Ipeamarelo – Treinamento Budista para a vida moderna
Introdução a Mente
Introdução
Introdução
à a Mente
Mente
Introdução a Mente
Conceitos básicos de Epistemologia e Psicologia Budista
Introdução à Mente
Conceitos básicos de Epistemologia e Psicologia Budista
© Ipeamarelo - 2010
ÍNDICE
Apresentação
08
1. A Origem e Importância destes conhecimentos
10
2. A natureza da mente e sua importância no caminho Budista
07
3. Primeira Parte: Uma Epistemologia da Mente
3.1. Sujeito e Objeto
12
3.2 A Divisão tripla: Percepção e Concepção, Conceitual e Não Conceitual e
Válida e Não Válida
3.3 A Divisão Sétupla: Os sete tipos de mentes discriminadoras
17
22
4. Segunda Parte: Uma Psicologia da Mente
4.1 Introdução: Mentes primárias e Fatores mentais
33
4.2 Os 51 fatores mentais e seus seis grupos
34
4.2.1 Os Cinco Fatores Mentais Onipresentes
34
4.2.2 Os Cinco Fatores Mentais Determinadores de Objeto
35
4.2.3 Os Onze Fatores Mentais Virtuosos
38
4.2.4 Os Quatro Fatores Mentais Variáveis
41
4.2.5 As Seis Aflições Raízes e as Vinte Aflições derivadas
42
Anexo 1 Bibliografia
55
Anexo 2 Epistemologia na Filosofia Ocidental
56
Figura 1: Visão geral da Epistemologia
16
Figura 2:Visão geral da Psicologia
32
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8
APRESENTAÇÃO
Este trabalho sobre a mente reúne os principais conceitos utilizados nas Universidades Budistas
da Índia antiga e do Tibet. É composto de dois grandes tópicos de estudo: Pramãna (Epistemologia) e
Abhidharma (Psicologia). Estes dois tópicos foram estudados por nossa instituição no ano de 2007. Para
este estudo foi traduzido do inglês o livro A Mente e suas Funções do Geshe Rabten e para que
tivéssemos uma compreensão clara destes conceitos foram consultadas outras obras do inglês, espanhol
e até mesmo do português como citado na bibliografia. Fizemos um retiro de fechamento do estudo
onde diversos membros da instituição prepararam um resumo destes conceitos que hoje compõem esta
publicação. No ano de 2008, para encerrar este ciclo de estudos sobre a mente, tivemos ensinamentos
com Geshe Nagwang Sherap sobre o tema.
Incluímos ao longo do texto diversos conceitos de dicionários visando estabelecer uma conexão
com os mesmos temas tratados no ocidente.
A mente é um tema chave na filosofia Budista, a essência do caminho Budista é a sua
transformação, o despertar do seu potencial interior. Por essa razão, compreender seu funcionamento é
essencial para evoluirmos neste caminho de transformação interior. Esperamos que esta pequena
contribuição possa trazer algum benefício àqueles que desejam de alguma forma ampliar sua
autoconsciência.
Porto Alegre, 10 de março de 2010.
Elton Oliveira - Editor e Organizador
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1. A ORIGEM E IMPORTÂNCIA DESTES CONHECIMENTOS
1.1. A primeira parte: Uma Epistemologia da Mente
A epistemologia é o ramo da filosofia que estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade
do conhecimento, daí também se designar por filosofia do conhecimento.
Dicionário Houaiss: Epistemologia: reflexão geral em torno da natureza, etapas e limites do
conhecimento humano, especialmente nas relações que se estabelecem entre o sujeito indagativo e o
objeto inerte, as duas polaridades tradicionais do processo cognitivo; teoria do conhecimento.
Dicionário de Filosofia: O nome deriva de epistêmê, termo do antigo grego que significa
CONHECIMENTO. A esse termo opunha-se o termo doxa, que significa opinião. Isto porque, como
PLATÃO começou por sublinhar, não é possível conhecer falsidades, sendo, contudo possível - e até
freqüente - ter opiniões falsas. Veja mais no anexo 2.
Este tópico sobre as funções de aprendizagem da mente recebe o nome de Pramãna em sânscrito e Blorig em tibetano.
Etimologia:
Sânscrito: Pramãna significa Cognição válida: Pra: incial, fresca, principal ou melhor no sentido de válida e
mãna significa cognição ou consciência mental, muitas vezes também recebe o nome de conhecedor no
sentido de apreender. O termo “válida” é empregado no sentido de apresentar uma certeza sobre o
objeto apreendido, tornando-o confiável.
Tibetano: Blo-rig ou Lo-rig: Blo significa mente ou consciência e Rig pa cognição no sentido de consciência
discriminadora. O correspondente a Blo em Sânscrito é buddhi que significa a força de formar e reter
concepções e noções gerais e Rig em sânscrito é samvedana que é a ação de perceber ou sentir, fazer
conhecer.
Origem na Índia – Dignaga (480-540 dC) e Dharmakirt (600-660 dC)
Dignaga e Dharmakirt foram os criadores da escola Epistemológica na Universidade de Nalanda
na Índia. As obras clássicas são: Compêndio da Cognição Válida de Dignaga e Comentário de Dharmakirt ao
Compêndio de uma Cognição Válida de Dignaga.
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1.2 Segunda Parte: Uma Psicologia da Mente
Este tópico recebeu o nome de Abhidharma em sânscrito e esta denominação foi também
amplamente utilizada nas Universidades Budistas do Tibet.
Etimologia:
Abhidharma uma palavra sânscrita que significa: abhi- a mais alta ou especial e dharma- ensinamento,
então ela significa o mais alto ensinamento.
No ocidente, o Abhidharma tem sido geralmente considerado a essência do que é referido como uma
Psicologia Budista. O Abhidharma é uma coleção das escrituras Budistas (Abhidharma Pitaka) que
investiga o trabalho ou funcionamento da mente e os estados da consciência humana.
Origem na Índia: Asanga (300-370 d.C) e Vasubandhu (320-400 d.C)
Tendo também a Universidade de Nalanda como fonte do seu desenvolvimento, o Abhidharma foi
comentando principalmente por Asanga em seu Abhidharma Samuccaya (Compendium of Higher
Knowledge), o qual é a base do trabalho apresentado abaixo e Vasubandhu em seu Abhidharma
Koshasastra (Treasury of Abhidharma).
1.3 No Tibet a formação do currículo nas universidades
No Tibete,o tópico Pramãna é estudado nos currículos das Universidades Budistas de várias
escolas. Nas Universidades Gelupas é o segundo tópico em importância dentre os cinco conjuntos de
temas, vindo somente depois do tema da Perfeição da Sabedoria. É também o primeiro tópico no estudo
sobre a mente e segue por todo o currículo até as visões mais avançadas das escolas da sabedoria. Como
o tópico Pramãna, o Abhidharma consiste em uma das cinco matérias de estudo nas Universidades
Budistas Tibetanas.
1.4 A Relação destes dois tópicos com os Cinco Agregados
Para entendermos a aplicação concreta destes tópicos, precisamos antes, entendê-los dentro do
contexto dos cinco agregados, uma abordagem da formação da nossa personalidade ou “eu”, eles são:
a)Agregado do Nome e Forma: Este agregado é composto por esta noção de “identidade” ou “eu, meu”
e o corpo físico.
b) Agregado da Consciência: Aqui no nosso estudo, este agregado, também será chamado de Mente
Primária. É a nossa consciência básica, um acúmulo dinâmico das nossas experiências e marcas das nossas
ações prévias. Dessa consciência brotarão todas as atividades ou fatores mentais.
c) Agregado da Sensação: Sensação é o resultado do contato da nossa Mente Primária com um objeto.
Este resultado será agradável, desagradável ou neutro. Este fator mental acompanha todas as nossas
atividades mentais, por isso será estudado mais atentamente na segunda parte deste trabalho como um
dos cinco fatores acompanhantes ou onipresentes em todas as atividades ou fatores mentais.
d) Agregado da Discriminação: Discriminação é uma atividade inerente à mente. Por isso ele é o alvo
principal de estudo nesta primeira parte do trabalho. Os setes tipos de mentes, são em resumo, um
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detalhado funcionamento do processo de discriminação e de como a consciência (ou mente primária)
apreende objetos. O conhecimento deste processo em muito facilitará não só o nosso aprendizado do
caminho Budista, mas também será útil para o aprendizado de qualquer tema.
e) Agregado da Ação: Ação ou fatores que compõem o carma é estudado detalhadamente na segunda
parte deste trabalho. Os 51 fatores mentais compõem um mapa do funcionamento da nossa mente
apresentando as suas variadas funções e os correspondentes resultados experimentados quando se
relaciona com objetos.
1.4 Como podemos nos beneficiar com este conhecimento
O objetivo com a compreensão destes tópicos é conhecer como percebemos e concebemos o
mundo a nossa volta, como nossa mente apreende os objetos, e como todas estas formas
discriminadoras, representadas principalmente pelos sete tipos de mente, podem contribuir para o nosso
desenvolvimento dentro do caminho espiritual. Através deste tópico poderemos saber como apreender
objetos de forma confiável para o pleno desenvolvimento do nosso potencial interior.
Em resumo, este estudo, é um esforço para começar a compreender o funcionamento da mente e
como podemos conseguir os resultados de paz, harmonia, felicidade e contentamento e como podemos
evitar todo o infortúnio, dor e sofrimento.
Visto que o objetivo principal do caminho budista é revelar o potencial interior da nossa mente,
este estudo torna-se uma ferramenta básica e fundamental para começarmos este trabalho de mudança
interior.
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2. A NATUREZA DA MENTE E SUA IMPORTÂNCIA NO CAMINHO BUDISTA
Conceito de Mente: Mente é clareza e cognição.
Etimologia: Em Tibetano Mente é Blo, significa clareza e cognição.
No estudo da terminologia tibetana, Elisabeth Napper, na introdução do livro Mind in Tibetan
Buddhism de Lati Rinpoche, afirma que Estado de Consciência (Sânscrito jnana, tibetano shes pa), Mente
(com o sentido de consciência) (buddhi, blo) e Conhecedor no sentido de cognição que apreende
(samvedana, rig pa) são sinônimos. O trabalho apresentado conduzirá a um entendimento desta
afirmação, estas variações na terminologia, são apenas características e funções diferentes de uma
mesma mente, a mente primária. Como metáfora podemos dizer que a mente primária (blo)
corresponderia ao oceano, os fatores mentais ou cognição (rig pa) às ondas deste oceano e o estado de
consciência (shes pa) à qualidade dessas ondas, se forte, fria, etc.
Clareza: Aqui o termo clareza pode ter duas conotações, a sua natureza essencial de pureza e onisciência
e a conotação de iluminar a aparição do objeto. Então, apreender, conhecer ou até mesmo compreender
através do processo de discriminação são funções da mente. A literatura também afirma que clareza se
refere à natureza da mente e a palavra cognição a sua função.
Cognição é a faculdade de apreensão da consciência que funciona ao ver formas, ouvir sons, tanto
quanto em todos os tipos de reflexão, inferência e compreensão. É um fenômeno momentâneo que
mantem seu próprio continuo causal.
Dicionário Houaiss:
Mente é o sistema organizado no ser humano referente ao conjunto de seus processos cognitivos e
atividades psicológicas, parte incorpórea, inteligente ou sensível do ser humano; espírito, pensamento,
entendimento, memória, lembrança, faculdade, ato ou modo de compreender algo ou de criar na
imaginação; concepção, imaginação, percepção. Etimologia: lat. mens,méntis 'faculdade intelectual,
inteligência, espírito, alma, razão, sabedoria, juízo, discernimento, caráter, índole.
Cognição é o ato ou efeito de conhecer, processo ou faculdade de adquirir um conhecimento, percepção,
conhecimento. Na psicologia: conjunto de unidades de saber da consciência que se baseiam em
experiências sensoriais, representações, pensamentos e lembranças. Série de características funcionais e
estruturais da representação ligadas a um saber referente a um dado objeto.
O nível de conhecimento, ou capacidade de apreensão, varia de acordo com o alcance desta
consciência. O estado mental de onisciência ou iluminação é a consumação ou estado de perfeição pleno
desta capacidade conhecedora da mente.
A questão é como essa consciência pode crescer e se expandir em direção a um alcance ilimitado.
A habilidade de perceber objetos é inata à consciência, mas existem obstruções que impedem a mente de
se abrir ao estado de completo conhecimento.
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2.1 O papel chave da Mente no Budismo
Compreender a mente é essencial para compreender o Budismo em seus aspectos teóricos a
práticos, para o processo de atingir a iluminação precisamos purificar e desenvolver sistematicamente a
nossa mente.
Para ilustrar a posição central da mente no Budismo, uma das mais conhecidas escrituras
Budistas, o Dhammapada, abre com o seguinte verso.
“Mente é o precursor de (todas más) condições. Mente é o comandante; e elas são mentes
produzidas. Se, com uma Mente impura, alguém fala ou age, então dor segue alguém
exatamente como uma roda, (segue) o casco do boi. Mente é o precursor de (todas as boas)
condições. Mente é comandante; e elas são mentes produzidas. Se, com uma mente pura,
alguém fala ou age, então felicidade segue alguém exatamente como a sombra que jamais se
retira.”
Nas escrituras do Sutra mahamudra está dito:
Se realizares tua própria mente, tornar-te-ás um Buda;
Não deves procurar a budeidade em nenhum outro lugar.
Buda significa desperto, ou aquele que despertou do sonho da ignorância, neste sentido o
caminho Budista é, essencialmente, um caminho que trilhamos para desenvolver o nosso próprio
potencial interior. Buda ensinou que a mente tem o poder de criar todos os objetos agradáveis e
desagradáveis. Não há outro criador além da mente. Somos escravos da nossa mente, o autêntico
criador. O ponto essencial de todas essas visões é que a libertação do sofrimento não pode ser
encontrada fora da mente, então se quisermos nos livrar de problemas e atingir paz e felicidade
duradouras, temos que aumentar nosso conhecimento e compreensão da mente.
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PRIMEIRA PARTE:
UMA EPISTEMOLOGIA DA MENTE
3.1. Sujeito e Objeto
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3.2 A Divisão tripla: Percepção e Concepção, Conceitual e
Não Conceitual e Válida e Não Válida
3.3 A Divisão Sétupla: Os sete tipos de mentes discriminadoras
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Epistemologia
Filosofia do conhecimento válido; Funções de aprendizagem; Sujeito-Objeto
Sete tipos de Mente e suas
classificações
Cognições Não
Conceituais ou
Percepção
Apreendem objetos sem
a intermediação de uma
imagem mental
Percepção Direta
Cognições Válidas
Inferência
Realizam o objeto de
forma confiável
Reconhecedores
Crenças Corretas
Cognições Conceituais
ou Concepção
Apreendem objetos com
a intermediação de uma
imagem mental
genérica
Percepção não
determinadora
Cognições Não Válidas
Cognições Não Válidas
Dúvida
Não realizam o objeto de
forma confiável
Cognições Errôneas
Figura 1
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3.1. SUJEITO E OBJETO
3.1.1. Sujeito: Conceitos e principais características.
Sujeito: (tib.: yul.can literalmente: possuidor de objetos) é definido como uma entidade efetiva que tem
como função apreender objetos.
Dicionário Houaiss: Sujeito: Rubrica: filosofia.em epistemologia, especialmente. a partir do cartesianismo
e do pensamento moderno, o eu pensante, consciência, espírito ou mente enquanto faculdade
cognoscente e princípio fundador do conhecimento. Obs.: por. oposição. a objeto.
Principais características:
Sujeito e Objeto são entidades mutuamente dependentes, não podemos considerar um sem
referir-se ao outro. Todos os estados mentais, sejam eles intelectual, tal como discriminação e
conhecimento, ou emocional, tal como desejo e aversão são necessariamente sujeitos. Todos os sujeitos,
em virtudes deles serem fenômenos existentes, são necessariamente objetos de outro sujeito.
Classificação de Sujeito: Sentenças articuladas, Pessoas e Mentes
a) Sentenças Articuladas:
São sentenças coerentes e articuladas, definidas como um objeto de audição que torna
compreensível o objeto expresso e denotam que articulam por meio de um sinal. É necessariamente a
fala de uma pessoa, produzida pelo poder de sua motivação.
Sentenças são sujeitos no sentido de denotarem objetos, mentes são sujeitos no sentido de apreenderem
objetos.
As sentenças articuladas são divididas em: Fonemas, Nomes e Frases:
Fonema é uma vocalização que serve para a composição de nomes e frases;
Nome é um objeto de audição que, principalmente, expressa a designação de um fenômeno.
Existem dois tipos: originais (ex. Edison) e subseqüentes (seu nome secundário Ex. Pelé) divide-se em
dois tipos: baseado na similaridade e baseado na relação;
O nome do objeto não é uma característica natural do objeto, mas algo imputado a ele de acordo com as
convenções. Todos os objetos são meramente imputados na dependência dos seus nomes, portanto não
existem inerentemente. Ex. uma pessoa chamada Pedro.
Se estudarmos esse assunto de forma aprofundada, desenvolveremos um conhecimento válido sobre as
duas verdades, a convencional e a última.
Frase é um objeto de audição que revela um sentido ao ligar um nome a um predicado. Ex. O cão é preto.
Geração: Todas as sentenças articuladas são produzidas pela motivação de um falante, portanto, se
originam na mente.
Nomes são produzidos na dependência de fonemas, e frases na dependência de nomes.
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Sentenças articuladas são muito úteis porque constituem os principais meios de comunicação. Além
disto, já que a palavra escrita se baseia na linguagem falada, tudo aquilo que lemos depende de sentenças
articuladas.
b) Pessoas
A pessoa ou personalidade é simplesmente o “eu” imputado na dependência de qualquer dos cinco
agregados psicológicos.
Dicionário Houaiss: Etimologia:Pessoa do lat. Persóna 'máscara de teatro; p.ext., papel atribuído a essa
máscara, caráter, personagem.
A função de uma pessoa é realizar ações e experienciar seus resultados. Esta função depende dos
agregados sensação (experienciar), discriminação (forma de apreensão) e ações. A pessoa é um sujeito
porque todos os seres individuais apreendem objetos. Uma pessoa possui uma certa auto-identidade, um
senso dominante de “eu”. Na psicologia budista, em todos os seus estágios de compreensão, é realizada
uma análise para compreender a natureza deste fenômeno “eu”. Precisamos compreender a natureza
convencional (ações e resultados) e última da pessoa (eu), assim evitaremos ações que trazem
sofrimento e realizaremos ações que trazem felicidade.
Geração de Pessoas: Uma pessoa é gerada no momento da concepção quando a consciência penetra no
útero, o corpo denso dessa vida começa a se desenvolver. Ao nascer, recebemos um nome, com o qual
nos identificamos..
Divisão Quintupla: Budas, Bodhisatvas, Conquistadores Solitários e Ouvintes e seres migrantes.
c) Mente
Por confundir a mente com o corpo, com o cérebro, com a força vital, com os órgãos sensoriais,
ou como algo físico dentro do corpo, terminamos por considerar seu tempo de vida igual ao corpo, esse
entendimento dificulta compreender a continuidade da mente e a existência de vidas passadas e futuras.
A raiz de todas estas concepções errôneas e problemas pode ser delineada pela falsa apreensão
da natureza da mente. Devido a essa falsa apreensão continuaremos neste circulo de nascimento até que
um esforço seja feito para alterar seu curso. Conseqüentemente, com tal compreensão, a maneira pela
qual nós, presentemente, concebemos a nossa auto-existência e o nosso estado de existência será
drasticamente alterado e uma nova e mais expansiva visão da vida se tornará acessível para nós.
Classificação e Geração das Cognições Mentais:
De acordo com a sua geração existem duas divisões duplas: Mentes conceituais e não conceituais e
Percepção e Concepção.
Mais duas divisões duplas: Cognições válidas e não válidas e Mentes primárias e Fatores Mentais.
Outra divisão em sete tipos de cognições: Percebedores Diretos, Inferências, Reconhecedores, Crenças
corretas, Percebedores não determinadores, Dúvidas, Cognições errôneas.
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3. 1.2 Objeto
Conceito: Objeto (Sânscrito vishaya e tibetano yul) é qualquer entidade material ou fenômeno
apreendido pela mente.
É algo da natureza na qual torna-se mais e mais claro enquanto for analisado pela mente, algo que possa
ser corretamente conhecido e compreendido pela mente.
Objeto existente, entidade conhecível, e fenômenos são sinônimos.
Dicionário Houaiss: Objeto: coisa material que pode ser percebida pelos sentidos, coisa mental ou física
para a qual converge o pensamento, um sentimento ou uma ação. Rubrica: filosofia.: qualquer realidade
investigada em um ato cognitivo, apreendida pela percepção e/ou pelo pensamento, que está situada em
uma dimensão exterior à subjetividade cognoscente. Obs.: por.oposição. a sujeito.
Divisões de objeto:
Quatrupla:
a) Objeto aparecido: é o objeto que aparece para uma cognição, para concepções a imagem mental é
considerada o objeto apareceido.
b) Objeto Principal: objeto em que a mente demonstra primeiramente seu interesse, um aspecto
particular em um campo inteiro, qualquer objeto apreendido é também principal. Objeto aparecido e
principal de uma mente conceitual são fenômenos exclusivos.
c) Objeto concebido: Somente uma mente conceitual é dotada de um objeto concebido.
d) Objeto referente: é o objeto base na qual a mente refere-se enquanto apreende certos aspectos.
Outras divisões::
Objeto direto é o que aparece para uma cognição que o compreende, seu aspecto principal aparece para
a mente que o apreende.
Objeto Indireto: é também um objeto principal, mas que o seu aspecto não aparece
Objeto Evidente: pode ser percebido imediatamente pelos sentidos;
Objeto levemente oculto: pode ser inferido por raciocínio lógico.
Objeto extremamente oculto: somente por crença e fé. Ex. um carma específico.
3.2 A DIVISÃO TRIPLA:
PERCEPÇÃO E CONCEPÇÃO, CONCEITUAL E NÃO CONCEITUAL E VÁLIDA E NÃO VÁLIDA.
As cognições são divididas em como são geradas (Conceitual e não conceitual), de como se ligam
a seus objetos (Percepção e concepção), e se o objeto é enganoso ou não (Válida e não válida).
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Toda a mente conceitual é uma concepção, ou seja, um conceito ou imagem genérica é
apreendido. Enquanto que toda a percepção é uma mente não conceitual, visto que ela apreende o
objeto de forma direta sem a intermediação de um conceito ou imagem genérica. Desse modo as duas
primeiras serão explicadas conjuntamente.
3.2.1 Percepção e concepção, conceitual e não conceitual
3.2.1.1 Percepção
Conceito: É uma cognição não conceitual que apreende seu objeto de forma direta, sem a intermediação
de uma imagem mental. Percepção é, essencialmente, uma forma de cognição receptiva e não refletiva,
enquanto que concepção é responsiva e refletiva.
Divisão:
a) Percepção sensorial: um objeto apreendido por um dos cinco sentidos.
b) Percepção mental: percepção direta mental (clarividência), percepção yóguica (apreensão direta de um
objeto de meditação) e Outras percepções mentais (apreensões realizadas em um sonho).
c) Correta: objeto apreendido existe.
d) Errônea: Objeto apreendido não existe (ex. do pano que parece uma cobra) ou o órgão sensorial está
com problema.
Dicionário Houaiss: Percepção: faculdade de apreender por meio dos sentidos ou da mente, função ou
efeito mental de representação dos objetos; sensação, senso, ato, operação ou representação intelectual
instantânea, aguda, intuitiva.
Mentes não conceituais: É uma cognição para a qual o objeto aparece claramente, sem se misturar com
uma imagem genérica. Embora nas Mentes não conceituais o objeto apareça claramente em algumas
mentes conceituais com concentrações claras e fortes seus objetos também aparecem claramente.
Geração:
As cinco Percepções Sensoriais são geradas a partir do contínuo anterior e do encontro das suas Funções
Sensoriais com o objeto sensorial correspondente.
Percepções Mentais são geradas a partir do seu próprio contínuo e de sua condição dominante, a
faculdade mental.
3.1.2.2 Concepção
Conceito: É uma cognição conceitual que apreende objetos por intermédio de uma imagem mental
genérica. É por meio de pensamento e concepções que, conscientemente, respondemos aos objetos
percebidos pelos sentidos. Todas as respostas emocionais internas de nossas experiências e fluxos de
pensamentos são concepções. É através de processos conceituais que o homem tem construído sistemas
filosóficos e psicológicos, invenções tecnológicas e a própria ciência.
Divisão:
a) Concepções errôneas ou não virtuosas: todos os estados mentais aflitivos e visões errôneas, veja as seis
aflições raízes e as vinte derivadas.
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b) Concepções corretas ou virtuosas: todos os objetos de meditação que conduzem a mente a realização do
seu potencial interior, impermanência, a ausência de existência inerente do eu e dos fenômenos. etc.
Dicionário Houaiss: Conceito: produto da faculdade de conceber , compreensão que alguém tem de uma
palavra; noção, concepção, idéia, opinião, ponto de vista, convicção.
Dicionário de Filosofia: Representação mental de um objeto abstrato ou concreto, que se mostra como
um instrumento fundamental do pensamento em sua tarefa de identificar, descrever e classificar os
diferentes elementos e aspectos da realidade, segundo a tradição racionalista da filosofia ocidental, de
Platão (427-348 a.C.) a Hegel (1770-1831), a manifestação da essência ou substância do mundo real,
segundo uma tradição que atravessa o estoicismo grego, o nominalismo medieval e o empirismo
moderno, um signo ou representação lingüística que mantém uma relação significacional - não ontológica
- com os objetos do conhecimento. Noção abstrata contida nas palavras de uma língua para designar, de
modo generalizado e, de certa forma, estável, as propriedades e características de uma classe de seres,
objetos ou entidades abstratas.
Imagem Mental:
O elemento mais característico de uma cognição conceitual é a sua apreensão de um objeto
através de uma mistura dele com uma imagem mental. A cognição conceitual é incapaz de distinguir
entre o objeto com sua objetividade existente e a sua própria imagem mental subjetivamente projetada.
O exemplo de alguém que precisa de um óculos para enxergar e não consegue distinguir a lente do
objeto visto. Por essa razão ela é chamada de enganosa no modo como aparece.
Mentes Conceituais:
Mentes conceituais conectam seus objetos por meio de uma imagem genérica.
Função: Uma das funções da MC é de lembrar coisas, imputar nomes, fixar o objeto de meditação e são
fundamentais para desenvolver Percebedores diretos Yóguicos
Todos os fenômenos são imputados pela mente conceitual. A primeira vez que realizarmos a vacuidade
será através de uma MC, se meditarmos continuamente realizaremos a vacuidade de forma direta, neste
momento nossa realização conceitual se transformará em um percebedor direto yóguico.
Classificações e a forma como são geradas:
a) Mentes Conceituais que percebem a imagem genérica pela força de ouvir, ler;
b) Pela força de contemplar e
c) Pela força das marcas anteriores.
3.2.2 Cognições Válidas e Não válidas
3.2.2.1 Cognições Válidas ou Mentes Válidas
Definição: é uma apreensão não-enganosa ou completamente confiável em relação ao objeto conectado,
compreende seu objeto verdadeiramente, pois é capaz de determinar corretamente o objeto e eliminar
concepções errôneas em relação a ele.
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Como vimos antes o termo para Cognição ou Mente Válida em Sânscrito é pramãna.
Crenças corretas, percepções desatentas, dúvida e Cognições errôneas são enganosas.
Crenças corretas não penetram seu objeto com profundidade suficiente para eliminar todos os enganos
ao seu respeito, deixando-nos vulneráveis a dúvidas e concepções errôneas.
Percebedores diretos, Inferência e reconhecedores são cognições válidas, por isso não enganosas.
Eles serão vistos de forma mais detalhadas a seguir.
No início, a maior parte da nossa compreensão do Darma é constituída de crenças corretas.
Devemos distinguir Crenças corretas de conhecimentos válidos, caso contrário podemos desenvolver
presunção.
Classificação das Cognições válidas:
a) Cognições válidas diretas: realizam objetos manifestos (independe de razões lógicas); ex.
percebedores diretos sensoriais, mentais e yóguicos
b) Cognições válidas inferidas: realizam objetos ocultos depende de raciocínios lógicos corretos que
dão sustentação, existem três, por meio de um fato, crença e costume.
3.2.2.2 Cognições ou Mentes não válidas:
Conceito: é uma cognição que apreende seu objeto de forma enganosa.
a)
b)
Classificação: Existem dois tipos:
Não conceituais: percepções sensoriais errôneas, percebedores sensoriais não determinadores.
Conceituais: Concepções mentais errôneas (aflições); Crenças corretas e dúvidas.
3.3 A DIVISÃO SÉTUPLA: OS SETE TIPOS DE MENTES DISCRIMINADORAS
Com a finalidade de aprendermos a distinguir entre mentes válidas e não-válidas, e conhecer as
etapas que devem ser seguidas para atingirmos realizações do Darma, a mente foi divida em sete tipos:
1. Percebedores Diretos
2. Inferências
3. Reconhecedores
4. Crenças Corretas
5. Percebedores não-determinadores
6. Dúvidas
7. Cognições Errôneas
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23
Introdução à Mente
Esta divisão sétupla abrange todas as mentes.
1. Percebedores Diretos ou Percepção Válida
É um fator mental que apreende um objeto manifesto (por meio de experiência). São mentes não
conceituais que percebem seus objetos diretamente sem se apoiarem em razões.
Classificação: Percebedores Diretos Sensoriais e Percebedores Diretos Mentais
a) Percebedores Diretos Sensoriais: é um percebedor direto gerado na dependência de um órgão
sensorial físico (cinco sentidos). Divide-se em duas categorias:
1) Divisão em cinco : por que são cinco sentidos: percebedor direto sensorial visual, auditivo e assim por
diante.;
2) Divisão em três: a. são conhecedores válidos, mas não reconhecedores (ex. qualquer percepção
sensorial); b. são ambos conhecedores válidos e reconhecedores, (ex. o segundo momento de uma
percepção sensorial); c. são percebedores não determinadores, (ex. o olhar na multidão).
Geração: Todos os fenômenos estão incluídos nas doze fontes (seis objetos fontes e as seis faculdades
fonte) e nos dezoito elementos (doze fontes mais os seus efeitos, as seis consciências).
O desenvolvimento de um percebedor direto sensorial pressupõe o encontro de uma faculdade sensorial
não defectiva com um objeto sensorial não enganoso.
b) Percebedores Diretos Mentais – é um percebedor direto gerado na dependência de um órgão
mental como condição dominante.
Existem três tipos:
1. Induzidos por percebedores diretos sensoriais: Após ver uma cor pensamos isto é azul;
2. Induzidos por meditação: treinando a mente em meditação, obteremos experiências profundas das
realizações do sutra e do tantra.
3. não induzidos pelos percebedores diretos sensoriais nem por meditação: lembrança, sem se fiar em
razão, de um objeto anteriormente compreendido.
Geração: por ver, por ouvir, por meditação, por lembrar, sem recorrer a análise, de um objeto que
tenhamos anteriormente compreendido.
c) Percebedores Diretos Ióguicos – é um percebedor direto que realiza um objeto sutil diretamente na
dependência de sua condição dominante particular, uma concentração que é a união do tranqüilo
permanecer e visão superior.
Divisão Quádrupla: que são caminhos da preparação; visão; meditação; não-mais-aprender.
Divisão dupla: que realizam a natureza convencional e que realizam a natureza última dos fenômenos.
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Geração: Primeiro ouvimos ensinamentos, depois contemplamos e meditamos, até atingirmos a união do
tranqüilo permanecer e da visão superior.
2. Inferências
Conceito: Cognição inteiramente confiável, cujo objeto é realizado na dependência direta de uma razão
conclusiva.
Dicionário Houaiss – Inferência: ação ou efeito de inferir; conclusão, indução. Rubrica: lógica: operação
intelectual por meio da qual se afirma a verdade de uma proposição em decorrência de sua ligação com
outras já reconhecidas como verdadeiras.
Três tipos de objetos:
Manifestos: formas visuais, sons, fenômenos que podem ser percebidos diretamente por seres comuns.
Ligeiramente ocultos, são aqueles objetos que, incialmente, só podem ser conhecidos através de razões
conclusivas, como exemplo a impermanência e a vacuidade. Os profundamente ocultos, por exemplo, o
funcionamento exato da lei do carma que só pode ser percebido por um Buda.
São muito importantes na nossa prática do Darma, pois muitos tópicos são ocultos. Com a prática
constante de meditação poderemos ver estes objetos diretamente através de percebedores diretos
ioguicos e então se tornará um objeto manifesto.
Conhecedores inferidos são muito comum no dia a dia. Sempre que compreendemos algo através de
razões conclusivas, estamos empregando uma forma especial de raciocínio chamada Silogismo.Silogismo
tem três partes: sujeito, predicação e razão.
Ex. “Existe fogo na casa porque há fumaça” Sujeito é “casa”, predicado é “existe fogo” e a razão é
“porque há fumaça”. A combinação entre o sujeito e o predicado é chamado de probandum, ou
conclusão. Nesse caso: “Existe fogo na casa”. Razão conclusiva é um argumento capaz de demonstrar
um probandum (prova) de maneira incontroversa
Possui três propriedades:
Propriedade do sujeito - a razão tem que ser aplicável ao sujeito.
Implicação direta: razão tem que estar implicada ou subentendida.
Implicação inversa: se o predicado não se aplicar, a razão também não se aplicará, se não houver fogo
não haverá fumaça.
Dois tipos de relações e dois tipos de razões: natural (cachorro e animal) e causal (há fogo na casa porque
há fumaça).
Há uma relação natural entre reconhecedores e conhecedores válidos.
Classificação: pelo poder de um fato: realiza objetos ligeiramente ocultos (o corpo é impermanente
porque se desintegra); por meio de crença: realiza objetos profundamente ocultos (lei do carma)
precisamos confiar nas escrituras; por meio do costume (convenção, a roda branca no céu é a Lua)
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Geração: Podemos gerar uma inferência na dependência da audição e surge da contemplação. Em ambos
os casos (pela audição e contemplação), para se caracterizar como uma inferência é necessários realizar
as três propriedades de uma razão conclusiva vista acima.
Aplicação ao Darma:
Os objetos de meditação mencionados no sutra ou no tantra são ligeira ou profundamente ocultos, logo,
temos que realizá-los incialmente por meio de inferências. Esse conhecimento inicial é como uma
plantação que, mais tarde, dará origem a uma abundante colheita de realizações de Darma.
3. Reconhecedores
Reconhecedor é um conhecedor que compreende o que já havia sido apreendido pela força de uma
cognição válida anterior. A função dos reconhecedores é manter o continuum de uma compreensão
obtida inicialmente por uma cognição válida.
Classificação:
Não conceituais: Reconhecedores que são percebedores diretos sensoriais – ex.: segundo momento de
uma percepção visual que realiza uma forma. Reconhecedores que são percebedores mentais não
conceituais,- ex. segundo momento de uma clarividência. Reconhecedores que são percebedores direto
ióguicos – ex.: segundo momento de uma realização direta da impermanência sutil.
Conceituais: Dois tipos:os induzidos por percebedores diretos (relembrar algo percebido por
clarividência) e os induzidos por inferências.
Geração:
É preciso sustentar continuamente, sem esquecimento, todo conhecimento perfeito dos temas do Darma
que tenhamos obtido por meio de estudo sincero; para isso, devemos gerar e manter reconhecedores, o
que requer a manutenção da contínua lembrança. Manter a contínua lembrança é o melhor método para
aperfeiçoarmos nosso conhecimento e experiência de Darma, e é a raiz de todas as práticas de
meditação.
Aplicação à prática do Darma:
Se contemplarmos sinceramente as razões conclusivas vamos gerar um conhecedor inferido, ao meditar
neste conhecedor inferido, cuja natureza é um reconhecedor, vamos atingir a realização última deste
objeto. No caso de objetos virtuosos, a prática de reconhecedores é da maior importância, porque é por
seu intermédio que mantemos e aumentamos todas as nossas experiências espirituais.
4 Crença Correta
Conceito: É definida como uma cognição não-válida que realiza um objeto concebido ou como uma
cognição concebida em conformidade com a realidade que concebe seu objeto de uma maneira falível.
Ela é uma concepção falível uma vez que é incapaz de induzir acertadamente ou eliminar qualquer
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concepção errônea sobre seu objeto. Mas ela é uma concepção conceitual verdadeira uma vez que seu
objeto principal é existente.
Dicionário Houaiss – Crença: ato ou efeito de crer, estado ou processo mental de quem acredita em
pessoa ou coisa. Filosofia: no empirismo moderno, disposição meramente subjetiva a considerar algo
certo ou verdadeiro, por força do hábito ou da vivacidade das impressões sensíveis
Apesar de uma Crença Correta não ser uma compreensão genuína do seu objeto ela, contudo,
“compreende” seu objeto meramente por meio de uma imagem mental nominal (acreditar no que está
sendo dito por alguém) ou experimental (concebida por meio de uma experiência própria). Crença
correta é importante porque ela nos dá uma base firme na qual estabelecemos um raciocínio perfeito
para o que acreditamos e, então, podemos produzir uma inferência. Apesar de ser uma cognição
“falível”, ela é, ainda, um estado mental benéfico que deve ser desenvolvido, pois, para muitos de nós, é
a natureza de nossa fé na existência de vidas passadas e futuras, liberação, onisciência e vacuidade.
Divisão dupla:
-Crença Correta que não depende de razões – É uma crença em algo existente (como impermanência,
p.e.) que se desenvolve só de ouvir as instruções sobre este tema.
-Crença Correta que depende de razões – É uma crença que se desenvolve a partir da contemplação de
premissas corretas ou incorretas. Se contemplarmos que “meu corpo é impermanente porque vai
finalmente morrer”, poderemos desenvolver um entendimento rudimentar de que nosso corpo é
impermanente. Este conhecimento é uma crença correta desenvolvida a partir da contemplação de uma
premissa correta. Tal crença correta poderá se transformar mais tarde em uma inferência que realiza
perfeitamente a impermanência do corpo.
Divisão quíntupla:
-Crença correta irracional: não é baseada em qualquer raciocínio- Ex. Se alguém diz para você, “som é
impermanente”, e você aceita.
-Crença Correta baseada em um raciocínio contraditório- Ex. A afirmação de que o som é impermanente
porque ele é um fenômeno não efetivo (um fenômeno não efetivo é aquele incapaz de produzir qualquer
resultado e é, deste modo, o mesmo que um fenômeno permanente).
-Crença Correta baseada em um raciocínio inconcluso- Ex.: Acreditar que som é impermanente por que
ele é um fenômeno existente.
-Crença Correta baseada em um raciocínio inaplicável- Ex.: A acreditar que som é impermanente por que é
um objeto da percepção visual.
-Crença Correta baseada em um raciocínio perfeito mas não estabelecido- Ex.: Alguém afirmar que o som
é impermanente porque é criado, mas a própria pessoa não entende esta afirmação.
Geração de Crenças Corretas:
De modo geral a mente que se limita a acreditar em algo que existe é uma crença correta. É fácil gerar
Crença Correta, uma vez que ela pode ser desenvolvida por meio de ouvir e contemplar. Há outros tipos
de Crenças Correta que podem ser geradas depois de termos recebido uma iniciação tântrica. Nos
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ensinamentos de tantra, Buda explica uma prática especial de imaginação correta, na qual nos vemos
como uma deidade e percebemos todas as coisas como completamente puras.
Aplicação das Crenças Corretas à prática do Darma:
Todos os objetos de conhecimento são objetos de Crenças Corretas. Ouvindo e contemplando os
ensinamentos primeiro obteremos um entendimento aproximado do seu significado. Esta compreensão
terá a natureza de uma Crença Correta.
5. Percepção Desatenta ou Não Determinadora
É definida como uma cognição para a qual um fenômeno, seu objeto conectado, aparece
claramente, mas não é identificado ou é incapaz de induzir a uma certeza com relação a ele. É uma
percepção direta que apreende seu objeto conectado, mas não com a força necessária para realizá-lo. Um
exemplo é a percepção visual de um bebê recém-nascido que apreende o rosto de seu pai. Outro, é uma
percepção auditiva que ocorre enquanto estamos absortos olhando para uma forma atraente.
Geração de Percepção Desatenta:
Uma percepção desatenta se desenvolve quando as condições para que um fenômeno apareça estão
reunidas, mas as condições para que sua natureza seja realizada não.
Divisão:
Cinco tipos principais do ponto de vista de suas causas:
1) Quando, devido às condições externas a mente é incapaz de determinar a natureza do objeto. Ex.: Não
reconhecer o que vê quando a luz está fraca.
2) Relacionado à natureza ou ao poder da mente, tornando nossa discriminação obscura, como exemplo
no processo de morte ou sono, utilização de álcool e outras drogas e exaustão.
3) Quando tomamos a decisão de ignorar certos estímulos ou quando aprendemos a agir dessa maneira.
Ex.: Morar em frente a uma rua movimentada e ignorar o ruído do trânsito.
4) O estímulo é ignorado devido à distração por um objeto de delusão. Ex. “cegos pela raiva”.
5) Quando não entendemos a natureza do objeto: Ex.: Numa feira em um país estrangeiro não
reconhecermos muitas frutas.
Aplicação de Percepção Desatenta à prática do Darma:
Devemos praticar para desenvolver percepções desatentas em relação aos objetos da delusão, que
causam atração ou repulsão. Esse treino é a prática de conter as portas das faculdades sensoriais. Para
desenvolver a calma mental é muito importante praticar a percepção desatenta em relação aos objetos
de distração durante a sessão meditativa, de modo que possamos prestar plena atenção no objeto
interior sobre o qual estamos meditando.
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6. Dúvida
Conceito: Dúvida é um fator mental que oscila a respeito de seu objeto.
Quando uma mente primária está associada com dúvida, a própria mente primária e todos os seus
fatores, tais como sensação, discriminação e intenção, também assumem a qualidade bifocal da dúvida.
Firme fé e confiança são pré-requisitos essenciais para uma prática espiritual bem sucedida, portanto, é
necessário eliminarmos as dúvidas que interferem com o desenvolvimento de pura fé.
Classificação:
Divisão dupla:
1) Dúvidas aflitivas: Causam perturbações em nossa mente.
2) Dúvidas não aflitivas: Não causam perturbação na mente. Surgem durante o estudo do Darma ao não
entendermos algum tópico de estudo.
Divisão tripla:
1) Dúvidas que tendem a verdade. Ex.: Pensar que vidas passadas e futuras provavelmente existem.
2) Dúvidas que tendem a se afastar da verdade. Ex.: Pensar que vidas passadas e futuras provavelmente
não existem.
3) Dúvidas equilibradas. Ex.: Nos perguntarmos se elas existem ou não.
Divisão tripla:
1) Dúvidas virtuosas. Ex: Ao estudarmos temas profundos com motivação virtuosa.
2) Dúvidas não virtuosas. Ex: Estudar um tema de Darma com motivação não virtuosa.
3) Dúvidas neutras. Ex.: Motivação neutra (o que comer no café?).
Geração da dúvida:
As dúvidas, em geral, surgem devido à ignorância ou as suas marcas. Percepções desatentas, crenças
corretas e cognições errôneas podem levar a dúvidas. As causas mais comuns de dúvidas aflitivas são as
visões errôneas ou as marcas dessas visões. Outras causas de dúvidas são as investigações e análises
incorretas. Pessoas que tem formação científica podem achar difícil acreditar em objetos ocultos, uma
vez que não podem ser comprovados pelo método científico comum. Dúvidas virtuosas são, em geral,
causadas por razões opostas. No processo de tentar entender os ensinamentos de Buda desenvolvemos
muitas dúvidas. Se tivermos fé, esta nos encorajará a estudar profundamente para captar o significado
profundo do Darma.
Aplicação da Dúvida à prática do Darma:
Enquanto tivermos dúvidas aflitivas e hesitações, nossa prática não será muito efetiva. Para superar
dúvidas sobre nossa prática espiritual, devemos compreendê-la perfeitamente por meio de estudo,
discussão e confiança em um Guia espiritual qualificado.
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7. Cognições Errôneas
Conceito: Cognição errônea é aquela que está equivocada a respeito de seu objeto conectado, ou seja,
apreende seu objeto de uma maneira errônea. Uma percepção equivocada engana-se a respeito do seu
objeto aparecedor enquanto que uma concepção errônea engana-se a respeito do seu objeto conectado
ou de seu objeto concebido.
Divisão:
1. Cognições errôneas não conceituais:
1.1 Percepções sensoriais errôneas: Uma percepção sensorial errônea pode estar equivocada acerca do
seu objeto (no todo ou de algum aspecto) de sete maneiras: acerca do seu feitio (vê uma cobra de
brinquedo como verdadeira), cor, atividade (carro ao lado se movimenta e parece que aquele em que
estamos que está se movimentando), número, tempo, medida ou entidade.
1.2 Percepções mentais não conceituais errôneas: apreende aspectos do sonho como real.
2. Cognições errôneas conceituais:
2.1 Concepções errôneas intelectualmente formadas: Desenvolvem-se a partir de visões filosóficas
errôneas ou premissas incorretas. Ex.: visão que concebe o ‘eu’ como existente inerentemente.
2.2 Concepções errôneas inatas: Marcas mentais trazidas de vidas passadas. Ex.: auto-agarramento inato.
Geração da cognição errônea: As cognições errôneas podem ter causas últimas (ignorância) e
temporárias, como segue:
-Causas temporárias para as percepções sensoriais errôneas:
a) Uma qualidade enganosa do objeto: objetos muito parecidos.
b) Uma situação enganosa: certas situações que dificultam a identificação do objeto, como falta de
luminosidade.
c) Uma faculdade sensorial defectiva: doenças que enfraquecem nossas faculdades sensoriais.
d) Um defeito na percepção antecedente: quando estamos muito perturbados, p.ex., ‘com raiva vemos
tudo vermelho’.
-Causas temporárias para as percepções mentais errôneas:
a) Induzidas por percepções sensoriais errôneas: tomar uma corda por uma cobra.
b) Concentração interior dos ventos: durante o sono ou a morte os ventos se reúnem e a mente se
sutiliza, por isso, nossa contínua lembrança vai se deteriorando e não somos capazes de usar a mente
adequadamente.
-Causas temporárias para as concepções errôneas (conceituais):
a) Para as inatas - das marcas mentais das aflições.
b) Para as intelectualmente formadas - dos ensinamentos enganosos e do próprio raciocínio incorreto.
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Aplicação das Cognições Errôneas à prática do Darma:
A prática do Darma tem duas finalidades principais: eliminar concepções errôneas e cultivar concepções
corretas. Concepção errônea é fonte de sofrimento, e concepção correta, fonte de felicidade. Se as
distinguirmos claramente, nos empenharemos em abandonar todas as concepções errôneas, em
particular, o auto-agarramento. Para eliminarmos esses pensamentos errôneos, precisamos
primeiramente identificá-los, entender como surgem e reconhecer seus defeitos.
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Introdução à Mente
SEGUNDA PARTE:
UMA PSICOLOGIA DA MENTE
4.1 Introdução: Mentes primárias e Fatores mentais
33
4.2 Os 51 fatores mentais e seus seis grupos
34
4.2.1 Os Cinco Fatores Mentais Acompanhantes
34
4.2.2 Os Cinco Fatores Mentais Determinadores de Objeto
35
4.2.3 Os Onze Fatores Mentais Virtuosos
38
4.2.4 Os Quatro Fatores Mentais Mutáveis
41
4.2.5 As Seis Aflições Raízes e as Vinte Aflições derivadas
42
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Apego, Raiva, Orgulho,
Ignorância, Dúvida aflitiva
e Visão errônea
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Sensação,
Discriminação,
Intenção; Contato e
Atenção.
Aspiração,
Firme apreensão;
Continua lembrança;
Concentração e
Sabedoria
5 Fatores
Onipresentes
06 Fatores
Negativos
Raizes
5 Fatores
Determinadores
de Objeto
Mente
Primária
21 Fatores
Negativos
Derivativos
4 Fatores
Variáveis
11 Fatores
Virtuosos
Raiva: Fúria, Vingança, Rancor, Cobiça e Crueldade.
Apego: Avareza, Auto apego, Excitação Mental.
Ignorância: Dissimulação, Obtusidade, Descrença,
Preguiça, Esquecimento, Desatenção.
Apego e Ignorância: Pretensão, Desonestidade.
Derivada das três: Desconsideração pelos outros,
Inconsciência e Distração.
Sono,
Arrependimento;
Investigação e
Análise
Fé, Vergonha, Consideração pelos
outros; Desapego; Antiódio;
Antiignorância; Entusiasmo;
Flexibilidade Mental; Consciência.
Equanimidade e Antinocividade.
Figura 2
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Introdução à Mente
4.1 INTRODUÇÃO: MENTES PRIMÁRIAS E FATORES MENTAIS
4.1.1 Mente Primária
Definição: Uma cognição primária é estabelecida por meio da apreensão da presença fundamental do
objeto, é a mera consciência das condições apresentadas para ela. Denota a totalidade de um estado
mental ou sensorial composto por uma variedade de fatores mentais. Há apenas uma mente primária,
mas muitos fatores mentais. O relacionamento entre a mente primária com seus fatores mentais é algo
similar a um supervisor e seu grupo de trabalhadores.
Função: Apreender o objeto.
Classificação: Consciência em visual, auditiva, olfativa, gustativa, tátil e mental. Se uma mente primária é
uma mente válida, então seus fatores mentais acompanhantes serão, também mentes válidas.
4.1.2 Fatores Mentais
Definição: Uma cognição que apreende um determinado atributo de um objeto.
Função: Apreender atributos particulares do objeto.
Classificação: Há inumeráveis fatores mentais.
Fatores mentais onipresentes são aqueles sem os quais a mente primária não pode funcionar. Os fatores
mentais determinadores de objetos são moralmente neutros e determinam ou estabelecem aspectos
individuais dentro do campo objetivo. Fatores mentais variáveis têm características que variam de acordo
com a influência, se benéfica ou maléfica. Há ainda onze fatores mentais benéficos, seis aflições raízes e
vinte aflições secundárias. Cada grupo será visto detalhadamente a seguir.
4.1.3 As Cinco Similaridades
A mente primária e seus fatores mentais compartilham 5 similaridades: base, duração, aspecto, tempo e
substância.
Base: mesma condição dominante.
Objeto: o objeto observado é o mesmo.
Aspecto: o objeto conectado é o mesmo.
Tempo: surgem, permanecem e cessam simultaneamente.
Substância: uma mente primária só tem um fator mental de cada tipo.
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4.2 OS 51 FATORES MENTAIS E SEUS SEIS GRUPOS:
4.2.1 Os Cinco Fatores Mentais Onipresentes
1. Sensação
Definição: Cognição distinta que é uma experiência de prazer, dor ou indiferença. Os objetos de sensação
não são prazerosos ou doloridos, mas as próprias experiências.
Função: Preencher a experiência com os efeitos amadurecidos de nossas ações prévias, com a função
específica de conduzir para reações de apego, aversão, confusão e espanto.
Classificação: Sensações prazerosas, dolorosas e indiferentes. Sensações físicas e mentais. Sensações
contaminadas e não contaminadas.
2. Discriminação
Definição: É o fator mental cuja função é apreender os sinais particulares de um objeto.
Função: Identificar o objeto como algo oposto a outro por meio da diferenciação. Tem papel essencial no
pensamento abstrato e na imaginação, bem como nas percepções. Serve para imputar, rotular e nomear
objetos. As características dos objetos não existem do lado do próprio objeto, mas são imputadas pela
mente.
Classificação: Dependente da condição dominante particular: visual, auditiva etc. Discriminações
equivocadas e não-equivocadas. Discriminações claras e obscuras.
3. Intenção
Definição: É o fator mental distinto que move a mente primária para o objeto.
Função: Criar carma. Ela é o princípio da atividade. Havendo uma ação de mente, corpo ou fala, a intenção
é o elemento formativo primariamente responsável e que acumula tendências e impressões na mente.
Classificação: Virtuosa, não virtuosa ou neutra.
4. Contato
Definição: É o fator mental que, por conexão com o objeto, o órgão e a consciência primária, ativa o
órgão. O órgão é transformado em uma entidade com a habilidade de agir como a base para sensações
de prazer, dor e indiferença.
Função: Serve para originar sensações.
Classificação: Contato associado à consciência visual, auditiva, etc.
5. Atenção
Definição: É o fator mental cuja função é pôr em foco um atributo específico do objeto.
Função: Fazer com que a mente enfoque um determinado objeto, fixar a mente naquele objeto, impedir a
mente de se desviar do objeto, servir de base para a contínua-lembrança e concentração.
Classificação: Atenção correta e incorreta.
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4.2.2 Os Cinco Fatores Mentais Determinadores de Objeto
Introdução:
Os cinco fatores mentais determinadores de objeto são assim chamados porque cada um deles
realiza um objeto em particular. Distinguindo uma característica específica do campo objetivo. Por
exemplo, aspiração determina o que é desejável dentro de um campo objetivo; firme apreensão, aquele
no qual é compreendido como sendo um objeto de valor; e continua lembrança é aquilo que tem que ser
nascido na mente pela firme apreensão. Quando a mente está ativamente engajada em uma tarefa, seja
ela benéfica ou maléfica, todos estes fatores mentais estão constantemente ocupados, dando direção,
coerência e significado para a seqüência de pensamentos e comportamento.
Os cinco fatores determinadores de objeto são: Aspiração, Firme apreensão, Contínua lembrança,
Concentração e Sabedoria.
1 Aspiração
Definição: é o fator mental que focaliza um objeto desejado e se interessa por ele. Aspiração, desejo e
vontade são sinônimos.
Função da Aspiração: A principal função desse fator mental é induzir à dedicação e ao entusiasmo.
O sucesso de nossas ações depende da dedicação investida e quanto maior a aspiração, maior será nossa
dedicação. Todas as tarefas, quer mundanas ou espirituais, precisam ser precedidas de aspiração.
Classificação da Aspiração:
Existem quatro tipos:
1. Desejo de encontrar um objeto;
2. Desejo de não se separar de um objeto;
3. Desejo de obter um objeto;
4. Desejo de se livrar de um objeto.
Cada um desses quatro podem ser virtuoso, não virtuoso ou neutro, dependendo da motivação
envolvida. O desejo mais comum: ter felicidade e se livrar do sofrimento.
Divisão Dupla:
1. Aspirações equivocadas;
2. Aspirações não equivocadas.
Por isso, ao buscarmos felicidade acabamos, freqüentemente, atraindo sofrimento. Não ter bons desejos
significa não ter verdadeira sabedoria. A Aspiração suprema é a mente que deseja se iluminar para o
benefício dos outros, com essa aspiração, todas as nossas ações se transformam em causas para a
iluminação.
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2 Firme apreensão
Conceito: Firme apreensão é o fator mental que faz a mente primária apreender seu objeto com firmeza.
No contexto de uma meditação unifocada é através da apreciação de um objeto previamente
estabelecido que este fator mental estabiliza a sua apreensão e a mente não se deixa distrair-se por nada
mais.
Firme Apreensão de um objeto somente segue após as qualidades do objeto terem sido determinadas
como sendo vantajosas ou valiosas. Uma vez apreciado desta maneira a mente estará muito mais
inclinada para perseguir um determinado comportamento a fim de obter o objeto ou atingir uma meta
corporificada no ou relacionada com ele.
Função da Firme apreensão: A principal função da Firme apreensão é fazer com que a sua mente primária
apreenda com firmeza seu objeto. Atuando deste modo como causa de continua lembrança e
concentração. Sem entender do objeto, será difícil manter nossa mente nele por muito tempo.
Classificação:
Firme apreensão correta e equivocada. Objetos conectados existem (por ex. impermanência) e não
existem. Existem, também, três tipos especiais de firme apreensão que observam a vacuidade: os
caminhos de acumulação, preparação, e visão.
3 Continua lembrança
Conceito: Continua lembrança é o fator mental que serve para não esquecer um objeto que foi realizado
pela mente primária. Sem continua lembrança nossa mente é como um pote furado, por mais que
estudemos, não somos capazes de reter coisa alguma. É a força vital da prática do Darma.
Função da continua lembrança:
Ela tem a função de não permitir que a mente seja distraída do seu objeto. Ela age como a base para
concentração. Lembrança opera dentro de uma extensa variedade de atividades. Durante a meditação
unifocada ela é o fator responsável por constantemente trazer o objeto para a mente e segurá-lo lá. Na
prática da disciplina moral ela é comparada com o vigia na porta de saída da mente que tem a tarefa de
estar constantemente atenta aos vários fatores mentais – em particular as aflições – que surgem.
Durante o estudo, lembrança capacita alguém a relembrar o que tem aprendido previamente e deste
modo permite uma grande quantidade de conhecimento ser construído. No dia a dia ela dá seqüência às
atividades diárias, capacitando alguém a lembrar o que tem que ser feito em momentos particulares e
assim por diante. Em resumo, lembrança é comparada a uma casa de tesouro que pode acumular muitas
qualidades benéficas sem permitir que elas pereçam. Neste momento podemos utilizar somente os níveis
densos de continua lembrança, ainda não temos capacidade de atingir os níveis sutis. (pensar claramente,
meditar durante o sono).
Classificação da continua lembrança:
Existe, basicamente, uma classificação dupla de lembrança:
Lembranças e memórias que provocam distúrbios na mente e lembranças e memórias que provocam
tranqüilidade.
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4. Concentração
Definição: Concentração é o fator mental que faz sua mente primária ficar unifocadamente num objeto.
Ela só pode se desenvolver se o objeto está sendo retido firmemente pela contínua lembrança.
Concentração pura possui quatro qualidades: lucidez significa que a mente se tornou clara , livre das
nuvens de concepções distrativas; a clareza indica que o objeto aparece claramente e com vivacidade; a
força indica que o objeto é firmemente retido por forte continua lembrança; e a estabilidade, que a
mente permanece unifocada em seu objeto.
Função da concentração: A principal função da concentração é tornar a mente serena.
Ela age como a base para o aumento da sabedoria e mantem todos os fenômenos mundanos e
supramundanos sob controle. Concentração existe em algum grau nas mentes de todos nós. No presente
momento esta faculdade pode não estar desenvolvida e somente ser capaz de lembrar um objeto por um
tempo de limitada duração. Mas, com o esforço continuo e prática sua habilidade para permanecer
unifocadamente em um único objeto pode ser desenvolvida até que, em estado mental de total quietude,
alguém pode ficar por dias concentrado em um objeto particular. Concentração é também um
importante fator na elevação da sabedoria. Quando estamos tirando uma fotografia, a firmeza que
seguramos a câmera fará com que a fotografia fique nítida. Similarmente, quanto mais firme e mais
intensa for a nossa concentração, mais nítida e acurada tornar-se-á nossa sabedoria.
Classificação: Concentrações mundanas e supramundanas; Concentrações que observam objetos
convencionais e objetos últimos.
Para se atingir a concentração especial, a quietude mental, nosso desenvolvimento em concentração é
dividido em nove níveis:
1) Posicionamento da mente;
2) Contínuo posicionamento;
3) Reposicionamento;
4) Posicionamento estreito;
5) Controle;
6) Pacificação;
7) Pacificação completa;
8) Unifocalização;
9) Posicionamento equilibrado.
5. Sabedoria
Conceito: é um fator mental virtuoso que leva a mente primária a realizar o objeto por completo.
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Função: A sabedoria serve para eliminar dúvidas, mal entendidos e, principalmente, para eliminar a
ignorância. Nada nos prejudica mais que a ignorância, ela é a fonte de todos os nossos problemas e a
causa raiz de todas as nossas ações negativas.
Classificação: Sabedoria nascida de ouvir, sabedoria nascida de contemplar e sabedoria nascida de
meditar.
4.2.3 Os Onze Fatores Mentais Virtuosos
Todas as mentes virtuosas nascem de quatro causas: as marcas, o objeto (Três Jóias, Mestre e amigos
espirituais), a atenção apropriada e as bênçãos inspiradoras dos Budas.
1. Fé
Definição: É o fator mental que atua, principalmente, para eliminar a antifé. Se temos convicção na
confiabilidade de uma pessoa, então não hesitaremos em seguir seus conselhos. Não significa apenas
uma atitude de reverência, mas deveria ser compreendida como um fator mental capaz de alargar e
expandir a compreensão de alguém.
Função: Induzir aspirações virtuosas em nossa mente. É a raiz de todas as aquisições virtuosas. Dissipa
dúvidas e hesitações sobre as práticas do Darma. Afasta defeitos tais como ter uma má motivação, desfaz
nosso orgulho.
Classificação:
Fé de acreditar é uma crença em qualquer objeto conducente ao nosso desenvolvimento espiritual.
Fé de admirar um estado mental tranqüilo, livre de concepções negativas, que surge quando
contemplamos as boas qualidades dos objetos virtuosos.
Fé de almejar um desejo de seguir qualquer caminho do Darma.
2. Auto-Respeito ou Senso de Vergonha
Definição: É um fator mental que evita o nocivo por razões de consciência pessoal.
Função: Sustenta a prática da disciplina moral.
Classificação: Senso de vergonha que refreia de ações corporais, verbais e mentais impróprias. Autorespeito que evita prejudicar alguém pelo motivo de si próprio e pelo motivo de uma tradição espiritual.
3. Consideração pelos Outros
Definição: É um fator mental que evita prejudicar por causa dos outros.
Função: Idem ao auto-respeito. Uma pessoa é boa ou má na dependência de ter ou não os fatores
mentais senso de vergonha e consideração.
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Classificação: Evitar os danos que causamos para outros seres e evitar danos que causamos para a
tradição espiritual dos outros.
4. Desapego ou Antiapego
Definição: É um fator mental que age como antídoto ao apego em relação a um objeto.
Função: É a porta à libertação, ao passo que o apego é a corda que nos amarra a existência cíclica. Não
significa evitar todos os objetos de apego, mas reconhecer as falhas do apego e tentar abandoná-las.
Com desapego, somos capazes de ver mais clara e objetivamente e deste modo focar nossa atenção e
energia na realização das metas que verdadeiramente valem à pena.
Classificação: Antiapego por esta vida, pela existência cíclica e pela paz solitária. Antiapego por lugares,
prazeres e corpos da existência cíclica.
5. Antiódio
Conceito: É o fator mental que tem as características de amor bondoso e atua como oponente direto ao
ódio, supera a irritação e frustração, nos capacitando a reagir às condições adversas com uma mente
calma e positiva. Constitui a base de todas as realizações mahayanas. Age como base para evitar o ódio,
aumento do amor e paciente aceitação.
Classificação em três tipos:
1. Antiódio por aqueles que nos prejudicam;
2. Por objetos inanimados que nos causam sofrimentos
3. Pelo sofrimento resultante.
6. Antiignorância
Conceito: É uma claridade e perspicácia da mente que dispersa confusão. Possui um relacionamento de
similaridade com entusiasmo e concentração. É desenvolvida, primeiramente, através do aprendizado e
estudo, depois da reflexão e meditação. Tem a função de evitar a confusão, aumentar as quatro
inteligências e efetivar as qualidades benéficas.
Classificação:
1. Antiignorância advinda de ouvir;
2. Advinda de contemplar;
3. Advinda de meditar;
4. Advinda de marcas mentais
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7. Entusiasmo:
Conceito: Fator mental que se opõe a preguiça, engaja-se alegremente em atividades benéficas, é uma
qualidade dinâmica da mente necessária ao crescimento espiritual e compreensão.
Função: Estimula as virtudes, protege-as de se degenerar, aumenta as qualidades virtuosas, leva as
práticas virtuosas a consumação, causa maleabilidade física e mental, tornando nosso corpo e mente
apaziguados.
Classificação:
1. Entusiasmo diligente
2. Entusiasmo que é uma perseverança benéfica
3. Entusiasmo que encontra alegria com o que é benéfico.
Há também uma classificação quíntupla do entusiasmo:
1. Entusiasmo tipo armadura
2. Entusiasmo aplicado;
3. Entusiasmo indestrutivo;
4. Entusiasmo irreversível;
5. Entusiasmo descontente.
8. Consciência
Conceito: É um fator mental que aprecia a acumulação do que é benéfico e protege a mente contra
aquilo que faz as aflições surgirem. É uma qualidade que designa um estado mental no qual desapego,
antiódio, antiignorância e entusiasmo estão presentes.
Função e aplicação no Darma: Capacita-nos a guardar disciplina moral pura, aperfeiçoar nossa
concentração e conquistar sabedoria.
Classificação:
1. Consciência em acumulação de mérito
2. Consciência na realização da liberação
3. Consciência no desenvolvimento da renúncia
4. Consciência em cultivar virtudes não contaminadas
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9. Flexibilidade mental
Conceito: É um fator mental distinto, induzido por concentração virtuosa que capacita a mente a aplicar
o objeto benéfico de qualquer maneira que ela deseje.
Função e aplicação na prática do Darma: Purifica a rigidez mental e física e age como base para todas as
meditações associadas a quietude mental e insight penetrativo. Capacita a mente para resolver um
problema intelectual ou se concentrar em objeto de meditação. Remove a inflexibilidade, lentidão e peso
da mente. A rigidez mental dissipada pela flexibilidade é a base de muitas aflições, por exemplo, a
preguiça, resistência e antipatia por atividades virtuosas. É desenvolvida pela meditação.
Classificação: Flexibilidade mental sutil, flexibilidade mental densa, Flexibilidade do corpo e da mente.
10. Equanimidade
Conceito: É um fator mental que, sem necessitar grande esforço, evita excitação e afundamento mental.
Função e aplicação na prática do Darma: Sua função é deixar a mente apoiada sobre objetos virtuosos.
Age como base para aquisição do conhecimento da realidade última. Mantém a mente equilibrada e
calma, livre de distrações e obtusidade.
Classificação: Existem três tipos, equanimidade que é um sentimento, equanimidade ilimitada e a que é
um elemento formativo. Esta última é subdividida em três: De uma mente equilibrada; De uma mente em
repouso; De uma mente espontânea.
11. Antiviolência:
Conceito: É um fator mental que deseja que os seres sejam separados do sofrimento. Equivale a
compaixão.
Função e aplicação na prática do Darma: Sua principal função é nos impedir de prejudicar os seres
sencientes, e atuar como causa para a conquista da iluminação. Aperfeiçoada ela se transformará na
sabedoria onisciente de um Buda.
Classificação: Compaixão que deseja que os seres se libertem do sofrimento. Compaixão que deseja que
os seres se libertem das causas do sofrimento.
4.2.4 Fatores Mentais Variáveis
1. Sono
Conceito: Fator mental desenvolvido por meio da obtusidade ou de suas marcas cuja função é recolher as
percepções sensoriais interiormente. É uma mente sutil, que quando manifesta torna as mentes densas
não-manifestas.
Função e aplicação na prática do Darma: Faz com que as percepções sensoriais se concentrem
interiormente. Restaura a energia corporal dos seres comuns, e harmoniza seus elementos,
proporcionando conforto e prolongamento de suas vidas. É usado por praticantes de tantra para
desenvolver a clara luz. Aos apegados a dormir causa o aumento da preguiça.
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Classificação: Dependendo da motivação pode ser: Virtuoso, Não-virtuoso e Neutro.
2. Arrependimento
Conceito: É o fator mental que sente remorso por ações cometidas no passado.
Função e aplicação na prática do Darma: Nos encoraja a purificar ações negativas cometidas no passado,
quando virtuoso, sendo desejável sua geração. Quando se refere a ações virtuosas cometidas é
arrependimento não-virtuoso. É neutro quando, por exemplo, comemos demais.
Classificação: Virtuoso, Não-virtuoso e Neutro.
3. Investigação
Conceito: É o fator mental que examina um objeto a fim de obter uma compreensão de sua natureza
densa.
Função e aplicação na prática do Darma: Antes de analisar os tópicos de Darma em detalhes, devemos
obter uma compreensão aproximativa deles.
Classificação: Virtuosa, Não-virtuosa e Neutra.
4. Análise
Conceito: É o fator mental que examina um objeto a fim de obter uma compreensão de sua natureza
sutil.
Função e aplicação na prática do Darma: Através do seu desenvolvimento atingimos, primeiramente, um
percebedor direto ióguico e, depois, a mente incontaminada de um Buda.
Classificação: Virtuosa, Não-virtuosa e Neutra.
4.2.5 Os Fatores Mentais Negativos
As Seis Aflições Raízes e as Vinte Aflições derivadas
Aflições:
Etimologia: Kleisha ou Kleza em Sânscrito significa dor, aflição, no sentido proposto pela filosofia Budista
é aquilo que causa sofrimento no momento ou gera uma semente de um possível sofrimento no futuro.
Conceito: são os fatores mentais responsáveis por todas as formas de sofrimento e descontentamento
que experienciamos, são consideramos como maléficos. Eles são caracterizados por serem fatores
mentais conceituais que, quando surgem na mente, causam distúrbios e inquietação.
Função: As aflições servem apenas para gerar sofrimento.
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Toda a não virtude nasce das aflições, e as aflições nascem de quatro causas: raiz (auto-agarramento),
semente (potencial cármico) cria hábitos e influências , objeto (contaminado), atenção imprópria.
As aflições são caracterizadas em dois grupos: as seis aflições raízes e as vinte aflições derivadas. As
aflições raízes agem como a base para todas as distorções intelectuais e conflitos emocionais e
subseqüentemente fazem surgir ações contaminadas que impulsionam-nos para estados da existência
cíclica. Enquanto estivermos sob seu domínio nossa existência tornar-se uma escravidão na qual falta
liberdade para determinar nosso destino. As aflições derivadas são assim chamadas porque, por um lado,
elas são aspectos ou extensão das aflições raízes, e por outro, porque elas ocorrem na direta
dependência delas.
As Seis Aflições Raízes e seus vinte e um aflições derivadas
1. Apego
Conceito: Apego é um fator mental distinto que, quando se refere a um fenômeno contaminado super
exagera sua atratividade e então procede ao desejo e um interesse forte por ele. Como uma condição
contributiva, ele age como uma base para a produção continuada de descontentamento. Apego
desenvolve-se de nossa concepção errônea sobre um objeto ser mais atrativo e agradável que ele
realmente é. Projetamos uma falsa imagem, agarrando-a, ansiamos em possuir o objeto aparentemente
belo que temos embelezado com nossa própria imaginação. Freqüentemente confundimos apego com
amor ou compaixão. Na realidade, eles são completamente diferentes.
Classificação: Apego pode ser classificado de acordo com os três reinos: apego pertencente aos reinos
dos desejos, forma e não forma; ou de acordo com o tempo: apego por experiências passadas e que
novamente queremos provar, apego por querer segurar o que está presente, e apego ou desejo por
alguma coisa que ocorrerá no futuro.
Aflições derivadas do Apego
a) Avareza
Conceito: Avareza é um fator mental que, do apego em relação a posição ou ganhos materiais,
firmemente suporta a sua própria posse sem o desejo de dá-las. Ela tem a função de estimar as posses
sem deixá-las diminuir.
Este fator mental causa-nos dor quando surge a possibilidade de sermos separados do que possuímos e
consideramos como queridos para conosco. Além de ocorrer com relação a objetos materiais, ela pode
também se desenvolver com relação a nossa compreensão interna do Darma. Ela é, deste modo, o maior
obstáculo para dar nossas posses e compartilhar nossa compreensão com os outros. No futuro ela
causará pobreza material e espiritual.
Existem dois tipos de avareza: a intenção de jamais dar algo e a intenção de não dar algo para
determinada pessoa.
b). Auto-satisfação
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Conceito: Auto-satisfação é um fator mental que, sendo atento as marcas da prosperidade que alguém
possui, conduz a mente sob sua influência e produz um sentido falso de confiança. Ela tem a função de
provocar e sendo de acordo com todas as outras aflições tanto quanto interferir com a realização de
qualquer das altas qualidades.
Auto-satisfação produz um sentido falso de arrogância através da consideração de superioridade de
nossa raça, aparência física, aprendizado, juventude ou autoridade sobre os outros. Por outro lado, não é
necessariamente maléfica estar consciente das boas qualidades que possamos ter. O que devemos evitar
é super valorizá-las e convencidamente ostentá-las então. Este fator mental é muito sujeito a provocar a
auto-importância.
c) Excitação mental
Conceito: Excitação é um fator mental que, através da força do apego, não permite a mente repousar
sozinha em um objeto benéfico, mas dispersa-a aqui e ali em muitos objetos. Ela tem a função principal de
obstruir a quietude mental. Também ela causa na mente o engajamento em fantasias incontroladas e
frivolidades.
Este fator mental está freqüentemente conosco, mas sua presença somente torna-se verdadeiramente
sentido quando começamos a concentrar a mente na meditação. Nem todas as formas de distração são
causadas por excitação, somente aquelas que são trazidas pelos nossos apegos e desejos por objetos
agradáveis contaminados.
Existem dois tipos de excitação: uma grosseira e outra sutil.
2. Raiva
Conceito: Raiva é um fator mental distinto que, em referência a um dos três objetos, agita a mente por
ser incapaz de suportar ou por pretender causar ferimento no objeto. Ela tem a função de perturbar e
irritar a mente. Ela age como uma base para atormentar a si próprio e aos outros e é uma condição
contributiva para o aumento do sofrimento e suas causas.
Quando nos tornamos raivosos, usualmente é em relação a um dos três objetos: seres ou objetos por
quem está sendo feridos, o sofrimento que ocorre por estarmos sendo feridos, ou as razões pelas quais
estamos sendo feridos. Enquanto apego super exagera a atratividade de um objeto, raiva é a concepção
errônea que super exagera os aspectos desagradáveis do seu objeto.
Classificação: Na divisão de raiva, podemos falar da menor, da intermediária e dos maiores graus de raiva
tanto quanto raiva causada por ferir seres feito por si próprio, feito para amigos seus ou por aqueles que
são inimigos. Além do mais, considerando a segunda classificação em termos de tempo, ela pode ser
causada por um dolo infligido no passado, um dolo infligido no presente, ou um dolo propenso a ser feito
no futuro para alguém, para um dos seus amigos e assim por diante, podemos distinguir nove tipos de
raiva.
Aflições derivadas da Raiva:
a) Fúria
Conceito: Fúria é um fator mental que devido ao aumento da raiva, é um estado mental totalmente
maligno desejando causar dano imediato. Ele tem a função de conectar diretamente a pessoa que
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pretende causar dano com o real sentido de fazê-lo então. Como com a raiva, podemos distinguir três ou
nove formas de fúria.
b). Vingança
Conceito: Vingança é um como um nó ou vinculo da mente que, sem esquecer, firmemente sustenta o
fato que no passado alguém foi ferido por uma pessoa particular. Ele pretende encontrar a oportunidade
pelo meio da qual devolverá o ferimento. É uma base para impaciência e deste modo realiza a função de
repetidamente trazer a raiva e a dor de algo que é incapaz de suportar.
Vingança é uma espécie de ferimento profundo que mantem um rancor dentro do fluxo da mente sem
necessariamente deixá-lo tornar-se manifesto externamente. De fato, alguém pode ser muito prazeroso e
agradável conosco enquanto esconde um forte rancor contra nós.
A divisão da vingança é a mesma da fúria.
c). Rancor
Conceito: Rancor é um fator mental quem quando precedido por fúria ou vingança e como resultado de
querer prejudicar, motiva alguém a uma fala totalmente áspera em repetir palavras desagraveis ditas por
outros. Ela age como base acumulação de ações maléficas através da fala e causa a destruição da
felicidade dos outros.
Classificação: Existem três formas de rancor: a intenção de dizer palavras ásperas e raivosas para alguém
na mesma posição, na posição inferior ou superior.
d). Cobiça
Conceito: Cobiça é um fator mental distinto que, do apego em relação a ganhos materiais, é incapaz de
suportar as coisas boas que os outros têm. Ela provoca distúrbios mentais profundos. É uma base de
surgimento de imediata infelicidade na mente e tem a função de causar que as suas próprias coisas sejam
exauridas.
Cobiça freqüentemente contem um elemento de medo. Ele vê, por exemplo, que alguém pode estar
ganhando uma posição que é muito procurada por você. Desejo pela posição e medo que possa não
ganhá-la, começa a sentir uma aversão e ódio pela pessoa que parece ser a causa do problema.
Classificação: Existem dois tipos de cobiça: aquela que surge em relação a posses materiais, e aquelas que
surgem através de tais coisas como falar sobre perdas e ganhos.
e) Crueldade
Conceito: Crueldade é um fator mental que, com intenção maléfica privada de qualquer compaixão ou
bondade, deseja depreciar e desconsiderar outros. Ela tem a função de (a) prejudicar as boas qualidades
próprias e dos outros, (b) agir como base para perturbação e (c) ferir psicologicamente a vida dos outros.
Crueldade geralmente surge para com aqueles que consideramos inferiores a nós. Isto pode tomar a
forma de danos físicos a outros ou simplesmente, ressentimento, ignorando uma questão colocada por
alguém.
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Existem três formas de crueldade: sendo pessoalmente maldoso com os outros com o desejo de
desacreditá-lo, senso maldoso por causar aos outros fazer do mesmo modo; e sendo maldoso através do
regozijo quando vemos ou ouvimos os outros sendo maldosos.
3. Auto-importância ou orgulho
Conceito: Auto-importância ou orgulho é um fator mental distinto que, baseado na visão da coleção
transitória, “eu” e “meu”, apreendida como inerentes, é fortemente apegada a uma imagem inflada e
superior de si próprio. Ela tem a função de evitar a realização de qualquer alta virtude e de causar
desrespeito e menosprezo pelos outros. Por meio disto ela conduz alguém ao doloroso e indesejável.
A base para a auto-importância é a visão da coleção transitória, por exemplo a concepção errônea que os
elementos corpo e mente são o “eu” ou essencialmente “meu”. Esta concepção exagerada
conseqüentemente fará surgir a auto-importância e sentimentos de orgulho tais como: “Olhem-me, quão
sábio eu sou!” Devido a este tipo de pensamento uma imagem altamente inflada de si próprio
desenvolve-se e como resultado torna-se muito presunçoso diante dos outros. Através deste fator
mental produze-se um senso inflado de personalidade superior, ela não é uma superioridade real mas
meramente uma produção conceitual falsa.
Uma vez surgida, ela automaticamente nos causará inveja dos superiores, competitivo com os iguais e
arrogantes com os inferiores. Por meio disso ele cria uma atmosfera tensa a e hostil. Na perseguição
mundana, ela pode parecer uma qualidade conveniente, mas na prática do Darma ela é somente um
obstáculo para o nosso desenvolvimento.
De acordo com suas causas, auto-importância pode ser divida em sete tipos:
1 – 3 Auto-Importância Menor, Maior e Extrema.
Estas três formas de auto-importância são chamadas de “materialmente-orientadas” visto que elas
surgem em relação a tais coisas como status social e riqueza. Auto-importância menor vem através da
comparação de si próprio com aqueles que parecem ter menos que você. Este é o pensamento que
considera: “Eu sou maior que aqueles que tem uma posição social inferior e que são mais pobres em
conhecimento que eu.” Auto-importância maior surge em relação àqueles que são iguais a nós. Ele
considera: “ embora ele possa ser igual a mim em sua posição social, etc, todavia, através das minhas
qualidades de generosidade, moralidade e assim por diante, eu sou superior a ele.” Auto-importância
extrema toma como seus objetos aqueles que superior a você e considera, “ mesmo comparado com
aqueles que tem posição social, riqueza, conhecimento, etc superior ao meu, apesar disto eu sou
superior.”
4. Auto-importância egoística
Esta atitude convencida é um estado mental inflado que resulta da imaginação que os seus próprios
agregados de corpo e mente são alguma coisa perfeita. Ele, então, concebe fortemente que uma pessoa
que é não auto-existente passa a ser uma pessoa auto-existente.
5. Auto-importância inflada
É uma qualidade humana negativa, por exemplo, todas as atividades que surgem do apego, ódio e
confusão, são contrapostas pela absorção mental e meditação. Auto-importância inflada é atitude
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grosseira inflada de alguém que, sem ter realizado qualquer destas qualidades superiores, está
convencido que tem.
6. Auto-importância auto-retraída
Este é um estado mental inflado que considera, “visto que tenho somente uma fração de status social,
conhecimento etc. destes superiores a mim, eu estou completamente humilhado e insignificante.”
7. Auto-importância Distorcida
Um exemplo de auto-importância distorcida seria atitude inflada de uma pessoa moralmente degenerada
que se considera moralmente correta e virtuosa. Então ela é distorcida visto que ela nos faz acreditar que
estamos dotados com qualidades benéficas que de fato estão faltando.
4. Ignorância
Conceito: Ignorância é um estado aflitivo de desconhecimento que produz sobre a mente confusão sobre
a natureza de coisas tais como a lei de causa e efeito, as três jóias e assim por diante. Ela tem como
função agir como base e uma raiz para todas as aflições e ações corrompidas .
A ignorância que estamos falando aqui é a confusão, é qualidade de consciência que obscurece-nos do
conhecimento claro das coisas. Ela age como base para, mas é distinta da ignorância que concebe
falsamente a auto-existência da pessoa. Esta qualidade mais específica de ignorância será tratada quando
abordarmos a visão da coleção transitória.
Classificação: Geralmente falando, existem dois tipos de ignorância: confusão do o significado da sua
própria realidade, como exemplo a ignorância sobre a natureza do eu, e a confusão sobre tópicos como a
lei de causa e efeito.
Aflições derivadas da Ignorância
a). Dissimulação
Conceito: Dissimulação é um fator mental que deseja esconder as nossas qualidades maléficas e de outra
pessoa. Ela tem a função de causar pesar e a função indireta de não permitir que o corpo e a mente
permaneçam tranqüilos.
Isto ocorre quando alguém genuinamente tenta ajudar-nos apontando uma certa fraqueza que
possuímos. Em vez de darmos atenção a suas palavras, ignoramos e imediatamente tentamos esquecer o
que ele disse. Na dissimulação necessariamente não reagimos com violência ou negatividade para com a
outra pessoa, simplesmente suprimimos qualquer manifestação ou conhecimento da falha que ele
descreveu.
Superficialmente parece que agimos como uma defesa, mas quanto mais nos referenciamos a ela, mais
ela causa aflição e desconforto na mente.
b). Obtusidade
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Conceito: Obtusidade é um fator mental que, tendo causado na mente lapso e escuridão e deste modo
tornando-se insensível, não compreende o objeto claramente, tal como ele é. Ela tem a função de fazer o
corpo e a mente pesados e inflexíveis, e de aumentar a sonolência e o afundamento.
Obtusidade não deve ser confundida com afundamento. O afundamento ocorre somente nos estados
mentais mais avançados de meditação na quietude e necessariamente não é uma aflição. Quando o corpo
e a mente são luminosos e joviais, afundamento se manifesta como um declínio da energia mental. Algo
similar ao ar escapando através de um minúsculo furo em um balão.
Existem dois tipos de obtusidade: uma grosseira e uma sutil.
c). Descrença
Conceito: Descrença é um fator mental que, visto que ele causa a ausência de acreditar ou respeito por
quem é merecedor de confiança – tal como a lei de ações e seus efeitos – é a oposição completa a fé. Ele
tem a função de agir como uma base para a preguiça e de causar o decréscimo da força da fé. Além do
mais, ela faz alguém desacreditar, desrespeitar e não ter desejo pelo que é positivo, deste modo serve de
raiz para qualquer desenvolvimento benéfico.
Classificação: Existem duas formas de descrença: aquela que simplesmente não vê a necessidade para ou
os frutos da virtude, e aquela na qual considera a virtude e não virtude como não existentes.
d) Preguiça
Conceito: Preguiça é um fator mental que, tendo firmemente agarrado um objeto que oferece felicidade
temporária, não quer fazer nada benéfico ou, apesar de querer, é medroso. Ele tem a função de causar a
diminuição da força do entusiasmo. Ele age como base para a degeneração das tendências benéficas já
acumuladas tanto quanto por evitar a produção de novas virtudes. Este fator mental negativo é o que é
dominado pelo entusiasmo. Suas três principais divisões já foram explanadas na seção referente ao
entusiasmo. Entretanto, em adição a estas divisões podemos acrescentar três mais: preguiça que vem no
inicio em relação a prática do Darma como desnecessária; preguiça de procrastinar é aquela que apesar
de ser capaz de praticar o Darma, considera não existir tempo agora; e preguiça destrutiva é aquela que
apesar de ver a necessidade de praticar agora, é atraído para atividades maléficas.
e). Esquecimento
Conceito: Esquecimento é um fator mental que, tendo causado a perda da apreensão de um referente
benéfico, induz lembrança de uma distração através de um distúrbio referente. Ele tem a função de
destruir o vaso no qual contem todas as qualidades benéficas e de causar o declino da força da
lembrança. Deste modo ele conduz alguém a apreender objetos que perturbam a mente.
Aqui esquecimento refere-se ao fator mental que, além de perder de vista o que é benéfico, atrai alguém
para apreender o que é maléfico. Ele não corresponde ao que é usualmente compreendido por “esquecer
alguma coisa”, por exemplo, simplesmente sendo incapaz de reter a lembrança de um objeto na mente.
Na realidade é uma forma de lembrança que perturba a mente por envolvê-la com objetos contaminados.
Esta forma negativa de esquecimento é um grande obstáculo para a execução de qualquer tarefa, seja ela
mundana ou espiritual.
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Existem dois aspectos do esquecimento: aquele no qual vem através da força da obscuridade sobre um
referente benéfico; e aquele no qual vem através da força de ser atento em relação a um distúrbio
referente.
f). Desatenção
Conceito: Desatenção é um fator mental que, sendo um estado aflitivo de inteligência no qual nada tenha
feito ou somente uma análise superficial, não está completamente consciente da conduta do seu próprio
corpo, fala e mente e deste modo causa a alguém entrar em um estado de indiferença descuidada. Ela
tem a função de causar o declínio da força da inteligência e provocar o aumento das ações negativas de
corpo fala e mente. Ela também impede a aplicação das quatro forças oponentes.
Geralmente falando, a desatenção refere-se a qualquer estado de inteligência aflitiva. Além do mais,
qualquer estado mental que surja enquanto alguém não está completamente consciente da conduta do
seu corpo, fala e mente é chamado de uma forma “aflitiva” de inteligência, porque ele tem a função de
ser um grande causador de quedas moral.
Existem três tipos de desatenção: desatenção que acompanha visões malvadas, desatenção que evita o
desenvolvimento de uma inteligência analítica válida; e desatenção que interrompe a quietude mental.
Estes três tipos são, respectivamente, mais e mais sutis.
Aflições derivadas de Apego e Ignorância
a). Pretensão
Conceito: Pretensão é um fator mental que, quando alguém está publicamente apegado em relação a um
ganho material, fabrica uma qualidade particular excelente sobre si próprio e então deseja fazê-la
evidente para os outros. Ela age como base para estabelecer um estilo de vida errôneo e como uma causa
para monges seres derrotados pela falta da mentira.
Existem dois tipos de pretensão: aquela que surge do apego e aquela que surge da confusão.
b). Desonestidade
Conceito: Desonestidade é um fator mental que, quando alguém está completamente apegado em
relação ao um ganho material, deseja confundir os outros mantendo suas próprias falhas desconhecidas
deles. Ela tem a função de não dar uma resposta clara para questões e causar uma interferência para
obter vantagens para si próprio.
Ambos, pretensão e desonestidade são similares no que eles desejam transmitir uma imagem falsa de si
próprio para os outros. Superficialmente eles parecem enganar e iludir os outros, mas na realidade eles
somente enganam e iludem a si próprio.
Classificação: Existem dois tipos de desonestidade: aquela que surge do apego e aquela que surge da
confusão.
5. Visões Aflitivas
Conceito: Uma visão aflitiva é um estado de inteligência aflitiva que considera os agregados como senso
inerentemente “eu” ou “meu” ou em direta dependência de tal visão, uma inteligência aflitiva que
desenvolve outras concepções errôneas. Visões Aflitivas têm a função de agir como a base para todos os
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transtornos engendrados através das aflições tanto quanto todas as outras perspectivas falsas e
negativas.
Existem muitos tipos de visões aflitivas mas, aqui abordaremos aquelas cinco principais e mais
importantes:
1 A visão da composição transitória
A visão da composição transitória é uma visão aflitiva que, quando se refere aos agregados de corpo e
mente, concebe-os por ser ambos inerentemente “eu” ou “meu” Ela age como base para tudo que é
maléfico.
Esta visão errônea é assim chamada porque ela tem como seu objeto a coleção transitória de corpo,
sensação, discriminação, elementos formativos e consciência primária. Na confusão da ignorância, ela
então concebe erroneamente uma pessoa auto-existente para existir independentemente destes
elementos. Alternativamente, ela considera-os como uma substância de uma pessoa auto-existente ou os
objetos pertencentes para tal pessoa auto-existente. Ela é considerada como uma forma de inteligência,
mas porque ela é uma discriminação distorcida, ela tem como uma característica fundamental
perturbadora e maléfica. Devido a esta concepção falsa que todos os seres ordinários são dotados com o
senso de um “eu” independentemente auto-suficiente. Deste modo está presente em todas as formas da
existência condicionada. Em animais ele é meramente um senso instintivo de identidade enquanto no
homem ele é freqüentemente cultivado e justificado intelectualmente.
Para obter a liberação da existência cíclica, este é o fator mental chave para ser reconhecido e
transformado. Mas tal processo não é fácil. Ele requer muita análise da natureza do caminho no qual
distorcidamente concebemos a nós próprios como existente. Primeiro, temos que reconhecer
claramente que este falso “eu” que temos tão fortemente assumido existir. Somente então podemos
construtivamente proceder para penetrar na sua não realidade e reduzir a obsessão instintiva de apego a
ele como algo real.
Existem dois tipos desta visão: a apreensão de um “eu” inerente e a apreensão de algo como senso
inerentemente “meu”.
2 Visões Extremas
Uma visão extrema é um estado aflitivo de inteligência que, quando refere-se ao “eu” e ao “meu”
concebido pela visão da composição transitória, considera-os como um aspecto eternalista ou niilista. Ele
tem a função de impedir que alguém encontre o caminho do meio o qual está livre dos extremos e de
criar causas para alguém retornar a tarefa de estabelecer as causas para status elevado no samsara e a
liberação.
Existem dois extremos nos quais estamos sujeitos a falhar uma vez que tenhamos assentado o senso do
eu trazido pela visão da composição transitória: os extremos do eternalismo e do niilismo. O extremo do
eternalismo é aquele que considera nossa identidade pessoal algo imutável, a qual sobreviverá à morte e
continuará indefinidamente. O extremo do niilismo é a visão que considera que apesar de uma identidade
pessoal estar presente agora, na morte, esta identidade e o elemento da consciência, cessarão
completamente. No Budismo estes extremos são evitados através da negação da existência
independente de uma pessoa por um lado, mas por outro lado também afirmando a continuidade
momentânea da consciência.
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3 Visões de Superioridade
Uma visão de superioridade é um estado aflitivo de inteligência que considera outras visões negativas ou
os agregados de corpo e mente como sendo supremos, exaltados, principais ou sagrados. Ela tem a
função de causar apego a visões falsas para aumentá-las.
Tal visão seria o pensamento: “não existe nada superior à crença na auto-existência da pessoa que é
eterna e imutável”. Este tipo de pensamento somente exagera e fortalece nossas opiniões falsas.
4 Visões que consideram Disciplinas morais e espirituais insatisfatórias como suprema.
A visão que considera disciplinas morais e espirituais insatisfatórias como supremas é um estado aflitivo
de inteligência que acredita que a purificação das corrupções mentais possa ser possível por meio de
práticas ascéticas e de códigos de éticas inferiores que foram inspirados em visões errôneas. Ela age
como base para não se obter os frutos para a liberação da existência cíclica tanto quanto por obter os
resultados não desejados por nós. Visto que elas nos causam exaustão enquanto não atingimos metas
reais. Estas visões encontradas em nós próprios manifestadas na submissão a tremendas dores físicas na
espera que por tais práticas tendências maléficas serão purificadas. Em algumas religiões tradicionais
acredita-se que privando uma pessoa da sua alimentação ou queimando o seu próprio corpo, por
exemplo, esta pessoa seria ajudada a atingir a liberação do sofrimento. De fato, como Buda descobriu por
si próprio, estes métodos são insuficientes para afetar a raiz de nossos problemas e descontentamentos.
Visto que a fonte de toda a escravidão está dentro da mente, o caminho da liberação é essencialmente
um de desenvolvimento mental e purificação.
5. Visões errôneas
Uma visão errônea é um estado de inteligência aflitiva que nega a existência de algo que realmente
existe. Ela age como uma base para obstrução e qualquer conduta maléfica.
Um exemplo de uma visão errônea seria a negação de qualquer causa relacional entre ações e seus
resultados, uma recusa em acreditar que felicidade é o resultado da virtude e sofrimento é o resultado da
maldade. Do mesmo modo, negar a existência de um estado de liberação do sofrimento seria também
constituída de uma visão errônea.
Além do mais, temos as visões errôneas que negam a existência de algo existente, podemos falar
também das visões errôneas que negam a existência de algo não existente.
6. Dúvida Aflitiva
Conceito: Dúvida aflitiva é um estado mental oscilante e indeciso tendendo para uma conclusão incorreta
sobre pontos importantes como a lei de causa e efeito, as quatro nobres verdades e as três jóias.
A fim de que um estado de indecisão ou dúvida possa ser considerado uma aflição raiz, ele deve ser um
que obstrua o desenvolvimento do que é benéfico e induz a um quadro de perturbação mental. Ter
dúvidas não é necessariamente negativo. Algumas das incertezas sobre a validade de certos pontos de
vista errôneos podem conduzir alguém para um ponto de vista mais realístico. Também, indecisões
aflitivas ocorrem somente quando o objeto da dúvida é algo que a aceitação é crucial e valorosa para o
desenvolvimento do caminho espiritual, tal como as três jóias. Ela não inclui indecisões sobre tópicos
mundanos e triviais. Indecisão impede-nos de atingir qualquer certeza sobre um ponto particular e então
cria uma mente frágil e vacilante que não é uma base perfeita para a prática do Darma. Para transformá-la
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temos que testar o objeto da nossa dúvida com uma discriminação inteligente baseada num raciocínio
perfeito. Através da nossa aplicação neste caminho, devemos ser capaz de atingir um estado unifocado
de convicção livre de qualquer hesitação ou oscilação.
Finalmente o modo como e a disposição destas aflições raízes surgirem está claramente exposto por Ven.
Tsong Khapa no Grande Tratado nos Estágios do Caminho.
“Assumindo que consideramos a ignorância e a visão da composição transitória como fenômenos distintos,
(então ele é como segue)”. Supomos que em um quarto com luz obscurecida existe um pedaço de corda
esticado, visto que ele é incapaz de ser claramente distinguido como uma corda, alguém o apreende como
uma cobra. Similarmente, na escuridão da ignorância que nos obstrui de ver claramente a verdadeira
natureza dos nossos agregados, a visão da composição transitória, confunde os agregados com uma pessoa
auto-existente. Então, desses (dois fatores mentais) todas as outras aflições são produzidas. Mas deveríamos
considerar (ignorância e a visão da composição transitória) como únicas, então a visão da coleção transitória
seria a raiz de todas as aflições. Além do mais, uma vez que a visão da composição transitória estiver
estabelecida (o senso de) uma pessoa auto-existente, então passaríamos a discernir nós próprios e outros
seres (inerentemente) distintos. Tendo realizado esta discriminação, desenvolvemos apego pelos objetos
que estão do nosso lado, ferindo os objetos que estão do outro lado, e nos orgulhamos com relação a nossa
própria identidade. Subseqüentemente, nos concebemos como sendo eternos ou sujeitos a total aniquilação.
Então começamos a considerar tais visões sobre a identidade pessoal tanto quanto as formas insatisfatórias
de comportamento relatadas naquelas visões como supremas. Similarmente, tornamos propensos a nutrir
visões errôneas que pensamos: “tais coisas como o Professor que ensinou sobre a falta de existência inerente
do eu tanto quanto ele ensinou sobre ações e seus resultados, as quatro nobres verdades e as Três Jóias são
não existente. Alternativamente podemos desenvolver indecisão, pensando, “fazer tais coisas existentes ou
não, elas são (verdade) ou não?”
Aflições que derivam dos três venenos mentais
a). Cinismo
Conceito: Cinismo é um fator mental distinto que não evita o maléfico por razões de consciência pessoal
ou por causa do Darma. Ele age como suporte e condição para todas as aflições raízes e derivadas e como
base para danificar a proteção dos seus votos. Ele é o oposto ao fator mental benéfico de auto-respeito.
Existem dois tipos: cinismo que ocorre devido a falta de consciência pessoal; e cinismo que ocorre devido
a falta de respeito pelo Darma.
b). Desconsideração com os outros
Conceito: Desconsideração com os outros é um fator mental que, sem levar os outros ou suas tradições
espirituais em conta, deseja se comportar de uma maneira que não evita comportamentos negativos. Ele
age como uma base para causar aos outros a perda de fé em nós e tornar-se agitado. Ele tem a função de
danificar uma conduta imaculada.
Existem três tipos de desconsideração pelos outros: aquelas que surgem do ódio, apego e confusão
respectivamente.
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A uma pessoa que falte auto-respeito e consideração pelos outros conseqüentemente não tem um senso
de restrição em sua conduta e está dirigindo incontrolavelmente pela força das suas outras aflições. Suas
atividades tornam-se como a de um carro sem freios.
c). Inconsciência
Conceito: Inconsciência é um fator mental que, quando alguém está afetado por preguiça, deseja agir
livremente de uma maneira irrestrita sem cultivar virtude ou proteger a mente contra fenômenos
contaminados. Ele tem a qualidade de designar qualquer dos três venenos mentais quando eles estão
acompanhados por preguiça. Ele tem a função de aumentar não virtude e obstruir virtude tanto quanto
causar a destruição qualquer qualidade positiva individual.
De acordo com sua função existem dois tipos de inconsciência: aquela na qual faz a mente inconsciente e
aquela na qual faz corpo e mente inconsciente.
d. Distração
Conceito: Distração é um fator mental que, incapaz de dirigir a mente através do objeto benéfico,
dispersa-a para uma variedade de outros objetos. Ele causa a deterioração da força da concentração e
age como a base para a perda da atenção nos objetos referidos na meditação analítica e de
concentração. Ela tem uma qualidade de suportar um estado mental no qual a mente tem sido deixada
fora do objeto de concentração por raiva, apego ou confusão.
De acordo com as condições temporais, seis tipos de distrações são classificados. Os primeiros quatros
são chamados de estados mentais “naturalmente agitados” e os dois últimos são chamados de formas de
distração “errôneas”.
a) Distração inerente. Esta é a qualidade na qual pertencem todas as cinco consciências sensoriais de uma
pessoa ordinária. Quando uma consciência sensorial tornar-se manifesta durante a meditação, a mente
não é capaz de permanecer muito tempo em equilíbrio, mas é imediatamente transferida para um objeto
externo.
b) Distração externa. Todo estado mental benéfico dentro do reino dos desejos, tais como
aprendizagem, reflexão e assim por diante, tem esta qualidade. Ela surge quando a mente é incapaz de
permanecer direcionada para um referente benéfico por um período de tempo sustentado. Dentro do
reino dos desejos estados benéficos mentais são constantemente sujeitos a serem dispersos de um
objeto para outro.
c) Distração Interna. A excitação e o afundamento que ocorrem durante a concentração equilibrada tanto
quanto a anseio pela prova (sabor) da absorção que ocorre enquanto a concentração ainda está se
desenvolvida, são exemplos de distrações internas. Elas são assim chamadas porque são aflições distintas
as quais distraem a mente dos estados mentais de quietude e insight penetrativo.
d) Distração para um sinal. Um exemplo deste seria a atividade mental benéfica que pensa que seria
insustentável se outras pessoas acreditassem que alguém fosse um grande meditador. Isto é chamado
assim porque dispersa a mente para fora por causa das crenças de outras pessoas nas suas próprias
qualidades benéficas.
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e) Distração rígida. A visão da composição transitória e auto-importância são rígidas, formas inflexíveis de
distração visto que elas são acompanhadas por tais coisas como medo no qual não suportam a glória
daqueles envolvidos em virtude.
f) Distração atenta. Tais pensamentos que consideram estar deixando um estado mais alto de absorção
para um mais baixo, ou abandonando o Mahayana pelo Hinayana são chamados de distração atenta no
que elas primeiro rejeitam algo superior e então se tornam envolvidos em algo inferior.
Deveríamos notar que nem todos estes seis tipos são necessariamente formas de distração maléficas.
Distração inerente é um fenômeno inespecífico, distração externa é benéfica, e também alguns dos
outros tipos podem ocasionalmente ser benéficos.
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Anexo 1 - Bibliografia
Obra principal utilizada como eixo básico deste trabalho:
1) A Mente e suas Funções – Geshe Rabten – Editora Rabten Choeling - Traduzida por Elton Oliveira
Outras obras consultadas:
2) Entender a Mente – Geshe Kelsang Gyatso – Editora Tharpa
3) Mind in Tibetan Buddhism – Lati Rinpoche – Snow Lion – Foi utilizada também a edição em espanhol.
Dicionários
1) Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa - Eletrônico
2) Dicionário Escolar de Filosofia – Organização de Aires Almeida - Lisboa: Plátano, 2003
3) Dicionário Eletrônico Online - Sanskrit, Tamil and Pahlavi Dictionaries - http://webapps.unikoeln.de/tamil/
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Anexo 2 Epistemologia
A disciplina tradicional da filosofia, também conhecida por TEORIA DO CONHECIMENTO, que trata
de problemas como "o que é o conhecimento?", "o que podemos conhecer?", "qual é a origem do
conhecimento?", "como justificamos as nossas crenças?", envolvendo um conjunto de noções
relacionadas entre si, como "conhecer", "perceber", "prova", "crença", "certeza", "justificação" e
"confirmação", entre outras. O nome deriva de epistêmê, termo do antigo grego que significa
CONHECIMENTO. A esse termo opunha-se o termo doxa, que significa opinião. Isto porque, como
PLATÃO começou por sublinhar, não é possível conhecer falsidades, sendo contudo possível e até
freqüente ter opiniões falsas. Assim, um dos problemas que desde logo se coloca é o de saber como se
alcança o conhecimento e se evita a mera opinião. A célebre TEORIA DAS IDEIAS de Platão continha uma
resposta para esse problema. Para Platão, só através de um processo racional de afastamento das
impressões sensíveis somos conduzidos à contemplação das Idéias perfeitas, de que os objetos captados
pelos nossos SENTIDOS são simples cópias imperfeitas. É nas Idéias que reside a verdade, pelo que o
chamado "conhecimento sensível" não deve, em rigor, ser considerado conhecimento. A discussão
acerca do papel dos sentidos na formação do conhecimento e na justificação das nossas crenças acabou
por dar lugar a duas grandes doutrinas epistemológicas rivais: o EMPIRISMO e o RACIONALISMO.
Empiristas como os britânicos LOCKE, HUME e BERKELEY defendem que todo o conhecimento
substancial provém da experiência sensível, enquanto os RACIONALISTAS, como o francês DESCARTES e
o alemão LEIBNIZ, consideram que o conhecimento, se corretamente entendido, deve exibir as marcas da
universalidade e da necessidade, características que de modo algum dependem da experiência. Assim,
para os racionalistas nem todo o conhecimento deriva da experiência sensível. KANT procurou
determinar com exatidão como se constitui o conhecimento, concluindo que este depende tanto da
matéria fornecida pelos sentidos como das formas A PRIORI do pensamento a que os dados sensíveis
têm de se submeter. Kant opõe-se assim tanto ao empirismo como ao racionalismo tradicional.
A justificação das nossas crenças é outro dos problemas epistemológicos que têm gerado importantes
debates. Há filósofos que defendem que por muito boas que sejam, as nossas justificações nunca
conseguem ser inteiramente satisfatórias, vendo-nos assim permanentemente confrontados com
dúvidas insuperáveis. Este problema é também conhecido por "problema do CEPTICISMO", uma vez que
os cépticos acabam por concluir, aparentemente de forma justificada, que o conhecimento não é
possível. No sentido de evitar o cepticismo, muitos filósofos procuraram um fundamento para o
conhecimento, isto é, um reduzido número de certezas inabaláveis a partir das quais se estrutura todo o
nosso sistema de crenças. Essas certezas tanto podem pertencer ao domínio da razão como da
experiência, consoante as inclinações racionalistas ou empiristas do filósofo. A este ponto de vista
chama-se FUNDACIONISMO, e Descartes constitui um dos exemplos mais conhecidos. Mas há também
quem não aceite qualquer tipo de fundamento último para o conhecimento, sem contudo aderir ao
cepticismo. É o caso dos defensores do COERENTISMO, para quem as nossas crenças se apoiam
mutuamente umas nas outras sem precisarem que uma delas sustente as restantes. À maneira de uma
rede ou das inúmeras peças de madeira de que é feito um barco, permitindo-lhe flutuar no mar sem se
afundar - esta é a metáfora de Otto Neurath (1882-1945) - o importante é que as crenças sejam coerentes
entre si. Mais diretamente ligado ao que se passa com a ciência, embora não só, há o chamado
PROBLEMA DA INDUÇÃO, a propósito do qual se discute se o tipo de justificação baseado em inferências
indutivas é ou não aceitável. Podemos ainda encontrar problemas de epistemologia da religião, tratandose aí da justificação das crenças religiosas; epistemologia da matemática, etc.
Fonte: Dicionário Escolar de Filosofia – Organização de Aires Almeida - Lisboa: Plátano, 2003
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