Equipe de Saúde: arranjos e
dispositivos
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O objeto e o objetivo de
trabalho na saúde
Sobre o que trabalhamos? Gente,
doenças, riscos, etc.
Para que trabalhamos? Produzir saúde.
Muitas das disputas e controvérsias
obedecem a desacordos sobre esses
dois pontos.
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O Objeto de trabalho na
saúde
Será quase sempre um certo sujeito
(pessoas, territórios, comunidades)
É sempre construído.
Assim, ao longo da historia da humanidade
houve variadas formas de se entender os
modelos assistenciais, muito relacionados
com as diferentes teorias que houve sobre a
causalidade do processo de saúde- doença.
Cada uma dessas teorias construiu um dado
objeto de trabalho.
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Modelo explicativo - resposta tecnoassistencial
Saúde/
doença
Biologista
Tipo de reposta
problemas de saúde atenção médica
seriam individuais e
de base biológica
Ecológico
Relação agente –
hospedeiro ambiente
intervenção ambiental,
intersetorial, promoção à
saúde
Social
causa social econômica, e não
uma variável social
biológico, ecológico, saúde
como questão social:
políticas públicas.
Propostas setoriais:
Serviços de saúde.
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Os modelos e o SUS
De alguma maneira, essas questões e
diferentes visões permeiam o
desenvolvimento histórico do SUS e até
as lutas que lhe deram existência.
Nos anos 80, no bojo do processo de
luta pela redemocratização do País,
estabeleceram- se as bases para a
reforma sanitária brasileira.
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As diretrizes do SUS
Uma política de caráter universal,
baseada nos princípios da eqüidade e
da integralidade, propondo-se uma
rede hierarquizada.
descentralizada e com controle
social.
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SUS: nasce um sistema
Propostas de organização fruto de uma
reflexão nativa com um embate e/ou
assimilação de certas recomendações
de entidades internacionais (OPAS,
OMS).
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As tradições: o componente
histórico político
Relatório Dawson (1920).
Conferência de Alma-Ata (1978).
Políticas de Welfare State.
Paradoxo do desmonte de políticas
públicas neo-liberal e implantação do
SUS.
Uma política universal de caráter
eqüitativo em um país do capitalismo
periférico.
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As equipes: uma necessidade
Não existe profissão capaz de dar conta
de complexidade do trabalho em saúde
sozinha.
Desenvolvimento do conhecimento.
Especialização: domínios tecnológicos
estreitos.
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As equipes (composição segundo modelo)
Médico-hegemônico/ individual privatista: médicos,
enfermeiros, dentistas.
Promoção à saúde: técnicos ambientais, epidemiólogos,
engenheiros, educadores, sanitaristas, etc.
Vigilância à (da) saúde: médicos, enfermeiros,
dentistas, epidemiólogos, educadores, sanitaristas, etc.
Ação programática/ Defesa da Vida/ Paidéia: médicos
generalistas e de especialidades básicas (clínicos, pediatras,
GO), enfermeiros, dentistas, epidemiólogos, educadores,
sanitaristas, psicólogos, etc.
Programa de saúde da família: médicos generalistas,
enfermeiros, agentes de saúde.
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Desgaste do trabalhador de
saúde
Difere daquele dos trabalhadores
manuais. Na saúde a maior parte do
desgaste é subjetiva, pela
necessidade intensa e constante de
colocar em funcionamento defesas
psíquicas que são ativadas pelo contato
permanente com a dor e o sofrimento.
No contexto brasileiro muitas vezes pela
inserção em territórios marcados pela
pobreza extrema e a violência urbana.
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As equipes (do que sofrem)
A eterna
batalha humana
contra a morte
(Freud).
O mal-estar na
cultura:
sublimação.
A difícil tarefa de
esquecer.
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As equipes (uma solução e um
problema)
Agrupamentos nos
quais a diferença é
vivida como mortal.
O outro como
depositário de tudo
o que há de ruim,
como aquilo que me
impede de
desabrochar,
o agrupamento
como palco
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As equipes (as defesas)
As defesas psíquicas:
formas de
funcionamento
psíquico para aliviar o
sofrimento.
Alguns sintomas são
facilmente
reconhecíveis em
inúmeras equipes.
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Identificação
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Identificação
Objeto de trabalho e trabalhador se
parecem: não há distância.
Vínculo continuado ao longo do tempo:
diferença positiva da clínica da Atenção
Básica, e fonte de problemas.
Auto-estima baixa, carentes, pedintes.
Mecanismos defensivos de
diferenciação: equipes com casca,
representações congeladas dos
usuários.
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Feios, sujos e maus...
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Desumanização: a equipe cascuda
Fechar portas, mal-trato, filas.
diferenciação tão extrema: cria outra
classe de humano.
Compensação da auto-estima baixa
com um mecanismo exagerado de
abuso de poder (os usuários nada
podem, eu posso tudo e qualquer
coisa).
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Indiscriminação: a equipe sem
contorno
A crise, a equipe
perde-se entre o
tudo e a
impotência, não
consegue se
responsabilizar nem
saber até onde vão
suas atribuições
(saúde é tudo!)
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Não sustentação do vínculo
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Vínculo: a diretriz escapulida
PSF/ Adscrição de usuários.
Rotatividade do pessoal.
Mudança de processo de trabalho para
pronto atendimento (evita o contato
intersubjetivo prolongado).
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Os entraves à
realização da
tarefa
primária: as
pessoas
parecem estar
sempre no lugar
ou na função
errada
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Militante missionário
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A saída ideológica
Valores como escudo (não existem
perguntas, só verdades).
Ninguém seria tão bom, justo e
abnegado.
O trabalho é a vida.
Cristaliza aos usuários no lugar de
tutelados, protegidos, impotentes,
dependentes (eternos filhos).
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O trabalho em saúde
As defesas psíquicas se estabelecem
sobre tudo segundo o funcionamento
institucional de cada local de trabalho e
da composição de cada equipe.
Dependerão também do tipo de
dispositivo de gestão utilizado:
– Espaços de gestão coletivos, momentos de
troca e discussão, etc. contribuem para se
evitar a cristalização dessas defesas.
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Gestão- subjetividade: a gestão
como processo intermediário
Arranjos: formas de organização que têm
uma certa estruturação e permanência e a
potencialidade de produzir fluxos na direção
contrária do controle:
Apoio matricial
Equipes de referência, adscrição de
usuários
Colegiados de gestão e unidades de
produção
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Gestão- subjetividade
Dispositivos: transitórios. Visam
subverter as linhas de poder instituídas.
Oficinas de planejamento
Cursos/treinamentos/formação
Análise/supervisão institucional
Assembléias
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Funções:
Suporte
Manejo
Vírgula
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A equipe com membrana
seletiva:
Pode processar aquilo que recebe como
demandas ou cobranças.
Consegue um lugar e um tempo para
refletir.
Suporta o mal-estar na cultura sem o
transformar em sofrimento.
Consegue formular projetos (reflexão
sobre o objeto e objetivo do trabalho)
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Conseguese dar ao
trabalho um
certo tom
lúdico...
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Estimular
novos
desafios e
persistir
naquilo que
parece
impossível...
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Suportar as diferenças ...
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... As equipes
conseguem
crescer.
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Bibliografia utilizada
Campos, G. W. S., 1994. Sobre a reforma dos modelos de atenção: um
modo mutante de fazer saúde. In: Inventando a mudança na saúde.
Cecílio, L.C. O. (org). São Paulo: Ed. Hucitec.
Gomes da Silva, A., 1998. Modelos tecno-assistenciais em saúde: o debate
no campo da saúde coletiva. São Paulo: Ed. Hucitec.
Kaës, R., 1991. Realidade psíquica e sofrimento nas instituições. In: KAËS,
R.; BLEGER, J.; ENRIQUEZ, E.; FORNARI, F.; FUSTIER, P.; ROUSSILLON,
R. & VIDAL, J.P. (orgs.) - A instituição e as instituições. Tradução de
Joaquim Pereira Neto. São Paulo: Casa do Psicólogo. pp. 1-39.
Mendes-Gonçalves, R. B., 1994. Tecnologia e organização social das
práticas de saúde. São Paulo: Ed. Hucitec.
Onocko Campos, R, 2003. A gestão: espaço de intervenção, análise e
especificidades técnicas. pp 122- 149. In: Saúde Paidéia, Campos, Gastão.
São Paulo: Editora Hucitec.
Onocko Campos, R., 2005. O encontro trabalhador usuário na atenção à
saúde: uma contribuição da narrativa psicanalítica ao tema do sujeito na
saúde coletiva. In: Ciência e saúde coletiva 10(3): 573- 583.
Testa, M., 1993. Pensar em salud. Buenos Aires: Lugar Editorial.
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Modelos de Atenção e Equipe
de Saúde
Fim
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