FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL ÀS
MULHERES IDOSAS
Célia Pereira Caldas
Uma farta literatura gerontológica demonstra que existem abordagens
diferenciadas para idosos na faixa etária entre 60 e 69 anos e para os idosos
acima de 80 anos, como também para idosos do sexo masculino e para os do
sexo feminino. De acordo com Veras et al (2008), Até o ano 2025 uma grande
proporção da população será idosa e serão, em sua maior parte, mulheres,
pelo fato de terem uma expectativa de vida maior. No entanto, embora vivam
mais do que os homens, apresentam maior morbidade. Desta forma, durante
as próximas décadas, as necessidades de saúde das mulheres deverão ter
cada vez mais importância.
É bem maior o número de mulheres entre os idosos, do que entre a
população em geral. A Síntese de indicadores sociais do IBGE (2008)
confirmou que o número de mulheres é superior ao de homens tanto no total do
País quanto nas áreas urbanas, enquanto nas áreas rurais há mais homens
que mulheres. No total do país, havia em 2007, 79 homens para cada 100
mulheres idosas de 60 anos ou mais. No grupo de 65 anos ou mais, eram 76
para cada 100, chegando a apenas 72 homens para cada 100 mulheres, na
faixa de 70 anos ou mais. Nas áreas rurais, a razão de sexo era de 107
homens para cada 100 mulheres, enquanto nas áreas urbanas, era de 75
homens para cada 100 mulheres. A região Sul possui a maior diferença entre
os sexos, (67 homens para cada 100 mulheres), seguida de perto pelo Sudeste
(69 homens para cada 100 mulheres). Esses números resultam da migração
rural/urbana feminina ser superior a masculina (as idosas dirigem-se com maior
freqüência às cidades para residir com filhos/netos ou parentes) e pelo fato dos
homens terem maior presença em atividades tipicamente rurais.
Tal diferença é explicada pelos diferenciais de expectativa de vida entre
os sexos. Em média, as mulheres vivem oito anos mais que os homens. O
significado social da idade está profundamente vinculado ao gênero e a
feminização da velhice traz implicações sociais. Grande parte das mulheres é
viúva, vive só, não tem experiência de trabalho no mercado formal, tem menor
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nível educacional que os homens. No entanto, tanto a velhice quanto a viuvez
podem representar certa independência ou mesmo trazer a possibilidade de
autorealização.
O envelhecimento é um processo multidimensional. Além da dimensão
biológica, envolve a dimensão social, a psicológica, a funcional, entre outras
dimensões. Em termos biológicos compreende os processos de transformação
do organismo que ocorrem após a maturação sexual e que implicam a
diminuição gradual da probabilidade de sobrevivência. Portanto, diferente do
homem, com a menopausa a mulher vivencia marcantemente o início do
processo de envelhecimento biológico.
A Menopausa é um evento natural na vida da mulher. Trata-se da sua
última menstruação. Após um ano sem menstruar, a mulher é considerada
menopáusica, o que ocorre entre 40 e 56 anos (em média, aos 51 anos).
Muitas mulheres sentem alterações antes do seu último ciclo e 1% a vivenciam
antes dos 40 anos.
De acordo com a Sociedade Internacional de Menopausa (2007), a
mulher começa a apresentar alguns sintomas que variam em duração e
intensidade dois a oito anos antes da menopausa. Trata-se da Peri
menopausa, que é o período que precede a menopausa. Neste período as
mulheres
podem
apresentar
irregularidade
nos
períodos,
fogachos,
ressecamento vaginal e distúrbios do sono.
Após a última menstruação, os ovários param de produzir os hormônios
femininos- estrogênio e progesterona, os ciclos se tornam irregulares e param.
No entanto, os ovários continuam a produzir testosterona em quantidades
limitadas. Podemos citar como vantagens da menopausa não haver mais o
risco de gravidez e a resolução de muitos problemas ginecológicos:
menorragia, dismenorréia, endometriose, etc. Mas particularmente devemos
destacar que é uma oportunidade para a mulher otimizar a sua saúde. Trata-se
do início de uma nova fase de vida, que pode ser, inclusive, a melhor fase da
vida da mulher pela possibilidade de viver plenamente a maturidade alcançada.
As principais conseqüências da perda dos hormônios femininos são a
ocorrência de fogachos, suores noturnos, alterações vulvares, vaginais e
vesicais, osteopenia/osteoporose e alterações no metabolismo do colesterol.
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Não há evidências claras de que a menopausa leve a mudanças de humor,
alterações cognitivas e alterações na sexualidade.
O risco de depressão e ansiedade não aumenta após a menopausa,
sendo que episódios severos de fogachos estão mais frequentemente
associados com alterações de humor e 70% das mulheres que reportam
depressão apresentam este sintoma. O estrogênio pode melhorar a depressão
em mulheres menopáusicas, mas a razão deste efeito não está bem explicada.
Por outro lado, o efeito da menopausa e da perda de estrogênio na função
cognitiva não está clara. A perda de estrogênio está associada com a
diminuição da memória de curto prazo e da fluência verbal e a terapia hormonal
pode desacelerar o processo da doença de Alzheimer, mas aumenta o risco de
AVC.
A libido e a capacidade de atingir o orgasmo diminuem com a idade; no
entanto, 60% das mulheres se mantém sexualmente ativas aos 70 anos. Por
outro lado, a maioria das mulheres que apresentam disfunção sexual relata que
já tinham pouca satisfação sexual com seus parceiros antes da menopausa. No
entanto, a reposição de estrogênio aumenta a libido em 50%. Os níveis de
testosterona não mudam após a menopausa, mas junto com a reposição de
estrogênio, ajuda a melhorar a libido. Na verdade, os melhores preditores de
satisfação sexual após a menopausa são bem-estar geral e atividade física.
Mudanças no estilo de vida são as principais medidas de promoção da saúde
nesta fase da vida da mulher. A Atividade física é a mais importante destas
medidas, por todos os benefícios físicos e mentais dela advindos. Para as
mulheres que mantém o hábito de fumar, sua suspensão é fundamental nesta
fase. As mudanças na alimentação devem incluir o aumento o consumo de
frutas, vegetais, baixa ingestão de gordura animal e aumento de grãos
integrais. Devido à maior propensão ao acúmulo de gordura corporal nesta fase
é fundamental o controle do peso.
Quanto
aos
sintomas,
o
tratamento
clássico
é
usar
estrogênio+progesterona para os fogachos, sintomas vaginais, sintomas
urinários e para prevenir perda óssea. No entanto, recentes estudos limitam o
uso prolongado de hormônios após a menopausa. As opções de tratamento
devem ser dirigidas para cada sintoma. É necessário que a mulher aprenda a
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administrar os episódios de fogachos, pois existem poucas medidas eficazes
para controlar este sintoma. Como mulheres deprimidas tendem a ter este
sintoma ampliado, o uso de antidepressivos pode melhorar. Recentes estudos
mostram que o uso de soja/fitoestrógenos não é eficaz. De qualquer forma, a
reposição hormonal deve respeitar sempre a regra da menor dose efetiva pelo
menor tempo necessário. O ressecamento vaginal pode ser resolvido com o
uso de lubrificantes e estrogênio vaginal. Para os sintomas urinários,
recomendam-se os exercícios de Kegel, o estrogênio vaginal, fisioterapia e
cirurgia.
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (2009)
apresenta como uma de suas diretrizes atingir as mulheres em todos os ciclos
de vida, resguardando as especificidades das diferentes faixas etárias e dos
distintos grupos populacionais. Implantar a atenção à saúde da mulher no
climatério e promover a atenção à saúde da mulher na terceira idade são
objetivos definidos na PNAISM. Como estratégia para atingir tais objetivos se
pretende ampliar o acesso e qualificar a atenção às mulheres no climatério na
rede SUS e incluir a abordagem às especificidades da atenção a saúde de
mulher na política Nacional de Atenção à Saúde da Pessoa Idosa.
As diretrizes, objetivos e estratégias da PNAISM estão em consonância com as
recomendações da 2a. Assembléia Mundial sobre o Envelhecimento (Madrid,
2002), que apontam a necessidade de expandir a educação profissional para
qualificar a atenção ao idoso, com a inclusão de treinamento interdisciplinar,
formação básica e especializada sobre saúde do idoso, estabelecimento de
programas de educação contínua para profissionais e cuidadores e estimular o
aumento de estudantes na área do envelhecimento.
A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (2006) tem como uma de
suas diretrizes a formação e educação permanente de RH especializados
(profissionais) do SUS na área de saúde da pessoa idosa e o apoio a estudos e
pesquisas. Preconiza também a inclusão nos currículos de disciplinas que
abordem o processo do envelhecimento, valorizando a pessoa idosa e
divulgando medidas de promoção e prevenção em todas as faixas etárias; a
adequação dos currículos, metodologias, material didático e programas de
ensino visando ao atendimento das diretrizes desta política; a participação das
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instituições de Ensino superior na qualificação contínua do pessoal de saúde
do SUS.
De acordo com Camacho (2002), em relação aos cursos de
Enfermagem,
a
Organização
Panamericana
de
Saúde
recomenda
expressamente que o conteúdo relativo à Saúde do Idoso, não deve ser diluído
dentro de outras disciplinas. Os conteúdos sobre o cuidado ao idoso sadio
devem ser valorizados. Ou seja, os conteúdos não devem abordar só as
limitações, mas as possibilidades de desenvolvimento para a pessoa que
envelhece.
Eliopoulos (2005) relata que a Enfermagem Gerontológica surgiu como
especialidade nos Estados Unidos. Em 1904 é publicado o primeiro artigo
sobre enfermagem e o cuidado do idoso, no American Journal of Nursing . Em
1961 é criado o grupo de especialistas em enf. Geriátrica na Associação
Americana de Enfermagem e em 1962 acontece o primeiro encontro nacional
nos EUA. Em 1970 são estabelecidos os padrões para a enfermagem geriátrica
e as escolas de enfermagem passam a incluir a disciplina na graduação e a
oferecer cursos de pós-graduação.
O avanço da especialidade foi muito
rápido, a medida que a realidade social trouxe o desafio do aumento da
população de idosos. Em 1975, é reconhecida a especialidade enfermagem
geriátrica, em 1975 é criado o Journal of Gerontological Nursing e em 1976 a
Divisão de Enf. Geriatrica muda o título para Divisão de Enfermagem
Gerontológica .
No Brasil, em termos de produção científica, especificamente no campo
da gerontologia, somente a partir da década de 70 é possível observar certo
incremento nas diversas áreas de conhecimento, com gradativa expressão a
partir da década de 80 e especialmente em 90, com a criação dos primeiros
cursos de pós-graduação em gerontologia e geriatria (Camacho, 2002).
Gonçalves (2008) relata que A enfermagem gerontogeriátrica é uma
especialidade
da
Enfermagem
que,
no
Brasil,
vem
se
organizando
recentemente, para se constituir num corpo de conhecimento específico, aliado
a um rol de habilidades práticas apropriadas, já acumuladas pela experiência.
Tal organização tem recebido influências de esforços envidados pela
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia em torno de três décadas.
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Também tem sofrido influências da enfermagem, principalmente norteamericana, que tem disponibilizado, a partir de meados do século XX, de modo
contínuo e crescente, literatura específica, através de publicações em âmbito
acadêmico e profissional.
Os sinais iniciais de interesse da enfermagem brasileira pela área do
envelhecimento se observam nas publicações esparsas produzidas na década
de 70. A partir da década de 80, verifica-se uma produção pequena, porém
continuada, desenvolvida, principalmente no meio acadêmico, em programas
de pós-graduação, em nível de especialização, mestrado e doutorado. Foi em
1996 que se realizou, em Florianópolis, a I Jornada Brasileira de Enfermagem
Geriátrica e Gerontológica e desde então tem sido realizada a cada dois anos,
como parte dos esforços para o desenvolvimento desta área.
Assim, grande esforço tem sido envidado por grupo de enfermeiras
pioneiras e simpatizantes da especialidade, ainda em número reduzido, para o
desenvolvimento da enfermagem gerontogeriátrica, no sentido de estudar e
divulgar a especialidade, bem como de estimular o aperfeiçoamento de novos
profissionais nessa área de trabalho em franca expansão, dado o aumento da
população idosa e de suas crescentes demandas, principalmente as de ordem
social e sanitária.
Na área do ensino, é notório o esforço no sentido de incluir a disciplina
da especialidade de enfermagem gerontogeriátrica nos cursos de graduação,
como também nos cursos profissionalizantes em nível médio, com caráter
obrigatório ou optativo.
A formação de RH em geriatria e gerontologia ainda ocorre de maneira
não-formal. Os cursos de extensão e pós-graduação (lato e estrito sensos)
ainda são os responsáveis pela formação e capacitação de pesquisadores e de
profissionais.
O pessoal de enfermagem sempre assumiu o papel principal no cuidado
ao idoso. No entanto, os enfermeiros nunca assumiram a liderança neste
processo. Ou melhor, a liderança na área nunca foi proporcional às
responsabilidades e ao trabalho de fato assumidos.
As escolas de enfermagem omitiam este conteúdo em seus currículos e não
havia muito interesse em preencher a lacuna existente entre as necessidades
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da realidade e o conteúdo dos programas educacionais. No entanto, o cuidado
ao ser humano precisa ser considerado levando-se em conta o ciclo vital. A
questão da preparação da família e cuidadores que assumem o cuidado do
idoso na comunidade tem sido ignorada.
As principais limitações presentes nos cursos de graduação em
enfermagem em relação à formação de RH incluem o pequeno número de
docentes envolvidos em programas de pós-graduação na área. Na graduação
a maioria dos docentes ensina conteúdos baseado em sua experiência e
conhecimentos pessoais. A maior parte dos cursos de graduação aborda o
tema,
porém
de
forma
heterogênea.
Observa-se
uma
escassez
de
conhecimento gerontogeriátrico, ausência de sintonia das IES com o processo
de transição demográfica, escassez de conteúdo nos currículos, falta de
campos para a prática, inexperiência do corpo docente.
No entanto, avanços na prática da Enfermagem Gerontológica podem
ser constatados, pois a cada dia aumenta a quantidade de profissionais que
estão escolhendo a enfermagem gerontológica como especialidade, pois já
reconhecem as oportunidades de desenvolvimento. Observa-se um aumento
na publicação de pesquisas de qualidade na área, o que fortalece a base
científica para a prática, aumenta o número de escolas de enfermagem que
estão introduzindo a enfermagem gerontológica na graduação e na pósgraduação.
O futuro da enfermagem gerontológica é desafiador e auspicioso. No
entanto, mais pesquisa é necessária porque a crescente complexidade e a
demanda por serviços em Enfermagem Gerontológica vêm acompanhados
pela necessidade de um conhecimento sólido. Não há mais espaço para ações
de enfermagem baseada na metodologia “ensaio-erro”. A sociedade requer da
enfermagem embasamento científico sólido.
Para Eliopoulos (2005), as enfermeiras gerontólogas devem apoiar os
esforços dos pesquisadores, interagindo com as enfermeiras que estão
produzindo pesquisa. Podem apoiar os esforços dos pesquisadores em
enfermagem gerontológica, mantendo-se atualizadas na área. As enfermeiras
Gerontólogas podem também influenciar a formação em enfermagem,
identificando temas relevantes em saúde do idoso para incluir no curriculo;
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participando de atividades discentes, principalmente nos campos de estágio;
avaliando deficiências na formação em enfermagem e planejando experiências
educacionais para preencher lacunas; promovendo eventos interdisciplinares;
participando de programas de educação continuada; participando de grupos de
estudo e estimulando a discussão de literatura científica na área da
enfermagem
gerontológica;
através
de
sua
prática,
demonstrando
a
especificidade da abordagem de enfermagem ao idoso.
Bibliografia
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2528 de 2006. Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI), 2006 c.
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CAMACHO, ACLF. A gerontologia e a interdisciplinaridade: aspectos
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(2):229-33
DIOGO, MJDE. Formação de recursos Humanos na área da saúde do idoso.
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ELIOPOULOS, C. Enfermagem gerontológica. Porto Alegre: Artmed, 2005.
Gonçalves, LHT. Histórico das Jornadas Brasileiras de Enfermagem Geriátrica
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Disponível
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VERAS, Renato Peixoto et al . Características demográficas dos idosos
vinculados ao sistema suplementar de saúde no Brasil. Rev. Saúde Pública,
São Paulo, v. 42, n. 3, Junho, 2008.
A AUTONOMIA E A CIDADANIA: CONQUISTAS DAS MULHERES IDOSAS
ALCANÇADAS A PARTIR DAS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE
Maria do Livramento Fortes Figueredo
1. ASPECTOS
DEMOGRÁFICOS,
SÓCIO-CULTURAIS
E
ECONÔMICOS DA POPULAÇÃO IDOSA FEMININA:
As questões relativas à Terceira Idade têm crescido em importância
ultimamente, uma vez que o envelhecimento da população é um fenômeno global
que traz importantes repercussões nos campos social e econômico, especialmente
em países em desenvolvimento. Dentre estes se destaca o Brasil, cuja população
encontra-se em rápido processo de envelhecimento, podendo seus habitantes
chegar em 2025 com 60 anos ou mais, compondo um contingente de 32 milhões de
pessoas, o que situará o país em sexto lugar em termos de população idosa1.
Uma outra constatação dos estudos estatísticos em relação à terceira idade é
a existência de um maior número de mulheres em relação ao número de homens.
Na verdade, quanto mais a idade aumenta, mais as mulheres são numerosas; o
envelhecimento passa a ser um fenômeno que se conjuga, antes de tudo, no
feminino2,3.
As alterações sociais e patológicas desempenham um papel importante e, em
muitas situações, a deflagração desses problemas pode ser atenuada com a adoção
de medidas preventivas, que têm como objetivo melhorar a saúde e a qualidade de
vida dos idosos. Com o aumento da expectativa de vida, sobretudo para as
mulheres, a área de promoção da saúde é mais eficaz, se tratada dentro de uma
perspectiva de atendimento global, desempenhando papel importante tanto na
prevenção da incapacidade quanto na recuperação da autonomia¹.
O Programa Terceira Idade em Ação (PTIA) é uma atividade de extensão do
Núcleo de Pesquisa da Terceira Idade (NUPEUTI) da Universidade Federal do Piauí
(UFPI), no qual são ministrados, a cada semestre, dentre outros, os seguintes
1
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cursos: Saúde do Idoso e Orientações Geriátricas para o Envelhecimento
Saudável, e nestes cursos têm-se como clientela de alunos, pessoas idosas, com 60
anos ou mais. As turmas são compostas, na sua maioria, por mulheres idosas.
Neste grupo constata-se uma melhoria progressiva e contínua das atitudes e
práticas destas mulheres no decorrer dos cursos, sendo motivador a formulação de
pressupostos que focalizam a Educação em Saúde como o caminho para autonomia
e cidadania da mulher na terceira idade.4
Em vários estudos realizados com as mulheres idosas participantes do PTIA,
a exemplo destes, a Tese de Doutorado: A MULHER IDOSA E A EDUCAÇÃO EM
SAÚDE: saberes e práticas para promoção do envelhecimento saudável evidenciouse que as mesmas são detentoras de conhecimento, experiências e atitudes
positivas para superação dos problemas e limitações próprias do processo de
envelhecimento. Além do mais, foi possível identificar entre aquelas que
participavam das Práticas de Educação em Saúde o aprendizado e a incorporação
de novos conceitos sobre saúde e qualidade de vida no seu dia-a-dia, pela via da
conscientização. Isto permitiu que essas mulheres ultrapassem visões limitadoras e
padronizadoras da velhice, demonstrando desta forma, que o registro de novos
conhecimentos é perfeitamente assimilado em qualquer fase da vida 5.
Esta perspectiva é coerente com a concepção de que o respeito à autonomia
e a dignidade de todo ser humano é um componente ético, não se traduzindo em
favores que se possam oferecer aos outros6. A autonomia de ação está
intrinsecamente relacionada com a emancipação, que significa liberdade, mas
também a autonomia é capaz de reconhecer os limites pessoais necessários para se
obter sucesso nos relacionamentos 7.
As ações de Educação em Saúde no PTIA contribuem para que o grupo de
mulheres idosas desenvolva a consciência da cidadania, capacidade de autoreflexão e autodeterminação. Assim, o exercício da cidadania em qualquer fase da
vida deve ser trabalhado em prol da construção de uma nova sociedade, na qual o
interesse do coletivo venha sobrepor ao individual 8.
Toda esta conscientização visa ao autocuidado, que, de acordo com a teoria
de Orem, refere-se à prática de atividades executadas pelo próprio indivíduo, em
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seu benefício, para manutenção da vida, da saúde e do bem-estar9. A
Educação em Saúde requer não apenas o treinamento de práticas de autocuidado,
mas também o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes
positivas10.
Neste sentido, faz-se necessário refletir sobre o conceito de cidadania, que
significa ter consciência de direitos e deveres e participar de todas as questões da
sociedade. Ou seja, tudo o que acontece no mundo, no país, na cidade, no bairro é
da responsabilidade do cidadão, como sujeito de direitos e deveres, com capacidade
crítica e reflexiva para exigir as ações públicas que são obrigações do Estado 11.
Ser mulher é um grande desafio, independentemente da idade, da
nacionalidade, do estado civil, econômico, político, social e religioso que ela tenha
de origem. É comum, na literatura, desde a antiguidade, conferir-se à mulher um
status de maior dependência, em que se constata a falta de respeito à sua condição
feminina e de cidadã; um processo historicamente institucionalizado que caracteriza
um estado de submissão ao homem4.
Esta é uma situação que pode ser compreendida tomando por base o gênero,
que se configura na construção social baseada em uma diferenciação biológica dos
sexos, que se mostra por meio de relações de poder-subordinação, atividades,
normas e condutas para homens e mulheres em cada sociedade12. Esta construção
social vem, ao longo dos anos, colocando para a mulher um papel de submissão e
de desvalorização e, quando alcança idades mais avançadas, seu papel se torna
ainda mais submisso e dependente.
Contudo, as soluções mais válidas para mudar o rumo dos acontecimentos
que estigmatizam a condição feminina devem partir das próprias mulheres, de
intervenções multisetoriais, destacando-se as práticas de educação em saúde. Tais
práticas permitem a atuação de vários profissionais, sendo marcante a participação
da enfermagem nestas ações4.
2. ESTUDOS REALIZADOS EM TERESINA APONTAM UM PERFIL
DIFERENCIADO PARA AS MULHERES IDOSAS PARTICIPANTES
DAS PRÁTICAS EDUCATIVAS:
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Estudos realizados em Teresina a mostram que a mulher idosa se sente
discriminada, principalmente pelo fato de não ter tido acesso à educação e, com isto,
à independência socioeconômica. Contraditoriamente, o estudo traz que a mulher
idosa piauiense considera-se inovadora, capaz de produzir novos planos e projetos
para sair do anonimato mesmo não tendo cursado escola ou universidade; são
mulheres que aprendem rápido e possuem saberes vivenciados pela experiência de
vida 13.
Considerando a atuação da enfermagem na docência de um programa
multisetorial e interdisciplinar dirigido à terceira idade, em especial às mulheres
idosas, tendo em vista estas representarem o maior número de alunos do PTIA,
julga-se de fundamental importância e relevância a investigação proposta, que tem
como objeto de estudo a descrição dos saberes e práticas, adotados pelas mulheres
idosas, sujeitos das ações de Educação em Saúde.
3. AS DIFERENÇAS DE GÊNERO NA TERCEIRA IDADE QUE
INFLUENCIAM NO EMPODERAMENTO DA MULHER IDOSA.
Para o homem que envelhece a aposentadoria representa uma mudança
radical em sua vida, ou seja, ele retira-se do convívio predominantemente do espaço
público e passa a experimentar mais intensamente o âmbito privado e doméstico. Já
a mulher idosa de nossos dias, em geral, passou toda a sua vida cuidando da casa e
da educação dos filhos, dentro da esfera doméstica. O fato de nunca ter vivido uma
vida profissional ativa e ter levado uma vida sexual e social mais reprimida e restrita
faz com que ela atravesse essa fase de forma diferenciada dos homens de sua
mesma geração.
É comum encontrarmos idosas que consideram esta etapa da vida a mais
feliz e tranqüila, porque livres dos encargos familiares procuram realizar outras
atividades que as ajudam a adquirir maior liberdade e autonomia. As mulheres mais
velhas estão procurando se livrar de valores que as oprimiam na juventude e tentam
resgatar, mesmo que na velhice, os encantos e desejos contidos ao longo da vida
adulta. Esse processo é desencadeado mais favoravelmente em mulheres que não
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se acomodam e buscam a convivência com pessoas que apresentam essas
mesmas inquietações13.
As questões de gênero são bastante difundidas e discutidas na faixa etária na
qual, homens e mulheres encontram-se no período reprodutivo, momento no qual se
estabelecem as relações matrimoniais e nascem os filhos, ou seja as relações de
poder sobre o corpo feminino. Além do mais é uma fase na qual são mais
perceptíveis os diferentes papéis e valores estabelecidos para a identidade
masculina e feminina.
Já na velhice ocorre um obscurecimento da sexualidade e uma certa negação
das questões de gênero, que mascaram tanto as perdas como os ganhos trazidos
pelo envelhecimento da influência dos determinantes construídos histórica e
culturalmente pela sociedade, porém, os estudos envolvendo o binômio: velhice e
gênero revelam que os valores e padrões sócio-culturais do comportamento humano
estão presentes no cotidiano de homens e mulheres que envelhecem e determinam
à ocorrência de eventos e atitudes que podem se tornar limites ou possibilidades
para conquista do envelhecimento saudável.
No que se refere à liberdade expressada pelas mulheres idosas desse estudo
foi também identificada em outras pesquisas que a consideraram uma estranha
liberdade pela dupla valência: como liberdade de gênero, que se assinala
positivamente, pois as mulheres idosas podem circular, viver conforme sua vontade;
mas como relação à liberdade geracional e, sobretudo existencial observa-se o
sentido marginal que ela apresenta, pois as mulheres na terceira idade podem sair,
porque não importam tanto, já não são bonitas, não irão atrair os homens, nem os
de sua idade, já não reproduzem, não há muito, o que preservar13.
Em uma investigação realizada com sujeitos homens e mulheres na terceira
idade foi possível evidenciar a forte influência das questões de gênero que envolvem
os papéis, valores e padrões sociais e culturais construídos e definidos pela
sociedade em sua evolução histórica, e que tem determinado como deve ser o
masculino e o feminino na velhice14.
Os depoimentos desses sujeitos demonstraram que no processo de
envelhecimento o masculino e o feminino são vividos de formas diferentes e
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contraditórias. Evidenciou-se também que o feminino apresenta uma melhor
adaptação às perdas físicas, emocionais e sociais ocorridas na velhice, mostrando
que a mulher idosa consegue ser mais resistente e solidária, buscando informações
fundamentais para o auto-cuidado e a incorporação de atitudes mais saudáveis que
possibilitem o envelhecimento com mais qualidade de vida e felicidade14.
As características sociais do masculino em uma sociedade capitalista que
prioriza o capital, a produção e mundo público para os homens é verdadeiramente
algoz com os envelhecentes, que com a aposentadoria passam a ter como espaço
de convivência o recinto privado do lar, trocando a produtividade pela inatividade, e
vivenciando perdas relativas a doenças e a morte. Dessa forma, a nova condição
social dos homens idosos passa a ser determinante de perdas e limitações que
influenciam na saúde física e emocional, desencadeando ou agravando doenças
crônicas características do processo de envelhecimento e capazes de reduzirem a
saúde e a qualidade de vida de muitos homens idosos14.
4. CONQUISTAS POLÍTICAS, SOCIAIS E EM SAÚDE ALCANÇADAS
PELAS
MULHERES
PARTICIPANTES
DAS
PRÁTICAS
DE
EDUCAÇÃO EM SAÚDE:
Os dados coletados na investigação com mulheres idosas participantes das
práticas de educação em saúde foram agrupados em três categorias de análise. A
primeira refere-se à participação da mulher idosa nas políticas públicas, revendo
conceitos de cidadania; a segunda, abrange o social e a inserção da mulher idosa
na comunidade; e a terceira categoria ressalta a mulher idosa e as questões de
saúde4.
Conquistas Políticas
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Os depoimentos mostram que a mulher idosa participante do PTIA descobriu
direitos e deveres, que busca a cada dia e em cada lugar ser reconhecida como
cidadã, inserida no processo social.
Hoje exijo meus direitos de idosa, no ônibus, na fila do banco, quando vou
receber meu dinheiro, mesmo o povo novo reclamando eu passo na frente,
porque sei que é meu direito. (Margarida, 82 anos, alfabetizada, classe baixa,
viúva, mora com duas filhas, uma delas tem dois filhos).
Aprendi coisas importantes, conheço a Lei do Idoso, sei do Conselho dos
Direitos dos Idosos, sei dos Centros de Convivência de Teresina. Agora sei
me cuidar e ninguém me engana mais. (Rosa, 64 anos, escolaridade ensino
médio, classe baixa, solteira, sem filhos, mora com os sobrinhos).
Estes depoimentos relatam a importância da Educação em Saúde para
mulheres idosas, mostrando que a mulher chega à terceira idade sem conhecer
seus direitos e sem questioná-los, só o fazendo quando de fato conhece estes
direitos, passando a agir sem temor e garantindo seu espaço.
Observa-se também que, a partir do conhecimento dos direitos de cidadã, a
mulher idosa adquire auto-estima e, inclusive, passa a se auto-cuidar, preservando
sua conquista tanto de cidadã, como de mulher que possui capacidades para
enfrentar desafios e conquistar saberes, pondo cada dia mais em prática seus
conhecimentos4.
No entanto, a mulher idosa teve sua historicidade marcada pelas questões de
gênero que sempre submeteram a mulher a uma condição de submissão,
imobilizando-a em uma situação anti-cidadania, fazendo a passar a vida inteira sem
saber reivindicar seus direitos, silenciando e omitindo a violação dos mesmos 13.
Essa situação de desigualdades é agravada na terceira idade, pelo
desrespeito da sociedade com o idoso, principalmente a mulher idosa, que, desde a
infância, adolescência e vida adulta, vive constantemente a ameaça e a efetiva
violação da cidadania plena, em diferentes aspectos. Além do mais, uma sociedade
brasileira direcionada pelo capital tende a valorizar e respeitar aquelas pessoas
consideradas em idade produtiva e reprodutiva, e, neste sentido, a mulher idosa é
duplamente penalizada, por ser mulher e por ser idosa 15.
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Pelos depoimentos que se enquadraram na categoria de análise das
conquistas políticas das mulheres idosas, destaca-se o papel da educação em
saúde como um instrumento fundamental por possibilitar a essas mulheres conhecer
as leis, seus direitos e deveres, e os diferentes serviços públicos e privados para
assistência ao idoso, e estimular a socialização e mobilização das mesmas para
reivindicação, participação em entidades e lutas para garantias dos direitos.
Uma das principais estratégias das Universidades para Terceira Idade (UTI)
se faz por meio da Educação em Saúde, a qual considera a experiência cotidiana
dos atores envolvidos e tem por finalidade a conquista de maior poder e intervenção
nas relações sociais que influenciam a qualidade de suas vidas 16.
Conquistas sociais
Nesta categoria, a mulher idosa, participante deste estudo retrata as
mudanças ocorridas no seu cotidiano após sua inserção em programas de
Educação em Saúde do PTIA.
A partir do que aprendi, passei a me cuidar mais, fazer biodança e
hidroginástica, me sinto mais solta, mais animada, sou outra pessoa e
gostaria de aprender mais. (Jasmim, 68 anos, escolaridade nível médio,
classe social alta, viúva).
Estou caminhando, faço hidroginástica e também sou da Legião de Maria.
Ajudando os outros estou me ajudando. Melhorei a minha leitura, agora já sei
ler jornal, revista, até as bulas dos remédios. (Margarida, 82 anos,
alfabetizada, classe baixa, viúva, mora com duas filhas, uma delas tem dois
filhos).
As informações e discussões que temos aqui no PTIA nos orientam muito, o
relacionamento com os outros, as atividades de criatividade e a troca de
experiência nos ajudam demais. (Lírio, 68 anos, escolaridade ensino médio,
classe social média alta, casada, mora com o marido e ainda está em
atividade - comércio de presentes).
Estes discursos chamam a atenção por que, independentemente da classe
social, do estado civil ou mesmo da idade, as mulheres confirmam que participar do
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PTIA nas atividades de Educação em Saúde contribuiu para alcançarem
conquistas sociais antes nunca conseguidas. A educação em saúde abre novas
perspectivas para uma vida mais saudável17, por promover travessia de saberes e a
constituição de redes de afeto e solidariedade entre as mulheres idosas
participantes.
Analisando as falas das mulheres idosas sujeitos desta ação cidadã de
educação em saúde, percebe-se claramente ser uma estratégia que não fica preza
apenas aos aspectos puramente biológicos do binômio saúde/doença, mas vai além
ao estimular a socialização e trabalhar de forma reflexiva e critica os direitos e
deveres próprios da cidadania.
Conquistas em saúde
A mulher idosa, ao ser inserida em programas de educação em saúde,
percebe-se ainda com potencial para lutar pela sua saúde e, conseqüentemente,
pela melhoria de sua qualidade de vida.
Aprendi muito nas leituras dos textos e sigo as orientações. Sei sobre velhice
saudável e sobre as doenças, tanto que qualquer sinal de doença eu já peço
para o meu filho me levar ao médico. Estou tomando as vacinas e fazendo
hidroginástica: acho que agora posso chegar aos 100 anos, com saúde, por
que eu me cuido mesmo. Meu filho fica às vezes brigando comigo querendo
que eu coma mais porque sou magra, mas eu aprendi que devemos evitar a
obesidade. (Orquídea, 82 anos, escolaridade ensino fundamental incompleto,
classe social média alta, mora com o filho solteiro de 62 anos).
Ainda tenho problemas de gastrite nervosa e dor na coluna, mas o que eu
aprendi na saúde do idoso foi cuidar da minha comida e dos meus exercícios,
e isto eu faço. (Copo de Leite, escolaridade ensino fundamental incompleto,
classe social baixa, mora com um filho casado).
Eu faço tudo que posso para seguir as orientações que recebi, como cuidado
com sal e gordura nos alimentos, caminho pelo menos três vezes por semana
e gosto de pegar o sol até ás 9 horas, porque sei que é bom para os ossos;
também bebo muita água porque aprendi que é muito bom para nosso
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organismo. Acho que melhorei em tudo. (Rosa, 64 anos, escolaridade ensino
médio, classe baixa, solteira, sem filhos, mora com os sobrinhos).
Assim como estas, as mulheres participantes desta pesquisa relatam
conquistas na saúde e as novas maneiras para viver mais, com mais qualidade de
vida. Muitas doenças e suas conseqüências são decorrentes da falta de uma ação
preventiva, principalmente a informação em saúde, que permitirá a prática do
autocuidado9.
As principais causas de morbimortalidade feminina, na perspectiva latinoamericana (depois das idades reprodutivas) são: enfermidades cardiovasculares,
erroneamente designadas como “masculinas”; as enfermidades cerebrovasculares,
associadas às taxas de mortalidade femininas mais altas que as masculinas; o
diabetes mellitus, de incidência mais freqüente entre as mulheres; osteoporose, oito
vezes mais comum entre as mulheres do que entre os homens; estas doenças
afetam entre um terço e meio das mulheres pós-menopáusicas. A infecção urinária
afeta duas a cinco vezes mais as mulheres que os homens; e a artrite reumática
mostra uma incidência três vezes mais alta nas mulheres que nos homens18.
Este quadro de morbidade da mulher idosa trabalhado nos aspectos da
promoção e prevenção dentro da educação em saúde garantiram uma maior
longevidade e uma minimização das conseqüências destas patologias diante das
práticas e atitudes adotadas decorrentes da educação em saúde, que por ser uma
estratégia cidadã, leva os sujeitos desta ação a uma conscientização e reflexão
sobre atitudes que proporcionam mudança de comportamento.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Por meio das falas das depoentes e da teorização desses achados,
evidenciou-se que as conquistas são possíveis e as rupturas necessárias,
principalmente nas superações de mitos negativos e preconceitos relacionados com
o envelhecimento, tais como: o de considerar a mulher idosa incapaz, improdutiva,
inútil e com inteligência deteriorada. Estes aspectos foram desmistificados, uma vez
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que as falas das mulheres sujeitos deste estudo expressaram a sua
capacidade de aprender, de agir, de lutar e de modificar situações que dificultariam
as possibilidades de serem autônomas e cidadãs.
Estas mulheres deixaram as velhas atitudes voltadas para o passado e
encontraram relações satisfatórias no envelhecimento pela inserção social, ao
encontrarem sentido para vida, no aprendizado, na autonomia e na cidadania. Isto
foi possível investindo-se no cognitivo e no afetivo, pois, quando o idoso se mantém
em atividade e pensante, pode continuar a produzir o tempo todo, conservando suas
faculdades mentais.
Considera-se, portanto, que os achados desta investigação evidenciaram que
a mulher idosa é capaz de aprender e agir, conquistando um novo lugar e significado
para sociedade, exercendo plenamente sua cidadania.
REFERÊNCIAS:
1.Veras RP. País jovem com cabelos brancos: a saúde do idoso no Brasil. Rio de Janeiro
(RJ): Relume Dumará; 1994.
2. França LH, Soares NE. A importância das relações intergeracionais na quebra de
preconceitos sobre a velhice. In: Veras RP, organizadora. Terceira idade: desafios para o
terceiro milênio. Rio de Janeiro (RJ): Relume Dumará; 1997. p.192-243.
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3. Peixoto C. De volta às aulas ou de como ser estudante aos 60 anos. In: Veras RP,
organizador. Terceira idade: desafios para o terceiro milênio. Rio de Janeiro (RJ): Relume
Dumará; 1997. p. 192-241.
4. Figueiredo MLF et al Educação em saúde: autonomia e cidadania da mulher idosa. Esc
Anna Nery R Enferm 2006 dez; 10 (3): 458 - 63.
5. Masson JM. Atentado a verdade. Rio de Janeiro (RJ): J.Olympio; 1984.
6. Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de
Janeiro (RJ): Paz e Terra; 1998.
7. Giddens A. A transformação da intimidade. São Paulo (SP): UNESP; 1993.
8. Bruno MRP. Autonomia e cidadania: caminhos e possibilidades para o ser idoso.
[dissertação de mestrado].São Paulo (SP): Pontifície Universidade Católica; 2000.
9. Orem DE. Concepts of practice. 5ª ed. New York(USA): Mc Graw-Hill; 1995.
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educação em saúde. Esc Anna Nery Rev Enferm 2005 abr: 9(1): 95-102.
11. Souza H, Rodriguez C. Ética e cidadania. São Paulo (SP): Moderna; 1994.
12. Rios RR. Gênero, salud y desarrollo: un enfoque en construcción. In: Elza GG. Gênero,
mujer y salud em las Américas. (USA): Organização Panamericana de Saúde. Publicação
Científica, Washington, 1993; 541: 3-18.
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(RJ): Editora Fundação Getúlio Vargas; 1998.
14. Figueiredo MLF, et al. As diferenças de gênero na velhice. Rev Bras Enferm, Brasília
2007 jul-ago; 60(4):422-7.
15. Minayo MCS, organizadora. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis
(RJ): Vozes; 1996.
16. Motta AB. A dimensão de gênero na análise do envelhecimento. In: Ferreira M,
organizadora. Os poderes e os saberes das mulheres: a construção do gênero. São Luís
(MA): EDUFMA/ Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisa: mulher, cidadania e relações
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17. Gomes MQ. Velhice: a busca de novos espaços de sociabilidade. In: Amaral CCG,
organizadora. Múltiplas trajetórias: estudos de gênero. 8º Encontro da REDOR. Fortaleza
(CE): REDOR/NEGIF/UFC; 2001.
18. Fajardo ML. A situação de saúde da mulher na América Latina e Caribe: uma análise
com a ótica de gênero. Goiânia (GO): OPAS/OMS; 1997.
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