AVALIAÇÃO DOS DANOS NAS CASCAS DE OVOS DA POSTURA AO PROCESSAMENTO 1 1 Cristina Kimie Togashi , Sergio Kenji Kakimoto , Nilce Maria Soares 2 1-Pesquisador científico Apta Alta Paulista, SAA-SP. e-mail: [email protected], 2- Pesquisadora científica Unidade de Pesquisa e desenvolvimento de Bastos- IB/CAAPTA RESUMO: Este trabalho foi proposto para avaliar as perdas que ocorrem em função de avarias nas cascas de ovos de poedeiras comerciais da postura até a fase final do processamento. Três experimentos foram realizados tendo como parâmetros a idade, a linhagem das aves e o tipo de colheita realizada (manual ou automática). O percentual de quebra ou trinca das cascas dos ovos foi avaliado em quatro pontos distintos de observação: a colheita, o transporte, o processamento e a embalagem dos ovos. Para as análises estatísticas, adotou-se o delineamento inteiramente casualizados (DIC), composto por três (idades) ou dois (linhagens e tipos de colheitas) tratamentos e quatro repetições, que foram constituídas pelos quatro dias de observação. Os resultados obtidos demonstraram que as maiores perdas são observadas na fase de colheita e embalagem dos ovos, o que ressalta a importância de um bom manejo de equipamentos e treinamento de funcionários. Palavras-chave: avicultura, qualidade quebra, trinca Introdução O Brasil está entre os dez maiores produtores mundiais de ovos. O plantel de poedeiras em 2007 foi de aproximadamente 90 milhões de aves mensal com uma produção anual de 24 bilhões de ovos (UBA, 2007). Os ovos trincados e ou quebrados constituem uma importante causa da perda econômica na produção de ovos. Nos Estados Unidos, 6,7% dos ovos são perdidos devido à qualidade inferior da casca. Na Alemanha, a perda está estimada em até 8%, (Baião e Cançado, 1997). No Brasil, Campos et al. (1981) estimaram em 7,4% a perda da qualidade dos ovos entre a postura e o consumidor. A extensão das perdas dificilmente pode ser avaliada, visto que na maioria das granjas esta avaliação não é considerada importante (Ohashi et Al. 2003). Entretanto, se considerarmos 7,4% de perdas da qualidade da casca e os valores de produção apresentados, observa-se que milhões de ovos deixaram de ser comercializados ou tiveram seus preços reduzidos em função de avarias na casca. A alimentação é um dos itens de maior impacto na qualidade da casca. É importante fornecer adequados níveis de cálcio e fósforo nas rações para que ocorra adequada deposição de cálcio na casca (MAZZUCO et al. 1998). Fatores como a Síndrome da Queda de postura e a Bronquite Infecciosa também afetam diretamente a qualidade da casca. Com relação à genética das aves, algumas linhagens apresentam diferenças relacionadas à qualidade da casca, que é uma característica inversamente proporcional à produtividade. O manejo das aves também é um importante fator que influencia a qualidade da casca. É importante o acompanhamento rigoroso do peso das aves, da densidade de ave por gaiola, o tipo e inclinação da gaiola, a freqüência de colheita e o transporte até a embalagem. Os programas de luz têm papel importante sobre o desempenho de um lote de poedeiras, tanto no que se refere à persistência do pico de postura como no tamanho e peso dos ovos produzidos. O objetivo deste trabalho foi estimar o percentual de perda decorrente da danificação das cascas dos ovos em aves de diferentes idades, linhagens e tipos de colheita por meio da determinação da porcentagem de quebra nas diversas etapas de processamento. Com a avaliação das perdas espera-se que Seja possível identificar as causas dos desperdícios a fim de reduzir os prejuízos dos produtores devidos ás avarias na casca dos ovos. Material e Métodos Três experimentos foram conduzidos em uma granja de postura comercial localizada no município de Bastos-SP. Foram considerados como parâmetros a idade, o tipo de colheita e as linhagens das aves, no primeiro, segundo e terceiro experimento, respectivamente. O manejo alimentar utilizado em todos os experimentos foi o adotado na granja com o fornecimento de 1 ração comercial, balanceada e de acordo com as exigências nutricionais de cada fase de produção. Para todos os experimentos foram utilizadas amostras de 120 ovos de cada lote ou fase de produção. Foram realizadas avaliações em quatro dias seguidos. Os ovos foram avaliados individualmente e observados quanto á presença de trincas ou quebras, com o auxílio de um ovoscópio manual. Após as avaliações, foi recolhida uma amostra de 30 ovos intactos de cada lote para a determinação do percentual de casca em relação ao peso do ovo. Experimento 1 Foram selecionados lotes de aves de mesma linhagem comercial com idades de 37, 54 e 80 semanas de idade, respectivamente. O arraçoamento e a colheita de ovos eram automatizados. Após a postura, os ovos caiam em uma esteira sendo levados até o interior de um galpão onde passavam pelas etapas do processamento, que consistiam na lavagem, secagem, ovoscopia, classificação e embalagem dos ovos. Para a realização deste trabalho, a colheita foi feita manualmente e após a observação de danos na casca, os ovos eram identificados para depois retornarem ás esteiras de onde seguiam junto com os demais ovos para serem processados. Os ovos foram analisados em quatro pontos: 1) colheita; 2) transporte da esteira até o interior do galpão; 3) durante o processamento e 4) fase de embalagem, quando as caixas eram abertas ao final do procedimento e os ovos vistoriados quanto às avarias nas cascas. Nas análises estatísticas, adotou-se o delineamento inteiramente casualizado (DIC), com três tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos foram constituídos de três idades diferentes (37, 54 e 80 semanas) e as repetições foram os dias de realização do experimento (quatro dias). Os dados foram submetidos à análise de variância e quando significativos, foi aplicado o teste de Tukey (P<0.05). Experimento 2 Neste experimento, a colheita manual e automática foi avaliada, utilizando-se dois lotes de aves da mesma linhagem comercial variando de 46 a 52 semanas de idade. Na colheita manual, a primeira análise era feita na colheita aleatória dos ovos. Os ovos com trincas ou quebrados eram identificados e depois contabilizados. Os ovos intactos eram marcados com caneta hidrocor para seguirem juntamente com os demais ovos em caminhões para o depósito de processamento, onde logo na chegada eram novamente analisados quanto à integridade da casca. Nesta etapa, avaliava-se o efeito do transporte desde a colheita até o inicio do processamento. Os ovos intactos eram processados normalmente e na ovoscopia, outra analise era feita assim como no final do processo ao final da embalagem. Na colheita automática, os ovos eram transportados com o auxílio de uma esteira até o depósito de processamento. Para realizar a primeira avaliação no momento da colheita, coletavam-se os ovos aleatoriamente na esteira, os ovos danificados eram contabilizados e os intactos após serem identificados eram postos novamente na esteira sendo transportados juntamente com os demais ovos para o depósito de processamento. No momento da chegada, eram separados e analisados quanto às avarias decorrentes do transporte, os ovos remanescentes voltavam ao processamento sendo novamente analisados na ovoscopia e na fase de embalagem. Experimento 3 Para avaliar o efeito das linhagens foram utilizados neste trabalho, dois lotes de poedeiras de ovos brancos com 46 semanas de idade provenientes de duas linhagens comerciais diferentes. A colheita dos ovos foi manual e as análises foram realizadas como citado anteriormente, seguindo-se as quatro avaliações no momento da colheita, transporte, ovoscopia e embalagem. Nas análises estatísticas referentes aos experimentos 2 e 3, adotou-se o delineamento inteiramente casualizado (DIC), com dois tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos foram constituídos de dois tipos de colheita (experimento 2) ou dois tipos de linhagens (experimento 3) e as repetições foram os dias de realização do experimento (quatro dias). Os dados foram submetidos à análise de variância e quando significativos, foi aplicado o teste de Tukey (P<0.05). Resultados e Discussão Dos processos avaliados (Tabela 1), a fase de colheita de ovos foi a que apresentou maior número de ovos quebrados e trincados, resultando em maior percentual de ovos não comercializados (4,80%). O processamento em si, não danificou significativamente os ovos. 2 Com relação aos ovos trincados, foi observado um total de 6,83%, valor este inferior ao encontrado por Campos et al. (1981) que descreveram resultados de até 7,5% atribuídos a danos decorrentes principalmente da colheita e da embalagem. Tabela 1. Danos ocorridos em casca de ovos de acordo com a fase de processamento. Ovos Quebrados Ovos Trincados Ovos Não Processamento (%) (%) comercializados (%) Colheita 1,81 a 2,99 a 4,80 a Transporte 0,22 b 1,90 a b 2,12 b Processamento 0,00 b 0,14 b 0,14 b Embalagem 0,07b 1,80b 1,86b TOTAL 2,10 6,83 8,92 Médias seguidas por letras diferentes na mesma coluna diferem entre si pelo teste Tukey (P<0,05) Esses resultados demonstram que maiores cuidados necessitam ser dispensados na fase de colheita, transporte e embalagem dos ovos. É importante observar a que alguns fatores como a idade das aves, a densidade de aves nas gaiolas ou mesmo o ângulo de inclinação das gaiolas podem ser fatores decisivos de quebra ou trinca de ovos na fase de colheita. Na fase de transporte, a constante manutenção das esteiras e equipamentos deve ser realizada assim como o treinamento de funcionários para o setor de embalagem dos ovos. Dentre todas as idades avaliadas, os ovos provenientes de galinhas mais velhas apresentaram-se maiores, porém com menor percentagem de casca, o que pode ter contribuído para maior incidência de ovos com cascas danificadas. Este resultado está de acordo com a afirmação de vários autores (Mazzuco et al.,(1998), Baião e Cançado (1997), Carvalho et al., (2007)) que observaram que à medida que a ave envelhece o tamanho do ovo aumenta sem que haja maior deposição de cálcio por superfície de casca, resultando em ovos com menor resistência de casca e propícios a danos. De acordo com os resultados obtidos não foram encontradas diferenças significativas (P>0,05) entre os tipos de colheitas realizadas. A colheita manual ou mecanizada danifica igualmente os ovos. As duas linhagens comerciais de aves avaliadas no experimento 3 demonstraram diferenças quanto ao percentual de incidência de ovos trincados (P<0,05) principalmente na fase de colheita dos ovos onde foi observada maior percentagem de ovos não comercializados (1,88%). Esse resultado demonstra que o fator genético influencia fortemente a qualidade da casca dos ovos. Conclusões Nas condições em que foi realizado estes trabalhos, é certo afirmar que a idade da ave é um importante fator na incidência de ovos com cascas danificadas. O aumento da idade da ave acarreta em maiores prejuízos na qualidade externa dos ovos. A fase de colheita foi a que apresentou maiores problemas de quebra e trincas dos ovos. É importante a manutenção e uso adequado dos equipamentos assim como a escolha da linhagem comercial para reduzir os danos nas cascas e conseqüentemente o percentual de ovos que deixam de ser comercializados ou que sofrem redução do preço de comercialização. Referências Bibliográficas BAIÃO, N. C.; CANÇADO, S. de V. In: Cadernos Técnicos da Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, n.21, p.43-59, 1997. CAMPOS, E. J.; SOARES, N. M.; GAMA, J. R. Q.; BAIÃO, N.C. Danos sofridos pela casca durante o manuseio dos ovos de consumo. In: Congresso Brasileiro de Avicultura. 1981, v.1, p.94 – 105. CARVALHO, F. B. de; STRINGHINI, J. H.; FILHO, R. M. J.; LEANDRO, N. S. M.; CAFÉ, M. B.; DEUS, H. A. S. B. de. Qualidade interna e da casca para ovos de poedeiras comerciais de diferentes linhagens e idades. Ciência Animal Brasileira, v. 8, n. 1, p. 25-29, jan./mar. 2007. MAZZUCO, H.; ROSA, P. S.; JAENISH, F. R. Problemas de Casca de Ovos: Identificando as Cascas. In: Série Documentos, Concórdia – Santa Catarina – EMBRAPA, ed. 48, p.5-20, 1998. OHASHI, J. T; ISHIZUKA, M. M; FERREIRA, A. J. P; GRANJERO, J. M. Fatores infecciosos que interferem na qualidade da casca do ovo. Conferência Apinco de Ciência e Tecnologia Avícolas. 347-356p. 2003. UNIÃO BRASILEIRA DE AVICULTURA. Disponível em www.uba.org.br, acesso em: 13/08/08. 3