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29/01/2010
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Susto em meio à rotina estafante
Matéria publicada em 29 de janeiro de 2010
Eleições
Mal-estar de Lula é reflexo de uma agenda cheia, segundo os auxiliares. Não é para menos: o petista é, ao
mesmo tempo, presidente, negociador político e principal cabo eleitoral da ministra-candidata
Lula, com Dilma cumprimenta a equipe médica na saída de hospital do Recife
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou para Recife para resolver um problema, mas saiu de
Pernambuco com dois. Depois de cumprir agenda pesada no estado, Lula jantou com o governador e
presidente do PSB, Eduardo Campos, para convencer os socialistas a desistirem o quanto antes da
candidatura presidencial do deputado e ex-ministro Ciro Gomes (CE). Não demoveu Campos do projeto do
partido que atrapalha as pretensões da preferida para sucedê-lo, a petista Dilma Rousseff, ministra da Casa
Civil. No fim da noite de uma semana com viagens a cinco capitais brasileiras, deu um susto na comitiva que
se preparava para voar durante 12 horas para a Suíça, onde receberia uma premiação internacional. A bordo
da aeronave, Lula teve sua pressão aferida pelo médico oficial da Presidência(1), coronel Cleber Ferreira,
que lhe determinou a imediata suspensão da viagem.
Lula é o protagonista das negociações políticas para a candidatura da petista e peça fundamental para
aumentar as chances de vitória da “mãe do PAC” em outubro. Desde o início do mês, após recesso de anonovo, o presidente retomou a agenda de inaugurações ao lado da petista e irritou a oposição, que acusa o
governo de fazer campanha antecipada. A agenda no Recife na quarta-feira previa assinatura de decreto
para criação da Zona de Processamento de Exportação de Suape, inauguração de duas Unidades de Pronto
Atendimento (UPA) e cerimônias em recordação das vítimas do holocausto.
Em entrevista a jornalistas ontem, a ministra Dilma Rousseff comparou a rotina do presidente a um
“verdadeiro Rally Paris-Dacar”. “Esse negócio de dormir às 2h da manhã e chegar às 9h no CCBB (sede
provisória da presidência) é difícil. Sempre é bom intercalar uma semana mais pesada com uma mais leve.
Temos um ritmo forte de agenda”, afirmou a petista. O ministro de Relações Institucionais, Alexandre
Padilha, apontou motivo semelhante. Ele lembrou a agenda cheia de viagens desta semana.
Repouso
Após o diagnóstico de hipertensão, a recomendação médica para o presidente é de repouso, mas na
semana que vem ele já retoma a agenda como chefe do Executivo e articulador da candidatura Dilma. A
previsão para a próxima semana é de viagens para os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande
do Sul. “É como se ele estivesse em campanha, porque ele quer elegê-la. Ele vai ter uma tarefa dupla”,
afirma o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) João Paulo Peixoto. Na visão do professor,
afastar a imagem do presidente da ministra pode prejudicar a campanha. “Ela teria que mostrar a que veio
muito mais cedo. Só esse perfil de executiva, de durona não basta”, resume.
Durante agenda no Recife, na quarta-feira, Lula reclamou de cansaço, dor de garganta e dificuldades para
respirar e chegou a mencionar o mal-estar durante discurso. “Eu vou ser muito breve, porque eu estou com a
garganta não muito boa e não quero ser o primeiro paciente desta UPA aqui”, brincou ao se referir à Unidade
de Pronto Atendimento no bairro Jardim Paulista, na região metropolitana da capital pernambucana. Durante
o dia, a pressão foi medida em diferentes momentos, mas nenhuma anormalidade foi constatada até a
partida do Recife para a Davos. Ali, a pressão arterial de Lula foi medida em 18 por 12, resultado de um
quadro de estresse e cansaço, segundo o médico que o acompanha há cinco anos. Ainda no Recife, o
presidente foi submetido a exame de sangue, eletrocardiograma e raios X do tórax. Alexandre Padilha e
Dilma Rousseff permaneceram no hospital durante todo o período de internação. Ambos também estavam
ao lado do presidente no jantar da noite anterior com os políticos do PSB.
1 - Equipe médica
Nove médicos militares integram a coordenação de saúde da presidência. O grupo atende não só o
presidente como o vice, José Alencar, ministros palacianos, autoridades, servidores e seus dependentes. Em
Brasília, o andar de trabalho de Lula, médico e assistente permanecem de plantão para eventualidades. O
coronel Cleber Ferreira atende exclusivamente ao presidente da República, sempre acompanhado em
viagens nacionais e internacionais. Depois de diagnosticar uma crise de hipertensão no Recife, Ferreira
voltou a atender o presidente em São Bernardo do Campo, onde passa o fim de semana. Na consulta, que
durou cerca de 40 minutos, a pressão arterial de Lula era de 11 por 8.
É um verdadeiro Rally Paris-Dacar. Esse negócio de dormir às 2h da manhã e chegar às 9h no CCBB é
difícil. Sempre é bom intercalar uma semana mais pesada com uma mais leve”
Dilma Rousseff, candidata de Lula à Presidência
(Correio Braziliense)
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