Formulação de Políticas Públicas para a Aglomeração de Software em Londrina
Autoria: Marcia Regina Gabardo da Câmara, Maria de Fátima Sales de Souza Campos,
Vanderlei José Sereia, Luiz Gustavo Antonio de Souza
RESUMO
O estudo realiza um diagnóstico do arranjo produtivo de software de Londrina-Pr, identificando
as potencialidades e limitações, para propor políticas públicas para incrementar o
desenvolvimento da aglomeração. Os procedimentos metodológicos envolveram uma revisão da
literatura acerca dos arranjos produtivos no Brasil e uma pesquisa de campo com 25 empresas,
realizada mediante entrevista pessoal com os sócios proprietários, e entrevistas com os atores
envolvidos com o APL. O estudo permitiu caracterizar as empresas, as atividades produtivas e
inovativas, os determinantes e barreiras à ação inovadora e à atividade exportadora no APL, a
existência dos elos horizontais, verticais e multilaterais, o grau de desenvolvimento da
governança e as sugestões de políticas públicas, de forma a acelerar a ação inovativa e o
desenvolvimento do APL. A partir das entrevistas com os atores envolvidos, são recomendadas
várias ações de políticas públicas para dinamizar o arranjo e potencializar o seu desenvolvimento.
Foram identificados os gargalos produtivos e tecnológicos e analisados os fatores destacados na
literatura para o sucesso do arranjo produtivo de software, de maneira a transformá-lo em um
sistema local de inovações em software exportador a médio prazo.
1
1. Introdução
A indústria de software, a eletrônica e as telecomunicações constituem o setor de
eletroinfocomunicação, por estarem associadas às tecnologias de informação. Segundo Gutierrez
e Alexandre (2004, p. 5), software é um “Conjunto de instruções e dados que permitem a um
computador a realização de tarefas previamente programadas, seja por uma máquina (hardware)
ou outros softwares”. Conforme Sommerville (2004, p.5) “[...] software não é apenas o programa,
mas toda a documentação associada e os dados de configuração necessários para fazer com
que esses programas operem corretamente.”
O software integra várias cadeias produtivas e é um requisito necessário para o comando de
equipamentos informatizados. O software é um insumo importante para o desenvolvimento da
indústria eletro-eletrônica, mecânica, química, telecomunicações e para indústrias tradicionais
que informatizam seus equipamentos (móveis, têxteis, etc.). Gutierrez e Alexandre (2004)
comentam que há várias formas de classificar o software, além da classificação tradicional
baseada no modelo de negócios, subdividida em três categorias: produtos, serviços e embarcados.
Os produtos de software podem ser divididos em três categorias: infra-estrutura,
ferramentas e aplicativos (classificação técnica). Também podem ser classificados quanto a:
• inserção no mercado: horizontal, quando destinado a qualquer tipo de usuário e vertical,
quando é destinado a uma atividade ou usuário específico. Também podem se caracterizar
como produtos de massa e corporativos.
• formas de comercialização: pacote, produtos padronizados, produtos customizados e sob
encomenda.
De acordo com Gutierrez e Alexandre (2004, p. 14), os serviços profissionais de Tecnologia
da Informação (TI) compreendem: “consultoria, desenvolvimento de aplicativos (software sob
encomenda), integração, treinamento, suporte técnico e manutenção, entre outros.” Eles podem
ser classificados pelo método de compra: serviços discretos (de curto prazo) e outsourcing, que
apresenta relações contratuais de longo prazo, metas de desempenho e requer troca de
informações, coordenação e confiança entre as partes (KUBOTA, 2005). Finalmente, a última
tipologia classifica os softwares como embarcados, pois está integrado a uma máquina,
equipamento ou bem de consumo.
Segundo o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social – IPARDES
(2005a) e a Associação de Desenvolvimento Tecnológico de Londrina – ADETEC (2005),
Curitiba, Londrina, Maringá e Pato Branco apresentam excelentes perspectivas para o
desenvolvimento desse segmento no estado do Paraná. Há no Paraná empresas com capacitação
respeitável em tecnologias de software. Londrina, em particular, se destaca no panorama nacional
como importante produtor nacional de bens e serviços de Tecnologia de Informação (TI), citando
como exemplo as empresas: Jabur Informática, Exactus, Consystem, Softcenter, Mabtec, entre
outras.
A cidade de Londrina localiza-se no norte do Paraná e sua população segundo o Censo
Demográfico 2000 do IBGE totalizou 447.065 habitantes (PML, 2006). A população foi estimada
em 480.822 habitantes em 2004 pelo IBGE. A densidade demográfica de Londrina foi calculada
em 259,21 hab/Km² (PML, 2006) e estimada em 291,26 hab/Km² (IBGE – Estimativa da
População 2004). Segundo o SINE, os empregos estimados no setor formal totalizaram 103.227
(MTPS/SINE - 2003) e o PIB per capita alcançou R$ 7.624,00 (PML, 2006).
Em 2003 havia em Londrina 1.847 estabelecimentos industriais (10,2%), 7.874 comerciais
(43,3%) e 8.460 estabelecimentos do setor de serviços (46,5%). O setor serviços é responsável
por uma parcela crescente do número de estabelecimentos, do emprego e da geração de impostos
2
(por exemplo: o ICMS arrecadado pelas atividades agropecuárias foram 8,5%, as atividades
industriais 17%, o comércio 35% e outras atividades 39%).
O IPARDES (2005a; 2005b; 2005c) realizou um estudo exploratório para identificar, a
partir de dados secundários, as aglomerações industriais e de software existentes no Paraná e
selecionar os estudos de caso. Para validar os resultados identificados no levantamento de dados
secundários realizou visita a 35 cidades e contatou 131 empresas e 117 instituições. O APL de
software de Londrina foi classificado pelo Ipardes (2005a; 2005c) a partir da metodologia de
Suzigan et al. (2004a e 2004b) como vetor avançado, por reunir elementos que permitiram a
caracterização estrutural preliminar como um arranjo produtivo local: as iniciativas dos próprios
protagonistas, do agente Softex local ADETEC e dos elos multilaterais e horizontais
identificados.
O desenvolvimento da indústria de software, da eletrônica e das telecomunicações,
segmentos que constituem o setor de eletroinfocomunicação, pode contribuir para ampliar a
competitividade e produtividade do setor e da indústria de transformação em geral, ao fornecer
serviços e produtos intensivos em tecnologia e capital humano. Sampaio (2006) destaca que o
padrão da indústria de software brasileiro está voltado para o mercado interno, há forte presença
de micro e pequenas empresas e seu desenvolvimento tem sido marcado pela presença de
políticas públicas de fomento e de redes de apoio às empresas.
Diante da sua importância, esta pesquisa procurou responder às seguintes questões: quais as
características da indústria de software de Londrina? Pode-se afirmar que existe em Londrina
uma aglomeração de empresas do setor e com grau médio de inovação e cooperação? Como
ocorrem os processos de inovação e aprendizado pelas empresas do setor de software do
município de Londrina? Verificam-se relações de cooperação e interação entre as empresas do
setor e outras instituições locais? Com que intensidade? O ambiente local (estrutural, institucional
e relacional) é propicio ao desenvolvimento de uma aglomeração produtiva inovativa de
software? O desenvolvimento e a institucionalização do APL de software estão contribuindo para
o desenvolvimento econômico regional?
A partir dessas questões, o objetivo geral do estudo é analisar a dinâmica do arranjo
produtivo de software de Londrina e seus determinantes. O artigo encontra-se dividido em 6
seções, incluída esta introdução. Na seção seguinte faz-se uma breve revisão de literatura sobre
arranjos produtivos locais (APLs). Na seção três, apresentam os procedimentos metodológicos,
na seção quatro, caracteriza-se o setor de software, na seção cinco discutem-se as contribuições
das instituições visitadas e das empresas - principais atores - e na seção seis apresentam-se as
recomendações de políticas públicas para potencializar o desenvolvimento do APL de software
de Londrina.
2. A Importância dos Arranjos Produtivos Locais
A relevância dos estudos de clusters ou APL’s, no Brasil, ganha fôlego a partir dos estudos
de economias industrializadas e economias em desenvolvimento que superaram barreiras porque
criaram movimentos internos de aglomerações espaciais de indústrias com ligações entre si.
Albagli e Brito (2003) e Cassiolato e Lastres (2003; 2004) convergem em sua definição de
clusters ou arranjos produtivos locais como sendo aglomerações territoriais de agentes
econômicos, políticos e sociais cujo foco se encontra em um conjunto específico de atividades
econômicas que podem apresentar vínculos mesmo que sejam incipientes.
Os APL’s podem ser analisados sob vários aspectos do ponto de vista teórico e empírico.
As principais abordagens da literatura sobre cluster são apresentadas a seguir. A nova geografia
econômica, proposta por Krugman (1998), destaca que a aglomeração pode emergir de um
3
acidente histórico e da presença de economias externas acidentais e incidentais. A economia dos
negócios de Porter (1998) enfatiza a importância da concentração das habilidades locais para as
inovações comerciais e tecnológicas, incrementando a competitividade das firmas. A economia
regional, com destaque para Pyke e Sengenberger (1992) e Markusen (1996), que abordam a
tendência do capitalismo a se organizar em clusters e a presença do governo pode criar fortes
vantagens competitivas regionais. A economia da inovação, segundo Audretsch (1998) enfatiza
que a concentração geográfica das firmas aumenta suas capacidades de avanço tecnológico por
criar um ambiente propício para a geração de conhecimento por existir várias pessoas com mútuo
interesse num dado local, além do conhecimento tácito gerado pelo setor.
O conceito de eficiência coletiva (SCHMITZ, 1995; 1997) parte do principio que as
economias externas marshallianas são necessárias, mas não suficientes, para explicar o
desenvolvimento e a competitividade de empresas aglomeradas. Schmitz (1997) ainda afirma que
o conceito de eficiência coletiva extrapola a esfera produtiva em sentido estrito, uma vez que a
cooperação entre firmas ou as ações de políticas públicas podem se dar também no âmbito
tecnológico ou inovativo, ilustrado pela formação de consórcios de exportação, ações de
marketing, compras conjuntas, entre outros.
Surge um novo padrão onde se substituem os moldes da era industrial, baseado no
conhecimento, embasado em novas práticas de produção, comercialização e consumo de bens e
serviços, novos aparatos e instrumentais científicos e produtivos (CASSIOLATO e LASTRES,
2003). A concentração geográfica e setorial de firmas de pequeno e médio porte, em
aglomerações produtivas pode permitir ganhos de escala, efeitos sinergéticos e competitividade.
Segundo Cassiolato e Lastres (2003, p.11), os arranjos produtivos locais: “[...] são
aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto
específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes”. Em
geral, envolvem a participação e interação de empresas como prestadoras de serviços, produtoras
de bens e serviços finais, fornecedoras de insumos e equipamentos, entre outras. Incluem
instituições públicas e privadas que formam a capacitação de recursos humanos (escolas técnicas
e universidades), pesquisa, desenvolvimento e engenharia, política, promoção e financiamento.
Para gerar inovações é necessária a aquisição e a difusão de conhecimentos. Segundo Foray
e Lundvall (1996), há duas perspectivas na economia baseada no conhecimento, que não são
mutuamente exclusivas. A primeira refere-se a identificar um setor separado que produz novos
conhecimentos ou distribui informações. Na segunda perspectiva deve-se considerar a criação e
difusão de conhecimento emanada de atividades rotineiras na vida econômica, e que toma a
forma do aprendendo-fazendo, aprendendo-usando e aprendento-interagindo. Know-how e
competências têm sido desenvolvidos interativamente e partilhados em redes (LUNDVALL,
2004).
Edquist (2001) aponta as principais funções de um Sistema de Inovações (SI), que são, em
primeiro lugar, produzir, difundir e usar inovações e podem ser supranacional, nacional e
subnacional (regional, local), e podem ainda ser setoriais dentro dessas demarcações geográficas.
As organizações e instituições são os componentes principais de um sistema de inovação, porém
a especificação desses componentes varia entre os sistemas. Organizações são estruturas formais
com um objetivo explícito e são criadas conscientemente. Instituições são conjuntos de hábitos
comuns, rotinas, práticas estabelecidas, regras, ou leis que regulam as relações e inter-relações
entre indivíduos e organizações.
A cooperação intensa entre os agentes, “cooperação competitiva”, incrementa o
desempenho industrial e maximiza a eficiência e a competitividade. Mytelka e Farinelli (2000)
distinguem duas formas de cooperação entre firmas: vertical – estabelece relações entre firmas
4
que desenvolvem atividades complementares em diferentes estágios da cadeia produtiva;
horizontal – ocorre entre empresas do mesmo porte, que atuam num mesmo segmento e pode
envolver instituições de apoio. Entretanto, a cooperação entre os agentes é determinada por
diversos fatores, entre eles a estrutura de governança. A governança em um cluster refere-se aos
diferentes modos de coordenação, intervenção e participação dos diversos agentes, envolvendo o
Estado em seus vários níveis, empresas, trabalhadores e organizações não-governamentais, nos
processos de decisão locais e nas diversas atividades que envolvem a organização dos fluxos de
produção.
3. Procedimentos metodológicos
A literatura de metodologia destaca a existência de vários métodos para coletar e analisar a
evidência dos dados empíricos e, cada um dos métodos apresenta vantagens e desvantagens. O
método escolhido é o survey, que permite descrever o processo de obtenção de dados e
informações sobre características, ações ou opiniões de determinado grupo de pessoas, indicado
como representante de uma população-alvo, por meio de um instrumento de pesquisa, um
questionário . Segundo Cooper e Schindler (2003) há três abordagens de comunicação que podem
ser utilizadas na aplicação da survey: entrevista pessoal, entrevista telefônica e surveys autoadministradas por correspondência. Na presente pesquisa foi adotada a entrevista pessoal
configurando a pesquisa de campo presencial. A pesquisa é de natureza exploratória, transversal e
formal e visou caracterizar o arranjo produtivo de software de Londrina, classificado segundo
IPARDES (2005c) como vetor avançado.
A coleta de informações foi realizada a partir de um questionário de 74 questões,
desenvolvido a partir da revisão de literatura. O cálculo e a análise do quociente locacional
permitiu verificar a existência em Londrina de especialização produtiva no segmento de software,
na área de informática (QL> 1,65) e na área de desenvolvimento de software (QL>1,16),
conforme a metodologia proposta por IEDI (2002). Segundo dados da RAIS, em 2004, 149
empresas de Londrina estavam atuando em diferentes segmentos da informática, com geração de
826 empregos formais diretos.
O Quadro 1 apresenta o cadastro de empresas do setor de Informática da Prefeitura
Municipal de Londrina (PML) em 2005, universo a partir do qual foram selecionadas as empresas
para a amostra da pesquisa. As empresas associadas ao Núcleo Softex Norte do Paraná também
estão cadastradas na PML (2005), cujos códigos aparecem no Quadro 1.
Segundo recomendação da nota metodológica do IPARDES (2005c), as empresas
entrevistadas deveriam ser representativas quanto ao porte da empresa e ao desenvolvimento de
software (produtos/serviços) na área da tecnologia de informação (TI). Desta forma, realizou-se
um levantamento sistemático no cadastro das empresas da PML, das empresas da Plataforma de
Tecnologia da Informação (PLATIN) e das empresas incubadas na Incubadora Internacional de
Empresas de Base Tecnológica da UEL (INTUEL) para selecionar a amostra. Foram selecionadas
25 empresas que afirmaram desenvolver atividades de software nas áreas de gestão, comercial,
agrícola, industrial, educação, serviços e entretenimento.
A pesquisa de campo teve início com o contato telefônico para verificar a existência da
firma, sua localização e confirmação da área de atuação (desenvolvimento de software) e
anuência para a participação na pesquisa. O setor é muito dinâmico e responde rapidamente aos
estímulos do mercado e das políticas governamentais. Com a escassez de recursos financeiros,
muitas firmas fecharam as portas no período pós-2000, quando o Projeto Softex se encerrou.
5
QUADRO 1 – Número de empresas do setor de informática com alvará de funcionamento da
Prefeitura Municipal de Londrina em 2005
Código de
Atividade
1218018
1218026
1218034
1218042
1218050
1218069
1218077
Seleção
ATIVIDADE DESENVOLVIDA
Análise e desenvolvimento de sistemas
Programação
Processamento de dados e congêneres
Elaboração de programas de computadores , inclusive de jogos eletrônicos.
Licenciamento ou cessão de direito de uso de programas de computação
Assessoria e consultoria em informática
Suporte técnico em suporte técnico em informática, incluindo instalação, configuração e
manutenção de programas de computação e bancos de dados
1218085
não
Planejamento, confecção, manutenção e atualização de páginas eletrônicas.
1218999
não
Outros serviços de informática e congêneres
Fonte: Prefeitura Municipal de Londrina, 2005.
sim
sim
não
sim
não
sim
não
Foram entrevistadas vinte e cinco empresas que desenvolvem softwares industriais,
agrícolas, financeiros, de entretenimento, software de prateleira e sob encomenda e oferecem
serviços diversos. Em todas as empresas pesquisadas o capital era 100% nacional e o tempo
médio de funcionamento era de 10 anos. A empresa mais antiga iniciou as operações em 1970,
mas 14 empresas foram fundadas a partir de 2000. Em relação ao porte, mensurado através da
faixa de faturamento anual, 57% da amostra é formada por microempresas e 43% são empresas
de pequeno porte. Foram entrevistadas todas as instituições que atuam junto ao APL de software
de Londrina. As instituições de ensino superior de Londrina que ofertam cursos presenciais de
graduação e especialização na área de informática são listadas no quadro 2.
QUADRO 2 – Cursos superiores de graduação na área de informática em Londrina – 2006
Nome do Curso e
Faculdade
Descrição
Diploma Conferido
Data de início do
funcionamento
Prazo para
integralização do
curso
Carga Horária
Mínima do Curso
Regime Letivo
Oferta
Ciência da
Computação
Curso Superior de
Tecnologia em
Processamento de
Dados
UNOPAR
Tecnólogo
Engenharia da
Computação
UNOPAR
Engenheiro da
Computação
Metropolitana
04/03/1991
05/02/1990
01/09/1997
4 anos
6 Semestres
9 Semestres
3.642 horas/aula
2.400 horas/aula
3.600 horas/aula
Anual
Integral
40
Semestral
noturno
90
UEL
Bacharel
Sistemas de Informação
PUCPR
Bacharel
UNIFIL
Bacharel
01/04/2001
18/02/2002
31/07/2001
8 Semestres
8 Semestres
4 anos
3.224
horas/aula
semestral
noturno
3.384
horas/aula
semestral
noturno
60
3.060
horas/aula
anual
noturno
100
Bacharel
Anual semestralizado
Matutino, Noturno
Diurno: 90
Vagas Autorizadas
150
Noturno: 140
Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), 2006. Elaboração dos autores.
4. Caracterização do setor de software em Londrina
Foram entrevistadas 25 empresas, com idade média aproximada de 10 anos. Entre as
principais características das empresas destacava-se a sociedade limitada (88%) e o fato de serem
empresas de capital 100% nacional. A atividade na área de desenvolvimento de software requer
mão-de-obra qualificada e a maioria dos sócios possui formação superior (21). As formas de
gestão predominante são a condução pelo sócio majoritário e a gestão profissional.
6
A escolaridade do sócio ao fundar a empresa era diversificada, com um grau elevado da
qualificação. Predominam os sócios formados em Administração e Computação e vários possuem
o título de Mestre. As empresas têm em média 3 sócios e a análise da auto-classificação do
faturamento revela que 60% das empresas amostradas são microempresas, 36% pequenas
empresas e 4% médias empresas. A média de idade dos sócios fundadores é inferior a 30 anos.
Na atualidade, os sócios que iniciaram a firma com o segundo grau ou técnico não
investiram na qualificação, ao contrário dos sócios que desenvolviam estudos superiores. Houve
um esforço no sentido de realizar a qualificação formal. Os sócios entrevistados melhoraram a
qualificação ao longo do período: 27% dos sócios têm Mestrado, 53% têm títulos de curso
superior, 8% não finalizaram os cursos de graduação e 12% permaneceram com os estudos de
nível médio.
A maioria das empresas é dirigida pelos sócios majoritários (9), mas também se verificou a
presença de gestão profissionalizada (7), gestão compartilhada pelos sócios (3) e menor grau
gestão familiar (3). A situação dos pais dos sócios fundadores não foi um fator determinante da
escolha do empreendedor. Com relação à ocupação principal do sócio fundador ao criar a
empresa, verificou-se que a maioria atuava em empresas locais do APL de software (32%) e
desenvolvia estudos universitários (24%). Por outro lado, verificou-se a presença de sócios que
eram empregados em empresas de outras atividades (12%), realizavam a atividade de autônomos
em informática (12%), entre outras atividades.
A análise do perfil da mão-de-obra ocupada revelou um quadro diversificado. As 25
empresas ocupavam em 2005, 706 trabalhadores; 28,8% eram fixos e 68,4% eram terceirizados.
A participação de trabalhadores com carteira assinada era de apenas 22,1%. Com relação às áreas
de atuação da mão-de-obra ocupada, destaca-se que 53% atuavam em desenvolvimento; 23%, em
suporte e manutenção; 11% em comercialização, 9,4% em gestão e 3,5% em marketing.
As empresas de software estavam preocupadas com a qualificação da mão-de-obra: 84%
das respostas destacaram a existência de acesso irrestrito à internet (monitoramento do Orkut e
MSN), 76% realiza treinamento interno; 60% adquirem publicações e periódicos especializados,
como Infoexame, livros científicos e didáticos e revistas científicas. A maioria das empresas
estimula a absorção de universitários de cursos técnicos do próprio APL (52%) e dá incentivos à
realização de cursos de graduação e pós-graduação (44%), com auxílio financeiro em alguns
casos. A busca pela certificação é uma preocupação entre as empresas participantes (28%).
4.1 Estrutura produtiva, da forma de organização da produção e do sistema de
comercialização das Empresas Visitadas
As empresas desenvolvem atividades bem diversificadas, conforme a Tabela 1: controle de
produção agrícola, industrial, serviços, games, logística, armazenamento, entre outors. As
empresas entrevistadas utilizam uma gama diversificada de ferramentas, métodos e ambientes
utilizados na engenharia de softwares. Quando possível, softwares livres são utilizados e
ferramentas próprias são desenvolvidas; algumas empresas, inclusive, desenvolvem programas
free. A maioria das empresas tem uma postura favorável à adoção de software livre em função da
redução dos custos do produto ou serviço final, mas nem sempre é possível o desenvolvimento de
novos produtos e serviços exclusivamente com sofwares livres.
As formas de comercialização mais utilizadas são: contato direto (26%), indicação (16%),
licenças de uso (12%); site na internet (10%), escritórios de representação (4%), locação de horas
(8%) e software, projeto por escopo direto (8%) e banco de horas (8%), entre outros.
7
TABELA 1 - Estrutura produtiva das empresas que desenvolvem software -Londrina- 2004/05
PRINCIPAIS PRODUTOS
♦
Softwares
♦
Agrícola
♦
2004 (A)
2005 (B)
Número
Absoluto
Número
Absoluto
1
2
Obs.
Armazenamento e logística
controle farmacêutico e
psicotrópicos, ERP, softwares de
palmtop para controle produção,
Gestão financeira ,
segurança,rastreamento, folha de
pagamento
Games, educacional ,jurídico,
construção civil, clínicas,
Sercomtel/telecomunicações
Industrial
2
8
♦
Comercial/Gestão Financeira
7
15
♦
Outros
14
21
♦
Serviços
♦
Consultoria
4
8
♦
Outros
15
21
Gestão de
Requisitos
Gestão de
Processos
Gestão de
Configuração
Rup
Ms-Project
Pressman
CVS
Pmbock
Java
Treinamento, páginas WEB
Instrumentos utilizados na
construção de software
♦
Processos
♦
Métodos
♦
Ferramentas
Próprio
Delphi
Windows
Linux
Ms-Dos
Híbrido
♦
Ambientes
Fonte: Pesquisa de campo, 2006.
Obs.: as firmas podem utilizar um ou mais instrumentos no desenvolvimento dos softwares
Todas as empresas fornecem produtos e serviços para a região do próprio APL de Londrina.
Entre as empresas analisadas, 9 ofertam produtos e serviços somente para a região do APL
(36%). O Paraná e os demais estados brasileiros são considerados destinos importantes para os
produtos e os serviços de 18 empresas (72%). Quatro empresas exportam seus produtos/serviços,
mas para a maioria delas as exportações representam menos de 10% das receitas totais.
Os fatores determinantes para a entrada no mercado exterior foram: indicação de clientes
acionais para clientes estrangeiros; convite para integrar produto ou serviço exportado por outra
empresa; feiras de informática e instalação de empresa filial ou escritório de representação no
exterior. Há dificuldade em encontrar parceiros para suporte e manutenção, levando à
necessidade de formação de comitivas para conhecer os países e as instituições que operavam no
mesmo ramo; há necessidade de recursos financeiros para apoiar o desenvolvimento dos
produtos, as linhas de crédito disponíveis não são adequadas e o acesso é restrito. A área de
atuação dos clientes é muito diversificada, pois as empresas atendem clientes do setor agrícola,
do setor industrial e do setor de serviços.
As empresas destacam os seguintes fatores enquanto barreiras para a exportação: a) serviço
prestado não teria preço competitivo no mercado internacional; b) os produtos são adaptados às
normas do mercado brasileiro; c) produto não competitivo com produtos de grandes empresas; d)
necessidade de maturação do produto; e) falta de estrutura e suporte financeiros; f) necessidade
de adaptação à legislação internacional (mercado para o qual será destinado o produto/serviço);
g) falta de contatos para a realizar a venda do produto; h) software inadequado para o mercado
internacional; e i) linhas de crédito e financiamento apropriadas .
8
Quatro empresas exportaram com sucesso seus produtos. O fator mais importante para a
entrada no mercado exterior foi a indicação de clientes nacionais para clientes estrangeiros.
Outros fatores destacados foram: o convite para integrar produto ou serviço exportado por outra
empresa, as feiras de informática e a instalação de empresa filial ou escritório de representação
no exterior, com menor intensidade.
4.2 Investimentos realizados em pesquisa, desenvolvimento e inovação pelas empresas
Um dos fatores fundamentais para o desenvolvimento do setor é a identificação das fontes
de informação para inovações de processo e produto. As fontes mais freqüentes de inovação
tecnológica são: catálogos, revistas e sítios especializados, especificações de clientes,
vendedores, benchmark de serviços e produtos existentes e universidades e centros de pesquisa.
Entre as fontes ocasionais destacam-se: visitas a feiras em outras regiões do país, visitas a feiras
na região, funcionários que trabalharam em outras empresas e ocasiões sociais.
A maioria das empresas lançou novos produtos e serviços entre 2003//2005, conforme os
dados da tabela 2. Em 88% dos casos, os produtos ou serviços novos já existiam no mercado. Em
44% dos casos analisados, os produtos e serviços eram novos no mercado nacional e em 24%,
caracterizavam-se como novos no mercado internacional. Em 66% dos casos, os processos
adotados eram novos para a empresa, mas já existiam no mercado e em 44% revelaram-se
inovadores para o setor.
TABELA 2 – Inovações praticadas pelas empresas do APL de software de Londrina em produtos/
serviços e processos entre 2003 e 2005.
Inovações em Produtos/ serviços
1. Inovações de produto/serviços
2. Produto novo para empresa, mas existente no
mercado
3. Processos tecnológicos novos para a empresa, mas
já existente no setor
4. Produto novo para o mercado nacional
5. Processos tecnológicos novos para o setor
6. Produto novo para o mercado internacional
Importância
1. Ampliação da qualidade dos produtos/serviços
2.
3.
4.
5.
Permitiu manter participação nos mercados de
atuação
Aumento de produtividade
Ampliação da gama de produtos serviços
Permitiu que a empresa abrisse novos mercados
6. Aumento de participação no mercado interno
7. Aumento de participação no mercado externo
Fonte: Pesquisa de campo, 2006.
Realiza Inovações
Número
23
20
(%)
92
80
18
72
11
11
7
44
44
28
Alta
Média
Baixa
Nula
18
4
1
2
14
13
12
7
7
8
1
1
2
3
4
3
10
9
0
5
12
4
2
1
2
8
2
19
Os indicadores de produtividade, qualidade, diferenciação, participação de mercado das
firmas foram melhorados pela adoção de novos processos e lançamento de novos produtos e
serviços no mercado regional, nacional e internacional. A maior importância foi verificada na
ampliação da qualidade dos produtos/serviços e seis empresas destacaram a participação em
programas de qualidade e certificação – CMM(2), MPS.br(4), ISO(1) - para credenciar-se no
9
mercado internacional. A importância no aumento de produtividade é alta para a maioria das
empresas. As inovações ampliaram: a gama de produtos e serviços ofertados, o market share no
mercado interno e a abertura de novos mercados.
A maioria das empresas não adotou inovações organizacionais. Mas a adoção de inovações
organizacionais permitiu mudanças significativas nos conceitos e ou práticas de comercialização,
implementação de técnicas avançadas de gestão e programas de qualidade e certificação. Tais
mudanças tiveram alta importância e contribuíram para a melhoria da qualidade dos produtos e
serviços comercializados. A contribuição foi de média importância para o aumento da
produtividade, para a manutenção ou aumento das parcelas de mercado interno das firmas. As
inovações organizacionais permitiram a abertura do mercado externo e a ampliação dos mercados
no Brasil. O impacto das inovações no lucro, na participação do mercado e na receita foi
relevante para a maioria das empresas, permitindo a sobrevivência e a manutenção da parcela de
mercado, mas sem mudanças nas receitas.
Os canais de comercialização têm médio impacto na concepção e desenvolvimento de seus
produtos. Destacam-se as recomendações de clientes, vendedores, revendedores e sítios na
Internet (em menor grau para a maioria) entre outros canais.
4.3 Relações de parceria identificadas
A existência de relações de parceria e capital social é um dos fatores determinantes do
sucesso dos arranjos produtivos locais. As empresas destacaram a existência de parcerias e
contratos de cooperação com outras empresas. As parcerias envolvem o desenvolvimento
conjunto de um produto/serviço com responsabilidades, divididas entre os parceiros e ganhos
compartilhados. (Gráfico 1).
GRÁFICO 1 - Relações de parcerias realizadas pelas empresas para o desenvolvimento de
produtos /serviços
ComercializaçãoExterior
1%
Qualificação MDO
2%
Certificação
3%
Comercialização-BR
6%
Desenvolvimento
34%
Outsourcing
54%
Fonte: Pesquisa de campo, 2006.
O número de parcerias realizado foi elevado: 157. Conforme o gráfico 1, 54% envolveram
outsourcing (85); destacaram-se as parcerias de desenvolvimento (54); as parcerias para
10
comercialização no mercado interno (9); parceria para comercialização para exportação (2),
parceria para qualificação de mão-de-obra (3) e parcerias envolvendo certificação (4). A maioria
das parcerias foi muito bem sucedida. A análise enfocando o mercado permitiu verificar que
76,76% das parcerias se realizaram no próprio APL (142), 14,05% no Paraná (26), 2,16% no
Brasil (4) e 7,03% no exterior , a maioria bem sucedida. Nas parcerias, as empresas podem atuar
como subcontratantes e subcontratadas, através de acordos ou contratos de fornecimento regular e
contínuo de módulos ou de componentes de programas ou outsourcing convencional. A maior
parte da atividade está concentrada no APL e no Paraná.
4.4. Relações Interempresariais e Cooperação Multilateral
As relações interempresariais são destacadas nos estudos de APL e clusters avançados e
inovativos. As empresas desenvolvedoras de software de Londrina trocam idéias e discutem suas
dificuldades ocasionalmente (60%). Apenas 20% das empresas realizam contatos com freqüência
- a temática costuma envolver conversas sobre problemas de mercado e novas tecnologias. A
maioria dos empresários interage socialmente com outras empresas do APL (92% ou 21 casos) e
está associada a entidades de classe (14) - sindicato, associação social ou outra instituição
relevante para o APL. Elas participam de entidades de classe que consideram importantes para o
desenvolvimento da atividade, algumas inclusive participam de mais de 2 associações Platin/ADETEC, Assespro, Sintipar, ACIL, NGI, Gamenet e Consórcio Genorp/INTUEL. As
empresas destacam a importância da contribuição de sindicatos, associações, cooperativas locais
no desenvolvimento regional e a necessidade de estimular o ensino e da pesquisa, além de definir
objetivos comuns do APL e ações estratégicas para o futuro desenvolvimento.
GRÁFICO 2 - Importância da contribuição de sindicatos, associações, cooperativas locais no
desenvolvimento das atividades do APL de software de Londrina
Formação de acordos de parceria
Organização de eventos técnicos e comerciais
Estímulo ao desenvolvimento o sistema de ensino e pesquisa local
Promoção de ações dirigidas à capacitação tecnológica das empresas
Criação de fóruns e ambientes para discussão
Apresentação de reivindicações comuns
Prospecção sobre tendências de mercados e produtos
Abertura de canais de comercialização(Mercado Externo)
Abertura de canais de comercialização(Mercado Interno)
Identificação de fontes e formas de financiamento
Disponibilização de informações de hardware, aplicativos, assistência técnica
Auxílio na definição de ações estratégicas(planejamento)
Auxílio na definição de objetivos comuns ao APL
0%
ALTA
10%
MÉDIA
20%
30%
BAIXA
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
NULA
Fonte: Pesquisa de campo, 2006.
11
Para identificar a importância das instituições foram somadas as respostas assinaladas como
de alta e média importância, cujo total deveria superar 45%. Conforme o gráfico 2 verificou-se
que as empresas destacaram em ordem de importância:
♦ apresentação de reivindicações comuns;
♦ criação de fóruns e ambientes adequados à discussão;
♦ organização de eventos técnicos e comerciais; estímulo ao desenvolvimento do
ensino e da pesquisa; estímulo ao desenvolvimento do sistema de ensino e
pesquisa local;identificação das formas e fontes de financiamento; e
♦ definição de objetivos comuns do APL; auxílio na definição de ações estratégicas.
4.5 Fontes de financiamento existentes no setor de Software de Londrina
Para manter a competitividade, 96% das empresas realizaram investimentos para expansão
e modernização no período 2004/2005, utilizando-se de recursos próprios em 80% dos casos.
Também recorreram a recursos de bancos comerciais públicos, bancos e agências de
desenvolvimento. Poucas empresas utilizaram recursos de outras fontes para a modernização.
Identificou-se que a expansão e modernização financiada predominantemente recursos
próprios ocorre em função da dificuldade de captar recursos de terceiros e seus custos
relativamente elevados. O capital de giro foi financiado principalmente com o uso de recursos
próprios, mas também foram utilizados empréstimos de familiares, de cooperativas de crédito, de
bancos e agências de fomento e bancos públicos.
As empresas têm demandas específicas de financiamento: aquisição de hardware,
desenvolvimento de novos produtos, investimento nas plataformas para melhorar os softwares já
existentes, abertura de novos mercados, abertura e fortalecimento de canais de comercialização,
aquisição de hardware, licenças de software. As principais fontes e linhas de financiamento são:
Progex, capital de giro da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, Proger Informática,
FINEP, BNDES, Prosoft/FINEP-FIEP-Tecpar, PATME e SEBRAE. As dificuldades destacadas
foram: exigência de garantias (20%), o excesso de burocracia (20%), as exigências dos bancos
repassadores (9%), a inadequação de prazos (9%), a inadequação das taxas de juros (11%).
Poucas empresas utilizaram benefícios fiscais de infra-estrutura ou outro para a instalação no
município.
5. Contribuição das Instituições Visitadas
As instituições visitadas foram: Departamento de Computação e Engenharia Elétrica da
Universidade Estadual de Londrina (UEL); Departamento de Computação e Departamento de
Engenharia de Software da Universidade Norte do Paraná (UNOPAR); Departamento de
Computação do Instituto Filadélfia de Londrina (UNIFIL); Curso de Bacharelado em Sistemas de
Informação da PUC/PR; Curso de Bacharelado em Sistemas de Informação da Faculdade
Metropolitana; Instituto de Desenvolvimento de Londrina (IDEL); Incubadora Internacional de
Empresas de Base Tecnológica /UEL(INTUEL); Plataforma de Informática da associação para o
desenvolvimento Tecnológico de Londrina PLATIN/ADETEC e SEBRAE.
Na visão da PLATIN/ADETEC e das instituições de ensino, um dos principais gargalos é a
frágil articulação entre universidade e empresa. Neste sentido, sugerem maior interação entre as
empresas e instituições de ensino para dar espaço à demanda das empresas, ao mesmo tempo em
que a universidade toma conhecimento dos novos requisitos que o mercado de trabalho impõe.
De forma geral, as sugestões de políticas públicas são no sentido de ampliar os
investimentos em infra-estrutura de telecomunicações, com a criação em Londrina de um Ponto
12
de Troca de Informação (PTT), que hoje é feito pela FAPESP em São Paulo, de forma a reduzir o
custo e o tempo da troca de informação.
As empresas apresentam dificuldades na inserção no mercado internacional. Assim, há
necessidade de ampliar o alcance do PROGEX e outros incentivos para incrementar as
exportações. Apontaram para a necessidade de compatibilizar os impostos pagos no município ao
nível vigente no mercado nacional, por exemplo, reduzindo o ISS de 5% para 1,5% do
faturamento da empresa. Outra sugestão envolve a ampliação do número de editais estaduais para
a participação das empresas de software e a instalação de centros de desenvolvimento de
software, a exemplo da FAPESP, que tem atraído naturalmente empresas de desenvolvimento em
TI, pela elevada capacidade de geração de conhecimento.
Entre as sugestões de políticas públicas, a INTUEL destacou o lançamento de editais pelo
Fundo Paraná para a realização de investimento em capital fixo e equipamentos para incubadoras
e editais para projetos que permitam o financiamento de itens de custeio, com contrapartidas das
IEES. Sugere-se maior apoio da prefeitura e dos órgãos municipais para ação inovadora da
INTUEL, via suporte de custeio, por exemplo, e maior envolvimento local.
As questões que merecem destaque na aglomeração de software de Londrina são: a) fraca de
governança local; b) disparidades salariais, que promovem a drenagem de cérebros e podem
comprometer o futuro das empresas locais e seu grau de inovação; c) escassa valorização da mãode-obra; d) ausência de estímulo ao desenvolvimento das empresas de software instaladas no
município; e) necessidade de uma política governamental para divulgar as vantagens do uso das
tecnologias de informação, fator que incrementaria a produtividade e dinamizar a demanda por
produtos e serviços de software; e f) estímulo adicional para a exportação de software.
As instituições de ensino identificaram os seguintes problemas, a partir dos quais derivam
sugestões de intervenção:
a) falta de incentivo fiscal (municipal e estadual) para o desenvolvimento do software;
b) necessidade de editais que contemplem a construção de instalações adequadas e a
modernização e ampliação do parque de máquinas das IES;
c) inexistência de articulação dos pólos de software e necessidade de recursos para a promoção
de workshops para a troca de experiências;
d) falta de incentivo governamental para a realização de parcerias entre empresas e instituições,
notadamente entre as instituições de ensino privadas;
e) ausência de uma política agressiva para obtenção de resultados de médio e longo prazos;
f) necessidade de internet de altíssima velocidade ;
g) escassa integração entre os centros universitários que desenvolvem mão-de-obra qualificada
para o mercado de software;
h) escassa colaboração universidade/empresa;
i) ausência de mecanismos efetivamente atrativos para a concretização de parcerias entre as
universidades e empresas, tendo em vista o desenvolvimento tecnológico nas diversas áreas
da tecnologia da informação (TI), notadamente os diversos setores de telecomunicações:
software e hardware, camada física e superiores, protocolos etc;
j) ausência de estímulos e de incentivos para as operadoras locais e empresas promoverem o
desenvolvimento tecnológico, inclusive com linhas de financiamento com prazos maiores
para amortização e juros mais baixos;
k) carga tributária e elevados encargos sociais sobre a mão-de-obra especializada, muito
utilizada pelas empresas que desenvolvem novos conceitos, processos e produtos
tecnológicos em países líderes neste setor;
13
l) ausência de cultura empresarial, pois as empresas brasileiras não buscam efetivamente o
desenvolvimento tecnológico e não investem nos talentos e competências técnicas nacionais.
Logo, o Brasil é um país dependente e não desenvolve o conhecimento nas áreas de software
e telecomunicações.
As empresas e as instituições identificaram a restrição de recursos financeiros, a necessidade
das empresas menores de realizarem parcerias para obter economias de escala e escopo e a
necessidade de conhecer os mercados consumidores e dominar técnicas e instrumentos de
comercialização e a necessidade de intercâmbio de informações entre os pólos de software. Os
seguintes fatores foram destacados: a) falta de incentivo fiscal (municipal e estadual) para o
desenvolvimento do software; b) necessidade de editais que contemplem a construção de
instalações adequadas e a modernização e ampliação do parque de máquinas das IES; c)
inexistência de articulação dos pólos de software e necessidade de promoção de workshops para a
troca de experiências; d) necessidade de incrementar as parcerias; e ) política agressiva para
obtenção de resultados de médio e longo prazos; f) necessidade de uma Internet de altíssima
velocidade; g) maior integração entre os centros universitários que desenvolvem mão-de-obra
qualificada para o mercado de software; e i) maior colaboração universidade /empresa.
6. Considerações finais
A pesquisa identificou uma governança frágil, pautada na discussão de problemas e
soluções para o APL de software e crescente participação e comprometimento dos atores para a
promoção do desenvolvimento. A diversidade das atividades desenvolvidas pelas empresas e
agentes locais é um fator que dificulta a governança local. Verificou-se a predominância de micro
e pequenas empresas e as características da aglomeração - empresas inovativas e envolvidas em
parcerias que reforçam elos verticais, multilaterais e em menor grau horizontais - favorecem o
uso de instrumentos de políticas públicas para a promoção do desenvolvimento setorial e
regional. As sugestões dos atores em prol da aglomeração de software no que tange às ações de
políticas públicas são:
a) abertura de editais governamentais para ampliar e atualizar os laboratórios de pesquisa
das IES e incubadoras para superar a principal deficiência: espaço físico (construção),
ampliação e atualização do parque de computadores;
b) incentivos para o crescimento do mercado restrito de software no Paraná, como por
exemplo software para o agronegócio e segmentos industriais (pacote e embarcado),
games etc;
c) estímulos financeiros ao nível municipal e estadual para a instalação e funcionamento de
empresas de software, com redução do ISS, e taxas de juros reduzidas para a atualização
do parque de máquinas das empresas;
d) ampla divulgação das linhas de crédito específicas para o setor de software e assessoria na
elaboração dos projetos, bem como ampliação do alcance do PROGEX e outros
incentivos para incrementar as exportações;
e) criação de um Ponto de Troca de Informação (PTT) de forma a reduzir o custo e o tempo
da troca de informação das empresas instaladas em Londrina;
f) estruturação de uma rede paranaense de alta velocidade para os institutos de pesquisa e
UEL - internet de 2 GB - e estabelecimento de redes virtuais wirelless que beneficiariam
as IEEs públicas e não somente o segmento de software.
g) realização de eventos e wokshops no sentido de promover a qualidade do software e a
qualificação das empresas de software paranaense, viabilizando recursos para o
financiamento para certificação MPS-Br das empresas;
14
h) política contínua de qualificação dos docentes das universidades públicas e privadas;
i) criação de mecanismos efetivamente atrativos para a concretização de parcerias entre as
universidades e empresas, tendo em vista o desenvolvimento tecnológico nas diversas
áreas da tecnologia da informação (TI), notadamente os diversos setores de
telecomunicações: software e hardware, camada física e superiores, protocolos etc.
j) criação de incentivos para as operadoras locais e empresas promoverem o
desenvolvimento tecnológico, inclusive com linhas de financiamento com prazos maiores
para amortização e juros mais baixos;
k) redução da carga tributária das empresas e dos encargos sociais sobre a mão-de-obra
especializada, muito utilizada pelas empresas que desenvolvem novos conceitos,
processos e produtos tecnológicos em países líderes neste setor. A iniciativa estimularia a
contratação de mão-de-obra qualificada.
l) Investimento em cultura empresarial, para que as empresas brasileiras busquem
efetivamente o desenvolvimento tecnológico e invistam nos talentos e competências
técnicas nacionais, possibilitando, em um cenário de médio prazo, que o Brasil torne-se
um centro desenvolvedor de conhecimento nas áreas de software e telecomunicações; e.
m) promoção de articulação e troca de experiências no APL de Londrina e entre os APLs de
software do Paraná para estabelecimento de benchmarking e uma agenda comum de ação.
7. Referências
ADETEC. APL Software de Londrina e região. Londrina: ADETEC, 2005.
ALBAGLI, S.; BRITO, J.. Glossário de Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais
(Organizadores). Projeto Arranjos produtivos locais: uma nova estratégia de ação para o
Sebrae. Coordenação geral: LASTRES, H. M. M.; CASSIOLATO, J. E. RedeSist: fev. 2003.
AUDRESTCH, D. “Agglomeration and the location of innovative activity”, Oxford Review of
Economic Policy, vol 14, n 2, p. 18-29, 1998.
CASSIOLATO, J. E.; LASTRES, H. M. M.. O foco em arranjos produtivos e inovativos locais
de micro e pequenas empresas. In: LASTRES, H.M.M; CASSIOLATO, J. E. e MACIEL, M.L.
Pequena empresa: cooperação e desenvolvimento local. Relume Dumará: Rio de Janeiro, 2003.
_________. O foco em arranjos produtivos e inovativos locais de micro e pequenas empresas. In:
LASTRES, H. M. M.; CASSIOLATO, J. E. (coord.) Arranjos produtivos locais: uma nova
estratégia de ação para o Sebrae. RedeSist: ago, 2004.
COOPER, D. R.; SCHINDLER, P. S. Métodos de Pesquisa em Administração. 7 ed. Porto
Alegre: Bookman, 2003.
EDQUIST, C. The systems of innovation approach and innovation policy: na account of the state
of the art. DRUID Conference, Aalborg, jun, 2001.
FORAY, D.; LUNDVALL, B. The knowledge-based economy: from the economics of
knowledge to the learning economy, DRUID Conference, Aalborg, jun 1996.
GUTIERREZ,R. M. V.; ALEXANDRE, P. V. M. Complexo eletrônico:Uma introdução ao software.
BNDES Setorial. Rio de Janeiro. n.20, p.3-76, set.2004.
IEDI. Clusters ou sistemas locais de produção e inovação: Identificação, caracterização e
medidas de apoio. mai. 2002.
INTUEL. Disponível em: <http://www.uel.br/intuel/>. Acesso em: 20/03/2006.
IPARDES/SEPL, Arranjos Produtivos Locais - Projeto APL - Identificação, Caracterização,
Construção de Tipologia e Apoio na Formulação de Políticas para os Arranjos Produtivos Locais do
Paraná Etapa 1. Curitiba: IPARDES/SEPLI, 2005a.
15
___________. Arranjos Produtivos Locais - Projeto APL - Identificação, Caracterização,
Construção de Tipologia e Apoio na Formulação de Políticas para os Arranjos Produtivos Locais do
Paraná Etapa 2. Curitiba: IPARDES/SEPLI, 2005b.
___________. Arranjos Produtivos Locais - Projeto APL - Identificação, Caracterização,
Construção de Tipologia e Apoio na Formulação de Políticas para os Arranjos Produtivos Locais do
Paraná Etapa 3. Curitiba: IPARDES/SEPL, 2005c.
___________. Arranjos produtivos locais e o novo padrão de especialização regional da indústria
paranaense na década de 90. Curitiba: IPARDES, 2003.
KRUGMAN, Paul. What’s new about the New Economic Geography? Oxford review of
economic policy, v14, n2, p.7-17. Oxford University Press, 1998.
_________. Development, geography and economic theory. Cambridge: MIT Press, 1995.
KUBOTA, L. C. OS desafios para a indústria de software. Brasília: IPEA, 2005.
discussão).
(Textos para
LUNDVALL, B.. Why the New Economy is a Learning Economy. DRUID Working Paper
n04-01. Aalborg: Aalborg University, 2004.
MARKUSEN, Ann. Sticky places in slippery space: A typology of industrial districts. Economic
Geography. Vol.72, Num. 3. Worcester: Jul 1996.
PREFEITURA Municipal de Londrina (PML). Cadastro de Empresas - Imposto sobre Serviços Informática, 2005.
MYTELKA, L.; FARINELLI, F. Local clusters, innovation systems and sustained
competitiveness. Projeto: Arranjos e Sistemas Produtivos Locais e as Novas Políticas de
Desenvolvimento Industrial e Tecnológico. CASSIOLATO, J.E.; LASTRES, M.H.M (orgs.)
RedeSist: Rio de Janeiro, dez. 2000.
PORTER, M. Clusters and the new economics of competitions. Harvard Business Review, novdez, p.77-90, 1998.
Prefeitura Municipal de Londrina. Disponível em: <http://ns.londrina.pr.gov.br/cidade/
londados.php3>. Acesso em: 26/01/2006.
PYKE, Frank; SENGENBERGER, Werner (eds.). Industrial Districts and Economic
Regeneration, Genebra, International Labour Studies, 1992.
RAIS 2004. RAIS/ MTE – Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e da
Educação. 2004. Disponível em: <http:// www.mte.gov.br/rais>. Acesso em: 18 de jan. 2006.
SAMPAIO, S. S.K. O Desenvolvimento da Aglomeração Produtiva de Software de Curitiba.
Dissertação de Mestrado. Curitiba: UFPr, 2006.
SCHMITZ, H. Collective efficiency: Growth path for small-scale industry. The Journal of
Development Studies. Vol.31, Num. 4; Londres: abril, 1995.
_________. Colletive efficiency and increasing returns. Institute of Development Studies
(IDS): Março, 1997.
SOMMERVILLE, I. Engenharia de software. São Paulo: Pearson Addison Wesley, 2004.
SUZIGAN, Wilson et. al. Clusters ou sistemas locais de produção:mapeamento, tipologia e
sugestões de política econômica. Revista de Economia Política, v.24, n.4(96), p.543-561,
out/dez, 2004a.
SUZIGAN, Wilson et. al.Inovação e conhecimento:indicadores regionalizados e aplicação a São
Paulo. In: Encontro Nacional de Economia - ANPEC. 32, 2004, João Pessoa, Anais da
ANPEC, 2004b .
16
Download

1 Formulação de Políticas Públicas para a Aglomeração de