Mini Paper Series Ano 10
o
Janeiro, 2015 – N 226
Ponto de Vista e Arquitetura Corporativa
Alexandre Sales Lima
os dias de hoje, com ambientes corporativos cada vez mais
complexos e interligados e a proliferação de informações,
muitas vezes descontrolada, fica extremamente difícil
direcionar e desenvolver uma arquitetura corporativa capaz de
gerar valor de maneira contundente. Parte dessa dificuldade se
deve à maneira de representar as nuances e diversidades dos
ambientes corporativos. Antes de prosseguir no tema gostaria de
trazer duas histórias diferentes.
A primeira história é uma parábola hindu sobre sete sábios cegos
que encontraram um elefante pela primeira vez. Cada um dos
sábios tocou uma parte diferente do elefante e emitiu seu parecer.
O primeiro tocou a perna do elefante e disse que ele era roliço
como uma árvore. O segundo tocou a tromba e disse que ele era
igual a uma serpente. O terceiro tocou a orelha e disse que ele
parecia uma cortina tremulante. E assim sucessivamente cada um
chegou a uma conclusão diferente.
A segunda história é na verdade uma
frase atribuída ao cientista e filósofo
Alfred Korzybski. Ele acreditava que as
pessoas não têm acesso ao conhecimento
direto da realidade, mas elas têm acesso
às percepções e um conjunto de crenças
que a sociedade humana tem confundido
com conhecimento direto da realidade. A
sua frase mais celebre é "O mapa não é o
território". Korzybski usou a relação entre
um território geográfico e sua
representação por meio de um mapa para
simbolizar que, para estudar e entender
alguma coisa, nós geralmente trabalhamos com modelos e níveis
de abstração. Por mais completa que seja a representação ela
nunca será o objeto representado em si.
O que podemos extrair dessas duas histórias? No caso dos sábios,
a analogia diz respeito à percepção com relação à complexidade
corporativa. Ao olharmos para uma determinada situação de um
ponto de visto único ou apenas de uma perspectiva específica do
problema, corremos o risco de desenvolver uma visão parcial que
provavelmente nos levará a conclusões inadequadas. Já no
segundo caso, o ponto é que nosso entendimento ou estudo de
uma determinada situação é baseado em modelos e
abstrações.Embora isso aumente o desacoplamento da realidade
em si é também o que nos permite extrapolar e analisar a situação
de uma forma mais estruturada, ou seja, se o mapa for tão
complexo quanto o território, perderá sua função que é a de
destacar os pontos mais relevantes para nos guiar através do
território. Aplicando essas ideias na arquitetura corporativa,
concluímos que um diagrama, por exemplo, não deve ser
N
complicado demais ao ponto de perder sua função, que é a de
descrever os pontos relevantes de uma determinada situação. Nem
podemos trabalhar com modelos muito simplistas que não
representam relevantemente a situação em questão. Mas como
resolver esse dilema?
O framework de arquitetura do Open Group (TOGAF) utiliza
conceitos chamados de view e viewpoint, ou seja, visão e ponto de
vista, que podem ser descritos da seguinte forma:

Visões são representações globais da arquitetura consideradas
significativas para os stakeholders. Permitem que a
arquitetura seja comunicada e compreendida, para verificar se
a solução sistêmica endereça as necessidades e preocupações
deles;
 Ponto de vista define a perspectiva de uma visão, ou seja,
define como construir e usar uma visão.
Resumindo, uma visão representa o que
vemos e o ponto de vista representa de
onde a olhamos.
Para falar com executivos detalhes
técnicos são de pouca valia. O mesmo se
aplica na apresentação específica de uma
análise do modelo de negócio para o time
de desenvolvimento. Ambas as visões
são importantes e fazem parte do que
deve ser identificado, planejado e
executado. Por exemplo, para mapear a
arquitetura de negócio podemos fazer uso
de várias representações: modelo
operacional, modelo de negócio, cadeia de valor etc. Todas essas
abordagens tratam do mesmo assunto (visão de negócio), mas
cada uma apresenta a questão de um ponto de vista diferente. Um
conjunto de pontos de vista diferentes fornece uma poderosa
ferramenta de análise.
O importante é olhar para o cenário em questão de forma holística,
garantindo consistência entre as várias facetas da organização e
criar visões específicas para endereçar os vários perfis de
stakeholders. Executivos de negócios têm interesses e percepções
diferentes dos executivos de TI. Cabe ao arquiteto corporativo
endereçar públicos distintos de forma distinta e ao mesmo tempo
garantir consistência entre essas visões. Em outras palavras, tem
que entender o “elefante”, mas não pode explicar o “território” de
uma só vez.
Para saber mais
Mini Paper #190: "TOGAF - O que é e por quê?"
TOGAF 9.1 - https://www2.opengroup.org/ogsys/catalog/g116
Alexandre Sales Lima é Senior Managing Consultant e Arquiteto Certificado em GBS na IBM, com 18 anos de experiência em tecnologia de
informação, formado em Física pela UFRJ, MSc em sistemas dinâmicos não lineares e MBA em e-Business na FGV-RJ. O Mini Paper Series é
uma publicação quinzenal do TLC-BR e para assinar e receber eletronicamente as futuras edições, envie um e-mail para [email protected].
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