Artigo
original
Comparação do teste tuberculínico e do ensaio de liberação
de interferon-gama para diagnóstico de tuberculose latente
em agentes comunitários de saúde do Sul do Brasil,
Rio Grande do Sul, 2012
doi: 10.5123/S1679-49742014000400009
Comparison of tuberculin test and interferon-gamma release assay for diagnosing latent
tuberculosis in Community Health Workers, State of Rio Grande do Sul, Brazil, 2012
Paula Corrêa Machado
Curso de Farmácia, Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul-RS, Brasil
Andréia Rosane de Moura Valim
Departamento de Biologia e Farmácia, Universidade de Santa Cruz do Sul e Programa de Pós-Graduação em Promoção da
Saúde, Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul-RS, Brasil
Ethel Leonor Noia Maciel
Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória-ES, Brasil
Thiago Nascimento do Prado
Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória-ES, Brasil
Tássia Silvana Borges
Programa de Pós-Graduação em Promoção da Saúde, Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul-RS, Brasil
Alexandre Daronco
Curso de Medicina, Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul-RS, Brasil
Marcelo Carneiro
Departamento de Biologia e Farmácia, Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul-RS, Brasil
Lia Gonçalves Possuelo
Departamento de Biologia e Farmácia, Universidade de Santa Cruz do Sul e Programa de Pós-Graduação em Promoção da
Saúde, Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul-RS, Brasil
Resumo
Objetivo: comparar a capacidade de detecção de infecção latente por Mycobacterium tuberculosis em agentes comunitários de saúde (ACS) com uso do teste tuberculínico (TT) e do ensaio de liberação de interferon-gama (IGRA). Métodos:
estudo transversal realizado no município de Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil, com aplicação do TT e do IGRA em
47 ACS no período de março a junho de 2012; o TT foi considerado positivo na presença de uma induração ≥10 mm, assim
como o IGRA, se houvesse concentração ≥0,35 UI/ml de interferon-gama. Resultados: 12 ACS apresentaram TT positivo e
6 tiveram IGRA positivo; a concordância entre os testes foi avaliada como pobre (κ=0,063). Conclusão: apesar do número
limitado de amostras, a alta discordância entre os testes evidencia a necessidade de desenvolver mais estudos que busquem
encontrar uma explicação biológica para tais diferenças e avaliem a relação de custo-benefício na utilização do IGRA.
Palavras-chave: Tuberculose Latente; Pessoal de Saúde; Estudos Transversais, Teste Tuberculínico.
Abstract
Objective: to compare the ability to detect latent Mycobacterium tuberculosis infection among community health
workers using the tuberculin skin test (TST) and Interferon-gamma release assay (IGRA). Methods: this was a cross-sectional study conducted in Santa Cruz do Sul-RS, Brazil, applying TST and IGRA to 47 community health workers
between March and June 2012. TST was considered positive when induration was ≥10mm. IGRA was considered positive
when interferon-gama concentration was at least 0.35 IU/mL. Results: 12 community health workers presented positive
TST and 6 had positive IGRA, the agreement between the tets was considered poor (k=0.063). Conclusion: despite the
limited number of samples there is a high discrepancy between the tests, what emphasize the need for more studies to
find a biological explanation for these differences and to examine the cost-benefit of using IGRA.
Key words: Latent Tuberculosis; Health Personnel; Cross-sectional Studies, Tuberculin Test.
Endereço para correspondência:
Lia Gonçalves Possuelo – Universidade de Santa Cruz do Sul, Av. Independência, no 2293, Bairro Universitário, Santa Cruz do
Sul-RS, Brasil. CEP: 96815-900
E-mail: [email protected]
Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 23(4):675-681, out-dez 2014
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Diagnóstico de tuberculose latente
Introdução
Os profissionais de saúde encontram-se diretamente
expostos ao Mycobacterium tuberculosis e são considerados uma população sob alto risco de infecção
por esse agente. Uma revisão sistemática de estudos
datados de 1945 a 2005, realizados com profissionais
de saúde de países de média e baixa renda, mostrou
uma prevalência média de 54% de tuberculose (TB)
latente entre esses trabalhadores; e concluiu que o
maior risco de contrair a doença estava associado aos
locais de trabalho e a algumas categorias profissionais.1
O ambiente de trabalho da Saúde, geralmente,
apresenta locais de passagem de muitos pacientes
com TB. Alguns fatores, como falta de equipamentos
de proteção individual, categoria profissional, tipo
de atividades exercidas e tempo de exposição podem
influenciar no contágio.2,3 O cuidado dos pacientes
com TB é uma das atividades realizadas pelos agentes
comunitários de saúde (ACS), o que faz com que esses
profissionais estejam frequentemente expostos ao M.
tuberculosis.4
O cuidado dos pacientes com TB é uma
das atividades realizadas pelos agentes
comunitários de saúde (ACS), o que faz
com que esses profissionais estejam
frequentemente expostos ao
M. tuberculosis.
O diagnóstico precoce e o início imediato do tratamento são fundamentais para o controle da doença.5
Durante anos, o diagnóstico da infecção latente foi
realizado apenas com uso do teste tuberculínico (TT),
que mede a resposta de hipersensibilidade tardia a um
derivado de proteína purificada (PPD) de mais de 200
antígenos do M. tuberculosis.6 No entanto, estudos
demonstram que o TT apresenta limitações, entre elas
a baixa especificidade, a possibilidade de ocorrência
de falsos-positivos e a exposição a micobactérias não
causadoras de tuberculose.6,7
Os ensaios de liberação de interferon-gama (IGRA)
têm sido desenvolvidos como potenciais substitutos
para o TT. Os IGRA realizam a quantificação in vitro
da resposta imune celular pela detecção de interferongama, uma citocina liberada pelas células T, sensibi-
676
lizadas pelo estímulo com antígenos específicos do
M. tuberculosis.8 Esses testes apresentam inúmeras
vantagens em relação ao TT: são mais sensíveis e específicos para detecção de tuberculose latente, fáceis de
padronizar e implementar em laboratório, não expõem
diretamente o paciente ao antígeno e permitem a inclusão de controles positivos e negativos.9 Normalmente,
o resultado dos IGRA está disponível em 24 horas, ao
contrário do TT, que necessita de 48 horas de espera
para conhecimento do resultado.9
Muitos estudos têm mostrado o aumento do risco
de infecção por M. tuberculosis entre profissionais de
saúde;1-4 porém, ainda não foram descritos trabalhos
que comparassem a prevalência de TB latente entre
ACS utilizando TT e IGRA.4
O objetivo do presente estudo foi justamente comparar a capacidade de detecção de infecção latente
por M. tuberculosis em agentes comunitários de saúde
(ACS) com uso do TT e do IGRA.
Métodos
Foi realizado um estudo transversal, em que foram
incluídos os ACS integrantes do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) do município de
Santa Cruz do Sul, estado do Rio Grande do Sul. No
município, o PACS é coordenado por dois enfermeiros
e executado por 60 ACS, distribuídos entre as zonas
urbana e rural, com uma abrangência populacional
de 11,4% e 8,7% respectivamente.10
Santa Cruz do Sul-RS, cuja população somava
119.997 habitantes no ano de 2012, localiza-se na
encosta inferior do nordeste do estado do Rio Grande
do Sul (29º43'59"S e 52º24'52"W), a 155 km de sua
capital, Porto Alegre-RS. Santa Cruz do Sul-RS é um
dos 15 municípios prioritários para o controle da TB
no estado. A incidência de tuberculose em Santa Cruz
do Sul-RS no ano de 2011 foi de 40,3 por 100 mil
habitantes.11 A coleta e análise dos dados foi realizada
no período de março a junho de 2012.
Foram incluídos no estudo todos os profissionais
maiores de 18 anos de idade, de ambos os sexos;
foram excluídos aqueles que haviam realizado o TT
no último ano. Os ACS foram convidados a participar
de uma reunião em que lhes foram oferecidas informações sobre TB ativa e latente, além de apresentada
a proposta do estudo. Em data previamente agendada,
todos os ACS convidados e que aceitaram participar
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Paula Corrêa Machado e colaboradores
do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido e, posteriormente, responderam a um
questionário estruturado, aplicado individualmente,
com perguntas sobre suas seguintes características
pessoais:
a)sexo (feminino; masculino);
b)idade;
c)escolaridade (Ensino Fundamental; Ensino Médio;
Ensino Superior);
d)tempo de trabalho na função (≤4 anos; >4 anos);
e)exposição potencial a tuberculose no trabalho, na
família e na comunidade;
f) uso de corticoides (Sim; Não);
g)tabagismo (Sim; Não);
h)uso de álcool (conforme critério CAGE);12
i)presença da cicatriz da vacina com o bacilo de
Calmette e Guérin, também conhecida por BCG
(Sim; Não); e
j) uso de equipamentos de proteção individual (Sim;
Não).
Após o preenchimento do questionário, foram
coletados de cada paciente 3 ml de sangue para a
realização do IGRA (QuantiFERON ®-TB Gold In-Tube) e a aplicação do TT, conforme recomendado
pelo ‘Manual de Recomendações para o Controle de
Tuberculose no Brasil’.13 A aplicação e a leitura do TT
foram realizadas pelo mesmo profissional enfermeiro,
devidamente treinado.
Para o IGRA, o total de 3 ml de sangue foi distribuído
em três tubos (controle negativo, controle positivo e
antígenos específicos para M. tuberculosis – ESAT-6,
CFP-10 e TB 7.7). As amostras foram incubadas com os
antígenos estimuladores durante 24 horas, à temperatura de 37oC. Separou-se o plasma dos tubos, os quais
foram identificados de acordo com o material coletado.
A quantidade de interferon-gama produzido foi medida
por ensaio imunoenzimático (ELISA), de acordo com as
instruções do fabricante (Cellestis Ltd, Carnegie, Victoria,
Austrália). Os resultados foram analisados pelo software
QuantiFERON®-TB Gold, disponibilizado pelo fabricante.
Para o teste tuberculínico, foram considerados positivos aqueles que apresentaram induração ≥10mm,13
e para o teste IGRA, o ponto de corte para resultados
positivos foi uma concentração de pelo menos 0,35 UI/
ml de interferon-gama produzido após a estimulação
com os antígenos específicos, conforme recomendação
do fabricante.14 Todos os participantes com resultado
positivo, independentemente do teste, foram enca-
minhados para consulta com médico especialista no
ambulatório de referência para TB do município de
Santa Cruz do Sul-RS.
Após a coleta, os dados epidemiológicos e os resultados dos testes realizados foram digitados em planilha
elaborada pelo programa Excel e posteriormente
analisados pelo programa SPSS versão 17.0. A análise
descritiva foi realizada a partir do cálculo de médias
e do desvio-padrão, e frequências. A comparação das
variáveis categóricas foi realizada utilizando-se o teste
exato de Fisher. Adotou-se o nível de significância estatística p≤0,05. A concordância entre resultados dos
testes TT e IGRA foi mensurada utilizando-se a estatística kappa (κ): um valor de κ<0,4 foi considerado
pobre; κ>0,75, concordância excelente; e um valor
para κ situado entre estes parâmetros, concordância
boa.15 Os resultados do IGRA foram interpretados
independentemente, sem o conhecimento dos resultados do TT.
Foram calculados a sensibilidade, a especificidade,
o valor preditivo positivo e o valor preditivo negativo
do IGRA (o teste tuberculínico foi considerado o
teste de referência). A sensibilidade foi calculada
como a razão entre resultados positivos no IGRA e
aqueles que tiveram TT positivo. A especificidade foi
calculada como a razão entre resultados negativos no
teste IGRA e aqueles que tiveram TT negativo. O valor
preditivo positivo foi calculado como a proporção de
participantes com resultados positivos no IGRA e no
TT entre aqueles com resultado positivo no IGRA, e o
valor preditivo negativo como a proporção de participantes com resultados negativos no IGRA e no TT e
aqueles com resultado negativo no IGRA. A acurácia
foi calculada como a razão entre o total de resultados
corretos (soma dos verdadeiros positivos e verdadeiros
negativos) e o total de participantes.
A pesquisa foi previamente submetida à apreciação
do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
de Santa Cruz do Sul e aprovada sob o Parecer no
2836/11.
Resultados
Dos 60 ACS atuantes no Programa de Agentes Comunitários de Saúde, 47 foram incluídos no estudo, e
13 considerados perdas por não terem comparecido
à coleta das amostras e à entrevista. Entre os 47 indivíduos incluídos, 43 eram do sexo feminino. A média
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Diagnóstico de tuberculose latente
de idade dos participantes foi de 36,4 anos (desviopadrão=9,6 anos), sendo a idade mínima de 20 anos
e a máxima de 53 anos. A média de tempo de trabalho
dos profissionais como ACS foi de 7,3 anos, variando
de 8 meses a 15 anos. Dos 47 ACS participantes, 46
relataram realizar visitas domiciliares diariamente
e nunca utilizar qualquer tipo de equipamento de
proteção individual. Quanto à vacinação com BCG,
45 eram vacinados.
O TT revelou 12 casos soropositivos para TB,
enquanto o IGRA identificou 6. Observou-se baixa
concordância entre os testes, com κ=0,063 (Tabela 1). A sensibilidade do IGRA foi de 16,7%, a
especificidade, de 88,6%, o valor preditivo positivo,
de 33,3%, o valor preditivo negativo, de 75,6%, e a
acurácia, de 70,2%.
Na Tabela 2, são descritos os resultados comparativos referentes aos fatores sociodemográficos e
Tabela 1 – Concordância entre ensaio de liberação de interferon-gama (IGRA) e o teste tuberculínico (TT) em
agentes comunitários de saúde em Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, 2012
TT
IGRA
Positivo (≥10 mm)
Negativo (<10 mm)
Positivo (≥0,35UI/mL)
2
4
Negativo (<0,35 UI/mL)
10
31
Tabela 2 – Características dos agentes comunitários de saúde e resultado do teste tuberculínico (TT) e do ensaio
de liberação de interferon-gama (IGRA) em Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, 2012
TT
Característica
Idade (em anos)
20-30
31-40
41-50
>50
Escolaridade
Ensino Fundamental completo
Ensino Médio completo ou incompleto
Ensino Superior incompleto
Tempo de serviço (em anos)
≤4
>4
Vacina BCG
Sim
Não
Uso de medicamento imunossupressor
Sim
Não
Tabaco
Sim
Não
Álcool
1 vez/semana
>1 vez/semana
Nunca
Contato com paciente com tuberculose
Sim, no trabalho
Sim, na família
Sim, na comunidade
Não sabe
IGRA
pa
N=47
17
8
11
5
>0,999
19
9
13
6
1
4
1
9
32
–
0,141
10
36
1
0,288
1
5
14
27
0,648
15
32
33
2
>0,999
5
1
40
1
0,241
45
2
1
11
2
33
>0,999
1
5
2
39
0,343
3
44
1
11
4
31
>0,999
1
5
4
37
0,511
5
42
5
–
7
16
1
18
>0,999
3
–
3
18
1
22
>0,999
21
1
25
1
–
–
11
1
2
5
27
0,374
–
–
1
5
2
2
4
33
0,743
2
2
5
38
Reator
Não reator
5
5
2
–
14
4
11
6
2
9
1
pa
Positivo
Negativo
0,084
2
1
2
1
8
27
–
0,328
2
10
13
22
12
–
a) Valor p correspondente ao teste exato de Fisher
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Paula Corrêa Machado e colaboradores
clínicos associados com a tuberculose latente quando
diagnosticada pelo TT e pelo IGRA. Não foi observada associação entre as variáveis ‘idade’, ‘tempo de
trabalho’ e ‘cicatriz da BCG’ com o resultado do TT
ou do IGRA.
Discussão
A concordância entre o TT e o IGRA encontrada
neste estudo foi baixa (k=0,063). Concordâncias
pobres também foram observadas em outros estudos
realizados com profissionais da Saúde.16,17 A discordância entre os testes ainda não é clara na literatura.
Costa e cols.18 relatam que a vacinação repetida da
BCG e o curto intervalo de tempo entre a vacinação e
o teste aumentam a discordância de TT+/IGRA-. Outro
estudo associa essa discordância (TT+/IGRA-) com
o maior tempo de profissão, enquanto o TT-/IGRA+
foi associado ao contato com tuberculose na família.
Nesta pesquisa, entretanto, esses fatores não foram
relacionados com a discordância.
Apesar do elevado número de TT+ entre os ACS,
deve-se ressaltar as conhecidas limitações do TT,
teste sujeito a eventual erro técnico na aplicação da
injeção intradérmica. Quando essa aplicação é correta,
produz uma pápula; porém, se a aplicação for demasiadamente profunda, o fluxo vascular pode diluir a
PPD (proteína purificada derivada) e, possivelmente,
apresentar um resultando errôneo. Outra desvantagem
do TT é a possibilidade de existência de falsos negativos, porquanto a ausência de reação em pacientes
imunocomprometidos pode resultar em diminuição
da sensibilidade do teste.19
Com relação ao IGRA, uma das desvantagens de seu
uso é o elevado custo econômico, comparativamente
ao TT. Há, também, relatos de altas taxas de resultados
indeterminados e menor sensibilidade ao IGRA entre
pessoas imunodeprimidas.20
Uma limitação do presente estudo foi a de não ter
realizado testes para diagnóstico de doenças imunossupressoras, tais como a infecção pelo vírus da
imunodeficiência humana, o HIV. Outras limitações
deste estudo foram o número amostral pequeno e a
perda de 13 ACS que não compareceram à coleta e
às entrevistas.
Neste estudo, a prevalência de tuberculose latente
encontrada pelo TT (25,5%) foi semelhante à prevalência encontrada em mais um estudo realizado com
profissionais da rede básica de saúde de Santa Cruz
do Sul-RS, onde então, o percentual encontrado foi
de 26,7%.21 Em outro estudo, realizado com agentes
comunitários de saúde do Espírito Santo, o percentual
encontrado para a mesma prevalência foi de 26,7%.22
Já o resultado do IGRA demonstrou uma prevalência
de 12,8%, semelhante à encontrada entre profissionais da saúde lotados em hospitais na Alemanha e
na Malásia.23,24 Pesquisas com o objetivo de avaliar a
prevalência de tuberculose latente entre ACS utilizando
IGRA ainda não foram realizadas.
O tempo de serviço e o contato com pacientes
infectados também têm sido associado com infecção
latente, em ambos os testes.25,26 No presente estudo,
entretanto, essa relação não foi observada. Quanto ao
tempo de serviço, a maioria dos profissionais participantes que foram reatores ao TT e positivos para o
IGRA trabalhavam há mais de 4 anos como agentes
comunitários de saúde. Costa e cols.18 verificaram que
a probabilidade de um resultado IGRA ser positivo é
maior com o aumento dos anos dedicados ao trabalho
em saúde, enquanto que no TT, não se verificou tal
associação. Segundo a pesquisa realizada por Oliveira
e cols.,21 os trabalhadores que referiam menos de 4
anos de tempo de exposição a pacientes com suspeita
ou diagnóstico de tuberculose apresentavam uma taxa
de positividade ao TT significativamente maior que
aqueles com mais tempo de exposição.
No Brasil, ainda não foram desenvolvidos estudos
utilizando o IGRA em ACS. No único estudo com o IGRA
realizado no país e publicado, analisou-se a concordância entre o TT e o IGRA em contatos familiares de
pacientes com tuberculose pulmonar e os testes por
ele realizados mostraram concordância moderada
(κ=0,53).27
Quando se analisa qual dos testes seria o mais adequado à detecção de infecção latente, há divergências
entre os dados descritos na literatura. Machado Jr. e
cols.27 sugerem que o Brasil deva continuar utilizando
o TT, uma vez que o estudo por eles realizado, sobre
uma região com alta prevalência de tuberculose latente
e alvo de vacinação pela BCG, não observou influência
da BCG nos resultados. Álvarez-Léon e cols.26 também
concordam que hoje, seria precipitado substituir o TT
pelo IGRA, salientando a importância de aprofundar
pesquisas acerca da discordância entre os testes.
Porém, vários estudos sugerem que os IGRA são mais
específicos e deveriam ser utilizados para detecção de
Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 23(4):675-681, out-dez 2014
679
Diagnóstico de tuberculose latente
infecção por M. tuberculosis, devendo-se considerar, a
priori, a prevalência de tuberculose na região, a taxa de
vacinação, além de fatores operacionais e econômicos
implicados.7,25,28
Como conclusão deste estudo, a concordância dos
testes utilizados foi baixa, embora deva-se considerar
o pequeno tamanho amostral. Novos estudos, sobre
uma população maior e com diferentes características
clínicas e sociodemográficas, devem ser realizados na
tentativa de explicar tais diferenças e, ademais, avaliar
o custo-benefício auferido com a utilização do novo
teste – ensaio de liberação de interferon-gama, IGRA
– em relação ao teste-padrão – teste tuberculínico,
TT – utilizado no Brasil.
Contribuição dos autores
Machado PC e Possuelo LG participaram da concepção e delineamento do estudo, análise e interpretação
dos dados, redação e revisão crítica relevante do
conteúdo intelectual do manuscrito.
Valim ARM participou da concepção e delineamento
do estudo.
Maciel ELN, Prado TN, Borges TS e Daronco A
participaram da redação e revisão crítica relevante do
conteúdo intelectual do manuscrito.
Todos os autores aprovaram a versão final do manuscrito e declaram serem responsáveis por todos os aspectos do trabalho, garantindo sua precisão e integridade.
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Recebido em 25/04/2014
Aprovado em 01/09/2014
Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 23(4):675-681, out-dez 2014
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