UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM MÍDIAS NA EDUCAÇÃO OSCAR COSTA DA SILVA FILHO ANÁLISE DE UM PROJETO DE EDUCOM: ESTUDO DE CASO NA RÁDIO ESCOLA CASTELO BRANCO Macapá 2012 OSCAR COSTA DA SILVA FILHO Matrícula 20111930207 ANÁLISE DE UM PROJETO DE EDUCOM: ESTUDO DE CASO NA RÁDIO ESCOLA CASTELO BRANCO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal do Amapá, como requisito final para obtenção do título de Especialista em Mídias na Educação, sob orientação da Profª.Msc. Raimunda Maria da Luz Silva Macapá 2012 OSCAR COSTA DA SILVA FILHO ANÁLISE DE UM PROJETO DE EDUCOM: ESTUDO DE CASO NA RÁDIO ESCOLA CASTELO BRANCO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal do Amapá, como requisito final para obtenção do título de Especialista em Mídias na Educação, sob orientação da Profª.Msc. Raimunda Maria da Luz Silva Data da aprovação:_____/____/_______ BANCA EXAMINADORA ________________________________________ Orientadora: Profª Msc. Raimunda Maria da Luz Silva - UNIFAP ________________________________________ Avaliadora: Profª Msc. Geysa D`Avila Arruda - UNIFAP _________________________________________ Avaliador: Prof. Msc.Rafael Wagner dos Santos Costa - UNIFAP Data da aprovação:_____/____/_______ MACAPÁ 2012 As opiniões expressas neste trabalho são da exclusiva responsabilidade do autor. AGRADECIMENTOS Ao Deus Pai Criador, que nos enviou o Mestre dos Mestres, Cristo Jesus, para construir um Reino de Amor e Justiça. Ao meu pai Oscar Costa da Silva (in memória) e minha mãe Raimunda Nonata, pelo dom da vida, por todos os ensinamentos, pelo amor e dedicação ao longo do meu viver. Aos meus filhos André Romero (futuro Psicólogo), Andreza Maria (Nutricionista), minha neta Tamily (Tatá), meu genro Alberto Júnior, amores eternos. À amada Josi Almeida, maior incentivadora, companheira educadora, especialista em Mídias e Tecnologias na Educação, e a nova família por todo o carinho e alegria. Aos meus irmãos e minhas irmãs, sobrinhos (as) e amigos (as) que sempre apoiaram meus projetos e sonhos de sempre aprender e crescer na vida profissional e pessoal. Aos meus tutores, em especial ao professor Marcos Mendes, por toda a interatividade na aprendizagem e no uso das novas ferramentas por uma educação de qualidade. À orientadora e professora Ray Luz, que iluminou com sabedoria a elaboração e todos os detalhes desta Monografia. A alma da Educomunicação é todo mundo aprender junto... O projeto “Calaboca já morreu”, a mais duradoura iniciativa de educomunicação realizada no país e que segue, desde a metade da década de 90, incentiva jovens e adultos a experimentarem o papel de comunicadores, aprendendo, sempre em conjunto, que a mídia é um bicho de muitas cabeças, todas pensantes, ativas e defensoras dos seus interesses e ideias. Grácia Lopes Lima RESUMO A presente monografia estuda um projeto de Educomunicação e analisa o caso da Rádio Escola Castelo Branco, que no decorrer de quase uma década não conseguiu avançar e acompanhar o desempenho de outros ambientes de aprendizagem que utilizam os recursos midiáticos e tecnológicos existentes no contexto escolar, como TV Escola, Sala de Cinema, Laboratório de Informática - LIED, data show em sala de aula. Desde o surgimento do rádio no Brasil foram desenvolvidas experiências históricas de ações educativas radiofônicas bem sucedidas, não só por meio eletrônico, mas também por veiculações em alto-falantes e sistemas de som interno, alternativas utilizadas até hoje para dinamizar e atualizar a comunicação escolar integrada aos demais projetos pedagógicos. Frente aos avanços das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), a escola pública não pode ficar para trás e precisa, cada vez mais, investir em projetos tecnológicos e na formação de orientadores de aprendizagem para coordenar a Rádio Escola, integrada às demais mídias, e gerenciar os meios para inserir – lá na Internet no formato de Rádio Web, ferramenta interativa de acesso ao conhecimento que vai muito além do espaço escolar e indispensável para o desenvolvimento da Educomunicação, uma nova área acadêmica que desponta como referência de planos e projetos educativos, que reúnem as TICs de forma convergente, tornando a educação verdadeiramente promotora de cidadania, de construção de uma rede comunicativa e democrática na escola e na sociedade. PALAVRAS-CHAVE: Educomunicação. Tecnologia. Rádio Escola. Rádio Web. Mídia. ABSTRACT This monograph examines a project Educommunication and analyzes the case of Radio White Castle School, which in the course of almost a decade and was not able to track the performance of other learning environments that use existing technology and media resources in the school context, as School TV, Cinema Room, Computer Lab - LIED, data show in the classroom. Since the advent of radio in Brazil were developed historical experiences of educational radio successful, not only electronically but also for placements in speakers and sound systems internal alternatives used today to streamline and update the school integrated communication to other educational projects. Forward to advances in Information and Communication Technologies (ICTs), the public school can not be left behind and must increasingly invest in technology projects and training of mentors learning to coordinate the Radio School, integrated with other media, and manage the means to enter - there on the Internet in the form of Web radio, interactive tool to access knowledge that goes far beyond school and indispensable for the development of Educommunication, a new academic field that is emerging as a reference plans and educational projects that bring together ICT in a convergent way, making education truly promoting citizenship, building a democratic and communicative network at school and in society. KEYWORDS: Educommunication. Radio School. Radio Web Media. Technology. SUMÁRIO INTRODUÇÃO......................................................................................................... 10 CAPÍTULO 1............................................................................................................ OS PRIMÓRDIOS DA COMUNICAÇÃO E DA RADIODIFUSÃO........................... 13 1.1 – DO ÂMBAR AO TELEGRAFO....................................................................... 13 1.2 - O TELEFONE, O MICROFONE E O ALTO-FALANTE.................................. 14 1.3 – O TELEGRAFO SEM FIO E O RÁDIO .......................................................... 15 1.3.1 – Um brasileiro genial: Padre Landel.................................................... 16 1.3.2 – As primeiras transmissões.................................................................. 16 1.4 – A RADIOFUSÃO............................................................................................. 17 1.4.1 – A radiofusão no Brasil......................................................................... 17 1.4.2 – O rádio no Amapá................................................................................. 19 1.5 - A RADIODIFUSÃO EDUCATIVA NO BRASIL............................................. 20 1.5.1 - As primeiras fases da radiodifusão educativa......................................... 21 1.5.2 - A radiodifusão educativa nas FMs............................................................. 23 CAPÍTULO 2............................................................................................................ ASPECTOS TEÓRICOS SOBRE A EDUCAÇÃO E A COMUNICAÇÃO............... 24 2.1 - A EDUCOMUNICAÇÃO.................................................................................. 25 2.2 - O RÁDIO NA DEMOCRATIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO............................. 28 2.3 - A COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL............................................................ 29 2.4 - PROJETOS DE CIDADANIA E EDUCOMUNICAÇÃO................................... 32 CAPÍTULO 3............................................................................................................ COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA........................................................................... 36 3.1 - RÁDIOS NAS PRAÇAS, RUAS E POSTES................................................... 37 3.2 - A VOZ DO NOVO HORIZONTE...................................................................... 39 3.3 - UM PROJETO LOCAL DE REPERCUSSÃO NACIONAL............................. 41 CAPÍTULO 4............................................................................................................ ESTUDO DE CASO DA RÁDIO ESCOLA CASTELO............................................ 45 4.1 - A TRAJETÓRIA DA RÁDIO CASTELO.......................................................... 47 4.2 - ANÁLISE DO PROJETO E FUNCIONAMENTO DA REC............................. 49 4.3 - A RÁDIO WEB GLOCAL................................................................................ 51 4.3.1 - Chico Terra........................................................................................... 55 4.3.2 56 A Escola Anchieta nas ondas do rádio e da web............................. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 59 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 63 ANEXOS ................................................................................................................. 65 10 INTRODUÇÃO O processo de ensino e aprendizagem nas escolas passa por profundas mudanças neste início de século XXI, não só em termos de novos conceitos e métodos, mas acima de tudo pelas transformações que ocorrem no acesso aos conteúdos e informações, cada vez mais disponibilizadas pelas tecnologias ao alcance dos diversos segmentos sociais. Ao mesmo tempo, cresce também a necessidade e as oportunidades de investimentos na implantação de projetos pedagógicos que possam utilizar as Tecnologias de Informação e Comunicação – TICs, como forma de inserir a escola nesta nova realidade midiática. Diante deste novo contexto o presente trabalho analisou e propõe o uso das ferramentas midiáticas e tecnológicas na prática escolar dentro de um projeto mais amplo, que norteia os procedimentos pedagógicos e incita uma reflexão sobre o papel das mídias na educação, especificamente neste caso aqui estudado. Entre os recursos eletrônicos e os diversos projetos midiáticos existentes na Escola Estadual Castelo Branco, como a TV Escola, Sala de Cinema, Laboratório de Informática (LIED), data show em sala de aula, etc, está inserido também a Rádio Escola Castelo (REC). A proposta pedagógica da Rádio é incentivar educadores e educandos a desenvolver uma linguagem interativa, produções participativas nas práticas educativas, facilitadas pelas técnicas radiofônicas, além de ser uma alternativa de construção de uma rede comunicativa democrática, onde as pessoas sejam respeitadas e reconhecidas por suas potencialidades e competências. Uma Rádio Escola não é apenas um sistema de som destinado a uma programação musical em um ambiente público, mas pode ser um instrumento de participação crítica e igualitária, que permite todos os segmentos que compõem a comunidade escolar a se expressar, discutir seus problemas e mediar diálogos que nem sempre são possíveis face a face. O rádio é considerado um veículo relativamente antigo comparado com os mais novos meios de comunicação, como a televisão, a internet, o celular etc. Mesmo assim, ainda não tem sido devidamente difundido na rede de educação 11 básica, no entanto, representa um instrumento rico em possibilidades e de grande abrangência, inclusive com a utilização da inovadora Rádioweb. Há quase uma década a Escola Estadual Castelo Branco conta com o Projeto Pedagógico Rádio Escola, mas este não consegue funcionar com a regularidade e a mobilidade que este tipo de projeto requer, mais precisamente nos intervalos das aulas, nos três turnos, seja pela falta de professores orientadores, como também por não haver uma grade de programação organizada, que possibilite a participação dos alunos e demais segmentos escolares. O fato é que todos os demais ambientes de aprendizagem, devidamente estruturados, são conduzidos por professoras especialistas, um em cada turno, com formação nos cursos de Mídias e Tecnologia da Educação. A Rádio Escola é o único ambiente que não tem continuidade em sua funcionalidade e diante desta problemática constatada na escola, o insucesso do projeto da Rádio. Este trabalho procurou conhecer, aprofundar e analisar as reais dificuldades enfrentadas quanto ao uso desta mídia, enquanto um projeto de Educomunicação. Com base em prévias observações, de fato a rádio não conseguiu alcançar os objetivos traçados. Por sua vez alguns alunos solicitaram ao menos uma programação musical e os recadinhos divulgados esporadicamente, sem perceberem a gama de atividades que poderiam ser realizadas por todas as tribos da escola. Estas e outras questões constataram a problemática existente na escola e estudada nesta pesquisa. Este estudo de caso objetivou integrar o conceito e ações da Educomunicação, a Educom, que transforma o simples receptor ativo em comunicadores criativos, oportunizando ao aprendente condições de vivenciar novos modos de fazer comunicação para conceber os alunos como sujeitos que necessitam ter à sua disposição chances variadas, para favorecer o processo de formação que melhor se adapte aos seus interesses, necessidades e possibilidades através das ondas radiofônicas, promovendo a emancipação dos jovens de forma criativa e responsável, estimulando a aplicação da linguagem oral e a linguagem escrita nos princípios da liberdade de expressão, da convivência fraterna e o respeito mútuo entre os agentes envolvidos. 12 Valorizar e realizar o projeto da Rádio Escola, tanto no âmbito analógico, o convencional sistema de som, quanto o digital, com todas as novidades e potencialidades da Internet, a rádioweb, estabelecendo propostas educativas, por meio de projetos interdisciplinares, que possibilitem o envolvimento de todos os professores e alunos na programação da rádio de forma interativa e atuante. Propor à escola em estudo e à Secretaria de Educação Estadual a nomeação do Orientador de Aprendizagem, professores capacitados para atuarem na Rádio Escola Castelo e também nas demais instituições de ensino da rede estadual, que apostam na mídia radiofônica, proporcionando espaços para a revelação de jovens educomunicadores, Este trabalho abordou um projeto de Educomunicação em uma das escolas mais tradicionais de Macapá, com mais de mil e quinhentos alunos dos ensinos Fundamental e Médio, por meio de uma pesquisa qualitativa que envolve opiniões da direção, coordenação pedagógica, orientadores dos ambientes de aprendizagem, professores, e um grupo de estudantes dos níveis Fundamental e Médio que já participaram de oficinas radiofônicas realizadas na escola. Esta pesquisa coletou dados qualitativos por meio de questionários, entrevistas, observações e outras fontes documentais. As análises das informações foram feitas por meio do método Fenomenológico, que aponta as razões do sucesso ou do insucesso do projeto estudado, com informações de interesse da comunidade escolar quanto ao projeto, e ao mesmo tempo apura a importância qualitativa da rádio para os diversos grupos de pessoas que pertencem à comunidade escolar Castelo Branco. Esta pesquisa envolveu pessoas consultadas por intermédio de instrumentos científicos adequados a investigar um fenômeno social e suas consequenciais diretas e indiretas no processo educativo, na vida cultural e social da escola e das pessoas. Para desenvolver uma prática pedagógica voltada para o uso do rádio e suas ferramentas, uma das possibilidades tem sido o trabalho por projetos. “Na perspectiva da pedagogia de projetos, o aluno aprende – fazendo, aplicando aquilo que sabe e buscando novas compreensões com significados para aquilo que está produzindo” (Prado, 2003). 13 Capítulo 1 - OS PRIMÓRDIOS DA COMUNICAÇÃO E DA RADIODIFUSÃO A comunicação é inerente ao ser humano, um dos fenômenos que percorre toda a história da humanidade, história essa que registra a utilização dos mais diversos recursos, meios e linguagens, desde os grunhidos, sinal de fumaça, som de tambores, veículos eletrônicos até as mídias globalizantes, que permitem hoje uma interação entre pessoas em pontos extremos do planeta e até interplanetária. A história da comunicação iniciou com os primeiros agrupamentos humanos primitivos, que começaram a se comunicar entre si pelos gestos, expressões faciais, sons, gritos, manifestações que já demonstravam certas intenções e tentativas instrucionais, mesmo que utilizasse uma linguagem inicialmente desorganizada, que foi avançando, que passou a exprimir idéias e as necessidades de registros das manifestações humanas. A palavra, mistério e redenção do homem, foi apenas o passo inicial de um itinerário infindo. Misteriosa quanto a suas origens, reconstituída só por conjectura, a palavra permitiu uma eficiente transmissão de conhecimentos de geração a geração, fazendo surgir grupos humanos homogeneizados por um acervo cultural comum (COSTELLA, 1984, p.12). O desenho de animais, plantas, sinais, traços rupestres encontrados até hoje nas paredes das cavernas, deixaram marcas de um período pré-histórico, que precedeu a invenção da escrita, mas evoluiu para a escrita pictográfica ou hieroglífica. Assim a humanidade começou a guardar lembranças, conhecimentos, informações transmitidas por ideogramas a outros grupos ao longo dos tempos, uma espécie de origem da comunicação à distância, tanto por meio da oralidade quanto por traços gráficos. Com a invenção do papiro, do papel, da imprensa de Gutenberg e outros meios de reprodução gráfica, o homem inventou também o poder da multiplicação e transmissão de conhecimentos acumulados por meio de livros, enciclopédias, jornais, revistas, impressos, permanentes fontes de pesquisas e de informações. 1.1 DO ÂMBAR AO TELÉGRAFO Outras descobertas e inventos foram fundamentais, ao longo da história, para a existência dos meios de comunicação. Uma das mais primordiais foi a 14 eletricidade, provavelmente percebida pelo homem, ao olhar o céu, vê um raio e perceber que dele vinha fogo. Por volta do século IV a.C, uma célebre experiência de Tales de Mileto com o âmbar amarelo, deu início a uma corrida de milênios: quando friccionado o âmbar atraia certos fragmentos. Âmbar em grego significa elektron ou 'as coisas cheias de deuses' para o povo da época de Tales. Por séculos e séculos o homem lutou para vencer as distâncias e usufruir de todos os benefícios do magnetismo e da eletricidade, por exemplo. As longas caçadas, os mensageiros dos reinos, os correios a cavalo dos Persas e do Império Romano, as grandes navegações mercantilistas, para citar algumas experiências históricas. Mas o Telégrafo, do grego téle=longe + graphein= escrever, foi uma das primeiras técnicas de comunicação à distância, inicialmente de forma mecânica, chamado Telégrafo Óptico, muito utilizado no século XVIII até a primeira metade do século XIX. Depois de muitas outras experiências, constatou-se que com o eletroímã era possível obter energia mecânica a partir da energia elétrica, ou seja, a partir daí a eletricidade poderia gerar movimento. “O eletroímã podia atrair uma haste metálica, disparar uma campainha, etc, transformando a energia elétrica em algo visível ou audível, perceptível, enfim, pelos sentidos humanos” (COSTELLA, 1984, p.115). Um dos nomes mais importantes da telegrafia dos Estados Unidos é o de Samuel Finley B. Morse, criador do Código de Morse, que combinava sinais elétricos mais intensos e menos intensos, traço e pontos, usados até hoje como sistema telegráfico mundial. 1.2 O TELEFONE, O MICROFONE E O ALTO-FALANTE Sem entrar no mérito de quem verdadeiramente fez funcionar a telefonia na segunda metade do século XVIII, atribuída oficialmente a Grahan Bell, um professor de surdos-mudos, ele sabia que a voz é resultado de um processo fisiológico e também mecânico, que poderia ser reproduzida artificialmente. O telégrafo elétrico era um convite ao telefone, pois se os fios conduziam sinais em código, por que não poderiam transmitir sons complexos, perguntavam os engenheiros daquela época? 15 Bell e seus auxiliares criaram um aparelho composto de um eletroímã, uma haste e um tambor. A haste presa em uma das extremidades que tinha a outra ponta livre, apoiada sobre a membrana do tambor. Falando-se junto ao tambor, a membrana vibrava e transmitia sua vibração à haste. Os tambores que emitiam e transmitiam a voz por telefone foram aperfeiçoados por Thomas Edison e assim estavam criados também o microfone e o alto-falante, hoje dois equipamentos altamente sofisticados, indispensáveis nas transmissões radiofônicas e em outras incontáveis ferramentas eletrônicas e digitais. No entanto, a telefonia desfruta de uma presença tão marcante no quadro histórico dos engenhos elétricos de comunicação, que se torna impossível omiti-la. O telefone representa uma das principais etapas evolutivas desses engenhos. (COSTELLA, 1984, p.135). 1.3 O TELÉGRAFO SEM FIO E O RÁDIO O raio observado há milênios foi uma pista decisiva para Michael Faraday, balconista de livraria nos Estados Unidos, constatou que o raio, fenômeno da natureza, era uma faísca elétrica, e admitiu a propagação da eletricidade pelo ar, independente de um condutor sólido. Ele comprovou que a corrente elétrica pode sair de um corpo, saltar no vazio e entrar em outro corpo por aproximação ou indução. O escocês James Clerk Maxwell (1831-1879), brilhante matemático, formulou equações sobre as linhas de força de um campo magnético. Completando Faraday, demonstrou que a luz é uma forma de radiação eletromagnética. Maxwell explicou que não só a luz, mas quaisquer ondas elétricas podem propagar-se. Maxwell anunciou ao mundo a existência das ondas eletromagnéticas, ondas que ele não via, mas sabia estarem ao seu redor, em toda parte (COSTELLA, 1984, p.148). Em 1888, o alemão Heinrich Hertz construiu um equipamento com o qual confirmou a existência das ondas eletromagnéticas, denominadas ondas hertzianas. A primeira forma de utilização das ondas eletromagnéticas foi para o telégrafo sem condutor, o telégrafo sem fio. Como ocorre com quase todos os inventos, sempre aparece alguém para melhorar e aproveitar idéias anteriores, como fez o italiano Guglielmo Marconi, considerado o inventor do rádio, criou antes o telégrafo elétrico. Acusado até de bruxaria, após muitas tentativas, em 1898 consegue fazer a primeira transmissão marítima de um barco inglês, o primeiro SOS da história, que inaugurou 16 este tipo de mensagem tão importante para a segurança da navegação e para a comunicação mundial. 1.3.1 UM BRASILEIRO GENIAL: PADRE LANDEL A história da telefonia e da radiodifusão ressalta o nome de um brasileiro que estudou em Roma e de volta ao Brasil em 1886, ordenado padre, desenvolve experiências com a esperança de construir aparelhos para transmissões à distância. “Dai-me um movimento vibratório tão extenso quanto a distância que nos separa desses outros mundos que rolam sobre nossa cabeça, ou sob nossos pés, e eu farei chegar minha voz até lá” (COSTELA, 1984, p. 156). Muito antes de Marconi, padre Landel de Moura fez experiências de transmissão em São Paulo, mas por ser sacerdote seus próprios fiéis, escandalizados com o padre “espírita”, invadiram seu laboratório e quebraram todos os seus equipamentos. Mesmo assim, em 1900 obtém uma patente de invenção no Brasil e no ano seguinte viajou para os Estados Unidos onde requereu diversas patentes: telefone sem fio; telégrafo sem fio e um transmissor de ondas. Depois de muito esforço e gastar todas as suas economias, consegue o reconhecimento oficial de seus inventos, entretanto, ao retornar ao Brasil não consegue o reconhecimento merecido. 1.3.2 AS PRIMEIRAS TRANSMISSÕES O início do século XX marcou a propagação da telegrafia sem fio, ou seja, a utilização das ondas eletromagnéticas para a transmissão de telegramas de pessoa para pessoa, com o uso do convencional código Morse. Somente duas décadas depois surge a radiodifusão. As invenções da válvula e de outros componentes, além de melhorar a telefonia e a telegrafia, permitiram diversos testes de transmissão à distância da voz humana e sons de instrumentos musicais, porém a explosão da I Guerra Mundial, em 1914, direciona as experiências com a radiodifusão para fins bélicos. Nos aviões de combate norte-americanos o rádio já estava a serviço da aeronáutica. No pósguerra a explosão é outra, as primeiras emissoras experimentais são instaladas nos Estados Unidos. “Poucas realizações humanas lograram sucesso tão rápido e êxito 17 tão retumbante quanto a radiodifusão. Em apenas uma década conquistou todas as regiões civilizadas do globo” (COSTELLA, 1984, p.172). 1.4 A RADIODIFUSÃO Uma das primeiras emissoras norte-americanas a entrar no ar em 1920, foi a KDKA, que cobriu a eleição presidencial da época. Logo depois outras começaram a organizar programações com músicas orquestradas, notícias e palestras, isso mesmo, palestras e conferências via rádio, com finalidades educativas e culturais, sempre com patrocínio de grandes jornais, muitos dos quais montaram estações de rádio. A direção da rádio “Atlanta Journal” apostava na estratégia de aumentar a venda de jornais, além de demonstrar que a notícia falada e rápida seria um incentivo para a procura de informação escrita, mais bem elaborada. A vontade de instalar rádios em ambientes particulares e para grupos, como no caso de escolas, abordado neste trabalho, vem desde o advento da radiodifusão. Era como um feitiço. Essa magia era responsável pela sobrevivência das primeiras emissoras, pois o escasso púbico ouvinte constituía-se de fanáticos. Os aparelhos receptores raramente eram comprados. Montava-se em casa. Um cristal de galena, um par de fones, uma bobina enrolada sobre um rolete, alguns pedaços de fio e pronto, estavam criados o receptor e o fiel ouvinte. Mais ainda, alguns desses amadores acabaram por se reunir e, em grupo, instalaram emissoras (COSTELLA, 1984, p.169). 1.4.1 A RADIODIFUSÃO NO BRASIL Em 1922 o rádio chegou ao Brasil trazido por uma empresa americana para uma exposição comemorativa do Centenário da Independência, na capital Rio de Janeiro. Um transmissor de 500 watts foi instalado no alto do Corcovado e transmitiu músicas para 80 aparelhos receptores espalhados pela exposição e outros locais da cidade. Muitas pessoas ouviram o discurso do Presidente da República, Epitácio Pessoa, no dia 7 de setembro, e nos dias seguintes, o som de óperas, mas encerrada a exposição terminaram também as transmissões radiofônicas. 18 Somente em abril de 1923 a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro foi instalada definitivamente com o prefixo PRA-2, sediada na Academia brasileira de Ciências, uma vez que seus fundadores foram o antropólogo Roquete Pinto e o astrônomo Henry Morize, que a partir desta experiência pensaram em uma rede de rádios educativas espalhadas por todo o país. Várias emissoras foram sendo instaladas por todos os estados, com o apoio de governos, prefeituras, associações, com os mesmos princípios de Roquete Pinto. Por isso é possível afirmar que a radiodifusão foi implantada no País com objetivos educacionais. 90 anos após a chegada do rádio no Brasil muito se discute sobre o rádio educativo, inclusive com o rádio dentro da escola e a escola nas ondas do rádio. A Revolução de 1930 e as decisões de Getúlio Vargas deslancham a industrialização no Brasil, principalmente na área têxtil, com a radiodifusão contribuindo diretamente no processo de passagem de um Brasil-rural para um Brasi-urbano. A emissora que primeiro provocou mudanças na linguagem e formato radiofônico foi a Rádio Record, de São Paulo, que concebeu um novo modelo de programação. As mudanças sociais e econômicas pelas quais passava o país começaram a influenciar também os programas radiofônicos, que passaram a ser previamente organizados e redigidos por profissionais de outras áreas, tais como jornalistas, teatrólogos, publicitários, etc. A escolha musical foi passando das sinfonias e das óperas, tão caras à elite, para agradar ao maior número de pessoas. Assim surgem os primeiros ídolos do rádio: Chico Alves, Carmem Miranda, Orlando Silva, Mário Reis, Silvio Caldas, Aracy de Almeida. A linguagem radiofônica, aos poucos se popularizando, ficando mais coloquial, mais direta, de fácil entendimento. A década de 1950 trouxe mais uma novidade eletrônica, a televisão, mas o que seria uma ameaça ao sucesso do rádio, fez com que a caixinha mágica ganhasse características e força regional. “O regionalismo é uma marca fundamental do rádio, pois oferece visibilidade às informações locais. Esse princípio dinamiza as relações entre rádio e comunidade” (BARBOSA FILHO, 2003, p. 46). 19 1.4.2 O RÁDIO NO AMAPÁ O Território Federal do Amapá foi criado em 13 de setembro de 1943, desmembrado do estado do Pará. O primeiro governador do Território, Janari Nunes, começou a radiodifusão amapaense, primeiro com a instalação de um serviço de alto-falante nas praças Barão do Rio Branco e da Igreja Matriz de São José, atual Veiga Cabral, para a divulgação de músicas, notícias e outras informações de interesse da população apresentadas pelo diretor de imprensa e propaganda do governo territorial, Paulo Eleutério Cavalcanti de Albuquerque. O estúdio funcionava no prédio da antiga Intendência, atual Museu Joaquim Caetano da Silva. O governador do Território também conseguiu um espaço na Rádio Club do Pará, a PRC-5, no horário da noite, para a divulgação de notícias do Amapá, em virtude da grande audiência da emissora paraense na região. Em 4 de julho de 1945, uma quinta feira, entrava no ar o primeiro programa sobre o Amapá para toda a Amazônia. Enquanto isso o governo do Território articulava politicamente a criação de uma emissora local. Em 15 de dezembro de 1945, o Jornal do Amapá publica o convite para a inauguração da rádio Difusora de Macapá, a voz mais jovem do Brasil, operando inicialmente com equipamentos de 250 watts, na freqüência de 1.660 kilohertz, em ondas médias de 205.5 metros” (LOUREIRO et al, 2002, p.18). A Difusora está no ar há 67 anos. A segunda emissora de Amplitude Modulada (AM) instalada na capital do Território foi a Rádio Educadora São José de Macapá, em 1968, pertencente à Prelazia, muitos dos equipamentos foram trazidos da Itália pelo bispo da época, Dom Aristides Piróvano, do Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras (PIME). A Educadora saiu do ar em 1978 e foi vendida ao empresário José de Matos Costa, o Zelito, que mudou a denominação da emissora para Rádio Equatorial, no ar até hoje, integra o grupo de comunicação do empresário, que possui também a rádio de Frequência Modulada (FM) 94,5 e a TV Equatorial, canal 8, atualmente retransmissora da Record News. Em meados dos anos 80 funciona a primeira emissora FM, a Nacional, pertencente à Radiobras. Alguns anos depois foi vendida a empresários locais e continua no ar com a sintonia 102,9, Antena FM, administrada pelo grupo Beija-flor, 20 da família Borges, que detém também o controle de diversas rádios comerciais e comunitárias. O Amapá conta hoje com seis emissoras AM, três em Macapá, uma em Santana, outra em Mazagão e uma no município de Oiapoque. Só na área metropolitana Macapá-Santana são 10 rádios FM, além das dezenas de emissoras comunitárias em funcionamento nos diversos municípios. Outras emissoras FMs estão prestes a entrar no ar, em Macapá, a Rádio Senado, de responsabilidade da Assembleia Legislativa, a Educadora São José, 100,5, da Diocese de Macapá, e a da Universidade Federal do Amapá- Unifap, que inclusive já funcionou em caráter experimental, na freqüência 96,9, e até agora não implantou uma programação permanente. Por várias vezes a Rádio Escola Castelo, pesquisada neste trabalho, reproduziu a programação musical da FM da Unifap, de alta qualidade técnica, que tocava MPB, músicas regionais e instrumentais. Várias emissoras FMs do Amapá receberam a concessão e foram autorizadas a funcionar como rádio educativa, mas acabam sendo mais comerciais ou de programação totalmente religiosa ou só de entretenimento, reproduzindo uma programação padrão em quase todas elas, sem destinar espaços para programas mais informativos e formativos. 1.5 A RADIODIFUSÃO EDUCATIVA NO BRASIL O rádio surgiu com imenso potencial educativo, um discurso que acompanha toda a história do rádio brasileiro, reforçado pelas dimensões continentais do Brasil, ganhou contornos ainda mais intensos em razão das múltiplas realidades do país, marcadas pela exclusão e gritantes diferenças sociais que até hoje continuam a desafiar governos e sociedade. O rádio inclui a todos: o letrado e o analfabeto, o pobre e o rico, o jovem e o idoso, a mulher e a criança... Na programação, por mais segmentada que seja, o rádio inclui a música, a publicidade, os vários formatos do jornalismo, a educação, o esporte, a cultura, a prestação de serviços... O rádio inclui tudo, o local e o global. Tudo cabe no rádio!”(PIOVESAN, 2004, p.36) O rádio educativo tem a idade do próprio rádio no Brasil, sempre com o compromisso de melhorar a vida do povo e mudar a história do país. O rádio brasileiro nasceu educativo e cultural, pensado antes de tudo e de todos por um educador nato, Roquete Pinto, conhecedor do interior do país, das brenhas da selva 21 amazônica, de onde vislumbrou o potencial de uma tecnologia que começava a engatinhar. Passado o momento histórico da primeira transmissão pública na comemoração do centenário da independência, chegava a hora de concretizar um ideal: fundar uma rádio com transmissão regular. O sonho de Roquete era uma rádio com fins científicos e sociais, vinculada à Academia Brasileira de Ciências. E assim no dia 20 de abril de 1923, na escola Politécnica do rio de Janeiro foi fundada a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a PR-1-A, que serviu de base para o uso massivo de um meio massivo de comunicação como instrumento real e efetivo de cidadania e educação para um País de tantos contrastes, quase um ato de subversão, transgredindo a legislação em vigor. A Rádio Sociedade do Rio foi uma espécie de pioneira das rádios piratas, abrindo as portas da legalidade para que no Brasil o rádio fosse livre, desde os momentos iniciais de sua história. 1.5.1 AS FASES DA RADIODIFUSÃO EDUCATIVA A fase pioneira do rádio estende-se de 1923 a 1928, com a criação das radioescolas, com aulas de português, francês e esperanto; de história do Brasil, geografia, física, química, história natural e higiene; cursos profissionalizantes de radiotelegrafia e de silvicultura prática e um jornal lido pelo próprio Roquette Pinto. Poesia e música também completavam a programação. Em 1927 chegava a 30 mil o número estimado de receptores. No ano anterior ele propunha no plano “Radioeducação do Brasil” a criação de um sistema para “dar ao homem do povo o seu radioescola e duas novas emissoras são criadas, uma do então Distrito Federal e outra em Recife. “Nessa fase, sem nenhuma dúvida, o rádio só existia em sua expressão educativa, seja configurado na radioescola municipal,seja no fazer diário da programação oferecida pela pioneira Rádio Sociedade do Rio” (BLOIS, 2004, p. 150). A segunda fase do rádio educativo, entre 1929 e 1940, consolidou a ideologia inicial com a implantação das radioescolas e a criação das primeiras redes educativas, ao mesmo tempo em que se define atuação e os caminhos da radiodifusão, que começa a configurar o modelo “radio escola” com a instalação da PRD-2, a Radioescola Municipal do DF e pela paulista Rádio Educadora, em 16 de 22 maio de 1932, entra no ar o pioneiro programa de ginástica eletrônica, A hora da ginástica, com o professor Oswaldo Diniz Magalhães. Na rádio escola do DF, Roquette Pinto oferece cursos com apoio de material impresso, no primeiro sistema de multimeios em educação à distância no País, voltado para preparar professores para o uso do veículo, como meio auxiliar da prática pedagógica escolar. Em 1933 foi formada a primeira cadeia de rádio, constituída por seis emissoras do Rio de Janeiro, transmitindo diariamente o programa Quarto de hora, da Comissão Rádio Educativa, com o slogan “Trabalhar pela cultura dos que vivem em nossa terra e pelo progresso do Brasil”, do professor Roquette. Em 1936, não podendo mais mantê-la apenas com doações, Roquette doa a emissora para o então Ministério da educação e saúde. Ainda nos idos de 1933, em São Paulo,numa garagem de propriedade de Cândido Fontoura, o Tio Candinho, surge a DKI, Rádio Cultura, a Voz do Juqueri, como “pirata” fica no ar até ser inaugurada e, 16 de julho de 1936, sendo incorporada trinta e TRE anos depois a Fundação Padre Anchieta. Na década de 30 já são 16 emissoras em São Paulo, mas uma rede marcada por fins educativos (BLOIS, 2004, p.152). Diante das dificuldades enfrentadas pelas rádios sociedade e clube, o governo Federal passa a ver e ter o rádio como meio de levar educação e cultura ao povo e investe na radiodifusão, iniciando uma terceira fase que ocorre entre 1941 e 1966, período em que nascem as Universidades do Ar no Rio e São Paulo, para atender o professor leigo de todo o país, pelas ondas da grande potência de uma rádio, que cobria com seu som grande parte do território brasileiro, a Nacional. 800 alunos iniciaram o curso, e dois anos após somente 286 concluíram a capacitação. É nessa terceira fase também que a Igreja Católica contribuiu ainda mais com a interiorização do rádio para fins educativos e sociais na região Nordeste, com o objetivo de levar cidadania e visão política ao homem do campo. Foi o Serviço de Assistência rural (SAR), do Rio Grande do Norte, que lançou em dezembro de 1949, as bases de um trabalho assistencial à população do interior, passando informações referentes à área agrícola, noções de higiene e programas educativos. Em 1958 foram instaladas 141 escolas radiofônicas com a missão de formar uma consciência política e alfabetizar adolescentes e adultos. Nesse contexto a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) cria o Movimento de Educação de Base (MEB) e fortalece o uso do rádio ao utilizar a rede de emissoras católicas, do MEC e de 23 outros organismos, com o aval do governo Federal, que dá apoio financeiro à CNBB. O projeto cresce na Bahia e em outros estados nordestinos. Entre 1962 e 1967 o governo lança mão de uma nova tecnologia radiofônica, a Frequência Modulada, e reserva 20 FMs para fins educativos. Em 1964, no então estado da Guanabara, é feita uma experiência de escolas radiofônicas para o ensino supletivo, direcionado à clientela em hospitais, presídios, favelas, atendendo 10 mil e 300 alunos, uma das fases mais consistentes de utilização do rádio na construção e exercício da cidadania. “Infelizmente, após 1964 passa a ser vista com reservas pelo governo militar, principalmente as reuniões comunitárias de conscientização fortemente políticas. Ao MEB cabe, com certeza, a maior expressão dessa utilização do rádio” (BLOIS, 2004, p.157). A quarta fase compreende o período de 1967 a 1979, marcado por ações centralizadoras de utilização pelo estado militar para fins educativos por meio de fundações no Sul, em São Paulo e outras regiões, além da criação de emissoras OM (Ondas Médias), OC (ondas Curtas) e FM. Todas as emissoras comerciais são obrigadas a transmitir programas educativos do MEC e vários projetos são criados, desta vez tanto para o rádio quanto para a TV: o Minerva; Saci; Supletivo de Primeiro Grau à distância, o Sumaúma, na Amazônia, Mobral, são alguns dos principais projetos de teleducação desta fase. 1.5.2 A RADIODIFUSÃO EDUCATIVA NAS FMs Em 1975 é criada a Radiobras e instala-se um impasse entre MEC e MINIcom por causa da transferência de patrimônios. A Difusora de Macapá passa a ser Rádio Nacional, administrada pela da Radiobras. A censura também entra nas rádios educativas e a ordem era dar suporte educativo ao “milagre econômico brasileiro”, por meio de programas em horário único, após a Hora do Brasil, depois a Voz do Brasil. A quinta fase inicia em 1979 com a inauguração de FMs educativas, com novos espaços educativos e o curso Supletivo de 2º Grau, via rádio, pela Fundação Padre Anchieta para rádio e TV, com a denominação de Telecurso de 2º Grau e material impresso pela Fundação Roberto Marinho e Universidade de Brasília. Para atualizar as técnicas de extração da borracha foi criado o projeto Seringueiro, para o Acre e toda a Amazônia, transmitida por emissora OC. 24 Em meados dos anos 1980 alguns projetos para rádios educativas foram bem sucedidos, entre estes, a Rede Esporte para Todos, exercícios físicos pelo rádio, A caminho da Constituinte, a série Encontros com Paulo Freire, com a participação do próprio educador, gravados na residência de Freire e nos estúdios da Cultura, com cópias em cassete remetidas para várias universidades, rádios e secretarias de educação. A sexta e atual fase, na visão da radialista e pesquisadora Marlene M. Blois, tem início em 1995 com o compromisso de radialistas e comunicadores com a educação, incluindo a contribuição das rádios comunitárias e o uso da Internet, não só para a interação com o público, mas para oferecer programação; o rádio evolui agora sem fronteiras, está na Web e esta nas rádios educativas, universitárias e também as comerciais seduzidas pelas novas tecnologias. De acordo com Blois (2004), o Brasil conta hoje com o segundo maior parque de radiodifusão mundial, o que torna o brasileiro um alfabetizado global. O rádio constituiu a primeira manifestação tecnológica de uma realidade virtual no cotidiano das pessoas e também na educação. Capítulo 2 - ASPECTOS TEÓRICOS SOBRE A EDUCAÇÃO E A COMUNICAÇÃO O século XXI traz mudanças que desafiam as formas tradicionais de sentir, pensar e reagir à vida frente às transformações que ocorrem em todas as áreas, com maior evidência para a revolução tecnológica e midiática na comunicação e seus efeitos no campo de uma educação atualizada e capaz de desenvolver habilitantes, novas ações de inclusão, participação e produtividade. Segundo a pesquisadora Costa (2011), há muito que o processo de educação não se resume mais à instituição escolar, às atividades pedagógicas, à capacidade de obter e gerenciar informações, de fato, a educação hoje é muito mais que isso, ela possibilita o desenvolvimento de múltiplas habilidades nas mais diferentes circunstâncias, torna o ser humano cada vez mais flexível e adaptativo, desenvolvendo e explorando competências e potencialidades nas mais diferentes situações. 25 Uma educação permanente, institucional e não institucional, formal e não formal, particular e universal, individual e coletiva, voltada para o sentir e para o fazer, para o pensar e para expressar, que tem como objetivo primordial nos fazermos mais humanos, enxergando a vida de forma mais completa, com suas peculiaridades e nuances ( COSTA, 2011, p.9). Entre as múltiplas possibilidades educativas, a comunicação está entre as mais importantes ações humanas, tanto no âmbito da escola quanto da sociedade. O professor e comunicador Marques de Melo ressalta, em recente artigo científico, o que considera um conceito histórico de comunicação: Em seu livro História e consciência social (São Paulo: Global, 1982), Basbaum defende a tese de que a comunicação representa um fator de equilíbrio da vida em sociedade, neutralizando o ímpeto dos homens, na medida em que instaura o diálogo e pode conduzir ao entendimento entre comunidades ou nações em conflito (MELO, 2011, p.17). É cada vez mais importante entender o atual fenômeno midiático porque o mundo vive hoje a chamada Era da comunicação, e mais que isso, o tempo da informação e do conhecimento, numa sociedade considerada pós-moderna, que exige, entre tantos outros desafios, uma educação à altura das necessidades desta nova realidade, em particular para os educadores e comunicadores, uma intensa busca da eficácia de seus espaços educativos e comunicativos. Nos últimos 20 anos, os campos de pesquisa em comunicação e educação têm se restringido, sobretudo, a esses três itens: a mediação tecnológica na educação, a educação para a comunicação, a reflexão epistemológica e menos no campo da gestão da comunicação nas escolas, porque isso exige muita competência na área de planejamento estratégico e no plano participativo (RESENDE, 2003, p.155). 2.1 A EDUCOMUNICAÇÃO Segundo o professor Soares (2003), a primeira tarefa nas escolas seria a elaboração de um diagnóstico das carências de comunicação interna e depois, uma assessoria para leitura crítica do uso das mídias no ensino. A Lei de Diretrizes e Bases estabelece que as comunidades escolares devam definir os seus objetivos, as suas metodologias, e organizar tudo isso dentro de projetos educativos e de propostas pedagógicas. 26 A pesquisa, nesses projetos político-pedagógicos, visa verificar quais objetivos de comunicação interna se encontravam escritos, exarados nos projetos educativos daquelas escolas, que conteúdos de comunicação interna estavam em falta ou em excesso nesses projetos educativos. Oliveira propõe ainda que a educação de agora exija uma prática tradicional que vem das comunidades de base do Brasil, do movimento popular, chamada mutirão. De fato, comunicação e educação andam se cruzando, mas cada uma segue seu caminho, sempre carregado de preconceitos e rejeições em relação à outra. No caso, a comunicação subestima, desvaloriza ou subvaloriza a educação. Existe uma distância acentuada entre os meios de comunicação e a educação, como parte do projeto da economia liberal e da sociedade atual, que determina para a comunicação uma série de missões no campo do entretenimento, da promoção do próprio comércio e da vida social. Já à educação cabe outra missão, a de sistematizar o conhecimento e de preparar mão-de-obra para que a própria sociedade se desenvolva. Na verdade a comunicação sempre olhou para a educação e de vez em quando se cruzaram, mas parece que nada de mais importante aconteceu, por outro lado já é possível afirmar que essa relação está mudando e apresentando idéias inovadoras. Por falta de uma nomenclatura mais precisa, esta aproximação está sendo chamada de Educomunicação, ou Educom, assim como existe a Psicopedagogia. A educação tradicional e a comunicação tradicional não conseguiam dialogar entre si, em razão dos fortes preconceitos, as resistências que não possibilitavam o diálogo, mesmo nos encontros provisórios em que o campo comunicacional prestava serviços para a educação, a exemplo das rádios e TVs Educativas em que educadores já utilizavam recursos midiáticos. Na verdade, uma nova cultura está sendo gerada com a quebra de toda uma perspectiva idealizada pelo Iluminismo nos séculos XVIII e XIX. É a passagem entre a modernidade e a pós-modernidade. As novas condições de vida das pessoas, as novas descobertas das relações sociais, as possibilidades das tecnologias, os avanços da sociologia apontam uma nova praça de convívio, chamada Educomunicação. E, no caso, é uma praça que vai buscar elementos dos vários campos (SOARES, 2003, p.162). 27 É preciso refletir sobre essa relação comunicação/educação, para que possam ser superados os lugares comuns, porque quando ocorre a entrada nesse campo, o objetivo é fazer com que as pessoas percebam outros ângulos do processo de produção da cultura. As tecnologias estão chegando e é preciso descobrir como utilizá-las para produzir cultura e educação. É possível afirmar que um novo campo está emergindo: ...Pude perceber isso com uma pesquisa que o nosso núcleo de comunicação e Educação realizou na América Latina. Entrevistamos 172 especialistas de 12 países e conseguimos chegar a um perfil desse educomunicador. Fui aos EUA, na perspectiva de encontrar um país altamente tecnicizado e lá, descobri resistências culturais. E descobri que o novo campo está emergindo não só na prática. Especialmente dos que estão trabalhando com multiculturalismo, trabalhando com tecnologias e colocando-as nas mãos das crianças. Mas também teoricamente há autores que já afirmam que esse novo campo está aparecendo (SOARES, 2003, p.162). Comunicadores e educadores devem estar mais juntos, refletir sobre novas práticas que estão surgindo e favorecer formas de dialogar com sistemas educacionais para implementar esta nova realidade. É preciso incentivar as escolas para que façam a revisão dos seus processos comunicacionais internos, analisem as relações culturais que se processam no espaço de uma comunidade através da arte e que descubram dentro dessa perspectiva, como trabalhar a globalização da economia e a mundialização da cultura. E, quem sabe, se esse processo se iniciar com as crianças, a comunicação se realize. “Quando falo de educomunicação para professores e comunicadores, alguns torcem o nariz, acham que é mais um neologismo que está parecendo. Mas é uma prática que poderia mudar a prática da comunicação e a prática da educação” (SOARES, 2003, p.163). Além de conceituar e sistematizar a Educomunicação cabe outro questionamento: E quem é o educomunicador? Para Soares (2003) é uma pessoa que constrói suas referências a partir de suas práticas na comunicação ou na educação, e a partir de uma grande reflexão teórica, que fala da democratização das relações sociais e de uma relação dialógica entre as pessoas. “E, por isso, a nossa grande meta é a democratização da comunicação em nível global. Queremos interferir nas políticas de comunicação de nosso país e do mundo. E, nesse sentido, é que algumas iniciativas têm sido encaminhadas” (SOARES, 2003, p.163). 28 Um exemplo histórico vem da reforma da Constituição atual, quando foi criado o Conselho Nacional de Comunicação, que até hoje não foi efetivado. Um dos propósitos das instituições que defendem esta ideia, entre elas a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e União Cristã Brasileira de Comunicação (UCBC), é fazer pressão para que se crie esse conselho e que ele seja uma espécie de participação pública nos processos de comunicação e nos meios de comunicação do país, porque continuam sem nenhum controle da própria sociedade. Por outro lado, existem também perspectivas de interferência e participação nas políticas de comunicação do país, a partir do momento em que a legislação permite e abre espaços para criação de rádios educativas e de TVs para a área educacional. ...A educomunicação é, essencialmente, uma aliança entre o povo da comunicação e o povo da educação, mas não só o povo enquanto profissional, mas também os proprietários de meios de comunicação são chamados a esse diálogo. E, na verdade, há uma grande sensibilidade a isso (SOARES, 2003, p. 165) 2.2 O RÁDIO NA DEMOCRATIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO O caráter dialógico da comunicação é uma proposta dos meios de comunicação, considerado que o receptor compreende o que foi dito e essa compreensão é vista como uma forma de resposta, de acordo com o entendimento do lingüista Bakhtin (1995). O rádio é visto como veículo interativo, pois a produção da mensagem é orientada para alcançar os receptores, mesmo que o público ouvinte não consiga interferir diretamente no conteúdo radiofônico. Na década de 60 o Movimento de Educação de Base (MEB) utiliza a força multiplicadora e a popularidade do rádio para deslanchar um dos maiores projetos de alfabetização do Nordeste e do Brasil. O rádio à pilha é uma referência histórica nesse percurso, com amplo poder de penetração nas áreas rurais – grande parte sem acesso à energia elétrica -, além de ser um veículo com baixo custo em relação à instalação de escolas, torna-se o principal meio de comunicação a ser utilizado pelo MEB a favor da educação (GOMES, 2011, p 39). O MEB não se restringiu à alfabetização, mas também à um projeto de educação mais amplo e consistente com a transmissão de valores, promoção 29 humana, estímulo a reflexão e informações para despertar do nível de consciência crítica de cada pessoa na transformação de seu meio natural, econômico e social. O pesquisador Padilha (2003) estudou outro fenômeno que aconteceu nos anos 80, a experiência das rádios comunitárias, que se desenvolveu no Brasil nessa década, quando começou o movimento das chamadas rádios de corneta, ou alto-falantes, e foram as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), da igreja Católica, que começaram essa experiência, e organizaram o 1º. Encontro de rádios altofalantes na Zona Leste de São Paulo, a exemplo do que existem hoje em escolas, associações e até empresas, um sistema de comunicação destinado a um público restrito. Na década de 1990, explode o movimento pela democratização da radiodifusão, com a apropriação da tecnologia em FM. A maior conquista da década foi a aprovação da Lei das Rádios Comunitárias, a Lei 9.612, sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, em fevereiro de 1998, uma conquista dos diversos movimentos sociais que lutaram pelo reconhecimento de dezenas de milhares de emissoras populares em todo o País. Esta Lei é duramente criticada pelas limitações técnicas e de sustentação financeira que impõe sobre as rádios, por outro lado, foi uma valorização histórica dos legítimos espaços de expressão de todas as vozes, de todas as culturas. ...Quando eu falo cultura, falo da identidade cultural dessas pessoas da periferia. É a partir dela para saber qual é seu gosto musical, suas raízes culturais, suas histórias. Por exemplo, na parte musical, constatamos o trabalho com a música sertaneja, nordestina, rap, samba, pagode, rock. Há uma pluralidade importante e isso faz com que seja comunitário, tem de tudo e as pessoas estão aí, construindo ( PADILHA, 2003, p.183). 2.3 A COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL A comunicação humana revela quem é uma pessoa mais ou menos madura, mais ou menos fechada, mais realizada ou mais infeliz. O interessante é ver além da voz – e pela voz – que imagem você passa e se essa imagem é real. Não adianta só uma imagem para construir uma fachada, o interessante é quem você é realmente. 30 O professor de Comunicação Moran (2003) considera a voz uma espécie de canal imediato, que expressa algo a mais de tudo aquilo que é comunicação verbal, nesta área em que estão misturados o conceito de comunicação e o de informação. ...Por um lado, nunca avançamos tanto do ponto de vista tecnológico. O ser humano descobriu tantas coisas e encontrou soluções variadas para a vida, mas por outro lado, talvez, nunca tivemos tanta dificuldade em nos comunicar, no sentido de intercambiar, trocar, aceitar-nos, conviver, crescer juntos, aprender. Como dizia o historiador Arnold Toinbee, tecnologicamente nós somos deuses, enquanto do ponto de vista humano, somos ainda primatas (MORAN, 2003, p.115) (grifo meu) A complexidade da comunicação humana é um dos maiores desafios percebidos no interior das escolas, em conseqüência de uma sociedade que vive hoje um contexto onde se fala e se investe muito mais em informação, entretanto, a comunicação humana mais autêntica é a que manifesta muito mais a expressão de identidade, daquilo que somos e revelamos ao estarmos em contato com os outros, do estágio de desenvolvimento e aprendizagem no qual nos encontramos, afinal basta alguém estar em um ambiente, não precisa nem falar, só a forma como a pessoa fica em silêncio já revela muita coisa. E quando fala também se revela, quando interage mostra quem é. A comunicação é um espelho que reproduz evolução, crescimento e integração, porque o ‘eu’ procura no outro, faz com o outro e se comunica com ele, e aí surge a comunicação interpessoal. ...Somos pessoas cheias de tensões, de contradições, de buscas, e essa comunicação com esses vários “eus” é extremamente complexa. Para comunicar-me de forma mais profunda com o outro, eu preciso comunicarme de forma profunda comigo mesmo. Para interagir de forma mais livre com o outro, tenho que me comunicar de forma mais livre comigo mesmo e, assim, realizar-me nesse sentido, ter uma ação social importante (MORAN, 2003, p. 117). A ideia da comunicação como instrumento construtivo de uma identidade individual e coletiva, aproxima, distancia e diferencia as pessoas, as crianças e jovens que convivem em um mesmo ambiente escolar, onde não cabe mais as tentativas de criação de robôs, afinal cada pessoa tem a sua personalidade e é importante que se perceba alguém diferenciado, alguém que tenha uma marca, uma identidade, assim como ocorre nas empresas, que mesmo trabalhando com produtos iguais, querem ter sua identidade reconhecida. 31 O mais importante é educar essa força de identidade que cada um tem, e ao mesmo tempo trabalhar a cooperação, a troca, o intercâmbio, os valores pessoais e grupais em uma construção que dura a vida toda, por isso é um desafio bem maior na vida de todo ser humano, que não se esgota com o crescimento da escolaridade. “A comunicação, de alguma forma, tem uma dimensão de realização. Afinal, o que me adianta ser doutor, ter livros, se eu não aprendi o principal que é realizar-me” (MORAN, 2003, p.117). Outra idéia é o lado pedagógico da comunicação pessoal em qualquer estágio da vida, onde é possível aprender e se realizar pela comunicação interpessoal e pela interiorização pessoal. Sempre é tempo para mudar, evoluir, crescer, ir além. O processo formativo contemporâneo aponta dois caminhos: um que aponta para a linha da competição e outro para a cooperação. São duas áreas com as quais são inevitáveis a convivência, o aprender a competir e cooperar. “Na competição, não são os mesmos mecanismos de comunicação que na cooperação. E como integrar ambos de uma forma saudável para que cresçamos? Como se integrar numa sociedade que lhe exige competir e cooperar”? (MORAN, 2003, p.119). A resposta está nos processos de comunicação interpessoais. Há uma comunicação que caminha na direção da autenticidade ou da inautenticidade. Eu evoluo muito mais se trabalho dentro de uma dimensão coerente e autêntica. Mas como ser autêntico numa sociedade de marketing, onde quase todos fomos, de alguma forma, condicionados a comunicar só o que nos interessa, a divulgar o que nos favorece e a esconder o que nos complica? Se sei que pela comunicação mais autêntica eu aprendo mais, como fazer isso numa sociedade onde as coisas andam meio embaralhadas? É outro grande desafio. Creio que o que vale a pena é transformar a vida em um processo de aprendizagem. Porque, assim, os seus alunos percebem que, junto com o conteúdo específico da área de conhecimento da sua matéria, você está comunicando uma pessoa que tem fé na vida, que tem entusiasmo, confiança e que tem um certo equilíbrio. Isso é importante no processo pedagógico: não somente ensinar conteúdo, mas ensinar que vale a pena viver (MORAN, 2003, p.119). A professora Cogo (2003) ressalta outra discussão, a do multiculturalismo, que orientado ao campo da comunicação e educação também não é nova, pois nos anos 60 esse debate já ocorria no contexto norte-americano e produzia novos conceitos, como o de sensibilidades interculturais, ou seja, não há 32 idéias fechadas, nem fórmulas, mas o que existe em grande medida, hoje, esclarece Cogo, é entender como que as culturas são cada vez mais híbridas. Como essa noção de entender a cultura a partir da fronteira é fundamental para quem trabalha com educação? A professora e jornalista Cogo (2003) frisa o conceito de Alain Touraine, a escola do sujeito, uma escola voltada para essa reafirmação do sujeito pessoal, para correção da desigualdade de oportunidades e para a ênfase na diversidade histórica e cultural desses sujeitos educativos que trazem para a escola esse universo simbólico, que deve ser trabalhado no ambiente escolar, muito mais como espaço educativo, em vez de conceber apenas a instituição escolar. O objetivo desta conduta é analisar as dinâmicas relacionais entre professores e alunos nos espaços educativos, pautados pela multiculturalidade, tentando enfatizar algumas relações ligadas a recortes de etnia, classe, gênero, idade, nação, e dentro disso, as questões regionais também. “E esses professores. basicamente, vivem a multiculturalidade, via o que chamamos de “mistura de públicos” (Cogo, 2003, p.153). 2.4 PROJETOS DE CIDADANIA E EDUCOMUNICAÇÃO O educomunicador Rossetti (2011) explica na entrevista à revista Comunicação & Educação, da Universidade de São Paulo (USP), edição jul-dez 2011, que o seu contato com a Educomunicação se aprofundou nas reportagens sobre Educação para um dos maiores jornais do País, a Folha de São Paulo, entre 1990 e 1999, em um curso nos Estados Unidos e no projeto do jornalista Gilberto Dimenstein, Aprendiz do Futuro, um espaço virtual para os professores aprenderem a lidar com questões de cidadania usando a novidade da internet. Segundo o cientista social Rossetti, em 1998 organizou-se uma central de produção, transformado na ONG Projeto Aprendiz, voltado para jovens de várias escolas diferentes. E foi assim que um projeto pensado para comunicação sobre a educação foi se tornando um projeto de Educomunicação, já que os jovens estavam diretamente envolvidos na produção dessas informações, falando de comunicação sobre educação e de educação pela comunicação. 33 Outra iniciativa do projeto foi o curso de construção de sites para jovens, com o objetivo de inserir ainda mais a comunicação na educação, além de sair dos modelos tradicionais de educação por disciplinas, pela confecção de um produto, que eram os sites. Em 1999 Rossetti pediu demissão da Folha de São Paulo e se dedicou ao projeto Aprendiz e ao Instituto Ayrton Senna, a convite da Viviane Senna, e percebeu que era preciso criar uma política institucional. Então surgiu a Reducom – Rede de Educação pela Comunicação, focada na troca de experiências entre organizações e profissionais que faziam Educomunicação na sociedade civil. Depois foi convidado pelo Unicef a montar um projeto para transformar ações pequenas de Educomunicação em políticas públicas, financiados com recursos do Criança esperança. Eu saí da Folha em uma época de crise dos jornais, quando a Educomunicação se tornou importante – não só pela crise em si, mas porque a idéia anterior de educar para a comunicação, que era educar receptores, não fazia mais sentido. Hoje, todo mundo virou comunicador. Mudou o ambiente inteiro, todas as mediações comunicativas mudaram. Mudou o ambiente global, da humanidade, mudou (ROSSETTI, 2011, p. 93) Para Rossetti (2011) as escolas ainda estavam quilômetros atrás dos recursos de que os jovens dispõem e se relacionam por mil canais de comunicação, e a escola ainda acha que isso é perda de tempo. Se esse espaço é deixado vazio para as crianças e adolescentes, acabará sendo usado pela indústria do consumo. Mas, se temos atividade de comunicação dentro do espaço educacional, o educador vai pensar em como criar um uso mais cidadão desses meios. ...Quando começamos a trabalhar com a Educomunicação, há sete ou oito anos, não havia nada sistematizado. Todos eram pioneiros. Isso aconteceu porque a Educom acompanha a revolução nas tecnologias da informação e comunicação. Se não fosse a entrada da internet, do celular e outros, não teríamos uma agenda tão forte de comunicação. E muito disso se deve também à iniciativa privada, que contribuiu para a inclusão digital no Brasil, porque o instrumento de maior acesso para isso são as lan houses. As pessoas mais pobres pagam para ir lá, mesmo que seja um real por hora – e não foi a escola que disponibilizou, nem o Estado, nem o investimento social privado. Foi a iniciativa privada (ROSSETTI, 2011, p.94). Ainda hoje, a maioria das pessoas que promove a Educom não está dentro do sistema oficial de educação, mas sim na sociedade civil organizada, universidades e ONGs, um movimento que surge de fora do mundo da escola e vai 34 para dentro da educação. Rossetti critica as universidades por não darem maior destaque às atividades de extensão, envolvendo o trabalho nas comunidades e escolas. ...Em um dos meus livros, comento que o sistema de correção na língua portuguesa, por exemplo, é muito claro para o professor: ele corrige o que está errado e confirma o que está certo. Já num fanzine, por exemplo, o uso da língua portuguesa é completamente diferente, o que é muito difícil para o educador tradicional entender. A maneira como a escola está organizada, hoje, é um problema para projetos de educomunicação – que pressupõem mais de um professor por sala de aula, períodos que não sejam o de 50 minutos e outras coisas que a escola não está pronta para incorporar. Então, é mais fácil criar massa crítica, não necessariamente fora da escola, mas fora da grade curricular, usando a Educom como atividade complementar à escola e multiplicando experiências (ROSSETTI, 2011, p.95). A aprovação de uma licenciatura em Educomunicação na ECA-USP é mais um passo na institucionalização formal desta disciplina e na formação de todas as crianças e jovens brasileiros. Para Rossetti os passos que o movimento da educomuncação vinha dando eram de aproximação cada vez maior das políticas públicas de educação, a criação de uma licenciatura nessa área, ainda mais em uma universidade do porte e da importância da ECA/USP, é um salto para o movimento, fortalecendo o conjunto das organizações, governamentais ou não, que trabalham com educomunicação. As comparações e análises neste novo campo são inevitáveis, e no caso da educação tradicional, tudo que se aprende serve para a prova que se vai fazer, ou então a importância daquele conteúdo só será percebida no futuro. Na Educom, a produção de um jornal, um site ou um programa de rádio não vai ficar parada na estante porque essas atividades midiáticas ajudam os jovens a darem um sentido positivo para a vida, usando a comunicação como instrumento de intervenção na realidade, de geração de identidade positiva dentro da sociedade. Fazendo um jornal e se relacionando com a comunidade, a pessoa pode mudar um ecossistema comunicativo inicialmente negativo e, conseqüentemente, o sentido que as próprias pessoas dão para a vida. “O segundo ponto positivo é que não lidamos mais com o conhecimento dividido em compartimentos: para fazer um jornal, são necessários todos os conhecimentos juntos” (ROSETTI, 2011, p.95). O comunicador, o jornalista é um “especialista em generalidades”, como se costuma falar, porque este profissional transita por vários temas, mas um trabalho 35 interdisciplinar. Rossetti acha que uma das falhas na formação de comunicadores é justamente a falta de profundidade em certos assuntos – seria preciso entender mais sobre política, antropologia, economia. Hoje em dia o comunicador só tem formação nos meios, nas formas, e não nos conteúdos. Nesse sentido, considero o reconhecimento da área de Educomunicação pelo Ministério da Educação (MEC) uma evolução muito importante, resultado da mobilização de diversas organizações independentes para colocar esse tema na agenda. A conquista no nível das políticas públicas significa que a Educomunicação se tornou uma das áreas de oferta dentro do Guia de Tecnologias Educacionais, criado pelo MEC para os municípios aos quais repassa dinheiro para capacitação e atualização de professores e escolas (ROSSETTI, 2011, p.97). O PhD em Sociologia, Demo (2007), na obra o Povir, logo na Introdução, também propõe uma profunda reflexão sobre a educação atual, ao constatar que os problemas de nossas escolas hoje, mostram clamorosamente o distanciamento dela para com o mundo das crianças e adolescentes. Não seguiria daí – assim ainda imagino – sua extinção, mas sua radical redefinição. Não reduzo seu péssimo desempenho atual no Brasil, em termos de rendimento escolar dos alunos, a esse distanciamento, porque, mesmo sendo a motivação fator fundamental da aprendizagem, muitas vezes aprendemos também sem motivação, em particular, quando a premência fala mais alto.(DEMO, 2007, p.13). Demo (2007) adianta duas coisas: não vê culpa de ninguém, razão pela qual não atribui ao professor qualquer necessária má consciência, porque ele é fruto de uma história discriminatória extrema, tanto quanto o aluno (erra o professor quando culpa o aluno, assim como erramos nós quando culpamos o professor). “Não considero que as expectativas dos alunos sejam sagradas, porque também podem estar fora de lugar, mas creio que são referências inarredáveis de uma boa escola.” (DEMO, 2007, p.15). O sociólogo constata que a nova geração estuda de outros modos, por vezes, chocantes, gosta de barulho, música alta e excitada, algo que, para a geração anterior, seria inconcebível, já que estudar é sinônimo de atenção maximamente concentrada. “Gosta de estudar na internet, em comunidades virtuais, em contatos constantes, comunicando-se fluidamente. Gosta de ambientes mais caóticos, sem regras rígidas, atribuindo à motivação papel fundamental”. (DEMO, 2007, p. 86). 36 Quando o assunto interessa ao aluno é capaz de perder a noite diante do computador, em grupo físico ou virtual, construindo e reconstruindo conhecimento intercomunicado. As novas gerações apreciam menos livros do que hipertextos, embora sob o risco de encurtamentos e facilitações e acompanha passo a passo as novidades virtuais e as observa como passaporte para o futuro, confirma Demo. Demo (2007) cita Infante, discutindo o desafio da capacitação permanente e sobre o impacto dos avanços tecnológicos, informação e comunicação no trabalho e na vida diária, o que exige um processo de educação permanente, ou seja, educação para toda a vida, educação voltada para o desenvolvimento de sólida formação básica que permite às novas gerações saber pensar, analisar, sintetizar, inferir, interpretar crítica e criativamente a massa crescente de informação. Demo reafirma que as competências básicas exigidas para o trabalho são, no fundo, as mesmas para dar conta da vida diária. “É difícil encontrar um aluno entusiasmado com a escola. Na contramão, é difícil encontrar um aluno que não tenha paixão pela nova mídia” (DEMO, 2007, p.86). Capítulo 3 - COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA O que parece ser novidade ou uma ideia avançada para o início do terceiro milênio do calendário ocidental, na verdade existiu desde as primeiras décadas da radiodifusão. A concepção de rádio educativo no Brasil tem uma longa trajetória, tem a idade do próprio rádio, que em 2012 completa 90 anos de história, e tanto tempo depois, como já foi destacado antes, o sonho do cientista Roquette Pinto continua bem vivo em cada projeto de rádio escola que se concretiza ou é pensado. A substancial diferença é que agora este sonho renasce dentro das próprias escolas. Outra histórica coincidência está na estrutura técnica pensada para este tipo de rádio, pois desde as décadas de 30, 40 do século passado, a alternativa era investir em sistemas de alto-falantes para a retransmissão dos programas em formato de aulas. Hoje, com a revolução tecnológica ao alcance de todos, continua a aposta na instalação dos sistemas de som no interior das instituições de ensino 37 como espaços alternativos para melhorar a comunicação, a convivência e a forma de ensinar e aprender. Para Blois (2004), o rádio foi o primeiro sistema de multimeios em educação a distância e também de forma presencial no País, voltado, inicialmente para preparar professores para o uso do veículo como meio auxiliar da prática pedagógica escolar, o que fez de Roquette Pinto um visionário com o slogan “Trabalhar pela cultura dos que vivem em nossa terra e pelo progresso do Brasil”. Num País que tem o rádio presente em quase 90% dos domicílios, pode-se afirmar, sem dúvida alguma, que o “brasileiro não vive sem rádio”. (...) Se, na verdade, o rádio constitui a primeira manifestação tecnológica de uma realidade virtual no cotidiano das pessoas e também na educação, hoje caminha em espaços desterritorializados, evoluindo sempre, firmando posição sem saber, realmente, que “cara” irá ter (BLOIS, 2004, p.176). 3.1 RÁDIOS NAS PRAÇAS, RUAS E POSTES A exemplo do governo do ex-Território do Amapá, que começou com um sistema de alto-falante em praça pública, antes da instalação da rádio eletrônica, a Difusora AM, outras iniciativas de sistema de som marcaram época em Macapá, como no caso da “Rádio Latitude Zero”, pertencente à Associação Solteiros e Casados do bairro do Trem, fundada em 1950, instalada inicialmente na praça da sede dos escoteiros e a partir da década de 80, no campo de futebol da praça Nossa Senhora da Conceição, utilizada para as narrações esportivas e alguns eventos culturais, como o Carnaval. A Rádio Latitude revelou um dos mais originais locutores de praças do Amapá, Manoel Ferreira, o Biroba, que deixava de lado o futebol e dedicava um bom tempo para falar das pessoas que passavam pelos arredores, destacava as escolas do entorno da praça, entrevistava alunos, professores, anunciava recados, eventos escolares e aconselhava a juventude estudantil, como ele mesmo dizia, para não desviar do bom caminho. Lojas, igrejas, empresas, associações esportivas de diversos bairros, veículos, permanecem utilizando o alto-falante ou as potentes caixas acústicas em sistemas de som, para as mais variadas informações comerciais, religiosas, esportivas, de utilidade pública, além das legítimas rádios de rua existente em quase todas as áreas comerciais, nas feiras, terminais de ônibus dos bairros de Macapá. 38 A ânsia de comunicar somada ao baixo custo dos equipamentos básicos – uma potência, algumas caixas acústicas, um microfone, uma mesa de som e um cd play – tem levado às escolas a ideia de instalação de sistemas de som internos, batizados de rádio escolas, quase sempre por iniciativa dos discentes. No início da década de 80 já existiam tentativas de rádio escola, como no caso do Colégio Comercial do Amapá (CCA), hoje Escola Estadual Gabriel de Almeida Café, onde funciona atualmente um dos maiores projetos de comunicação escolar, que alcança os dois andares da escola. Segundo o professor Luis Correa, coordenador da rádio escola no antigo CCA, o projeto está incluído no Ensino Médio Inovador e já realizou diversas oficinas de capacitação para os alunos que se inscreveram a fim de participar. O mais difícil é a continuidade, a perseverança dos alunos, por isso é preciso incentivar sempre, garante o professor. Em meados da década de 80 a Pastoral da Comunicação (Pascom) da Diocese de Macapá, organismo da Igreja Católica local, coordenada pelo autor deste trabalho, produzia e apresentava um programa de TV semanal, aos sábados à tarde, na TV Amapá, denominado Programa Jovem A Igreja em Nosso Meio, que ficou no ar por mais de dez anos. Em razão do crescimento do número de jovens em participar do programa de TV e de outras iniciativas, a Pascom começou a organizar oficinas de comunicação popular para jovens de Macapá, Santana e do interior, com o intuito de discutir projetos alternativos inspirados nas experiências das CEBs em outros estados brasileiros, como jornal impresso e de mural, rádio poste, comunitária e escolar, nas quais participaram alunos de diversas escolas. As tentativas não foram bem sucedidas nas escolas, segundo os estudantes, por falta de equipamentos e de total apoio por parte das direções dos educandários. Em algumas comunidades a ideia vingou, mas enfrentou problemas de continuidade da programação alternativa, o que fez prevalecer nos bairros o sistema de som das igrejas apenas para a transmissão de missas, orações e músicas religiosas, como já havia antes e continua a funcionar hoje. As tecnologias de ponta, que surgem praticamente todos os dias na área da comunicação e informação, não descartam as antigas formas de divulgação, ao contrário, estas também se modernizam como fazem aqueles que investem nas 39 chamadas rádios de poste ou de rua. A radialista profissional Marlete Rodrigues Farias também já trabalhou em vários serviços de som com a gravação de comerciais, vinhetas e recados ao vivo. Segundo ela, existem mais de 20 rádios de poste em Macapá, com estúdios equipados de potência, equalizador, mesa de som, microfone, computador e nos postes os cabos, caixinhas com alto-falante e transformador de linha. Farias (2012) explana que Os programas veiculados nestes tipos de rádios são do gênero informativo, para a divulgação cultural do bairro; noticias e utilidades públicas que interessam a comunidade; e um variado roteiro musical que procura agradar todos os gostos. Estes serviços sobrevivem de comercial, mas a maioria recebe apoio do governo e prefeitura para anúncios governamentais. O retorno dos ouvintes é satisfatório, pois, a comunidade participa via telefone ou diretamente no estúdio que sempre está bem próximo dos moradores. A autorização para o funcionamento destas rádios é dada pela Prefeitura e os responsáveis geralmente são pessoas que pertencem ao bairro, à comunidade onde está instalada a rádio poste, que funciona no horário das 08h00 às 12h00 e de 14h00 às 18h00. As maiores dificuldades são técnicas, pois as caixinhas são constantemente depredadas, além das interferências políticas nas disputas dos espaços para instalar as rádios. 3.2 A VOZ DO NOVO HORIZONTE Um projeto de referência da radiodifusão comunitária de Macapá surgiu no outro extremo da cidade, na zona Norte da capital, a Rádio Poste organizada pela Associação de Moradores do bairro Novo Horizonte, no início da década de 90, hoje a Rádio Eletrônica FM Novo Tempo, 105,9. Segundo o jornalista João Augusto Flexa, no TCC apresentado em 2004 à Faculdade Seama, a rádio de rua surge dos movimentos sociais com o objetivo de usar o microfone “para mobilizar, articular, criar espaços reivindicatórios e para a proposição de soluções dos problemas” (FLEXA, 2004: 25) A elevação do ex-Território em estado do Amapá, com a promulgação da Constituição Federal de 1988; a criação da Área de Livre Comércio de Macapá e Santana, em dezembro de 1991, e as notícias de que o Amapá seria um novo eldorado brasileiro, provocou um fenômeno migratório ao novo estado, e em 40 consequência multiplicaram-se os problemas sociais de toda ordem. Antes da criação da chamada zona franca a população de Macapá, segundo o IBGE, era de aproximadamente 200 mil habitantes, e vinte anos depois a população da capital quase triplicou, e hoje é de aproximadamente 500 mil habitantes. No contexto do início da década de 1990 um grupo de migrantes oriundo dos movimentos de sobrevivência da Transamazônica, do estado do Pará, pastorais católicas, igrejas evangélicas e da militância de partidos da esquerda começaram a reunir para implantar uma rádio comunitária na invasão do Capilândia, atual bairro Novo Horizonte II. Os encontros eram realizados em uma sala da única escola da comunidade, a Dom José Maritano, construída pela igreja católica, local que abrigou por diversas vezes o estúdio da rádio comunitária. A emissora chegou a ter em torno de trinta caixas de som dependuradas em postes e distribuídas numa extensão de quatrocentos metros. A rua Cícero Marques de Souza foi a escolhida para receber os alto-falantes por ser uma referência, uma das primeiras artérias do bairro, onde estão as principais casas comerciais da área (FLEXA, 2004, p. 27). Cinco anos após a instalação, em julho de 1998 a rádio batizada de Novo Tempo, deixa de ser uma rádio cipó, como era a denominação popular, e entra no espectro eletrônico como rádio FM, mas considerada pirata por não ter a concessão e a permissão da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), assim como diversas emissoras populares faziam em todo o Brasil, com o apoio do Movimento Nacional pela Democratização da Comunicação e da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço). Apreensão de equipamentos, lacres, prisão de diretores, processos judiciais, manifestações públicas, protestos na Câmara de Vereadores e Assembleia Legislativa, conflitos internos, requerimentos e elaboração do projeto de concessão da emissora marcaram a luta dos movimentos do bairro Novo Horizonte e da zona Norte de Macapá até a legalização da FM no Ministério das Comunicações. Após quase uma década de muito empenho, no início de 2007 a rádio Novo Tempo, finalmente recebeu a concessão oficial e a permissão para funcionar, com base na Lei das Rádios Comunitárias, uma das maiores vitórias do movimento popular na comunicação amapaense. Hoje a FM 105,9 conta com prédio próprio, 41 uma biblioteca comunitária e uma grade com mais de uma centena de programas de todos os segmentos sociais, incluindo espaços do movimento estudantil e de escolas públicas de Macapá. A Novo Tempo é considerada uma legítima rádio comunitária do Amapá, por ser administrada pela Associação de Comunicação Alternativa do Novo Horizonte, constituída de representantes dos mais diversos segmentos sociais, enquanto as demais são controladas e usadas politicamente pela família Borges, detentora do grupo Beija-flor de comunicação, conjuntamente com políticos dos municípios e distritos do interior do estado, em um flagrante desrespeito da Lei de Radiodifusão Comunitária. 3.3 UM PROJETO LOCAL DE REPERCUSSÃO NACIONAL A história da comunicação pública no Amapá, como já foi relatada anteriormente, passa pela Rádio Difusora AM, sempre controlada pelos governos do ex Território e governo estadual, mas com a eleição de João Alberto Capiberibe para governador em 1994, a política de comunicação teve como base o Programa de Desenvolvimento Sustentável e o rompimento com o processo de colonização, dominação e opressão reproduzida pelos meios de comunicação no estado. A nova política de comunicação prioriza a inclusão e a participação de todos os segmentos sociais, principalmente os indígenas, mulheres, negros, jovens, adolescentes, ribeirinhos e os povos da floresta, setores da sociedade que ganham espaço radiofônico próprio, a partir de 1995, ou então participavam da produção e veiculação do programa dos movimentos sociais A nossa voz, aos sábados, às 8 horas. Paralelamente às iniciativas governamentais, grupos organizados instituem o Fórum da Sociedade Civil Organizada, que teve participação importante no processo de descentralização e decisão política do governo estadual. As entidades que participavam do Fórum conquistaram horários na grade de programação da Difusora, que passa a veicular produções especiais sobre as etnias indígenas, afrodescendentes, movimentos de mulheres, de cooperativas e associações culturais e de bairros (FLEXA, 2004, p. 24) Uma das novas organizações governamentais criada pelo novo governo foi a Assessoria Especial para a Juventude, que teve como primeiro assessor o atual senador Randolfe Rodrigues. Um das ações inovadoras implantadas pela 42 assessoria, em julho de 1997, foi o programa de rádio Fala, Juventude, na Difusora AM, de segunda a sexta, entre 15 e 16 horas, com o propósito de estimular o protagonismo juvenil no rádio, divulgar os trabalhos da assessoria e debater temas de importantes e de interesse da juventude. O sucesso do programa radiofônico motivou um salto maior ainda: a elaboração e execução do Projeto Fala Juventude nas Escolas. De acordo com Patrícia Sullivan Loureiro, produtora e locutora do programa de rádio na época, o projeto objetivava a realização de oficinas de rádio nas escolas, capacitar jovens para serem agentes multiplicadores do programa na Difusora, nas escolas e formar futuros comunicadores comprometidos com uma sociedade mais justa e cidadã, e com uma comunicação mais crítica e participativa. Panfletos, informativos, cartazes, faixas, palestras em sala de aula, inscrições, seleção, seminários sobre comunicação nas escolas, capacitação de jornalistas, técnicos e professores para atuarem como facilitadores e multiplicadores foram atividades que contribuíram para a divulgação e execução do projeto, a partir de agosto de 2009, após a reeleição do governador Alberto Capiberibe. ...O projeto iniciou pela Escola Esther Virgulino, no São Lázaro. Inicialmente são 25 estudantes de 2º. Grau que integram o trabalho. O objetivo é capacitar jovens estudantes da rede pública com oficinas de locução, produção, criação, operação de áudio e sonoplastia e rádio-jornalismo, visando tornar o jovem um agente multiplicador da comunicação (TRINDADE, 1999, p. 8). Alunos e alunas de dezenas de escolas participantes das oficinas viveram a experiência de produzir, apresentar, entrevistar, interagir, criar, elaborar roteiro musical e por a mão na massa em todos os recursos radiofônicos, nos estúdios da Rádio Difusora, por meio do programa Fala Juventude, nos eventos que ocorreram nas escolas, com transmissões ao vivo pela Difusora e em outras programações escolares feitas em formato de rádio conduzidas pelos estudantes. Outra notável iniciativa do projeto Fala, Juventude nas Escolas foi a elaboração de um Manual das oficinas de rádio, escrito por autores e autoras da equipe de facilitadores do projeto, com organização final do professor e poeta Paulo Tarso Barros e a publicação da 1ª. edição em dezembro de 2000. O Manual tornouse o material didático referência das oficinas e de outras capacitações que envolveram, inclusive, professores e outros grupos da comunidade. 43 O caráter inovador desta experiência despertou o interesse do programa Nacional Paz nas Escolas, da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos do Ministério da Justiça, que está apoiando o projeto e a publicação da segunda edição deste manual, utilizado nas oficinas de capacitação como material didático, por meio de contrato internacional firmado entre o FNUAP – Fundo de População das Nações Unidas e a AMAJUV – Associação Amapaense de Apoio à Juventude, executora do Fala Juventude nas Escolas em parceria com o Governo do Estado do Amapá, através da Assessoria Especial para a Juventude e Rádio Difusora de Macapá. (LOUREIRO et al, 2002, p. 1) A 2ª. edição do Manual das Oficinas de Rádio foi lançada em fevereiro de 2002, com o apoio do programa Paz nas Escolas, do Ministério da Justiça, que além do incentivo financeiro, também concedeu menção honrosa ao Projeto Fala Juventude nas Escolas, do Governo do Amapá, indicado também como modelo para escolas de todo o país. Com a mudança de governo em 2003 o Fala Juventude foi extinto, mas retomado em 2011, no governo de Camilo Capiberibe, um dos principais idealizadores das oficinas de rádio nas escolas em 99. Em depoimento ao autor deste trabalho, a ativista do movimento negro, Rejane Soares ressalta a importância do Fala Juventude em sua vida, a partir do momento em que participou das oficinas da escola José de Anchieta, em 2000. “O Fala mudou completamente a minha história de vida, pois eu não tinha consciência de nada, mas com a participação neste projeto fui capaz de falar em um microfone de rádio para milhares de pessoas, um sonho que eu considerava quase impossível de realizar”. Segundo Soares, o projeto de rádio abriu as portas para o mundo e provocou um verdadeiro despertar diante de suas origens negra, pobre e enquanto mulher para as questões de gênero. A partir do Fala ela começou a participar de movimentos sociais e depois conheceu as organizações afrodescendentes e quilombolas com as quais descobriu uma forte identidade. Hoje, Rejane Soares é coordenadora do projeto Afro Mulher, da Secretaria Estadual de Políticas para Afrodescendentes, com apoio de organismos da ONU. Ela já conheceu diversos estados brasileiros e chegou até a África, na luta contra a discriminação, o preconceito e o combate à todas as formas de exclusão. ”Quem diria! Agora, eu é que sou convidada para entrevistas na TV, no rádio, para debates, seminários, articulações para atuar em conferências estaduais, 44 nacionais que discutem e propõem políticas públicas que possam melhorar a condição de vida dos mais pobres e de toda a sociedade. E tudo começou no Fala Juventude”, declara emocionada Rejane Soares. Cliver Campos é outro jovem que sempre sonhou em ser comunicador e encontrou no Projeto Fala Juventude a oportunidade que buscava, ao apresentar programas na Rádio Difusora. Atualmente, Cliver apresenta programa na 102,9 FM, aos sábados à noite, produz um blog e faz reportagens sobre carnaval e cultura amapaense. Campos nomeia alguns jovens que passaram pelo Fala Juventude e estão seguindo carreira profissional nos grandes meios de comunicação: Odivar Filho, jornalista e locutor da 99,1 FM; Silvio Souza, apresentador do Estado é Notícia, da TV Tucuju; Célia Souza, jornalista, advogada e professora, foi repórter da Rede Vida e TV Nazaré e apresenta programas nas manhãs de domingo, na Porto AM e Jovem FM, emissoras do município de Santana; Marlete Rodrigues, que já trabalhou na Difusora, em várias FMs, rádios de rua e atua na área de Relações Humanas; Téo, repórter da TV Tarumã; Márcia Fonseca, repórter da Difusora e estagiária de jornalismo da Eletronorte Amapá; Andrea Maciel, que participa de programa de rádio no interior do Pará; Alex Kapuleto, humorista revelado no Fala e atua na área da publicidade. Mais de 300 jovens foram capacitados pelas oficinas do Fala Juventude, além de milhares de estudantes envolvidos nas outras etapas do projeto, no caso das palestras de divulgação e sensibilização, programas de rádio ao vivo das escolas, interação por telefone durante os programas feitos por colegas de escola, por meio de enquetes de rua sobre assuntos polêmicos e importantes para os jovens, entrevistas no estúdio, entre outras. A Secretaria Extraordinária de Políticas para a Juventude (Sejuv) retomou em 2011 o programa de rádio Fala, Juventude, na Difusora, no tradicional horário da tarde, ao mesmo tempo em que foi formada uma equipe para reelaborar o projeto das oficinas de rádio nas escolas. A Sejuv já promoveu nos dias 13 e 14 de abril, uma capacitação voltada aos profissionais e acadêmicos de Jornalismo para atuar como ministradores de capacitação do programa Fala Juventude na Escola 2012. A 45 capacitação foi orientada pelas jornalistas Taís Ladeira e Mara Régia, para definir as metodologias de trabalho desenvolvidas durante a realização do projeto. Diversos temas foram abordados, como radiojornalismo, locução, técnicas de sonoplastia, criação e produção de rádio, além de serem feitas também as últimas reformulações para a conclusão do novo Manual Fala Juventude, que servirá de base para a realização das oficinas do programa que iniciaram no mês de abril, atendendo inicialmente sete escolas de Macapá e Santana. Neste primeiro momento, faremos a capacitação dos nossos oficineiros, que posteriormente executarão o projeto junto aos jovens. Nesta primeira etapa, sete escolas da rede estadual de ensino serão contempladas com o projeto, uma vez que as mesmas já possuíam rádio e que eram utilizadas apenas para tocar músicas e para divulgar internamente as atividades escolares. Com o projeto, iremos levar capacitação para estes jovens e para os coordenadores das rádios, para que eles possam ser multiplicadores do projeto dentro da escola, afirma a coordenadora de Planejamento e Execução da Sejuv, Luana Picanço. (PICANÇO, online, abril de 2012) Capítulo 4 ESTUDO DE CASO DA RÁDIO ESCOLA CASTELO A comunicação a serviço da educação. É assim que o jornalista Gilberto Dimenstein, um dos precursores da Educomunicação, traduz este novo termo de forma clara e objetiva. Para ele, este é um olhar totalmente diferente do jornalismo e da comunicação tradicional, nem é pior e nem é melhor. É diferente. Ele afirma que jamais pediria para que não existisse o jornalismo da denúncia e da investigação. “Um não é contra o outro. São olhares que sobrevivem juntos. Claro que o olhar da educomunicação você vê com mais intensidade, como que você pode ajudar a transformar a sociedade através da comunicação”. (DIMENSTEIN, online, maio de 2012) Outro ponto interessante envolvendo o crescimento da educomunicação diz respeito aos projetos e aos livros paradidáticos escritos pelo jornalista, e que para a surpresa de todos tiveram uma aceitação gigantesca, apesar do autor não ser pedagogo, mas um comunicador social plenamente comprometido com a educação. Não tem nada de tão novo. O impacto da internet não equivale a um quinto do impacto que Gutemberg teve na história da humanidade. A gente nunca parou de mudar, a questão é que quando você está no olho do furacão a sensação é de uma mudança brusca. Você nunca teve na história da humanidade pessoas com tanto acesso à informação, mas eu faço uma 46 observação quanto à falha dos jornais. Eles deveriam ter ganhado os leitores quando eram meninos. Eu mesmo comecei a ter relação com o jornal lendo esporte e depois fui para os outros cadernos. Sempre achei que se o jornal tivesse na sala de aula para ser trabalhado transversalmente seria uma forma de levar leitores para o jornal. Não houve um olhar para isso. (DIMENSTEIN, online, maio de 2012) Outro empreendimento educomunicativo foi a Agência Nacional dos Direitos da Infância e Juventude (Andi) WWW.andi.org.br criada por um grupo do qual Gilberto Dimenstein fez parte, e que surgiu como um clique na cabeça de comunicadores que pensaram: em vez de só fazer a denúncia, não é possível buscar a solução? O site da ANDI é uma das melhores opções para trabalhar nas escolas a cidadania, os direitos da infância e a agenda pública para a juventude. Tinha muita resistência na época. Muitas críticas, muita gente articulando ONG´s. Gente falando sobre responsabilidade social. Mas também já tinha gente com um olhar mais educativo. E nossa proposta foi educar jornalistas para ter um olhar diferente sobre questões sociais. E quando você entra nesse mundo e vai deixando de lado só a denúncia e a crítica acabam virando um educador. (DIMENSTEIN, online, maio de 2012) Mesmo sem considerar os princípios da educomunicação, docentes e discentes da Escola Estadual Castelo Branco sempre buscaram, nas últimas décadas, atualizar os recursos, desenvolver projetos pedagógicos e utilizar instrumentos comunicativos para construir um processo educacional mais atualizado e aberto às novas tecnologias, aproveitando os investimentos financeiros do governo federal, a partir da metade da década de 90, com a liberação de antenas parabólicas, receptores de satélites, vídeos e demais acessórios necessários para o uso dos recursos audiovisuais. Com a estruturação da TV Escola e sala de vídeo/cinema o alunado começou a ter mais acesso a filmes, clipes, vídeos e outros recursos audiovisuais inseridos aos conteúdos programáticos e de atualidades. Por sua vez o Tele Posto Um Salto para o futuro, tornou-se um espaço de capacitação, debates e interação de professores com especialistas em educação e de outras áreas do conhecimento. Hoje a escola conta com um grupo de quase dez professores pós-graduados em Mídias na Educação pela Unifap, e em Tecnologias da Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC - Rio). No final do século XX a Escola Castelo adquire os primeiros computadores para os trabalhos burocráticos, mas sempre querendo mais a turma 47 dos inquietos começou a planejar projetos, como os Laboratórios de Ciências e Informática, e a rádio da escola à qual foi destinada uma sala própria, no mesmo corredor da TV Escola. 4.1 A TRAJETÓRIA DA RÁDIO CASTELO A orientadora de aprendizagem Josefina Silva de Almeida, uma das organizadoras da TV Escola e do Tele Posto, relatou que a ideia da rádio foi inspirada nas experiências bem sucedidas de outras escolas, como as que estão relatadas nesta monografia. A primeira fase de concepção da REC foi movida pela aquisição de equipamentos básicos, inicialmente doados por alunos, principalmente as caixinhas de som dos mais diferentes tipos e consequetemente incompatíveis, mas mesmo assim, a Rádio Escola funcionou algumas vezes de (2004 a 2006) de forma experimental, com alguns espaços musicais. Em 2007 foi elaborado o Projeto Pedagógico Rádio Escola Castelo, com um professor e jornalista indicado para coordenar a iniciativa, mas sem sair da sala de aula. Mesmo sem os conceitos da educomunicação, mas fundamentado nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) o projeto já apresenta objetivos afinados entre as áreas da educação e comunicação. A proposta pedagógica da REC é incentivar educadores e educandos a desenvolver uma linguagem interativa, produções participativas nas práticas educativas, facilitadas pelas técnicas radiofônicas, além de ser uma alternativa de construção de uma rede comunicativa democrática, onde as pessoas sejam respeitadas e reconhecidas por suas potencialidades e competências. O segundo momento foi a elaboração de um projeto financeiro, incluído no Plano de Ação do Programa de Desenvolvimento da Escola (PDE) e no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) em 2008. No segundo semestre de 2009 os recursos foram liberados e os equipamentos básicos foram comprados no mercado local. No início de 2010 foi feita a montagem dos equipamentos da rádio, a organização do estúdio e a distribuição de dez caixinhas acústicas nos dois andares do prédio escolar, com a colaboração direta de alunos e apoio técnico voluntário. A 48 REC voltou a funcionar, quase que diariamente, principalmente nos turnos da tarde e da noite, mas sem uma programação planejada e sem o envolvimento direto dos alunos que, inclusive, chegaram a participar de algumas oficinas radifônicas. A rádio continua a funcionar apenas com recados, músicas e entrevistas esporádicas. No segundo semestre de 2010 o aluno responsável pela sonoplastia da programação do turno da tarde, foi envolvido em uma crise interna que acabou no afastamento da diretora da escola. Ele foi acusado de utilizar a REC para mobilizar os alunos a participar de manifestação contra a direção da escola. O aluno chegou a prestar esclarecimento para uma comissão da Secretaria de Estado da Educação (SEED), e até em delegacia de polícia, onde afirmou que a rádio não veiculou nenhuma denúncia contra a diretora, mas apenas divulgou notícia de reunião para tratar de assuntos do interesse da comunidade escolar. Percebe-se que mesmo sem uma programação planejada e consistente a rádio escola, indiretamente, contribuiu com a mobilização que reivindicou melhorias para a instituição, mais respeito e valorização de discentes e docentes por parte da direção. A repercussão do movimento na grande imprensa e no seio da comunidade escolar resultou no pedido de exoneração da diretora e da vice por parte da equipe de sindicância da SEED. Um novo diretor foi nomeado para a direção e uma das primeiras medidas foi manifestar apoio para o bom funcionamento da REC. Ainda em 2010, com a implantação do Ensino Médio Inovador na escola, foram realizadas oficinas de rádio nas salas de aula e para grupos interessados no projeto da rádio. Noções de técnicas e formatos radiofônicos foram passadas aos estudantes, como redação jornalística, produção, locução, operação, criação e interatividade, mas os conflitos internos afetaram o funcionamento e o avanço do projeto de comunicação escolar. Em 2011, o Projeto Mais Educação também foi implantado na Escola Castelo Branco e ofereceu, entre outras atividades artísticas e culturais, a oficina de rádio escola para turmas do Ensino Fundamental, orientada pela monitora e radialista Márcia Fonseca, contratada para conduzir a capacitação dos alunos. O espaço da rádio foi ampliado e recebeu novos equipamentos enviados pelo MEC. O Mais Educação sofreu problemas de continuidade em função de ações trabalhistas que causaram o bloqueio das finanças do programa. 49 Em 2012 a Rádio Escola novamente foi destacada no planejamento de oficinas para o Ensino Médio Inovador e Regular e mais uma vez viu adiada a concretização da REC no cotidiano da escola em razão da greve dos professores. 4.2 ANÁLISE DO PROJETO E FUNCIONAMENTO DA REC Entre outras observações e para melhor investigar o porquê da problemática que impede o funcionamento regular e satisfatório da REC um grupo formado por professores, coordenadoras pedagógicas e orientadoras de aprendizagem da Escola Castelo Branco foi consultado por meio de questionário e entrevista verbal para uma avaliação do projeto da rádio escola. Primeiramente o grupo declarou que conhece o projeto, sempre reapresentado no início de cada ano letivo, por ocasião da semana pedagógica. Por sua vez, uma equipe de alunos e alunas do Ensino Médio também foram ouvidos sobre este projeto que tanto interesse despertou na maioria dos estudantes castelanos. Grande parte dos alunos entrevistados disse conhecer o projeto, mas alguns explicaram que não tem informações sobre a rádio por serem novatos na escola. Os profissionais da educação que há mais tempo estão na Escola Castelo afirmaram saber que os equipamentos da rádio foram adquiridos com recursos financeiros do Governo Federal, por meio dos programas PDE, PDDE, Ensino Médio Inovador e Mais Educação, mas a maioria dos estudantes afirmou que não sabe como os equipamentos foram adquiridos. Boa parte da equipe de alunos declarou também já ter participado da oficina de rádio na escola, ação avaliada de forma muito positiva por eles. A outra metade ainda não participou, mas deseja ter a oportunidade de se integrar nesta atividade. Quanto aos problemas encontrados para o funcionamento regular da rádio, o principal apontado pelo grupo de docentes foi a falta de um (a) orientador (a) de aprendizagem para coordenar e acompanhar este trabalho, a exemplo dos outros ambientes tecnológicos de aprendizagem que funcionam a contento nos três turnos. “Sem alguém seriamente comprometido, o projeto não sai do papel. Equipamento sozinho não faz nenhuma diferença, parado, se deteriora mais rápido”, afirmou Josefina Almeida. 50 Outros problemas também foram apontados. A orientadora de aprendizagem e especialista em Tecnologias da Educação, Maria Antonia Lima Mendes, percebe que há falta de interesse da maioria da comunidade escolar e/ou por desconhecerem que a rádio também está a serviço do ensino e aprendizagem, através da mídia radiofônica, que não é só mais um objeto de diversão. Quando a questão é a importância do projeto de rádio, a manifestação favorável é quase unânime. A coordenadora pedagógica do turno da noite, Otacília Paes, reconhece que a rádio é uma ferramenta que fortalece o aprendizado, no que diz respeito a linguagem, leitura, interpretação, a criatividade e a outros campos de formação e cidadania que o aluno precisa. A professora Jeane Oliveira da Silva, que trabalha com a disciplina Português/Literatura, no horário da tarde, acredita na dinamicidade para as práticas escolares e para os alunos que gostam de tudo o que os leva para fora da tradicional sala de aula. A importância das mídias nas escolas é cada vez maior e considerado um processo praticamente irreversível diante da presença das TICs na vida profissional e pessoal dos discentes, e da naturalidade com que os docentes convivem atualmente com tamanha diversidade tecnológica, informativa e formativa. A professora Sarah Maria Mendes da Cunha, orientadora de aprendizagem do LIED da escola Castelo Branco concorda que a globalização abriu novas perspectivas. É de fundamental importância. Os recursos midiáticos que são: vídeo, som, imagem, através de recursos multimídia e internet e outros. Neste novo conceito de ensino, o professor esta assumindo o papel de mediador de conhecimentos, pois o processo de ensino-aprendizagem deverá ser dirigido a um publico que não mais recebe e ingere informações, mas interage com as mesmas, interfere no processo e questiona o conteúdo e conceitos. A globalização abriu novos caminhos e possibilidades para que todos busquem novos conhecimentos, isto em todas as áreas principalmente a do ensino escolar. As utilizações destes novos recursos podem facilitar e melhorar a eficácia do processo de alfabetização, desde que os professores se atualizem a medida que estas novas tecnologias são introduzidas no ambiente. Outra meta do Projeto da REC, com base no Planejamento Político Pedagógico da Escola Castelo, é a integração das mídias, dos ambientes de aprendizagem, incluindo a Sala de Leitura, Biblioteca, espaços de teatro, dança, esportes, além dos projetos desenvolvidos pelas áreas do conhecimento e 51 organizados pela direção e coordenação pedagógica, com a finalidade de construir uma comunidade cidadã com uma identidade integradora e inclusiva. A contribuição das mídias na escola tem sido indispensável para a modernização, divulgação interna e externa do colégio, para o sucesso dos projetos interdisciplinares e no desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem, a exemplo dos Jogos Escolares, exposições pedagógicas, eventos culturais e do Festival de Poesias realizado em 2008, por ocasião da Olimpíada de Língua Portuguesa, que resultou na publicação do Livro de Poesias em 2010, com obras poéticas compostas por estudantes dos Ensinos Fundamental e Médio, um projeto de referência da educação estadual. 4.3 A RÁDIO WEB GLOCAL O projeto da Rádio Escola Castelo propõe um passo mais ousado ainda, a implantação da Rádio Escola Web. Para os alunos a ideia é ótima, porque dessa forma haveria um melhor conhecimento sobre a escola e o ensino, garantiu a aluna Fernanda Batista Barbosa. O aluno Dorivan Vilhena Tavares acrescenta: “Do meu ponto de vista é uma forma de ampliar ainda mais a relação com o estabelecimento de ensino e também manter todos informados de tudo o que acontece em nosso cotidiano”. Os docentes também apostam no êxito da rádio escola e a inserção dela via internet. A professora de Espanhol, Marinei Auzier, concorda com a importância do projeto para divulgar e socializar informações e ideias da comunidade castela, bem como possibilitar aos internautas opinar e contribuir com o cotidiano da escola Castelo Branco. É de fundamental importância, pois vivemos no mundo midiático, onde as notícias, as informações são repassadas de forma dinâmica, por isso não se pode pensar em avanço na educação sem o uso desses recursos, seria como estar na contramão da tecnologia. Além disso, os alunos estão inseridos nesse meio e o papel da escola é facilitar esse acesso, tornando assim as aulas mais interessantes. Os estudantes vibram com a possibilidade de ter a escola na Web, não só os que permanecem na escola, mas como aqueles que estão concluindo o Ensino 52 Médio e desejam continuar acompanhando a vida da instituição. A aluna Fernanda Batista Barbosa, do 3º. ano do EMI, manifestou o desejo de ver a escola utilizar a internet de forma correta, projetada, pensada, trazendo benefícios para o ensino escolar. Da mesma maneira outros colegas internautas consideram a rádio web uma mídia altamente interativa, como explica o estudante Lennon Brian Oliveira Pinheiro: A importância, de certa forma, é imensa, mas as mídias têm que ser usadas como um benefício, com objetivos louváveis ao aluno, como informar datas de vestibulares, cursos, e influenciar o estudo com opiniões de professores sobre o que tem que estudar para provas e vestibulares, macetes, opiniões dos alunos, pois eles dizem o que está bom ou ruim, o que tem que ser melhorado ou não, enfim, tem que ser para ajudar os alunos. A escola pode fazer um jornal, que ajuda muito na formalidade da escrita e estar por dentro dos assuntos. . Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) consideram que a presença e o uso das tecnologias são indispensáveis e fundamentais em todas as áreas do conhecimento. Os avanços tecnológicos midiáticos surgiram para transpor obstáculos, melhorar e facilitar o acesso às informações e proporcionar mais interatividade entre as diversidades de segmentos escolares e sociais com os quais o professor convive. A nova LDB abre a perspectiva de um efetivo debate sobre a Informática no ensino... O que queremos ensinar? A quem queremos ensinar? Quem tem aptidão para ser profissional e quem tem interesse em ser um bom usuário? Qual o perfil do professor que vai utilizar esse conhecimento em suas disciplinas nas diversas conjunturas que convivem em nosso País? (PCNs 1999, p.185) A jornalista e Mestre em ciências da comunicação, Lígia Maria Trigo-deSouza (2004), relata que a aproximação entre rádio e internet foi posterior ao aparecimento de outras mídias na rede mundial de computadores, como é o caso de jornais e revistas, mas logo que as primeiras experiências foram surgindo, o fenômeno virou uma verdadeira febre entre os internautas, um casamento perfeito que despertou o interesse imediato de emissoras e uma expansão veloz do meio na internet. ... No entanto acredita-se que a primeira experiência de rádio criada exclusivamente para a rede tenha sido empreendida por integrantes do movimento do Mangue Beat, o programa intitulado Manguetronic, estreou em abril de 1996 com a proposta de incorporar elementos da internet (como hipertextualidade) à programação radiofônica. (TRIGO-DE-SOUZA, 2004, p.290). 53 A partir de 1998 as rádios brasileiras começaram a estar 24 horas no ar e outras propostas começaram a surgir, como a Rádio Totem, um portal de rádio com várias emissoras musicais segmentadas em ritmos. Três anos depois chegou a oferecer 11 canais diferentes, além de disponibilizar videoclipes, entrevistas e promoções aos internautas. Hoje o portal está fora do ar. Quanto às emissoras com existência no dial, as primeiras começaram a migrar para a rede a partir de 97, entre as jornalísticas a Rádio Itatiaia, de Minas Gerais reivindica o pioneirismo. A Jovem Pan AM e a Band AM também querem a primazia. Hoje são incontáveis as emissoras AM, FM, exclusivas da web nesta verdadeira convergência midiática, em virtude do salto qualitativo da substituição progressiva do sistema analógico pelo digital, quer nos produtos de áudio, quer nas telecomunicações. São várias as possibilidades de dispor ou criar uma rádio na web. De acordo com Trigo-de-Souza (2004), as emissoras off-line são as que utilizam a rede para divulgar seu trabalho no dial, a forma convencional de rádio, mas que não disponibiliza áudio ou transmissão em tempo real se fazem não se trata de seu principal serviço. Por sua vez a versão on-line são as que disponibilizam áudio radiofônico como seu produto principal na rede. E ainda existem as NetRádio, emissoras on-line que não existem fora da internet, ou seja, são emissoras exclusivamente on-line virtuais. As alternativas para inserir a Rádio Escola Castelo na Internet são viáveis, pois a programação veiculada no sistema de som poderá ser gravada e postada na forma off-line, no endereço eletrônico da emissora e ser acessada a qualquer momento, de qualquer lugar do mundo. A mesma programação poderá ser veiculada em tempo real, no modo on-line, e transformar as notícias, artigos, entrevistas, todos os gêneros textuais radiofônicos em hipertextos atualizados regularmente. E mais ainda, dependendo da disposição e do compromisso da comunidade escolar com esta ferramenta, é possível desenvolver uma programação específica na web e explorar toda a interatividade das redes sociais. Há inúmeras razões para esse sucesso e desenvolvimento tecnológico, com a transmissão/ recepção. A disseminação estratégia das empresas de franquear o a primeira delas é justamente o evolução dos softwares de desses programas deveu-se à software para os usuários que 54 pretendiam sintonizar as rádios cobrando apenas das emissoras. Os software são RealAudio, o MediaPlayer e o Winanp. (TRIGO-DE-SOUZA, 2004, p.292). As transformações tecnológicas começaram na reprodução do som, com a substituição dos toca-discos pelo CD player, passaram também pela gravação e edição com os minidiscs (MD), computadores, softwares e a transmissão via DAB Digital Audio Broadcasting. O sistema de banda larga permite a transmissão de dados com velocidade superior à do sistema tradicional e este casamento entre os dois meios, o antigo e o novo, aparentemente tão distintos, está relacionado à possibilidade de alcance e captação de novos públicos, antes excluídos pelos limites geográficos e também de telecomunicações. Assim, se a emissora veicula uma programação absolutamente segmentada, ela terá localmente um público pequeno. No entanto, pela internet, passa a ter a possibilidade de unir outros pequenos grupos, espalhados geograficamente, em comunidade virtual (TRIGO-DE-SOUZA, 2004, p.296). Trigo-de-Souza cita em seu artigo a tese do professor de Comunicação do Boston College (EUA), Michael Keith, que irão sobreviver as emissoras de programação local, mesmo que pareça contraditória a afirmação, por se tratar de internet, uma mídia de alcance global, mas por outro lado, explica Keith, as emissoras que transplantaram seus sinais do analógico para a rede, aumentou, o que ele chama de audiência “estrangeira” na busca de informações locais, ou seja, pessoas que migraram ou imigraram e que buscam nas emissoras via internet, o vínculo com sua cidade/região natal, com as raízes culturais. Essa união de políticas globais e programações locais, que já foi denominada de glocal, é mais um dos fatores de sucesso da migração do rádio para a internet e da dissolução da pretensa oposição entre os meios: o rádio, ancião dos meios eletrônicos, fortemente regional, e a internet, ícone da modernidade e da comunicação global” (TRIGO-DE-SOUZA, 2004, p.298). A internet é também a mídia que permite a comunicação individual, interpessoal, uma verdadeira reviravolta no conceito de comunicação de massa (umtodos) e que permite a democratização do sistema de produção e informação, ao 55 possibilitar que quaisquer grupos ou pessoas possam disponibilizar seus conhecimentos e informações pela rede. Assim, os cidadãos deixam de ser só consumidores e passam a ser consumidores/geradores de informação. “Trata-se do conceito de multiplicidade de pontos de vista num processo de complexificação das estruturas de comunicação” (TRIGO-DE-SOUZA, 2004, p.298). Outra alteração substancial, explica a pesquisadora, está no tradicional esquema emissor – mensagem – meio – receptor, porque a navegação na internet se dá totalmente em função do receptor, pois é quem vai determinar o caminho a seguir dentro de um site ou sites e é o próprio receptor quem determina também as informações que deseja e qual a sequência, com a oportunidade de também produzir informações por meio da interatividade. 4.3.1 CHICO TERRA Um projeto de rádioweb glocal é desenvolvido pelo fotógrafo e músico Francisco Almeida, o Chico Terra, que criou em 11 de novembro de 2000, um dos primeiros sites de notícias de origem amapaense, o Amapabusca, hoje www.chicoterra.com. Há pouco mais de dois anos Chico Terra criou a Amazônia Brasil Rádio Web, com link no site chicoterra, segundo ele, provocado pela necessidade de levar a música da Amazônia Brasil para o conhecimento do planeta. Uma música de qualidade e que carece da falta de divulgação no Brasil e no resto do mundo. Chico terra explica que a tecnologia utilizada para a Rádio web é o SimpleCast para transmissões ao vivo e um DJ automático ligado a um servidor remoto para rodar a programação essencialmente musical, mas eventualmente são feitas transmissões ao vivo. “No momento estamos retransmitindo o Programa Cultural Festa na Floresta, que vai ao ar aos domingos, das 10 ao meio-dia, pela Rádio Diário FM, e de segunda a sexta, das 18 as 19 o programa jornalístico Café com Notícias da mesma emissora”. O projeto da rádio web é pessoal e deriva da grande vontade de ver a música feita na Amazônia chegando aos ouvidos de todo o planeta, para tanto é preciso trabalhar cotidianamente para manter vivo o sonho de Chico Terra: 56 O que há de extraordinário em uma rádio web é seu baixo custo financeiro em relação às emissoras que dependem de altos investimentos em transmissores e estúdios caros, pessoal e licenças, acessíveis apenas aos grandes empresários ou grupos políticos, como por exemplo, o grupo Beijaflor que praticamente domina a comunicação via rádio no estado. A rádio Web propicia ao público, a diversidade na informação libertando-o da massificação da música apenas comercial. Representa, mesmo nessa fase em que nosso estado vive isso, o que considero um aparteid tecnológico como aquele que está em último lugar em inclusão digital, a porta de entrada para o fim dos conglomerados empresariais que ainda dominam o mercado, infelizmente. Nossa luta consiste agora em estimular a vinda da banda larga a preços populares para que possamos avançar ainda mais nesse processo. 4.3.2 A ESCOLA ANCHIETA NAS ONDAS DO RÁDIO E DA WEB Um dos projetos de educomunicação considerado como um dos mais bem sucedidos do Amapá é o da Rádio Escola José de Anchieta, uma instituição pública do bairro Santa Rita, na região central de Macapá, em desenvolvimento há mais de uma década, o que lhe garante o título de primeira rádio escola amapaense a estar no ar continuamente por mais de dez anos. Hoje a emissora analógica tornou-se um empreendimento glocal porque também está inserida na internet. O professor Francisco Regis lembra que problemas como indisciplina, desinteresse pelo estudo, defasagem escolar, entre outros, preocupava toda a comunidade escolar e uma das soluções apontadas para os problemas sociais escolares foi proposta por Francisco Regis e Lindoval Aquino, funcionários da instituição, que uniram sua paixão por rádio com a necessidade urgente de uma proposta metodológica para melhorar a situação da escola. Juntos fundaram uma das primeiras rádios escolas do estado, batizada de Rádio Educativa e Cultural Anchieta, que começou a funcionar de forma experimental no dia 12 de maio de 1999, um projeto que trazia alternativas para contribuir com a melhoria e o aperfeiçoamento das habilidades e desempenho de alunos e professores no contexto escolar, Com base no histórico da Rádio Anchieta postado no site da escola, sabe-se que inicialmente o objetivo era apenas prender o aluno na escola, proporcionando lazer e entretenimento, utilizando apenas uma caixa de som e microfone no hall de entrada da escola, para músicas e recadinhos. 57 Com a pouca estrutura que a escola possuía na época, os alunos e professores mobilizavam-se para buscar meios de arrecadar recursos para ampliar o projeto. Rifas, bingos e festas comemorativas foram as ações realizadas com a finalidade de comprar equipamentos para estruturar a rádio-escola. Da intenção de chamar a atenção dos alunos durante o intervalo através de músicas e recadinhos, o projeto cresceu para uma rádio-escola com caráter educativo e cultural. Aos poucos os alunos e professores engajados no projeto foram estruturando a rádio com microsystem, mesa de som, fita cassete e microfones e a partir de então a rádio passa a funcionar dentro de uma sala que se transformou em estúdio. O sucesso veio juntamente com a ajuda das professoras: Cátia Regina da Costa Pinto, Lucila de Nazaré Rodrigues, Márcia Nazaré Ataíde Barreto e a diretora da escola na época, a Professora Maria José Silva do Espírito Santo. A partir daí a rádio passa a se chamar Rádio Educativa e Cultural Anchieta ganhando o slogan A nova mania de educar. A logomarca da rádio foi criada através de um concurso, onde o vencedor foi Wellington Alves, aluno da noite do ano de 1999. (RÁDIO ANCHIETA, Histórico, online, maio de 2012). O site da escola publica ainda que a rádio avançou e passou a ter intercâmbios com as emissoras de rádio locais, onde os alunos que participavam do projeto tinham a oportunidade de conhecer outros estúdios e "tietar" com radialistas de grande sucesso na época. Em 2001 integrantes da rádio participaram do Projeto Fala Juventude nas Escolas, em parceria com a Rádio Difusora de Macapá, iniciativa do Governo do Estado que proporcionava aos alunos oficinas de capacitação e estimulava a comunicação na escola através do rádio. Em 2001 a Rádio Anchieta ultrapassa os muros da escola entrando na era da informática. Lança seu primeiro site www.radioanchieta.hpg.com.br, onde todas as informações e acontecimentos da escola eram emitidos em tempo real para todo o mundo. A idéia de criar um site foi para oportunizar as pessoas de outras escolas da cidade, do país e do mundo de conhecerem o projeto e se informarem sobre o que acontecia na rádio e na escola. Atualmente o site da rádio é www.radioanchieta.com.br e proporciona interatividade com os internautas através de mural de recados, enquetes, fotos dos ex-locutores, histórico da rádio e notícias dos eventos da escola. (RÁDIO ANCHIETA, Histórico, online, maio de 2012). O professor Francisco Almeida, que acompanhou toda a trajetória da Rádio Anchieta até agora, ressalta que sempre cresce o número de alunos, a cada ano, que desejam participar da rádio. A curiosidade e a vontade de fazer parte dessa história é o principal fator da procura. Para participar da rádio não basta apenas ter 58 vontade, mas o aluno deve considerar alguns critérios básicos, como ter um bom desempenho em sala de aula com participação, interesse e baixo número de faltas. Anualmente são selecionados cerca de 40 alunos, organizados em equipes de diferentes funções: locutores, operadores de áudio, repórteres. Antes das programações eles participam de oficinas radiofônicas nas quais aprendem as noções básicas de locução, operação de áudio, produção de pautas e scripts. A programação da Rádio Educativa e Cultural Anchieta está organizada nos intervalos das aulas. Toda tarde, ao vivo, durante o intervalo, divulga informações sobre os eventos da escola e da comunidade, seguidas de entretenimento através de músicas, enquetes e recados. Cada dia da semana a grade de programação aborda um tema relevante: cultura, saúde, comportamento, esporte e lazer envolvendo os alunos radialistas na elaboração de um roteiro semanal, incluindo entrevistas com pessoas de fora da escola para falar sobre cultura, comunicação, cidadania e outros. Os ex-alunos são exemplos de dedicação e compromisso para a nova geração. A experiência na rádio rendeu frutos para grande parte deles, o contato com o rádio despertou o interesse de ir além do projeto e muitos hoje são profissionais da comunicação. A história e o trabalho desenvolvido pelo rádio também já foi tema de monografia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. A professora e advogada Débora Teles Damasceno pesquisou os 10 anos de existência da Rádio Educativa e Cultural Anchieta, após pesquisa na escola, conforme exigência do curso de Especialização em Tecnologias da Educação. Também em 2010 o projeto da Rádio Anchieta foi tema de Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo da Faculdade Seama, o que resultou no documentário “Rádio escola: a nova mania de educar”, um vídeo de 13 minutos que relata o cotidiano da escola, contado pelos personagens reais que fazem acontecer a rádio diariamente. A Rádio Anchieta completou doze anos de existência e continua a ser exemplo para as demais escolas, que sempre procuram conhecer a experiência e conversar com os idealizadores do projeto. Carmelita, Azevedo Costa, Barão do Rio Branco, Castelo Branco, entre outras, já visitaram a Rádio. O reconhecimento se 59 deve ao grande trabalho que a coordenação, juntamente com a direção da escola, vem realizando durante todos esses anos. O projeto é coordenado pelo professor Francisco Regis, o idealizador da rádio, e que continua no projeto desde sua criação, agora ao lado da professora Luana Picanço, responsável pela produção e programação da rádio. O trabalho desenvolvido pela Rádio Anchieta mostra que a aliança Educação e Comunicação dá certo. As caixas de som e o microfone promovem o resgate dos alunos que haviam perdido a auto-estima e a vontade de estudar. A rádio Anchieta é exemplo de que a comunicação muda a vida das pessoas e que é necessário apostar na educação, não apenas no contexto da sala de aula, e sim ir mais além, como mostra a trajetória de sucesso que surgiu de uma pequena semente e que hoje rende frutos para a sociedade. (RÁDIO ANCHIETA, Histórico, online, maio 2012). A versão digital da Rádio Anchieta pode ser acessada na forma off-line, com vários links de arquivos e postagens novas a disposição dos internautas que queiram conhecer a rádio e interagir com a equipe do projeto, comentar as notícias, a programação da emissora e as atividades da instituição de ensino. O site é de fato um instrumento de integração escolar, pois divulga a organização, gestão, valorização das pessoas e muitas outras atividades educativas que envolvem toda a comunidade anchietana. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa investigou o fenômeno da comunicação, enquanto fator inerente ao ser humano, que perpassou e perpassa por toda a história da humanidade, com descobertas e invenções dos mais diversos meios, linguagens, recursos para melhorar as relações e aproximar pessoas em um mesmo espaço ou em lugares extremos, como faz hoje a internet e outras diversas tecnologias que não param de avançar. As idéias, atitudes, sentimentos e necessidades dos primórdios da humanidade, mesmo milhares de anos depois, continuam a incomodar e impulsionar o ser humano a buscar máquinas convergentes, e cada vez menores, que possam 60 contribuir com o sempre ‘imperfeito’ processo de comunicação humana em todas as classes, contextos e ambientes, particularmente o escolar, objeto de análise e proposições para melhor desenvolver a missão educacional da comunidade castelana, com possíveis reflexos em outras escolas também necessitadas das TICs, como alternativas atualizadas ao contexto dos alunos. Este estudo de caso sobre um projeto de Educom na Escola Castelo atingiu os objetivos aqui propostos, ao aprofundar um campo de conhecimento ainda considerado novo, mas com experiências históricas de nove décadas do rádio educativo e mais recentemente uma estreita e inovadora afinidade entre educação e comunicação, duas áreas essenciais na formação cidadã de tantos segmentos populares e no desenvolvimento do Brasil, por meio das ondas eletrônicas do rádio, afinidade esta que hoje ocupa um espaço cada vez maior no rádio analógico e digital, nas demais mídias, nas ondas planetárias da Internet e na Educomunicação. A integração teórica e da práxis da Educom vai muito além do que imaginava este pesquisador, por constatar que esta área não existe unicamente nos projetos escolares de comunicação e nas instituições sociais, mas por ser agora um campo científico capaz de transformar a educação no que ela precisa ter e ser na vida escolar e social, ao ponto de tornar simples receptores em pessoas comunicadoras criativas, oportunizando ao aprendente condições de vivenciar os novos modos de promover a comunicação. A falta de funcionamento regular da rádio escola foi confirmada pelo grupo de docentes da Escola Castelo Branco como um dos maiores problemas que inviabilizaram o pleno desenrolar do projeto e uma das principais causas tem sido a ausência de um (a) Orientador (a) de aprendizagem para coordenar e acompanhar este trabalho, caso contrário todo o investimento financeiro em equipamentos, ampliação da sala, a efetivação das oficinas radiofônicas e outros materiais adquiridos por decisão coletiva não estarão sendo aproveitados como devem. Alunos e professores da Escola Castelo Branco acreditam que todos os sujeitos pertencentes a esta comunidade escolar necessitam, entre outras iniciativas, de oportunidades favoráveis a uma formação que se adapte ao tempo tecnológico e social em que estão mergulhados, para que sejam concretizadas as diversas possibilidades de avanços no processo de ensino e aprendizagem, seja em 61 sala de aula, nos demais cenários escolares e nas atividades extraclasses, ao utilizarem a linguagem, a interatividade, criatividades, as produções textuais e demais recursos radiofônicos na formação do protagonismo juvenil responsável, nos princípios da liberdade de expressão, da convivência fraterna e respeito mútuo frente as diversidades culturais e sociais presentes na escola. A valorização da REC, tanto no sistema de som convencional quanto no universo digital com todas as novidades e potencialidades da Internet, são tidos como instrumentos interdisciplinares, perfeitamente facilitadores da viáveis integração e dinamizadores entre de professores, projetos alunos e comunidade, sujeitos de uma programação de rádio interativa, capaz de despertar reflexões e ações pedagógicas fomentadoras de habilidades artísticas, visão crítica da realidade, entretenimento sadio, práticas democráticas e de perspectivas profissionais para a juventude. A análise do projeto da rádio escolar, da perspectiva educomunicativa, confirma que a Escola Castelo Branco deve ter também na Rádio Escolar a presença do (a) Orientador (a) de Aprendizagem, a exemplo dos demais ambientes. Este consenso leva a uma ação propositiva para a Secretaria de Estado da Educação, a fim de que possa deliberar institucionalmente a respeito do reconhecimento das rádios escolas, e por meio de portaria específica ou outro instrumento legal, nomear Orientadores de Aprendizagem de Rádio Escola, do mesmo modo da TV Escola, LIED e outros ambientes. Outra vantagem que incentiva estes projetos, como explicaram alguns estudiosos e produtores de Educom, é o baixo custo financeiro para um empreendimento de grande alcance, afinal os equipamentos básicos são adquiridos principalmente em programas do Governo Federal, já o material de apoio pode vir da própria escolar por meio de promoções, mutirões, e a montagem, manutenção, operação e outros ajustes podem ser feitos pelos próprios alunos conhecedores das tecnologias, professores e técnicos voluntários na escola. A Seed, em conjunto com a Sejuv e órgãos estaduais afins, precisa levar em consideração que devem ser destacados para este serviço de educom professores (as) capacitados (as) para atuarem em Rádio Escola analógica e/ou online, aqueles (as) que cursaram Mídias na Educação pela Unifap ou Tecnologias da 62 Educação pela PUC-Rio ou de outros cursos correlatos, assim como incentivar as gestões das instituições de ensino da rede estadual a implantar projetos de Rádio Escola e de outras mídias, como também apoiar a formação continuada de professores nas TICs, para sejam verdadeiros educomunicadores e junto com os alunos serem protagonistas de nossa história no século XXI. Por sua vez as fontes bibliográficas que fundamentam esta monografia abordam a comunicação como uma das mais importantes ações humanas, pelo poder de instaurar o diálogo, mediar conflitos e difundir conhecimentos sistemáticos e educativos, para que as novas gerações não utilizem as mídias, em grande parte, de maneira aleatória e apenas para acessar assuntos fúteis, aqueles que não contribuem com as soluções dos graves problemas sociais, que não democratizam as políticas públicas, não ajudam as pessoas a entender as crises existenciais e a buscar mais qualidade de vida. Portanto, a chamada Era da comunicação não deve ser entendida somente no aspecto tecnológico, mas um tempo de humanização, da globalização da informação, dos conhecimentos e de ações de combate a todas as formas de exclusão, de iniciativas educadoras que ajudam a construir e reproduzir eficazes espaços de educomunicação, seguindo os trilhos de projetos e programas bem avaliados e com resultados que provam o quanto é fundamental hoje um ensino atualizado com as aspirações ‘glocais’ e com as mídias de alcance global. 63 REFERÊNCIAS ALVES, Nanci. et al. Carretel de invenções: O prazer de aprender com a linguagem do rádio na escola. Belo Horizonte: Segrac, 1999. BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1995. BARBOSA FILHO, André. Gêneros radiofônicos – os formatos e os programas em áudio. São Paulo: Paulinas, 2003. BLOIS, Marlene M. et al. Rádio: sintonia do futuro. São Paulo: Paulinas, 2004. 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Brasília: FUNDESCOLA/ MEC, 2000. SOARES, Ismar de Oliveira. et al. Mutirão Brasileiro de Comunicação. São Paulo: UCBC, 2003. TRIGO-DE-SOUZA, Lígia Maria. et al. Rádio: sintonia do futuro. São Paulo: Paulinas, 2004. TRINDADE, Osmar. De ouvintes a locutores – Fala juventude, fala pelo rádio. Geração (O PDSA em revista do Departamento de Comunicação Social do Governo do Amapá), Macapá, 8, 1999. VIGIL, José Ignácio López. Manual urgente: Radialistas apasionados. QuitoEcuador: Artes Gráficas Silva, 1997. 65 ANEXOS – Questionários de Pesquisa UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ – UNIFAP CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO MÍDIAS NA EDUCAÇÃO MONOGRAFIA: ANÁLISE DE UM PROJETO DE EDUCOM: ESTUDO DE CASO NA RÁDIO ESCOLA CASTELO CURSISTA: OSCAR COSTA DA SILVA FILHO MACAPÁ/AP MAIO/2012 QUESTIONÁRIO DO (A) PROFESOR (A) NOME: FUNÇÃO NA ESCOLA: 1.VOCÊ CONHECE O PROJETO DA RÁDIO ESCOLA CASTELO? 2.VOCÊ TEM CONHECIMENTO QUE A SALA DA RÁDIO ESCOLA POSSUI TODOS OS EQUIPAMENTOS NECESSÁRIOS PARA O FUNCIONAMENTO DA RÁDIO E QUE FORAM ADQUIRIDOS COM RECURSOS FINANCEIROS DO GOVERNO FEDERAL POR MEIO DO PDE/PDDE? 3.NA SUA OPINIÃO POR QUE O PROJETO DA RÁDIO NÃO FUNCIONA COMO DEVERIA? 4.O PROJETO DA RÁDIO ESCOLA É IMPORTANTE? POR QUÊ? 5. DE QUE FORMA É POSSÍVEL INTEGRAR A RÁDIO ESCOLA COM OS DEMAIS AMBIENTES DE APREDIZAGEM? 6. CASO A RÁDIO ESCOLA TENHA ORIENTADOR (A) DE APRENDIZAGEM PODERÁ FUNCIONAR COMO DEVERIA, A EXEMPLO DE AMBIENTES COMO TV ESCOLA, LIED, SALA DE LEITURA, ETC? 7. COMO VOCÊ AVALIA A IDEIA DA RÁDIO ESCOLA FUNCIONAR TAMBÉM COMO MÍDIA DIGITAL, NA INTERNET? 8. PARA VOCÊ QUAL A IMPORTÂNCIA DAS MÍDIAS NO ENSINO ESCOLAR ATUALMENTE? 66 QUESTIONÁRIO DO ALUNO (A): NOME: SÉRIE: 1.VOCÊ CONHECE O PROJETO DA RÁDIO ESCOLA CASTELO? 2.VOCÊ TEM CONHECIMENTO QUE A SALA DA RÁDIO ESCOLA POSSUI TODOS OS EQUIPAMENTOS NECESSÁRIOS PARA O FUNCIONAMENTO DA RÁDIO E QUE FORAM ADQUIRIDOS COM RECURSOS FINANCEIROS DO GOVERNO FEDERAL POR MEIO DO PDE/PDDE? 3. VOCÊ JÁ PARTICIPOU DE ALGUMA OFICINA DE RÁDIO NA ESCOLA? O QUE ACHOU? 4. CASO A RÁDIO ESCOLA TENHA ORIENTADOR (A) DE APRENDIZAGEM PODERÁ FUNCIONAR COMO DEVERIA, A EXEMPLO DE AMBIENTES COMO TV ESCOLA, LIED, SALA DE LEITURA, ETC? 5.COMO VOCÊ AVALIA A IDEIA DA RÁDIO ESCOLA FUNCIONAR TAMBÉM COMO MÍDIA DIGITAL, NA INTERNET, UMA RÁDIOWEB? 6. PARA VOCÊ QUAL A IMPORTÂNCIA DAS MÍDIAS NO ENSINO ESCOLAR ATUALMENTE?