PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO:
INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA E DESAFIOS EDUCACIONAIS
DORNELLES, Vanéli do Carmo 1; CAIMI, Flávia Eloisa2
Palavras-Chave: Ensino. Aprendizagem. Tempo integral.
Introdução
Os estudos e pesquisas realizados no campo da aprendizagem têm provocado
intensas discussões no processo educacional, no intuito de compreender as modificações que
se operam nos sujeitos a partir das relações interpessoais que se estabelecem e da qualidade
dos processos de construção do conhecimento vivenciados pelos agentes escolares. Neste
contexto, compreendemos que a escola pública, no tempo convencional de um turno, ou no
tempo integral de dois turnos, precisa garantir às crianças o acesso, a permanência e o sucesso
na aprendizagem.
No presente estudo, investigamos uma experiência de escolarização em tempo
integral, que vem sendo desenvolvida na Escola Municipal de Ensino Fundamental Irmã
Maria Catarina, localizada na periferia urbana do município de Passo Fundo/RS. A pesquisa
realizada sinaliza a importância do desenvolvimento de uma proposta de ensinoaprendizagem que contemple um ambiente pedagógico com boas condições de interação,
onde todos possam falar e ser ouvidos, levantar hipóteses, estabelecer relações, criar e
resolver problemas, fatores que constituem elementos essenciais às trocas simbólicas e ao
desenvolvimento cognitivo, para que a escola em tempo integral constitua um lugar
significativo de aprendizagem, destacando-se de forma privilegiada por acompanhar em um
tempo maior os alunos em sua escolarização.
A pergunta central da pesquisa busca saber como o sujeito constrói a aprendizagem e
em que medida as interações e intervenções realizadas geram nas crianças condições de
construção de conhecimento e de desenvolvimento cognitivo nesta trajetória escolar. Os
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¹DORNELLES, Vanéli do Carmo (Bolsista PIBIC/FAPERGS/UPF) [email protected]
²CAIMI, Flávia Eloisa (Orientadora e Coordenadora do Projeto/FAPERGS/UPF) [email protected]. Professora
titular na Universidade de Passo Fundo/RS e doutora em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul.
objetivos elencados para o estudo consistem em: avaliar as ferramentas de que as crianças
dispõem para aprender, focalizando no que elas pensam e como elas aprendem face às
intervenções das professoras; analisar como acontece o desenvolvimento da criança, a
capacidade de ser sujeito e de se relacionar autônoma e eticamente com os outros e com o
meio físico-social-simbólico; perceber como se dá a apropriação dos conhecimentos
socializados no âmbito escolar.
O processo de aprendizagem ocorre durante toda a vida nas situações diárias. Desde
o nascimento cada ser humano desenvolve potencialidades à medida que amadurece e
estrutura-se no meio social em que vive. Assim, é possível caracterizar a aprendizagem como
um processo gradual, ativo e dinâmico. Na perspectiva de Piaget (1990), para que se efetive a
construção de um novo conhecimento, é preciso que se estabeleça um desequilibrio nas
estruturas mentais, isto é, os conceitos já assimilados necessitam passar por um processo de
desorganização para que possam novamente, a partir do contato com novos conceitos, se
reorganizarem, de acordo com as ações interiorizadas (ação executada em pensamento) e da
interação que se estabelece entre o sujeito e o objeto.
Montoya (1996) destaca que a teoria de Piaget compreende o desenvolvimento do
conhecimento como a criação e a reorganização de sistemas de significações a partir de
coordenações de ações individuais e interindividuais. Em síntese, o processo construtivo do
conhecimento pelo indivíduo é solidário, é indissociável do sistema de trocas cognitivas entre
os indivíduos. A relação que ocorre entre o aluno e a aprendizagem é de fundamental
importâcia, pois esta interação permite que o aluno atue de forma ativa em seu processo
cognitivo em um despertar de esforços e interesse na realização das atividades escolares. A
motivação e o incentivo
permitem que todos vivenciem experiências de cooperação,
independência e o desenvolvimento de competências e habilidades. Nesse sentido, Coll
Colomina (1996, p.298) enfatiza que “o aluno constrói seu próprio conhecimento, mediante
um complexo processo interativo no qual intervêm três elementos-chaves: o próprio aluno, o
conteúdo da aprendizagem e o professor”.
Outro elemento fundamental para a aprendizagem no desenvolvimento humano é a
relação professor e aluno. Uma análise desta interação também pode ser feita da prática do
educador, observando a maneira em que domina e estrutura os conteúdos a serem assimilados
pelos alunos, bem como a estratégia por ele adotada que facilite a compreensão, e desafie os
educandos a relacionar o que sabem com os novos saberes, estruturando assim sua
personalidade no decorrer do ato educativo.
Em se tratando de interação no ambiente escolar, compreendemos que a escola
exerce um papel importante nos processos de aprendizagem, por oferecer espaços para que a
comunicação se concretize em reconstrução de experiências e em ressignificação dos sentidos
sociais, a partir das situações intencionais realizadas, contribuindo ao desenvolvimento dos
alunos. Verifica-se a influência decisiva da ação do meio social no processo da construção
cognitiva. Piaget ressalta o significado das trocas simbólicas adequadas para a aquisição da
língua escrita, sugere que as crianças tenham oportunidade para narrar as ações passadas e
futuras, que possam reconstituir o que vivem cotidianamente, tendo acesso à linguagem
escrita e culta a fim de refletir as experiências, organizando conceitualmente o pensamento.
Esta reflexão implica em um contexto escolar e familiar favorável a tais
procedimentos, porém observa-se que as crianças de uma realidade desfavorecida
economicamente, intelectualmente, sofrem e demoram mais para se apropriar da linguagem
oral e escrita. Montoya (1996, p. 95) traz uma importante contribuição a respeito do assunto
em pauta, nesses termos:
Sem falar nas péssimas condições de moradia, de alimentação e saúde que afetam
qualquer tipo de desenvolvimento mental, as condições que favorecem as trocas
simbólicas encontram-se também seriamente afetadas. A negação e as limitações
destas se produzem de múltiplas formas e se encontram interligadas entre si:
ausência dos pais, motivada não precisamente pela chamada „desorganização
familiar‟, mas pela sobrecarga de trabalho.
Reconhecemos a diferenciação de realidades e também as variadas concepções de
infância que aceleram ou atrasam as construções intelectuais. Porém, compreendemos que os
bloqueios de aprendizagem podem ser rompidos à medida que ocorram tentativas de
desvendar estratégias de intervenção que atuem na individualidade dos casos, pois,
independentemente do contexto, as crianças são capazes de aprender.
Metodologia
Como principais estratégias metodológicas foram desenvolvidas observações de
aulas e registro em diário de campo; cartografia do contexto familiar-social das crianças;
elaboração de memórias e sessões de estudo com as professoras do projeto; revisão
bibliográfica do tema com contribuições de estudiosos da área.
Resultados e Discussões
Até o momento, destacam-se como principais resultados os seguintes elementos: 1)
A necessidade de desenvolver uma proposta de ensino-aprendizagem que contemple um
ambiente pedagógico com boas condições de interação, onde todos possam falar e ser
ouvidos, levantar hipóteses, estabelecer relações, criar e resolver problemas, fatores que,
segundo nosso ponto de vista, constituem elementos essenciais às trocas simbólicas e ao
desenvolvimento cognitivo. 2) A preocupação em evitar que o tempo integral seja um espaço
muito desgastante para as crianças. 3) Os processos que potencializam a aquisição da língua
escrita e a construção conceitual dizem respeito a propostas de intervenção claramente
intencionadas.
Conclusão
Consideramos ser inerente à escola a tarefa de propiciar um lugar privilegiado de
aprendizagem e de desenvolvimento da criança e de que, só faz sentido propor a ampliação da
jornada escolar, se a proposta de trabalho fundamentar-se numa concepção de educação
integral, de modo que o horário expandido represente, acima de tudo, maiores oportunidades
de vivenciar situações que promovam aprendizagens significativas e emancipadoras.
Referências
ANGOTTI, Maristela. O trabalho docente na pré-escola: revisitando teorias, descortinando
práticas. São Paulo: Pioneira, 1994.
COOL, César, PALACIOS, Jesus, MARCHESI, Alvaro (orgs). Desenvolvimento psicológico
e educação: psicologia da educação. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1996.
__________________. Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia evolutiva. Porto
Alegre: Artes Médicas Sul, 1995.
MONTOYA, Adrian Oscar Dongo. Piaget e a criança favelada: epistemologia genética,
diagnóstico e soluções. Petrópolis: Vozes, 1996.
PIAGET, Jean. Epistemologia Genética. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
SEBER, Maria da Glória. Psicologia do Pré escolar: Uma visão construtivista. São Paulo:
Moderna, 1995.
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