistema resultou na destruição da vidraria. A redestilação do mercúrio apresentou
rendimento médio de 96,1%, mas consumia, em média, 83 min (Tabela 3).
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Tabela I – Mapeamento das áreas geradoras de amálgama no Campus da USP em
Bauru
Área Geradora
Unidade
Clínica de Prótese
FOB
Clínica de Dentística
FOB e HRAC
Clínica de Periodontia
FOB
Clínica de Odontopediatria
FOB e HRAC
Clínica de Saúde Coletiva (Área de Campo)
FOB
Clínica da Pós-Graduação
FOB
Urgência Odontológica
FOB
Laboratório de Materiais Dentários
FOB
Tabela II. Rendimento do processo para recuperação do mercúrio do amálgama
Hg
Massa
Resíduo
Tempo de
% recuperação
Amostra
recuperado
(g)
Sólido (g)
processo (min)
Hg*
(g)
1
200,0
82,9
111,8
36
82,9
2
200,0
84,4
103,4
33
84,4
3
200,0
84,0
105,8
28
84,0
4
200,0
86,3
109,9
35
86,3
5
150,0
69,2
79,4
42
92,3
6
150,0
68,8
77,0
33
91,7
7
150,0
68,2
76,7
31
91,0
8
150,0
65,2
69,8
31
86,9
9
100,0
44,8
47,4
20
89,7
10
150,0
65,0
82,0
10
86,6
11
200,0
91,4
102,3
35
91,1
12
150,0
69,2
116,5
35
92,2
Total: 2000,0
879,5
1081,0
31
88,3
*
Estimando-se que o mercúrio representa 50% da massa total de amálgama
Tabela III: Rendimento da redestilação do mercúrio do amálgama
Hg
Massa
Resíduo
Tempo de
% recuperação
Amostra
recuperado
(g)
Sólido (g)
processo (min)
Hg
(g)
1
200,0
171,1
28,9
120
85,5
2
215,0
214,8
0,2
90
99,9
3
211,0
209,5
1,5
60
99,3
4
126,5
124,1
2,4
75
98,1
5
127,0
126,0
1,1
70
99,2
Total:
879,5
845,4
34,1
83
96,1
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5. DISCUSSÃO
O mercúrio, como outros metais pesados, pode provocar graves efeitos no
meio ambiente em função de sua bioacumulação e biotransformação em
metilmercúrio, sua forma mais tóxica (BOYD et al., 2000). A contaminação de algas
e plantas, base da cadeia alimentar, resulta no acúmulo em organismos superiores,
definido como bioamplificação, com graves seqüelas como ataxia, disartria,
parestesia, constrição do campo visual e perda da audição. A contaminação severa
pode causar cegueira, coma e morte (BAKIR et al., 1973). O mercúrio é
reconhecidamente teratogênico e genotóxico.
É inegável a importância do controle dos resíduos de mercúrio. Na
odontologia, o amálgama continua sendo intensamente utilizado e instituições de
ensino e clínicas, os quais devem prover destinação correta a fim de evitar a
contaminação ambiental.
VALENZUELA (1985) utilizando a técnica de aquecimento do amálgama até
650ºC para remoção do mercúrio e em seguida para purificação, o mesmo é tratado
com soluções de ácido nítrico 1%, cianureto de potássio e peróxido de sódio 1%.
Gerando com isso novos resíduos, dentre eles o cianureto de potássio,
extremamente venenoso.
PÉCORA (1998) aperfeiçoou esse procedimento, adotando a técnica de
destilação a vácuo para a remoção do mercúrio, na qual obtém o mercúrio sem a
utilização de reagentes tóxicos, como cianureto, evitando assim a geração de mais
resíduos. O aquecimento do sistema era produzido por meio de maçarico e a técnica
demandava um período de 4 a 5 horas de processamento. A substituição deste
sistema por mantas de aquecimento foi vantajosa por acelerar a destilação em cerca
de 10 vezes; além de diminuir os riscos de acidentes.
É importante considerar que a comercialização do mercúrio recuperado não é
suficiente para cobrir os custos do processo de recuperação, entretato, como
descrito por CALDERONI (1997), os custos econômicos e ambientais evitados pelos
processos de recuperação de resíduos referem-se à diminuição da necessidade de
aquisição de matérias primas e, também, do descarte dos resíduos gerados,
resultando em redução do impacto ambiental.
Uma vez que o amálgama continua sendo muito usado na odontologia, seu
descarte deve ocorrer de maneira adequada, utilizando centros de recuperação de
mercúrio e prata como o LAGRO e o LRQ de Bauru, a fim de evitar o dano ambiental
e a possível pena com severas multas de crime ambiental, ou até, com o
fechamento de clínicas odontológicas.
Parece claro que, ainda, falta o desenvolvimento da consciência ambiental e o
compromisso com seus preceitos. Porém, é preciso viabilizar o programa de forma
simples e eficaz. Alguns aspectos importantes precisam ser discutidos, como o
acondicionamento dos resíduos de amálgama em frascos adequados e a baixas
temperaturas (geladeira ou freezer), minimizando o risco de volatilização do
mercúrio. Estudos sugeriram que o meio mais eficaz para se armazenar amálgama,
retendo os vapores de mercúrio, seria glicerina (FORTES, 2000), mas SAQUY
(1996) verificou que a solução fixadora de radiografia, seguido de água, seriam mais
eficientes. Contudo, tanto a glicerina quanto a solução fixadora de radiografia,
somariam mais resíduos. Em função da baixa eficiência da água devemos avaliar
outras possibilidades como o congelamento do resíduo para minimizar a formação
do vapor de mercúrio.
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6. CONCLUSÃO
Concluímos que as modificações atenuaram a exposição dos manipuladores
aos riscos físicos, químicos e ergonômicos que a metodologia original
proporcionava. Tendo também uma melhoria ambiental e economia de recursos
energéticos, substituindo uma fonte energética finita, orgânica fóssil, por uma fonte
elétrica ambientalmente mais adequada. Resultando em significativa melhoria do
procedimento para recuperação do mercúrio do amálgama odontológico.
7. REFERÊNCIAS
1. BENDASSOLLI, J. A.; MÁXIMO, E.; TAVARES, G. A.; IGNOTO, R.F.
Gerenciamento de Resíduos Químicos e Águas Servidas no Laboratório de
Isótopos Estáveis do CENA/USP. Química Nova, v. 26, n. 4, p. 612-617, julago. 2003.
2. AFONSO, J.C.; NORONHA, L. A.; FELIPE, R. P.; FREIDINGER, N.
Gerenciamento de resíduos laboratoriais: Recuperação de elementos e
preparo para descarte final. Química Nova, v. 26, n. 4, p. 602-611, jul-ago.
2003.
3. MALTHUS, T. R. Economia. São Paulo: Ática, 1982.
4. LEITE, J.Y.P. Uma rota tecnológica para recuperação e reciclagem do
amálgama oriundo de gabinetes odontológicos. In: CONGRESSO DA ABM,
51, Porto Alegre, 1996. Anais. Porto Alegre, ABM, 1996.
5. SAQUY, P.C. Apresentação de um método, qualitativo, de identificação de
vapor de mercúrio. Rev. Paulista de Odontologia, São Paulo, v.19, n 2, p. 6-8,
mar/abr 1997.
6. GLINA, D. M. R.;. ANDRADE, E. M. O. A. C.; SATUT, B. T. G. Mercúrio
metálico em consultórios odontológicos: estudo de caso na rede de saúde de
São Paulo. Revista do projeto de cooperação técnica Brasil- Itália, p.155-158,
1998, Edição Especial.
7. SAQUY, P. C. Identificação qualitativa de vapor de mercúrio captado de
resíduo de amálgama de prata em diferentes meios de armazenagem. 1996.
21 f. Tese (Livre Docência em Odontologia) - Faculdade de Odontologia,
Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.
8. RUPP, N. W.; PAFFENBARGER, G. C. Significance to health of mercury used
in dental practice: a review. J. Am. Dent. Assoc., v. 82, n. 14, p. 1401-1407,
1971.
9. TAVEAU, M. American Academy of Dental Science: A history of dental and
oral science in America. Philadelphia. Samuel White publ., 1876. Disponível
em: http://www.amalgam.ukgo.com/amalgm21.htm Acesso em 30 abril 2004.
10. STOCK, A. Die Gefahrlichkeit des quecksilberdampfes. Z. Angew. Chem.,
v.39, p.461-488, 1926.
11. WANNAG, A.; SKJAERASEN, J. Mercury accumulation in placenta and fetal
membranes. A study of dental workers and their babies. Envirom. Physiol.
Biochem., v. 5, n. 5, p. 348-352, 1975.
12. LARINI, L; SALGADO, P. E. T. Exposição de cirurgiões-dentistas ao mercúrio.
Rev. Cienc. Farm. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 41-46, 1981.
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13. VIMY, M. J.; TAKAHASH, Y.; LORSCHEIDER, F. L. Material fetal distribution
of mercury (203 Hg) released from dental amalgam filling. Am. J. Physiol., v.
258, n. 4, p. 939-945, 1990.
14. DODES, J. E. The amalgam controversy. An evidence-based analysis. J. Am.
Dent. Assoc., v. 132, n. 3, p. 348-356, 2001.
15. WINDHOLZ, M.; BUDAVARI, S.; BLUMETTI, R.F.; OTTERBEIN, E.S. Merck
index . 10. ed. New Jersey: Merck & Co., 1983: 842.
16. JOSELOW, M. M. Absorption and excretion of mercury in man. Arch.
Enviroment Health, v. 17, n. 2, p. 39-43, 1968.
17. WILSON, S. J.; WILSON, H. J. Mercury leakage from disposable capsules. Br.
Dent. J., v. 17, n. 7, p. 144-153, 1982.
18. NASCIMENTO, T. N., RIBEIRO, S. A., CAMPOS, S. M., CENTOLA, A. L. B.
FUGA DE MERCÚRIO OCORRIDA DURANTE A TRITURAÇÃO MECÂNICA
DO AMÁLGAMA. Rev. Portuguesa de Odontologia. , v.91, n.15, p.9-14, 1991.
19. SAQUY, P.C.; PÉCORA, J.D. Orientação profissional em Odontologia. São
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2823
anter ior
próxima
ABSTRACT: The alternatives for chemical residues recovery and recycling in the
field of Dentistry have been developed quickly at the university environment. The
Laboratory of Chemical Residues (LRQ) at USP Campus in Bauru implemented a
protocol to recovery mercury from dental amalgam produced in the dental clinics and
laboratories of Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) and Hospital de
Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC). Dental amalgam contains,
approximately, mercury (50%), silver (30-40%) and other metals. LRQ methodology
is an adaptation of a system proposed by Pécora in 1998. Kjedahl bottle, heated to
400ºC, was connected to a system of two erlenmeyers, the first one to receive the
liquid mercury and the second with HNO3 1% to retain vapour of mercury. All the
system is under negative pressure by the action of a pump connected to a recipient
containing solid yellow sulfur. All the processing is conducted in an exhaustion hood.
This protocol allowed 10-fold reduction in the original processing time (240-300
minutes for 30 minutes) with 96% mercury recovery. It also attenuated the exposition
of the technician to the physical, chemical and ergonomic. Also, improved the
ambient quality and reduced costs by changing an organic source of energy to
electric energy. We conclude that the implemented modifications had resulted in
significant improvement of the mercury recovery from amalgam.
KEY- WORDS: dental amalgam; mercury; occupational health; toxicology
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Otimização do Procedimento para Recuperação do Mercúrio