A Dificuldade de conservar bens culturais em países de climas tropicais:
A experiência da cidade do Rio de Janeiro
Antonio Gonçalves da Silva
Arquivo Nacional do Brasil
Resumo
Os bens culturais de um país são as heranças deixadas pelos povos que viveram anteriormente,
podendo os mesmos contar o modo de vida de sua população. Para mante-los acessíveis aos
descendentes, os mesmos precisam ser conservados para possuirem condições de manuseabilidade.
No entanto sua conservação nos países de clima tropical é dificultada devido as condições
ambientais serem inadequadas, favorecendo a deterioração dos mesmos devido as temperaturas e
umidade relativa elevadas. A dificuldade existente nos países localizados na região tropical do
mundo é o objeto deste artigo e em especial descrição das experiências obtidas no Brasil e na
cidade do Rio de Janeiro.
Palavras chaves: Conservação, região tropical, preservação, bens culturais, Rio de Janeiro
Abstract Key worlds
Conservation, tropical region , preservation, cultural heritage, Rio de Janeiro city
I - INTRODUÇÃO
Na primeira parte deste trabalho descreveremos a localização das regiões tropicais no mapa
mundial, sua diversidade climática e influência na conservação de bens culturais, e o início da
preocupação do Brasil em preservar seus bens culturais para as futuras gerações.
Na terceira parte descreveremos as características ambientais recomendadas á conservação de bens
culturais descritas em diversas publicações, as dificuldades de alguns países localizados nas regiões
de clima tropical para emprega-las, e as ações desenvolvidas na cidade do Rio de Janeiro para
conservar seus bens culturais. No capítulo seguinte descreveremos os caminhos percorridos no
Brasil para criar uma instituição nacional responsável pela salvaguarda de seu patrimônio cultural,
seguindo para a descrição dos caminhos percorridos para a formação profissional do conservador e
restaurador de bens culturais.
Posteriormente descreveremos a política de conservação curativa também denominada de
restauração do patrimônio documental em suporte papel, empregadas pelas instituições arquivísticas
e bibliográficas da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro entre as décadas de 1980 até o ano
2000. Finalizando este com o desenvolvimento de projetos de conservação preventiva aplicado as
Instituições desta cidade a partir do ano 2000 .
II - CARACTERÍSTICAS CLIMÁTICAS DAS REGIÕES TROPICAIS
O globo terrestre é dividido na horizontal em diversas regiões cortadas por linhas paralelas, destas a
área compreendida entre os trópicos de capricórnio, no hemisfério sul e o tópico de Câncer, no
hemisfério norte é denominada de zona tropical, compreendendo a mesma uma extensa área do
globo terrestre, sendo a mesma situada entre os paralelos 23,5º ao norte e ao sul. Por causa desta
grande extensão territorial a região tropical ocupa diversos continentes como as Américas Central
e do Sul, África , Ásia e Oceania.
Os trópicos são linhas imaginárias abaixo e acima da linha do equador que dividem o globo
terrestre. Esta divisão deixa muitos países com condições ambientais similares de temperatura e
umidade relativa numa mesma região. Assim ao consultarmos o mapa mundial observamos a
localização de diversos países na região tropical.
A partir destas podemos considerar que os mesmos possuem características ambientais de
temperatura e umidade relativa similares, sendo estes índices elevados e apresentando valores
médios superiores as condições ideais recomendadas à conservação de bens culturais.
A localização das regiões tropicais no mapa mundi é muito extensa. Possibilitando diversas
subdivisões no clima tropical. Sendo assim este pode ser tropical equatorial, que é característico
das regiões próximas a linha do equador, sendo este com características de chover ao longo de
todos os meses do ano, deixando o local com elevada temperatura e umidade do ar. Uma outra
característica do clima tropical é o mesmo ser denominado de tropical seco, caracterizado por
apenas uma estação seca durante o ano e este é o clima mais característico da cidade do Rio de
Janeiro que possui o verão como um período chuvoso e o inverno caracterizado por clima seco. Isto
não significa dizer que nesta cidade chove apenas no verão. As rajadas de chuvas do final da tarde é
característica deste período.
Já o clima tropical de monção é caracterizado por apresentar um período do ano com índices de
chuvas elevado. Este ocorre principalmente no leste do continente Africano e no sul da Índia. Já o
clima tropical de altitude possui temperaturas semelhantes às do clima subtropical. No Brasil este
clima é comum na região Sul e nas áreas de montanha da região Sudeste que compreende os estados
de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
As condições climáticas das regiões tropicais são caracterizadas por climas geralmente quente e
úmidos, com temperatura média anual superior a 25 °C e a umidade relativa do ar é elevada e
superior a 65%. Além disto, algumas regiões possuem chuvas constantes que deixam os valores da
umidade relativa do ar próximo aos índice de 100%, tornando as condições de conservação dos
bens culturais um problema ainda mais crítico nestas regiões. Sendo estes índices não ideais para a
conservação de bens culturais, assim como para mantê-los em condições de acessibilidade por
longos períodos de tempo, como por exemplo, décadas , séculos ou, milênios.
Nas condições ambientais das regiões tropicais, os bens culturais, principalmente, àqueles
constituídos de materiais de origem orgânica, como por exemplo, os de resinas sintéticas, os de
couro e os constituídos de derivados lignocelulósicos, como os papéis e as madeiras se deterioram
facilmente devido as reações químicas de deterioração, principalmente as de hidrólise, nas quais a
água é um constituinte ambiental que atua favorecendo-a. Reações similares de degradação
também ocorrem com algumas ligas metálicas, constituídas por alto teor de ferro, devido a
instabilidade dos metais ferruginosos em locais de umidade elevada.
A conservação de bens culturais nestes locais que possuem condições inadequadas pode ser obtida
através de altos investimentos financeiros para à aquisição de equipamentos para controlar a
temperatura e a umidade relativa do ar e na contratação de técnicos especializados para gerenciar se
as condições adequadas à conservação. Para muitos países tropicais a contratação deste profissional
especializado pode ser um problema, devido a falta de unidades educacionais no país para
formação se pessoal especializado. Além disto, a aquisição de equipamentos para fornecer as
condições ambientais adequadas a conservação de bens culturais pode ser um grande problema
para a maioria dos países localizados na região tropical, devido a falta de recursos financeiros.
A cidade do Rio de Janeiro apresenta temperatura média anual acima de 30° C e umidade relativa
acima de 65% de umidade. Sendo estas não ideais para conservação de bens culturais, por serem
inadequadas em relação aos índices recomendados à conservação de bens culturais. Além disto elas
são favoráveis a sua deterioração, conforme descrito anteriormente.
Apesar das Instituições cariocas conhecerem e se preocuparem com as condições ideais de
conservação de seus bens culturais, muitas não recebem dos governantes recursos financeiros
suficientes para adequar seus parâmetros ambientais às condições ideais de guarda e conservação
de seu acervo, conforme descrita no item a seguir.
III- CARACTERÍSTICAS IDEAIS ESTABELECIDAS PARA A CONSERVAÇÃO DE BENS
CULTURAIS
Diversas publicações técnicas, como por exemplo The Museum Environment, de Garry Thomson,
e Climate in Museums, de Gaël de Guichen, descrevem que as condições ambientais ideias para a
conservação de bens culturais, são a atemperatura de 20± 2 ° C e os índices de umidade relativa
de 50 ±5%. Condições ambientais inadequadas são as principais responsáveis pela deterioração de
bens culturais. Os valores de temperatura e de umidade relativa do ar dos países tropicais,
geralmente, são superiores a estes índices ideais estabelecidos para a conservação. Estes valores
recomendados são os mais próximos aos índices registrados nas regiões de climas temperados.
Fazendo com que países localizados nas regiões tropicais necessitem de altos recursos financeiros
para custear os gastos com custos referentes a energia elétrica utilizada para manter a conservação
seus bens culturais.
No Brasil, a arquiteta Franciza Toledo(in memorium) que era técnica do Instituto do Patrimônio
Artistico Nacional da regional do estado de Pernambuco, tendo realizado seu mestrado profissional
na área de arquitetura em Cuba. Isto possibilitou a aplicação dos conhecimentos adquiridos para a
preservação de bens culturais em paises de climas tropicais. Disseminando os conhecimentos
adquiridos e aplicando-os na conservação de diversos acervos museológicos e documentais sem o
uso de equipamentos de refrigeração.
A Doutora em Arquitetura, Cláudia S. Rodrigues de Carvalho, com mestrado em conforto
ambiental, realizou seus estudos no país e exerce suas atividades profissionais na Fundação Casa de
Rui Barbosa - FCRB, órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia. Tendo desenvolvido
equipamentos para que o acervo desta casa, que abriga um museu tenha condições ambientais
adequadas para sua conservação do acervo sem a utilização de sistema elétrico. Estes equipamentos
fornecem ao acervo condições adequadas de conservação, através do uso de ventilação.
No item seguinte estão descritas as várias tentativas do Brasil em formar um Instituto para cuidar da
conservação dos seus bens culturais.
IV- O DESENVOLVIMENTO DA FORMAÇÃO DO INSTITUTO DO PATRIMÔNIOS NO
BRASIL
SILVA ( 2007) descreve que a preocupação dos governantes do país com a preservação de seus
bens culturais é superior a um século em meados do século XVII Don André de Mello Castro, Vice
Rei do Estado do Brasil 1735-1749 foi o primeiro a se preocupar com a preservação no Brasil, ao
ter conhecimento da intenção do Governador da capitania de Pernambuco a respeito das
construções ali deixadas pelos Holandeses.
No final do século XVIII, no período imperial, o ministro do império Luiz Pedreira Couto Ferraz,
transmite aos presidentes de províncias que obtivessem coleções epigráficas para a Biblioteca
Nacional e ao Diretor de Obras da Corte para que tivesse cuidado na reparação de monumentos.
Apesar do interesse de D. Pedro II pelos estudos históricos, durante seu reinado não foram tomadas
providências para a proteção efetiva dos bens culturais nacionais. Isto só se iniciará nas primeiras
décadas do século XIX, durante o período republicano. Nas primeiras décadas do ano de 1900 as
ações de proteção se iniciaram na Câmara dos Deputados.
Nos anos de 1920 ocorrem diversas iniciativas para preservar os bens culturais do país. No entanto,
somente no período após a revolução de 1930 surgiu a primeira lei sobre a proteção do patrimônio
brasileiro, sendo esta o Decreto número 22.928, de 12 de julho. Este decreto teve grande
significância por elevar a cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais à condição de Monumento
Nacional.
No ano seguinte a publicação deste decreto, é promulgado um outro o de número 24.735 em 14 de
julho de 1934 e neste o governo inicia a organização de um serviço nacional de proteção aos
monumentos históricos e às obras de arte tradicionais do país, através da criação da Inspetoria de
Monumentos Nacionais (IPM) e aprova novo regulamento para a criação do Museu Histórico
Nacional.
Tempos após estas importantes inclusões da preocupação com a preservação dos bens culturais na
legislação, o país passa por grandes mudanças políticas e este período é denominado de Estado
Novo, sendo este situado entre os anos de 1937 a 1945. Este é criado devido a grande ameaça
comunista, verificadas em vários episódios ocorridos no periodo que antecede a segunda guerra
mundial. Na constituição brasileira publicada durante este período em 1937, está escrito no artigo
148 do II capítulo, que cabe á União, Estados e municípios a proteção do patrimônio artístico do
país. Neste mesmo ano o IPM é sucedido pela Secretária do Patrimônio Artístico Nacional(
SPHAN).
Coube ao ministro da Educação, Gustavo Capanema, do período entre 1934-1945, a criação da
SPHAN, através do Decreto Lei número 28, organizando a proteção do patrimônio Histórico
Nacional. Este decreto conciliava as experiências obtidas por outros países e considerava as
peculiariedades brasileira.
A segunda Instituição criada para cuidar do patrimônio brasileiro a SPHAN existe no país até os
dias atuais com as atribuições de proteger e conservar os bens culturais brasileiros. A mesma a
partir de 1946 passou a ser denominada de Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (DPHAN). Mais tarde em 1970 este órgão recebe a denominação de Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional(IPHAN).
No ano de 1979, o IPHAN se divide em duas instituições responsáveis pelo patrimônio brasileiro,
sendo estes a Secretária do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), órgão executivo,
responsável pelo tombamento dos bens culturais. E a Fundação Nacional Pró-Memória( FNPM),
órgão executivo, responsável pela execução dos trabalhos de conservação interventiva dos bens
culturais tombados pela Sphan. A FNPM e a Sphan foram extintas em 1990 e estas duas
instutuições deram lugar ao Instituto Brasileiro de Patrimônio Cultural (IBPC).
Em 1994, a medida provisória número 610 autoriza os órgão de patrimônio a retornarem a
denominação anterior de Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Iutilizarem a sigla
IPHAN que ainda é utilizada até os dias atuais.
Em 4 de agosto do ano 2000 foi publicado o decreto número 3551 que regulamenta o registro de
bens culturais imateriais (intangible cultural heritage) que constituem o patrimônio cultural
brasileiro, podendo este registro ser realizado no livro dos saberes, aonde serão escritos os
conhecimentos e modo de fazer enraizados no cotidiano das comunidades ou no livro de registro
das celebrações, onde são escritos rituais, festas que marcam vivências coletiva de trabalho,
religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social.
O Brasil, um país de grande extensão territorial, possui muitas dificuldades para conservar seus
bens culturais. Para auxilia-lo, em 1995 o Ministério da Cultura do Brasil e o Banco Interamericano
de Desenvolvimento (BID) iniciaram tentativas para viabilizar um programa de preservação do
patrimônio Brasileiro.
No ano seguinte, o IPHAN elabora uma carta consulta ao BID, com a proposta de agir de forma
integrada nas cidades históricas protegidas pelo IPHAN, promovendo a restauração e a recuperação
dos bens tombados e edificações em áreas localizadas no projeto. Além da capacitação de mão de
obra especializada em restauração, formação de agentes locais de cultura e turismo, promoção de
atividades econômicas e programas educativos.
Desta iniciativa nasceu o programa Monumenta, que possui valor estratégico do Ministério da
Cultura brasileiro. Através deste programa realizado com o financiamento do BID e apoio da
UNESCO. Atualmente 26 cidades brasileiras de diversas regiões do país participam deste programa.
O mesmo realizou a conservação de vários conjuntos arquitetônicos do país; como a restauração das
cidades históricas de Olinda no estado de Pernambuco e Lençóis, no estado a Bahia. A conservação
de bens culturais arquitetônicos e museológico tiveram o seu ápice após a criação do SPHAN.
Esta preocupação não contemplou ao acervos documentais, que não receberam o mesmo
tratamento, já que o Brasil inicialmente somente se preocupou com a conservação do patrimônio
arquitetônico construido, fazendo parte deste as construções do período do Barroco. Sendo que
posteriormente este interesse foi extendido para outros bens culturais.
PERALTA (2005) descreve que os termos referente aos documentos arquivísticos aparecem
somente no decreto Lei número 3.365 de 21 de junho de 1941. Porém a preocupação com a
conservação de acervo documental, ocorreu apenas a partir de 1984 com a criação do Programa
Nacional de Preservação da documentação Histórica ou Pró-Documento.
A importância da preservação dos bens culturais abordada na Constituição do país publicada em
1988, se encontra descrito a seguir. O mesmo é uma extensão do texto já publicado na constituição
de 1937.
É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:III - proteger os
documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as
paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos`.
A partir da inclusão do acervo documental no texto da constituição de 1988, é publicada a Lei
número 8159 em janeiro de 1991, sendo esta considerada a principal da área de arquivologia no
país. Em seu primeiro capítulo está descrito que ´É dever do Poder Público a gestão documental e a
proteção especial a documentos de arquivos, como instrumento de apoio à administração, à cultura´,
com a publicação desta lei todos os bens culturais brasileiros passaram a ter lei para os mesmos
serem conservados. Porém, isto não significa que os mesmos são preservados de forma eficiente.
O Brasil é um país que possui dimensões continentais, possuido muitos bens culturais a serem
preservados. Apesar do país possuir legislação especifica descrevendo esta necessidade e
atualmente possuir grande crescimento econômico, não há recursos financeiros suficientes para
cuidar da conservação de todos os seus bens culturias e em algumas regiões do país não existem
profissionais suficientes para trabalharem com a conservação patrimônial, conforme descrição a
seguir sobre a formação dos profissionais desta área.
V - FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO CONSERVADOR-RESTAURADOR DE BENS
CULTURAIS NO BRASIL
O treinamento de técnicos na área de conservação-restauração de bens culturais no Brasil começou
no ano de 1980, quando a cidade de Ouro Preto recebeu da Organização das Nações Educacionais
científicas e Culturais (UNESCO), o título de patrimônio da Humanidade. Antes deste ano as
pessoas com interesses em trabalhar com conservação de bens culturais, se graduavam no país em
outras áreas do conhecimento e posteriormente, os mesmos iam realizar estágio técnico ou cursos
de pós graduação em países da Europa ou da América do Norte.
O reconhecimento da importância da arquitetura desta cidade foi realizado em 1933 quando a
mesma ganhou o título de monumento Nacional e na década de 1980 recebeu o título mundial de
cidade patrimônio da Humanidade, título fornecido pela UNESCO. Neste momento foi reconhecida
a importância de se preservar as contruções arquitetônicas desta cidade, para a mesma poder
continuar com o seu título recebido. No entanto, na cidade não existiam profissionais capacidados
para execurtar as obras de restauração arquitetônicas.
Para formar profissionais que poderiam trabalhar na restauração do conjunto arquitetônico da
cidade de Ouro Preto muitos destes profissionais ingressaram no curso de formação de
Conservadores-restauradores da Fundação de artes de ouro Preto (FAOP), que tinha iniciado sua
primeira turma no início da década de 1970 para qualificar profissionais para trabalhar em
conservação restauração. O curso da FAOP criado em 1968, integra em sua estrutura a escola Arte
Rodrigo Melo Franco de Andrade. Este primeiro curso de formação na área de conservação no
Brasil, teve logo como destaque o curso técnico em conservação e restauração de bens culturais.
O Segundo curso de formação na área de conservação no Brasil foi o do Centro de Conservação
e Restauração de Bens Culturais Móveis - CECOR, orgão complementar da Escola de Belas Artes
da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, este foi criado em convênio com a Secretária de
Planejamento de Presidência da República/SEPLAN. O objetivo do curso do CECOR era fornecer a
técnicos pós graduados e especializados na área de restauração e conservação de pintura, em
especial pinturas de cavalete esculturas em madeiras policromada e obras de arte sobre papel.
Ainda no ano de 1980 um grupo de pioneiros conservadores iniciaram a criação da Associação
Brasileira de Restauradores-Conservadores de Bens Culturais (ABRACOR). Esta Instituição de
classe ainda existe nos dias atuais. No Brasil, a ABRACOR. é importante instituição da área de
conservação, por ser a responsável pela disseminação de informações nesta área. Além disto, esta
organiza cursos na área de restauração e conservação de bens culturais e um congresso internacional
a cada dois anos.
A mesma inquietação que levou os profissionais conservadores-restauradores de bens culturais a
formarem a ABRACOR em 1980 durou por esta década e a seguinte, devido a necessidade de
terem esta profissão reconhecida. O reconhecimento profissional não ocorreu de imediato e este
ainda é uma luta atual desta classe. No entanto, esperamos que esta luta esteja em sua fase final, já
que o reconhecimento do profissional conservador-restaurador está em tranmitação no congresso
brasileiro.
No Brasil existem outras associações de classe nas áreas de conservação e restauração, como a
Associação Brasileira de Encadernação e Restauro (ABER). Além da ABRACOR os estados
localizados na região sul do país, sendo estes São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul, cada um possui a sua associação de classe destes profissionais.
Os cursos de conservação criados no país na década de 1970, FAOP e 1980, CECOR,
respectivamente, foram de formação técnica e de pós graduação, faltando no pais ainda um de
graduação que iniciram a partir da segunda metada dos anos 2000. Neste período, a instituição
universitária particular Universidade Estácio de Sá, sediada na cidade do Rio de Janeiro iniciou o
primeiro curso de graduação tecnológica em conservação e restauração de bens culturais
Anos mais tarde, várias Universidades federais de ensino universitário do país também iniciaram
cursos de graduação em conservação e restauração de bens culturais. Sendo estes iniciados pela
Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG no estado de Minas Gerais, posteriormente a
Universidade Federal de Pelotas-UFPEL, no estado do Rio Grande do Sul e a última a iniciar o
curso nesta área foi a Universidade Federal do Rio de Janeiro- UFRJ, localizada na cidade do Rio
de Janeiro.
A concentração de cursos de formação profissional na área de conservação na região sul e sudeste
do país, acarreta falta destes profissionais para trabalharem em outras regiões como, norte,
nordeste e centro oeste. Por isto, em muitas Instituições responsáveis pela guarda de bens culturais
destas regiões faltam profissionais qualificado para cuidar das condições adequadas de guarda dos
mesmos.
VI- POLÍTICA DE CONSERVAÇÃO DE ACERVO DOCUMENTAL
CIDADE DO RIO DE JANEIRO NOS ÚLTIMOS 40 ANOS
EMPREGADA NA
A conservação de acervo documental na cidade do Rio de Janeiro pode ser dividida em três
períodos distintos, sendo o primeiro entre as décadas de 1970 e 1980 . Neste periodo os materiais
utilizados na conservação e na restauração de acervos documentais eram inadequados, por serem
materiais adaptados dos produtos existentes no mercado nacional. Pocos produtos e procedimentos
utilizados em países europeus ou da Amércia do Norte eram conhecidos, e os poucos produtos
importados que aqui chegavam, possuiam preços muito elevado, restringindo seu uso nas ações de
conservação do patrimônio documental.
O principal papel empregado no país para fazer a laminação de acervos em suporte papel
deteriorado era o papel Mimo de 25 g/m2, fabricado pela Companhia Industrial de Papéis Piray.
Este papel era fabricado para ser utilizado na produção de papel carbono, na produção de papel
cópia em máquinas de datilografia e para ser utilizado no revestimento de filtros de cigarro.
Este papel foi utilizado até meados dos anos da década de 1990 na laminação de documentos
manuscritos com tinta metaloácidas que apresentavam avançado estado de degradação, na tentativa
de reduzir a perda de informação destes e os mesmos também eram empregados na laminação de
papel ácido frágil ou pulvurulento. O adesivo utilizado neste período era o adesivo a base de cola
de
amido.
Para o acondicionamento de acervos documentais o país ainda não possuia fabricação de papel
alcalino. Por causa disto os acervos documentais eram acondicionados com papéis ácidos. Já que o
papel alcalino só chega ao país por volta do inicio do ano 2000.
Nos anos da década de 1970 as Instituições da cidade do Rio de Janeiro que guardam acervos
documentais como o Arquivo Nacional do Brasil e a FCRB , receberam a visita da conservadora
européia François Friedler. A partir deste período os procedimentos de conservação utilizados na
cidade apresentaram modificações devido ao repasse de técnicas utilizadas na Europa como, por
exemplo, o uso de papel japonês e adesivos derivados da celulose, como por exemplo, o uso da
metil celulose na laminação de documentos. Além de aprofundamento nos procedimentos de
clareamento de papel.
No final destas década alguns conservadores destas cidade e os mesmos ainda estão em atividade
profissional até os dias atuais realizaram cursos no exterior e auxiliaram na mudança destas novas
metodologias utilizadas em países da Europa e América do Norte.
No início da década de 1990 o Arquivo Nacional do Brasil , localizado na cidade do Rio de Janeiro
teve a visita de Helmut Banza na época diretor do Bundesarchiv, na Alemanha. Novamente alguns
procedimentos de restauração de acervos documentais foram repassados já que estamos estudando
tecnologia para tingir fibras de celulose para ser utilizadas na reconstituição de áreas faltantes de
documentos.
O mesmo descreveu que já estávamos tão avançados que mais cedo ou mais tarde encontraríamos
esta metodologia. A partir desta visita desenvolvemos e utilizamos-la na reconstituições de áreas
faltantes. Substituindo os preenchimentos de realização de enxertos manuais por reintegração
mecânica. Possibilitando maior agilidade nas operações de conservação e aumento na quantidade de
acervos conservados. Além disto, estas técnicas resolveram o problema de focalização de tons na
microfilmagem de documentos.
Após intenso periodo de restauração de acervos documentais deteriorados, foi iniciado nas
Instituições que guardam bens culturais nesta cidade, o periodo da conservação preventiva, descrita
a seguir.
VII- POLÍTICA DE CONSERVAÇÃO PREVENTIVA REALIZADA NAS INSTITUIÇÕES
ARQUIVÍSTICAS E BIBLIOGRÁFICAS DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
A partir do final da década de 1990, a política mundial de restauração em massa desenvolvida por
diversos países, foi substituida pela política de conservação preventiva desenvolvida pelos
conservadores dos E.E.U.U.. a vantagem desta metodologia é a prevenção da deterioração de uma
coleção, a partir da momentop a conservação passou a ter maior visibilidade na que a restauração
de itens isolados.
O grande problema da conservação preventiva, realizada em países de clima tropical está na
ausência de metodologia para devolver a manuseabilidade dos acervos deteriorados destes países e
estes não são poucos. Já que, a mesma é realizada através da guarda de bens culturais em locais
com condições ambientais adequadas e a política de conservação preventiva não preve a realização
de restauração daqueles itns do acervo que se econtram em avançado estado de deterioraçãoção.
No Brasil, o patrimônio documental de várias instituições arquivísticas localizadas próximo a linha
do equador se encontram em avançado estado de deterioração, ocorrendo este problema,
principalmente nos estados da região norte e nordeste, e nestes a disponibilidade de conservadores
experientes é muito reduzida, conforme descrito anteriormente.
Isto ocorre neste local porque estes estados possuem elevados valores anuais de temperatura e
umidade relativa. Estas instituições arquivísticas possuem muitos ítens documentais constituidos,
principalmente, por manuscritos do século XVIII e XIX escritos com tintas ferrogálica.
A cidade do Rio de Janeiro formou há cerca de três anos um grupo de estudo , junto com a doutora
Milagros Vaillant, sendo este denominado de Projeto Carioca de conservação preventiva para
Instituições cariocas que guardam bens culturais.
O objetivo deste projeto é estudar condições para reduzir a biodeterioração destes na cidade do Rio
de janeiro. Fazem parte deste grupo profissionais da área de conservação das seguintes instituições
desta cidade: Arquivo nacional do Brasil; Museu de Astronomia e Ciências Afins- MAST; Arquivo
Público do estado do Rio de Janeiro- APERJ; Arquivo Histórico do Exército Brasileiro; Fundação
Casa de Rui Barbosa-FCRB; Fundação Bilioteca Nacional do Brasil; Fundação do Instituto
Oswaldo Cruz-FIOCRUZ; Centro de Conservação e Preservação de Fotografia e Centro de
Documentação da Fundação Nacional de Artes-FUNART.
No ano passado foi montado no Arquivo Nacional do Brasil um outro grupo de estudo entre os
conservadores junto com conservadores do Arquivo Nacional da Holanda, para estudar modelos de
caixas para acondicionar acervos em países com clima tropical.
VIII - CONCLUSÕES
A região tropical no mapa mundial engloba áreas de diversos continentes, sendo este clima o
encontrado em diversos países. Suas condições climáticas
são superiores aos índices
recomendados á conservação de bens culturais.
O Brasil levou quase um século para constituir os órgãos responsáveis pela conservação de bens
culturais. Inicialmente apenas as construções arquitônicas eram consideradas bens culturais com
necessidade de conservação, Posteriormente, esta necessidade foi estendida a todos os outros bens
culturais.
Antes da implantação dos cursos de graduação em conservação nas universidades do Brasil, os
conservadores inicialmente eram graduados em outras áreas do conhecimento para posterior
formação em instituições educacionais ou estágios realizados em países da Europa ou da América
do Norte. Atualmente no páis existem vários cursos de graduação e de pós graduação em
conservação de bens culturais. Estes abrangem apenas a área centro sul do país, deixando a região
norte com carência destes profissionais.
A partir de 1980 a conservação do patrimônio documental da cidade do Rio de Janeiro passaram por
grandes avanços metodológicos, sendo que atualmente a conservação preventiva para reduzir a
velocidade das reações de deterioração é a técnica mais utilizada pelas Instituições que guardam
bens culturais detas cidade. Atualmente estão sendo realizados importantes trabalhos visando a
conservação destes bens culturais.
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HOLLÓS, A. L. C. Entre o passado e o futuro Limites e Possibilidades da Preservação Documental
no Arquivo Nacional do Brasil. Tese de mestrado105 p.
Agradecimentos
As colegas de trabalho Cristiane Torrão e Lidia Cristina que contribuiram com revisão e trabução
para o inglês, respectivamente.
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Resumo em português