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Classificação do artigo 28 jan 2015 O Globo
LUIZA DAMÉ E FERNANDA KRAKOVICS opais@ oglobo.com. br
Em defesa das empreiteiras
Dilma diz em discurso que punição aos corruptos não pode prejudicar
empresas privadas e Petrobras
PF abre inquérito contra mais dez empresas no escândalo da Petrobras
ANDRÉ COELHO
Primeira reunião. Temer, Dilma, Mercadante, Jaques Wagner e Levy em encontro com
ministros: presidente demonstrou preocupação com a quebradeira de empreiteiras
Após 26 dias sem dar entrevistas, presidente diz que combater corrupção não significa destruir
companhias privadas, defende o ajuste fiscal para manter conquistas sociais, mas afirma que fará
adequações nos benefícios trabalhistas Ao quebrar o silêncio para defender o ajuste fiscal, na primeira
reunião ministerial do segundo mandato, a presidente Dilma mostrou preocupação com a situação das
grandes empreiteiras brasileiras envolvidas no escândalo da Petrobras. Em um discurso de 35 minutos,
transmitido pela TV oficial, ela afirmou que “punir e ser capaz de combater a corrupção não pode significar
a destruição de empresas privadas”. Ontem, a PF passou a investigar mais dez construtoras, entre elas a
Andrade Gutierrez. A presidente pediu empenho dos ministros para que “travem a batalha de
comunicação” em defesa do governo. A petista disse que fará correções na política econômica e adequará
benefícios trabalhistas. ­BRASÍLIA­ Em meio às investigações do escândalo da Petrobras, que atinge
grandes empreiteiras, a presidente Dilma Rousseff defendeu ontem que os responsáveis pela corrupção na
estatal precisam ser punidos, mas que não se pode prejudicar as empresas privadas e a estatal. Em um
discurso de 35 minutos na abertura da primeira reunião ministerial do segundo mandato, Dilma deixou
clara a preocupação com a quebradeira de grandes empreiteiras brasileiras e com a perda de empregos em
caso de instabilidade no setor.
É a primeira vez que Dilma defende especificamente as empresas privadas envolvidas no escândalo.
No discurso de diplomação, em dezembro, ela já tinha falado das empresas, mas em um contexto de
defesa da estatal. Ela tocou no assunto no momento em que as empreiteiras acusadas na Operação Lava­
Jato adotam a estratégia de atribuir à Petrobras a responsabilidade por montar um esquema de corrupção
para favorecer políticos aliados do governo.
— Punir e ser capaz de combater a corrupção não pode significar a destruição de empresas privadas
também. As empresas têm de ser preservadas, as pessoas que foram culpadas é que têm que ser
punidas, não as empresas. E quero dizer para vocês que nós seremos implacáveis no combate aos
corruptores e aos corruptos — afirmou Dilma aos seus 39 ministros, em pronunciamento transmitido pela
TV oficial.
— Nós temos de fechar as portas para a corrupção. Nós não podemos, de maneira alguma, fechar as
portas para o crescimento, o progresso e o emprego — disse a presidente.
A Operação Lava­Jato, que investiga o esquema de corrupção da Petrobras, apura o envolvimento de
empreiteiras como OAS, Engevix, Galvão Engenharia, Camargo Corrêa, UTC e Mendes Jr. No início do mês,
O GLOBO já tinha revelado que a Controladoria­Geral da União (CGU) tentou fazer um acordo com a força­
tarefa do Ministério Público Federal encarregada da Lava­Jato para limitar punições às empreiteiras,
evitando que elas fossem declaradas inidôneas e, consequentemente, ficassem impedidas de fechar novos
contratos com o governo federal. A proposta foi rejeitada pela força­tarefa. O acordo foi encarado como
tentativa do governo de salvar empresas que estão à frente de grandes obras públicas, algumas já com
problemas financeiros.
“APOSTAR NA MELHORIA DA GOVERNANÇA”
Ontem, no discurso, a presidente lançou um pacto nacional contra a corrupção, envolvendo todas as
esferas do poder público e a iniciativa privada. Segundo Dilma, a Petrobras já vinha passando por “um
rigoroso processo de aprimoramento de gestão”, mas a revelação do esquema de corrupção reforçou a
determinação de seu governo de implantar “a mais eficiente estrutura de governança e controle que uma
empresa estatal ou privada já teve no Brasil”.
— Temos que apurar com rigor tudo de errado que foi feito. Temos principalmente de criar
mecanismos que evitem que fatos como esse se repitam. O saudável empenho da Justiça deve também
nos permitir reconhecer que a Petrobras é a mais estratégica para o Brasil e a que mais contrata e investe
no país. Isso tudo sem enfraquecer a Petrobras, nem diminuir a sua importância. Temos que continuar
apostando na melhoria da governança da Petrobras, aliás, de todas as empresas privadas e das empresas
públicas em especial. Temos que continuar acreditando na mais brasileira das empresas, a Petrobras —
argumentou a presidente.
Dilma assumiu o compromisso de cobrar de toda a sua equipe lisura no uso do dinheiro público e
combate aos malfeitos, a partir da “atuação livre dos órgãos de controle interno, com a autonomia da
Polícia Federal, e com a independência do Ministério Público”.
Dilma confirmou que enviará ao Congresso projetos para transformar em crime e punir com rigor os
agentes públicos que enriquecem sem justificativa; incluir na legislação eleitoral como crime a prática de
caixa dois; criar um tipo de ação judicial que permita o confisco de bens adquiridos de forma ilícita; alterar
a lei para apressar o julgamento de processos que envolvem o desvio de recursos públicos; e dar ao Poder
Judiciário mais agilidade nos processos contra autoridades que têm foro privilegiado. Ela disse aos
ministros: — Todos vocês devem atuar sempre orientados pelo compromisso com a correção e a lisura.
Espero que enfrentem com firmeza todo e qualquer indício de mau uso do dinheiro público nas áreas sob
seu comando. Vamos honrar cada cidadão e cada cidadã com uma gestão exemplar, que executa com
celeridade e eficiência as políticas que vão manter o Brasil na trilha do desenvolvimento.
APELO POR MENOS DIVERGÊNCIAS PÚBLICAS
Dilma pediu aos ministros que conversem com o Congresso, com governadores, com os prefeitos e
com os movimentos sociais. E prometeu fazer o mesmo. Disse que os 39 ministros devem ter uma ação
cooperativa e que têm de apoiar as iniciativas das outras pastas. Antes mesmo de fechar um mês de
governo, ministros tiveram divergências públicas, como Kátia Abreu (Agricultura) e Patrus Ananias
(Desenvolvimento Agrário), sobre a questão fundiária. A presidente disse aos ministros que a população
brasileira espera muito do governo, e todos têm de “honrar essas expectativas, sem exceção”.
— Devemos buscar, por meio do diálogo e da negociação, estabelecer os consensos necessários e os
caminhos que produzirão as mudanças de que o país precisa.
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