ISOLAMENTO E PURIFICAÇÃO DE COMPLEXOS ATIVOS
Ariane Chimin
Diante de muitos estudos validados cientificamente, várias espécies vegetais
apresentaram expressivas atividades farmacológicas. Dentro desses estudos, estão
os processos de fracionamento de extratos vegetais com o isolamento de
substâncias ativas. Para o isolamento de compostos consideravelmente de maior
interesse utiliza-se, atualmente, a cromatografia líquida de alta eficiência acoplada
a espectrofotômetro de ultravioleta e espectrômetro de massas ou de ressonância
magnética nuclear. Este resultado é dado em função dos dados espectrais obtidos.1
Mas também, podem ser utilizados outros métodos para o isolamento de
complexos ativos, como a cristalização fracionada, sublimação, destilação
fracionada, destilação pelo vapor de água sobreaquecido, filtração por géis,
eletrodiálise, e eletroforese. 2
1. PARTIÇÃO POR SOLVENTES
O fracionamento de um extrato vegetal pode ser iniciado através da partição
por solventes orgânicos de polaridade crescente ou através da partição ácido-base.
A partição envolve uma dissolução seletiva e distribuição entre as fases de dois
solventes imiscíveis. Esse fenômeno pode ser aplicado visando à separação de
componentes de uma mistura. Cada substância apresenta um coeficiente de
partição ou distribuição, o qual está relacionado com a concentração de cada um
dos componentes em cada fase. Quando o volume total de solvente utilizado na
partição é dividido em partes, obtêm-se melhores rendimentos de extração. Neste
método de extração líquido/líquido é utilizado um funil de separação.1
2. MÉTODOS CROMATOGRÁFICOS
Os métodos cromatográficos são os mais utilizados atualmente nos
processos de separação e isolamento de compostos ativos, mas podem servir
também para identificar e analisar misturas (cromatografia preparativa) e
substâncias isoladas (cromatografia analítica). A fase estacionária pode estar
empacotada em coluna (aberta ou fechada) ou compor uma superfície plana, como
na cromatografia em papel e cromatografia em camada delgada.
Em geral, a técnica cromatográfica compreende as seguintes etapas:
- montagem da coluna ou placa: disposição correta da fase estacionária ou
suporte e preparação da fase móvel;
- aplicação da amostra;
- desenvolvimento: passagem da fase móvel (solvente) através da fase
estacionária;
- revelação/visualização: localização das diferentes zonas de separação dos
compostos e/ou
- extração das substâncias retidas na fase estacionária.
De acordo com o processo no qual se baseia a separação dos componentes
da mistura a ser analisada, a cromatografia líquida divide-se em quatro espécies:
a) cromatografia de partição: separação dos componentes de uma mistura
baseada nos seus coeficientes de partição entre dois solventes imiscíveis que
formam as fases móvel e estacionária;
b) cromatografia de adsorção: a fase estacionária sólida que é constituída
por partículas finas de adsorventes polares ou apolares é utilizada para adsorver os
componentes da solução analisada, onde o componente que for mais atraído pelo
adsorvente será deslocado pela fase móvel de forma mais lenta;
c) cromatografia de troca iônica: baseia-se na troca de íons entre a fase
móvel e resinas, as quais contém grupos funcionais do tipo ácido sulfônico (resina
catiônica ou trocadora de ânions). Então esta cromatografia é aplicada na
separação apenas de substâncias contendo grupamentos ionizáveis, como por
exemplo, aminoácidos e alcalóides;
Exemplo de cromatografia de troca iônica:
d) cromatografia de exclusão ou de filtração molecular: é baseada no
tamanho das moléculas do soluto que passam através da fase estacionária, a qual é
constituída por um gel poroso. Este gel não permite que as moléculas maiores
passem pelos poros, e assim, são arrastadas pela fase móvel. Já as moléculas
menores, que conseguem atravessar estes poros da fase estacionária são retidas por
um tempo mais longo no interior da coluna. Os géis utilizados são derivados do
dextrano, conhecido comercialmente como Sephadex.
Há várias técnicas de cromatografia líquida, que se diferenciam pelos
equipamentos utilizados e pelo tipo de material usado como fase estacionária.
A cromatografia gasosa (CG) serve para separar componentes a partir de
misturas de compostos voláteis. Obtém-se como resultados, produtos de baixo
ponto de ebulição, originados se substâncias não voláteis através de reações
químicas com derivados do silano. A combinação com um sistema de
espectrometria de massas, é muito útil para separar e identificar estruturas, como
por exemplo, componente de óleos voláteis.
Exemplo de um espectro de cromatografia gasosa (óleo da canela):
A cromatografia líquida em coluna é uma das técnicas mais utilizadas para a
separação ou isolamento de constituintes de extratos vegetais; além de ser muito
versátil, pois podem ser utilizadas colunas de diferentes tipos e dimensões, assim
como combinações de diversas fases móveis e estacionárias. Essa técnica pode ser
realizada em colunas de vidro, sob pressão atmosférica, ou com equipamentos
especiais que permitem trabalhar com pressões maiores, o que consequentemente
aumenta a velocidade e a eficiência do processo de separação.
A cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE ou HPLC – High
Performance Liquid Chromatography) requer uma pressão alta e fluxo livre de
pulsações, pois utiliza colunas contendo o suporte, que é a fase estacionária,
formado por partículas extremamente finas (3 a 10 µm), esféricas ou irregulares,
homogêneas e densamente compactadas, que oferecem grande resistência ao fluxo
da fase móvel. Isto permite que a fase móvel flua a uma velocidade razoável
através da coluna, e por este motivo a CLAE é uma técnica mais cara. Utilizando
equipamentos mais simples, pode-se trabalhar com pressões inferiores, como na
cromatografia líquida a vácuo ou ainda com a cromatografia líquida de média
pressão. Os suportes mais empregados são substâncias inorgânicas como gel de
sílica e alumina (óxido de alumínio), utilizadas geralmente na separação de
compostos lipofílicos. Também se utiliza para suporte materiais orgânicos como
celulose, poliamida e géis de dextrano quando se quer a separação de substâncias
hidrofílicas, como aminoácidos e açúcares. E ainda, existem os materiais
modificados quimicamente, como a celulose acetilada ou gel de sílica substituído
por cadeias orgânicas alifáticas de C8 a C18 que também podem ser utilizados
como suportes. Separações cromatográficas em que a fase móvel é apolar e a fase
estacionária é polar são denominadas de separações em fase normal, enquanto
sistemas com fase móvel polar e fase estacionária apolar constituem as separações
em fase reversa ou RP (reversed phase).
Exemplo de um espectro de HPLC:
A cromatografia em camada delgada (CCD) é uma técnica bastante
utilizada para análise de extratos vegetais brutos e também para avaliar o resultado
de um processo de separação. Ocasionalmente, pode-se utilizar também a CCD
para fins preparativos, e nesse caso, com camadas suporte que comportem uma
quantidade maior de amostra, então com maior espessura. Há vários tipos de
suportes, que podem ser usados tanto de fase normal como reversa, variando com a
polaridade dos componentes da amostra a analisar. As placas para CCD podem ser
produzidas no próprio laboratório, mas devem facilitar o espalhamento uniforme
da suspensão aquosa do suporte sobre as placas de vidro. O método de preparação
manual tem a vantagem de ser bastante econômico, mas requer certa prática, e
pode ser bastante satisfatório em algumas análises de rotina, principalmente
quando os suportes mais comuns. As placas industriais devem estar padronizadas
quanto ao tamanho das partículas do suporte, à espessura da camada (0,025 cm
para fins analíticos e 0,2cm para fins preparativos) e à ativação do suporte,
possibilitando resultados mais reprodutíveis do que com as placas preparadas
manualmente. Os suportes podem conter indicadores fluorescentes em 254 nm,
com a especificação F254, geralmente sobre base de vidro, celulóide ou alumínio.
As duas últimas, além de inquebráveis, possibilitam que se recortem as placas em
tamanho menor, se desejado. O desenvolvimento da CCD ocorre em uma cuba
fechada, previamente saturada com a fase móvel. A aplicação das amostras nas
cromatoplacas é feita a partir de soluções concentradas, onde a aplicação é feita
com capilares a uma distância adequada das bordas laterais, inferior, e entre as
amostras. Quando se deseja isolar uma substância de uma mistura, CCD
preparativa, pode ser utilizado um número maior de placas com a mesma amostra,
que é aplicada em linha ou barra.1
Exemplo de cromatografia em camada delgada:
3. CRISTALIZAÇÃO FRACIONADA
São feitas cristalizações sucessivas pela evaporação parcial dos solventes,
por aquecimentos, ou pelo acréscimo de outros solventes, em pequenos volumes,
que sejam miscíveis para diminuir a solubilidade dos compostos analisados. Estes
cristais são separados por decantação, filtração ou centrifugação. 2
4. SUBLIMAÇÃO
Esta técnica é utilizada para isolar alguns constituintes naturais, como por
exemplo, cantaridina, ácido benzóico, compostos antraquinônicos. É pouco
utilizada nos métodos extrativos no exame de fármacos, e seu valor reside na
purificação de compostos químicos já isolados anteriormente.2
Exemplo de sublimação:
5. DESTILAÇÃO FRACIONADA
É utilizada na separação de componentes líquidos, de modo que não haja
alterações nas estruturas moleculares pela ação do calor. Então esta técnica é
realizada a baixas temperaturas, a pressões reduzidas, e em atmosfera de azoto. Os
líquidos são transformados, dessa maneira, em cristais muito fáceis de purificar. É
mais usual para misturas de compostos com estruturas análogas, inclusive
isômeros espaciais.2
6. DESTILAÇÃO PELO VAPOR DE ÁGUA SOBREAQUECIDO
Usado para separar compostos com tensões de vapor elevadas, como ácidos
alifáticos de pequenos pesos moleculares, óleos essenciais, alcalóides da cicuta,
tabaco.2
7. FILTRAÇÃO POR GÉIS
É uma técnica baseada na grandeza das moléculas e na sua capacidade de
passagem através de glóbulos de géis muito pequenos (de poliestireno, acetato de
vinilo, sílica ou vidro, exceto materiais que determinem fenômenos de adsorção).
O glóbulo de vidro é o mais estável.
Ao colocar a solução, as macromoléculas conservam-se no topo das
colunas, e as que conseguem atravessar, que são as menores, ficam retidas um
pouco nos poros do gel, retardando assim a velocidade de escoamento. As maiores
são as que aparecem primeiro no líquido afluente, pois passam imediatamente
pelas colunas.
As fases móveis são líquidos de pequena viscosidade capazes de dissolver
as substâncias que devem ser separadas. Alguns exemplos são a água, tolueno,
benzeno, clorofórmio.
Este método não tem utilidade quando os compostos forem análogos, pois
as substâncias são separadas pelos diferentes pesos moleculares.2
8. ELETRODIÁLISE
Esta técnica é importante na extração e purificação de substâncias
ionizáveis, porém não se pode dizer que é um método de isolamento. Utiliza
membranas semipermeáveis que separam as tinas contendo os eletrodos e o
eletrólito, e a solução analisada é colocada na tina conveniente. É usada uma
corrente contínua, de intensidade fraca, a fim de aumentar a velocidade da diálise,
que em geral leva algumas horas.
9. ELETROFORESE
É semelhante à cromatografia em papel, embora os princípios sejam
diferentes. Folhas de papel dispostas verticalmente são percorridas por um
eletrólito ininterruptamente, e o campo elétrico fica estabelecido entre os eletrodos
dispostos lateralmente. São recolhidas diferentes frações na extremidade das folhas
de papel. É empregado na análise de macromoléculas dos prótidos, sobre diversos
suportes.2
Exemplo de eletroforese:
VERIFICAÇÃO DA PUREZA DA AMOSTRA
As farmacopéias estabelecem genericamente, valores de quaisquer fatores
que possam interferir na pureza de uma droga vegetal. São analisados critérios
como a presença de elementos estranhos à droga, teor de umidade, contaminação
microbiológica e parasitária, resíduos de pesticidas e de metais pesados. 1
A pureza das substâncias isoladas também pode ser determinada analisando
suas propriedades físico-químicas como, ponto de fusão e de ebulição, índice de
refração e de polarização, infravermelho, ultravioleta e cromatogramas. 2
-
Pesquisa de elementos estranhos
Algumas impurezas estão frequentemente presentes em drogas vegetais, que
podem ser órgãos da própria planta, diferentes do farmacógeno, como por
exemplo, restos de caules em flores de camomila; fragmentos de outras plantas,
como gramíneas e ervas daninhas; ou materiais de outra origem, como areia ou
terra em raízes e caules, mesmo quando são cultivadas e tratadas adequadamente.
São fatores considerados impurezas desde que não caracterizem falsificação ou
adulteração do material.
A Farmacopéia Brasileira (1988) inclui ainda, como impurezas, a presença
de fungos, insetos e outros materiais contaminantes. A OMS (WHO, 1992)
acrescenta que os materiais devem estar livres de organismos patogênicos. As
Farmacopéias Alemã e Britânica incluem, ainda, outras impurezas de origem
animal.
A Farmacopéia Brasileira (1988) e, também, a Organização Mundial de
Saúde (WHO, 1992), classificam os elementos estranhos em três grupos:
a) partes do organismo ou organismos dos quais a droga deriva, acima do
limite de tolerância especificado na monografia, com exceção daqueles
incluídos na definição e descrição da droga;
b) quaisquer organismos, porções ou produtos de organismos além
daqueles especificados na definição e descrição da droga em sua
respectiva monografia;
c) impurezas de natureza mineral não inerentes à droga, tais como pedras,
areia ou terra.
Para as Farmacopéias Alemã e Britânica são considerados elementos
estranhos:
a) partes da planta, que não correspondam ao farmacógeno descrito na
monografia farmacopéica;
b) partes de outras plantas ou elementos de origem mineral.
A quantidade de amostra a ser analisada é estabelecida de acordo com a
granulometria ou o tipo de farmacógeno empregado. A amostra é inicialmente
pesada (geralmente entre 100 e 500g), separando-se através de exame visual,
inicialmente sem auxílio de lupa e, posteriormente, empregando uma lente de
aumento (6x), os elementos estranhos. O percentual de elementos estranhos não
deve exceder a 2% (m/m), a não ser quando especificado diferentemente na
monografia.1
-
Pesquisa de constituintes químicos indesejáveis
A verificação da presença de constituintes químicos vegetais indesejáveis é
preconizada em algumas monografias farmacopéicas como um dos critérios de
pureza da amostra. Na análise de frutos de erva-doce (Pimpinella anisum L.), é
indicada a realização da reação com hidróxido de potássio e verificação do
desprendimento de odor desagradável (de urina de rato), o qual caracteriza a
presença de coniina, um alcalóide tóxico presente em frutos de cicuta (Conium
maculatum L.), os quais já foram encontrados como contaminantes de amostras de
erva-doce.
Erva-doce
Cicuta
As cascas frescas de cáscara-sagrada (Rhamnus purshiana DC.) possuem,
predominantemente, antronas e diantronas na forma reduzida, as quais podem
causar irritação da mucosa gástrica, vômitos, cólicas e diarréia sanguinolenta. É
preconizada a secagem das cascas em corrente de ar quente ou o seu
armazenamento por um ano antes do uso, pois estes procedimentos permitem a
oxidação destes compostos. Portanto, na análise de amostras de cáscara-sagrada, a
presença de antronas indica que o material ainda não está adequado para o uso.
Cáscara
As aflatoxinas são substâncias tóxicas produzidas pelo fungo Aspergillus
flavus, sendo recomendado, com ênfase para drogas oleaginosas, a análise dessas
substâncias,
paralelamente
com
a
verificação
da
contaminação
por
microrganismos, através de metodologia por CCD para a determinação da presença
de aflatoxinas.
Aspergillus flavus
A pesquisa de substâncias químicas indesejáveis pode ser realizada através
de reações químicas de caracterização ou por métodos cromatográficos. A
Farmacopéia Alemã (1991) indica a CCD como método de determinação da pureza
em várias monografias.1
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Determinação do teor de cinzas
Impurezas inorgânicas não-voláteis podem estar presentes nas amostras, o
que significa que as mesmas estão contaminadas. Para a pesquisa dessas
impurezas, determina-se o teor de cinzas. O material é colocado em cadinho de
porcelana ou de platina e quantitativamente incinerado, até peso constante.
Frequentemente é preconizado o tratamento prévio da amostra com ácido sulfúrico
(cinzas sulfatadas), o que aumenta a reprodutibilidade do método, sendo então, o
mais indicado para drogas vegetais. Esses ensaios são realizados em triplicata, e as
técnicas são detalhadamente descritas nas Farmacopéias.
Recomenda-se no caso de farmacógenos, a determinação das cinzas
insolúveis em ácido clorídrico, permitindo, por exemplo, a verificação de
contaminantes como resíduo de terra ou areia em raízes. Para essa análise podem
ser utilizadas também as metodologias de cinzas sulfatadas ou de cinzas não
tratadas.1
-
Determinação do teor de umidade
O desenvolvimento de microrganismos em matérias-primas vegetais pode
ser originário do excesso de umidade das mesmas, pois essa umidade permite a
ação de enzimas que degradam os constituem químicos vegetais. O teor de
umidade estabelecido nas diferentes farmacopéias varia entre 8 e 14%, com poucas
exceções especificadas nas monografias.
Podem ser utilizados vários métodos. A Farmacopéia Brasileira (1988)
preconiza os métodos gravimétricos, da destilação azeotrópica e volumétrico (Karl
Fischer). O método gravimétrico, também descrito nas Farmacopéias Britânica e
Alemã e pela OMS, é mais adequadamente denominado perda por dessecação.
No método gravimétrico determina-se o percentual de material volatilizado
após a dessecação, caracterizado assim como de simples execução. No caso de
plantas contendo, por exemplo, elevado teor de óleo volátil, o percentual de perda
de massa poderá ser consideravelmente maior. É recomendada a utilização de 2 a
5g de material rasurado (no máximo 3 mm; frutos, mesmo de dimensões inferiores,
devem ser rasurados ou quebrados), secagem em estufa entre 100 a 105ºC por 5h e
resfriamento, em dessecador, por 1h, porém a técnica pode variar de uma
farmacopéia para outra. O ciclo de aquecimento-resfriamento é repetido até peso
constante ou até que a diferença entre duas pesagens sucessivas não exceda a 5mg.
Como alternativa, podem ser empregadas balanças acopladas à sistema de secagem
por irradiação infravermelha. Ainda há outra técnica farmacopéica que prescreve a
manutenção do material vegetal em dessecador, sob pentóxido de fósforo, à
pressão atmosférica e temperatura ambiente, utilizada geralmente para drogas
contendo resinas ou substâncias voláteis que sofrem alteração do estado físico de
100 a 105ºC, originando uma massa disforme após a secagem em estufa. Também
pode ser recomendado processos sob pressão reduzida.
A quantidade de água presente no vegetal pode ser determinada pelo
método de destilação azeotrópica, onde o material é destilado juntamente com
tolueno ou xileno. É utilizada uma aparelhagem específica, variando o modelo de
acordo com a Farmacopéia. Lou (1980) apresenta uma tabela comparativa entre os
modelos apresentados nas Farmacopéias Americana, Chinesa, Européia, da
Alemanha Oriental e Rússia, concluindo que os modelos das Farmacopéias
Européia e da Alemanha Oriental apresentam o melhor desenho. A Farmacopéia
Brasileira, 4ª edição, preconiza o aparelho proposto por Dean e Stark. A técnica
consiste em destilar, inicialmente, 200ml de tolueno saturado com água,
adicionado de 2ml de água, por 2h. Após o resfriamento, faz-se a medida do
volume de água destilada. A seguir, adiciona-se material vegetal a ser analisado e
alguns fragmentos de material inerte poroso, aquecendo-se brandamente por 15
min. Destila-se a um fluxo determinado. Após o término da destilação da água,
lava-se o condensador com tolueno e destila-se por mais 5 min. Ao final do
procedimento há a separação das fases e o volume de água é medido no tubo
coletor, desconta-se o volume inicial e calcula-se o percentual de água na amostra.1
-
Pesquisa de contaminantes microbiológicos
Fungos e bactérias, geralmente provenientes do solo, pertencentes à
microflora natural de certas plantas podem estar presentes na drogas vegetais ou
podem ser até mesmo introduzidas durante a manipulação. Dependendo das
condições de manuseio, secagem e armazenamento, a contaminação pode se
intensificar pelo desenvolvimento de microrganismos viáveis.
A determinação dos limites de toleráveis é discutida por vários países,
sendo freqüentemente aceitos os valores estabelecidos para alimentos. A
Farmacopéia Européia estabelece para as drogas vegetais os seguintes critérios:
a) drogas que serão submetidas a tratamento que pode conduzir a uma
redução do número de microrganismos, antes do uso, como por
exemplo, com água fervente:
Microrganismos aeróbios
≤ 107 bactérias aeróbias
viáveis (totais)
≤ 105 fungos /g ou /ml
Escherichia coli
≤ 102 /g ou /ml
b) Outras preparações vegetais:
Microrganismos aeróbios
≤ 105 bactérias aeróbias
viáveis (totais)
≤ 104 fungos /g ou /ml
Enterobactérias e outras
≤ 103 /g ou /ml
bactérias gram-negativas
Ausência de Escherichia
1g ou 1ml
coli
Ausência de Salmonella
10g ou 10ml
A Farmacopéia Brasileira não estabelece limites específicos para drogas
vegetais, sendo detalhadamente descritos os métodos de filtração por membrana,
contagem em placa ou em tubos múltiplos, aplicáveis à contagem de
microrganismos viáveis em produtos que não necessitam cumprir com o teste de
esterilidade.
A Organização Mundial da Saúde também diferencia limites, de acordo com
o destino do material, apresentando alguns valores diferentes da Farmacopéia
Européia. As técnicas de determinação da carga microbiana estão descritas na
publicação da Organização Mundial da Saúde, bem como nas farmacopéias.1
-
Pesquisa de agrotóxicos ou pesticidas
Neste grupo são considerados diferentes produtos empregados no combate a
organismos danosos às plantas, como: raticidas (contra ratos, camundongos e
outros roedores); inseticidas (contra vários insetos e alguns artrópodos); herbicidas
(contra ervas indesejáveis) e fungicidas (contra os diferentes tipos de fungos). O
grupo químico das substâncias é o que determina qual a técnica de análise a ser
utilizada. Segundo a estrutura ou composição química, a OMS apresenta a
classificação das substâncias mais freqüentemente empregadas (hidrocarbonetos
clorados e agrotóxicos correlatos, derivados clorados do ácido fenoxiacético,
organofosforados, carbamatos, ditiocarbamatos, inorgânicos, de origem vegetal e
outros).
A contaminação acidental de plantas silvestres que crescem em áreas
próximas à cultivo agrícola intensivo, o emprego impróprio dessas substâncias em
culturas de plantas medicinais ou o tratamento inadequado das drogas
armazenadas, são grandes fatores para a presença de agrotóxicos nas drogas
vegetais. Entre os diversos produtos, os hidrocarbonetos clorados e alguns
organofosforados possuem ação residual prolongada, os demais possuem,
geralmente, uma ação residual muito curta. Portanto, a OMS recomenda,
principalmente no caso de matérias-primas de origem duvidosa, a realização de
testes para a verificação da presença ou quantificação de organoclorados.
Os limites toleráveis de agrotóxicos, semelhantemente à contaminação
microbiana, também estão diretamente relacionados às regulamentações para
alimentos. Porém considerando que as plantas medicinais geralmente sofrem
algum tipo de processamento, como a extração, estes limites podem ser diferentes.
Ali (1987) estudou o teor de pesticidas organoclorados em 45 lotes de 15 espécies
e demonstrou que os chás preparados a partir dessas drogas continham entre 3 e
67% do teor do agrotóxico encontrado no material de partida. Em 90% das drogas
o teor encontrado no chá foi inferior a 25% do teor original. Schilcher et. Al.
(1987) demonstraram que, dependendo das características do agrotóxico, bem
como do tipo de extração e solvente extrator, o percentual extraído pode variar, por
exemplo, de 1% (p,p-DDT em extrato aquoso) a 89% (HCH em um extrato
diclorometano) do teor encontrado na droga.
Outros estudos realizados mostram que muitas preparações medicinais de
origem vegetal são empregadas por períodos prolongados, então é recomendado o
estabelecimento de limites específicos para plantas medicinais, a partir das
determinações da FAO (Food and Agriculture Organization) e a OMS. A
Farmacopéia Européia define limites máximos toleráveis para 34 pesticidas em
drogas vegetais. No Brasil, como existem parâmetros específicos para drogas
vegetais, podem ser utilizados, como orientação, os critérios contidos na relação de
substâncias com ação tóxica sobre animais e plantas, cujo registro pode ser
autorizado no Brasil, em atividades agropecuárias e produtos domissanitários,
publicada originalmente através da Portaria 10/SVS de 08/03/85, D.O.U. de
14/03/85, e reatualizada constantemente pelo Ministério da Saúde ou na Portaria
685/SVS de 27/08/98, republicada em 24/09/98, que determina os princípios gerais
para o estabelecimento de níveis máximos de contaminantes químicos em
alimentos.
Do ponto de vista analítico, esses ensaios são relativamente complexos,
devido à grande variedade de substâncias, bem como a sua instabilidade e as
pequenas quantidades a serem detectadas. O conhecimento da origem geográfica
do plantio ou a da coleta pode auxiliar no estabelecimento dos possíveis agentes
empregados. Geralmente são empregados métodos cromatográficos, especialmente
cromatografia gasosa (CG) e cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE). O
assunto é discutido detalhadamente em documentos da OMS, com diversas
técnicas de análise, assim como outras publicações específicas.1
-
Pesquisa de metais pesados
A presença de metais pesados em plantas medicinais pode ser decorrente de
fatores como poluentes ambientais ou resíduos de agrotóxicos. Estudos realizados
na Alemanha demonstraram que plantas silvestres apresentaram variações nos
teores de contaminação, especialmente por chumbo, maiores do que as plantas
cultivadas. Em análise farmacêutica, o termo “metal pesado” tem sido utilizado
para descrever, principalmente, o chumbo, o arsênio, o cádmio, o cobre e o
mercúrio, elementos cuja ingestão deve ser restrita devido a seus efeitos tóxicos.
Há divergências no estabelecimento de limites de tolerância para esses
elementos em plantas medicinais nas legislações. Algumas consideram adequados
os limites determinados para alimentos, outras, no entanto, entendem que as drogas
vegetais devem seguir os mesmos critérios fixados para as demais matérias-primas
farmacêuticas e medicamentos. Estudos da FAO/WHO estabeleceram como
tolerável a ingestão semanal de, no máximo, 3000µg de chumbo ou 500µg de
Pb/dia, juntamente com a alimentação e água. Admitindo que 20% desse total
(100µg de Pb/dia) poderia advir na ingestão de medicamentos, Hartke (1986)
apresenta uma tabela relacionando a dose diária de medicamento, com o limite
máximo de Pb. Sendo assim, o limite deve ser mais rigoroso quanto maior a dose
diária ingerida.
Correlação entre a ingestão diária de medicamento e o limite máximo de Pb
Ingestão diária do
Dose diária máxima de Pb Limite máximo para o
medicamento
teor de Pb
100g
100g
1 ppm
10g
50g
5 ppm
1g
25g
25 ppm
0,1g
10g
100 ppm
0,01g
1g
1000 ppm
No caso das plantas medicinais, os procedimentos usuais de extração de
drogas vegetais são capazes de extrair percentuais que variam de 3% a 48% do teor
de metais pesados presentes na droga. E em alguns casos, existem possibilidades
tecnológicas que permitem a descontaminação do vegetal.
Segundo Schilcher et al. (1987), os métodos de análise farmacopéica
tradicionais, baseados nos ensaios-limite, não são seletivos para metais pesados
específicos, e ainda apresentam pouca sensibilidade e baixa precisão. Os autores
preconizam como metodologias adequadas a espectrofotometria de absorção
atômica, espectrometria de emissão atômica ou voltometria inversa.1
REFERÊNCIAS:
1- SIMÕES, C. M. O. et al. FARMACOGNOSIA da planta ao medicamento. 1ed.
pag. 173 – 215. Florianópolis / Porto Alegre: UFSC / UFRGS, 1999.
2- COSTA, A. F. Farmacognosia. Vol. II. 4 ed. Pág. 1063 – 1075. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1994.
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Acesso em: 06/05/2006
- Disponível em: http://www.elsalvador.com/guanicidas
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- Disponível em: http://jata.vampula.net/kasvio/html/myrkkykeiso.htm
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- Disponível em: http://licitação.uol.com.br/img/comprimido.jpg
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Acesso em: 13/05/2005
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Isolamento e purificação