FUNDAMENTOS E DIDÁTICA
DA
LÍNGUA PORTUGUESA
1
Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
SOMESB
Sociedade Mantenedora de Educação Superior da Bahia S/C Ltda.
Presidente ♦
Vice-Presidente ♦
Superintendente Administrativo e Financeiro ♦
Superintendente de Ensino, Pesquisa e Extensão ♦
Gervásio Meneses de Oliveira
William Oliveira
Samuel Soares
Germano Tabacof
Superintendente de Desenvolvimento e>>
Planejamento Acadêmico ♦ Pedro Daltro Gusmão da Silva
FTC - EaD
Faculdade de Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância
♦
♦
♦
♦
♦
♦
♦
Coord. de Softwares e Sistemas ♦
Coord. de Telecomunicações e Hardware ♦
Coord. de Produção de Material Didático ♦
Diretor Geral
Diretor Acadêmico
Diretor de Tecnologia
Diretor Administrativo e Financeiro
Gerente Acadêmico
Gerente de Ensino
Gerente de Suporte Tecnológico
Waldeck Ornelas
Roberto Frederico Merhy
Reinaldo de Oliveira Borba
André Portnoi
Ronaldo Costa
Jane Freire
Jean Carlo Nerone
Romulo Augusto Merhy
Osmane Chaves
João Jacomel
EQUIPE DE ELABORAÇÃO/PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO:
♦
PRODUÇÃO ACADÊMICA
♦
Gerente de Ensino ♦ Jane Freire
Autores (as) ♦ Adriana dos Reis, Luciene S.S.Cerqueira e
Virgínia Silva
Supervisão ♦ Ana Paula Amorim
Coordenação de Curso ♦ Tatiane de Lucena Lima
♦
PRODUÇÃO TÉCNICA
♦
Revisão Final ♦ Carlos Magno
Coordenação ♦ João Jacomel
Equipe ♦ Ana Carolina Alves, Cefas Gomes, Delmara Brito,
Fabio Gonçalves, Francisco França Júnior, Israel Dantas,
Lucas do Vale, Marcus Bacelar e Yuri Fontes.
Editoração ♦ Delmara Brito dos Santos
Ilustração ♦ Francisco França e Yuri Fontes
Imagens ♦ Corbis/Image100/Imagemsource
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da FTC EaD - Faculdade de Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância.
www.ftc.br/ead
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Sumário
O ENSINO DE LÍNGUA MATERNA
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ANÁLISE E REFLEXÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA
Língua Portuguesa: Retomada Histórica e Novas Perspectivas
Consciência e Mudança no Ensino de Língua Materna
Prática Pedagógica do Ensino de Língua Portuguesa
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LEITURA DA EXPRESSÃO LITERÁRIA
Texto Literário e Não-Literário: Especificidades
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Panorama Literário: do Trovadorismo ao Romantismo
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Atividades Complementares
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O Que, Por Que e Como Ensinamos e Aprendemos a Nossa Língua
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Panorama Literário: do Realismo ao Modernismo
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Panorama Literário: Autores Contemporâneos
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Atividades Complementares
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LITERATURA E PRÁTICA EDUCATIVA NO
ENSINO FUNDAMENTAL
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LITERATURA INFANTO-JUVENIL: PRESSUPOSTOS
TEÓRICOS E PRÁTICOS
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Literatura Infanto-Juvenil e Habilidades de Leitura
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A Arte de Narrar
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História da Literatura Infanto-Juvenil
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A Classificação da Literatura Infanto-Juvenil
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Atividades Complementares
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PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO EM LÍNGUA
PORTUGUESA NO ENSINO FUNDAMENTAL
Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
Planejar é Preciso!
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Projeto de Trabalho em Língua Portuguesa: Um Caminho
a Seguir
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Projeto de Trabalho: Dando Forma aos Conteúdos de Língua
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Portuguesa
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Avaliação em Língua Portuguesa no Ensino Fundamental
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Atividades Complementares
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Atividade Orientada
Glossário
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Referências Bibliográficas
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Apresentação da Disciplina
Caro aluno !
Somos frutos de um mundo composto por linguagens. É a dança,
o filme, a música, o olhar, as palavras, o silêncio, tudo misturado dando
forma à comunicação que se constrói através da interação indivíduo/
linguagem/objeto/indivíduo. Mas, à medida que vamos explorando esse
universo é que percebemo-nos sujeitos construtores de conhecimento, é
que nos humanizamos, nos tornamos mais sensíveis diante do
conhecimento produzido pelos indivíduos ao longo dos séculos.
É a relação Fala, Escrita e Leitura que nos possibilita o contato
com as ferramentas (conteúdos acadêmicos) necessárias para o
cumprimento da função social da escola, que é o de tornar o educando
um cidadão funcionalmente letrado, um sujeito capaz de fazer uso da
linguagem escrita para sua necessidade individual, de crescer
cognitivamente e atender às várias demandas de uma sociedade que
prestigia esse tipo de linguagem como um dos instrumentos de
comunicação. A chamada norma padrão, ou língua falada culta, é
conseqüência do letramento, motivo por que, indiretamente, é função da
escola desenvolver no aluno o domínio da linguagem falada
institucionalmente aceita.
É pretensão desse módulo de estudo, discutir a mudança sofrida
pelo ensino de língua materna em que a tríade - leitura, análise lingüística
e produção de textos - serve como tripé para sustentação da mesma,
além de realizar estudo literário comparativo nas áreas de literatura infantojuvenil e adulta. Estudaremos através de atividades práticas essas
nuances da Língua Portuguesa e perceberemos que enxergar o ensino
de língua numa outra perspectiva é um primeiro passo para construir o
saber.
A tarefa que apresentamos não é das mais simples, mas quando
aprendemos a não tirar os olhos dos nossos objetivos, cada obstáculo
se transforma em impulso para a vitória. Acreditamos em vocês e
deixamos como reflexão as palavras de Francis Bacon in Essays of
Studies:
Ler dá ao homem completude, falar lhe dá prontidão e escrever o
torna preciso.
Sejam todos bem-vindos!
Profª Adriana dos Reis
Profª Luciene S.S. Cerqueira
Profª Virgínia Silva
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Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
6
O ENSINO DA LÍNGUA MATERNA
ANÁLISE E REFLEXÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA
Língua Portuguesa: Retomada Histórica e Novas Perspectivas
[...] nas circunstâncias atuais – que parecem ser de um
deliberado esvaziamento de todo esforço educacional autêntico – devese ter em mente que não estamos diante de uma discussão teórica,
mas sim de uma questão prática, à qual é preciso responder também
com soluções práticas. Pode-se tratar a queda de uma telha como um
problema dinâmico, formulando hipóteses teóricas alternativas e
debatendo a adequação destas últimas. É uma abordagem legítima,
mas não é melhor do ponto de vista de quem está embaixo.
(RODOLFO ILARI, 2001)
Durante muito tempo, o acesso à escola foi privilégio de poucas pessoas. A justificativa
para tanto é que o raciocínio da sociedade sempre esteve estruturado na base do poder.
Por isso, as normas cultas sempre foram um forte instrumento desse poder e, assim, é
necessário que uma grande massa de falantes seja analfabeta para não ter consciência da
dominação, ou, pelo menos, ser incapaz de qualquer reação. Do século XVIII têm-se dados
comprobatórios disso, tanto na escolarização no Brasil, como em Portugal.
No começo do século, alguns poucos tinham acesso à alfabetização em português,
depois em latim, e ali aprendiam gramática, retórica e poética. Em 1759, na Reforma
Pombalina, impôs-se que no Brasil deveria ensinar língua portuguesa, e os professores
ensinar com a mesma estrutura do ensino de latim. Em 1857, foi criado, no Rio de Janeiro,
o colégio Pedro II, que foi padrão de ensino no país por décadas, onde o ensino da Língua
Portuguesa era dividido em retórica e poética, junto com literatura.
Em 1858, começou-se a ensinar mais a gramática normativa, até o fim do Império,
quando voltamos ao ensino de retórica, poética e gramática. Em meados do século XIX, a
gramática ganha o nome de Língua Portuguesa.
Em 1871, foi criado por decreto-lei o cargo de “professor de português”, porque, até
então, quem ensinava a disciplina eram os padres, preceptores, pensadores (advogados,
engenheiros, etc.). Só que aí não havia escolas formadoras de profissionais. Até 1940
continua o ensino de retórica, gramática e poética.
O dado interessante é que a função maior deste ensino era levar escrita, poética e
retórica a quem já dominava a norma culta. Aqui nascem as gramáticas e as seletas (textos
de literatura com altíssimo nível). Isto para os alunos que já mantinham contato íntimo com a
literatura.
Em 1950, começam as mudanças no ensino. Em 1960, triplica o número de alunos
no Ensino Médio, duplica o número de alunos do primário, surgem às primeiras faculdades
de Filosofia, que formam professores. Começam a aparecer os manuais didáticos, como
os que temos hoje, e isso facilita a vida do professor, que encontra programas prontos,
livros com aquilo que deve ser explanado para o aluno. Porém, os salários vão ficando cada
vez mais baixos.
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DIANTE DESSE HISTÓRICO, E OBSERVANDO O QUADRO ATUAL DA VIDA
DOCENTE, REFLITA:
QU
AL É O P
APEL DO PROFESSOR (EM ESPECIAL,O
QUAL
PAPEL
DE LÍNGU
A POR
TUGUESA)?
LÍNGUA
PORTUGUESA)?
Fundamentos
e Didática
Sabemos que o professor deve estar atualizado, envolvido nas
da Língua
discussões
da Lingüística e analisando posturas como a da substituição do
Portuguesa
“certo” e do “errado”, por “adequado” e “inadequado”, ter uma atitude
epilingüística, ou seja, reflexiva, a respeito do uso da língua, em sua sala de aula, ao invés
de ficar tentando ensinar metalinguagem a quem não conhece nem a língua que está sendo
desestruturada na análise.
O professor deve perceber que a sociedade é um dos maiores fatores condicionantes
para a variação das línguas, e que temos uma população imensa de diglossias convivendo
normas cultas de um lado, normas vernáculas de outro lado e que o professor não consegue
dar conta e o aluno menos ainda.
A língua é produto social que apresenta diferenças decorrentes de vários fatores
geográficos e sócio-culturais. A língua escrita envolve o registro de um pensamento e a
compreensão do pensamento registrado graficamente.
O domínio da língua portuguesa é muito mais do que simples domínio psicológico e
mecânico de técnicas de ler e escrever. É entender o que se lê e o que se escreve. É
comunicar-se oral e graficamente com espírito crítico e reflexivo, dominando o uso da língua
em situações concretas. Nosso objetivo é que aprenda a ler e escrever eficientemente,
desenvolvendo ao mesmo tempo sua sensibilidade em relação ao mundo que o cerca.
Sabemos que ler e escrever não são atividades fáceis. Mas sabemos, também, que
são maravilhosas e que ninguém sobrevive de maneira digna, no mundo de hoje, se não
tiver um bom nível de leitura e de escrita.
O aprimoramento da linguagem vai lhe permitir aprimorar sua capacidade de interagir
com as pessoas e com o mundo em que vive.
A finalidade do ensino de Língua Portuguesa não é somente lhe proporcionar o
domínio do código lingüístico, mas é também, e principalmente, por meio deste domínio,
criar condições favoráveis para que você – indivíduo e ser social, co-detentor e co-construtor
da cultura – possa desenvolver ao máximo suas potencialidades; adquirir o hábito de buscar
por si só os meios de superar seus bloqueios e dificuldades; aprimorar a sua capacidade
de reflexão individual e coletiva; desenvolver o senso de responsabilidade; aprimorar sua
capacidade de interagir, de participar, de cooperar; avançar o máximo possível na construção
do saber; tornar-se cada vez mais capaz de enfrentar, com o máximo de realização, o seu
destino de homem e cidadão.
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Consciência e Mudança no Ensino da Língua Materna
Constata-se, com efeito, o crescente fracasso do ensino da língua portuguesa,
particularmente no ensino de gramática, revelado pelo baixo desempenho dos estudantes
em geral. Daí indagarmos os porquês do fracasso, já que realidades apontam que à
gramática é atribuído o grau de importância muito alto pelos professores de Ensino
Fundamental e Médio e nos programas do curso de Ensino Superior, que, revelam uma
preocupação com a articulação entre as disciplinas do currículo e a escola, além de uma
visão científica da língua.
É através das práticas escolares que a classe hegemônica se utiliza da escola para
transmitir suas ideologias. Essas práticas separadas – práticas escolares e práticas
produtivas – devido à divisão do trabalho, contribuem para a divisão do conhecimento de
modo que o saber se apresenta dividido em teoria e prática.
Em geral, o fracasso escolar é explicado em termos de falta de base, habilidades,
capacidades, mau desempenho, condição da família, colocando-se o sistema como árbitro
neutro, sem uma parcela maior de responsabilidades sobre ele. A sociedade política formula,
impõe e fiscaliza a legislação educacional, absorvendo e traduzindo para outra linguagem,
a concepção de mundo da classe dominante, transformando-a em senso comum, que é a
forma mais adequada de atuação das ideologias. Por isso, torna-se cada vez mais freqüente
a atuação de “modelos gramaticais” a serem seguidos e reverenciados na mídia e em
outro veículo de acesso rápido com finalidades imediatistas.
Por mais difícil que seja ir de encontro a esta situação, não devemos fechar os olhos
ao fato de que a reprodução não é um processo totalizador. A eficácia plena não acontece
porque a reprodução se dá no conjunto de contradições inerentes à redução e atenuação
de conflitos lingüísticos, de modo mecânico, confirmando antagonismos e empurrando para
sua superação.
Os estudantes da atualidade passam por um processo dentro da evolução das
sociedades modernas, com uma quantidade considerável de informações, em todos os
domínios, que exige, para ser assimilada, um poder de síntese considerável. Mas isto não
significa que ele deva abarcar simplesmente a massa de informações lançada sobre um
receptor relativamente passivo que pode constituir um elemento de desorientação e de
enfraquecimento da compreensão. A escola ainda mantém essa postura, justamente pela
falta de compromisso com posturas e teorias, ela deveria ter, portanto, como objetivo
primordial não o fornecimento de informações, mas a organização de sua compreensão.
Assim, o processo educacional deveria ser antes para formar, depois para informar.
E na Escola, como isso acontece?
Em língua portuguesa, dos Ensinos Fundamental e Médio, por exemplo, o processo
caracteriza-se pelo predomínio da metalinguagem sobre o da linguagem (por exemplo, os
alunos aprendem análise sintática para desmontar períodos e classificar orações e não
para montar períodos bem articulados); pelo estudo das categorias lingüísticas sem
compreensão de seu papel na produção de efeitos de sentidos (por exemplo, não se
estudam os modos verbais para perceber os diferentes efeitos de sentido em frases como
espero uma resposta que me faz sentir melhor e espero uma resposta que me faça sentir
melhor); pela ausência de ensino sistemático dos mecanismos de produção e de
interpretação de textos (por exemplo, não sabe como achar adequadamente o tema de um
texto, não se estudam os mecanismos responsáveis pela coerência textual).
Infelizmente, as conclusões são duras. Depois de onze anos de ensino de português,
o aluno não é capaz de produzir um texto adequadamente estruturado e tem dificuldade de
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compreender o que lê. Isso é muito grave, quando se pensa que o domínio da
língua é uma das habilidades centrais na formação de qualquer profissional e
de qualquer ser humano que se comunique. Ainda que domine bem a sua
variedade de origem, aquela que é falada no seu convívio, a função da escola
Fundamentos é mostrar-lhe a outra variedade, que é a escrita, e esta é apenas uma vertente
e Didática da língua decorrente da falada, porém é a vertente que sugere prestígio social,
da Língua pertencimento a uma elite cultural que ainda assim não se utiliza totalmente de
Portuguesa todas as regras que regem o “o bem escrever” quando falam.
As atividades metalingüísticas parecem estar desvinculadas do processo
discursivo. A atividade metalingüística deve ser resultante da atividade produtora de texto,
de forma que possibilite ao aluno do Ensino Fundamental a observação e o estabelecimento
de regras que resulta da construção conjunta entre texto, aluno e professor. É necessário
ressaltar que a questão aqui não é apenas o uso intensivo de conceitos gramaticais em
detrimento da utilização da linguagem na interação, para que disto abstraiam-se os conceitos
gramaticais; não se quer abolir a análise lingüística do ensino de língua. O que é viável é a
mudança de postura em relação à produção textual, análise lingüística e à prática de leitura.
Se ensinar gramática foi sempre questão discutida, o debate entre um ensino
prescritivo, descritivo e, mais modernamente, produtivo, ainda é questão não resolvida.
Apesar de diferenças entre metodologias estruturalistas pragmáticas, o problema comum
ainda é como encontrar uma forma de coordenar a sistematização explícita de noções
gramaticais com seus objetivos fundamentais, a saber, respectivamente: aquisição de uma
competência lingüística, resultado de automatização de estruturas lingüísticas ou aquisição
de competência comunicativa. A produtividade de uma reflexão gramatical, de uma tomada
de consciência das regras de funcionamento da língua é inerente à sua utilização dinâmica
na automatização da comunicação, própria da atividade lingüística, que é interativa.
Prática Pedagógica do Ensino de Língua Portuguesa
Se pudéssemos nos perguntar sobre
qual é a nossa maior contribuição
profissional como professores, em especial,
pensando no ensino da Língua Materna,
responderíamos o quê?
Ninguém ousaria duvidar que o ensino de língua portuguesa é muito importante para
a formação do aluno e para a sua vida escolar.
Mas é necessário questionar sobre até que ponto o ensino de língua portuguesa
contribui de fato para a formação dos alunos como pessoas e como cidadãos, já que a
escola tem se preocupado, na maioria das vezes, em garantir o conhecimento acerca da
gramática normativa.
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É POSSÍVEL AFIRMAR QUE O ENSINO QUE TEMOS
OFERECIDO A NOSSOS ALUNOS CONTRIBUI PARA QUE TENHAM
MELHOR QUALIDADE DE VIDA COMO ALUNOS, COMO PESSOAS
E COMO CIDADÃOS?
Bem, como sabemos, o papel do professor é despertar o gosto do aluno pelos
conteúdos que ensina, e isso não é diferente para quem trabalha com o ensino de língua
materna. Sendo assim, é necessário que o educador considere:
• a interferência da relação pessoal do professor com aquilo que ensina na relação
dos alunos com aquilo que aprendem;
• a importância de condições favoráveis para a aprendizagem;
• a importância da escola (e do professor) nas escolhas profissionais dos alunos.
Observando essas três premissas o educador conseguirá promover, com mais
competência, a aprendizagem.
Sabemos bem que quando não há aprendizagem, não se pode afirmar que houve
ensino e, como a função de todo profissional que ensina é promover a aprendizagem,
acreditamos que:
• O entendimento de como o conhecimento se dá é, hoje, muito diferente do que se
tinha na época em que estudaram os nossos professores, tanto do Ensino Fundamental como da escola em que nos formamos também professores. Somos “fruto” de
uma escola orientada por uma concepção de conhecimento que não coincide com
aquilo que hoje se sabe a respeito dos processos de aprendizagem, o que nos faz,
muitas vezes, duvidar até mesmo do que já foi provado cientificamente.
• Há erros de fato e erros que fazem parte do processo de aprendizagem, os
chamados “erros construtivos”. Não é pedagógico tratá-los como se fossem a mesma
coisa, pois são muito diferentes.
• Nós, adultos, também cometemos erros construtivos quando nos esforçamos por
compreender coisas que são novas para nós. Quando dizemos, por exemplo, “Agora
a proposta é não corrigir mais os alunos” ou “Não podemos interferir nos textos dos
alunos, pois isso tolhe a sua criatividade”, pode-se dizer que, de certa forma, estamos
cometendo um erro construtivo: buscando entender a mudança de enfoque no nosso
papel de professores, acabamos por “distorcer” o que é proposto, que não é
coincidente com o entendimento de que não se deve mais corrigir os textos produzidos
pelos alunos nem interferir neles, mas, fazê-lo a partir de uma outra ótica.
Mesmo percebendo que ainda precisamos melhorar a qualidade do ensino de língua
materna, conseguimos enxergar uma tomada de consciência
coletiva tanto na escola básica quanto nos cursos de formação de
professores. Os currículos estão sendo re-elaborados, a ênfase na
gramática está perdendo espaço para a lingüística aplicada e a
gramática de uso da língua tem servido de base para o ensino do
português.
11
Ainda há muito que ser feito para que o ensino de Língua Portuguesa
abandone alguns ranços, tais como: a utilização de livros didáticos como único
suporte de estruturação dos conteúdos curriculares da escola, a ênfase no
Fundamentos estudo de gramática normativa, a banalização da literatura com exercícios
e Didática gramaticais; e passe a valorizar o trabalho com a
da Língua leitura, a literatura, a oralidade, como componentes
Portuguesa enriquecedores do domínio da língua materna. Para
isso, é necessário um trabalho pautado nos
Parâmetros Curriculares Nacionais, nos teóricos da lingüística
aplicada e nos estudos acerca do letramento.
É através de um processo de formação continuada aliado a
prática de planejamento coletivo que o professor conseguirá
internalizar essa visão do ensino de língua e, promover a aquisição
do conhecimento como instrumento que garante o exercício da
cidadania.
O Que, Por Que e Como Ensinamos e Aprendemos a Nossa Língua?
Ter de fato uma proposta de ensino de Língua Portuguesa seja ela para qualquer
segmento da educação básica, faz-se necessário, pressupor uma discussão coletiva sobre
‘quem vai ensinar o que, quando e de que maneira’, ou seja, uma reflexão acerca do trabalho
didático.
Esse deve ser o olhar sobre todos os conteúdos propostos no currículo da escola,
mas para isso, é fundamental que a equipe de educadores defina, coletivamente, objetivos
e conteúdos específicos de cada série ou ano do ciclo.
Para fazer valer, por exemplo, a orientação de trabalho com a diversidade textual em
todas as séries, não se pode deixar de definir as prioridades do ensino em cada uma
delas. O propósito de garantir a diversidade textual na sala de aula não pode ter como
conseqüência – a subestimação do papel do professor: só o contato com os textos não
garante as aprendizagens necessárias, pois, nesse sentido, não há nada que tenha efeito
mais profícuo do que uma intervenção pedagógica eficaz. E isso só é possível com um
planejamento cuidadoso e com uma seqüência didática adequada.
Mas
bor
ar uma seqüência didática adequada?
Mas,, como ela
elabor
borar
A princípio, é preciso conhecer bem o educando: sua história de vida, o meio social
em que vive, seu histórico escolar, o que esse aluno já sabe
sobre o tema a ser trabalhado e o que ele ainda precisa
saber sobre o mesmo. É o que muitos professores
costumam chamar de Sondagem.
A sondagem é um dos recursos de que o professor
dispõe para conhecer o nível cognitivo em que os alunos se
encontram. É um momento em que também o aluno tem
oportunidade de refletir enquanto produz conhecimento a
respeito da língua materna, com a ajuda do professor.
A sondagem pode ser uma atividade elaborada com inúmeros objetivos: perceber
se o aluno traz, no início do ano letivo, os pré-requisitos mínimos para a série em que se
encontra, avançar de um conteúdo/tema para outro, de maneira seqüenciada e serve ainda
para realizar uma avaliação geral da turma.
12
Esse tipo de atividade pode tomar várias formas, desde uma produção textual,
atividades de leitura ou até mesmo seqüências que estimulem o trabalho com a oralidade.
O importante é que a sondagem não tome a forma de uma atividade desprovida de sentidos,
que ela não seja mais uma ação sem reflexão, concentrada no início do ano letivo e sem
nenhuma função significativa.
As pesquisas sobre ensino da língua materna têm-se voltado, a partir
da década de 80, para o estudo do processo ensino/aprendizagem em si
mesmo, ou seja, para a análise do cotidiano da sala de aula (diferentemente
de pesquisas anteriores, que se preocupavam com o produto).
O foco, sempre concentrado em “como ensinar o aluno”, desloca-se
para o “como o aluno aprende” e, é a partir dessa reflexão que todas as
áreas do conhecimento começam a se preocupar com questões antes
ignoradas: erro construtivo, interação, mediação etc.
Nesse sentido, a Lingüística Aplicada, área em que se concentram muitas dessas
pesquisas, amplia seus interesses, contemplando como objetos de estudo a língua e suas
variações, seus registros, a interação professor/aluno, o discurso e seus interlocutores, as
relações entre modalidades da língua e seu estudo escolar, entre outros.
No que diz respeito às relações entre modalidades da língua e seu estudo escolar,
observamos que embora falantes do português, os alunos da educação básica ainda
apresentam dificuldades na compreensão de textos, principalmente formais, que circulam
nas ruas, na mídia e nas escolas.
Somente através de um trabalho mais dialético, com a utilização de textos significativos
e atividades próximas da realidade do aluno teremos um ensino de língua que saberá o
que, por que e como ensinar e aprender a nossa língua materna.
Atividades
Complementares
1.
REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DE LÍNGUA NO BRASIL
O acesso à escolarização, durante muito tempo, foi privilégio de poucas pessoas.
Apenas os mais ricos, os filhos das pessoas com alto poder aquisitivo tinham o direito de
estudar.
Em que época específica essa situação era realidade? Fale um pouco sobre esse período
histórico.
13
Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
2.
O ensino da língua portuguesa na década de 40 tinha características bem específicas.
Escreva uma síntese com tais características e trace um contraponto entre aquela época e
os dias atuais.
3.
Agora, é a vez de pensar sobre o professor de língua materna. Esse profissional
apresentou posturas tradicionais e inovadoras no corpo do tempo.
Tomando como base as leituras realizadas sobre o histórico do ensino da língua
portuguesa no conteúdo 1 deste bloco, construa um quadro comparativo e registre
características tradicionais e inovadoras do professor de língua portuguesa.
POSTURAS TRADICIONAIS
14
POSTURAS INOVADORAS
PRODUZINDO TEXTO REFLEXIVO...
Observe o seguinte questionamento:
O QUE, POR QUE E COMO ENSINAMOS E APRENDEMOS
TERN
A?
A NOSSA LÍNGU
LÍNGUA
MATERN
TERNA?
A MA
Agora, reflita sobre tudo o que foi lido até então e produza um texto que busque
responder a esta questão, argumentando seus pontos de vista sobre o ensino da nossa
Língua.
Exercitando a tríade metodológica do ensino de língua portuguesa
As Cores e as Palavras
Há palavras azuis:
Céu, encontro, amigo,
Beleza, sorriso, serenidade...
Há palavras brancas:
comunhão, véu, vôo,
pureza, solidão, paz...
Há palavras vermelhas:
samba, sangue, guerra,
Futebol, lábios, paixão...
Há palavras cinzentas:
pesadelo, indiferença, nunca,
finados, inverno, poluição...
Há palavras amarelas:
girassol, luar, inteligência,
poder, luz, sucesso...
Há palavras rosadas:
vinho, vela, mocidade,
namoro, noivado, jardim...
Há palavras verdes:
mar, mata, esperança,
novo, brotação, vida...
Há palavras multicoloridas:
arco-íris, jardim, lápis,
Festa, feriado, floricultura...
(O jogo das palavras mágicas. São Paulo: Paulinas, 1996).
15
Produzindo...
1.
Observe as “palavras coloridas” e indique a classe gramatical a que
Fundamentos
elas pertencem.
e Didática
da Língua
Portuguesa
2.
Em sua opinião, o uso desta classe gramatical contribui para dar um tom de verdade
à afirmação da existência de cores nas palavras?
3.
Na oralidade, é comum as pessoas dizerem “tem” no lugar de “há”. Em sua opinião,
esta troca altera o sentido do que é dito? Qual é o sentido real de cada verbo? O sentido do
que é dito? Explique:
4.
Observe que, em todas as estrofes, cada palavra do segundo verso, respectivamente,
nos dá uma idéia de correspondência com uma palavra do terceiro verso, veja:
Céu, encontro, amigo,
Idéia de
beleza, sorriso, serenidade...
Escolha uma estrofe e explique esta relação através de um pequeno parágrafo.
16
5.
As palavras podem carregar muito mais significados que o dicionário lhes atribui...
Daniela Mercury, por exemplo, diz em “O canto da cidade” que,
“A cor dessa cidade sou eu
O canto dessa cidade é meu”
Agora é a sua vez de brincar com as cores. Faça como Fernando Pessoa, seja um
fingidor, faça de conta que é um poeta e escolha as cores com as quais pintará o seu poema.
Em seguida, escreva um texto (pode ser em prosa ou em verso) sobre como você vê e
sente essas cores.
17
Leirura Recomendada
ENSINO DE LINGUA PORTUGUESA E DOMINAÇÃO:
POR QUE NÃO SE APRENDE PORTUGUÊS?
Ler é um complemento indispensável à vida de qualquer pessoa.
Complementar o conhecimento através da leitura é algo que nos traz a chave daquilo que
todo educando busca: o conhecimento.
Como estudamos bastante sobre a história do ensino de língua materna, segue a
indicação de alguns livros para que você possa complementar os seus estudos a partir
da mesma.
O livro indicado, Ensino de Língua Portuguesa e Dominação: Por que não se
Aprende Português? - de Sergio Simka - trata-se de um livro que visa polemizar, abalar
o dogmatismo, a romper a crença que muitos têm na dificuldade da língua portuguesa.
Trata-se, de uma obra corajosa, na medida em que coloca não só a contradição da prática
lingüística no seio do ensino de língua portuguesa, mas o viés ideológico constitutivo
dessa contradição.
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Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
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SIMKA, Sergio. Ensino De Língua Portuguesa e Dominação: por que não se aprende
português? Musa Editora: Curitiba, 2001.
Filme Recomendado
ESCOLA DA VIDA
O filme também é uma forma de ler e se manter informado. Através da leitura
fílmica, sentimos emoção, aprendemos e nos transportamos até o mundo da ficção.
Esta sensação não é diferente com a Escola da Vida.
Essa é uma história em que há um novo professor na cidade, e ele está
promovendo um verdadeiro pandemônio na Fallbrook Middle School. Ele é atraente,
simpático e informal. Os alunos amam o sr. D (Ryan Reynolds, de Horror em Amityville).
Os professores também o admiram... com exceção de Matt Warner (David Paymer, de
Em Boa Companhia), o ansioso professor de biologia, que sonha em ganhar o prêmio
de Professor do Ano. Seu pai, Stormin Norman (John Astin, de Os Espíritos), foi Professor
do Ano durante 43 temporadas seguidas, e Matt está determinado a fazer deste o seu
ano. Mas com o sr. D (Michael D.Angelo) em cena, Warner vê sua chance escapar. Ele
não consegue competir com quem até seu próprio filho admira. Mas há um segredo que
pode mudar o jogo.
FICHA TÉCNICA
Título no Brasil: Escola da Vida
Título Original: School of Life
18
País de Origem: Canadá / EUA
Gênero: Aventura
Tempo de Duração: 90 minutos
Ano de Lançamento: 2005
Site Oficial: http://abcfamily.go.com/schooloflife/index.html
Estúdio/Distrib.: California Home Vídeo
Direção: William Dear
LEITURA DA EXPRESSÃO LITERÁRIA
Texto Literário e Não-Literário: Especificidades
Sabemos que no mundo em que vivemos somos cercados por evidências da
presença das inúmeras formas de linguagem. Dessa maneira é que percebemos que a
linguagem pictórica, a linguagem publicitária, a linguagem cinematográfica, a linguagem
gestual, a linguagem literária, ou seja, aquelas que têm como expressão a palavra ou não,
necessariamente, são, em alguma medida, a “tradução” do que pensamos, realizadas a
partir de signos característicos para possibilitar a comunicação entre as pessoas.
No mundo contemporâneo, devido à valorização e à preferência pela
comunicabilidade imediata da informação – por isso, a atenção especial que a sociedade
dá à imagem, por exemplo – sintomaticamente, não percebemos com maior nitidez um
ambiente que privilegie momentos para a leitura ou, até mesmo, para o estudo da expressão
literária, com um enfoque mais aprofundado.
No entanto, pensar em literatura, bem como estudá-la, é investir no entendimento de
como se configuraram e estruturaram o pensamento e as emoções do homem durante os
inúmeros momentos históricos que atravessou. Outrossim, constitui-se um aprendizado
rentabilíssimo para “(...) aprender a ler textos, extrair-lhes o sentido mais profundo e perceber
de que forma eles estão relacionados com o momento histórico em que foram criados, com
a estrutura da sociedade e com a tradição cultural” , como afirmam os autores, William
Cereja e Theresa Magalhães. A importância da manifestação literária foi observada também
por René Welleck e Austin Warren, no livro Teoria da Literatura:
A linguagem literária é o material da literatura, tal como a pedra
ou bronze o são da escultura, as tintas da pintura, os sons da música.
Mas importa ter presente que a linguagem não é uma matéria meramente
inerte como a pedra, mas já em si própria uma criação do homem.
Neste estudo da expressão literária far-se-á necessário, então, um entendimento
mais concreto do que é especificamente a linguagem literária (uma das formas de utilização
da língua) e perceber como este texto literário se diferencia do não-literário, refletindo as
possibilidades de aplicação na sala de aula.
Primeiramente, definamos o que é o texto não-literário. O texto abaixo, será
extremamente significativo para delinearmos esta noção:
É recente a tomada de consciência sobre a importância da
alfabetização inicial como a única solução real para o problema da
alfabetização remediativa (de adolescentes e adultos).
Tradicionalmente, a alfabetização inicial é considerada em função
da relação entre o método utilizado e o estado de “maturidade” ou de
“prontidão da criança”. Os dois pólos do processo de aprendizagem (quem
19
ensina e quem aprende) têm sido caracterizados sem que se leve
em conta o terceiro elemento da relação: a natureza do objeto de
conhecimento envolvendo esta aprendizagem...
O fragmento, extraído do livro Reflexões sobre Alfabetização, de Emília
Fundamentos
Ferreiro,
com uma linguagem mais direta, objetiva, tem como maior “missão”
e Didática
da Língua transmitir este conteúdo específico: discutir questões relativas ao processo de
alfabetização, para o seu público-alvo, constituído em sua maioria por
Portuguesa
professores e pesquisadores do assunto.
Normalmente, o texto não-literário, apoiado em contruções denotativas, tem como
função evidenciar informações sobre uma determinada realidade, mostrar enfaticamente
uma notícia ou um conteúdo que precisa ser discutido e/ou tornar-se conhecido a uma
comunidade. É assim, por exemplo, que o discurso jornalístico, em geral, funciona: a partir
de temas constantes da realidade das pessoas, textos com contornos utilitários são
construídos.
Já o texto literário vai em outra direção, possui outra funcionalidade. O exemplo, a
seguir, da obra de Cecília Meireles, por si, revela especificidades deste tipo de linguagem:
O Mosquito Escreve
O mosquito pernilongo
trança as pernas, faz um M,
depois, treme, treme, treme,
faz um O bastante oblongo,
faz um S.
O mosquito sobe e desce.
Com artes que ninguém vê,
faz um Q,
faz um U e faz um I.
Esse mosquito
esquisito
cruza as patas, faz um T.
E aí,
se arredonda e faz outro O,
mais bonito.
Oh!
Já não é analfabeto,
esse inseto,
pois sabe escrever seu nome.
Mas depois vai procurar
alguém que possa picar,
pois escrever cansa,
não é, criança?
E ele está com muita fome.
No poema, pudemos entrever que uma linguagem mais próxima da linguagem
pessoal foi utilizada. Cecília Meireles procura sensibilizar o leitor (que aqui também, e
20
principalmente é a criança); procura emocioná-lo e convidá-lo a, através da ludicidade, viajar
com o mosquito e o ensino das letras do alfabeto.
Assim é a linguagem literária, recheada de intencionalidade estética, plena de
plurissignificações, pois sua funcionalidade evidencia-se a partir da conotação e volta-se
para uma possível recriação do real, recriação de uma expressão do real, aquela que o
escritor enxerga.
Cabe ressaltar que este tipo de linguagem não precisa ficar restrito ao texto escrito
(embora estejamos tratando dele com maior profundidade). No dia-a-dia todo e qualquer
falante pode trazer em sua linguagem indícios, elementos do discurso literário. Dessa
maneira, fica mais fácil entender a utilização das rimas, das metáforas, do lirismo, da
expressão estética, enfim, no cotidiano, uma vez que qualquer cidadão falante da língua
portuguesa pode adotar este tipo de expediente. No dia-a-dia das crianças, por exemplo,
dentro ou fora da sala de aula, o trabalho com a ludicidade, evidenciada nos desenhos, nos
jogos e brincadeiras infantis, a percepção que elas podem ter da realidade em que estão
inseridas, concorre para uma caracterização e utilização contumazes dos recursos estilísticos
da literatura.
Panorama Literário: do Trovadorismo ao Romantismo
Durante muitos séculos, homens e mulheres escreveram em prosa e poesia o
pensamento de suas épocas. Foram poetas e escritores que, através de poesias, romances,
crônicas, novelas, deixaram sua marca na história e atravessaram o tempo até os nossos
dias.
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(FERNANDO PESSOA)
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“VALEU A PENA?
TUDO VALE A PENA SE A ALMA NÃO É PEQUENA”.
Esses escritos foram organizados no corpo do tempo pelo período histórico e pelo
estilo de época - período que marca um estilo, a moda de uma época, do ponto de vista
artístico, literário, sociológico, etc. – e, esses grandes autores parecem circular em nossos
dias, através de seus textos, com o intuito de nos fazer lembrar sempre do que viveram em
suas gerações.
O esquema a seguir revela com precisão a organização das chamadas escolas
literárias que ainda serão detalhadas:
ESTILOS DE ÉPOCA NA LITERATURA
TROVADORISMO/HUMANISMO
Séculos XII a XV:Idade Média, teocentrismo
ANTIGÜIDADE CLÁSSICA
Autores greco-latinos:mitologia, paganismo.
RENASCIMENTO (CLASSICISMO)
Século XVI: retorno aos preceitosclássicos, antropocentrismo
21
Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
BARROCO
Século XVII: homem em conflito.
ARCADISMO (NEOCLASSICISMO)
Século XVIII: homem em equilíbrio
ROMANTISMO
Primeira metade do século XIX: liberdade,sentimentalismo
REALISMO / NATURALISMO / PARNASIANISMO
Segunda metade do século XIX: cientificismo, domínio da razão.
SIMBOLISMO
Final do século XIX, início do século XX: psicologismo.
MODERNISMO
Século XX: Dadaísmo, Surrealismo, Concretismo, Cubismo, Futurismo, Purismo,
Pluridimensionalidade, liberdade de criação.
PRODUÇÃO CONTEMPORÃNEA
Segunda metade do século XX: atomização da palavra, discurso descontínuo,
denúncia do capitalismo desumano e das tiranias, existencialismo, experimentalismo,
realismo fantástico, psicanálise, mescla de gêneros e estilos.
Qual é a importância do estudo da literatura geral para
a formação do educador do curso normal superior?
É imprescindível para o professor de língua materna, o conhecimento sobre as obras
literárias que marcaram a nossa história. Dessa forma, ele poderá compreender com maior
propriedade aspectos da Literatura Infanto-Juvenil (recorte da Literatura Geral) e da
construção gramatical da Língua Portuguesa, afinal, a nossa gramática é fruto dos textos
literários desses poetas.
Na busca pela compreensão do que somos hoje, no conhecimento de nossas raízes
culturais e lingüísticas, o estudo da literatura, principalmente no que tange à literatura
brasileira, é importantíssimo e indispensável. Desde as origens da literatura brasileira, que
primeiro esteve pautada nos moldes portugueses, até a contemporaneidade, um retrato da
sociedade brasileira pode ser vislumbrado, em suas diversas nuances.
O TROVADORISMO
Em linhas gerais, o Trovadorismo, expressão da primeira época Medieval, teve na
poesia um grande exponencial, pois entre os nobres e o povo alcançou visibilidade extrema,
pelo fato de a escrita não ser tão disseminada naquele contexto histórico. Por conta disso é
que surgiram as conhecidas cantigas, uma vez que os poemas eram cantados e
acompanhados por danças e instrumentos musicais. Os que produziam as cantigas ficaram
22
conhecidos como Trovadores; estas cantigas, escritas por eles, chegaram até às pessoas
através dos Cancioneiros.
Tanto no gênero lírico, quanto no satírico foram produzidas as chamadas cantigas,
que conforme suas características podem assumir vários tipos. Assim, no gênero lírico
aparecem as cantigas de amigo e as cantigas de amor, enquanto no satírico evidenciam-se
as cantigas de escárnio e as cantigas de maldizer. Os homens, normalmente, os nobres
portugueses, eram os principais autores das cantigas.
As cantigas de amigo, contudo, estruturadas numa linguagem simples, evidenciavam
um eu lírico feminino e, ambientados no espaço rural, demonstravam o lamento da donzela,
cujo namorado foi para a guerra. Já as cantigas de amor, denotavam um eu lírico masculino
e expressavam a tentativa do aristocrata em fazer com que a mulher, objeto do amor cortês,
recebesse seus sentimentos; eram ainda mais laboradas que as cantigas de amigo.
Leia, abaixo, a cantiga do Trovador Fernando Esguio, que viveu
entre os séculos XIII e XIV e tente identificar sua natureza, a partir das
características mostradas. Trata-se de uma cantiga de amor ou de
amigo?
Vaiamos, irmã, vaiamos dormir
(en) nas ribas do lago, u eu andar vi
a las aves meu amigo.
Vaiamos, irmã, vaiamos folgar
(en) nas ribas do lago, u eu vi andar
a las aves meu amigo.
En nas ribas do lago, u eu andar vi,
Seu arco na mãao as aves ferir,
a las aves meu amigo.
En nas ribas do lago, u eu vi andar
Seu arco na mãao as aves tirar,
a las aves meu amigo.
Seu arco na mãao as aves ferir,
a las que cantavam leixa-las guarir,
a las aves meu amigo.
Seu arco na mão as aves tirar,
a las que cantavam non nas quer matar,
a las aves meu amigo.
amigo: namorado.
folgar: descansar, divertir-se.
vaiamos: vamos.
u: onde.
tirar: atirar
deixá-las guarir: deixava-as salvar-se.
23
A partir da leitura, podemos fazer algumas inferências...
Trata-se de uma cantiga de amigo em
que o eu lírico de quem fala é o de uma moça
Fundamentos que se dirige à irmã convidando-a para um
e Didática descanso à beira do lago, ambiente rural por
da Língua excelência. No entanto, no decorrer da leitura,
Portuguesa vemos que o passeio termina se constituindo
numa desculpa para um encontro da donzela
com seu namorado que caça, às margens do lago. Este eu
lírico feminino termina pondo em destaque a sensibilidade
e bondade do ser amado, pois, segundo ele, apenas as
aves que não cantam é que são abatidas.
As cantigas de escárnio e as cantigas de maldizer retratam momentos da sociedade
portuguesa da época; aspectos nos mais variados planos. Iam desde a crítica a membros
da sociedade como nobres, prostitutas, padres até os próprios trovadores. Enquanto nas
cantigas de maldizer a linguagem é mais dura, mais grosseira, mais “crua”, tendo a pessoa,
motivo de objeto da cantiga, seu nome identificado e sua vida e atitudes criticados e
zombados, na cantiga de escárnio este nome é preservado, na maioria das vezes e o tom
é mais sutil, recheado de ironias, ambigüidades e trocadilhos.
Na segunda época medieval, marco da transição do mundo medieval para o moderno,
vindo com o Renascimento, destaca-se uma literatura voltada para a visibilidade da prosa
historiográfica e do teatro; a poesia, “tema“ principal da primeira época, passa a ser tratada
com um novo ponto de vista. Não é mais tanto a música: a formalidade é que aparece. São
exemplos característicos a Poesia palaciana (que tem maior preparação que as cantigas);
a Prosa historiográfica (crônicas portuguesas de cunho histórico, que tiveram como principal
representante Fernão Lopes) e o teatro (inicialmente ligado à Igreja, suas atividades, a
Bíblia e os santos e posteriormente, com o trabalho crítico e de cunho moralizante de Gil
Vicente, autor de Auto da barca do inferno, um de seus textos mais conhecidos).
Você sabia ?
que Gil Vicente é um dos autores mais importântes
desta época? Ele falou sobre a sociedade portuguesa como
ninguém.
Foram alvo de suas críticas, diversas camadas e
grupos daquela sociedade, pessoas inescrupulosas e
corruptas que dela faziam parte.
Gil Vicente influenciou muita gente com seus autos;
pessoas como Padre José de Anchieta e mais
contemporâneamente, Ariano Suassuna (autor do famoso
Auto da Compadecida) e João Cabral de Melo Neto (que
escreveu Morte e Vida Severina).
24
CLASSICISMO OU QUINHENTISMO
Características
O classicismo, expressão artística do Renascimento, teve como características
principais as que acima foram listadas, originadas a partir de um contexto histórico de
transformação da sociedade. O homem desta época, contrariamente ao medieval, esquece
as coisas do espírito e volta-se para o pensamento racional e realista para uma modificação
do mundo. A inspiração na tradição da cultura greco-latina e dos pensadores italianos é a
base do que ficou conhecido como Era Clássica, a vigência, a partir do Classicismo, do
Barraco e do Arcadismo.
A literatura Portuguesa, nesta Era, termina sendo projetada para o mundo, a partir do
famoso poema Os Lusíadas, de Luís de Camões. Nesta obra, Camões narra as conquistas
portuguesas (tratava-se do momento mais proeminente do país: sua expansão marítima e
comercial). Estruturada em dez cantos, Os Lusíadas é uma das maiores obras da literatura.
1 As armas e os Barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
2 E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando,
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
Saiba mais...
Acesse o site:
http://www.instituto-camoes.pt/cvc/bvc/lusiadas/index.html
Neste poema, o poeta apresenta, dentre outras coisas a bravura, o heroísmo dos
portugueses e suas conquistas; pede inspiração a seres fantásticos como as ninfas, as
Tágides; faz uma homenagem ao rei de Portugal, D. Sebastião, a quem dedica o eloqüente
poema.
25
Leia, agora, o texto de Walnice Nogueira Galvão.
A literatura brasileira evoluiu através de fases tão distintas que seu único
fator de unidade se atribui à continuidade do exercício da língua portuguesa.
Fundamentos Pois aí reside sua origem: na literatura de expressão portuguesa, da qual começou
e Didática como um prolongamento, levando vários séculos para adquirir um perfil próprio.
da Língua
Considera-se como primeiro documento literário brasileiro a Carta de
Portuguesa Pero Vaz de Caminha, dando conta ao rei português da descoberta da nova
terra, em 1500. Essa carta, de certo modo, definiu a linha dominante das letras
coloniais nos primeiros séculos, ao fazer a propaganda das riquezas naturais em florestas,
abundância de águas, fauna, solo fértil, clima ameno bem diferente dos rigores do
hemisfério norte, e índios amigáveis. Esse foi o tom, durante muito tempo, do que se
escrevia para exaltar o espaço tropical recentemente anexado. Em meio a toda essa
louvação um tanto formular e empertigada soaram, contudo, algumas vozes de fortes
acentos, que dariam uma fisionomia mais vivaz ao barroco do segundo século.
Entretanto, é só no final do terceiro século que aparece o primeiro movimento
literário propriamente dito, quando um grupo de poetas de Minas Gerais, em consonância
com o cânone estético europeu de sua época – o arcadismo -, trata de adaptá-lo à
sensibilidade local. Também eram partidários de um rompimento com a metrópole e
passaram à história por sua participação na Inconfidência Mineira, em 1789.
A essa altura, as reivindicações de autoctonia e autonomia dos intelectuais
tornavam-se abertamente nativistas, numa fase ainda anterior à consciência de pertencer
a uma nação. Eles passam a dar voz ao sentimento de serem filhos de outra terra que não
a Europa, mesmo se sua expressão se veicula numa língua européia.
O romantismo vai atingir o ponto mais alto da realização e da teorização de uma
literatura agora em secessão com sua matriz portuguesa, e não é coincidência que tal
tendência se acentue na esteira da independência política efetivada em 1822. Os escritores
românticos já estimam que é sua missão histórica construir uma literatura que seja
nacional. E cogitam que vincar sua diferença dando vazão ao pitoresco pode implicar
uma falácia, a de atender às exigências da alteridade européia. O indianismo, a mais
saliente criação nativista, confrontou-se com esse risco.
Esse é o debate que ocupa a maior parte do século XIX, quando, após o grito do
Ipiranga, torna-se cadente a questão de definir os parâmetros de uma literatura que
fosse esteticamente autônoma, a exemplo do País, que agora o era politicamente.
A questão em pauta não era das mais simples. Por um lado, havia o argumento de
que os autóctones deveriam praticar uma arte que se concentrasse em assuntos locais,
na natureza luxuriante dos trópicos e em personagens típicos que não existiam na
metrópole, como bandeirantes, gaúchos, sertanejos, escravos negros, índios. É verdade
que isso precisava ser feito, e o foi. Por outro lado, insinuava-se a dúvida de que, ao agir
assim, os escritores estariam produzindo exotismo para consumo externo.
A via que evitasse esses dois escolhos, ou seja, não seguir os padrões alienígenas
nem se restringir à cor local, revelava-se extremamente complexa e iria depender de
uma construção gradativa, que congregaria os esforços de mais de uma geração de
homens de letras.
É com a prosa realista que finalmente se atinge a maturidade de uma visão crítica
interna, feita de dentro e dirigida àquilo que conferia à nação seu perfil peculiar, após
três séculos de desvio do ponto de partida em outro continente. Um tal perfil era a
resultante específica de fatores heteróclitos, conflituosamente interagindo numa
sociedade colonial nos trópicos, agrícola, patriarcal, escravocrata e mestiça.
A superação do realismo é levada a termo pelo modernismo, no século XX.
Exorcizados os fantasmas do século anterior através da aquisição daquela maturidade,
26
os modernistas vão encarar de uma outra maneira as relações com a matriz. Ou seja,
declaradamente afinando-se com a Europa e ao mesmo tempo em disjunção com ela.
Assim, pregaram e praticaram uma arte que abalou iconoclasticamente as bases de um
academismo que se institucionalizara nas letras pátrias, representado, sobretudo pelos
epígonos do naturalismo, do parnasianismo e do simbolismo. Puseram-se em dia com as
vanguardas contemporâneas além-fronteiras. E lançaram uma plataforma inédita para
lidar com o peculiar paradoxo que sempre inquietara os intelectuais nativos: como afirmar
sua personalidade sem cair no pitoresco.
A realização de tal projeto cabe a toda a obra, em prosa e verso, do conjunto dos
modernistas. Mas encontrou sua particular explicitação no antropofagismo. Este propõe
uma atitude não colonizada, onde a devoração sem culpa dos bens da civilização européia
ande a par da rejeição de tudo aquilo que não atenda aos interesses do devorador ou que
o ponha na posição subalterna do exibicionismo exótico.
O percurso estava cumprido e a literatura brasileira pronta para enfrentar outras
batalhas. Como aquelas, entabuladas, mas ainda não resolvidas, decorrentes do advento
da indústria cultural e do impacto da influência norte-americana. E isso, após ter passado
tanto tempo a definir-se como específica enquanto floração de entrechoques de culturas.
O texto é extramente importante e perpassa os vários momentos de nossa literatura.
Primeiramente, a autora nos fala sobre a Carta de Pero Vaz de Caminha, nosso primeiro
cronista e um dos representantes da chamada literatura de informação ou de expansão,
que teve ainda como expoentes Pero M. Gândavo, Gabriel Soares de Sousa e José de
Anchieta (que se escrevia em Tupi Guarani com vistas à catequização dos índios).
Bento Teixeira é um dos nomes que ganha visibilidade logo a seguir. Sua obra
Prosopopéia é considerada a primeira obra literária legitimamente brasileira e é um marco
do chamado SEISCENTISMO OU BARROCO, cujo maior nome no Brasil foi Gregório de
Matos, o conhecido “Boca do inferno”. Matos, soteropolitano de nascimento, tornou-se
célebre com sua conhecida irreverência e foi o introdutor da poesia lírica e satírica no Brasil.
Atacando todas as classes da sociedade baiana da época, não poupou, com sua língua
ferina, o governador, o clero, os mulatos, só para citar alguns. Eis um trecho de um de seus
poemas satíricos mais famosos:
Que falta nesta cidade? ................Verdade
Que mais por sua desonra............ Honra
Falta mais que se lhe ponha.......... Vergonha.
O demo a viver se esponha,
por mais que a fama a exalta,
numa cidade onde falta
Verdade, Honra, Vergonha.
Na prosa podemos destacar nitidamente o Padre Antonio Vieira, famoso por seus
sermões, conhecido pela oratória veemente. Apesar de sua religiosidade, nunca se prendeu
apenas a ela, dedicando grande parte de seus esforços à defesa de causas políticas, como
a dos colonizados por Portugal.
Em seguida, Galvão discorre sobre o ARCADISMO. Este movimento terminou por
refletir a condição do intelectual brasileiro da época. Em variados momentos recebia
inspiração da literatura e dos ideais iluministas europeus e, em outros tantos, voltava-se às
coisas da terra e se figurava como idealizador da vida no campo. Em Minas, esta tendência
destacou-se sobremaneira. Nomes como Cláudio Manuel da Costa (poesia lírica), Tomás
Antônio Gonzaga (sátira), célebre por seus versos Marília de Dirceu:
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Eu, Marília, não fui nenhum vaqueiro,
Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
fui honrado pastor da tua aldeia;
vestia finas lãs e tinha sempre
a minha choça do preciso cheia.
Tiraram-me o casal e o manso gado,
nem tenho a que me encoste um só cajado.
Para ter que te dar, é que eu queria
de mor rebanho ainda ser o dono;
prezava teu semblante, os teus cabelos
ainda muito mais que um grande trono.
Agora que te oferte já não vejo,
além de um puro amor, de um são desejo.
São ainda expoentes Santa Rita Durão, que escreveu o épico Caramuru, Basílio da
Gama que escreveu O Uraguai, Silva Alvarenga e Alvarenga Peixoto.
O ROMANTISMO
Tem como marco a publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de
Magalhães. Seus principais autores são nomes como: Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo,
Casimiro de Abreu, Junqueira Freire, Fagundes Varela, Castro Alves, José de Alencar, Manuel
Antônio de Almeida Joaquim Manuel de Macedo, Visconde de Taunay, Bernardo Guimarães
e Franklin Távora. As características fundamentais do movimento residem na simplicidade
da linguagem, saudosismo, subjetivismo, sentimentalismo, ideal de natureza, nacionalismo,
indianismo, religiosidade, byronismo e condoreirismo. Dentre tantos autores como os que
foram citados, podemos destacar a presença da voz de Castro Alves que se configurou
como o poeta marginal ao opor-se ao indianismo, expressão corrente do romantismo, e
defender os escravo em poemas como Navio Negreiro e Vozes d'África.
Era um sonho dantesco!... o tombadilho ,
Que das luzes avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros...estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
(In: Espumas Flutuantes. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, s.d.)
Panorama Literário: do Realismo ao Modernismo
REALISMO
Seguindo o rumo dos conhecidos romances urbanos (que, na maioria das vezes,
tratavam das peculiaridades da vida da burguesia no século XIX), vários autores se
destacaram, dentre eles: Manuel Antonio de Almeida, autor de Memórias de um Sargento
de Milícias, Joaquim Manuel de Macedo, que escreveu a famosa obra A Moreninha e ainda
O Moço Loiro, As Vítimas-Algozes, As Mulheres de Mantilha, etc., José de Alencar, autor
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de Senhora, A Pata da Gazela, A Viuvinha, etc. O marco considerado desta época, porém,
é a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Segundo
críticos, Machado termina por levar o romance e conto realistas ao ápice do sucesso com
Memórias Póstumas e outros de seus títulos, como, por exemplo: Quincas Borba, Dom
Casmurro, Memorial de Aires, Esaú e Jacó, só para citar alguns de seus sucessos mais
retumbantes. Eis um fragmento de Memórias Póstumas:
Ao leitor
Que Sthendal confessasse haver escrito um de seus livros para cem
leitores, coisa é que admira e consterna. O que não admira, nem
provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem leitores de
Stendhal, nem cinqüenta, nem vinte e, quando muito, dez. Dez? Talvez cinco.
Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei
a forma livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti
algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevi-a com
a pena de galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá
sair desse conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas
aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele o
seu romance usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos
frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião.
Mas eu ainda espero angariar as simpatias da opinião, e o primeiro
remédio é fugir a um prólogo explícito e longo. O melhor prólogo é o que
contém menos coisas, ou o que as diz de um jeito obscuro e truncado.
Conseguintemente, evito contar o processo extraordinário que empreguei nas
composições destas Memórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso,
mas nimiamente extenso, e aliás desnecessário ao entendimento da obra. A
obra em si é mesma tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se não
te agradar, pago-te com um piparote, e adeus.
Brás Cubas
Como podemos observar, este excerto trata-se de uma introdução que o autor-defunto
ou defunto-autor, Brás Cubas, escreve endereçando-a ao possível leitor de sua obra; são
suas memórias que ele tenta explicar a este leitor iminente.
NATURALISMO
O naturalismo tem como características expressivas a observação da realidade sob
uma ótica científica. Possui entre suas características o chamado Determinismo (os seres
não possuem o livre-arbítrio para gerir suas atitudes, que são controladas pelo destino); a
preferência por temas da patologia social (segundo eles, os vícios, problemas oriundos de
doenças, dentre outros, podem interferir no caráter do homem); literatura engajada (existe
uma intenção em, através dos escritos, operar uma reforma na sociedade). O marco do
naturalismo brasileiro é a publicação de O Mulato, de Aluísio de Azevedo, mas nomes como
Raul Pompéia, escritor de O Ateneu, livro altamente peculiar por possuir contornos de várias
estéticas daquela época (possuía traços realistas, naturalistas, parnasianistas), também se
destacam. Aluísio de Azevedo igualmente se destacou pela criação do conhecido O Cortiço.
Segue trecho de O Mulato, que trata da caracterização da cidade de São Luis, no Maranhão:
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Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
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Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do
Maranhão parecia entorpecida pelo calor. Quase que se não podia sair à
rua: as pedras escaldavam, as vidraças e os lampiões faiscavam ao sol
como enormes diamantes, as paredes tinham reverberações de prata
polida; as folhas das árvores nem se mexiam; as carroças d’água
passavam ruidosamente a todo o instante, abalando os prédios, e os
aguadeiros, em mangas de camisa e pernas arregaçados, invadiam sem
cerimônia as casas para encher as banheiras e os potes. Em certos pontos
não se encontra vã viva alma na rua; tudo estava concentrado, adormecido;
só os pretos faziam as compras para o jantar ou andavam no ganho.
PARNASIANISMO
Ao contrário dos dois movimentos estéticos anteriores, o Realismo e o Naturalismo,
o Parnasianismo configurou-se como uma tentativa de busca aos temas da Antiguidade
Clássica. Buscavam a perfeição formal, uma linguagem culta, rimas raras e tinham
preferência pela descrição. Não buscavam tratar de temas da realidade brasileira, os
problemas sociais e humanos, mas, antes, voltavam-se para si, para um trabalho esmerado
com a construção da arte, com a confecção do texto artístico e sua forma perfeita. Por conta
disso, ficaram conhecidos como os defensores da “arte pela arte”. Olavo Bilac, Raimundo
Correa, Alberto de Oliveira e Vicente de Carvalho, foram os nomes mais representativos
desta corrente.
Profissão de fé
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto-relevo
Faz de uma flor.
Imito-o. E, pois nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.
Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.
Neste excerto de Poesia, de Olavo Bilac (1957), o projeto estético do autor, bem
como o da escola parnasianista, podem ser vislumbrados com alguma nitidez.
O SIMBOLISMO
O Simbolismo no Brasil é um movimento bastante tímido. Ele ocorre, principalmente,
em províncias como Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e os textos dos seus
autores apresentam imagens do frio presente nesses locais. Alphonsus de Guimarães produz
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seus textos nas cidades de Minas Gerais e se deixa influenciar pelo aspecto nebuloso da
geografia dessa região. No Rio de Janeiro, de grandes sóis e clima tropical, o agrupamento
simbolista, mesmo com o reforço de Cruz e Sousa - que emigrara da antiga cidade do
Desterro (hoje Florianópolis) -, acaba sufocado pela luz, pelo calor e pela onda parnasiana.
Os que acreditam nessa corrente literária sofrem discriminação, zombarias e
desprezo. Boa parte dos críticos não os compreende e o público leitor mostra-se indiferente
frente a uma poética aristocrática, complicada, pretensiosa. Somente depois do triunfo
modernista, alguns desses poetas são valorizados. Essa crítica acirrada acontece porque
os simbolistas transplantam uma cultura que pouco tem a ver com a nossa (com exceção de
Cruz e Souza, maior nome do Simbolismo).
Os textos que verdadeiramente inauguram o Simbolismo pertencem a Cruz e Souza
que, em 1893, lança duas obras renovadoras: Broquéis e Missal. A primeira compõe-se de
poemas em versos e a segunda de poemas em prosa.
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SUGERIMOS A LEITURA DOS LIVROS DE MACHADO
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DE ASSIS, UM DOS MAIORES NOMES DA NOSSA
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LITERATURA, RECONHECIDO, TAMBÉM, FORA DO BRASIL.
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ALÉM DELE, INDICAMOS O CORTIÇO, DE ÁLVARO DE
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AZEVEDO, PARA QUEM GOSTA DA FICÇÃO NATURALISTA.
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DESSA FORMA, O LEITOR TERÁ A OPORTUNIDADE DE SE
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DIVERTIR COM OS GRACEJOS DE RITA BAIANA E COM OS
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INÚMEROS PERSONAGENS PRESENTES NESSE LIVRO.
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O pré-modernismo foi a época representada na literatura por um entrecruzar de várias
correntes estéticas. Por um lado, existiu a queda da proposta realista-naturalista-parnasiana,
e de outro uma afirmação da poesia simbolista. Na mesma época, então, surge uma prosa
de ficção que, ligada à tradição realista, vai revelar criticamente as tensões da sociedade
brasileira. Mesmo tendo a sua importância, este movimento não pode ser considerado como
um movimento literário, mas sim um período de transição para o Modernismo.
Canto de Regresso à Pátria
Oswald de Andrade
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
31
Sem que volte para lá
Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo
Oswald de Andrade (1890-1954) é um dos mais significativos autores modernistas da literatura
brasileira. Participou da Semana de Arte Moderna, editou o jornal "O Homem do Povo" e ajudou a
fundar "O Pirralho" e a "Revista Antropofágica". É de sua autoria o Manifesto Antropófago de 1928.
http://www.releituras.com/oandrade_menu.asp
Oswald de Andrade é um dos poetas mais importantes do modernismo. Em parceria
com outros artistas das mais variadas áreas, inauguram o movimento através da Semana
de Arte Moderna.
É na realização da Semana de Arte Moderna e ainda sob os ecos das vaias e gritarias,
que tem início a primeira fase modernista, que se estende de 1922 a 1930, caracterizada
pela tentativa de definir e marcar posições. Constitui, portanto, um período rico em manifestos
de um grupo em busca de definição.
Nessa década, a economia mundial caminha para um colapso, que se concretizaria
na quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929. O Brasil vive os últimos anos da
chamada República Velha, ou seja, o período de domínio político das oligarquias ligadas
aos grandes proprietários rurais. Não por mera coincidência, a partir de 1922, com a revolta
militar do Forte de Copacabana, o Brasil passa por um momento realmente revolucionário,
que culminaria com a Revolução de 1930 e a ascensão de Getúlio Vargas.
Assim é que, de 1930 a 1945, o movimento modernista vive uma segunda fase,
refletindo as transformações por que passou o país. Tem início uma outra etapa de sua vida
republicana, levando os artistas nacionais a se posicionarem diante dessa nova realidade.
A terceira fase modernista só acontece no ano de 1945, um dos mais marcantes da
história da humanidade. Nessa data, com as explosões atômicas nas cidades japonesas
de Hiroshima e Nagasáki, terminava a Segunda Guerra Mundial e começava um período de
reestruturação geográfica, política e econômica que dividiu o mundo em blocos capitalistas,
sob a liderança dos Estados Unidos, e comunistas, guiados pela ex-União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS).
Ao mesmo tempo em que se procura o moderno, o original e o polêmico, o
nacionalismo se manifesta em suas múltiplas faces: volta às origens, pesquisa de fontes
quinhentistas, busca de uma língua falada pelo povo nas ruas, paródias, numa tentativa de
repensar a história e a literatura brasileiras, e valorização do índio verdadeiramente brasileiro.
Entre os principais nomes do Modernismo estão:
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32
Mário de Andrade;
Oswald de Andrade;
Manuel Bandeira;
Antônio de Alcântara Machado;
Cassiano Ricardo;
Plínio Salgado;
Carlos Drummond de Andrade;
Murilo Mendes;
Cecília Meireles;
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Jorge de Lima;
Vinicius de Moraes;
João Cabral de Melo Neto;
Ledo Ivo, entre outros.
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ESSES ESCRITORES SÃO VERDADEIROS PRESENTES. UM POEMA
DE AMOR DE VINÍCIUS, UM POEMA INFANTIL DE CECÍLIA OU, ATÉ MESMO,
A POESIA MAIS SECA DE JOÃO CABRAL DE MELO NETO SERVEM PARA
GERAR CONHECIMENTO E PARA HUMANIZAR AS PESSOAS.
ENTÃO, O QUE ESTAMOS ESPERANDO PARA
ABRIR O LIVRO DE UM DELES?
Panorama Literário: Autores Contemporâneos
Após a Segunda Grande Guerra Mundial, uma nova sociedade brasileira aparece,
sendo caracterizada por mudanças significativas em vários de seus setores. As
manifestações artísticas e culturais também seguem este caminho e a primeira expressão
significativa que é evidenciada para traduzir esta nova seara na literatura é a chamada
“geração de 45”, que vai em busca de uma renovação da expressão literária, como fez
Clarice Lispector, por exemplo. Além da escritora, que publicou o marco desta época, o
conhecido Perto do Coração Selvagem, é imprescindível ressaltar a presença dos trabalhos
magníficos de Guimarães Rosa (autor de Grande Sertão: Veredas, para citar uma de suas
obras) e João Cabral de Melo Neto (considerado o maior poeta desta geração).
Leia os seguintes fragmentos e reflita sobre a expressão literária de dois destes
escritores. O primeiro, Guimarães Rosa; o segundo, João Cabral de Melo Neto:
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O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é
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por
os
campos-gerais
a fora a dentro, ele dizem, fim de rumo, terras altas, demais do
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Urucúia. Toleima. Para os de Corinto e do Curvelo, então, o aqui não é o dito sertão?
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Ah, que tem o maior! Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos;
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onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde
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criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. O Urucúia vem
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dos montões oestes. Mas, hoje, que na beira dele, tudo dá – fazendões de fazendas,
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almargem de vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata em mata,
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madeiras de grossura, até ainda virgens dessas lá há. O gerais corre em volta. Esses
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gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou
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pães, é questão de opiniões...O sertão está em toda a parte.
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(Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.)
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Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
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TEXTO II
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Catar feijão
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Catar feijão se limita com escrever:
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joga-se os grãos na água do alguidar
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e as palavras na folha de papel;
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e depois, joga-se fora o que boiar.
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Certo, toda palavra boiará no papel,
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água congelada, por chumbo seu verbo
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pois para catar esse feijão, soprar nele,
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e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
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(MELO NETO, João Cabral de. Antologia Poética. Rio de Janeiro: José
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Olympio/Sabiá, 1973).
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A partir dos anos 50, verificou-se uma tendência marcante na literatura: o
aparecimento dos mais variados estilos, tendo a crônica e o conto surgido com uma
expressividade significativa, tanto que são considerados os gêneros literários mais lidos
no Brasil.
Nesta época, não podemos deixar de mencionar a presença do Concretismo (que
não se ateve apenas a esta época e estendeu-se até os nossos dias). Segundo esta corrente,
cujos criadores foram Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos, a poesia
precisa ter uma relação com outras artes, por isso seu caráter altamente multimidiático, o
que representou um avanço para aquele contexto. Hoje, pensamos em como isto é tão
conhecido e possibilitado pela tecnologia.
Compositores como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Arnaldo Antunes, também tiveram
um apreço pela poesia concretista. Entretanto, não apenas o concretismo se destaca; a
presença da poesia-práxis e sua base na emoção e fato externos à poesia, também são
característicos da cena contemporânea; e, em 57, a poesia social vem tratar dos problemas
do Brasil e repudia o concretismo.
Veja um exemplo de poema concretista a seguir:
mar azul
mar azul
mar azul
mar azul
mar azul
mar azul
marco azul
marco azul
marco azul
marco azul
barco azul
barco azul arco azul
barco azul arco azul
ar azul
(GULLAR, Ferreira. mar azul. In Poemas Concretos/neoconcretos, 1956)
Podemos pôr em destaque, ainda, na década de 60, um dos movimentos culturais
mais importantes, que se estendeu até o fim do século XX: o Tropicalismo. O golpe militar
de 64 fez com que vários compositores, poetas e artistas ligados ao movimento, sofressem
a censura, perseguições e exílios. Uma década depois, o poeta social ainda tentava driblar
o controle da censura. A poesia, considerada marginal, denunciava a situação de medo que
o país ainda atravessava e mostrava a preocupação em expressar, do que em construir
alguma coisa.
34
Acompanhe agora um trecho da composição de Caetano Veloso intitulada Tropicália,
se puder tente ouvi-la em casa. Neste texto, o cantor fala sobre o próprio movimento, o
Tropicalismo, e o momento histórico daquele contexto:
Tropicália
sobre a cabeça os aviões
sob os meus pés os caminhões
aponta contra os chapadões
meu nariz
eu organizo o movimento
eu oriento o carnaval
eu inauguro o monumento
no planalto central
do país
viva a bossa sa sa
viva a palhoça ça ça ça ça
(...)
(VELOSO, Caetano. Literatura Comentada. Org. Paulo Franchetti e Alcyr Pécora.
São Paulo: Nova Cultural, 1987).
Aparece, também, na literatura contemporânea, com expressividade, a literatura
infanto-juvenil e a de mulheres, como Lygia Fagundes Telles (cronologicamente também
ligada à geração de 45) e Lygia Bojunga Nunes. As crônicas do cotidiano, tais quais as de
Rubem Braga e as de Fernando Sabino, e os contos de Rubem Fonseca são característicos
desta nossa literatura.
De 1956 até hoje, inúmeros autores trouxeram suas contribuições à nossa literatura.
Alguns desses nomes podem ser observados a seguir: Augusto de Campos, Haroldo de
Campos, Décio Pignatari, Ferreira Gullar, Mário Chamie, Torquato Neto, Lygia Fagundes
Telles, Osman Lins, Mário Quintana, Murilo Rubião, Fernando Sabino, Rubem Braga, Dalton
Trevisan, Autran Dourado, Otto Lara Resende, Manoel de Barros, José J. Veiga, João
Antônio, Ricardo Ramos, Sérgio Porto, Antônio Callado, Adonias Filho, Rubem Fonseca,
João Ubaldo Ribeiro, Luís Fernando Veríssimo, Ignácio de Loyola Brandão, Nélida Piñon,
Lya Luft e Carlos Heitor Cony.
ACREDITAMOS QUE O ESTUDO DA LITERATURA GERAL
APRESENTADO SERVIRÁ DE REFERENCIAL PARA O TRABALHO
COM A LÍNGUA PORTUGUESA EM SALA DE AULA. ALÉM DISSO,
ATRAVÉS DESTA, SERÁ DESENCADEADA UMA REFLEXÃO EM
TORNO DO APROFUNDAMENTO DO ESTUDO DA LITERATURA
INFANTO-JUVENIL, INSTRUMENTO LÚDICO, QUE TORNA A AULA
DE LÍNGUA MATERNA MAIS RICA E PRAZEROSA.
35
Atividades
Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
Complementares
ESTUDO COMPARATIVO DE TEXTOS
TEXTO I
CANÇÃO DO EXÍLIO
Gonçalves Dias
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossas vias mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho – à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem Palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
TEXTO II
AQUARELA DO BRASIL
Ary Barroso (1939)
(traditional version)
Brasil, meu Brasil brasileiro
Meu mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
O Brasil, samba que dá
Bamboleio que faz gingá
O Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil! Brasil!
Prá mim... prá mim...
Ô, abre a cortina do passado
Tira a mãe preta do serrado
Bota o rei congo no congado
Brasil! Brasil!
Deixa cantar de novo o trovador
36
A merencória luz da lua
Toda a canção do meu amor
Quero ver a “sá dona” caminhando
Pelos salões arrastando
O seu vestido rendado
Brasil! Brasil!
Prá mim... prá mim...
Brasil, terra boa e gostosa
Da morena sestrosa
De olhar indiscreto
O Brasil, verde que dá
Para o mundo se admirá
O Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil! Brasil!
Prá mim... prá mim...
Ô, esse coqueiro que dá côco
Ôi onde amarro a minha rêde
Nas noites claras de luar
Brasil! Brasil!
Ô, ôi essas fontes murmurantes
Ôi onde eu mato a minha sede
E onde a lua vem brincá
Ôi, esse Brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil brasileiro
Terra de samba e pandeiro
Brasil! Brasil!
1.
Prá mim... prá mim...
O texto I foi escrito no período do Romantismo, por Gonçalves Dias, e deixa evidente
o amor do poeta pelo nosso país. O texto II é uma canção escrita por Ari Barroso, no início
do século XX e declara este mesmo amor ressaltando outros pontos de nossa nação.
Identifique alguns elementos que foram citados sobre o Brasil, no texto II, que não constam
no texto I e que também podem ser vistos como marcas de enaltecimento para o Brasil.
2.
Se você fosse Gonçalves Dias e tivesse a oportunidade de escrever, hoje, um texto
homenageando o Brasil, você acha que ele escreveria da mesma forma? Por quê? O que
você acha que ele tomaria como elementos de homenagem ao Brasil na atualidade?
3.
Comente sobre a diferença entre a linguagem de Gonçalves Dias, no século XIX
(Coimbra, julho de 1843), e a linguagem da música. Que semelhanças na forma de dizer,
que diferenças, o que fora atualizado na língua do período até os nossos dias.
37
A PEDRA DE DRUMMOND E A PRÁTICA DA SALA DE AULA
Leia o texto abaixo:
Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
O MEIO DO CAMINHO
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.
1.
(Carlos Drummond de Andrade)
Escreva um pequeno texto relatando as suas impressões sobre este poema de
Drummond. Seu texto deve ser pautado na sua percepção pedagógica, explicando como
ele poderia ser aproveitado em sala de aula no enriquecimento da aula ou como fonte
geradora de projetos de produção textual.
38
ESTUDO COMPARATIVO: TEXTO E IMAGEM
ATENÇÃO!
Observe a imagem abaixo. É uma tela de Basquiat, gênio de origem humilde que
saiu de casa ainda adolescente para viver nas ruas de Manhattan, Nova Yorque. Seu sucesso
instantâneo deveu-se em parte ao auxílio de artistas como Andy Warhol, de quem se tornou
amigo. Quando morreu, aos vinte e sete anos de idade, deixou um impressionante volume
de obras artísticas. Sua grandeza reside na habilidade para integrar as culturas americana
e africana, no amor pela cultura pop e em sua extraordinária linguagem visual.
Agora, leia a letra da música BIENAL de Zeca Baleiro, poeta contemporâneo que
tem como característica maior o trabalho com a diversidade de ritmos e gêneros musicais
envolvidos. Esse fato faz desse músico um dos cantores que sabem valorizar a terra onde
vive. Suas canções vão do simples ao rock pesado, passando pelo samba, embolada,
balada, baião, reggae, pagode, blues, etc. Baleiro não costuma dar rótulos ao tipo de música
que toca. Para ele, o universo musical brasileiro é muito mais abrangente do que isso.
Bienal
Zeca Baleiro
Composição: Zeca Baleiro / Zé Ramalho
Desmaterializando a obra de arte do fim do milênio
Faço um quadro com moléculas de hidrogênio
Fios de pentelho de um velho armênio
Cuspe de mosca, pão dormido, asa de barata torta
Teu conceito parece, à primeira vista,
Um barrococó figurativo neo-expressionista
Com pitadas de arte nouveau pós-surrealista
Ao cabo da revalorização da natureza morta
Minha mãe certa vez disse-me um dia,
Vendo minha obra exposta na galeria,
"Meu filho, isso é mais estranho que o cu da gia
E muito mais feio que um hipopótamo insone"
39
Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
Pra entender um trabalho tão moderno
É preciso ler o segundo caderno,
Calcular o produto bruto interno,
Multiplicar pelo valor das contas de água, luz e telefone,
Rodopiando na fúria do ciclone,
Reinvento o céu e o inferno
Minha mãe não entendeu o subtexto
Da arte desmaterializada no presente contexto
Reciclando o lixo lá do cesto
Chego a um resultado estético bacana
Com a graça de Deus e Basquiá
Nova York, me espere que eu vou já
Picharei com dendê de vatapá
Uma psicodélica baiana
Misturarei anáguas de viúva
Com tampinhas de pepsi e fanta uva
Um penico com água da última chuva,
Ampolas de injeção de penicilina
Desmaterializando a matéria
Com a arte pulsando na artéria
Boto fogo no gelo da Sibéria
Faço até cair neve em Teresina
Com o clarão do raio da siribrina
Desintegro o poder da bactéria
Com o clarão do raio da siribrina
Desintegro o poder da bactéria
Agora, compare o texto literário da poesia de Zeca Baleiro com o texto visual da
obra de Basquiat. O que há de comum entre eles? O que há de diferente?
É a sua vez de brincar de artista. Escolha a linguagem que preferir: poema, desenho,
crônica, cordel, etc., abuse da criatividade e apresente a sua interpretação desse estudo
comparado da foma mais criativa possível.
Leirura Recomendada
“LITERATURA BRASILEIRA” - DAS ORIGENS AOS NOSSOS DIAS
“Literatura Brasileira" - das origens aos nossos dias, continua sendo um grande
aliado tanto de professores quanto de alunos, que encontram nele um material
consistente e completo, ricamente ilustrado, cujas grandes marcas são o trabalho
com a intertextualidade e os painéis de época, que trazem o contexto histórico-artístico
de algumas das principais escolas literárias, além dos capítulos que já haviam sido
inseridos na última reedição.
NICOLA, Jose de. Literatura Brasileira (Das Origens Aos Nossos Dias). Editora Scipione: São Paulo, 2004.
40
Filme Recomendado
MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS
Um grande clássico da literatura brasileira transformado em filme.
Após ter morrido, em pleno ano de 1869, Brás Cubas (Reginaldo Faria) decide
por narrar sua história e revisitar os fatos mais importantes de sua vida, a fim de se
distrair na eternidade. A partir de então, ele relembra de amigos como Quincas Borba
(Marcos Caruso), de sua displicente formação acadêmica em Portugal, dos amores de
sua vida e ainda do privilégio que teve de nunca ter precisado trabalhar em sua vida.
FICHA TÉCNICA
Título Original: Memórias Póstumas
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 101 minutos
Ano de Lançamento (Brasil): 2001
Site Oficial: www.memoriaspostumas.com.br
Estúdio: Cinemate Material Cinematográfico / Cinematográfica Brasileira / IPACA/
Lusa Filmes / PIC-TV / Secretaria de Estado da Cultura / Superfilmes
Distribuição: Lumière
Direção: André Klotzel
Roteiro: André Klotzel, baseado em livro de Machado de Assis
Produção: André Klotzel
Música: Mário Manga
Fotografia: Pedro Farkas
Desenho de Produção: Marjorie Gueller
Direção de Arte: Adrian Cooper
Edição: André Klotzel
LITERATURA E PRÁTICA EDUCATIVA NO
ENSINO FUNDAMENTAL
LITERATURA INFANTO-JUVENIL: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E PRÁTICOS
História da Literatura Infanto-Juvenil
Você já parou para pensar de onde veio a Literatura
Infanto-Juvenil?
Quem foram os primeiros contadores
de histórias?
E o que veio primeiro: a história lida ou
a história contada?
Wiliam Shakespeare
41
A célula máter da literatura infanto-juvenil pode ser encontrada na
Novelística Popular Medieval que tem suas origens na Índia. Descobriram que
desde essa época a palavra impôs-se ao homem como algo mágico, como
um poder misterioso, que tanto poderia proteger, como ameaçar, construir ou
Fundamentos destruir. São, também, de caráter mágico ou fantasioso, as narrativas
e Didática conhecidas, hoje, como literatura primordial. Nelas foi descoberto o fundo
da Língua fabuloso das narrativas orientais, que surgiram séculos antes de Cristo e
Portuguesa difundiram-se por todo o mundo, através da tradição oral.
A primeira obra realmente direcionada ao público infantil foi uma
coletânea de cantigas infantis publicada por Mary Cooper em 1744. O seu exagerado título
era: “Para todos os pequenos senhores e senhoritas, para ser cantado para eles por suas
babás até que possam cantar sozinhos”. Uma segunda coletânea era intitulada “Melodia da
Mamãe Gansa”, provavelmente do livreiro John Newbery - 1760, por isso ele é considerado
o precursor na descoberta e exploração do mercado de livros para crianças.
Com a ascensão da família burguesa, do novo "status" concedido à infância na
sociedade e da reorganização da escola, aparece a Literatura Infanto-Juvenil que traz
características próprias. Sua força surge, antes de tudo, por estar associada com a
Pedagogia, já que as histórias tinham o firme propósito de ensinar.
É a partir do século XVIII que a criança passa a ser considerada um ser diferente do
adulto, com necessidades e características próprias, distanciando-se desta forma da vida
dos mais velhos e recebendo uma educação especial, que a preparasse para a vida adulta.
É importante distinguir a literatura propriamente infantil da ficção adaptada, esta última
servindo-se de grandes produções da Literatura Geral. Essas obras sofrem uma releitura e
acomodam-se a linguagem e maturidade das crianças, a fim de oferecer-lhes o conhecimento
das mesmas e, sem dúvida, alargar-lhes o horizonte cultural.
Obras como Dom Quixote, de Cervantes não se destinam intencionalmente às
crianças, assim como as lendas de que compõe as mitologias clássicas e pagãs. Monteiro
Lobato, para citar um exemplo, adaptou para a versão infantil, textos dessa densidade: "D.
Quixote das Crianças", "Hans Staden", "Minotauro" e "Os Doze Trabalhos de Hércules”.
A literatura infantil tem o seu ponto de partida, sob o aspecto de consagração universal,
na França do século XVII. E vamos encontrar essa consagração na obra fantasiosa de
Perrault e na obra de caráter didático de Fénelon.
CHARLES PERRAULT (1628-1703), COLHENDO E ADAPTANDO AS
LENDAS E NARRAÇÕES ORIUNDAS DA TRADIÇÃO E DO FOLCLORE,
IMORTALIZOU-SE ATRAVÉS DE CONTOS MARAVILHOSOS COMO O DO
GATO DE BOTAS E O DA GATA BORRALHEIRA, SENDO HOJE
CONSIDERADO AUTOR CLÁSSICO DO GÊNERO, AO LADO DE ANDERSEN
E DOS GRIMM. O PRIMEIRO LIVRO DE PERRAULT DATA DE 1697.
FÉNELON (1651-1715). SUAS QUALIDADES PEDAGÓGICAS FORAM
APLICADAS NA EDUCAÇÃO DO DUQUE DE BORGONHA, NETO DO REI
LUÍS XIV. EM "TELÊMACO" SUA OBRA MAIS FAMOSA, RELATA AS
AVENTURAS DO FILHO DE ULISSES. NOTAMOS QUE O AUTOR,
DISFARÇADO NA FIGURA DE MENTOR, SERVIA-SE PARA ENSINAR AO
DUQUE OS DEVERES DE UM PRÍNCIPE.
42
Mas, há ainda inúmeros autores da literatura infanto-juvenil que merecem destaque,
são eles:
• La Fontaine (1621-1695). O clássico moderno das fábulas. Adaptadas, elas
constituem o encanto da garotada.
• Mme. D'Aulnoy, cujo nome real é Maria Catarina Jumel de Berneville. A condessa
D'Aulnoy foi autora de contos de fadas muito populares, como "O Delfim", "A Ave
Azul", "A Bela dos Cabelos de Ouro" etc. Faleceu em 1705.
No século XVIII, nós temos:
• Jonathan Swift (1667-1745), com suas "Viagens de Gúliver".
• Daniel Defoe (1660-1731), com o "Robinson Crusoe".
• Mme. Leprince de Beaumont (1711-1780), cuja obra denuncia preocupação
educativa. Entre suas produções salientamos "A Fada das Ameixas", "A Bela e a
Fera", "O Príncipe Encantado", "Loja dos Adolescentes", "O Manual da Juventude".
• Mme. de Genlis (1749-1830). Deixou-se influenciar por Rousseau. Assumindo
atitude realista, procurou banir a fantasia, substituindo-a por assuntos de natureza
informativa e científica.
• Berquin (1749-1791). Fiel discípulo de Rousseau e considerado por muitos o
verdadeiro fundador da literatura infantil. Sua obra fundamenta-se na realidade e
não na ficção imaginosa. "Literaturas Escolhidas", série de contos vários, constitui
um de seus trabalhos mais apreciados.
No século XIX, destacamos:
HANS CHRISTIANO ANDERSEN (1805-1875). O ESCRITOR E
POETA DINAMARQUÊS É, SEM DÚVIDA, UM DOS MAIS SENSÍVEIS E
DEDICADOS ESCRITORES DO GÊNERO. EM SEU ESTILO ESTÁ
SEMPRE PRESENTE A POESIA, QUE DENOTA SUAVE E CONTAGIANTE
TERNURA. É AUTOR DE 156 CONTOS MARAVILHOSOS, ENTRE OS QUAIS
FIGURAM "O PATINHO FEIO" (AUTOBIOGRÁFICO), "O CARACOL E A
ROSA", "O PINHEIRO", "O ROUXINOL", "A SEREIAZINHA", "O SOLDADINHO
DE CHUMBO", "A ROUPA NOVA DO IMPERADOR", "A PEQUENA
VENDEDORA DE FÓSFOROS", "SAPATINHOS VERMELHOS" ETC.
IRMÃOS GRIMM, QUE SÃO LUÍS JACOB (1785-1863) E GUILHERME
CARLOS (1786-1859). ALÉM DE FILÓLOGOS E LEXICÓGRAFOS, FORAM
OS PIONEIROS DOS ESTUDOS FOLCLÓRICOS. OS CONTOS QUE
ESCREVERAM E OS CELEBRIZARAM, EMANAM DIRETAMENTE DAS
FONTES PRIMITIVAS E GENUÍNAS DA TRADIÇÃO E SABER POPULAR.
PUBLICARAM "CONTOS POPULARES" E "LENDAS ALEMÃS".
43
Além de Andersen e dos Grimm, outros autores merecem destaque:
Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
• Frances Hodon Burnet é o autor de "O Pequeno Lorde", conhecida
obra de conteúdo romântico.
• Collodi, cujo verdadeiro nome é Carlos Lorenzini, imortalizou-se com
seu boneco de pau, o "Pinocchio".
• Edmundo de Amicis deixou-nos o primoroso "Cuore".
• Charles Dickens pode ser aqui representado com seu "David Copperfield".
• Mattew J. Barrie, escritor escocês, criador de "Peter Pan", símbolo da infância
eterna, corporificado no menino que não quis crescer.
• Condessa de Ségur, autora de obras bem conhecidas como "Memórias de um
Burro", "Que Amor de Criança!", "As Férias", etc.
• Lewis Carrol, pai da célebre "Alice no País das Maravilhas", obra de crítica ao
esnobismo de uma época, e impregnada daquilo que os ingleses chamam de
"nonsense".
• Mark Twain, com seu "Tom Sawyer".
• Fenimore Cooper, com o "O Último dos Moicanos", "O Corsário Vermelho" etc.
• Lyman Frank Baum, imortalizado com seu "Mágico de Oz".
• Rudyard Kipling, que também nos deu excelentes fábulas com seus curiosos
"Jungle Books" e aventuras atraentes como no "Kim".
• Selma Lagerlof, ganhadora do prêmio Nobel. É chamada a "rainha da fantasia
sueca".
• Júlio Verne, autor de obras engenhosas e ao mesmo tempo instrutivas. Sua ficçãocientífica popularizou-se em trabalhos como "Vinte Mil Léguas Submarinas", "A
Ilha Misteriosa", "Cinco Semanas em Balão", "A Volta ao Mundo em 80 Dias", "Os
Filhos do Capitão Grant".
• Otávio feuillet, com o "Polichinelo".
• Maeterlink, admirável escritor belga, estilizador do famoso "Pássaro Azul".
• Tchekov, com os "Álbuns de Contos Russos".
• Alex Pusckin, grande escritor poeta romântico, com seus contos melancólicos e
ternos, como: "O Pescador e o Peixinho", "A Princesa Morta e os Sete Cavalheiros”.
• Ivan Krylov escreveu fábulas, calcadas em Esopo e Fedro. É considerado o La
Fontaine russo.
• Antoine Exupéry , criador de "O Pequeno Príncipe", verdadeira obra-prima de
lirismo e sutileza crítica.
Esses são grandes nomes da literatura infanto-juvenil, homens e mulheres que
contribuíram para que as crianças tivessem a oportunidade de ampliar, transformar e
enriquecer suas vidas. Dessa forma, é preciso atentar para o fato de que essa literatura nos
foi apresentada não só como veículo de manifestação de cultura, mas também de ideologias
de quem as escreveu.
Por iniciar o homem no mundo literário, a literatura infantil deve ser utilizada como
instrumento para a sensibilização da consciência, para a expansão da capacidade e interesse
de analisar o mundo. Assim sendo, é fundamental perceber que a literatura deve ser
encarada, sempre, de modo global e complexo em sua ambigüidade e pluralidade.
44
Para refletir...
Reflita sobre estas questões:
Como v
ocê ffoi
oi intr
oduzido no m
undo da
você
introduzido
mundo
Literatura Infanto-Juvenil?
Você costuma tr
ansmitir a paixão pela liter
a tur
a Inf
anto-Juv
enil
Infanto-Juv
anto-Juvenil
transmitir
litera
tura
entre as crianças que estão próximas de você?
Leitura de texto literário é um direito ou um dever?
Daniel Pennac, em seu livro “Como um Romance”, da editora Rocco, discute um
pouco essas questões e nos ajuda a perceber que o verbo ler, assim como o verbo amar,
não aceita imperativo. É preciso incentivar a paixão pela Literatura Infanto-Juvenil desde a
mais tenra idade, mas é necessário, também, não criar uma aura de obrigação em torno
dos clássicos para que o público infanto-juvenil não se afaste de textos tão importantes
para o desenvolvimento do imaginário humano.
Direitos do Leitor
Você sabia que os Direitos imprescritíveis do leitor são:
O direito de não ler.
O direito de pular páginas.
O direito de não terminar um livro.
O direito de reler.
O direito de ler qualquer coisa.
O direito ao "bovarismo" (doença textualmente transmissível).
O direito de ler em qualquer lugar.
O direito de ler uma frase aqui e outra ali.
O direito de ler em voz alta.
O direito de calar.
(Extraído de "Como um Romance", de Daniel Pennac, editora Rocco).
45
A Classificação da Literatura Infanto-Juvenil
Antes de abrirmos a próxima discussão, vale a pena refletir:
Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
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1 Existe uma literatura para criança? Se existe, a criança não
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pode ler um texto escrito para o adulto?
Os livros escritos para crianças podem ser lidos para elas em
qualquer idade?
3 Podemos afirmar que existe uma Literatura Infanto-Juvenil ou
tudo é apenas Literatura?
Até bem pouco tempo, ainda no século XX, a literatura infanto-juvenil era considerada
como um gênero secundário e vista pelo adulto como algo no mesmo nível que o brinquedo
ou como forma de entretenimento. A valorização da literatura infanto-juvenil, como formadora
de consciência dentro da vida cultural das sociedades, passou a acontecer a bem pouco
tempo.
Sendo assim, é preciso pensar nessa arte e, investir na relação entre a interpretação
do texto literário e a realidade. Para isso, não há melhor sugestão do que obras infantis que
abordem questões de nosso tempo e problemas universais, inerentes ao ser humano.
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"INFANTILIZAR" AS CRIANÇAS NÃO POSSIBILITA A FORMAÇÃO
DE CIDADÃOS CAPAZES DE INTERFERIR NA ORGANIZAÇÃO DE UMA
SOCIEDADE MAIS CONSCIENTE E DEMOCRÁTICA.
Para isso, é necessário organizar o trabalho com a literatura infanto-juvenil a partir
de um repertório que pode ser classificado de acordo com vários critérios, dos quais
salientamos dois:
1. DE ACORDO COM A IDADE;
2. DE ACORDO COM AS ESPÉCIES E GÊNEROS LITERÁRIOS.
DE ACORDO COM A IDADE
Fase Pré-Escolar ou Pré-Mágica:
• Período maternal (dos 2 aos 4 anos )
• Período Pré-Primário (dos 4 aos 6 anos)
O período maternal é a fase pré-mágica. Nesse período, o mundo da criança limitase ao ambiente em que ela vive. Sua imaginação se acha ainda latente, e por isso, somente
os seres, as coisas e as pessoas com que convive, podem ocupar-lhe a atenção.
No período denominado pré-primário, que se inicia aos 4 anos, a criança entra na
fase mágica e a fantasia aparece de forma criadora e atuante. Abrange os 3 períodos: o 1.º
aos 4 anos; o 2.º aos 5; e o 3.º aos 6 anos.
Neles já entram as narrações clássicas, como as estórias de Dona Baratinha, Os
Três Porquinhos, Chapeuzinho Vermelho etc.
46
Fase Escolar:
• 1.º Período (dos 7 aos 8 anos)
• 2.º Período (dos 8 aos 9 anos)
• 3.º Período (dos 9 aos 10 anos)
Na fase escolar a criança começa o aprendizado da leitura, que ocorre, geralmente,
nas escolas primárias. O enredo gira em torno de histórias de animais, de aventuras e de
encantamento, desperta o interesse pelos conflitos e lances culminantes que chamam a
sua atenção.
Fase preparatória (dos 10 aos 12 anos)
Idade Juvenil
Fase da adolescência (dos 13 aos 18 anos)
Nesta fase, o adolescente começa a demarcar os seus gostos. Ainda costumam se
entreter com as histórias de aventura, mas são as relações de gênero que demarcam com
maior propriedade os gostos literários nesse período da vida desses leitores.
CONFORME AS ESPÉCIES E GÊNEROS LITERÁRIOS
A literatura infantil comporta as mesmas espécies e gêneros da Literatura Geral,
sendo assim, há modalidades em prosa (contos, novelas, romances, fábulas, apólogos,
peças teatrais etc.) e em verso (narrativas ritmadas ou rimadas como os romances, as
parlendas, e todas as composições que compõem o patrimônio da chamada "poesia
infantil").
Destacaremos algumas espécies, que informam particularmente características de
textos infantis.
Contos de Encantamento - são narrações em que ocorrem fatos extraordinários
ou inverossímeis, tais como as metamorfoses fantásticas, sortilégios estranhos, fórmulas
cabalísticas, talismãs invencíveis, etc. Enfim, é impossível, a mágica e o imprevisto
acontecendo. Podemos exemplificar os contos de encantamento com: "Aladim e a Lâmpada
Maravilhosa, "O Pássaro de Ouro", "A Bela Adormecida no Bosque", "A Gata Borralheira",
"O Pescador e o Gênio", etc. Numa dessas ficções basta uma senha ser proferida para que
algo incrível ocorra. É o caso do Ali Babá com o seu "Abra-te, Sésamo!", palavra-chave que
remove o obstáculo que impede a entrada na caverna dos tesouros. Numa outra, é um sapo
que depois de beijado por uma bela princesa se transforma num príncipe encantado em
47
como “A Princesa e a Bola de Ouro”. Naquela outra, uma linda donzela, ao ser
espetada na cabeça por um alfinete, vira uma pomba branca, e numa pomba
que fala, como sucede na "Moura Torta".
Fundamentos
e Didática
Contos de Fadas - são também contos de encantamento, nos quais
da Língua
Portuguesa as fadas ocupam lugar de destaque.
MAS
AD
AS?
MAS,, O QUE SÃO F
FAD
ADAS?
O TERMO REMONTA AO GREGO, COM A SIGNIFICAÇÃO DE "BRILHO",
"FULGOR", TENDO CHEGADO ATÉ NÓS PELO LATIM ATRAVÉS
DE "FATUM", A QUE SE PRENDEM NA MESMA FAMÍLIA
ETIMOLÓGICA, OUTRAS PALAVRAS COMO: FADO, FATAL,
FATALIDADE, FÁBULA, ETC. A PALAVRA "FADA" AINDA INTEGRA
O LÉXICO EM EXPRESSÕES DE SENTIDO DELICADO E
LAUDATÓRIO: TRABALHO DE FADA, MÃOS DE FADA, DEDOS
DE FADA, ETC.
As fadas, conforme as lendas que as inspiram, dispõem de poderes mágicos. De
preferência, elas os utilizam para beneficiar um afilhado, ou seja, um indivíduo que, ao nascer,
lhes é confiada a proteção. Podem atribuir-lhe dons admiráveis, como riqueza, beleza, fortuna,
poder, etc. São responsáveis, assim, pelo desenrolar de um destino, e daí a origem do
nome latino "fatum", - destino.
Estórias Acumulativas - São narrações em que os episódios sucedem-se
consecutivamente encadeados, numa seqüência pela qual os casos
anteriores se repetem face à representação de outro. Os casos
acumulam-se, então, gradualmente até o desfecho, que afinal
refere-se ao próprio início da narrativa. O exemplo comum dessa
espécie você pode encontrar na estória da formiguinha, cujo pé
ficou preso na neve. São estórias que agradam, particularmente,
a crianças novas, pois sua técnica baseada na repetição possibilita
maior facilidade ao acompanhamento do enredo.
Estórias de Aventuras - Narrações entremeadas de acidentes e episódios
empolgantes pelo qual passam personagens destacadas, centralizadas na figura de heróis,
caso seja mais de um. O assunto dessa espécie é bem
variável: ora se prende a lances épicos e dramáticos (como
no caso de cavaleiros medievais de marinheiros e piratas, de
vaqueiros e bandoleiros, de espadachins, etc.), ora a casos
envolvendo enigmas e surpresas (como nas narrativas de
mistério e nos contos policiais), por vezes a fatos simplesmente
engraçados ou curiosos (como nas ficções de fundo cientista
ou nas de conteúdo humorístico).
48
Fábulas - Narrações que visam explicar a origem
de certas particularidades de um ser ou coisa. Por exemplo,
o porquê da rivalidade ou animosidade entre animais como
o cão e o gato, o motivo da existência do rabo nos macacos,
a razão pela qual a goela da baleia é estreita, etc. Uma
fábula bastante conhecida é "A Festa no Céu", que nos
informa a causa do aspecto característico do couro do sapo,
tão salpicado à maneira de remendos.
É importante conhecer a classificação da literatura infanto-juvenil, porém, é
imprescindível pensar em como despertar nas crianças, jovens e adultos o gosto e a
valorização por este tipo de texto.
Pensando dessa forma, a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro distribuiu um folheto
informativo divulgando algumas maneiras de incentivar a leitura em casa. São dicas que
podem ser acrescidas por ações que você já desenvolve. Algumas se referem à leitura de
modo geral, mas muitas podem ser adaptadas para despertar o gosto pela literatura infantojuvenil.
COMO INCENTIVAR A LEITURA EM CASA
OS PAIS SÃO OS PRIMEIROS – E OS MAIS
IMPORTANTES – PROFESSORES DAS CRIANÇAS.
POR ISSO, AQUI ESTÃO NOVE MANEIRAS DE VOCÊ
AJUDAR O SEU FILHO A SE TORNAR UM BOM LEITOR.
A.
Leia sempre. Ações significam mais do que palavras. Quando seus filhos o vêem
lendo um jornal ou folheando um livro, vão querer seguir o seu exemplo;
B.
Incentive o seu filho a ler todos os dias. Ler – como praticar esportes ou tocar
piano – pressupõe exercício. Pesquisas revelam que crianças que despendem
pelo menos 30 minutos do dia lendo por lazer – livros, jornais ou revistas –
desenvolvem essa prática e tornam-se bons leitores na escola;
C.
Incentive em seus filhos o hábito de freqüentar bibliotecas, livrarias e bancas de
jornal. Enquanto estiver numa livraria ou numa banca de jornal, manuseie livros,
jornais e revistas na presença deles;
Leia em voz alta para os seus filhos. Esse ato ajuda os filhos a se tornarem bons
leitores. Portanto:
D.
• Comece a ler para os seus filhos desde pequenos. Nunca é cedo para começar a ler para as
crianças;
• Reserve um tempo do seu dia para ler alto – 10 (dez) minutos podem produzir um grande im-
49
continuando...
Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
pacto. A hora de dormir é o momento propício para a leitura em voz alta. Algumas
têm hábito de ler no café da manhã ou logo após o jantar;
• Não pare de ler para os seus filhos porque eles cresceram. Ambos se sentirão
satisfeitos de fazerem algo importante juntos e descobrirão novas oportunidades
de convívio;
• Leia os livros de que você realmente gosta. Seus filhos perceberão se estiverem
tapeando;
Use o jornal para incentivar a leitura. Dê a seu filho uma lista de coisas para ele
procurar no jornal do dia. Algumas idéias:
E.
• O mapa do Brasil ou do Estado em que mora;
• A foto do atleta favorito dele;
• A temperatura da cidade onde se encontra um parente;
• Três palavras que começam por M;
• Um filme que esteja passando num cinema próximo de casa.
F.
Oriente seus filhos nas pesquisas escolares. Não faça o trabalho para eles. Ensineos a procurar em enciclopédias, livros e jornais informações de que necessitem;
G.
Dê livros de presente. Depois, indique um lugar especial para que seus filhos os
guardem e conservem, formando a biblioteca deles;
H.
Faça da leitura um privilégio. Você pode dizer: “Como você me ajudou a lavar o
carro, estou com tempo para ler esta história”. Ou: “Você pode ficar acordado
mais 15 (quinze) minutos esta noite, se for ler na cama”;
I.
Ainda que você não seja um bom leitor, pode encorajar seus filhos a sê-lo. Peça a
eles para lerem para você. Fale dos livros que leram. Peça a amigos ou parentes
para ler alto para seus filhos.
Literatura Infanto-Juvenil e Habilidades de Leitura
Quando pensamos em formação do sujeito-leitor são muitas as idéias, reflexões e
inquietações que afloram sobre o processo de ensino-aprendizagem da leitura literária no
espaço escolar. Sabemos que livros e histórias auxiliam o educando em seu desenvolvimento
cognitivo e afetivo, em especial, quando isso acontece através da exploração da linguagem
enquanto representação simbólica nas várias oportunidades em que o leitor estabelece
relações entre texto lido e suas experiências particulares.
Além disso, percebemos o quanto é preciso discutir acerca das dificuldades que o
educando enfrenta ao ser introduzido no mundo da leitura e como, infelizmente, a escola
tem desfavorecido o encontro de seus alunos com o texto literário, ao empregá-lo como
pretexto para diferentes conteúdos curriculares e ao fazer uso de estratégias mecânicas de
leitura. Embora muitos equívocos sejam cometidos, o que todo educador de fato deseja é
que o sujeito leia, aprenda a ler e viva lendo.
Mas... como?
50
O QUE É NECESSÁRIO P
ARA A FORMAÇÃO DE
PARA
UM LEITOR PROFICIENTE?
Sem deixar de lado os aspectos afetivos e relacionais que envolvem o ato da leitura,
como a parceria entre o imaginário do texto e o imaginário do leitor, cabe esboçar uma
prática pedagógica a partir da compreensão do processo múltiplo que é a própria construção
do ato de ler, tentando "ver o detalhe" de cada face, fase, etapa ou movimento que impulsiona
o leitor rumo à revelação do texto e seus muitos sentidos. Movimento que é mesmo uma
ação (aproximação, interpretação) e envolve um saber-fazer.
Sendo um saber, a leitura é algo possível de ensinar e aprender -- o que pode soar
como óbvio, mas exige do professor atenção redobrada sobre seu processo. Seguindo os
eixos norteadores dos PCN, em diversos momentos, podemos promover a Análise e
Reflexão sobre a Linguagem, ao trabalhar conteúdos de Língua Escrita - Leitura, o que
permite que a atividade ganhe um sentido mais amplo.
É importante que, através das situações vivenciadas em sala de aula, o educando
sinta-se como alguém hábil em aprender a aprender, processualmente. De tal modo, as
questões direcionadas a ele devem primar:
• Pelo desafio possível de ser vencido;
• Pela clareza;
• Pela articulação que evidencie um caminho lógico e seguro para sua inteligência.
Mas, ouvimos, ainda, reclamações sobre a falta de motivação de nossos alunos em
relação ao desejo de aprender. Certamente, para que os educandos tenham interesse e
passem a compreender melhor as propostas de que são parceiros, primeiramente têm o
direito de saber o que se pretende, isto é, conhecer os objetivos para a realização de uma
atividade. Com isso, talvez consigam sentir e pressentir que suas ações preencherão uma
necessidade:
• Necessidade de saber;
• Necessidade de realizar e realizar-se;
• Necessidade de formar-se e se informar;
• Necessidade de dar vazão ao próprio imaginário represado (diante de textos
literários).
Para que essas necessidades sejam atingidas, é preciso perceber que as
competências gerais (apresentadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais), como certos
níveis de raciocínio lógico, inteligência e memória, são o que permitem e franqueiam o
sucesso que o educando sentirá durante o seu processo de formação como leitor. Assim,
dosar atividades para atender a esse sujeito, pensar estrategicamente a aprendizagem
para não estabelecer conteúdos e ações nos limites de um nível muito baixo ou alto demais,
é tarefa do professor em sua atuação. Sobretudo porque as estratégias também são
aprendidas pelos alunos, afinando e sintonizando sua leitura e compreensão do mundo.
LITERATURA É APRENDIZAGEM SOMENTE QUANDO NOS
MOSTRA QUE HÁ O DIFERENTE, A VARIEDADE E NOVAS
POSSIBILIDADES DE DESCOBERTA, DANDO-NOS, DE UM ALGUM
JEITO, ALGO QUE JÁ ESPERÁVAMOS.
51
A Arte de Narrar
É hora de rememorar histórias:
Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
1) Quando pequeno você costumava ouvir histórias? Quem as narrava?
2) Você ainda lembra da primeira história que lhe contaram? Qual foi?
3) Você acha que existe relação entre ouvir histórias e gostar de ler?
NARRAR HISTÓRIAS É COMO TECER. NÃO O FIO DA MEMÓRIA, MAS
O DA VIDA. ENQUANTO O TEMPO PASSA, MANTÊ-LO PARADO, NA
IMERSÃO DAS MUITAS HISTÓRIAS QUE OUVIMOS, RETOMADAS FIO A
FIO, GERAÇÃO A GERAÇÃO, COMO OS GALOS QUE JOÃO CABRAL (MELO
NETO, 1973) FEZ TECEREM A MANHÃ.
TECENDO A MANHÃ
Um galo sozinho não tece uma manhã:
Ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
João Cabral de Melo Neto
Nas narrativas populares são freqüentes os tecelões, as tecelãs, aqueles que tecem.
Por exemplo: Rumpelstiltskin salva a filha do moleiro ao tecer palha e fazê-la virar ouro. A
moça salva da mentira que seu pai inventara - a de que esta transformava palha em ouro casou-se com o rei e, por dívida, teria que dar seu primogênito ao homenzinho que a salvou
da morte.
Embora tenhamos começado a discussão sobre a arte de narrar exaltando a figura
do tecelão, da tecelã, são os camponeses e os marinheiros comerciantes que, com o seu
ofício de contar histórias, atravessam espaço e tempo e instaura as suas narrativas no
52
imaginário dos nossos educandos. Do primeiro grupo – narradores verdadeiros - vieram os
contos de fadas, como forma de resistência aos desmandos dos senhores feudais (Barbosa,
1991). Isto porque os contos de fadas davam bons conselhos, e isso funcionava como ajuda
numa situação de emergência provocada pelo mito. Segundo Benjamin (1936), o conto de
fadas é uma das primeiras medidas que a humanidade tomou para se libertar do mito. É
uma forma de sobreviver à morte, pela narrativa: "e viveram felizes para sempre".
Ainda existem outros narradores, eficazes por seu distanciamento: as mulheres e os
velhos.
As mulheres, contadoras de histórias, fiandeiras, bordadeiras, doceiras, faziam de
suas narrações ofício de transmitir ao outro as histórias oriundas de muitas gerações. Eram
mulheres de mãos cheias e pensamento livre para tecer os relatos da sua memória, como
a Cora Coralina, por exemplo, que com doçura e poesia teceu pedras e versos que
emocionam gerações.
Das Pedras
Ajuntei todas as pedras
que vieram sobre mim.
Levantei uma escada muito alta
e no alto subi.
Teci um tapete floreado
e no sonho me perdi.
Uma estrada,
um leito,
uma casa,
um companheiro.
Tudo de pedra.
Entre pedras
cresceu a minha poesia.
Minha vida...
Quebrando pedras
e plantando flores.
Entre pedras que me esmagavam
Levantei a pedra rude
dos meus versos.
Já os velhos, que numa sociedade capitalista são tidos como
improdutivos, fazem do preconceito que sofrem a liberdade de poder
lembrar. Liberdade que, nas comunidades indígenas, serve como
elemento desencadeador do respeito. Para o velho, a memória é algo
distinto da vida prática: é sonho, fuga, arte, lazer, contemplação. Este,
por findar um ciclo de vida, busca na memória se tornar eterno, através
das muitas histórias deixadas de herança para as novas gerações.
Contar, para o velho, é viver. Seu único sentido em nossa sociedade.
E os narradores homens: que espaço é reservado a eles no
mundo do narrativo? Ao homem, o contar histórias só é permitido se
este for viajante, artesão ou velho. Ao homem jovem, sobra o espaço da produção material,
53
do trabalho. A origem da narrativa está na experiência que passa de pessoa
para pessoa. No mundo moderno, a experiência não é valorizada, por isso, a
narrativa, de tradição oral, perde importância e, junto com ela, os contadores
de histórias. É o homem perdendo a capacidade de ouvir, de narrar, desde o
Fundamentos advento da sociedade burguesa e da difusão da imprensa até os dias de hoje.
e Didática
O mundo pós-moderno carece, e muito, da oralidade, e, tem se
da Língua intensificado, num movimento velado, em torno da ascensão dessa oralidade
Portuguesa pela veia da Literatura Infanto-Juvenil. No caso do Brasil, a Literatura InfantoJuvenil começou a ganhar força ainda na década de 60. Portadora de um
discurso que defendia as idéias das minorias se mostrou terreno livre de censura, porta
para as críticas sociais, difíceis de serem feitas durante o governo militar. Ao falar das minorias
sociais, a literatura infantil brasileira resgatou sua forma de expressão, a oralidade.
Um exemplo belíssimo da utilização da Literatura Infanto-Juvenil é a peça Os
Saltimbancos de Chico Buarque que, retratava a união entre os ditos “mais fracos” para
enfrentarem com coragem os donos do poder:
Junte um bico com dez unhas
Quatro patas, trinta dentes.
E o valente dos valentes
Ainda vai te respeitar
Todos juntos somos fortes
Somos flecha e somos arco
Todos nós no mesmo barco
Não há nada pra temer
- Ao meu lado há um amigo
Que é preciso proteger
Todos juntos somos fortes
Não há nada pra temer
Agora já sabemos, contar é estar em linha, é estar em trança, como Rapunzel: "trança
de gente", senda de história. É saber passado, presente, futuro: num mundo em que o espaço
do masculino vem se restringindo, pois a mulher vem conquistando espaços que antes lhes
eram negados, o contar histórias, tantas vezes atribuído ao feminino (Dona Benta, Sherazade,
Emília...), passa a ser também uma necessidade dos homens. Afinal, numa sociedade que
busca cada vez mais, no mercado de trabalho, trabalhadoras mulheres, os homens muitas
vezes vêem-se responsáveis pela casa, pelos filhos, envolvendo-se com atividades que
exigem a ação tranqüilizadora da narrativa. No mundo pós-moderno, a indefinição dos papéis
sexuais muda os papéis dos casais e dos casamentos: homens e mulheres em busca de
seus gêneros. O que é ser homem e o que é ser mulher na sociedade atual?
O contar, sempre, é relacionado à esfera da paciência. Tinha paciência a mulher que
tecia o fio, Penélope esperando Ulisses com seu manto interminável; tinha paciência o
marítimo que viajava, Ulisses vivendo anos longe de sua Ítaca... E, nesta tecelagem que é a
criação, importa o narrar, o contar. Ameaçado por um mundo de clones e robôs, em que o
homem pós-moderno resgata o ofício de narrar: desta vez, sua própria história em
homepages, em histórias ouvidas e recontadas de muitas formas.
54
Atividades
Complementares
REMEMORANDO A HISTÓRIA DA LITERATURA INFANTO-JUVENIL
A história da literatura infanto-juvenil data de períodos longínquos. Mas, através dessa
arte, crianças e adultos puderam sentir emoção, dor, raiva, medo, paixão e muitos outros
sentimentos.
Retome as leituras feitas neste bloco e responda as questões que seguem:
1.
Qual o título e o autor da obra que consagrou a literatura infantil? E Quando esse fato
ocorreu?
2.
Quais foram os principais autores e suas respectivas obras da literatura infantojuvenil estudadas por você? Relacione-as:
OUVIR HISTÓRIA: UMA ARTE SEM IDADE
Desde os primórdios da humanidade, contar histórias é uma atividade privilegiada
na transmissão de conhecimentos e valores humanos, além de incentivar a imaginação e a
criatividade. Que tal compartilhar com a turma uma experiência inesquecível?
Escolha uma pessoa de sua família e peça que a mesma lhe conte uma história.
Valorize a experiência, busque alguém mais velho, que já tenha ouvido e vivido muitas
narrativas. Depois disso, registre a história no espaço que segue e, se possível, conte para
os seus colegas o que você vivenciou nesse momento mágico.
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UMA CARTA DE AMOR
Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
TODAS AS CARTAS
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Álvaro de Campos, 21-10-1935
56
Que tal voltar a ser criança?
Dirija-se a uma biblioteca infantil ou a qualquer outro lugar onde
você possa ter acesso a um livro de literatura infanto-juvenil. Antes de
escolher, folheie o livro, leia a orelha do mesmo e as suas imagens.
Depois disso, faça a sua escolha de coração, leve para casa o livro
que mais chamou a sua atenção, aquele que, de alguma forma,
dialogou com você.
Em seguida, provocado pelo poema do Fernando Pessoa, leia o livro como se fosse
criança e, em seguida, redija uma carta contando a sua experiência com a literatura InfantoJuvenil.
Não economize imaginação e sentimentos.
Aí vão algumas dicas:
• Fale sobre os personagens;
• Registre emoções e expectativas a cada parte contada;
• Deixe as suas impressões sobre o desfecho da história;
• Não deixe de comentar as ilustrações, elas sempre nos marcam;
Leirura Recomendada
O QUE É QUALIDADE EM LITERATURA INFANTIL E JUVENIL
Você sabe escolher um livro de literatura? Será que identifica quando o mesmo
tem qualidade literária ou não?
Esse livro é uma boa dica para quem não quer errar na hora da escolha.
Este livro nasceu do desejo de se refletir sobre a questão da qualidade em
literatura infantil e juvenil. Para tanto, nada melhor do que ouvir a voz de quem a produz.
Foram reunidos, pela primeira vez em um mesmo livro, alguns dos mais conceituados
escritores brasileiros e portugueses que, através de artigos e depoimentos, apresentam
sua visão sobre este assunto.
Oliveira, Ieda de. O que é Qualidade em Literatura Infantil e Juvenil.
Editora DCL: São Paulo, 2005.
Filme Recomendado
PAGEMASTER, O MESTRE DA FANTASIA
Tyler (Culkin) é um garoto que sabe tudo sobre acidentes e, por causa disso, tem
medo de fazer qualquer coisa que possa colocá-lo em perigo ou que possa machucá-lo.
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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
Certo dia, ao tentar fugir de uma tempestade, Tyler se abriga numa
biblioteca. Mas, como num passe de mágica, o menino é transportado
para o mundo mágico dos livros. Lá, ele conhece três livros e, juntos, eles
enfrentarão as maiores aventuras para fazer com que Tyler retorne para
sua casa em segurança.
FICHA TÉCNICA
Local/Data: EUA - 1994
Tempo de Duração: 80 minutos
Tipo: Animação/Aventura
Direção: Maurice Hunt e Joe Johnston
Com: Macaulay Culkin, Christopher Lloyd, Ed Begley Jr. e outros
Vozes de: Woopi Goldberg, Patrick Stewart e outros
PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA
NO ENSINO FUNDAMENTAL
Planejar é Preciso!
Planejar sempre foi um instrumento imprescindível para as pessoas, esteja ela em
qualquer setor da vida em sociedade: à frente do governo de um país, dirigindo uma grande
empresa, administrando um comércio, organizando uma casa ou comandando uma escola.
Através do planejamento é possível definir o que queremos a curto, médio e longo
prazo; prever situações e obter recursos; organizar atividades; dividir tarefas; avaliar.
Nem sempre enxergamos que o planejamento está presente em nosso dia-a-dia.
Quando vamos ao mercado planejamos para evitar exageros em relação às compras e,
quando vamos ao aniversário de alguém, organizamos melhor a nossa ida para sabermos
como iremos nos vestir, com quem vamos até o local, que presente iremos comprar.
Isso não significa que, através do planejamento, afastaremos os improvisos que fazem
parte da vida e também são esperados.
MAS, E NA ESCOLA, COMO É O PLANEJAMENTO?
•
•
•
•
Uma exigência burocrática de gestores e coordenadores pedagógicos;
Algo que existe para tomar tempo e ser engavetado;
Um documento sem funcionalidade, organizado sem nenhuma reflexão;
Um plano complexo, difícil de ser sistematizado na prática.
Muitas são as reclamações de professores em relação ao tempo que “perdem”
elaborando um plano de trabalho. Na maioria das vezes, eles afirmam, nem chegam a
consultá-lo ao longo do ano.
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UM DOCUMENTO PREPARADO COM ESSA PERSPECTIVA NÃO TEM
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FUNÇÃO NO COTIDIANO, POIS NÃO ATENDE A UMA NECESSIDADE
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PRÁTICA. E O QUE ACABA ACONTECENDO, ENTÃO?
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A sala de aula acaba se tornando um grande espaço de improviso, onde o professor
“resolve na hora” o que colocará em prática com os alunos. Outros professores assumem o
livro didático como único instrumento a ser seguido e, com o argumento da praticidade,
aplicam textos e exercícios sem refletirem sobre o que fazem e, sem levarem em
consideração o que o aluno sabe sobre o que está sendo trabalhado. Outros ainda copiam
todos os anos o mesmo planejamento, pois acreditam que este será engavetado antes
mesmo da sua leitura e, há aqueles que maquiam os planejamentos dos anos anteriores,
mas não atribuem nenhuma mudança significativa nessas alterações. Resultado, no final o
planejamento se torna um grande “faz de conta”.
COMO SERIA, ENTÃO
ANEJ
AMENT
O DE VERD
ADE?
ENTÃO,, UM PL
PLANEJ
ANEJAMENT
AMENTO
VERDADE?
Um planejamento consciente, pautado na ação, reflexão ação, leva em consideração:
•
•
•
•
O tipo de aluno que a escola pretende formar;
As exigências colocadas pela realidade social;
Os resultados de pesquisas sobre aprendizagem;
As contribuições das áreas de conhecimento e da didática.
Para que isso aconteça, é preciso que o professor perceba que o planejamento é
um instrumento de fato – um meio de organizar o trabalho e contribuir para o aprendizado
dos alunos, como no exemplo que segue:
VEJAMOS COMO ISTO ACONTECE COM FÁTIMA,
UMA PROFESSORA DE 1ª SÉRIE
Fátima é professora há dezoito anos e, a cada ano, sente necessidade
de aprimorar seu trabalho. Além disso, apesar de dar aula em duas classes,
sempre achou tempo para ler materiais que considera significativos para
sua prática e, com freqüência, participa de cursos de atualização.
A certa altura, achou que era preciso pensar em uma nova forma de
planejar o trabalho. Compartilhou sua insatisfação com seus colegas e, todos
juntos, resolveram que o plano daquele ano não seguiria o esquema
convencional.
E o que fizeram de tão diferente? Na verdade, não mudou muita coisa,
aparentemente; como qualquer plano, esse também incluía objetivos,
conteúdos, procedimentos didáticos e avaliação. Mas Fátima não estava tão
preocupada com o conteúdo do plano, e sim com a maneira de elaborá-lo, de
forma a torná-lo útil de fato para ela e seus colegas.
Na escola em que Fátima trabalhava, os professores tiveram dois dias
de reunião, antes do início das aulas, para discutir os objetivos da escola e
preparar as atividades dos primeiros quinze dias de aula.
Nessas duas semanas, os professores teriam a chance de conhecer
seus alunos, identificar suas dificuldades e seu nível de conhecimento.
59
Feito isso, haveria cinco dias de planejamento da série.
Quando os professores se reuniram, após os primeiros quinze
dias de aula, a diretora resolveu organizar as reuniões de
planejamento por área (reivindicação feita no ano anterior),
Fundamentos discutindo os objetivos de cada uma delas. Para ajudar nessa
discussão, levou os Parâmetros Curriculares Nacionais, do Ministério
e Didática da Educação. Depois disso, os professores se reuniram por ciclo e,
da Língua considerando o diagnóstico feito em cada classe, traçaram os
Portuguesa objetivos da área para aquele ano, no ciclo e nas respectivas séries.
Definidos os objetivos, levantaram a próxima questão: como
proceder para atingi-los? No caso de Língua Portuguesa, Fátima
comentou a importância do trabalho com linguagem oral e linguagem
escrita.
O grupo de professores resolveu, então, discutir o que cada um
sabia a respeito. Enquanto isso, foram folheando os Parâmetros
Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa, chamando a atenção uns
dos outros para alguns trechos que enriqueciam a discussão. Por fim,
decidiram fazer uma lista do que achavam fundamental utilizar e
produziram um relatório, com tudo que haviam discutido: objetivos,
conteúdos, atividades e propostas de avaliação. Estava pronto um plano
de ensino útil.
(...)
Em seguida, planejaram como distribuir o trabalho de Língua
Portuguesa dentro do horário previsto. Além de especificar o gênero
de texto, precisariam definir as atividades – ler, ouvir, escrever de
memória, reescrever, criar, revisar.
Ficou assim:
• Leitura pelo professor de diferentes tipos de texto.
• Leitura pelos alunos – inclusive propostas para alunos ainda
não-alfabetizados.
• Produção de texto (oral ou escrito) coletiva e individual.
Organizaram as atividades de Língua Portuguesa para a primeira
semana, tendo como preocupação central garantir a realização de todas
as atividades necessárias, com diferentes tipos de texto. A tabela que
fizeram pode servir de exemplo:
BONS RESULTADOS
Esse planejamento simplificou bastante o trabalho de todos, que,
assim, ganharam mais tempo para debater outras questões importantes:
o trabalho em grupo, por exemplo.
O exemplo dado é apenas uma ilustração das vantagens de
um trabalho planejado coletivamente, de um projeto curricular
elaborado e desenvolvido de forma compartilhada. São essas práticas
que contribuem para o prazer de ensinar cada vez mais e melhor.
Em suas discussões, os professores descobriram que a maneira
de organizar os grupos na classe depende de várias coisas; depende
do objetivo da atividade proposta, dos conhecimentos prévios dos
alunos e da possibilidade de os alunos cooperarem entre si.
Organizar o trabalho a partir desses critérios foi um exercício
difícil, mas os professores acreditavam no que estavam fazendo e isso
60
garantiu o envolvimento de todos. Começaram a avaliar o que não dava
certo, a discutir novos encaminhamentos e a reformular a prática pedagógica,
de acordo com as necessidades identificadas.
Assim transcorreu o ano. As reuniões quinzenais se tornaram mais
produtivas e foram ocorrendo reformulações no plano de trabalho,
resultantes do aprendizado dos professores com cursos, leituras,
discussões coletivas, análise das propostas realizadas na sala de aula e
outras atividades.
Foi um ano trabalhoso, mas muito mais gratificante.
(BRASIL, PCN em Ação, Módulo de Alfabetização, 1999, p. 93-96)
Projeto de Trabalho em Língua Portuguesa:
Um Caminho a Seguir
William Shakespeare
Trabalhar com projetos é uma prática pedagógica que integra alunos, professores,
funcionários, comunidade escolar, se assim o for possível. O ambiente de aprendizagem
onde isso acontece é propício à interação e deve promover o desenvolvimento da atuação
do aluno como sujeito do seu conhecimento. A autonomia que isto proporcionará ao aluno
será de grande valia em sua vida pessoal e profissional, de seu crescimento, que se dará
por meio de buscas constantes de informações significativas para a sua compreensão
representação e resolução de uma situação-problema.
Trata-se de uma cultura do aprendizado que não se perfaz por reformas ou novos
métodos e conteúdos definidos por especialistas que pretendam impor melhorias ao sistema
educacional vigente. É uma mudança radical que deve tornar a escola capaz de atender às
demandas da sociedade, considerando as expectativas, potencialidades e necessidades
dos alunos. Deve também criar espaço para que professores e alunos tenham autonomia
para desenvolver o processo de aprendizagem de forma cooperativa, com trocas recíprocas,
solidariedade e liberdade responsável, com o desenvolvimento das capacidades de trabalhar
em equipe, tomar decisões, comunicar-se com desenvoltura, formular e resolver problemas
relacionados com situações contextuais.
Enfim, o projeto deve visar desenvolver a habilidade de aprender a aprender, de
forma que cada um possa reconstruir o conhecimento, integrando conteúdos e habilidades
segundo o seu universo de conceitos, estratégias, crenças e valores, incorporar as novas
tecnologias e não apenas para expandir o acesso à informação atualizada, mas
principalmente para promover uma nova cultura do aprendizado por meio da criação de
ambientes que privilegiem a construção do conhecimento e a comunicação.
61
Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
A aprendizagem por projetos ocorre por meio da interação e articulação
entre conhecimentos de distintas áreas, conexões estas que se estabelecem
a partir dos conhecimentos cotidianos dos alunos, cujas expectativas, desejos
e interesses são mobilizados na construção de conhecimentos científicos. Os
conhecimentos cotidianos emergem como um todo unitário da própria situação
em estudo, portanto sem fragmentação disciplinar, e são direcionados por uma
motivação intrínseca. Cabe ao professor provocar a tomada de consciência
sobre os conceitos implícitos nos projetos e sua respectiva formalização, mas
é preciso empregar o bom-senso para fazer as intervenções no momento
apropriado.
Trabalhar com projetos significa lidar com ambigüidades, soluções provisórias,
variáveis e conteúdos não identificáveis a priori e emergentes no processo. Tudo isso se
distingue de conjecturas pela intencionalidade explicitada em um plano que inicialmente é
um esboço caracterizado pela plasticidade, flexibilidade e abertura ao imprevisível, sendo
continuamente revisto, refletido e re-elaborado durante a execução. O desenvolvimento de
um projeto envolve um processo de construção, participação, cooperação e articulação,
que propicia a superação de dicotomias estabelecidas pelo paradigma dominante da
ciência e as inter-relaciona em uma totalidade provisória perpassada pelas noções de valor
humano, solidariedade, respeito mútuo, tolerância e formação da cidadania, que caracteriza
o paradigma educacional emergente (Moraes, 1997).
O professor que trabalha com projetos de aprendizagem respeita os diferentes estilos
e ritmos de trabalho dos alunos desde a etapa de planejamento, escolha do tema e respectiva
problemática a ser investigada. Não é o professor quem planeja para os alunos executarem,
ambos são parceiros e sujeitos de aprendizagem, cada um atuando segundo o seu papel e
nível de desenvolvimento. As questões de investigação são formuladas pelos sujeitos do
conhecimento levando em conta suas dúvidas, curiosidades e indagações e, a partir de
seus conhecimentos prévios, valores, crenças, interesses e experiências, interagem com
os objetos de conhecimento, definem os caminhos a seguir em suas explorações,
descobertas e apropriação de novos conhecimentos.
O professor é o consultor, articulador, mediador, orientador, especialista e facilitador
do processo em desenvolvimento pelo aluno. A criação de um ambiente de confiança,
respeito às diferenças e reciprocidade, encoraja o aluno a reconhecer os seus conflitos e a
descobrir a potencialidade de aprender a partir dos próprios erros. Da mesma forma, o
professor não terá inibições em reconhecer seus próprios conflitos, erros e limitações e em
buscar sua depuração, numa atitude de parceria e humildade diante do conhecimento que
caracteriza a postura interdisciplinar. A partir de uma mudança pessoal e profissional é que
se começa a refletir sobre a mudança da escola para uma escola que incentive a imaginação
criativa, favoreça a iniciativa, a espontaneidade, o questionamento e a inventividade,
promova e vivencie a cooperação, o diálogo, a partilha e a solidariedade. Mas, para
transformar o sistema educacional é preciso que essa reciprocidade extrapole os limites
da sala de aula e envolva todos que constituem a comunidade escolar: dirigentes, funcionários
administrativos, pais, alunos, professores e a comunidade na qual a escola encontra-se
inserida.
62
Projeto de Trabalho: Dando Forma aos Conteúdos
de Língua Portuguesa
O trabalho com projetos pode dar conta de alguns objetivos educacionais com maior
profundidade, em particular o desenvolvimento da autonomia intelectual, o aprender a
aprender, o desenvolvimento da organização individual e coletiva, bem como a capacidade
de tomar decisões e fazer escolhas com o propósito de realizar pequenos ou grandes
projetos pessoais. Para que o trabalho com projetos dê bons resultados, o professor deve
tomar alguns cuidados, além daqueles necessários em qualquer situação de ensino:
• O projeto precisa estar bem definido, ou seja, alunos e professores
devem ter uma idéia bem clara daquilo que será feito, a meta: um objeto (livro, maquete, desenho, cartaz, escultura) ou uma ação (passeio,campanha, seminário, show musical).
• É a idéia básica do projeto (a meta, o sonho) que determina e justifica as fases do projeto. Essas fases podem envolver estudo, pesquisa,
construção, ensaio, e todas as ações que forem necessárias para a realização do projeto.
Nesse sentido, costuma-se dizer que, para ser um projeto, o desenvolvimento do
trabalho na sala de aula deve ter a participação dos alunos em algumas decisões, para que
eles aprendam também a analisar situações, tomar decisões e ter a experiência de pôr em
prática o que foi planejado. Dizendo de outro modo: no desenvolvimento de um projeto, as
decisões devem ser partilhadas entre professor e alunos. Mesmo as decisões que são
tomadas previamente pelo professor devem ser explicadas e justificadas, ou seja, partilhadas
com os alunos, tendo como referência a realização do projeto.
Para melhor ilustrar o trabalho com a interdisciplinaridade, apresentaremos um projeto
em que o estudo da língua materna se torna bastante significativo.
“AGÊNCIA DE PUBLICIDADE”. Projeto em que o aluno terá a oportunidade de falar
e ouvir em situações específicas de comunicação nas quais faz sentido expor opiniões,
ouvir com atenção, sintetizar idéias, defender ponto de vista, replicar, etc.; utilizar as
convenções da escrita como uma exigência social; perceber as finalidades e funções do
texto publicitário; e, observar e utilizar a linguagem específica do texto publicitário: seus
recursos lingüísticos e não-lingüísticos.
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Agência de Publicidade
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Fundamentos
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Assunto
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e Didática
da Língua
O texto publicitário
Portuguesa
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Autor
Alfredina Nery: graduada em Letras e mestre em Psicologia da Educação.
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Série
a partir da 2ª série do 1º ciclo do Ensino Fundamental
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Tempo necessário
cinco aulas
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Introdução
Na sociedade de hoje, sofremos constante bombardeio publicitário por meio de
cartazes na rua, comerciais na televisão e no rádio, propagandas em revistas e jornais
sempre com o objetivo de promover o consumo de produtos (e idéias). Ao trazermos para a
sala de aula o texto publicitário como uma unidade de trabalho, a criança passa a conhecer
não só as finalidades e características lingüísticas e textuais deste tipo de texto, mas também
pode tornar-se um consumidor mais atento e crítico, pois passa a conhecer os elementos
de persuasão que a publicidade usa para conquistar seu público. Nessa atividade, vamos
selecionar produtos e marcas de conhecimento dos alunos e reescrever seus textos
publicitários e slogans.
Com relação ao conhecimento do sistema alfabético de escrita, o enfoque será o de
relacionar a grafia convencional de palavras de maior utilização, segmentação de palavras
e frases, uso de maiúscula e de alguns sinais de pontuação.
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Objetivos
Com este trabalho, pretende-se que os alunos sejam capazes de:
a) falar e ouvir em situações específicas de comunicação nas quais faz sentido expor
opiniões, ouvir com atenção, sintetizar idéias, defender ponto de vista, replicar etc.;
b) utilizar as convenções da escrita como uma exigência social;
c) perceber as finalidades e funções do texto publicitário;
d) observar e utilizar a linguagem específica do texto publicitário: seus recursos
lingüísticos e não-lingüísticos.
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Recursos Didáticos
Revistas, jornais, cola, papel pardo, tesoura, folha sulfite, lápis de cor/cera, canetas
coloridas.
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Organização da Sala
Haverá momentos de trabalho em que as crianças deverão estar em pequenos
grupos, em outros que trabalharão individualmente e, em outros, em que todos da classe
deverão formar um círculo para a discussão ou síntese coletiva.
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Desenvolvimento da Atividade/Procedimentos
1) Faça com os alunos uma pesquisa sobre as marcas e os produtos que conhecem,
listando-os na lousa, a partir de algumas categorias como laboratórios farmacêuticos,
empresas automobilísticas, lojas de eletrodomésticos, produtos infantis, produtos alimentícios
etc.;
2) Organize os alunos em duplas e peça que levantem os "slogans" que conhecem e
que correspondem a cada marca levantada no item anterior. Exemplos: "Nestlé - Nossa
vida tem você"; "M&M's - O chocolate que derrete na sua boca e não na sua mão";
"McDonald's - Gostoso como a vida deve ser";
3) Solicite que os alunos, ainda em duplas, procurem nas revistas e jornais trazidos
para a classe os vários produtos e seus slogans, recortando-os;
4) Proceda em seguida à triagem dos produtos que serão colados no papel pardo
coletivo, tendo em vista os critérios de classificação do item 1 deste roteiro, de forma a
obter uma variedade grande de textos publicitários;
5) Afixe o papel pardo na sala de aula para divulgação do trabalho feito e para consulta
e análise lingüística das crianças (Onde está escrito tal palavra? Como se escreve tal palavra?
tal palavra começa com a mesma letra do nome de fulano da classe? Há alguma palavra
estrangeira? Como se escreve e como se pronuncia?);
6) Com os produtos colados no papel pardo, proceda à análise das propagandas
quanto à relação entre o texto escrito e a imagem, Por exemplo, o logotipo da Nestlé (símbolo
que representa o nome da empresa ou do produto) é um ninho com três pássaros de
tamanhos diferentes, sendo que um está na posição de ter chegado ao ninho, trazendo
alimento. Os pássaros podem estar representando o pai, a mãe e o filho, ou seja, a proteção
que vem da família, uma vez que os produtos desta marca referem-se à alimentação: leite,
chocolate, bolacha etc. Garanta na análise que os alunos percebam que as cores e o tipo
de letra utilizados são também importantes nas propagandas para chamar a atenção do
consumidor;
7) Solicite que os alunos criem outros "slogans" para os produtos já trabalhados (e
outros), atentando para as características específicas da linguagem da propaganda, como
uso de qualificativos ("Só Omo lava mais branco"), uso de verbo no imperativo ("Abuse e
use C&A"), rimas ( "Danoninho, vale por um bifinho", "Tomou Doril, a dor sumiu"), linguagem
argumentativa ( "Se a marca é CICA, bons produtos indica", "Quem come um, pede BIS");
8) Escolha junto com as crianças uma das marcas ou produtos para criarem um
anúncio publicitário que contenha os três elementos desse tipo de texto: texto escrito (que
ofereça informações sobre o produto, destaque as qualidades positivas do produto e procure
convencer o consumidor a adquirir o produto), ilustração (fotografia, gravura, desenho, gráfico)
que qualifique bem o produto e "slogan"(frase sintética e atraente, de fácil memorização).
Atentar também para as cores e os tipos de letras escolhidos para atrair o leitor;
9) Organize junto com os alunos a divulgação das propagandas elaboradas. Pesquisar
os endereços das marcas e produtos e enviar as propagandas feitas pelos alunos aos
respectivos fabricantes (é sempre interessante que os alunos passem por situações de
produção de texto com interlocutores reais).
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Avaliação
Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
Ao longo do desenvolvimento da atividade, é possível avaliar:
- como o aluno utilizou a linguagem (oral e escrita) de forma contextualizada, ou seja, em determinadas situações nas quais faz sentido falar,ouvir
ler, escrever;
- o que o aluno já conhecia sobre o texto de propaganda: quais marcas
e produtos conhecia, para que servem os produtos e suas propagandas,
quais "slogans" têm de memória;
- o que o aluno passou a conhecer: por que neste tipo de texto o tamanho e o tipo das
letras são importantes, quais cores são usadas em cada propaganda, por que, como
é possível convencer o outro a comprar, quais palavras representam as qualidades
dos produtos, o que a ilustração tem a ver com o texto escrito;
- o que o aluno conhecia e o que passou a saber sobre as convenções da escrita,
quais convenções foram garantidas a cada etapa de trabalho;
- quais oportunidades foram dadas aos alunos para que reflitam sobre o mundo em
que vivem e sobre a própria linguagem que expressa e constitui este mundo.
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Contextualização
Esta atividade propicia que a criança amplie seus conhecimentos sobre a escrita e
suas convenções e que conheça mais e melhor o mundo em que vive, através do estudo
dos usos e formas do texto publicitário que é um indicador da sociedade de consumo, pois
cria no leitor a necessidade de comprar/consumir.
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Sugestões para Trabalho Interdisciplinar
Esta atividade guarda estreita relação com os temas transversais "Trabalho e
Consumo" e "Ética" (Parâmetros Curriculares Nacionais - MEC), uma vez que possibilita
que os alunos tenham uma visão mais crítica do mundo de hoje e suas linguagens. Para
isto, é possível fazer uma visita a uma agência de publicidade para conhecer seus
profissionais ou então escrever a uma delas. Planeje com seus alunos a visita à agência
elaborando em conjunto um roteiro de perguntas e de fatos a serem observados. Por exemplo:
observar como se faz uma propaganda, entrevistar as várias pessoas envolvidas, discutir
sobre formação, experiência de trabalho, instrumentos de trabalho necessários, fonte de
inspiração, dificuldades da profissão etc. Aproveite para conhecer também os códigos de
ética da profissão. Após a visita, solicite aos alunos um registro escrito com os dados
levantados e peça para relacioná-los com as propagandas de televisão.
A área de Educação Artística também pode contribuir para uma análise da propaganda
como forma de expressão. Escolha uma propaganda e analise com os alunos quais recursos
ela utiliza (música, artes plásticas, artes da computação).
Em História, é possível contextualizar a publicidade dentro das transformações
científicas, técnicas e econômicas do mundo moderno. Pesquise em publicações mais
antigas, como eram as propagandas (pasta de dente "Kolynos e seu sorriso refrescante",
absorvente Modess com uma mulher trabalhando em máquina de escrever antiga).
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Aprofundamento de Conteúdo
Este trabalho propõe uma articulação entre as duas aprendizagens que o aluno em
processo de alfabetização precisa empreender: os conhecimentos sobre as convenções
da escrita e os vários textos presentes na sociedade. Na sociedade de consumo, a
publicidade ocupa lugar de destaque, pois é uma linguagem elaborada para influenciar as
pessoas na compra de produtos (e idéias). Para isto, este tipo de texto se organiza,
basicamente, a partir de três elementos: o texto escrito (sons característicos, onomatopéias,
termos novos, construção/desconstrução de palavras, mudança de significados, jogos de
palavras, grafia inusitada, flexões diferentes, sintaxe não linear), o "slogan" (frase curta, de
impacto, que de tanto ser repetida, é facilmente memorizada pelo consumidor) e ilustração
(imagem que destaca a qualidade do produto a ser vendido). No que se refere à
aprendizagem do sistema de escrita, é necessário continuar o trabalho de aquisição da
base alfabética de alunos que o necessitarem, bem como do processo de reflexão e utilização
das convenções da escrita.
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Bibliografia
CARVALHO, Nelly de. Publicidade: a linguagem da sedução. São Paulo: Ática, 1996
JOLIBERT, Josette. Formando crianças produtoras de texto. volume II. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1994
KAUFMAN, Ana Maria e RODRIGUEZ, Maria Elena. Escola, leitura e produção de
textos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995
VESTERGAARD, Torben e SCHRODER, Kim. A linguagem da propaganda. São
Paulo: Martins Fontes, 1994.
http://revistaescola.abril.com.br/planos/lingua_portuguesa/agencia_publicidade.shtml
Avaliação em Língua Portuguesa no Ensino Fundamental
Seja avaliando uma criança, um adolescente, um adulto, seja discutindo em casa,
num conselho de classe, na rua, o processo de avaliação é uma constante em nossa vida.
Em quaisquer destas situações, ele é sempre um processo acompanhado de dúvidas e
incertezas e, muitas vezes, de incoerências. Nossa sociedade reserva às instituições
escolares o poder de conferir notas e certificados que, supostamente, atestam o
conhecimento ou capacidade dói indivíduo, o que torna imensa a responsabilidade de quem
avalia.
Muito se tem analisado a avaliação com uma visão crítica e afirmase que ela pode exercer duas funções: a diagnóstica e a classificatória.
Da primeira, supõe-se que permita ao professor e ao aluno detectarem
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Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
os pontos fracos deste e extrair as conseqüências pertinentes
sobre onde colocar posteriormente a ênfase no ensinoaprendizagem. A segunda tem o efeito de hierarquizar e
classificar os alunos. A escola prega em parte a avaliação
com base na primeira função, mas a emprega
fundamentalmente para a segunda.
Mariano Enguita
A opção por um trabalho dentro da área procura considerar as
intersecções que as linguagens estabelecem por sua natureza de articulação de significados
culturais e sociais e função comunicativa.
A fala, a escrita, os movimentos corporais, a arte estão intimamente ligados à
cognição, à percepção, à ação, sendo expressões da cultura. Todos os sistemas procuram
tornar os significados comunicáveis. As linguagens se afastam no plano da expressão,
constituindo formas próprias de manifestação, e voltam a se encontrar no plano do conteúdo,
pano de fundo da construção humana dos símbolos.
A objetivação do simbólico em situação escolar pode permitir ao aprendiz a
compreensão de sua visão de mundo e de outras, as classificações arbitrárias de fazer ver,
crer, pensar, sentir e agir que se articulam sob forma de linguagem.
A língua materna ocupa na área o papel de viabilizar a compreensão e o encontro
dos discursos utilizados em diferentes esferas da vida social. É com a língua e pela língua
que as formas sociais arbitrárias de visão e divisão de mundo são utilizadas como
instrumentos de conhecimento e comunicação.
Aprende-se com a língua um “sentido imediato do mundo”, que deve ser desvendado
no decorrer de um processo de resgate desse e de outros sentidos possíveis; as identidades
e as diversidades se cruzam nos discursos.
As relações lingüísticas marcam o poder simbólico acumulado pelos seus
protagonistas. Não existe uma competência lingüística abstrata, mas sim uma competência
limitada pelas condições de produção/interpretação dos enunciados e modos de enunciação
e pelos contextos de uso da língua. Ela utiliza um código, ao mesmo tempo com função
comunicativa e legislativa.
Apenas o domínio de parte do código não deriva no sucesso da comunicação.
Algumas situações de fala ou escrita podem inclusive produzir o total silêncio daquele que
se sente pouco à vontade no ato interlocutivo.
O desenvolvimento da competência lingüística do aluno do Ensino Médio e no
Magistério de 1º grau, dentro dessa perspectiva, não está pautado na exclusividade do
domínio técnico de uso da língua legitimada pela norma, mas, principalmente, na competência
de saber usar a língua em situações subjetivas e/ou objetivas que exijam graus de
distanciamento e reflexão sobre contextos e estatutos de interlocutores – a competência
comunicativa vista pelo prisma da referência do valor social e simbólico da atividade
lingüística.
A intervenção pedagógica busca o aprofundamento dos saberes considerados
escolares e daqueles trazidos do social, ampliando as esferas de atuação dos alunos.
No ensino da Língua Portuguesa, passamos muito tempo avaliando conteúdos
fragmentados e descontextualizados. Avaliávamos, e ainda avaliamos, em muitos casos,
se os alunos sabem definir, classificar, aplicar regras gramaticais. Hoje, em decorrência
das mudanças provocadas pelos estudos sobre a linguagem, observamos a necessidade
de avaliar melhor se os alunos conseguem agir lingüisticamente, ou seja, se eles estão
ampliando as capacidades de compreender e de produzir textos orais e escritos, dentre
outros objetivos menos centrais.
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Embora esse lembrete possa parecer óbvio, temos observado situações em que
são cobrados dos alunos "conhecimentos" que não foram tematizados na escola. No ensino
da ortografia, por exemplo, temos visto situações em que os alunos, mesmo não tendo
acesso a atividades de exploração / construção de determinadas normas ortográficas, são
avaliados quanto a esse aspecto.
O mesmo podemos dizer com relação à produção dos diferentes gêneros textuais.
Observamos, algumas vezes, que alunos que não foram estimulados a produzir e a explorar
determinado gênero textual (carta, ensaio argumentativo, notícia ou outro qualquer), são
avaliados, em um determinado momento, quanto à produção desse gênero de texto. Mais
uma vez, estamos cobrando o que não foi ensinado.
Para avaliar, por exemplo, as capacidades de produzir textos, precisamos decidir,
dentre muitos aspectos, os que naquele momento queremos investigar, seja porque foram
tema de reflexão naquele período, seja porque são capacidades já construídas nos anos
anteriores ou, ainda, porque queremos avaliar os conhecimentos prévios para planejar o
processo pedagógico. No entanto, não podemos realizar a avaliação dessas capacidades
mais específicas sem considerar a situação em que tal texto foi gerado.
Atividades
Complementares
PROJETO DE LEITURA
PROJETOS
Os projetos são excelentes atividades para propiciarem condições para que
professores de Língua Portuguesa realizem um bom trabalho. Isso por que:
• Contribuem para que se estabeleça uma conexão entre os conteúdos das práticas
de escuta e de leitura, produção de textos e análise lingüística;
• Viabilizam a possibilidade de trabalhar, simultaneamente, os conteúdos das
diferentes práticas;
• Estabelecem conexão com outras áreas e temas tendo em vista o alcance de
objetivos.
Vamos agora trabalhar com a pedagogia de projetos. Em grupo, construam um projeto
de Língua Portuguesa que contemple as três vertentes da língua – leitura, produção textual e
análise lingüística.
Aqui eis um projeto de leitura, desenvolvido com professores de ensino fundamental,
que pode ser tomado como exemplo.
Lendo o livro... antes de ler a história do livro
Objetivo
A aula aqui sugerida é um dos caminhos para possibilitar a formação de leitores
capacitados a transitar nas práticas de leitura da nossa sociedade. Se quisermos formar
alunos-leitores que transcendam a sala de aula e o espaço escolar, devemos mostrar os
mecanismos que devem dominar para se tornar leitores efetivos. Esta atividade visa a
69
possibilitar que os alunos levem não só seus livros para casa, mas junto com
eles a capacidade de buscar outros livros e, assim, traçar seus próprios
caminhos de leitores.
Fundamentos
Embasamento Teórico
e Didática
Para entender melhor o embasamento da atividade aqui proposta,
da Língua algumas concepções de leitura devem ser levadas em consideração:
Portuguesa primeiramente, a noção de que a leitura não é um ato puramente individual; é
uma prática social e, assim sendo, não ocorre apenas no instante da leitura propriamente
dita. Numa analogia com uma peça de teatro, podemos dizer que esse momento é apenas
um dos atos que compõem a peça.
Assim, além da leitura da história que o livro apresenta, devemos desvendar toda a
leitura que o livro nos possibilita: Que editora publicou a história? Pertence a alguma coleção?
Qual? Para que tipos de leitores? Que informações se encontram na quarta-capa? O livro
tem orelha? Que informações lá se encontram?
Da mesma forma, os alunos podem descobrir que a história de um livro é escrita por
um autor, pode ser ilustrada, revisada e diagramada, antes de chegar às mãos do leitor.
Quem é o autor do livro? Quando essa história foi escrita? Para quem? O livro possui
gravuras? Quem o ilustrou? Houve revisão? O que é fazer revisão de um livro?
Além dessas informações, devemos possibilitar que o aluno se enxergue como leitor
ativo que interage com o livro, que participa do processo de leitura. O que ele sabe sobre o
tema do livro? Conhece alguém que já o leu? Sobre o que ele imagina que seja a história?
Após a leitura da história, a leitura do livro continua na conversa com os amigos
sobre as impressões da história, se gostou, não gostou, se o recomendaria ou não e porquê.
Assim, o professor pode e deve promover a familiarização do aluno com o mundo
das práticas de leitura, começando, antes de tudo, com o próprio objeto livro.
Recursos Didáticos
Os livros doados pelo Ministério da Educação aos alunos da 4a série do Ensino
Fundamental.
Organização da Sala
Pequenos grupos de alunos que receberam coleções diferentes.
Desenvolvimento da Atividade
1. Peça aos alunos que manuseiem os livros recebidos e descubram informações
sobre os mesmos:
a) Quem é o autor? (brasileiro/estrangeiro)
b) Qual é o título do livro?
c) Que tipo de livro é este? (de contos, poemas, lendas, romance). Por quê? (Pelo
título? Figura da capa? Conhecimento do autor?)
d) Qual é a editora do livro? Onde se encontra essa informação?
2. Após essa leitura inicial, peça aos alunos que escolham o livro que mais chamou
a atenção deles – entre todos os que receberam – e que gostariam de ler primeiro. Peça
que justifiquem para o grupo a escolha (pelo título, tema, autor conhecido - já leu livros dele
antes -, gravura).
70
3. Peça à turma que imagine como são as histórias dos livros escolhidos, com base
na imagem, no título, no conhecimento que cada um já possui sobre o assunto ou no interesse
pelo tema. Peça que exponham suas idéias para o grupo.
4. Peça aos alunos para folhear o livro e descobrir se há alguma informação sobre o
autor. Onde se encontra essa informação? O autor ainda vive? Escreveu outros livros? Onde
nasceu?
5. Pergunte aos alunos por que eles acham que é importante fazer essa leitura do
livro antes de ler á história. Esclareça que é assim que geralmente as pessoas escolhem
livros para ler: baseando-se no autor de que gostam e cujos livros querem conhecer mais,
ou que desconhecem, mas cujo tema ou título lhes chamou a atenção; na editora que costuma
publicar livros interessantes; na indicação que receberam de alguém que conhece o livro, o
autor ou a editora; entre outras coisas. Os alunos estão se formando leitores e precisam ter
claros os mecanismos para escolher um livro, que podem guiá-los em suas próprias escolhas.
Atividades complementares ao longo do ano letivo:
Programe atividades de ida à biblioteca ao longo do ano, para escolha de outros
livros, sempre justificando para a classe; para descoberta de outros livros, na biblioteca,
dos autores que mais gostaram de ler; para verificação de outras informações existentes
nos outros livros, além daquelas já sabidas. Eles verão que há muitos exemplares com
orelhas – explore com eles o que contém a orelha do livro e a quarta-capa do livro.
Sugestão de atividade para explorar a quarta-capa de livro:
As informações que se encontram em uma quarta-capa variam conforme a edição.
No entanto, costumam trazer um pequeno texto sobre o enredo da história, trechos da mídia
ou, ainda, trechos do próprio livro. Às vezes, uma dessas informações vem junto com outra.
a) Peça aos alunos para ler diferentes quartas-capas e procurar esses três tipos
de informação ou alguma outra (fotografia do autor, dados biográficos, outras obras
do autor, etc.).
b) Anote os dados encontrados na lousa. Veja, juntamente com eles, os dados mais
recorrentes nos livros analisados.
c) Discuta a diferença da quarta-capa dos livros recebidos (informações da editora
sobre a coleção) e dos livros da biblioteca analisados.
d) Os alunos podem escrever uma outra quarta-capa para um dos livros que leram.
Trabalho semelhante pode ser feito com a orelha de livros:
1) Na troca de livros entre eles, programe atividades em que os alunos deverão
dizer para os colegas suas impressões sobre o livro que leram, se era o que imaginaram ou
não, se o recomendam ou não.
2) Se houver condições, programe a elaboração de um pequeno livro com a sala:
3) Que tipo de texto os alunos gostariam de publicar? Poemas, contos, crônicas,
lendas, romance?
• Como será escrito? Quem irá escrever?
• Quem ilustrará?
• Quem fará a revisão de língua?
• Como se chamará a “editora”?
• O livro terá orelha? O que escreverão nela? Em que momento da elaboração do
livro a orelha será escrita?
71
Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
• O que escreverão na quarta-capa? Quando?
• Como será a pequena biografia que os autores colocarão no livro?
• O livro terá um custo? De quanto? Como farão para custear o livro e
conseguir o material necessário?
• Terá um preço? De quanto? Será distribuído gratuitamente? Para
quem?
Bibliografia:
Cristovão, V.L.L. (2001) Gêneros e ensino de leitura em LE: os modelos didáticos de
gêneros na construção e avaliação de material didático. Tese de Doutoramento não
publicada. PUC-SP.
Privat, J.-M (1995) Socio-logiques des didactiques de la lecture. IN: Jean-Louis Chiss;
Jacques David & Yves Reuter (direction). Didactique du Français: état d’une discipline. Paris:
Nathan, 1995 (Pédagogie).: 133-145.
Autora:
Lília Santos Abreu é professora de Língua Inglesa e Língua Portuguesa, co-autora de
materiais didáticos e paradidáticos, assessora na formação contínua de professores e
doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Lingüística Aplicada e Estudos da
Linguagem da PUC-SP.
VERIFICAÇÃO DA APRENDIZAGEM: UMA PRODUÇÃO POSSÍVEL
A prática de escuta de textos orais/leitura de textos escritos, a prática de produção
de textos orais e escritos e a prática de análise lingüística formariam um tripé em cima do
qual se sustentaria o ensino de língua portuguesa, funcionando como um bloco na formação
dos alunos. Os conteúdos partem, portanto, de textos, sempre, valorizando e destacando
diferenças e semelhanças, fazendo com o aluno discuta o que vê / lê para conseguir se
sentir usuário da língua e participante do processo de aprendizagem.
Diante da discussão sobre o uso da tríade metodológica de língua portuguesa, não
há mais que se pensar em uma avaliação do tipo exame metalingüístico.
Elabore uma avaliação final de unidade para qualquer série, do Ensino Fundamental,
considerando as três vertentes da língua – leitura, análise lingüística e produção textual.
PLANO DE AULA SEM MISTÉRIOS
1.
PARA COMEÇAR...
Como você definiria o ato de avaliar, tanto numa concepção mais ampla, como no
âmbito escolar?
72
2.
A avaliação é um processo que não pode se basear apenas no exame de regras
gramaticais e atividades que promovam a pura repetição das análises do professor como
instrumento de medida de apreensão de conteúdo. Comente a afirmativa.
3.
A produção textual é o elemento mais contundente de avaliação do aluno. Você
concorda? Justifique sua resposta.
AGORA...
Você seria capaz de descrever uma aula de língua portuguesa com a concepção
tradicional de ensino de língua? Então, faça-o. Logo em seguida, pense em atividades que
privilegiem todas as vertentes do estudo de língua portuguesa, reformulando esta descrição
de modo a dar a ela uma nova base pedagógica para maior eficácia. Assim, você estará
mostrando o “antes” e o “depois” de sua atuação como novo educador, que transita entre as
novas concepções de ensino de língua com bastante eficiência.
73
Leirura Recomendada
DIDÁTICA DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA O
ENSINO FUNDAMENTAL
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Este livro nasceu de um balanço dos 26 anos de vida profissional da autora como
professora de Português e como assistente de Língua Portuguesa da Oficina Pedagógica
de Bauru. Questionando a própria prática, no sentido de compreender porque mesmo
com todo o esforço, havia sempre alunos cujo desempenho lingüístico deixava muito a
desejar.
ANDALO, Adriane. Didática de Língua Portuguesa para O Ensino Fundamental.
Editora FTD: São Paulo, 2001.
Filme Recomendado
A ILHA DAS FLORES
Como discutimos bastante acerca das mudanças do ensino de língua materna,
como elemento imprescindível à melhoria da qualidade de vida dos educandos deste
país, escolhemos a ILHA DAS FLORES - Um ácido e divertido retrato da mecânica
da sociedade de consumo. Acompanhando a trajetória de um simples tomate, desde
a plantação até ser jogado fora, o curta-metragem escancara o processo de geração
de riqueza e as desigualdades que surgem no meio do caminho – com o intuito de
nos fazer refletir sobre “A educação que temos e a educação que queremos”;
FICHA TÉCNICA
Gênero: Documentário, Experimental
Diretor: Jorge Furtado
Elenco: Ciça Reckziegel
Ano: 1989
Duração: 13 min
Cor: Colorido
Bitola: 35mm
País: Brasil
74
Atividade
Orientada
Caro(a) educando(a),
O nosso período de estudo começa a ser sistematizado. É momento de pensar em
tudo que você leu neste material impresso e na sua experiência para realizar a Atividade
Orientada.
A Atividade Orientada deve ser realizada em três etapas que estão descritas a seguir.
Lembre-se de que, ela pertence à disciplina, tem caráter obrigatório e avaliativo, devendo
ser realizada e direcionada para a construção do seu conhecimento.
Acreditamos que depois do estudo acerca da Língua Portuguesa, a partir da tríade
leitura, análise lingüística e produção textual, você tenha percebido que o ensino de língua
materna é algo vivo próximo da maneira de falar e de escrever dos indivíduos. Esperamos
também que, os possíveis preconceitos lingüísticos tenham sido quebrados e, o espaço da
sala de aula se torne significativo e prazeroso para os que estudam a Língua Máter.
Etapa
1
O ensino de língua, desde as suas origens até os dias atuais, está sendo bastante
questionado em nossa disciplina. Neste contexto, as dificuldades de produção textual.
Acabam se tornando empecilhos para o desenvolvimento de um trabalho eficaz com a língua
portuguesa em sala de aula. Para continuar a nossa discussão sobre o assunto, você deverá
ler e interpretar um trecho do texto abaixo de Honoralice de Araújo Mattos Paolinelli e
Sérgio Roberto Costa.
Práticas de Leitura e Escrita em Sala de Aula
Ensinar a ler é uma tarefa de todo professor, não sendo exclusividade
do de Língua Portuguesa, quase sempre responsabilizado pela dificuldade do
aluno de interpretar questões de outras disciplinas. O desconhecimento do
que seja leitura e dos processos sócio-cognitivos nela envolvidos leva as pessoas
a construírem um conceito limitado desta ação de linguagem.
A noção textual usualmente presente na escola empobrece o trabalho
com a leitura/escrita, pelo fato de tratar de maneira idêntica qualquer texto,
desconsiderando suas especificidades e intenções.
No ambiente escolar, o texto é abordado como um produto, ignorandose, assim, a dinamicidade de seu processo de significação, que inclui a
consideração de estruturas, de conhecimentos prévios partilhados, de múltiplos
recursos semióticos, como a imagem e, ainda, as condições de produção:
o contexto, os sujeitos envolvidos nessa ação de linguagem, as intenções
comunicativas, o meio de circulação do texto.
75
Apesar do surgimento das novas teorias que sustentam a
produção textual, a partir dos anos 80, a qualidade das redações
dos alunos pouco alterou. Os textos continuam artificiais,
Fundamentos padronizados, mal seqüenciados, intraduzíveis e fora de seu
e Didática contexto de produção.
Para que haja mudança no quadro é necessário que o
da Língua
professor passe a olhar a produção escrita do aluno não atrás
Portuguesa de erros, atentando apenas para a linearidade do texto, mas
buscando ver o significado e as formas de construção desse
significado.
A escola é tomada como um autêntico lugar de
comunicação e as situações escolares como ocasiões de produção/
recepção de textos. Portanto, no ambiente escolar, a produção de
textos deve inserir-se num processo de interlocução, o que implica a
realização de uma série de atividades mentais - de planejamento e
de execução - que não são lineares nem estanques, mas recursivas
e interdependentes.
“É impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum
gênero, assim como é impossível se comunicar verbalmente a não
ser por algum texto.” Essa posição defendida por Bakhtin (1997) e
também por Bronckart (1999) é adotada pela maioria dos autores
que tratam a língua em seus aspectos discursivos e enunciativos e
não em suas peculiaridades formais. Essa visão segue uma noção
de língua como atividade social, histórica e cognitiva.
É nesse contexto que os gêneros textuais se constituem como
ações sócio-discursivas para agir sobre o mundo e dizer o mundo,
constituindo-o de algum modo. O trabalho com gêneros textuais é
uma excelente oportunidade de se lidar com a língua em seus mais
diversos usos no dia-a-dia, pois nada do que fizermos lingüisticamente
está fora de ser um gênero.
No trabalho com produção de textos é importante ainda fazerse uma distinção entre gêneros textuais e tipos textuais.
O primeiro é usado para designar uma espécie de construção
teórica definida pela natureza lingüística de sua composição, ou
seja, aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas.
Cada tipo textual possui pistas lingüístico-discursivas características e
as seqüências lingüísticas são norteadoras.
Já a expressão gênero textual refere-se a textos materializados,
encontrados em nossa vida diária e que representam características
sócio-comunicativas definidas por seus conteúdos, propriedades
funcionais, estilo e composição próprios.
Enquanto os tipos textuais são apenas meia dúzia, os gêneros
são inúmeros, devido à enorme diversidade das atividades
enunciativo-discursivas das esferas sociais, ou seja, domínios
discursivos. Esses domínios não são textos nem discursos, mas
propiciam o surgimento de discursos bem específicos. Assim, falamos
em discurso religioso, discurso jurídico, discurso jornalístico. As atividades
sociais é que dão origem a vários deles, constituindo práticas
discursivas dentro das quais podemos identificar um conjunto de
76
gêneros textuais. Os domínios discursivos são as grandes esferas da
atividade humana em que os textos circulam.
Para aprender a escrever um gênero determinado de texto é
necessário que os alunos sejam postos em contato com um corpus
textual desse mesmo gênero, que lhes sirva de referência em situações
de comunicação bem definidas e reais.
É função do professor, fornecer ao aluno condições adequadas
de elaboração, permitindo-lhe empenhar-se na realização consciente
de um trabalho lingüístico que realmente tenha sentido para si, e isso só
é conseguido à medida que a proposição de produção textual seja
bem clara e definida, apresentando-se as “coordenadas” do contexto
de produção. É necessário que o aprendiz possa sentir que realmente
está produzindo para um leitor (que não deve ser apenas o professor),
eliminando a exclusividade das situações artificiais de produção textual
tão presentes no cotidiano da escola.
Referência:
PAOLINELLI, Honoralice de Araújo Mattos; COSTA, Sérgio Roberto.
Práticas de leitura e escrita em sala de aula. Disponível em: http://
www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno09-13.html. Acesso em: 07 abr. 2006.
1.
2.
3.
Segundo o texto, ensinar a ler não é atividade apenas de língua portuguesa e sim, de
todas as disciplinas. Você concorda com essa afirmação? Justifique.
O texto deve ser abordado apenas como um produto do trabalho de desenvolvimento
do conhecimento lingüístico em sala de aula? Por quê?
Comente alguma experiência de produção textual realizada em sala de aula, na qual
você tenha percebido uma postura inovadora e progressista do(a) educador(a), conforme
discutida no texto Práticas de Leitura e Escrita em Sala de Aula.
4.
É importante não confundir as noções de gêneros e de tipos textuais. Faça um
contraponto entre gêneros e tipos textuais, utilizando-se das características levantadas no
texto lido.
GÊNEROS TEXTUAIS
TIPOS TEXTUAIS
77
5.
Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
Releia o último parágrafo do texto e relacione-o a suas experiências
lingüísticas. Explique qual deve ser, verdadeiramente, a função do educador,
no contexto do trabalho lingüístico com relação aos alunos.
Etapa
2
Com o objetivo de trabalhar diversidade de textos em situações concretas e reais de
comunicação, será apresentada uma proposta prática de produção de texto em sala de
aula.
O tema da produção textual é autodefinição. Prepare-se para autodefinir-se. Porém,
isto não se dará de forma explícita. Você terá que se definir utilizando elementos, que por
metáfora, mostrarão suas características pessoais.
Todo ser humano se mostra numa de suas faces, num de seus “eus”. Você é um todo
composto de partes que nem sempre aparecem aos outros com a mesma intensidade. Nós
somos o que somos, o que nos mostramos e o que os outros vêem.
A - Autodefina-se construindo parágrafos nos quais você se mostre como sendo:
Um som
Um sabor
Uma cor
Uma dimensão
Uma imagem
B - Agora, transforme estes parágrafos em estrofes de um poema.
C - Ilustre-o de maneira que os elementos visuais aplicados, ajudem na construção
de sentidos para o texto.
Etapa
3
Agora que, com base nas etapas anteriores, você já discutiu, refletiu e produziu um
poema, elabore um plano de aula para ser aplicado em turmas das séries iniciais do
Ensino Fundamental, e que privilegie o que foi estudado em nossa disciplina sobre a postura
do professor de língua portuguesa, diante da tríade - leitura, análise lingüística e produção
textual. Sabemos que o plano de aula é um instrumento do trabalho docente.
No entanto, considerando o que você já sabe sobre tipos e gêneros textuais, seu
plano de aula terá como objetivo a produção de um CONTO por seus educandos. Para
tanto, você poderá eleger um tema à sua escolha e uma das séries (1ª à 4ª) que deve ser
aplicado.
Não é demais ressaltar que, em sua atividade cotidiana, trabalhar com os diversos
gêneros textuais é algo necessário e de suma importância. Para auxiliá-lo em sua tarefa,
vamos relembrar a estrutura de um plano de aula, no modelo a seguir:
78
Colégio:
Disciplina:
Série/Turma :
Professor(a):
PLANO DE AULA
TEMA:
1.OBJETIVOS 2.CONTEÚDO
DURAÇÃO:
3.MÉTODO 4.RECURSOS 5.AVALIAÇÃO 6.REFERÊNCIAS 7.OBSERVAÇÕES
1.1 Geral:
3.1 Introdução
1.2 Específico:
3.2 Desenvolvimento
3.3 Conclusão
* Pronto, agora que você já viu uma sugestão sobre como organizar sua aula, planeje-se! Este é, sem dúvida,
o primeiro e mais importante passo para o sucesso de seu trabalho.
79
Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
Glossário
ANTAGONISMO – s.m.. Oposição de idéias ou de sistemas. Rivalidade,
incompatibilidade.
COMPROBATÓRIO – adj. Que contém prova ou provas do que se diz; que serve
para comprovar; comprobativo, comprovativo.
DIGLOSSIA – s.f. Estado de quem é bilíngüe. Utilização corrente de duas línguas.
EU-LÍRICO – s.m. É a voz que fala no poema.
IDEOLOGIA – s.f. Ciência da formação das idéias; tratado das idéias em abstrato;
sistema de idéias.
INVEROSSÍMEL – adj. Sem verossimilhança; que não parece, não tem visos de
verdadeiro, inacreditável.
PICTÓRICO – adj. Referente à, ou próprio da pintura; pictorial, pitoresco, pictural.
PLURISSIGNIFICAÇÃO – s. f. Muitos significados de uma só palavra.
POMBALINO – adj.. Relativo ao, ou próprio do primeiro Marques de Pombal,
Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782), estadista português ou à sua época.
PRAGMÁTICA – s. f. – Conjunto das normas formais e rigorosas.
PRECEPTOR – s.m. Aquele que ministra preceitos ou instruções.
PROFICIENTE – adj. Que tem perfeito conhecimento; competente, capaz, hábil,
destro.
RETÓRICA – s. f. Eloqüência, oratória.
SEARA – s.f. Agremiação, associação, partido.
80
Referências
Bibliográficas
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BARBOSA, Maria T. Mitologia Poética dos Contos de Fadas no Brasil. Dis. Mestrado.
Porto Alegre: PUCRS, 1991.
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Escolhidas: Magia e Técnica, Arte e Política. Brasiliense: São Paulo, 1936.
BILAC, Olavo. Antologia Poética. Porto Alegre: L&PM, 2002.
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Língua Portuguesa/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEE, 1997.
CASTRO ALVES, Antônio de. Espumas Flutuantes. Rio de Janeiro: Edições de Ouro,
s.d. 1999.
CAMPEDELLI, Samira Youseff. Produção de Texto e usos da Linguagem: Curso de
Redação. São Paulo: Saraiva, 1999.
CEREJA, William Roberto e MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: Linguagens.
Vol. 3. São Paulo: Atual, 1999.
_________________________. Literatura Brasilieira. São Paulo: Atual, 2000.
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2001.
CITELLI, Adilson. O Texto Argumentativo. São Paulo: Scipione, 1994.
COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil. Teoria – Análise – Didática. Série
Fundamentos. 5ª ed. São Paulo: Ática, 1991.
COELHO, Nelly Novaes. Panorama Histórico da Literatura Infantil e Juvenil. Série
Fundamentos. 4ª ed. São Paulo: Ática, 1991.
CUNHA, Celso. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1985.
FARACO, Carlos Alberto. Prática de Textos: para Estudantes Universitários. São Paulo:
Vozes, 1992.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: O Dicionário da
Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
FERREIRO, Emília. Reflexões sobre Alfabetização. São Paulo: Cortez, 1993. – (Coleção
Questões de Nossa Época, v. 14).
81
FIORIN, José Luiz. Linguagem e Ideologia. São Paulo: Ed. Ática, 2000.
GUIMARÃES ROSA, João. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1986.
Fundamentos
e Didática GULLAR, Ferreira. Toda Poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1999
da Língua
Portuguesa ILARI, Rodolfo. Introdução à Semântica. Brincando com a Gramática. São
Paulo: Contexto, 2001.
LAJOLO, Marisa. ZIBERMAN, Regina. Literatura Infantil Brasileira, Histórias e Histórias.
Série Fundamentos. 5ª ed. São Paulo: Ática, 1991.
MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1977.
MEIRELES, Cecília. Ou Isto ou Aquilo. Org. Walmir Ayala. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
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MELO NETO, João Cabral de. Antologia Poética. Rio de Janeiro: José Olympio Editora.
2.ed., 1973.
PENNAC, Daniel. Como um Romance. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
VANOYE, Francis. Usos da Linguagem: problemas e técnicas na produção oral e
escrita. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
VELOSO, Caetano. Literatura Comentada. Org. Paulo Franchetti e Alcyr Pécora. São
Paulo: Nova Cultural, 1987.
WELLECK, René e WARREN, Austin. Teoria da Literatura. Lisboa: Publicações EuropaAmérica, 1976.
Sites
http://www.instituto-camoes.pt/cvc/bvc/lusiadas/index.html
http://revistaescola.abril.com.br/planos/lingua_portuguesa/agencia_publicidade.shtml
82
Anotações
83
Fundamentos
e Didática
da Língua
Portuguesa
FTC - EaD
Faculdade de Tecnologia e Ciências - Educação a Distância
Democratizando a Educação.
www.ftc.br/ead
84
www.ftc.br/ead
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capas fundamentos e didatica da lignua portuguesa