SÉTIMO ENCONTRO DO PADOC
Uma Visão das Ciências do Artificial
Antônio Carlos da Rocha Costa
Centro Politécnico - UCPel
O termo Ciências do Artificial, para designar a idéia de um conjunto de ciências focadas
nos problemas relativos aos objetos artificiais foi originalmente proposto por Herbert
Simon, no livro (Simon, 1969).
O livro aparentemente resultou não apenas dos estudos daquele autor realizados no
contexto da Teoria das Organizações (que lhe renderam um prêmio Nobel em Economia
em 1978), como também dos estudos realizados por ele, juntamente com Allen Newell, no
contexto da Ciência da Computação, especialmente na área da Inteligência Artificial e das
Ciências Cognitivas.
Ambos contextos podem ser entendidos como lidando com artefatos: artefatos sociais,
(como no caso das organizações empresariais, governamentais, etc.) ou artefatos
tecnológicos (como no caso dos computadores e dos sistemas de software).
Dominam a idéia de objeto artificial, os seguintes fatos:
 que um objeto artificial não é dado na natureza (como os objetos estudados nas
ciências naturais, como a Física, a Biologia, etc.);
 que um objeto artificial não é um objeto abstrato (como os objetos estudados
pelas ciências formais, como Lógica e a Matemática);
 que um objeto artificial não resulta uma construção histórica (como os objetos
estudados pelas ciências sociais);
 que um objeto artificial não é um objeto fundamentalmente simbólico (como os
objetos estudados pela Estética, em geral, e pela Literatura em particular).
Em outros termos, e utilizando a classificação das ciências proposta por Ladrière e
sintetizada pelo Prof. Osmar Schaefer (palestrante e mediador do Encontro), as Ciências do
Artificial, entendidas nesse sentido, não se classificam nem no conjunto das Ciências
Formais, nem no conjunto das Ciências Empírico-formais, nem no conjunto das Ciências
Hermenêuticas.
Nosso ponto de vista é que as Ciências do Artificial (englobando todas as áreas de
conhecimento que hoje se classificam sob o nome de Engenharias e Tecnologias, incluindo
Biotecnologias e Nanotecnologias) podem e devem ser classificadas em uma quarta
categoria de ciências, com um objeto próprio de estudo (os artefatos), mas compartilhando
com as duas das demais categorias os seguintes aspectos específicos:

com as Ciências Empírico-formais, as Ciências do Artificial compartilham a
necessidade da aplicação de estruturas formais aos objetos materiais estudados
(os artefatos), de modo a poderem fazer uso do controle lógico-formal das
deduções, que aquelas estruturas possibilitam;

com essas mesmas Ciências Empírico-formais, as Ciências do Artificial
compartilham a necessidade do controle empírico dos resultados que produzem,
porque a realidade material não se deixa captar por uns poucos esquemas
formais e sempre se faz necessário o controle experimental para que as deduções
feitas em bases formais possam ser aceitas;

com as Ciências Hermenêuticas, as Ciências do Artificial compartilham a
necessidade do método interpretativo, porque os artefatos, não sendo objetos
dados pela natureza, mas sim objetos construídos com determinados propósitos,
incorporam intenções que precisam ser elucidadas via procedimentos de
interpretação, para que aqueles objetos possam ser plenamente conhecidos.
Finalmente, pensamos que as Ciências do Artificial têm uma especificidade própria porque
estudam artefatos que tem uma presença ativa no mundo em que estão situados, isto é,
estudam objetos que tem uma atuação operacional concreta sobre as ações humanas e os
processos sociais em que estão envolvidos, muitas vezes de modo independente e até
antagônico às intenções dos que com eles se relacionam.
Em resumo, pensamos que as Ciências do Artificial se diferenciam das demais
principalmente porque os objetos que estudam, para serem entedidos em sua completude,
só podem ser entendidos como artefatos dotados de autonomia operacional, essa
combinação de autonomia operacional e artificialidade sendo a marca de especificidade que
os diferenciam dos objetos estudados pelas demais ciências.
Bibliografia básica:
Simon, H. The Sciences of the Artificial. MIT Press, 1969.
Bibliografia complementar:
Costa, A. C. R. Inteligência de Máquina: esboço de uma abordagem construtivista. Porto
Alegre, PGCC/UFRGS, 1983. (Tese de doutoramento). Disponível no formato PDF no
endereço http://rocha.ucpel.tche.br/valores.
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