Contributo para a Consulta da Comissão sobre Oportunidades de Pesca para 2016 27 de julho de 2015 The Pew Charitable Trusts Identificação do Registo de Transparência: 46834536998-79 Contacto: Andrew Clayton, diretor do projeto Acabar com a sobrepesca nas Águas Ocidentais Norte da Europa The Pew Charitable Trusts Square du Bastion 1A boîte 5 1050 Bruxelas, Bélgica [email protected] www.pewenvironment.eu Contributo da Pew para a consulta sobre oportunidades de pesca 2016 Índice Resumo ................................................................................................................................. 3 1. Introdução ..................................................................................................................... 5 2. Definição de limites de pesca sustentáveis ..................................................................... 5 3. 2.1 Unidades populacionais ao abrigo de planos plurianuais................................................ 6 2.2 Unidades populacionais com avaliação do Rendimento Máximo Sustentável (MSY) ..... 6 2.3 Outras unidades populacionais ........................................................................................ 6 2.4 TAC e a obrigação de desembarcar todas as capturas .................................................... 7 Relatório sobre o estado das unidades populacionais ..................................................... 9 3.1 Clareza da linguagem ....................................................................................................... 9 3.2 Atualização de séries cronológicas .................................................................................. 9 3.3 Informações não apresentadas na Comunicação .......................................................... 10 3.4 Informações apresentadas na Comunicação ................................................................. 10 2 Contributo da Pew para a consulta sobre oportunidades de pesca 2016 Resumo A The Pew Charitable Trusts saúda o facto de a Comunicação da Comissão ter lançado uma consulta sobre oportunidades de pesca para 20161 e incentiva a Comissão a elaborar uma análise escrita dos contributos recebidos. A definição de limites de pesca corretos é fundamental para alcançar os objetivos da Política Comum das Pescas (PCP), nomeadamente o fim da sobrepesca e a recuperação e manutenção das unidades populacionais de peixes acima de níveis que permitam obter o Rendimento Máximo Sustentável (MSY – Maximum Sustainable Yield). Além disso, a Comunicação serve de relatório anual ao Parlamento Europeu e ao Conselho quanto aos progressos na obtenção do MSY e à situação das unidades populacionais de peixes em conformidade com o Artigo 50º da PCP. Tendo como foco as águas ocidentais norte da europa, onde se concentram os esforços da Pew para acabar com a sobrepesca na União Europeia, gostaríamos de destacar os seguintes pontos fundamentais: Definição de limites de pesca: Devem ser definidos limites de pesca de acordo com o Artigo 2.2º da PCP, com o objetivo de restabelecer progressivamente e de manter todas as unidades populacionais de peixes acima dos níveis de biomassa que permitem obter o MSY. Os planos plurianuais devem refletir de modo adequado os objetivos e as exigências da PCP. Devem definir-se, em particular, limites de pesca abaixo do FMSY, a fim de restabelecer e manter todas as unidades populacionais acima dos níveis de BMSY. A Pew congratula-se com a intenção da Comissão de propor totais admissíveis de captura (TAC) para 2016 que não excedam o parecer sobre as taxas de exploração do MSY. Nos últimos dois anos, os progressos para acabar com a sobrepesca sofreram um abrandamento e, em média, registaram mesmo uma inversão. Tendo em conta que já se ultrapassou o prazo de 2015 são necessários esforços adicionais para definir TAC que não excedam o FMSY. Qualquer pedido de adiamento para além de 2015 deve indicar claramente de que modo a mortalidade por pesca será reduzida de forma progressiva e incremental o mais rapidamente possível e o mais tardar até 2020, em conformidade com o Artigo 2.2º, de modo a não exceder o parecer de MSY – e tal deverá ser tornado público. A fim de aplicar a abordagem de precaução de uma forma sistemática, predefinida e transparente às unidades populacionais para as quais não existem pareceres científicos completos, a Comissão deve fornecer informações adicionais sobre como pretende fazer tal aplicação. É importante que a abordagem de precaução sirva para reduzir a mortalidade por pesca e não apenas as oportunidades de pesca. A Pew está preocupada com a intenção da Comissão de cumprir o acordo de 2013 entre a Comissão e o Conselho de manter os TAC inalterados para 26 unidades populacionais durante quatro 3 Contributo da Pew para a consulta sobre oportunidades de pesca 2016 1 Comissão Europeia, “Communication from the Commission to the European Parliament and the Council Concerning a consultation on Fishing Opportunities for 2015 under the Common Fisheries Policy” (Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu e ao Conselho sobre uma consulta de oportunidades de pesca para 2016, ao abrigo da Política Comum das Pescas)” COM (2015) 239 final . http://ec.europa.eu/dgs/maritimeaffairs_fisheries/consultations/fishingopportunities-2016/doc/com_2015_239_en.pdf 4 Contributo da Pew para a consulta sobre oportunidades de pesca 2016 anos exceto se a perceção das unidades populacionais se alterar de forma significativa, pois o acordo não está em conformidade com a abordagem de precaução e com a PCP. A Pew concorda que os pareceres do Conselho Internacional para a Exploração do Mar (CIEM) relativos aos limites de captura devem ser um pré-requisito para qualquer aumento de quota, a fim de refletir a introdução de obrigações de desembarque. Os aumentos devem ser de âmbito limitado para garantir que as capturas totais não aumentam a mortalidade por pesca para além do nível aconselhado pelos cientistas. Os ajustes aos TAC devem ser de âmbito limitado apenas para as unidades populacionais sujeitas na totalidade à obrigação de desembarque. Relatório sobre o estado das unidades populacionais: A Comunicação da Comissão carece de informações sobre o estado das populações de peixes em relação aos níveis de biomassa que permitem obter o MSY. Essa informação constitui um pré-requisito para avaliar os progressos na concretização do objetivo da PCP de restabelecer e manter as unidades populacionais de peixes acima dos níveis de BMSY. A Pew opõe-se firmemente à decisão da Comissão de só apresentar informações relativas ao ano mais recente para uma série de indicadores, tendo em conta que o Comité Científico, Técnico e Económico das Pescas (CCTEP) forneceu dados em séries temporais que permitem avaliar os progressos realizados na consecução dos objetivos da PCP. A Pew está igualmente apreensiva com o facto de diversos indicadores essenciais sobre os quais o CCTEP forneceu informações, como a média aritmética de F/FMSY, não estarem incluídos na comunicação. A Comunicação da Comissão carece de clareza de linguagem, o que pode gerar equívocos e discussões desnecessárias. A Comissão deve ser particularmente específica se se refere a taxas de mortalidade, níveis de biomassa ou rendimento quando aplica a sigla “MSY”. A Pew receia que a Comissão possa estar a incluir informações aparentemente contraditórias, por exemplo sobre os TAC não excederem o FMSY. 5 Contributo da Pew para a consulta sobre oportunidades de pesca 2016 1. Introdução A The Pew Charitable Trusts saúda o facto de a Comunicação da Comissão ter lançado uma consulta sobre oportunidades de pesca para 2016.2 Na Comunicação, a Comissão define os princípios para os totais admissíveis de captura (TAC) em 2016 e propõe uma série de medidas para ajustar a definição das oportunidades de pesca à Política Comum das Pescas (PCP) reformada.3 A definição de limites de pesca corretos é fundamental para alcançar os objetivos da Política Comum das Pescas (PCP), nomeadamente o fim da sobrepesca e a recuperação e manutenção das unidades populacionais de peixes acima de níveis que permitam obter o Rendimento Máximo Sustentável (MSY). Além disso, a Comunicação serve de relatório anual ao Parlamento Europeu e ao Conselho quanto aos progressos na obtenção do MSY e à situação das unidades populacionais de peixes em conformidade com o Artigo 50º da PCP. A Pew comentará a Comunicação no que diz respeito à definição de limites de pesca sustentáveis e aos progressos na obtenção do MSY. No presente contributo centramo-nos nas águas ocidentais norte da europa, onde se concentram atualmente os esforços da Pew para acabar com a sobrepesca na União Europeia. De modo a analisar e aplicar de forma eficaz os contributos das partes interessadas no próximo processo de definição de oportunidades de pesca para 2016, solicitamos à Comissão que elabore e partilhe uma análise escrita das várias respostas recebidas nesta consulta. A Pew contratou o Ecologic Institute para elaborar uma análise desse tipo à consulta relativa à comunicação do ano passado, que se encontra em anexo ao presente contributo para vossa leitura. 2. Definição de limites de pesca sustentáveis A reforma da PCP assentava fundamentalmente em objetivos e prazos claros na definição de limites de pesca sustentáveis e na recuperação das unidades populacionais de peixes. A definição anual de totais admissíveis de captura (TAC) como expressão da mortalidade por pesca está fortemente relacionada com o objetivo da PCP de progressiva recuperação e manutenção das unidades populacionais de peixes acima de níveis de biomassa que permitam obter o MSY. A definição de limites de pesca inferiores às taxas de MSY (FMSY) irá muito provavelmente permitir que as unidades populacionais de peixes acabem por recuperar para níveis de biomassa superiores ao necessário para obter o MSY (BMSY), independentemente de outros fatores biológicos. Durante as negociações da reforma da PCP foram efetuados alguns progressos no sentido de definir TAC que não excedessem o FMSY. No entanto, apesar do requisito da PCP de alcançar taxas de exploração de MSY até 2015, sempre que possível, e numa base progressiva e incremental o mais tardar até 2020 para todas as unidades populacionais, esses progressos começaram por registar um abrandamento nos últimos anos e, posteriormente, sofreram mesmo em média uma inversão. Esta situação contraria a exigência legal da PCP, o que implica esforços adicionais para acabar com a sobrepesca, em conformidade com a PCP reformada. 6 Contributo da Pew para a consulta sobre oportunidades de pesca 2016 2 Comissão Europeia, “Communication from the Commission to the European Parliament and the Council Concerning a consultation on Fishing Opportunities for 2016 under the Common Fisheries Policy” (Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu e ao Conselho sobre uma consulta de oportunidades de pesca para 2016, ao abrigo da Política Comum das Pescas)” COM (2015) 239 final. http://ec.europa.eu/dgs/maritimeaffairs_fisheries/consultations/fishingopportunities-2016/doc/com_2015_239_en.pdf 3 Regulamento (eu) 1380/2013 do Parlamento Europeu e do Conselho, http://eurlex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2013:354:0022:0061:EN:PDF. 7 Contributo da Pew para a consulta sobre oportunidades de pesca 2016 2.1 Unidades populacionais ao abrigo de planos plurianuais A PCP exige, como prioridade, a adoção de planos plurianuais (PPA) que garantam enquadramentos sólidos e duradouros, para que a gestão das pescas atinja os objetivos da PCP. Por conseguinte, a Pew espera que a Comissão proponha limites de pesca para todas as unidades populacionais abrangidas por PPA que não excedam os pareceres científicos relativos às taxas de exploração de MSY até 2015, sempre que possível, e numa base progressiva e incremental o mais tardar até 2020 para todas as unidades populacionais. Para as unidades populacionais que se encontrem ao abrigo de planos de gestão acordados no âmbito da PCP anterior, os requisitos do Artigo 2.2º da PCP têm precedência sobre quaisquer objetivos estabelecidos nesses planos, quer os planos tenham ou não sido considerados “de precaução” pelo CIEM. Como tal, a Comissão deve propor TAC em linha com os objetivos da PCP. 2.2 Unidades populacionais com avaliação do Rendimento Máximo Sustentável (MSY) A Pew congratula-se com a intenção da Comissão de propor TAC para 2016 que não excedam os pareceres relativos a taxas de exploração de MSY. Tendo em conta que o prazo de 2015 já foi ultrapassado, a Comissão deve ser ainda mais diligente no sentido de permitir que o Conselho estabeleça TAC que não excedam o FMSY. Concordamos que se isso implicar reduções anuais muito elevadas das oportunidades de pesca, a ponto de comprometer gravemente a sustentabilidade social e económica das frotas envolvidas, é aceitável um atraso na concretização das metas para além de 2016 (e nunca para além de 2020), através de uma redução progressiva e mais gradual das oportunidades de pesca. No entanto, tal como salientado no contributo da Pew para a consulta do ano anterior sobre os limites de pesca para 20154, é essencial que a Comissão esclareça quem deve fornecer que tipo de provas nesses pedidos, bem como até quando e por quem os mesmos serão validados. Além disso, qualquer pedido de adiamento do prazo de 2015 para o MSY deve indicar claramente de que modo a mortalidade por pesca será reduzida de forma progressiva e incremental, em conformidade com o Artigo 2.2º, de forma a alcançar o objetivo do MSY o mais rapidamente possível e o mais tardar até 2020 – e tal deve ser tornado público. Neste sentido, a Pew aplaude a Declaração do Conselho de outubro de 20145 que estabelece o compromisso de os Estados-Membros relevantes atingirem o objetivo da taxa de pesca de MSY em 2016 para o bacalhau do Báltico Ocidental. A Pew chama a atenção para o facto de a análise à consulta do ano anterior ter assinalado que a maioria das partes interessadas concordaram que o prazo de 2015 só devia ser adiado em casos excecionais e que deviam ser adiantadas justificações para esse adiamento, bem como fornecidos e divulgados planos para alcançar os níveis de pesca de FMSY.6 2.3 Outras unidades populacionais A Pew concorda que os indicadores indiretos (proxies) constituem uma ferramenta útil para 8 Contributo da Pew para a consulta sobre oportunidades de pesca definir TAC sempre que2016 não exista uma aferição completa do MSY. No entanto, deve ficar claro que o uso de tais indicadores indiretos deve não só evitar 4 http://ec.europa.eu/dgs/maritimeaffairs_fisheries/consultations/fishing-opportunities-2015/contributions/doc/pew_en.pdf. Conselho da União Europeia: 14275/14 de 13 de outubro de 2014. 6 Ecologic (2015): Avaliação à consulta da Comissão Europeia sobre oportunidades de pesca para 2015 ao abrigo da Política Comum das Pescas http://www.ecologic.eu/sites/files/project/2015/documents/evaluation_of_cfp_fo_consultation_for_2015_0.pdf 5 9 Contributo da Pew para a consulta sobre oportunidades de pesca 2016 pôr em causa os objetivos de conservação das unidades populacionais, como também restabelecer e manter as populações de espécies exploradas em níveis superiores ao necessário para obter o MSY, em conformidade com o Artigo 2.2º da PCP. A Pew congratula-se com a intenção clara da Comissão de ponderar a abordagem de precaução para unidades populacionais sem dados fiáveis para determinar indicadores indiretos de MSY. Seria útil que a Comissão esclarecesse que essa abordagem geraria oportunidades de pesca de maior precaução do que com o FMSY, em vez de aludir às denominadas “taxas de mortalidade por pesca de precaução” ao abrigo do quadro de aconselhamento do CIEM, que estão orientadas para evitar o colapso das unidades populacionais e não para a recuperação das unidades populacionais em linha com a PCP. Tal sublinha a necessidade de a Comissão explicar mais detalhadamente como pretende seguir a abordagem de precaução de uma “forma sistemática, predefinida e transparente”. Comunicações anteriores – como por exemplo a Consulta sobre oportunidades de pesca para 20117 – incluíam nos seus Anexos III e IV um resumo sobre como a Comissão tencionava propor TAC, o que poderia servir de exemplo para indicar como a Comissão tenciona aplicar a abordagem de precaução. A Pew está igualmente apreensiva com o facto de a Comissão fazer tenção de cumprir o acordo que estabeleceu em 2013 com o Conselho, de manter inalterados 26 TAC durante quatro anos exceto se a perceção das unidades populacionais se alterar significativamente, por isso não estar em conformidade com a abordagem de precaução e com a PCP. No caso de as informações serem limitadas cabe aos decisores o ónus da prova de que os TAC são de precaução. A insuficiência de dados científicos deverá resultar em mais TAC de precaução e em menor mortalidade por pesca. No entanto, quer-nos parecer que a Comissão tem falhado na proposição da redução dos limites de captura, mesmo quando isso é cientificamente aconselhado. Por exemplo, na proposta da Comissão para 2015 foram mantidos TAC para três unidades populacionais [badejo na divisão VIIa (Mar da Irlanda) e maruca-azul na III (Kattegat e Skagerrak), II e IV (Mares de Barents e do Norte)], apesar da recomendação científica de não pescar pelo facto de a biomassa ter sido considerada depauperada abaixo de Blim. 2.4 TAC e a obrigação de desembarcar todas as capturas A Pew concorda que os pareceres do Conselho Internacional para a Exploração do Mar (CIEM) sobre limites de capturas devem ser requisito prévio para qualquer aumento de quota, a fim de refletir a introdução de obrigações de desembarque. Os aumentos devem ser de âmbito limitado, para garantir que as capturas totais não prejudicam a obtenção das metas de MSY da PCP. Aplaudimos a afirmação da Comissão de que quaisquer ajustes aos TAC não devem aumentar a mortalidade por pesca, devendo ser compatíveis com os objetivos prioritários constantes no Artigo 2.2º da PCP. Consideramos isto um aspeto essencial. Tendo em conta a introdução gradual e fragmentada da obrigação de desembarque de espécies demersais em 2016 e a contínua incerteza em torno da documentação completa e da monitorização de todas as capturas, será difícil atingir alguma clareza no que toca ao total da mortalidade por pesca. Nalguns casos, não se prevê a transição de TAC baseados nos desembarques para TAC baseados nas capturas antes de 2019. 1 0 Contributo da Pew para a consulta sobre oportunidades de pesca 2016 Como tal, a Pew vê com apreensão a proposta de ajuste dos TAC com base em capturas em 2016, ainda antes de as unidades populacionais serem totalmente abrangidas pela obrigação de desembarque. Mesmo que se restrinja às unidades populacionais 7 Comissão Europeia, “Communication from the Commission to the European Parliament and the Council Concerning a consultation on Fishing Opportunities for 2011 under the Common Fisheries Policy” (Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu e ao Conselho sobre uma consulta de oportunidades de pesca para 2011, ao abrigo da Política Comum das Pescas)” COM (2010) 241 final, http://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/PDF/?uri=CELEX:52010DC0241&from=EN 1 1 Contributo da Pew para a consulta sobre oportunidades de pesca 2016 “predominantemente ao abrigo da obrigação de desembarque" representa um claro risco de a mortalidade por pesca aumentar para além dos níveis aconselhados pelos cientistas. Por conseguinte, os ajustes aos TAC devem restringir-se às unidades populacionais inteiramente sujeitas à obrigação de desembarque. Esta apreensão é ainda maior perante as possíveis isenções à obrigação de desembarque. Os projetos de recomendações dos Estados-Membros para os planos de devoluções incluem diversas propostas de isenção à obrigação de desembarque, quer através de disposições de minimis, quer com base na elevada sobrevivência. Continua por esclarecer o modo como a mortalidade associada a estas duas categorias de captura será refletida na definição dos TAC, de forma a cumprir os objetivos do Artigo 2.2º da PCP. Esta mortalidade devia ser tida em conta através de mais TAC precaucionários para as espécies em causa. 1 2 Contributo da Pew para a consulta sobre oportunidades de pesca 2016 3. Relatório sobre o estado das unidades populacionais A Pew saúda os esforços da Comissão no sentido de cumprir com o Artigo 50º da PCP de apresentar anualmente ao Parlamento Europeu e ao Conselho um relatório sobre os progressos na obtenção do MSY e a situação das unidades populacionais de peixes. Gostaríamos de comentar vários aspetos deste relatório. 3.1 Clareza da linguagem Falta clareza de linguagem à comunicação da Comissão, o que pode gerar equívocos e discussões desnecessárias no âmbito da consulta, bem como no processo de decisão das oportunidades de pesca para 2016. Por exemplo, a Comunicação especifica que o objetivo da PCP consiste em permitir a recuperação das unidades populacionais para níveis de biomassa que permitam o rendimento máximo sustentável (pág. 2). O objetivo da biomassa da PCP foi uma das questões mais contestadas nas negociações, sendo que o Conselho e o Parlamento Europeu acordaram que a PCP “terá por objetivo garantir uma exploração dos recursos biológicos marinhos vivos que restabeleça e mantenha as populações de espécies capturadas a níveis superiores ao necessário para obter o rendimento máximo sustentável.” (O sublinhado foi acrescentado). A consulta refere perto de 100 vezes a noção de “MSY”. No entanto, na maioria dos casos, não esclarece devidamente se o MSY se refere a mortalidade por pesca, a níveis de biomassa ou a rendimento. Por exemplo, a Comunicação refere diversas vezes “o objetivo do MSY” sem especificar se se refere ao objetivo do Artigo 2.2º de restabelecer e manter as populações de espécies capturadas a níveis superiores ao necessário para obter o MSY, ou ao de atingir taxas de exploração de MSY até 2015, sempre que possível, e numa base progressiva e incremental o mais tardar até 2020 para todas as unidades populacionais.8 A Comunicação refere igualmente que os planos plurianuais podem introduzir intervalos de taxas de exploração considerados em conformidade com o MSY. Mas não é claro se a Comissão se refere a taxas de mortalidade (a Comissão solicitou e, posteriormente, propôs intervalos em torno do FMSY, incluindo por exemplo níveis acima do FMSY) ou ao rendimento máximo sustentável (MSY), o conceito em relação ao qual foi dado o parecer do CIEM, ainda que não seja sequer referido na PCP ou no acordo do grupo de trabalho interinstitucional. A utilização de linguagem clara ajudará os decisores a compreenderem melhor a PCP e a defenderem contributos mais precisos, facilitando a sua implementação. 3.2 Atualização de séries cronológicas A Comissão solicitou ao Comité Científico, Técnico e Económico das Pescas (CCTEP) que desenvolvesse uma nova metodologia de relato dos progressos na obtenção do MSY: Ainda não se percebeu exatamente em que consiste a nova metodologia, uma vez que o CCTEP continua a apresentar indicadores utilizados em comunicações anteriores, como o número de unidades populacionais com avaliação do MSY, unidades populacionais alvo de sobrepesca, unidades populacionais fora/dentro dos limites biológicos de 1 3 Contributo da Pew para a consulta sobre oportunidades de pesca segurança, etc.2016 O CCTEP fornece séries cronológicas para muitas das informações apresentadas no seu relatório. No entanto, a Comissão optou por apenas apresentar dados relativos ao último ano para uma série de 8 Consultar, por exemplo, o 3.º parágrafo da página 2, o 3.º parágrafo da página 3 e o 4.º parágrafo da página 10 da comunicação da CE sobre oportunidades de pesca 2016. 1 4 Contributo da Pew para a consulta sobre oportunidades de pesca 2016 indicadores, como “unidades populacionais que estão fora/dentro dos limites biológicos de segurança”. Não foi apresentado qualquer motivo para a não inclusão desta informação na Comunicação da Comissão. No entanto, a mesma é necessária para avaliar o impacto da PCP reformada. 3.3 Informações não apresentadas na Comunicação A Pew saúda o pedido da Comissão ao CCTEP de relatar o desempenho da Política Comum das Pescas, que define a base informativa para a Comunicação da Comissão sobre oportunidades de pesca para 2016. Infelizmente, na documentação de referência a Comissão não solicitou ao CCTEP que fornecesse informações sobre a situação das unidades populacionais relativamente aos níveis de biomassa que permitem atingir o MSY. Mas essa informação é essencial para avaliar os progressos na concretização do objetivo principal da PCP de restabelecer e manter as unidades populacionais de peixes acima de níveis de biomassa que permitam obter o MSY, bem como para informar a Comissão sobre quando deve propor medidas que permitam o restabelecimento futuro. A falta de informação relativa à situação das unidades populacionais no que toca ao objetivo de restabelecimento da PCP já tinha sido salientada na maioria dos contributos para consulta da Comissão sobre Oportunidades de Pesca para 2015.9 O relatório do CCTEP contém uma ampla gama de informações apresentadas de forma clara. Contudo, na Comunicação da Comissão não são reproduzidas diversas parcelas de dados que são essenciais para avaliar os progressos da PCP no que se refere a oportunidades de pesca para 2016. Particularmente o seguinte: Foi pedido ao CCTEP que criasse um indicador com a média aritmética de F/FMSY. Este pedido vem publicado na consulta da Comissão, mas não os resultados, que apontam para o facto de os progressos para acabar com a sobrepesca terem registado um abrandamento nos últimos tempos e, no ano passado, terem mesmo sofrido uma inversão. Isto significa que o grau de sobrepesca até aumentou, apesar da exigência acordada na PCP de alcançar taxas de exploração FMSY até 2015, sempre que possível, e numa base incremental e progressiva o mais tardar até 2020 para todas as unidades populacionais. Do relatório do CCTEP consta um maior número de unidades populacionais avaliadas em relação aos limites biológicos de segurança e esses dados são apresentados por ecossistema, o que permite uma análise mais detalhada. O relatório do CCTEP aponta para o facto de 38 unidades populacionais estarem fora dos limites biológicos de segurança e apenas 24 dentro desses níveis, o que constitui uma conclusão verdadeiramente crucial que devia vir referida na Comunicação. 3.4 Informações apresentadas na Comunicação A Comissão apresentou uma série de informações sobre a mortalidade por pesca e o estado da biomassa das unidades populacionais de peixes. Porém, em diversas ocasiões, a Comunicação podia ser ainda mais clara para evitar confusões e para contribuir para uma visão mais 10 Contributo da Pew para a consulta sobre oportunidades de pesca 2016alcançados pela PCP: partilhada dos progressos A Comissão referiu que o Conselho registou progressos significativos na definição de TAC, em conformidade com o MSY (de 5 em 2009 para 36 em 2015), tendo contribuído para aumentar o número 9 Ecologic (2015). Ver acima. 11 Contributo da Pew para a consulta sobre oportunidades de pesca 2016 de unidades populacionais capturadas a níveis correspondentes ao MSY (26 unidades populacionais em 2015). O Anexo 1 refere que 32 de um total de 62 unidades populacionais são capturadas a um valor equivalente ou abaixo do FMSY. Continua a ser um desafio saber quantas unidades populacionais avaliadas são capturadas a um valor equivalente ou abaixo do MSY. A diferença entre os totais para os TAC e para as unidades populacionais é relativamente clara, mas os motivos para diferentes valores na mesma região não são imediatamente óbvios. Além disso, pelo menos um dos 36 TAC que constam da lista da Comissão como “capturas abaixo do FMSY” (solha do Mar da Irlanda) está na lista das “capturas acima do FMSY” no anexo da Comunicação. A Comissão referiu que 20 unidades populacionais se encontram dentro dos limites biológicos de segurança e 16 fora desses níveis. Mas não foram encontrados dados correspondentes no relatório do CCTEP, que registou para o ano mais recente (2013) 38 de um total de 62 unidades populacionais fora dos limites biológicos de segurança (61%). A Comissão optou por apresentar diversos dados em gráficos. A utilização de tabelas com dados exatos por ano permitiria que as partes interessadas efetuassem uma análise mais detalhada dos dados. 12