MERCADO DE TRABALHO EM MUNICÍPIOS DA REGIÃO SUL DO
BRASIL: APLICAÇÃO DA ANÁLISE FATORIAL
Douglas Paz – mestrado em Economia Regional (UEL) - Universidade
Estadual de Londrina – email: [email protected]
Solange de Cássia Inforzato de Souza – doutora em Educação (PUC-SP) Universidade Estadual de Londrina – e-mail: [email protected]
Katy Maia – doutora em Teoria Econômica (UnB) - Universidade Estadual de
Londrina – e-mail: [email protected]
Resumo: Este trabalho tem como objetivo apresentar uma análise do nível de
desenvolvimento do mercado de trabalho em 75 municípios da região sul do Brasil,
sendo selecionados os 25 mais populosos de cada estado. Para tanto, foi utilizada a
técnica da análise multivariada; foram selecionadas 15 variáveis que convergiram para
dois fatores de análise, que em conjunto explicaram 90,43% da variância total das
variáveis selecionadas. O presente estudo ainda condicionou a elaboração de uma
classificação de desenvolvimento municipal, o que foi possível a partir da observação
dos escores fatoriais de cada um dos 75 municípios considerados. Como resultado,
destacaram-se positivamente os municípios de Curitiba, Porto Alegre, Londrina, Caxias
do Sul, Joinville, Florianópolis, Maringá, Blumenau, Piraquara, São José dos Pinhais,
Cascavel, Ponta Grossa, Itajaí, Chapecó, Pelotas, Novo Hamburgo, Jaraguá do Sul,
Concórdia, Santa Maria e Campo Largo, os quais obtiveram escores positivos, isto é,
apontaram níveis de desenvolvimento do mercado de trabalho acima da média, bem
como as primeiras colocações. Por outro lado, os demais municípios destacaram-se
negativamente, ou seja, abaixo da média em relação aos demais, por terem apresentado
escores fatoriais negativos. Nas cinco últimas posições ficaram os municípios de Esteio,
Alvorada, Sapucaia do Sul, Sarandi e Balneário Camboriú, todos situados em regiões
metropolitanas.
Palavras chave: Região sul. Análise multivariada. Mercado de trabalho.
Abstract: This job have goal to present a analysis of the development level work market
in 75 districts of the south region Brazil, are selected 25 most populous each state. As
such. Was used the multivariate approach, are selected 15 variables which converged
two analysis factors, which group explained 90,43% of the total variance the selected
variables. The present study still conditioned elaboration of a district development
classification, that was possible starting from observation of the factorial scores each of
75 districts considers. As result, to stand out positively the districts of Curitiba, Porto
Alegre, Londrina, Caxias do Sul, Jonville, Florianópolis, Maringá, Blumenau,
Piraquara, São José dos Pinhais, Cascavel, Ponta Grossa, Itajaí, Chapecó, Pelotas, Novo
Hamburgo, Jaraguá do Sul, Concórdia, Santa Maria and Campo Largo, which obtained
positive scores, that is, pointed development levels of work market above average, as
well as tha firsts positions. On the other hand, other districts to stand out negatively, tha
is, below average in relation the others, for has presented factorial scores negatives. In
2
the five last positions stayed the districts of Esteio, Alvorada, Sapucaia do Sul, Sarandi
and Balneário Camboriú, all situates in metropolitan regions.
Key words: South region. Multivariate analysis. Work market.
Classificação JEL: C38.
Área Temática: Área 3 – Economia Regional e Urbana.
1 INTRODUÇÃO
O Brasil passou por uma nítida reestruturação do mercado de trabalho nos
últimos anos, sobretudo no que tange ao trabalho formal, no âmago de uma conjuntura
macroeconômica internacional favorável até meados de 2007. Supervenientemente, a
região sul, inserida nesse contexto, foi beneficiada, apresentando na década passada,
indicadores, quer seja, de distribuição de renda, rendimento do trabalho, educacionais e
de qualidade de vida genericamente, superiores à média nacional.
A recuperação do mercado de trabalho foi acentuada nas principais cidades da
região, visto que do total de empregos gerados entre 2002 e 2010, aproximadamente
60% concentrou-se em 75 municípios, os 25 mais populosos de cada estado, sendo que
especificamente em 2010, a concentração foi de 66,5%. Reverberando, é notória a
diferenciação sócio econômica e de desenvolvimento favorável aos principais
municípios de cada estado.
O conceito de desenvolvimento é muito amplo e vem sendo discutido com
perspicácia pelos intelectuais, podendo ser tratado em várias esferas. No que tange às
teorias de desenvolvimento regional, emergiram, sobretudo a partir de 1950, sendo que
três conceitos chave destacaram-se: o conceito de pólo de crescimento de Perroux;
conceito de causação circular cumulativa de Myrdal; conceito de efeito para frente e
para trás de Hirschman. Os três conceitos convergem para o entendimento de que o
desenvolvimento se difunde de modo desequilibrado (MELO, 2007).
No estudo da economia regional e urbana, a cidade configura-se como centro
gravitacional da percepção do crescimento e do desenvolvimento. O grau de
desenvolvimento de uma região pode ser verificado com primazia a partir de cada
município.
A principal função da cidade é atender o interior próximo a ela. A cidade
fornece bens e serviços centrais, isto é, comércio, serviços bancários, serviços
administrativos, serviços de saúde, educação, entretenimento e diversão
(RICHARDSON, 1981).
Clemente (1994, p. 124), afirma que “o crescimento das cidades constitui
questão particularmente interessante para a economia regional e urbana, sobretudo
porque a formação de grandes centros urbanos significa também a concentração de
gigantescos problemas, como desemprego, marginalização e poluição”.
Nesse sentido, uma das principais preocupações das autoridades de cada lugar,
é com respeito à geração de emprego e renda, ou seja, condições do mercado de
trabalho, que segundo Ehrenberg e Smith (2000), funciona da seguinte maneira: do lado
da demanda por trabalho ficam os empregadores, ao passo que do lado da oferta ficam
os trabalhadores.
O objetivo do presente trabalho é analisar o grau de desenvolvimento do
mercado de trabalho nas principais cidades da região sul do Brasil, por meio da análise
fatorial aplicada ao ano de 2010, elucidando o seguinte problema: quais as cidades
sulinas com o mercado de trabalho mais bem desenvolvido e, por conseguinte, com as
3
melhores perspectivas profissionais para os trabalhadores? Como resposta, espera-se
que as maiores cidades apresentem os melhores índices de desenvolvimento do mercado
de trabalho.
Este trabalho está dividido fundamentalmente em 5 partes, incluindo esta
introdução.A seção 2 discorre acerca da dinâmica histórica do mercado de trabalho no
Brasil, sendo também apresentado um panorama atual de indicadores de
desenvolvimento para os estados do sul do Brasil. A seção 3 apresenta a metodologia da
análise fatorial, utilizada neste estudo, e a seção 4 descreve e discute os principais
resultados da pesquisa. Por fim, arremata-se com as considerações finais, na seção 5.
2 DINÂMICA HISTÓRICA DO MERCADO DE TRABALHO DO BRASIL E A
REALIDADE SULINA
Vários aspectos da formação do mercado de trabalho brasileiro são
peculiarmente interessantes, sobretudo quando se traça uma perspectiva histórica.
Durante o século XIX, o Brasil passou por substanciais mudanças políticas. Até 1808
foi colônia; de 1808 à 1888 foi império, conquistando a independência em 1822, de
modo que 1888 também marcou o término da escravidão.
De acordo com Theodoro (2005), até o advento da República, a economia
brasileira foi fulcrada em artigos tropicais, como o café e o açúcar. Com o fim da
escravatura, um quantum maior de população livre passou a se dedicar a atividades de
subsistência, desencadeando em maior escala o processo de imigração.
O autor explica que o processo de trabalho livre como base da economia,
acompanhado pela entrada crescente de população trabalhadora no setor de subsistência
e em atividades mal remuneradas, foi denominado posteriormente de setor informal.
A decadência do sistema escravocrata brasileiro começou em 1850, mediante o
fim do tráfico negreiro, sob a égide da Inglaterra, que buscava mercado consumidor
para suas manufaturas. Outro momento importante foi a Lei do Ventre Livre de 1871
(THEODORO, 2005). Percebe-se que gradualmente a Economia Mercantil Escravista
Cafeeira Nacional foi se inviabilizando. Por outro lado, o fluxo de imigrantes,
paulatinamente foi ganhando impulso.
O autor explica que o processo de trabalho livre como base da economia,
acompanhado pela entrada crescente de população trabalhadora no setor de subsistência
e em atividades mal remuneradas, foi denominado posteriormente de setor informal.
A opção pelo trabalho dos imigrantes é uma questão bastante complexa, que
segundo Theodoro (2005), apresenta várias respostas: população nacional livre pouco
familiarizada com o trabalho assalariado, necessidade de acumulação de capital, nativos
eram considerados inaptos ao trabalho regular, ideologia do embranquecimento da
população etc. Por fim, a ascensão do trabalho assalariado marcou o incremento na
urbanização das cidades a partir do final do Século XIX.
Conforme Theodoro (2005), a partir de 1930 a indústria passou a ser a base do
crescimento econômico. O Estado, por sua vez, passou a ser predominantemente
intervencionista. Nesse contexto, o Estado iniciou a construção de grandes rotas inter
regionais, permitindo maior integração entre as regiões do país. Esta integração
beneficiou sobremaneira o eixo Rio-São Paulo.
São Paulo passou a se beneficiar da sua posição de metrópole industrial mais
importante do país. Em nível geral, o fenômeno da urbanização teve como resultado
uma proliferação de cidades, bem como crescimento vertiginoso das regiões
metropolitanas. Tanto que de 1940 a 1980, o número de cidades com mais de 500 mil
habitantes passou de três para catorze (THEODORO, 2005).
4
A população da cidade de São Paulo, por exemplo, mais do que dobrou num
período de 20 anos. Em 1920, a população da capital paulista era de 579.033 habitantes,
enquanto que em 1940, a cidade já contava com 1.326.261 habitantes, chegando a
2.198.096 habitantes em 1950 (IBGE, 2011).
Theodoro (2005), ainda explica que os anos 1930 marcaram o início da efetiva
regulamentação do trabalho no Brasil. A legislação trabalhista do primeiro governo
Vargas lançou as bases de uma estrutura complexa, que até hoje caracteriza as relações
de trabalho no país. A propósito, Gonzáles et al (2009) afirmam que o modelo de
relações de trabalho no Brasil foi marcado por três aspectos centrais: normatização dos
direitos do trabalho pelo Estado, controle do conflito social e disponibilidade de uma
ampla reserva de trabalhadores pressionando o mercado de trabalho.
Nesse sentido, segundo Cardoso Jr. (2005), no período de 1930 a 1980,
sobretudo após o término da Segunda Guerra Mundial, o Brasil sofreu em grande escala
o fenômeno do êxodo rural, que aliado ao estrondoso crescimento demográfico,
propiciou o surgimento de um excedente de mão de obra. Deste modo, informalização e
marginalização de parte considerável da população rural recém urbanizada permearam
um mercado de trabalho pouco estruturado no país (Baltar e Dececa, 1997, apud
CARDODOS JR., 2005).
Em 1966 foi criado o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), com
o escopo de flexibilizar o processo de demissão de trabalhadores, o que significou um
eminente estímulo à rotatividade. Em 1970 foram criados o PIS (Programa de
Integração Social) e o PASEP (Programa de Formação de Formação do Patrimônio do
Servidor Público). No ano de 1975 foi criado o SINE (Sistema Nacional de Emprego),
visando intermediar mão de obra, prover orientação e qualificação profissional, além de
prestar informações sobre o mercado de trabalho. Já em 1986, foi instituído o Seguro
Desemprego (TAFNER, 2006).
A Constituição de 1988 corroborou e solidificou todo este sistema de amparo
ao mercado de trabalho. Segundo Tafner (2006, p. 403), “pode-se afirmar que a CF de
1988 estabeleceu as bases para a organização de um efetivo programa de amparo ao
trabalhador desempregado”. Como melhorias instituídas pela Constituição de 1988,
pode-se citar: a ampliação da licença maternidade, garantia de aviso prévio, redução da
jornada semanal de trabalho, aumento da multa por demissão sem justa causa etc.
De acordo com Souza (1980) e Baltar (1985) apud Cardoso Jr. (2005), o
mercado de trabalho pouco estruturado se caracteriza por abundante mão de obra, baixa
qualificação técnica, sem organização sindical, empregos de alta rotatividade e com
poucas possibilidades de ascensão profissional. Por outro lado, o mercado de trabalho
estruturado oferece empregos mais estáveis, cujo nível de qualificação de entrada
exigida é mais elevado, sendo mais promissoras as perspectivas de ascensão
profissional. No Brasil, o apogeu do trabalho estruturado se deu de 1930 a 1980,
fundamentalmente em razão do advento das atividades assalariadas formais.
Durante a década de 1980, o mercado de trabalho brasileiro sofreu uma
desestruturação acentuada, em função do cenário de crise econômica, com baixas taxas
de crescimento do Produto Interno Bruto e altas taxas de inflação (CARDOSO JR.,
2005).
Este viés de desestruturação seguiu no início da década de 1990 e, segundo
Cardoso Jr. (2005), pode ser caracterizado por sete aspectos: crescimento patológico do
setor terciário da economia; crescimento expressivo da informalidade; aumento da
desocupação e desemprego; precarização dos postos de trabalho; estagnação relativa dos
rendimentos médios oriundos do trabalho; piora na distribuição de renda e de
5
rendimentos do trabalho; modificação no padrão de mobilidade social intrageracional
entre as décadas de 1920 e 1980.
Nos anos 1990, segundo Chahad e Macedo (2003), o mercado de trabalho
brasileiro evoluiu consoante com algumas transições. Conforme estes autores, a
primeira transição foi de uma economia indexada e com altas taxas de inflação, para
uma economia com estabilidade de preços; a segunda transição foi de uma economia
relativamente fechada para uma economia bem mais aberta; a terceira transição foi a
busca da tutela do Estado sobre as relações de emprego, isto é, sobre o mercado de
trabalho; a quarta foi acerca da modificação do papel do Estado na economia, mais
voltado à regulação, implementando privatizações; a quinta, de ordem demográfica,
significou um acréscimo de cerca de 3% ao ano na PEA (População Economicamente
Ativa); a sexta, por sua vez, foi o processo de inovação tecnológica, acelerado pela
globalização.
De acordo com Chahad e Macedo (2003), nas regiões metropolitanas, o
crescimento da PEA entre 1992 e 2001 foi de 16%. Constatou-se que o emprego formal,
neste período cresceu, acompanhando o ritmo da economia.
Conforme Tafner (2006), há três determinantes ilustrativos do desempenho do
mercado de trabalho: o primeiro, de ordem estrutural, é concernente às instituições
regentes; o segundo é relativo às condições macroeconômicas; já o terceiro está ligado à
capacidade do mercado de trabalho em providenciar grandezas absolutas de valor.
Ao longo da década de 2000, de modo geral, o mercado de trabalho brasileiro
seguiu viés de alta. No período de 2004 a 2008, em específico, segundo Baltar et al
(2010), houve importantes reduções nas taxas médias de desemprego, expansão do
emprego formal e nos setores mais organizados da economia. Ainda pode-se destacar a
elevação substantiva do valor real do salário mínimo. Conforme Baltar et al (2010, p.
36), “outros pontos positivos que devem ser ressaltados são o aumento da renda média
das famílias e a queda expressiva na magnitude da indigência e da pobreza”. Os autores
argumentam que a estruturação do mercado de trabalho brasileiro depende da
combinação da geração de empregos, sendo que o Estado tem papel preponderante
nesse processo.
2.1. Emprego e população no sul do Brasil
As Tabelas 1 e 2 apresentam um panorama geral da geração de empregos nos
três estados do sul do Brasil, e nos 25 municípios mais populosos de cada estado, no
período de 2002 a 2010.
Tabela 1 – Geração de empregos no Sul do Brasil de 2002 a 2010
UF/ANO
PR
2002
91765
2003
86147
2004
144683
2005
102032
2006
100695
2007
138601
2008
163475
2009
42051
2010
157329
TOTAL
1026778
SC
RS
SUL
47881
38331
177977
41776
33884
161807
83641
105501
333825
61912
21375
185319
53389
41769
195853
74964
67516
281081
93587
107033
364095
35872
31472
109395
106508
154231
418068
599530
601012
2227320
Fonte: CAGED, 2011.
Tabela 2 – Geração de empregos nos 25 municípios mais populosos de cada
estado do sul do Brasil
UF/ANO
PR-25
SC-25
RS-25
SUL-25
2002
44794
25435
14363
84592
2003
33558
23892
16611
74061
Fonte: CAGED, 2011.
2004
76696
49979
55206
181881
2005
57155
42995
26092
126242
2006
52797
36845
28641
118283
2007
71516
51942
47539
170997
2008
100221
63226
65630
229077
2009
28661
23622
18628
70911
2010
108345
73302
96509
278156
TOTAL
573743
391238
369219
1334200
6
No sul do Brasil, entre 2002 e 2010, foram gerados 2.227.320 empregos
formais, sendo que somente em 2010 foram criados 418.068 novos postos de trabalho.
Do total do período de 2002 a 2010, 1.334.200, ou 59,9%, foram criados nas 25 maiores
cidades de cada estado da região. O pior ano foi 2009, em razão da crise financeira
internacional, foram criados em todo o sul do Brasil, apenas 109.395 empregos, o que
significou uma retração de 69,95% em relação ao ano anterior. Em compensação, em
2010, foram criados 418.068 empregos em toda a região sul, crescimento de 282,16%
frente ao ano anterior. Os 25 municípios mais populosos de cada estado foram
responsáveis por 66,53% do total de empregos gerados no sul, ou seja, 278.156 novas
vagas (CAGED, 2011).
O estado do Paraná foi o maior gerador de empregos na região sul entre 2002 e
2010. Foram gerados 1.026.778 (46,10% do total da região – Gráfico 1) empregos
formais, sendo que somente em 2008 foram criados 163.475 novos postos de trabalho.
Deste total, 573.743 vagas, ou 55,88%, foram criadas nas 25 maiores cidades do estado.
A exemplo do que se verificou em esfera regional, no estado o pior ano também foi
2009, onde em razão da crise financeira internacional, foram criados em todo o estado,
apenas 42.051 empregos, o que significou uma retração de 74,28% em relação ao ano
anterior. Em 2010, foram criados 157.329 empregos em todo o estado, crescimento de
274,14% em relação ao ano anterior. Os 25 municípios mais populosos do estado foram
responsáveis por 68,87% do total de empregos gerados no estado, ou seja, 108.345
novas vagas (CAGED, 2011).
Gráfico 1 – Percentual da geração de empregos no sul do Brasil, no período de
2002 a 2010
50,00%
45,00%
40,00%
35,00%
30,00%
PR
25,00%
SC
20,00%
RS
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
Fonte: CAGED, 2011.
O Rio Grande do Sul foi o segundo estado que mais gerou empregos na região.
Foram 601.012 (26,98% do total da região – Gráfico 1) novas vagas em todo o estado
gaúcho, sendo que as 25 maiores cidades foram responsáveis por 61,43% (369.219)
deste montante. Logo em seguida, vem Santa Catarina com 599.530 empregos criados
(26,92% do total da região – Gráfico 1), de modo que 65,26% (391.238) da geração de
empregos no estado ocorreu nos 25 municípios mais populosos (CAGED, 2011).
Na seqüência, discorre-se um pouco mais acerca da situação social nos dois
maiores estados da região: Rio Grande do Sul e Paraná. Começando pelo Rio Grande do
Sul, estado mais populoso e mais meridional da região, com 10,9 milhões de habitantes,
cerca de 5,7% da população nacional. Concernente à renda domiciliar per capita do
7
estado, no período de 2001 a 2009 houve crescimento de 23,6%, passando de R$ 625,7
em 2001, para R$ 773,4 em 2009. O crescimento gaúcho foi maior do que o
crescimento nacional (23,5%), porém menor que crescimento regional (30,4%). No caso
do Brasil, a renda domiciliar per capita, saltou de R$ 511,50 em 2001 para 631,70 em
2009. Já no caso da região Sul, o indicador que era de R$ 597,20 em 2001, elevou-se
para R$ 778,70 no ano de 2009 (CASTRO et al, 2012).
Quanto ao índice de pobreza extrema, isto é, renda per capita inferior a R$
67,07 por mês, o Rio Grande do Sul apresentou tendência de queda, pois o índice que
fora de 4,7% em 2001, encontrava-se em 2,2% em 2009. Já o índice de Gini, utilizado
para mensurar a distribuição de renda, declinou de 0,55 para 0,50 aproximadamente
(CASTRO et al, 2012).
No Rio Grande do Sul, a taxa de desemprego também caiu no período de 2001
a 2009, de 6,6% para 6%, sendo portanto, menor do que a taxa nacional que é de 8,2%.
A remuneração do trabalho, por sua vez, que é mensurada pelo rendimento médio do
trabalhador, no caso gaúcho, foi de R$ 1.087,5 à R$ 1.216,5 em 2009, expressando
assim, expansão de 11,86%, ao passo que o crescimento nacional foi de 7,4%
(CASTRO et al, 2012).
Quanto à escolaridade, expressa pela média dos anos de estudo da população
com 15 anos ou mais, no RS verificou-se índice semelhante à região sul e superior ao
país: subiu de 6,8 para 7,8 anos de estudo (CASTRO et al, 2012).
Passando para o Paraná, segundo maior estado da região, com uma população
da ordem de 10,5 milhões de habitantes, ou 14,5% da população do Brasil, em relação à
renda domiciliar per capita, foi registrado crescimento de 33%, visto que o indicador
passou de R$ 553,04 em 2001 para R$ 735,33 em 2009. Relativo ao índice de pobreza
extrema, apresentou queda satisfatória, pois o índice que era 7,1% em 2001, caiu para
apenas 2,3% em 2009. O índice de Gini apresentou viés de queda no Paraná nos últimos
anos, de 0,56 em 2001 para aproximadamente 0,52 em 2009. Contudo, para este
indicador, o índice paranaense, a despeito de ser menor do que o índice nacional, é um
pouco maior em relação ao índice da região Sul (CASTRO et al, 2012).
Houve ainda, nítida queda da taxa de desemprego paranaense, de 7,5% em
2001 para 6% em 2009. A remuneração do trabalho, por sua vez, que é mensurada pelo
rendimento médio do trabalhador, no caso do Paraná, revelou-se maior do que em
âmbito nacional. No ano 2001, o rendimento médio do trabalho do Paraná foi de R$
1.086,90; em 2009 havia subido para R$ 1.239,50. Isto equivale a um aumento de 14%,
enquanto que o crescimento nacional foi 7,4% (CASTRO et al, 2012).
Quanto à escolaridade, expressa pela média de anos de estudo da população
com 15 anos ou mais, no Paraná verificou-se índice semelhante à região Sul e superior
ao país. No Paraná, a média de anos de estudo subiu de 6,6 anos para 7,9 anos
(CASTRO et al, 2012).
A região Sul do Brasil – representada na Figura 1 - é constituída pelos estados
de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. Tem como limites, ao norte, as regiões
Sudeste e Centro Oeste; ao sul, o Uruguai; ao leste, o oceano Atlântico; ao oeste,
Argentina e Paraguai. O clima da região é o subtropical úmido, marcado por estações
bem definidas, com calor no verão e invernos rigorosos.
8
Figura 1 – Região Sul do Brasil em destaque
Fonte: IBGE, 2011.
O censo 2010 do IBGE revelou que o sul do Brasil contava naquele ano com
uma população na ordem de 27.384.815 habitantes – a terceira mais populosa do Brasil.
Consoante com o IBGE (2011), a densidade demográfica da região em 2010 era 47,59
habitantes por quilômetro quadrado, sendo que a região, a menor do Brasil, ocupa uma
área equivalente a 576.409,6 quilômetros quadrados. Segundo o censo 2010 do IBGE, o
município mais populoso da região Sul é Curitiba, com 1.746.896 habitantes, seguida de
Porto Alegre com 1.409.939 moradores. A Tabela 3 apresenta as 25 cidades mais
populosas da região.
Tabela 3 – Os 25 municípios mais populosos do Sul do Brasil
Município
Curitiba
Porto Alegre
Joinville
Londrina
Caxias do Sul
Florianópolis
Maringá
Pelotas
Canoas
Ponta Grossa
Blumenau
Cascavel
São J. dos Pinhais
Fonte: IBGE (2010).
Pop.
1.746.896
1.409.939
515.250
506.706
435.482
421.203
357.077
327.778
324.025
311.611
309.214
286.205
264.210
Pos.
1º
2º
3º
4º
5º
6º
7º
8º
9º
10º
11º
12º
13º
Município
Santa Maria
Foz do Iguaçu
Gravataí
Viamão
Novo Hamburgo
São Leopoldo
Colombo
São José
Rio Grande
Alvorada
Criciúma
Passo Fundo
Pop.
261.027
256.088
255.762
239.234
239.051
214.210
212.967
210.513
197.253
195.718
192.236
184.869
Pos.
14º
15º
16º
17º
18º
19º
20º
21º
22º
23º
24º
25º
A maior região metropolitana é a de Porto Alegre, que compreende 32
municípios, onde vivem 3.979.561 pessoas. Curitiba é a segunda maior região
metropolitana da região, com 3.168.980 habitantes em 26 municípios (IBGE, 2010).
9
Conforme a hierarquia urbana do IBGE, o Sul contém 2 metrópoles regionais:
Porto Alegre e Curitiba; 1 capital regional A: Florianópolis; 9 capitais regionais B:
Joinville, Londrina, Caxias do Sul, Maringá, Blumenau, Santa Maria, Cascavel,
Chapecó e Passo Fundo; Criciúma, Ijuí, Novo Hamburgo/São Leopoldo, Pelotas/Rio
Grande e Ponta Grossa são capitais regionais C.
Neste estudo, foram selecionados 75 municípios da região, sendo os 25 mais
populosos de cada estado – apresentados no Quadro 1 - que juntos representam cerca de
54,25% da população regional.
Quadro 1 – 25 municípios mais populosos de cada estado da região Sul do
Brasil
PR
Curitiba
Londrina
Maringá
Ponta Grossa
Cascavel
São José dos Pinhais
Foz do Iguaçu
Colombo
Guarapuava
Paranaguá
Apucarana
Toledo
Araucária
Pinhais
Campo Largo
Arapongas
Almirante Tamandaré
Umuarama
Cambé
Piraquara
Campo Mourão
Sarandi
Fazenda Rio Grande
Paranavaí
Francisco Beltrão
Fonte: IBGE, 2011.
SC
Joinville
Florianópolis
Blumenau
São José
Criciúma
Chapecó
Itajaí
Lages
Jaraguá do Sul
Palhoça
Balneário Camboriú
Brusque
Tubarão
São Bento do Sul
Caçador
Concórdia
Camboriú
Araranguá
Rio do Sul
Navegantes
Içara
Biguaçu
Gaspar
Indaial
Mafra
RS
Porto Alegre
Caxias do Sul
Pelotas
Canoas
Santa Marina
Gravataí
Viamão
Novo Hamburgo
São Leopoldo
Rio Grande
Alvorada
Passo Fundo
Sapucaia do Sul
Uruguaiana
Cacoheirinha
Santa Cruz do Sul
Bagé
Bento Gonçalves
Erechim
Guaíba
Cachoeira do Sul
Santana do Livramento
Esteio
Ijuí
Alegrete
Pos.
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
3 METODOLOGIA
Neste estudo, foi empregada a técnica da análise estatística multivariada, em
específico, a análise fatorial, de modo que foi adotada como unidade precípua de
análise, o município.
É possível citar vários trabalhos que já empregaram esta técnica. Hoffman
(1992) estudou a dinâmica da modernização da agricultura para 157 microrregiões de
oito estados do Brasil. Ferreira Júnior, Baptista e Lima (2003) estudaram a
modernização agropecuária nas microrregiões do estado de Minas Gerais. Para avançar
na compreensão da agricultura do Paraná, Rezende e Parré (2004), utilizaram técnicas
de análise multivariada (fatorial e cluster). Com o intuito de evidenciar as discrepâncias
econômicas e sociais dos municípios do Mato Grosso, Zambrano e Pinto (2004),
também utilizaram a análise fatorial. Pode-se citar ainda, dentre outros, o trabalho de
10
Silva et al (2006), que analisaram o desenvolvimento dos municípios do oeste do
Paraná.
3.1 A análise fatorial
Conforme Melo (2006, p. 54), “a análise fatorial tem como princípio básico a
redução do número original de variáveis, por meio da extração de fatores independentes,
de tal forma que estes fatores possam explicar, de forma simples e reduzida, as variáveis
originais”. Esta técnica condiciona a extração de um número conciso de fatores, sendo
estes combinações lineares das variáveis originais.
Bezerra (2011), por sua vez, discorre que a análise fatorial faz a avaliação da
correlação existente entre um grande número de variáveis, identificando a possibilidade
de agrupamentos em números menores de variáveis, ou seja, a análise fatorial agrupa
um conjunto de variáveis em sub-conjuntos menores de fatores.
De acordo com Barroso e Artes (2003, p. 71), a “análise fatorial [...] é uma
técnica estatística que tem como objetivo descrever a estrutura de dependência de um
conjunto de variáveis através da criação de fatores, que são variáveis que, supostamente,
medem aspectos comuns”.
Segundo Mingoti (2005), o principal objetivo da análise fatorial é descrever a
variabilidade de um vetor aleatório em função de um menor número de variáveis
aleatórias, que são chamadas de fatores comuns e que estão ligadas ao vetor original por
um modelo linear. Nas palavras de Mingoti (2005, p. 99), “em linhas gerais, o que se
espera é que as variáveis originais [...] estejam agrupadas em subconjuntos de novas
variáveis mutuamente não correlacionadas, sendo que a análise fatorial teria como
objetivo o encontro destes fatores de agrupamento”.
De acordo com o autor, a análise fatorial surgiu no início do século XX com
Spearman. A princípio, foram feitos estudos nas áreas da psicologia e ciências sociais.
Apesar de receber críticas, passou a ser muito utilizada também em outras áreas, como
química, educação e geologia.
O modelo matemático, via combinação linear entre as variáveis (Xi) e K
fatores comuns F, pode ser escrito da seguinte maneira:
(1)
Xi = Ai1F1 + Ai2F2 + ... + AikFk + Ei
Onde Xi são as variáveis padronizadas, Ai são as cargas fatoriais, Fk são os
fatores comuns e Ei é um fator de erro.
Já os fatores, são estimados pela combinação linear das variáveis originais.
Logo:
Fj = Wj1X1 + Wj2X2 + . . . + WjpXp
(2)
Onde Fj são os fatores comuns não relacionados, Wjp são os coeficientes dos
escores fatoriais e Xp são as variáveis originais do estudo (BEZERRA, 2011).
Com o objetivo de facilitar a interpretação dos fatores, realiza-se uma rotação
ortogonal por meio do método varimax. Consoante com Meireles e Soares (2011), a
rotação varimax é a mais conhecida. Este método procura o melhor sistema de eixos
para o qual o peso das variáveis seja elevado apenas a um fator, ficando próximo de
zero nos demais. Em síntese, este método tem a função de minimizar o número de
variáveis fortemente relacionadas com cada fator, condicionando a obtenção de fatores
com interpretação mais simplória, sem que se perca a ortogonalidade entre os fatores.
Na análise fatorial, há uma medida de adequação de dados. Trata-se do KMO
(Kaiser-Meyer-Olkim). O KMO, de acordo com Melo (2006, p. 58), “é a razão da soma
dos quadrados das correlações de todas as variáveis dividida por essa mesma soma
acrescentada da soma dos quadrados das correlações parciais de todas as variáveis”. O
11
ideal é que se verifique a menor correlação possível. O KMO oscila de 0 a 1, sendo que,
quanto mais próximo de 1 melhor, pois menores serão as correlações parciais, indicando
perfeita adequação de dados para a análise fatorial.
Para a interpretação do KMO, Barroso e Artes (2003), considera que: 0,801,00, excelente; 0,70-0,80, ótimo; 0,60-0,70, bom; 0,50-0,60, regular; 0,00-0,50,
insuficiente.
Além do KMO, existe outro teste a ser observado a fim de se verificar as
premissas da análise fatorial: é o teste de Barlett. Este teste avalia a hipótese de que a
matriz de correlação seja a matriz identidade. A partir da identificação dos fatores, é
possível estimar o escore fatorial, de acordo com a equação (2).
Portanto, é possível criar um índice e classificar as observações (municípios),
a partir da matriz dos escores fatoriais. Segundo Monteiro e Pinheiro, citado por Silva et
al (2006), “os escores fatoriais de cada fator possuem distribuição normal, com média
zero e variância unitária [...] podem ser utilizadas para indicar a posição relativa de cada
observação”.
3.2 Seleção de variáveis e fonte de dados
Com o escopo de se verificar o grau de desenvolvimento do mercado de
trabalho em 75 municípios do sul do Brasil – os 25 mais populosos de cada estado foram selecionadas 15 variáveis, a partir das estatísticas disponíveis (dados
secundários), sendo trabalhadas no processo de análise fatorial. As variáveis são 15
indicadores de significativa relevância na conjuntura do mercado de trabalho, com
ênfase a aspectos educacionais e de geração de empregos, com base nas estatísticas do
RAIS (Relação Anual de Relações Sociais), do CAGED (Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados) e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística):
X1 – analfabetos empregados em 2010 (RAIS);
X2 – trabalhadores com até a 5ª série incompleta em 2010 (RAIS);
X3 – trabalhadores com 5ª série completa em 2010 (RAIS);
X4 – trabalhadores com escolaridade de 6ª à 9ª séries incompletas em 2010
(RAIS);
X5 – trabalhadores com ensino fundamental completo em 2010 (RAIS);
X6 – trabalhadores com ensino médio incompleto em 2010 (RAIS);
X7 – trabalhadores com ensino médio completo em 2010 (RAIS);
X8 – trabalhadores com ensino superior incompleto em 2010 (RAIS);
X9 – trabalhadores com ensino superior completo em 2010 (RAIS);
X10 – trabalhadores com mestrado em 2010 (RAIS);
X11 – trabalhadores com doutorado em 2010 (RAIS);
X12 – média de emprego gerados de 2006 à 2010 (CAGED);
X13 – população total em 2010 (IBGE);
X14 – densidade demográfica (IBGE);
X15 – grau de urbanização (IBGE).
O CAGED foi criado em 1965 e determinando o registro de contratações e
demissões, sob o regime CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas). Já a RAIS, por sua
vez, foi instituída em 1975 com o escopo de suprir as necessidades de controle das
atividades trabalhistas, disponibilizando informações sobre o mercado de trabalho
formal (MTE, 2012).
12
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A análise aplicada ao modelo possibilitou a extração de dois fatores com a raiz
característica maior que a unidade e que sintetizam as informações contidas nas 15
variáveis originais. Após a rotação, conforme a Tabela 3, percebe-se que os dois fatores,
F1 e F2, explicam respectivamente, 77,94% e 12,48% da variância total das variáveis
selecionadas. Em conjunto, os dois fatores explicam 90,43% da variância total das
variáveis selecionadas.
Tabela 3 – Raiz característica, percentual explicado por cada fator e variância
acumulada:
Fator
F1
F2
Raiz característica
11,69
1,67
Variância explicada pelo fator (%)
77,94
12,48
Variância acumulada (%)
77,94
90,42
Fonte: Resultados da pesquisa.
O teste de Barlett mostrou-se significativo (2682,225), rejeitando-se a hipótese
nula de que a matriz de correlação seja uma matriz identidade, e indicando a pertinência
do modelo. Já o teste de KMO, que avalia a adequabilidade da amostra, revelou o valor
de 0,931, que de acordo com os ditames previamente estabelecidos, é considerado um
excelente índice, indicando que a amostra é passível de ser estudada pela análise
fatorial.
Na seqüência, a Tabela 4 apresenta as cargas fatoriais e as comunalidades para
os fatores considerados. As comunalidades expressam a intensidade da relação das
variáveis com os fatores, enquanto que as cargas fatoriais possibilitam identificar com
quais fatores as variáveis estão fortemente relacionadas. Os valores encontrados pelas
comunalidades revelam que todas as variáveis têm sua variabilidade captada e
representada por um dos dois fatores (F1 e F2) de análise.
Ficou evidente que o fator F1 (conjunto de indicadores) é positiva e fortemente
relacionado com as variáveis: X1, que denota o número de trabalhadores analfabetos
empregados; X2, que denota o número de trabalhadores com a 5ª série incompleta; X3,
que denota a quantidade de trabalhadores com a 5ª série completa; X4, que expressa o
número de trabalhares com escolaridade de 6ª à 9ª séries incompletas; X5, que denota o
número de trabalhadores com ensino fundamental completo; X6, que representa a
quantidade de trabalhadores com ensino médio incompleto; X7, que denota os
trabalhadores com ensino médio completo; X8, relativo ao trabalhadores com ensino
superior incompleto; X9, concernente aos trabalhadores com ensino superior completo;
X10, que denota os trabalhadores com mestrado; X11, que representa os trabalhadores
com doutorado; X12, que expressa a geração média de empregos e X13, que denota a
população total dos municípios. Observou-se que as variáveis ligadas ao fator F1, estão
relacionadas basicamente a aspectos quantitativos, inclusive referentes ao mercado de
trabalho.
13
Tabela 4 – Cargas fatoriais e comunalidades:
Variáveis
X1
X2
X3
X4
X5
X6
X7
X8
X9
X10
X11
X12
X13
X14
X15
Fonte: Resultados da pesquisa.
F1
0,946
0,947
0,949
0,938
0,956
0,969
0,970
0,936
0,940
0,920
0,872
0,942
0,956
0,399
0,043
F2
0,215
0,188
0,218
0,237
0,234
0,223
0,216
0,206
0,182
0,157
0,155
0,217
0,240
0,688
0,913
Comunalidades
0,941
0,932
0,949
0,936
0,969
0,988
0,987
0,918
0,916
0,871
0,784
0,934
0,971
0,633
0,836
O fator F2, por sua vez, é positiva e fortemente relacionado com as variáveis:
X14, que denota a densidade demográfica e X15, concernente ao grau de urbanização.
Após consideradas as cargas fatoriais e comunalidades, mostra-se pertinente
ao desiderato deste trabalho, a observância dos escores fatoriais, ou seja, o valor dos
fatores para cada município considerado no estudo.
A análise dos fatores deve ser feita levando em conta que seus escores
originais, quando todos os municípios são considerados em conjunto, são variáveis com
média zero e desvio padrão igual a um. Sendo assim, interpreta-se que os escores
fatoriais próximos a zero, indicam nível médio de desenvolvimento, ao passo que
quanto maiores os escores, maior é o nível de desenvolvimento do mercado de trabalho
dos municípios (HOFFMANN, 1992), apud Melo (2006). Sendo assim, a Tabela 5
apresenta a classificação dos municípios da análise, de acordo com o escore do fator F1
(agrupamento de variáveis), que se mostrou muito mais relevante do que o fator F2.
Tabela 5 – Escores fatoriais dos 75 municípios considerados:
Município
Curitiba
Porto Alegre
Londrina
Caxias do Sul
Joinville
Florianópolis
Maringá
Blumenau
Piraquara
São José dos Pinhais
Cascavel
Ponta Grossa
Itajaí
Chapecó
Pelotas
Novo Hamburgo
Jaraguá do Sul
Concórdia
Santa Maria
Escore Tot.
6,02
4,76
1,24
1,04
1,01
0,98
0,88
0,64
0,60
0,41
0,25
0,18
0,18
0,15
0,11
0,06
0,03
0,02
0,01
Pos.
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
Município
Caçador
Rio Grande
Foz do Iguaçu
Tubarão
Erechim
Ijuí
Canoas
Arapongas
Colombo
Rio do Sul
Paranaguá
Lages
Umuarama
Alegrete
Uruguaiana
Campo Mourão
Santana do Livramento
Viamão
Biguaçu
Escore Tot.
-0,24
-0,24
-0,24
-0,25
-0,25
-0,26
-0,27
-0,27
-0,28
-0,28
-0,28
-0,29
-0,29
-0,32
-0,33
-0,37
-0,37
-0,38
-0,40
Pos.
39
40
41
42
43
44
45
46
47
48
49
50
51
52
53
54
55
56
57
14
Campo Largo
0,00
São José
-0,01
Toledo
-0,07
Santa Cruz do Sul
-0,08
Gaspar
-0,08
Mafra
-0,09
Araucária
-0,10
Bagé
-0,10
Guarapuava
-0,11
São Leopoldo
-0,16
Francisco Beltrão
-0,16
Brusque
-0,17
Bento Gonçalves
-0,19
Apucarana
-0,20
Araranguá
-0,21
Cachoeira do Sul
-0,21
Criciúma
-0,22
Passo Fundo
-0,22
Gravataí
-0,23
Fonte: Resultados da pesquisa.
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
São Bento do Sul
Paranavaí
Indaial
Içara
Palhoça
Cambé
Navegantes
Fazenda Rio Grande
Almirante Tamandaré
Camboriú
Cachoeirinha
Pinhais
Guaíba
Balneário Camboriú
Sarandi
Sapucaia do Sul
Alvorada
Esteio
-0,40
-0,41
-0,41
-0,41
-0,42
-0,47
-0,50
-0,54
-0,55
-0,55
-0,57
-0,59
-0,59
-0,66
-0,68
-0,76
-0,83
-0,87
58
59
60
61
62
63
64
65
66
67
68
69
70
71
72
73
74
75
Observa-se na Tabela 5, que dos 75 municípios considerados no estudo, 20
obtiveram escore positivo. Estes podem ser considerados, a partir das estatísticas
utilizadas, municípios com nível de desenvolvimento do mercado de trabalho acima da
média em relação aos demais municípios. Os demais 55 municípios obtiveram escore
negativo e, portanto, podem ser considerados com nível de desenvolvimento do
mercado de trabalho abaixo da média em relação aos demais municípios.
Verifica-se que dos 20 municípios com escore positivo, 8 são paranaenses
(Figura 2): Curitiba, Londrina, Maringá, Piraquara, São José dos Pinhais, Cascavel,
Ponta Grossa e Campo Largo; sendo que destes, 4 são do interior (Londrina, Maringá,
Cascavel e Ponta Grossa), cidades que exercem grande influência em suas respectivas
regiões; as 4 demais são da região metropolitana de Curitiba, incluindo a capital. Isto
exprime que, não obstante a geração de empregos formais e estruturados já estar
fortemente concentrada nos 25 municípios mais populosos do estado no ano 2010, há
uma concentração ainda maior em oito municípios (70,51%), sendo que destes oito,
somente quatro situam-se no interior do estado.
Figura 2 – Municípios paranaenses com escore fatorial positivo
Fonte: Resultados da pesquisa.
15
Ainda no grupo dos 20 municípios com escore positivo, constatou-se que 7 são
catarinenses (Figura 3): Joinville, Florianópolis, Blumenau, Itajaí, Chapecó, Jaraguá do
Sul e Concórdia, todas cidades pólo no estado, incluindo a capital. Estes municípios
foram responsáveis por 60,87% do total da geração de empregos no conjunto das 25
principais cidades do estado, no ano de 2010.
Figura 3 – Municípios catarinenses com escore fatorial positivo
Fonte: Resultados da pesquisa.
Do Rio Grande do Sul, cinco municípios ficaram entre os 20 primeiros lugares
da classificação fatorial (Figura 4): Porto Alegre, Caxias do Sul, Pelotas, Novo
Hamburgo e Santa Maria. Portanto, estas cinco cidades criaram 53,42% do total de
empregos gerados nos 25 municípios mais populosos do estado em 2010.
Figura 4 – Municípios gaúchos com escore fatorial positivo
Fonte: Resultados da pesquisa.
16
Constata-se que no caso do total de empregos gerados no grupo das 75 cidades
consideradas neste estudo, 62,04% foram criados nas 20 cidades que revelaram escore
fatorial positivo.
Logo, pode-se corroborar a hipótese suscitada no início deste estudo, isto é, de
que genericamente, as maiores cidades apresentam os maiores graus de
desenvolvimento do mercado de trabalho e, portanto, com as melhores perspectivas
profissionais para os trabalhadores.
Observa-se ainda que, na ponta de baixo, dos 20 últimos colocados, 8 são
catarinenses, 6 paranaenses e 6 gaúchos. Destes 20 municípios, 19 localizam-se em
regiões metropolitanas: Viamão, Cachoeirinha, Guaíba, Sapucaia do Sul, Alvorada e
Esteio, da região metropolitana de Porto Alegre; Fazenda Rio Grande, Almirante
Tamandaré e Pinhais, da região metropolitana de Curitiba; Biguaçu e Palhoça, da região
metropolitana de Florianópolis; São Bento do Sul, da região metropolitana do
Norte/Nordeste Catarinenses; Indaial, da região metropolitana do Vale do Itajaí;
Navegantes, Camboriú e Balneário Camboriú, da região metropolitana da Foz do Rio
Itajaí; Içara, da região metropolitana Carbonífera; Cambé, da região metropolitana de
Londrina; Sarandi, da região metropolitana de Maringá. Este achado ratifica o termo
cidade dormitório, denota cidades com economias pouco pujantes, extremamente
dependentes de cidade maiores (metrópoles), muitas vezes conurbadas. Nestes casos,
cidades das periferias de regiões metropolitanas acabam sendo prejudicadas, justamente
pela proximidade com as suas respectivas metrópoles. No grupo das 20 últimas
colocadas, a única cidade que não está em nenhuma região metropolitana é Paranavaí,
na mesorregião Noroeste do Paraná.
Outra ilação que pode ser feita com relação ao porquê destes resultados, é a
premissa de que municípios mais populosos têm seus níveis de desenvolvimento
favorecido, inclusive no que tange ao mercado de trabalho, pois maiores são as
oportunidades para a população estudar, se aperfeiçoar e ingressar no mercado.
Ademais, quanto maior a população, maior a tendência de atração de pessoas de outras
localidades, de maneira que cidades mais populosas, em tese, acabam recebendo
maiores investimentos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste trabalho foi hierarquizar, de acordo com seus níveis de
desenvolvimento do mercado de trabalho, 75 municípios do sul do Brasil, sendo os 25
mais populosos de cada estado, a fim de se saber quais são as cidades mais bem
colocadas nessa classificação. Isto foi possível por meio da análise estatística
multivariada, em específico, a análise fatorial, que agregou 15 indicadores de
desenvolvimento do mercado de trabalho originais em 2 fatores (F1 e F2).
Constatou-se que dos 75 municípios, 20 registraram escore positivo, isto é,
níveis de desenvolvimento do mercado de trabalho acima da média em relação aos
demais, de modo que é possível afirmar que dos 75 municípios considerados na região,
nesses 20, o mercado de trabalho é mais bem desenvolvido. Cabe ressaltar ainda, a
grande vantagem de Curitiba e Porto Alegre – as duas grandes metrópoles da região em relação aos demais municípios, na medida em que o escore destas capitais foi
bastante superior aos demais municípios.
Ademais, a maioria dos municípios pesquisados, 55, revelaram escore
negativo, ou seja, exprimindo condições de desenvolvimento do mercado de trabalho
abaixo da média. Pode-se preconizar políticas públicas voltadas com maior atenção a
estes municípios, no sentido de melhorar suas condições de desenvolvimento do
17
mercado de trabalho ou pelo menos mitigar suas carências, sem descuidar dos
municípios mais populosos, onde as demandas são maiores. Cabe às lideranças locais
estar constantemente fazendo gestões junto às autoridades competentes, a fim de que se
incentivem a criação de distritos industriais em seus municípios.
Este trabalho não encerra as discussões sobre o tema abordado, ao contrário,
espera-se que mais pesquisadores se interessem pelo assunto, quer seja, de estudar o
mercado de trabalho, por meio das técnicas de análise multivariada.
6 REFERÊNCIAS
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experiência brasileira. In: Global Labor University Working Papers (Org.), n.9,
maio, 2010.
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Lavras, Departamento de Ciências Exatas. 48ª Reunião Anual da Região Brasileira da
Sociedade Internacional de Biometria e 10º Simpósio de Estatística Aplicada à
Experimentação Agronômica. Julho, 2003.
BEZERRA, F. A. Análise Fatorial. In: CORRAR, L. J. et al (Org.). Análise
Multivariada. São Paulo: Atlas, 2011.
CAGED. Cadastro Geral de Empregados e Desempregados. Disponível em:
http://portal.mte.gov.br/caged. Acesso em 13 de nov. de 2011.
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Brasil contemporâneo: décadas de1980 e 1990. In: JACCOUD, L. (Org.) Questão
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