Jornal Valor --- Página 2 da edição "11/12/2014 1a CAD F" ---- Impressa por edazevedo às 10/12/2014@15:28:55
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Quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
Especial | Transporte de cargas
Negócios Queda na produção industrial arrefeceu a demanda e expectativa é de retração em relação a 2013
Carga doméstica enfrenta dificuldades
Felipe Datt
Para o Valor, de São Paulo
Enquanto a demanda de passageiros por voos domésticos cresce
sem parar, com 13 meses de avanços consecutivos até outubro, o
transporte aéreo de cargas nacional ainda encontra dificuldades
para levantar voo. A queda de 3%
na produção acumulada nos dez
primeiros meses do ano do principal cliente desse modal — a indústria — e um desempenho aquém
do esperado do PIB arrefeceram a
contratação do transporte de mercadorias nos cargueiros dos aviões.
Depois de avançar 3,8% em 2013,
para um total de 408,62 mil toneladas de produtos pagos transportados, o modal verificou uma retração de 4,16% na movimentação
de janeiro a outubro, em um total
de 323,53 mil toneladas de carga
paga transportada, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Ainda que o último trimestre seja tradicionalmente aquecido por
conta dos volumes de produtos
eletroeletrônicos, encomendas expressas e e-commerce, a expectativa para o ano é de retração ante os
resultados do ano passado.
Os resultados verificados nos
primeiros nove meses do ano contrastam, entretanto, com a grande
movimentação verificada nos últimos dois anos dos principais
players do segmento, de companhias aéreas às novas concessionárias de aeroportos, que anunciam
investimentos milionários em novos terminais de armazenamento
de carga, em tecnologias de gerenciamento e monitoramento das
mercadorias, na ampliação das
frotas e até na chegada de novos
aviões cargueiros.
A aposta é que, considerando
as características continentais
do país, as grandes distâncias
envolvidas para o transporte das
mercadorias via rodovias e a
uma malha ferroviária muito
pequena, o modal aéreo pode finalmente decolar nos próximos
anos. “Em 10 anos, a carga aérea
passou de 273 mil para 408 mil
toneladas, um crescimento de
50%. No mesmo período, o
transporte de passageiros triplicou. Efetivamente, o desenvolvimento do transporte aéreo de
cargas no Brasil está abaixo do
seu potencial”, diz Adalberto Febeliano, vice-presidente comercial da recém-criada empresa de
transporte aéreo de cargas Modern Logistics.
Segundo dados da Associação
Brasileira das Empresas Aéreas
(Abear), o modal aéreo respondeu por apenas 0,4% do peso
transportado no mercado interno em 2012, considerando todos
os modais. Ainda que o frete aéreo possa ser até duas ou três vezes mais caro que o cobrado no
transporte por caminhões, a possibilidade de reduzir o tempo de
transporte de cinco dias para
poucas horas em rotas como
Guarulhos-Manaus ou São Pau-
Embarques aéreos
Transporte de cargas no Brasil e para o exterior (em mil toneladas)
Cargas domésticas
Transporte internacional de/para o Brasil
450
412,50
400
393,48
408,62
777,57
800
713,81 725,48
700
360
636,54
350
600
300
273,24 278,43 279,78 275,64 281,62
250
252,74
500
460,24 476,88
507,26
543,83 548,72
465,36
400
200
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
lo-Belém gera valor no quesito
agilidade para embarcadores de
produtos tão diversos como eletroeletrônicos (smartphones, tablets e televisores), a indústria
farmacêutica, a de moda e confecção e até a automobilística e
de autopeças, para citar alguns
dos clientes mais assíduos.
Os investimentos das principais companhias aéreas que
atuam nesse setor em ampliação
de frota e na melhoria das estruturas físicas de recebimento e
movimentação de mercadorias
não param. A Avianca, que até
agosto de 2014 transportava cargas exclusivamente nos porões
de suas aeronaves de passageiros, iniciou em meados daquele
mês as operações com seu primeiro cargueiro no país, um Airbus 330 zero quilômetro com capacidade de transportar 70 toneladas por viagem. A rota escolhi-
da foi São Paulo-Manaus-São
Paulo, com cinco voos semanais,
de terça a sábado. O índice de
ocupação do cargueiro em outubro chegou a 70%.
“O transporte de cargas no
Brasil é dividido em dois eixos:
Manaus-São Paulo e todas as demais rotas. Estávamos fora de
metade desse mercado e trouxemos um cargueiro para atender a
carga industrial dessa rota”, diz
Tarcisio Gargioni, vice-presidente comercial, marketing e cargas
da Avianca Brasil. Para transportar as cargas fracionadas nas outras rotas, a empresa também investiu na renovação da frota,
com sete novos A-320 — cinco
deles já em operação —, em substituição aos Fokkers-100, que aumentam a capacidade dos porões de 15 m3 para 35 m3.
Líder no mercado doméstico
com share de 40,7% nas cargas
pagas transportadas no acumulado do ano até setembro, a TAM
Cargo finaliza no primeiro trimestre de 2015 um plano de investimentos de R$ 45 milhões na
construção, ampliação e modernização de seus terminais de
carga. Os aportes tiveram início
com a inauguração do novo terminal de cargas da empresa em
Manaus, em novembro de 2013,
e continuaram este ano com as
inaugurações dos terminais de
Goiânia, em fevereiro, e Natal,
em junho.
O braço de transporte de cargas do Grupo Latam prevê a inauguração, até março de 2015, do
novo terminal no aeroporto de
Guarulhos (SP) que, com área
construída de 15 mil m2, será o
maior da companhia no Brasil.
“Em outros 20 terminais ou reformamos ou fizemos mudanças
menores. Também estamos cons-
truindo um novo terminal em
Brasília (DF). Apesar das incertezas de curto prazo no cenário do
crescimento do transporte aéreo
de cargas, enxergamos no longo
prazo um horizonte positivo”,
diz Diogo Elias, gerente Comercial de Cargas Doméstico - Brasil
da TAM Cargo.
Já a Gollog, departamento de
transporte de cargas da Gol,
inaugurou em outubro uma
unidade de recebimento de cargas em Americana (SP), a 104 o
no país e a sexta no ano. Até o final do ano, outras quatro devem
ser abertas e, para 2015, estão
previstas as construções de ao
menos dez novas franquias. “Estamos sendo bastante criteriosos na abertura dos novos centros de operação para termos
certeza de que são viáveis”, finaliza o diretor de cargas da Gol,
Eduardo Calderón.
Embarques internacionais
devem crescer 4,1% ao ano
De São Paulo
Se o transporte doméstico de
cargas pelo modal aéreo ainda
patina, o volume de cargas internacionais com origem ou destino no Brasil cresce em velocidade acelerada.
Em 2013, segundo a Agência
Nacional de Aviação Civil
(Anac), foram 777,57 mil toneladas transportadas, um crescimento de 7,2% ante os resultados do ano anterior — e de 69%
frente às 460,24 mil toneladas
transportadas em 2004. Foi também o quarto ano de crescimento consecutivo. Estados Unidos,
Alemanha e Argentina lideraram no ano passado o ranking
dos principais destinos das mercadorias que decolaram de aeroportos brasileiros. Na mão inversa, o Brasil recebeu cargas principalmente dos Estados Unidos,
Alemanha e Holanda.
Os números positivos colocam o país em linha com um cenário de reaquecimento global
do transporte de mercadorias
por aviões. O segmento, bastante afetado pela crise internacional de 2008 e pelo esfriamento
do comércio internacional nos
.
cinco anos subsequentes, deve
crescer a uma média anual de
4,1% entre 2014 e 2018, segundo
as projeções mais recentes da IATA, a associação internacional
de transporte aéreo.
A projeção para o transporte
aéreo entre as Américas do Norte e do Sul é apenas um pouco
menor, de 3,9%.
As duas maiores companhias
aéreas brasileiras já planejam
explorar as principais rotas internacionais em que operam para elevar o embarque de mercadorias em seus porões. A Gol,
por exemplo, já iniciou o embarque de mercadorias em seus voos para Santiago, no Chile, e pretende também viabilizar o transporte de cargas do Brasil com
destino à Venezuela, onde atualmente está restrita ao transporte
de passageiros. Ao mesmo tempo, já começa a explorar seus
acordos de interline e de codeshare com parceiros como Air
France-KLM e Delta para elevar
sua receita com cargas. Para tanto, está investindo na construção de um novo terminal de cargas de 2 mil m² no aeroporto de
Brasília (DF), que servirá como
hub da empresa para a distribuiLEONARDO RODRIGUES/VALOR
ção das cargas internacionais
dessas companhias nas “pernas
finais” dentro do Brasil.
“Começamos um teste com
uma rota piloto com a Air France-KLM agora em novembro. O
serviço funciona como no transporte de passageiros. A carga que
vem da Europa até Brasília, por
exemplo, é de responsabilidade
deles, e a Gol assumirá as rotas
internas em que eles não voam.
Até o início do ano faremos o
mesmo com a Delta. A companhia trocou a aeronave que voava
dos EUA para Brasília para um
Boeing 767, o que significa mais
espaço de porão e mais carga para ser transportada. O que falta
para consolidarmos as operações
é a integração dos sistemas das
companhias”, diz Eduardo Calderón, diretor de cargas da Gol.
A TAM Cargo também aproveita a consolidação das operações
entre TAM e LAN e o Brasil começa a ganhar mais espaço como
origem e destino de cargas internacionais no Cone Sul.
O aeroporto de Guarulhos
torna-se, assim, um hub importante para a movimentação de
produtos como salmão do Chile,
mirtilo da Argentina, aspargos
DIVULGAÇÃO
Eduardo Calderón: “O que falta para consolidarmos as operações é a integração dos sistemas das companhias”
do Peru e flores do Equador e da
Colômbia, que desembarcam no
Brasil para posteriormente serem transportados para os Estados Unidos e a Europa.
“Hoje conectamos muito mais
cargas de países da América do
Sul no aeroporto de Guarulhos
do que fazíamos antes. Se eu não
tivesse essa malha continental
toda na América do Sul, não
conseguiria abastecer tão bem
os porões dos voos que decolam
do Brasil para destinos como
Madri, Frankfurt e Londres”, diz
o gerente comercial de cargas
doméstico — Brasil da TAM Cargo, Diogo Elias. (FD)
Modern Logistics aposta em uso
exclusivo de aviões cargueiros
De São Paulo
Febeliano: “Não pretendemos competir com malhas já estabelecidas”
2013
Fonte: Agência Nacional de Aviação Civil (Anac)
Uma parceria entre ex-executivos das empresas aéreas Azul e
JetBlue adicionou um novo
player ao setor de transporte aéreo de cargas brasileiro. Com o
início das operações previsto para o primeiro trimestre de 2015, a
recém-criada Modern Logistics
aposta em um diferencial em relação aos serviços ofertados pelas
principais companhias aéreas
que atuam nesse mercado no
Brasil: uma operação exclusiva
com aviões cargueiros, aliada a
uma estratégia de operar em rotas nas quais as cargas aéreas não
chegam atualmente ou cuja oferta de serviços é pequena.
“Não pretendemos competir
com malhas já estabelecidas como
São Paulo-Manaus, até porque um
avião de 20 toneladas de capacidade de carga faria cócegas perto dos
outros transportadores. Pensamos
realmente em uma maior pulverização e abrangência geográfica
dos serviços. No futuro, o planejamento é operar também com
aviões menores (os ATR-72F), de
oito toneladas de capacidade, para
podermos levar a carga para cidades médias”, revela Adalberto Febeliano, vice-presidente comercial
da Modern Logistics.
O plano inicial da nova companhia, que ainda passa por processo
de certificação e de conversão de
sua frota inicial de duas aeronaves
Boeing 737-400F com capacidade
de transportar 20 toneladas por
voo, é embarcar produtos como
peças para a indústria automobilística, eletroeletrônicos (televisores, tablets, smartphones), medi-
camentos e vacinas para a indústria farmacêutica, e até mesmo inseticidas e fungicidas, animais vivos e artigos perigosos.
Estratégia é operar em
rotas nas quais as
cargas aéreas não
chegam ou cuja oferta
de serviços é pequena
Inicialmente, a empresa contará com dois centros de distribuição de 5 mil m² cada, em Jundiaí (SP) e Manaus, e uma frota
terrestre de coleta e entrega de
mercadorias terceirizada. A decisão de para onde voar dependerá
da demanda dos clientes. “Pode
ser no Sul ou no Nordeste, dependendo de onde estiver a
maior necessidade dos clientes”,
diz o executivo.
A aposta em uma operação
que oferece uma solução logística porta a porta integrada com o
modal aéreo, na opinião de Febeliano, decorre da necessidade,
também, de oferecer um serviço
mais customizado e de melhor
qualidade. “A carga que vai no
porão do avião não é paletizada
e unitizada. É carregada como as
bagagens. Para cargas expressas
e pequenos volumes e pacotes,
isso não é problemático, mas
com cargas maiores pode ocorrer dano na fase do manuseio.
Quando se utiliza um cargueiro
dedicado, embarca-se a carga
paletizada, colocada no avião
sem manuseio. Os índices de
perdas para o embarcador são
muito menores”, diz. (FD)
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