QUÍMICA NA COZINHA: DA SALA DE AULA AO COTIDIANO
Andressa Dantas Delfino (UFPB/CCA – Bolsista Subprojeto Química PIBID/CAPES)
Maria Abílio Fragoso (UFPB/CCA – Bolsista Subprojeto Química PIBID/CAPES)
Jefferson de Lemos Medeiros (UFPB/CCA – Bolsista Subprojeto Química
PIBID/CAPES)
Maria Betania Hermenegildo dos Santos (UFPB/CCA – Professora/Coordenadora
Subprojeto Química PIBID/CAPES)
RESUMO
Diante dos desafios impostos à educação básica, em especial ao ensino de química, fazse necessário refletir sobre as ações que podem contribuir com sua melhoria; uma
maneira de incentivar os educandos do ensino médio a se interessarem pelo
conhecimento químico é trazer a química para mais próximo deles, por meio da
contextualização que permite articular teoria e prática, conforme as diretrizes definidas
nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) os quais visam a um ensino de química
voltado não só para as informações científicas mas também para o cotidiano do aluno.
Ante o exposto objetivou-se, com este trabalho, verificar se trinta e três alunos do
terceiro ano do ensino médio de uma escola estadual do município de Areia–PB,
conseguem relacionar os conteúdos vistos em sala de aula com a cozinha da sua casa.
Metodologicamente, a coleta de dados se baseou em um questionário constituído de dez
questões objetivas a eles aplicadas. Na análise dos resultados constatou-se que mais de
95% dos alunos afirmam ter alguma dificuldade em relacionar os conteúdos vistos em
sala de aula com o que ocorre na sua cozinha; este resultado foi comprovado com o
elevado percentual de respostas erradas fornecidas pelos discentes, nos seguintes
questionamentos: 85% dos indagados não souberam responder qual a composição do
gás de cozinha, 82% responderam de maneira errada qual o gás responsável pelo
crescimento da massa do bolo. Com base nos resultados obtidos observa-se, nesta
pesquisa, que o processo do ensino de química não segue as recomendações dos PCNs,
no que se refere à contextualização dos conteúdos de química; assim, é imprescindível
desenvolver novos métodos de ensino que utilizem a contextualização como um recurso
para a construção do conhecimento baseado nas relações que os alunos estabelecem
entre o conceito e sua realidade.
Palavras-chave: Ensino De Química, PCNs, Contextualização.
1
1. INTRODUÇÃO
Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs de Química do Ensino
Médio, a área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias (Física,
Química, Biologia e Matemática) têm, em comum, a investigação relacionada à
natureza e o desenvolvimento tecnológico; é com ela que a escola deve compartilhar
linguagens que compõem cada cultura científica estabelecendo medições capazes de
produzir o conhecimento escolar, na relação dinâmica de conceitos cotidianos e
científicos (BRASIL, 2002).
Segundo Silva (2011) o ensino de química vem, no Brasil, declinando por ser
caracterizado por aulas que, na maioria das vezes, são apenas expositivas, em que os
conceitos químicos são resumidos a comprovações matemáticas, desvinculados dos
fenômenos que levam à sua quantificação e das relações desses conceitos com situações
reais do contexto socioeconômico e cultural, no qual o indivíduo está inserido.
Para Chassot (1995); Ferreira, Figueiredo (2012) a falta de contextualização no
ensino de química acarreta o desinteresse e uma série de dificuldades no aprendizado
dos discentes, devido à distância estabelecida entre os conteúdos estudados em sala de
aula e a realidade desses alunos. Neste sentido é importante que novas propostas de
ensino capazes de contextualizar a química e o cotidiano dos alunos sejam
desenvolvidas.
Almeida (2009) afirma que a pesquisa realizada com jovens do ensino médio
revelou que eles não veem relação alguma da Química com sua vida nem com a
sociedade, como se os conteúdos aprendidos na escola não tivessem ligação com os
alimentos industrializados, os produtos de higiene pessoal e limpeza, os agrotóxicos ou
as fibras sintéticas de suas roupas.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais Para o Ensino Médio –
PCNEM, contextualizar a química não é promover uma ligação artificial entre o
conhecimento e o cotidiano do discente. Não é obter exemplos como ilustração ao final
de algum conteúdo; nesses documentos a contextualização é apresentada como
ferramenta que possibilita, ao aluno, uma aprendizagem mais significativa pois para os
PCNEM muito mais do que fazer os alunos absorver o conteúdo a contextualização teria
a finalidade de educá-los para a vida (BRASIL, 1999).
A contextualização no ensino de química deve, além de aumentar o interesse do
educando pela química, fazer com que observem como a química está presente em sua
2
vida, sendo, assim, capaz de formar pessoas que participem ativamente de uma
sociedade em constante evolução (ALMEIDA, 2009).
Oliveira (2012) afirma que a contextualização para o ensino de química tem-se
tornado imprescindível e em uma ferramenta poderosa, desde que por meio desta, o
aluno passe a desenvolver seu lado crítico e se sinta mais motivado despertando o
interesse dos alunos pela química ressaltando a curiosidade pelos conhecimentos
químicos.
Segundo Lima et al. (2000) a contextualização em disciplinas complexas como a
química, é extremamente importante, pois pode ser responsável pela diminuição do
nível de rejeição do estudo desta ciência pelos alunos facilitando o processo de ensinoaprendizagem.
De acordo com Sales et al. (2011) o docente não pode limitar-se a passar apenas
conhecimentos técnicos para seus alunos; ele precisa valorizar as situações em que o
discente participa do processo de ensino-aprendizagem; para realizar tal tarefa o
professor deve trazer para a sala de aula, problemas que, além de serem do interesse dos
alunos devem estar relacionados ao seu cotidiano e com os conteúdos da disciplina.
Uma maneira de promover esta contextualização entre a disciplina e o cotidiano
dos alunos é associar o conteúdo visto em sala de aula com uma cozinha visto que,
dessa forma, o docente tornará as aulas mais atrativas fazendo com que os alunos
absorvam o conteúdo mais facilmente tendo em vista que a cozinha é um ambiente
conhecido por todos (SALLES, 2011).
Ante o exposto objetivou-se, com este trabalho, verificar se trinta e três alunos
do terceiro ano do ensino médio de uma escola estadual do município de Areia – PB,
conseguem relacionar os conteúdos vistos em sala de aula com a cozinha da sua casa.
2. METODOLOGIA
A pesquisa foi desenvolvida em uma escola da rede estadual de ensino situada
no brejo paraibano, no município de Areia- PB, que atua com os níveis fundamentais e
médios.
O público alvo desta pesquisa foi composto por 33 (trinta e três) alunos de uma
turma do 3° ano do ensino médio dessa escola.
3
A princípio foram ministradas pelo professor, as aulas teóricas, com recursos
básicos (quadro branco e caneta).
A coleta de dados deste trabalho foi realizada usando-se um questionário
constituído de 10 (dez) questões objetivas e contextualizadas relacionadas ao conteúdo
programático já estudado pelos mesmos.
Após a aplicação dos questionários os dados obtidos foram tabulados em forma
de planilha e a partir de então foram elaborados gráficos.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Figura 1 apresenta a resposta dos alunos quando indagados sobre a relação
entre o conteúdo de química visto em sala de aula com o que ocorre na sua cozinha,
notando-se que apenas 3% dos alunos relatam sempre conseguir estabelecer uma
relação entre os assuntos vistos em sala de aula e em sua cozinha; 79% afirmam que às
vezes ou raramente conseguem obter esta relação; 9% nunca conseguem e 9% não
souberam responder. Esses resultados demonstram que os docentes não estão seguindo
as recomendações dos PCNEM, visto que os alunos ainda não conseguem estabelecer
uma relação entre o assunto ministrado em sala de aula com o seu cotidiano.
Resultados similares foram obtidos por Aguiar (2010) e Oliveira (2012) em que
mais de 60% dos alunos indagados afirmam não conseguir relacionar o conteúdo de
química visto em sala de aula com sua vida cotidiana.
Na Figura 2 visualiza-se a resposta dos discentes quando foram questionados
sobre qual o gás liberado no crescimento da massa de um bolo.
Na análise do gráfico desta figura observa-se que mais de 80% dos alunos não
souberam responder qual gás liberado no crescimento da massa de um bolo.
Na tentativa de conhecer o grau de conhecimento dos alunos sobre a composição
do gás liquefeito de petróleo (GLP), foi realizado o questionamento apresentado na
Figura 3.
De acordo com os dados mostrados desta Figura, apenas 15% responderam de
maneira correta, que o GLP é uma mistura do gás propano com butano. Em sua maioria,
os discentes erraram já que optaram por afirmar que o GLP é constituído por
hidrocarbonetos parafínicos.
4
Em pesquisa realizada por Oliveira (2012) mais da metade dos alunos não
conseguiu identificar qual a fórmula do principal gás responsável pelo gelo seco e efeito
estufa e qual seria o gás responsável por fazer os balões de festas subirem
espontaneamente.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados obtidos nesta pesquisa demonstram que mais de 95% dos discentes
indagados afirmam ter alguma dificuldade em estabelecer uma relação entre o conteúdo
ministrado em sala de aula com sua vida cotidiana. Este dado ficou comprovado pelo
elevado percentual de erros observados nas questões que relacionam o conteúdo de
química e situações presentes na cozinha dos alunos.
Para mudar tal realidade faz-se necessário o uso de métodos que utilizem a
contextualização como ferramenta capaz de proporcionar, ao aluno, a curiosidade pela
química e o interesse para aprender determinados assuntos.
5.
REFERÊNCIAS
AGUIAR, C. T. de. Avaliação da importância do uso de laboratório nas aulas de
química do ensino médio em uma escola pública do município de Queimadas, PB.
Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Química) – Universidade Estadual da
Paraíba, Campina Grande, PB, 2010.
ALMEIDA, S. L. de. A Contextualização no Processo de Ensino-Aprendizagem de
Química: Uma Perspectiva Indispensável. Trabalho de Conclusão de Curso
(Licenciatura em Química) – Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, PB,
2009.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação e Tecnológica. Parâmetros
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília, 1999.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação e Tecnológica. Orientações
Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais-PCN+.
Ensino médio: ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. Brasília, 2002.
CHASSOT, A. I. Para que(m) é útil o ensino? Alternativas para um ensino (de
química) mais critico. Canoas: ULBRA, 1995.
5
FERREIRA, M. B. P; FIGUEREDO, G.P de. Influência da experimentação no
ensino-aprendizagem de Química: dificuldades de aprendizagem e contextualização
por escassez de práticas no ensino médio. 7° Congresso norte nordeste de pesquisa e
inovação, 2012, Anais eletrônicos... Palmas-Tocantis: IFTO, 2012. Disponível em:
<http://propi.ifto.edu.br/ocs/index.php/connepi/vii/paper/viewFile/677/1129>
.
Acesso em: 05/10/2014.
LIMA, J. F. L. et al. A contextualização no ensino de Cinética Química. Química Nova
na Escola, São Paulo, n. 11, p. 26-29, 2000.
OLIVEIRA, F. A. de. Percepção dos Alunos do Ensino Médio Quanto à
Contextualização do Ensino de Química no Município de Gurjão – PB. Trabalho de
Conclusão de Curso (Licenciatura em Química) – Universidade Estadual da Paraíba,
Campina Grande, 2012.
SALES, B. C. P. et al. química da cozinha à sala de aula. 3° Congresso Internacional
de Educação, 2011, Anais eletrônicos... Ponta Grossa- Paraná: UEPG, 2011.
SALLES, H. D de. Química na cozinha: uma proposta de ensino contextualizada.
Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Química) - Universidade Federal do
Rio
Grande
do
Sul,
Porto
Alegre,
2011.
Disponível
em:
<https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/32757/000786911.pdf?sequence=1
>. Acesso em: 05/10/2014.
SILVA, A. M. Proposta para tornar o Ensino de química mais atraente. Revista de
Química Industrial, Rio de Janeiro, n. 731, p. 7-12, 2011.
6
ANEXO
100%
80%
60%
42%
36%
40%
20%
9%
3%
0%
Sempre
Ás vezes
Nunca
9%
Raramente
Nãi sei
Figura 1. Relação estabelecida pelos alunos entre o conteúdo de química e
seu cotidiano.
82%
100%
80%
60%
40%
18%
20%
0%
Acertos
Erros
Figura 2. Percentual de alunos que acertaram ou não o gás liberado no
crescimento da massa de um bolo.
7
85%
100%
80%
60%
40%
15%
20%
0%
Acertos
Erros
Figura 3. Qual a composição do gás GLP (Gás Liquefeito de Petróleo).
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