Módulo 2 ­ Custos de Oportunidade e Curva de Possibilidades de Produção 2.1. Custo de Oportunidade Conforme vínhamos analisando, os recursos produtivos são escassos e as necessidades humanas ilimitadas, e porque existe a escassez os agentes econômicos têm que decidir onde e como aplicar os recursos disponíveis. Fazemos isso todo o tempo no nosso dia­a­dia, no supermercado, em nossas decisões de compras. Isto porque como os fatores de produção são limitados, só é possível satisfazer uma necessidade abrindo mão da satisfação de uma outra. Não há capital, nem trabalho, nem terra, nem tecnologia suficientes para produzir tudo aquilo que se deseja. A remuneração destes fatores também é restrita, restringindo as possibilidades de consumo. A escassez força os indivíduos, as famílias, as empresas e até os governos a fazer escolhas. Os indivíduos, por exemplo, têm de decidir como gastar sua renda e que necessidades devem priorizar. As empresas têm de decidir se ampliam o capital produtivo ou investem no mercado financeiro. Os governos precisam decidir se pagam uma parcela de suas dívidas ou fazem investimentos em educação e saúde. Mas uma vez que um destes agentes econômicos tome uma decisão, estarão necessariamente abrindo mão de outras possibilidades. Assim, em um mundo de recursos limitados, a oportunidade de produzir um bem significa deixar de produzir outro. Como toda escolha, a escolha de satisfação de certas necessidades em detrimento de outras envolve ganhos e perdas. Por isso, quando decidem gastar ou produzir, empresas, governos ou famílias estarão renunciando a outras possibilidades. A opção que se deve abandonar para poder produzir ou obter outra coisa se associa ao conceito de custo de oportunidade. O custo de oportunidade de um bem ou serviço é a quantidade de outros bens ou serviços a que se deve renunciar para obtê­lo. Em outras palavras, o custo de oportunidade é o sacrifício do que se deixou de produzir, o custo ou a perda do que não foi escolhido e não o ganho do que foi escolhido. O custo de oportunidade também é chamado custo alternativo, por representar o custo da produção alternativa sacrificada. 2.2. Curva de Possibilidades de Produção Dada a escassez de recursos da economia, os agentes econômicos são obrigados a fazer escolhas. Quando um bem é escasso, os indivíduos são forçados a escolher como usá­lo. Em conseqüência passa a haver uma troca – satisfazer uma necessidade significa a não satisfação de uma outra. A curva de possibilidades de produção mostra as trocas que os indivíduos, as empresas, ou os governos são obrigados a fazer por causa da escassez de recursos. Suponhamos uma determinada sociedade, onde exista um certo número de indivíduos, uma tecnologia dada, uma quantidade definida de empresas, instrumentos de produção e de recursos naturais. Como os fatores produtivos são limitados, a produção total desta sociedade tem um limite máximo a que
chamaremos de produto de pleno emprego. Neste nível de produção, todos os recursos disponíveis estão empregados, todos os trabalhadores que querem estão trabalhando, todos os instrumentos de produção estão sendo utilizados, todas as fábricas estão a pleno funcionamento e os recursos naturais estão sendo plenamente aproveitados. Vamos supor ainda que esta economia produza apenas alimentos e roupas. Haverá sempre uma quantidade máxima de alimentos produzidos mensalmente quando todos os recursos forem destinados à sua produção, sem que nenhum se destine à produção de roupas. Haverá também uma quantidade máxima de roupas produzidas mensalmente quando todos os recursos forem destinados à sua produção, sem que nenhum se destine à produção de alimentos. Entre as quantidades máximas de roupas e alimentos que podem ser produzidas, existem uma série infinita de possibilidades de combinações de quantidades de roupas e alimentos que podem ser produzidos naquela sociedade, com aquele nível de tecnologia e aqueles recursos disponíveis, com todos os recursos sendo plenamente utilizados. Suponhamos que as alternativas de produção de roupas e alimentos sejam as colocadas na tabela abaixo. Alternativas de produção 1 2 3 4 5 6 Alimentos(toneladas) 10 20 30 40 50 60 Roupas (milhares) 160 150 130 100 60 0 FIGURA 1 – CURVA DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO
A essa curva que ilustra essas possibilidades de combinações intermediárias entre roupas e alimentos eu vou chamar de curva de possibilidades de produção ou curva de transformação. Ela indica todas as possibilidades de produção de alimentos e roupas nessa construção econômica hipotética. A curva de possibilidades de produção é um conceito teórico para ilustrar a capacidade produtiva de uma sociedade. Através desta curva podemos perceber claramente que numa economia em pleno emprego, ao produzir um bem estaremos sempre desistindo da produzir uma certa quantidade de um outro bem. Em outras palavras, Para conseguirmos uma quantidade constante adicional de um bem (alimentos), precisaremos renunciar a quantidades crescentes do outro bem. Tendo em vista que cada uma das combinações sobre a curva de possibilidades de produção é tecnicamente eficiente, a sociedade escolherá uma delas em função dos preços dos produtos e das quantidades desejadas de cada um deles. Para as firmas também é possível construir uma curva de possibilidades de produção semelhante ao exemplo que elaboramos acima. Mas no lugar dos bens produzidos pela sociedade, construiremos a curva de possibilidades de produção contrapondo os produtos a serem produzidos por essa firma. Uma empresa precisa sempre decidir quais produtos produzir e em que quantidade produzir. Será a interação entre preços e quantidades de mercado que darão essa resposta, supondo­se que os empresários são agentes racionais e procuram sempre economizar os fatores escassos com o objetivo de maximizar lucros. Observemos a figura abaixo: De acordo com o gráfico acima, se houver uma expansão dos fatores de produção, ou se houver um melhor aproveitamento dos recursos produtivos já utilizados, ou ainda se a tecnologia utilizada sofrer algum avanço, haverá crescimento econômico
naquela sociedade e a curva de possibilidades de produção se deslocará para cima e para a direita. Isto significa que a economia poderá dispor de maiores quantidades tanto de alimentos quanto de roupas. A expansão dos fatores produtivos ou a melhora no seu aproveitamento, bem como os avanços tecnológicos dependem significativamente de um aumento nos investimentos. Isto significa que os agentes econômicos – famílias, empresas e governo – precisam reduzir o seu consumo atual e direcionar parte de seus recursos para a poupança, a fim de que ela esteja disponível para investimento. Um outro elemento importante para o crescimento econômico, tanto quanto o investimento, é a divisão do trabalho. Um aumento da divisão do trabalho permite que os trabalhadores se tornem mais produtivos, com um aumento da especialização do trabalho, elevando também os volumes negociados no comércio. 2.3. Análise Marginal Diante do que foi exposto, como então a população poderia alocar seus recursos escassos de modo a obter o maior proveito possível? A fim de responder a esta pergunta fundamental da economia, os economistas utilizam a chamada análise marginal. Esta técnica é amplamente utilizada na tomada de decisão das firmas, onde se faz a análise dos custos e benefícios de uma unidade adicionada de um bem ou insumo para o montante da produção, a chamada unidade marginal. Em qualquer situação, os indivíduos querem maximizar os chamados benefícios líquidos. O benefício líquido seria o benefício total subtraídos os custos totais. BENEFÍCIO LÍQUIDO = BENEFÍCIO TOTAL – CUSTO TOTAL A fim de maximizar seus benefícios, pode­se alterar alguma das variáveis envolvidas no processo, como a quantidade de um produto que compram ou a quantidade que produzem. Essa variável seria chamada de variável de controle. A análise marginal identifica se a alteração da variável de controle proporciona um aumento do benefício total e de quanto seria esse aumento; ou se a alteração da variável de controle ocasiona um aumento do custo total, e em que medida esse custo aumenta. Sendo assim, é preciso primeiro identificar a variável de controle. Feito isto, deve­se determinar qual seria o aumento do benefício total se fosse acrescentada uma unidade da variável de controle. O aumento do benefício total decorrente do aumento de uma unidade da variável de controle determinaria o chamado benefício marginal da unidade adicional. Por outro lado, devemos identificar a variável de controle, para depois determinar também qual seria o aumento do custo total se houvesse uma elevação de uma unidade desta variável de controle. O custo marginal seria justamente o aumento no custo total decorrente do aumento de uma unidade da variável de controle. Se o benefício marginal da unidade adicional da variável de controle for maior ou igual ao custo marginal, teremos uma variação positiva do benefício líquido. Portanto, o benefício líquido aumenta e a unidade marginal da variável de controle deve ser adicionada, pois desta elevação resulta um impacto positivo, de maximização de benefício líquido.
BENEFÍCIO MARGINAL = AUMENTO DO BENEFÍCIO TOTAL É preciso ter em mente que apenas as alterações do benefício total e do custo total devem ser analisadas, porque o benefício marginal representa o aumento do benefício total, enquanto que o custo marginal representa o aumento do custo total. CUSTO MARGINAL = AUMENTO DO CUSTO TOTAL Portanto, teremos que a variação do benéfico líquido é dada pela diferença entre benefício total e custo total. VARIAÇÃO DO BENEFÍCIO LÍQUIDO = BENEFÍCIO MARGINAL – CUSTO MARGINAL Em uma firma, o benefício líquido ao atuar nos negócios é o lucro. O benefício total corresponderia à receita total auferida pela empresa, e os custos totais teriam a mesma denominação. Assim, a análise marginal estudaria as repercussões sobre o lucro total, a partir dos efeitos sobre a receita total (preços x quantidades) e o custo total (custo médio x quantidades). A decisão do empresário dependerá da análise marginal que efetuar, a partir de uma equação fundamental, derivada daquelas que construímos acima. Sendo assim, numa empresa, a fórmula acima apresentada seria modificada para: LUCRO = RECEITA TOTAL – CUSTO TOTAL A variação do lucro total seria dada pela diferença entre receita marginal e custo marginal. A receita marginal seria a receita proporcionada pela venda de uma unidade adicional do produto. O custo marginal seria o custo da produção de uma unidade adicional de produto. VARIAÇÃO DO LUCRO TOTAL = RECEITA MARGINAL – CUSTO MARGINAL A firma continuará a produzir unidades adicionais do produto até o ponto em que o custo marginal for igual ao preço. O ponto de equilíbrio da produção de uma firma, para a teoria econômica, é justamente quando o custo marginal iguala o seu preço.
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