O TRABALHO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO
FRENTE AS NOVAS TECNOLOGIAS
Autor: Dermeval Saviani
Disc.: Educação, Trabalho e Sociedade
FASF
Profª.: Francisca Júlia Camargo Dresch
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Educação e Trabalho tem sido abordados de diferentes
maneiras. De maneira geral, na atualidade, educação tem sido
vista com caráter improdutivo, de maneira que se contrapõem –
a tendência dominante é a de situar educação no âmbito nãotrabalho. Isto é um bem de consumo.
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A partir da década de 1960, com a Teoria do Capital Humano,
entende-se a educação como forma de desenvolvimento
econômico. A educação potencializa o trabalho. Portanto,
funcional ao sistema capitalista – enquanto qualificadora da
mão-de-obra, força de trabalho.
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Os educadores tem oscilado ora a educação é formação
profissional ou concepção geral e noutra visão as duas visões
são complementares
INTRODUÇÃO
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As gênese da educação se confundem com as origens do
próprio homem.
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Assim os homens para constituir-se adaptam-se a natureza. O
ato de agir sobre a natureza, adequando as necessidades de
sobrevivência, é o que chamamos de trabalho. Isto faz com que
a vida do homem seja determinada pelo modo como ele
produz sua existência.
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Modo de produção comunal – não havia classes sociais. Ao
fixar-se à terra surge o Estado e a propriedade privada,
dividindo os homens em classes.
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Na Antiguidade – (Grécia e Roma). Apropriar-se da terra, faz
com que uma categoria de homens (proprietários) vivam sem
trabalhar. A classe ociosa dá origem a escola
EDUCAÇÃO E TRABALHO: AS ORIGENS
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A palavra escola em grego significa o lugar do ócio. Portanto o
lugar que tinham acesso os da classe ociosa, os proprietários, a
classe dominante. A educação destes é diferenciada da
educação geral, que é o próprio trabalho. O povo se educa
trabalhando. Era o aprender fazendo. Aprendia lidando com a
realidade, aprendia agindo sobre a natureza, transformando-a.
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A forma como a classe ociosa ocupava seu ócio é que
constituía sua educação. Quem dispunha do ócio, praticavam
jogos nos ginásios – a ginástica. Ou seja, os exercícios físicos
como lazer.
ORIGEM DA ESCOLA
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Meio dominante de produção também é a terra, como na
Antiguidade.
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Na Grécia e em Roma os homens viviam na cidade, do trabalho do
campo. Na idade Média, os homens viviam no campo, da
atividade agricultura. O trabalho escravo foi substituído pelo
trabalho servil.
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As escolas eram paroquiais, as escolas catedralicias e as escolas
monaciais para a classe dominante.
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A expressão deriva da influência da igreja - “ócio com dignidade” –
é ocupar-se com atividades consideradas nobres. A classe dos
proprietários se dedicava aos exercícios físicos que estavam ligadas
a guerras. A cavalaria.
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Aí a relação entre cavalaria e cavalheiro – sujeitos de boas
maneiras. Atitudes corteses, formação militar e a vida da
aristocracia.
IDADE MÉDIA: ESCOLA E PRODUÇÃO
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Ideologia – cristianismo da Igreja Católica. Procura da
transcentalidade, da santidade pela vida consagrada a Deus e
da intolerância - santa inquisição.
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Escolas paroquiais – servi para expandir o cristianismo. Fez
estudos da Sagrada Escritura e dos autores Patrística
(elaboradas por padres contra a heresia. Santo Tomas de
Aquino, Santo Agostinho, Tertuliano, Santo Ambrósio, São
Jerônimo...)
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As escolas monásticas (fem e masc)– interior para oblatas e aos
monges mais jovens e a externa – voltada para a educação
religiosa e literária das crianças e dos jovens dos arredores dos
mosteiros.
CARACTERÍSTICAS DA IDADE MÉDIA
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Escolas Episcopais, chamadas também de catedrálícias. Sua
finalidade era formar clérigos e leigos das famílias nobres. Estas
escolas surgiram no século VIII.
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As escolas monásticas e as episcopais construíram grandes
bibliotecas para atenderem seus alunos.
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Carlos Magno (742 – 814) ordenou “que se criassem escolas em
todas as paróquias, onde as crianças aprendessem a ler.
Ordenou aos Senhores Feudais que todo menino permanecesse
na escola até que fosse instruído. Buscou em Roma mestres para
as escolas e instituiu funcionários para servirem de inspetores”
(LUZIRIAGA, 1987, p.82)
CARACTERÍSTICAS DA IDADE MÉDIA
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O campo era a referência da vida na Idade Média. Nas cidades
desenvolviam-se o artesanato.
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As atividades artesanais, fortaleceram as relações de ofício,
dando origem a constituição do capital. As trocas eram
realizadas em grandes feiras. Esses mercados foram se fixando e
dando origem as cidades.
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A origem do burguês é o habitante do burgo, ou seja, o
habitante da cidade. Através do comércio ele foi acumulando
capital e investindo na própria produção originando assim a
indústria.
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Surge deste modo o capitalismo, a Idade Moderna
A FORMAÇÃO DAS CIDADES
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Característica indústria e cidade. O campo, a agricultura que se
subordina a cidade e a indústria.
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As relações de produção dados por laços de parentesco, tipo
natural – daí o caráter estratificado, hereditário: de pai para filho
nobreza e servidão também. Na sociedade moderna, as
relações passam a ser sociais (direito contratual). Nasce dessa
forma a ideia de liberdade.
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A sociedade dos proprietários livres. O trabalhador livre, vende
sua força de trabalho.
EDUCAÇÃO, MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA
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A sociedade baseada no contrato social, na cidade e na
produção industrial, baseada nas relações formais traz consigo a
exigência do conhecimento, da ciência – Bacon: conhecer é
poder.
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Todo desenvolvimento científico da modernidade se dirigia ao
domínio da natureza: sujeitar a natureza aos desígnios do
homem. Transformar os conhecimentos em meios de produção
material.
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E a indústria não é outra coisa senão o processo pelo qual se
incorpora a ciência, como potência material, no processo
produtivo.
A ESCOLA NA SOCIEDADE CAPITALISTA
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O direito positivo (contratual) é regido pelo código da escrita.
Assim a necessidade da escrita se torna uma exigência
generalizada.
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Desse modo se explica o desenvolvimento urbano-industrial
ligado a escola e a escolarização universal, gratuita, laica e de
qualidade para todos.
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A palavra cidade passa a ser vista como sinônimo de
desenvolvimento. A palavra latina civitas, civilizado, enquanto
rus, rústico. Enquanto polis e agros, do grego, quer dizer cidade –
polido, educado em detrimento agressivo, sem boas maneiras.
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A escola passa a ser vista como agência educativa ligada ao
progresso, a necessidade de hábitos civilizados, que
corresponde a vida na cidade.
A ESCOLA NA SOCIEDADE MODERNA
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A educação passa a ser entendida a partir da escola. As formas
não-escolares de educação passam a ser entendidas a partir da
educação escolarizada. Desta forma passamos a atribuir a
escola tudo que é educativo.
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Além disto, também se reivindica que a escola, no seu interior,
assuma encargos que extrapolam aquilo que é especificamente
pedagógico. Começa-se a introduzir no currículo todas as coisas
que se imagina alguma função educativa.
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A escola não é a única forma de educação. Educa-se através
de múltiplas organizações, não apenas através da escola.
Educa-se, por exemplo, através dos sindicatos, dos partidos, das
associações dos mais diversos tipos, através dos clubes, do
esporte, dos clubes de mães. Através do trabalho também.
ESCOLA HIPERTROFIADA E SECUNDARIZADA
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Parece que a escola cuida de tudo, menos de ensinar, de instruir
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Cheguei a ilustrar isso num artigo com as famosas semanas de
comemorações. O ano letivo começa na 2 quinzena de
fevereiro e já em março vinha a semana da Revolução, depois
a Semana Santa, a Semana das Mães, as Festas Juninas,
Semana do Índio, Semana do Folclore, Semana da Pátria, Jogos
da Primavera, Semana da Criança, Semana da Asa, e nesse
momento já estamos em novembro; o ano está terminando, se
comemorou muito, mas pergunta-se: estudou-se Português,
História, Geografia, Ciências? Constata-se, então, que isso foi
relegado a plano secundário. As comemorações acabaram
esvaziando o conteúdo específico da escola.
A CONTRADIÇÃO DO PROCESSO ESCOLAR
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Aqui chegamos a um ponto importante do tema em discussão.
Trata-se do modo como a história chega a colocar a forma
escolar como forma dominante da educação. Já que a forma
escolar é a forma dominante e a escola vive este paradoxo,
como situar o papel que a educação deve assumir na nossa
época, na história presente, na história que, de algum modo,
estamos fazendo?
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o acesso ao saber, à cultura letrada, o domínio dos números, dos
elementos necessários para conhecer cientificamente a
realidade era considerado um direito de todos os homens. Dessa
maneira, a burguesia se contrapunha aos privilégios de que
gozavam a nobreza e o clero. Mas esta pregação universalizante
já apareceu de forma diferenciada no discurso da economia
política clássica.
CONTRADIÇÕES DA ESCOLA
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Adam Smith, afirmavam que a instrução para os trabalhadores
era importante; à medida que os trabalhadores dispusessem de
educação básica, se tomavam mais aptos para viver na
sociedade, e se inserir no processo produtivo, se tornavam mais
flexíveis, com pensamento mais ágil e mais adequado à
necessidade da vida moderna. Adam Smith percebia isso no
nível da educação básica. Daí a famosa frase a ele atribuída:
"Instrução para os trabalhadores, porém, em doses
homeopáticas". Quer dizer, é preciso um mínimo de instrução
para os trabalhadores e este mínimo é positivo para a ordem
capitalista, mas, ultrapassando esse mínimo, entra-se em
contradição com essa ordem social.
ECONOMIA POLÍTICA E BURGUESIA
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O que significa ultrapassar esse mínimo? Significa o seguinte: na
sociedade moderna, o saber é força produtiva.
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A sociedade capitalista é baseada na propriedade privada dos meios
de produção. Se os meios de produção são propriedade privada, isto
significa que são exclusivos da classe dominante, da burguesia, dos
capitalistas. Se o saber é força produtiva deve ser propriedade privada
da burguesia.
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Na medida em que o saber se generaliza e é apropriado por todos,
então os trabalhadores passam a ser proprietários de meios de
produção. Mas é da essência da sociedade capitalista que o
trabalhador só detenha a força de trabalho. Aí está a contradição
que se insere na essência do capitalismo: o trabalhador não pode ter
meio de produção, não pode deter o saber, mas, sem o saber, ele
também não pode produzir, porque para transformar a matéria
precisa dominar algum tipo de saber.
EXPLICAÇÃO “DOSES HOMEOPÁTICAS”
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No próprio processo de produção foram encontrados instrumentos mais adequados
de contornar este problema. Uma das formas bem típicas é o taylorismo, que partiu
do estudo de como os trabalhadores produziam, portanto, de quais os
conhecimentos que os trabalhadores dominavam para poder produzir, chamado
estudo de tempos e movimentos.
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Nesse processo da análise dos conhecimentos que os trabalhadores detinham e na
sua elaboração, os trabalhadores foram desapropriados e o saber sistemático
relativo ao conjunto do processo produtivo passa a ser domínio apenas da classe
dominante, do empresariado. E dessa forma que se contorna a contradição. O
trabalhador domina algum tipo de saber, mas não aquele saber que é força
produtiva, porque a produção moderna coletivizou o trabalho e isso implica em
conhecimento do conjunto do processo, conhecimento esse que é privativo dos
grupos dirigentes. Cada trabalhador só domina aquela parcela que ele opera no
processo de produção coletiva.
TAYLORISMO
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E se a máquina viabiliza a materialização das funções intelectuais no processo
produtivo, a via para se objetivar a generalização das funções intelectuais na
sociedade foi a escola. Eis por que foi sob o impacto da revolução industrial que
os principais países se entregaram à tarefa de constituir os seus sistemas
nacionais de ensino, generalizando, assim, a escola básica. Dir-se-ia, pois, que à
Revolução Industrial correspondeu uma Revolução Educacional. Aquela
colocou a máquina no centro do processo produtivo; esta erigiu a escola em
forma principal e dominante de educação.
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Preenchido esse requisito, os trabalhadores estavam em condições de conviver
com as máquinas, operando-as sem maiores dificuldades. Mas, além do
trabalho de operar com as máquinas, era necessário também realizar atividades
de manutenção, reparos, ajustes, assim como o desenvolvimento e adaptação
a novas circunstâncias. Subsistiram, assim, no interior da produção, tarefas que
exigiam determinadas qualificações específicas, obtidas por um preparo
intelectual também específico.
EDUCAÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO
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Esse espaço foi ocupado pelos cursos profissionais organizados
no âmbito das empresas ou do sistema de ensino, tendo como
referência o padrão escolar, mas determinados diretamente
pelas necessidades do processo produtivo. Portanto, sobre a
base geral e comum da escola primária, o sistema de ensino se
bifurcou entre as escolas de formação geral e as escolas
profissionais. Estas, por não estarem diretamente ligadas à
produção, tenderam a enfatizar as qualificações gerais
(intelectuais) em detrimento da qualificação específica, ao
passo que os cursos profissionalizantes, diretamente ligados à
produção, enfatizaram os aspectos operacionais vinculados ao
exercício de tarefas específicas (intelectuais e manuais) no
processo produtivo considerado em sua particularidade.
FORMAÇÃO GERAL E PROFISSIONALIZANTE
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Segunda Revolução Industrial ou Revolução da Informática ou Revolução da
Automação. ocorreu a transferência de funções manuais para as máquinas,
o que hoje está ocorrendo é a transferência das próprias operações.
intelectuais para as máquinas. Por isso também se diz que estamos na "era
das máquinas inteligentes".
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Em consequência, também as qualificações intelectuais específicas tendem
a desaparecer, o que traz como contrapartida a elevação do patamar de
qualificação geral.
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As máquinas, como extensão dos braços e agora também do cérebro
humano, não são mais do que instrumentos através dos quais o homem
realiza aquela atividade, ainda que se trate de instrumentos capazes de pôr
em movimento operações complexas, múltiplas, amplas e por tempo
prolongado. Portanto, o criador desse processo, aquele que o domina
plenamente e que o controla em última instância, continua sendo o homem.
NOVAS TECNOLOGIAS E EDUCAÇÃO
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Em suma, pode-se afirmar que o trabalho foi, é e continuará sendo
princípio educativo do sistema de ensino em seu conjunto. Determinou
o seu surgimento sobre a base da escola primária, o seu
desenvolvimento e diversificação e tende a determinar, no contexto
das tecnologias avançadas, a sua unificação.
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A incorporação das novas tecnologias por empresas brasileiras nas
atuais circunstâncias, além de pôr em evidência o atraso em que nos
encontramos em matéria de educação, terá, espera-se, o papel de
acentuar o sentimento de urgência na realização da meta de
universalizar a escola básica, a antiga escola primária com o seu
currículo já clássico, como ponto de partida para a construção de um
sistema educacional unificado em correspondência com as exigências
da nova era em que estamos ingressando.
CONCLUINDO...
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LUZIRIAGA, Lorenzo. História da educação e da pedagogia. 17ª
ed. São Paulo: Editora Nacional, 1987.
REFERÊNCIAS
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O trabalho como princípio educativo frente as novas