Estudo de Estados de Informação e sua Dinâmica na Gestão do Conhecimento em Comunicação Organizacional. Rafael Antonangelo Molina1, Profª Drª Margarethe Born Steinberger-Elias1, financiado pelo CNPq 1 Universidade Federal do ABC, Santo André, SP BRASIL Esta é uma pesquisa de Comunicação Organizacional que adota uma visão sistêmica sobre a atuação das organizações de um setor produtivo selecionado. Desenvolvemos uma metodologia de modelagem linguística aplicada ao mundo das organizações para abordar o conhecimento que sobre elas circula. O setor produtivo do plástico foi tomado como referência para criar um modelo baseado no metaconceito de “estados de informação”, definidos por linhas temáticas em um fluxo informacional. Dentre estas, escolhemos as linhas voltadas a “meio-ambiente”, “inovações”, “impactos sobre a produção”, “tecnologias de informação e comunicação”. Para a pesquisa, foi escolhido o fluxo de informações detectado num dos principais meios de divulgação do setor, a revista técnica “Plástico Moderno’, publicada no Brasil desde 1971 até os dias de hoje. Analisamos os títulos de capa, sumários e editoriais da revista durante quatro períodos de quatro anos. Os resultam mostram que a modelagem lingüística é uma metodologia eficiente para caracterizar a evolução das linhas temáticas presentes no setor e para estruturar redes de nós semânticos sobre os quais a Gestão de Conhecimento poderá operar. Palavras – chave: — Informação; gestão do conhecimento; comunicação; organizações. I. INTRODUÇÃO O SURGIMENTO DA GESTÃO DO CONHECIMENTO (GC) pode ser definido como nos anos 70, com as teorias sobre gestão que então surgiam, tais como a visão da informação e conhecimento como recursos organizacionais de Peter Drucker e o conceito de aprendizagem organizacional de Peter Senge [2]. Isto tornou natural a identificação do conhecimento como uma ferramenta fundamental nos processos intrínsecos a cada organização. Apesar disto, o valor do conhecimento e busca pela implantação da GC é um fenômeno recente que vem resultando nas organizações que aderem efeitos como redução de custos, melhor condução no processo de introdução de inovações, valorização do conhecimento dos funcionários, melhores resultados em escala temporal, ajuda no processo de tomada de decisão e menor pressão na sua eleição. Os meios que proporcionaram tais resultados foram o confrontamento de conhecimentos, a mescla de conhecimentos, o aumento gigantesco de informação em formato digital e o ensino ou treinamento à distância através de ferramentas como a internet. Ocorre que muitas vezes a implantação de metodologias ligadas a GC em um sistema organizacional, pela demanda ao uso de recurso de Tecnologia da Informação (TI), causa reflexos negativos no clima organizacional. Isto porque existe o receio natural que o ser humano apresenta frente às inovações combinado a um senso comum erradamente disseminado que associa o uso de recursos de tecnologia avançada como uma concorrência no ambiente de trabalho por parte dos que compõem o quadro organizacional. Este tipo de comportamento, bem como a dificuldade de adaptação e uso da GC causa ruídos indesejáveis sobre a comunicação organizacional, onde a GC possui um vasto campo de aplicação. Identificando-se que seria de grande valia a aplicação da GC em comunicação organizacional, buscou-se uma forma de identificar uma metodologia que permitisse a identificação de um arranjo canais de comunicação (redes) sobre o qual a GC poderia atuar (através de seus nós). Como a conceito de rede remete ao fluxo de algo (no caso informação e conhecimento), era necessário que a pesquisa tivesse um cunho dinâmico. Porém para alcançar tal estágio foi necessária uma análise estática deste fluxo através da definição da imagem estática do fluxo de informação como sendo o chamado estado de informação. Assim a pesquisa se divide em dois momentos centrais. No primeiro momento houve a procura pela identificação de variáveis que afetariam o estado de informação e a busca por entender como afetariam o mesmo pela identificação, através de temáticas, tendo por amostra o Portal Plástico [4]. A escolha da amostra deve-se ao fato de o campo de aplicação escolhido aqui para que houvesse viabilidade de estudo foi o setor produtivo do plástico, sendo o portal citado um importante meio de disseminação de informações deste setor. No momento posterior procurou-se formar um corpus consistente que pudesse apontar como a determinadas áreas do conhecimento intrínsecas ao setor evoluíram no tempo (dinâmica). Este corpus foi definido como sendo as edições da revista Plástico Moderno, editadas pela Editora QD [1], por concentrar quase 80% dos assinantes pagos do setor, tendo, portanto, um impacto relevante na produção de plástico. A identificação das temáticas deu-se com o uso da modelagem lingüística neste momento, atuando de forma a revelar a presença de temáticas pelo aparecimento de determinadas expressões inerentes a mesma. A utilização desta metodologia, como será mostrado no decorrer deste artigo, mostrou-se eficiente para os fins pretendidos. Isto porque permitiu que, identificando-se as expressões de cada temática, uma rede de expressões fosse estabelecida, sendo as suas ligações os canais de comunicação (disseminação de conhecimento e informação) e os nós (expressões) locais de atuação potencial de técnicas de GC, a medida que apresentam-se conexões que permitem um impacto relevante por toda rede. II. ANÁLISE ESTÁTICA ATRAVÉS DE ESTADOS DE INFORMAÇÃO O estudo realizado através da conceituação teórica permitiu, através da análise da literatura de Niklas Luhmann [3], a identificação de quinze variáveis que afetariam o estado de informação. Isto porque trata sobre as organizações como um sistema que se auto nutria por meio de decisões tomadas sobre o estado de informação apresentado em qual momento. São estas quinze variáveis: O que havia antes de sua Diferença a respeito da própria existência. informação. Esquemas de distinção. Crescimento do sistema. Níveis hierárquicos. Inovação. Mecanismos de amplificação. Ação. Burocratização. Identidade. Tempo. Democratização. Racionalização. Complexidade. Conhecimento acumulado. Identificada as variáveis, o Portal Plástico [4] forneceu condições para que se estudasse o impacto das mesmas sobre o setor produtivo do plástico (setor escolhido para aplicação). A análise foi realizada duas maneiras. A primeira através de das edições de 2008 da revista Plástico Moderno disponíveis no portal, onde as variáveis eram atribuídas a temáticas, identificadas pela presença de determinadas expressões. A segunda foi uma análise sobre seções do próprio portal onde as variáveis eram atribuídas também através da identificação de expressões, de forma direta aqui. O resultado disto é apresentado no gráfico 1. Revista Plástico Moderno X Seções do Portal do Plástico. 16,00% 14,00% 12,00% 10,00% 8,00% 6,00% 4,00% 2,00% 0,00% Revista Plástico Moderno Portal Plástico - Seções .. pe o ad . us de . .. ca d a s ro xi do Er p le nt o . m e ão C o cim zaç o . es li çã .. C r io na tiza p e i ac ra es R oc a r em ça D re n . f e de D i t id a en Id o. . ... ã o to Aç açã e n ov im In h ec n o. C o p o. a çã .. . m tiz de s. Te cra os ico r o is m q u . . Bu an rár dis. e c ie e .. M is h s d t e. ve a a n Ní ue m ia q av Es e h qu O Gráfico 1: comparativo entre as distribuições obtidas na revista Plástico Moderno e as seções restantes do Portal Plástico. Esta distribuição obtida reflete o que afeta e como o estado de informação é afetado. Isto representa um retrato do fluxo de informação, já que todo o analisado foi aqui tratado como um grande bloco, se levar em conta o caráter temporal das diferentes informações apresentadas. Entretanto, esta primeira análise se fez necessária tanto como forma de fixação de conceitos, como forma de avaliar se seria possível uma análise onde se atribui valor (análise semântica) a um contexto apresentado por meio das expressões lingüísticas (campo léxico), fazendo uso de esquemas de distinção próprios. Em suma, realizar uma primeira avaliação a aplicação da metodologia de modelagem lingüística para o estudo de fluxo de informação e conhecimento em sistemas organizacionais (comunicação organizacional). Com a apresentação de resultados condizentes com a realidade (verificadas pelo perfil que cada contexto estudado possui), buscou-se uma representação agora dinâmica deste fluxo, através do uso da mesma metodologia. III. ANÁLISE DINÂMICA ATRAVÉS DA MODELAGEM LINGUISTICA Para a realização de uma análise dinâmica da comunicação organizacional através da modelagem lingüística fez-se necessário a formação de um corpus que permitisse a “discretização” dos espaços temporais e a, conseqüente, avaliação de que variáveis temporais afetaram o fluxo e contribuíram para forma uma rede de disseminação de conhecimento. As edições da revista Plástico Moderno (editada desde 1971) foram definidas como o campo de aplicação da análise, mais especificamente as capas e sumários, mantendo-se o foco sobre o setor produtivo de plástico. Para tanto, foi necessário buscar as revistas disponíveis para tal, bem como conhecer um pouco da história da revistas. Isto se explica porque houve duas mudanças de nome na revista (Plásticos & Borracha, Plásticos & Embalagem e o atual nome, Plástico Moderno, mostradas na figura 1), o que vem a interferir no momento da busca para a formação do corpus. Figura 1: da esquerda para direita - Plásticos & Borracha, Plásticos & Embalagem e Plástico Moderno. A busca pelas revistas se deu em bibliotecas do Conjunto das Químicas e da Engenharia Química, ambas da Universidade de São Paulo, e na Editora QD, que edita a revista, sendo registrados capas e sumários por meio de fotografias. Uma primeira análise foi realizada para a identificação de temáticas sobre as quais as expressões se ligariam. Identificadas 22 temáticas, escolheu-se 4 para análise. São elas: “Meio Ambiente”; “Introdução de Inovações”; “Impactos Negativos na Produção” e “Tecnologia da Informação e Comunicação” (somente nos dois últimos períodos citados a seguir). Definiu-se também que a análise se daria em quarto períodos de magnitude aproximada e igualmente espaçados: Período A (1973-1976); Período B (1983-1986); Período C (1993-1996) e Período D (2003-2006). Estas restrições se deram para que o volume de informações fosse tratável se a necessidade do uso de recursos computacionais muito avançados, o que não era o propósito desta pesquisa, e também pelo fato de não ter se obtido todas as edições da revista, havendo a necessidade de determinar períodos de estudo para os quais havia todas as edições disponíveis. Determinado o corpus, a análise que buscava identificar as temáticas estabelecidas para estudo através de expressões foi iniciada. Isto permitiu a identificação da evolução das temáticas e a conseqüente busca por eventos temporais que trabalharam o perfil da temática da forma como se apresentou. A análise de evolução também foi realizada para até duas temáticas combinadas. Assim, estabeleceu-se que para uma análise dinâmica o movimento realizado é inverso ao da análise estática, primeiro visualizando o comportamento do fluxo para, em seguida, determinar as variáveis temporais que ele influi. Esta análise permitiu ainda identificação de tendências de movimento de conhecimento nas diferentes temáticas estudadas (quadro 1). Quadro 1: exemplo de identificação de tendências de movimento de conhecimento em diferentes temáticas estudadas. Classificação Período A Período B Período C Período D Meio Surgimento Em queda Em Em Ambiente e baixo crescimento crescimento Tecnologia de Não Não Surgimento Em queda e Informação e analisado analisado e em muito baixo Comunicação crescimento A mensuração de quantas expressões cada temática apresentou permitiu o cálculo da chamada “densidade lexical por linha temática” (DLT), uma razão entre do número de expressões pelo número de matérias, resultando em 1,45 para “Meio Ambiente”, 0,56 para “Introdução de Inovações”, 1,29 para “Impactos Negativos na Produção” e 1,18 para “Tecnologias de Informação e Comunicação”. A DLT permite mensurar o quão compacta é uma rede formada pelas expressões da temática. O fato de possuir a maior DLT fez com que “Meio Ambiente” fosse uma das temáticas escolhidas para o prosseguimento dos estudos, juntamente com “Tecnologias de Informação e Comunicação” pela proximidade com o tema tratado por este estudo e pelo fato destas duas temáticas não terem apresentado combinação de matérias em nenhum dos períodos. Assim, foi estabelecida uma rede de expressões para ambas as temáticas, onde se associam as palavras por relações como as mostradas no quadro 2. Quadro 2: parte de rede de expressões concebida para a temática “Meio Ambiente”. Relações por Relações por Relações por Expressões presença em uma proximidade significado mesma edição. lexical. (semântica). Poluir, poluição Reciclagem, meio ambiental, menos poluição Toxidade ambiente, poluir poluentes, emissão de poluentes Com a rede estruturada é possível então perceber quais são as expressões de maior relevância na rede, por meio do número de ligações que apresenta. Por fim, procurou-se estabelecer algum tipo de canal de comunicação entre as duas temáticas, por meio das expressões para as quais não se formou a rede e que tinham relações de algum tipo com aquelas que tiveram as redes formadas. Identificou-se que estas expressões eram: “pesquisa”, “novos (as)” e “falta”, formando um canal entre as duas redes criadas e demonstrando por onde elas tendem a se aproximar. IV. CONCLUSÕES Esta pesquisa explorou, através da pesquisa de meios de divulgação, o uso da modelagem lingüística para a identificação de redes pelas quais a informação e o conhecimento do setor produtivo de plástico circulam. Porém, o mesmo poderia ter sido feito para a identificação de rede internas de comunicação em uma organização do setor, o que seria de muita valia para a aplicação dos conceitos de Gestão do Conhecimento. Isto poderia ocorrer pelo estudo lingüístico dos ofícios que os diferentes níveis hierárquicos da empresa emitiram, por exemplo. Outros setores também poderiam ser analisados, através também de meios de divulgação, ofícios ou quaisquer outros documentos, procedendo-se da mesma maneira. Mesmo a utilização de outros tipos de mídia poderia sofrer análises análogas, independentemente do público para os quais se destina. Isto porque todas estas possibilidades possuem em comum o fato de levarem em conta que a estruturação de qualquer setor e suas atividades só se torna viável se existem formas de comunicação que permitam que se utilizem alguns conhecimentos para um determinado fim. Como esta comunicação se dá sobre uma vasta amostra de palavras, as utilizadas podem ser identificadas e estruturadas em um formato de rede, que represente como o conhecimento circula entre diferentes temáticas (rede global) e dentro destas (rede local). Obviamente, cada uma das possibilidades de aplicação apresentadas possui suas particularidades. Porém, assim como realizado nesta pesquisa, estas especificações só viriam a ajudar entender o fluxo dentro de cada rede montada. Assim, os resultados apresentados demonstram a possibilidade de aplicação de modelagem lingüística como metodologia para identificação de canais de comunicação de um determinado setor escolhido por meio de algum tipo de meio de comunicação do mesmo. AGRADECIMENTOS Ao CNPq pelo financiamento, a UFABC pela oportunidade e a professora orientadora Drª Margarethe Born SteinbergerElias. Também a Editora QD pela disponibilidade de seus exemplares, e as bibliotecas do Conjunto das Químicas e Engenharia Química da USP pela disponibilidade do registro dos exemplares disponíveis. REFERÊNCIAS [1] [2] [3] [4] [5] EDITORA QD – QUÍMICA E DERIVADOS. Seção Revista Plástico Moderno. Disponível em: <http://www.qd.com.br/>. Acessado em 31 de janeiro de 2009. INTRODUCTION TO KNOWLEDGE MANAGEMENT. University of North Carolina at Chapel Hill. Disponível em: <http://www.unc.edu/~sunnyliu/inls258/Introduction_to_Knowledge_M anagement.html>. Acessado em 13 de dezembro de 2008. LUHMANN, N. Organización y decisión. Autopoiésis, acción y entendimiento comunicativo. 1º Edição. Barcelona: Anthropos Editorial, 1997. PORTAL PLÁSTICO. Disponível em <http://www.plastico.com.br/index.php>. Acessado em 09 de fevereiro de 2009. ROSINI, Alessandro Marco e PALMISANO, Angelo; Administração de Sistemas de Informação e a Gestão do Conhecimento. 1º Edição. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.