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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
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PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
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OS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM NA PRÉESCOLA: REFLEXÕES ENTRE O CUIDAR E EDUCAR.
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AUTORA:RAIMUNDA ANGÉLICA DA CONCEIÇÃO SANTOS
Prof. Orientador: Dr. Vilson Sérgio de Carvalho
Salvador
2013
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
OS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM NA PRÉESCOLA: REFLEXÕES ENTRE O CUIDAR E EDUCAR.
AUTORA:RAIMUNDA ANGÉLICA DA CONCEIÇÃO SANTOS
Monografia apresentada Ao Instituto A
Vez do Mestre como requisito para
obtenção do título de especialista em
Educação Infantil e Desenvolvimento.
Prof. Orientador: Vilson Sérgio de Carvalho
Salvador
2013
AGRADECIMENTOS
De tudo ficaram três aprendizados eternos: a
certeza
de
que
estamos
sempre
recomeçando, a certeza de que é preciso
continuar sempre e a certeza que seria
impossível chegar até aqui sem o apoio,
carinho
e
dedicação
de
pessoas
tão
importantes na minha vida...
Quero agradecer primeiramente a Deus e
sua mãe Maria, por me darem coragem e
novas forças a cada amanhecer.
Aos meus pais, exemplo de amor e
simplicidade. A minha irmã Mara pelo
constante apoio na minha trajetória como
educadora.
As minhas filhas Bárbara e Maria Rafaella
pelo amor e compreensão.
Ao Colégio Mediterrâneo que ao longo
desses anos acreditou em mim como
profissional.
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho as crianças do “Colégio
Mediterrâneo”, que fizeram despertar o meu
interesse em conhecer cada vez mais o
universo infantil.
A criança em si é um espetáculo de
vida
É renovação de espírito,
É o anseio de nossa alma,
É a esperança contida.
Vejo no olhar de cada criança
Um misto de ternura e verdade
É um desejo que nasce no peito,
De um mundo melhor, mais
felicidade.
(autor desconhecido)
RESUMO
Esta pesquisa intitulada “Os processos de ensino e aprendizagem na préescola: reflexões entre o cuidar e educar”, tem por objetivo entender qual a relação
existente entre o binômio cuidar-educar no âmbito da educação infantil. Para tal se
faz necessário uma busca na trajetória histórica sobre a infância, pois existiram fatos
relevantes no contexto sócio histórico que nos remeteram a uma visão
assistencialista da educação das crianças da pré-escola. Esta monografia é
fundamentada a luz dos teóricos: Jean Piaget (1995), Lev Semionovich Vigotsky
(2008), Henri Wallon (1995), os quais nos conduzem a uma reflexão filosófica no
campo da produção do conhecimento das crianças. No entanto, estes dois princípios
indissociáveis cuidar e educar estão imbricados nos aspectos físico, social, afetivo,
cognitivo e emocional, que serão mediados pelo professor por caminhos mais
promissores para o desenvolvimento dessas crianças. O problema dessa pesquisa
cunhou sobre a seguinte questão: como ocorre o processo de ensino e
aprendizagem na pré-escola? No transcorrer da pesquisa evidencia-se que cuidar e
educar são fatores intrínsecos no processo de ensino e aprendizagem da préescola.
Palavras-chave: Educar. Cuidar. Infância. Prática Pedagógica.
METODOLOGIA
A metodologia adotada para este trabalho foi o estudo bibliográfico, no qual
foram lidos autores e documentos pertinentes e importantes ao tema aqui
desenvolvido. Pesquisa bibliográfica é o estudo sistematizado desenvolvido com
base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas, isto é,
material acessível ao público em geral. Fornece instrumental analítico para qualquer
outro tipo de pesquisa, mas também pode esgotar-se em si mesma. Serve como
procedimento básico para o estudo monográfico, pelos quais se busca o domínio do
“estado da arte” sobre determinado tema. As referências bibliográficas foram de
extrema importância para conceituar o conteúdo abordado.
A fundamentação teórica foi baseada no conhecimento geral de autores
como: Philippe Ariés, Zilma Ramos Oliveira, Tereza Cristina Rego, Izabel Galvão,
Barry Wadswort, dentre outros. Vale ressaltar o Referencial Curricular Nacional para
educação infantil, o qual se destaca pelo papel específico na orientação que exerce
na construção social das crianças da pré-escola.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .....................................................................................................
1
9
UMA RETROSPECTIVA HISTÓRICA ACERCA DA TRAJETÓRIA DA
EDUCAÇÃO INFANTIL....................................................................................
12
1.1 UMA INCURSÃO SOBRE OS MARCOS LEGAIS PARA EDUCAÇÃO
INFANTIL............................................................................................................... 15
1.2 DEMANDAS PARA EDUCAÇÃO INFANTIL....................................................
2
18
AS CONTRIBUIÇÕES DE PIAGET, VIGOTSKY E WALLON PARA
COMPEENSÃO DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA PRÉESCOLA
2.1 AS CONTRIBUIÇÕES DE VYGOTSKY
21
26
2.2 AS CONTRIBUIÇÕES DE WALLON
28
3
31
A RELAÇÃO ENTRE O CUIDAR E EO EDUCAR NA PRÉ-ESCOLA
3.1 A IMPORTÂNCIA DO CUIDAR
33
3.2 A IMPORTÂNCIA DO EDUCAR
35
3.3 O PROFESSOR NO BINÔMIO EDUCAR E CUIDAR NA PRÉ_ESCOLA
37
CONCLUSÃO
39
REFERÊNCIAS
41
9
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa partiu das indagações que são feitas ao tentar entender o que
é necessário para desenvolver as habilidades e competências das crianças na préescola. Ao trabalhar com crianças pequenas deve-se ter como principio conhecer
suas peculiaridades, ou seja, sua história, seus interesses e necessidades, mediante
a esses aspectos aproveita-se a relevância de compreender a ação de cuidar nas
instituições infantis.
O desenvolvimento deste trabalho perpassa pela reflexão do assistencialismo
ao processo de cuidar e educar as crianças de 4 a 5 anos, fase atualmente
denominada como pré-escola. A educação infantil apresentou ao longo dos séculos
uma equivocada conotação assistencial. Esta concepção passou por grandes
transformações nos últimos anos, onde o foco assistencialista deu lugar a uma
proposta pedagógica na qual o desenvolvimento da criança é visto de forma integral
de suas especificidades (psicológicas, emocionais e cognitivas) que devem ser
respeitadas e mediadas.
Este estudo tem como objeto “Os processos de ensino e aprendizagem na
pré-escola: reflexões entre o cuidar e educar, à luz das contribuições teóricas de
Piaget (1995), Vigotsky (2008), Wallon (1995), Wadswort (1995), colaboradores que
nos despertaram para um novo olhar sobre o sujeito que ensina e aprende.
A trajetória percorrida para preparação desta pesquisa considerou um
levantamento bibliográfico designado à literatura que trata do tema. A organização
metódica e planejada da nossa pesquisa abrangeu os seguintes procedimentos:
delimitação do objeto de pesquisa, levantamento da bibliografia referente ao tema,
leitura e fichamento de alguns dessas leituras, construção do trabalho e redação do
texto.
Após diversos momentos reflexivos, selecionamos o assunto que mais nos
instigava como objeto de estudo, ou seja, uma gênese da articulação do cuidar e
educar na pré-escola. Tratando-se de um trabalho de cunho bibliográfico, foi
fundante pesquisar e consultar literaturas que legitimassem e embasassem as
controvérsias referentes ao tema.
As reflexões acerca do problema: como ocorrem os processos de ensino e
aprendizagem na educação infantil? Motivou-nos a diversas buscas referentes a
10
esse contexto, foram vivências significativas no meu estudo de graduanda em
pedagogia.
À medida que procedemos as leituras e que os elementos importantes foram
surgindo elaboramos a documentação, que se configurou em apontamento para
construir a pesquisa, enfim as experiências, os debates, as práticas docentes foram
contribuições intelectuais preeminentes nesta busca.
Todas as técnicas usadas nos favoreceram na eficiência do trabalho, toda
essa organização nos conduziu a um estudo, embasado/fundamentado e dessa
forma, elaboramos a construção lógica da pesquisa que foi redimensionada em três
partes essenciais que são elas: a introdução, o desenvolvimento e a conclusão.
Dentro dessa disposição funcional que se desenvolveu o raciocínio demonstrativo do
discurso em questão.
Dessa maneira no primeiro capitulo se fez necessário reconhecer os fatos
históricos que contribuíram com as concepções educacionais antagônicas da
educação infantil, durante muitos séculos a criança pequena era considerada um ser
sem valores e não era considerado a existência da sua identidade pessoal. O que
contribui para uma educação precária e compensatória.
Tais posicionamentos só vieram a evoluir a partir dos marcos legais, ou seja,
com a promulgação da Constituição Federal de 1988, foi definida uma nova doutrina
em relação a infância que é: “ a criança como sujeito de direitos”. A visão das
crianças foi substituída pela ótica de um ser que participa ativamente do seu
processo de construção de conhecimentos por meio das suas interações sociais e
culturais.
Considerando uma nova etapa de construção da ideia de educação das
crianças, veremos no segundo capitulo as concepções dos teóricos: Piaget, Vigotsky
e Wallon, eles mostram a capacidade que as crianças têm de construir, conhecer e
aprender a partir das trocas estabelecidas entre o sujeito e o meio. Esse trabalho
formativo é concebido através da interação entre criança-criança e criançaprofessor, em todo esse processo o afeto é um regulador da ação.
O terceiro capítulo culmina definindo as práticas indissociáveis de cuidar e
educar na pré-escola e também com o agir pedagógico nessa função integrada.
Dessa forma este estudo propõe aos professores refletir acerca das questões
relacionadas à infância, o cuidar/educar de forma constante e dialética nas situações
de aprendizagem.
11
Durante muito tempo a função de cuidar e educar foram entendidas de
maneira equivocada. Contudo, essa dimensão educativa é de suma relevância na
ação do professor contemporâneo, pois as aprendizagens passam a ter significados
no universo infantil, a partir da afetividade que surgem através da promoção de
ações acolhedoras e instigadoras. O ato de cuidar e educar não é uma dupla tarefa
e sim uma ação unificada para o desenvolvimento das crianças na educação infantil.
Por fim, esta pesquisa é significativa para entendermos que o ato de cuidar é a base
de todas as relações, sendo assim é muito importante no ato de educar. A esse
respeito evidencia-se que é imprescindível cuidar para educar, pois são dois fatores
intrínsecos no processo de ensino e aprendizagem na pré-escola.
12
1
UMA
RETROSPECTIVA
HISTÓRICA
ACERCA
DA
TRAJETÓRIA
DA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Este capitulo aborda no seu bojo aspectos históricos que situam a trajetória
da educação infantil, enfatizando concepções de criança, os marcos legais, as
demandas do Referencial Curricular Nacional Para Educação Infantil (RCNEI) e dos
processos de aprendizagem nesse segmento.
Cada época possui uma maneira própria de considerar as crianças. Na
antiguidade as crianças representavam o pecado e como as famílias eram
patriarcais, o poder do pai era absoluto permitindo a ele decidir sobre a vida dos
filhos pequenos, expondo-os às diversas situações adversas ou abandonando-os.
Existia pelas crianças um sentimento indiferente. Ariès (2006), afirma que a ideia
sobre infância foi sendo historicamente construída e que a criança, por muito tempo,
não foi vista como ser em desenvolvimento e sim adulto em miniatura, pois não
havia distinção entre o mundo adulto e infantil.
Para Ariès (2006, p.17)
até por volta do século XII, a arte medieval desconhecia a infância ou não
tentava representá-la. É difícil crer que essa ausência se devesse à
incompetência ou à falta de habilidade. É mais provável que não houvesse
lugar para a infância nesse mundo.
É dessa maneira que era retratada a infância. Percebemos que a imagem
infantil não era agradável de ser lembrada, existindo assim, uma reserva para
despertar sentimentos de afeição. Ariès (2006) explica que esse sentimento da
infância pode ser ainda melhor percebido através das reações críticas que provocou
no fim do século XVI e, sobretudo, no século XVII, quando algumas pessoas
“rabugentas” consideravam insuportável a atenção que se dispensava então às
crianças: sentimento novo também, como que o negativo do sentimento da infância
a que chamamos de “paparicação”. Embora essa visão infantil tenha precedido
durante muitos séculos, essa análise nos permitira conhecer os erros históricos
numa visão contemporânea.
Com o desenvolvimento científico e a expansão comercial por volta dos
séculos XVIII e XIX, tornou-se maior a necessidade de mão de obra para trabalhar
nas indústrias. Devido à inserção da mulher no mercado de trabalho, surgem as
instituições de educação infantil na Europa.
13
Durante muito tempo as instituições organizavam seus espaços com a função
de assistência, de custódia e de higiene das crianças menos favorecidas. Nessa
época as teorias defendiam ideias bem pejorativas relacionadas às crianças. O que
afirmam Craides e Kaercher (2001, p.14):
(...) Outro fato que precisa ser lembrado é que muitas teorias nesta época
também estavam interessadas em descrever as crianças, sua natureza
moral, suas inclinações boas ou más. Defendiam ideias de que
proporcionar educação era, em alguns casos, uma forma de proteger a
criança das influências negativas do seu meio e preservar-lhe a inocência,
em outros, era preciso afastar a criança da ameaça da exploração, em
outros, ainda, a educação dada às crianças tinha por objetivo eliminar as
suas inclinações para a preguiça, a vagabundagem, que eram
consideradas “características” das crianças pobres.
Assim podemos notar que a construção da imagem infantil necessitava de
uma visão mais otimista da infância. Assim surge Rousseau (1968), que criou um
cenário de conquistas para as crianças e uma proposta educacional que combatia
preconceitos, o autoritarismo e a severidade, o que resgatava o valor infantil.
Segundo Rousseau (1968), as crianças têm maneira de ver, sentir e pensar que lhes
são próprias e só aprendem através da conquista ativa, ou seja, quando elas
participam de um processo que corresponda à sua alegria natural.(OLIVEIRA, 2008).
Segundo Oliveira (2008), Rousseau revolucionou a educação de seu tempo,
pois ele afirmava que a infância não era apenas uma via de acesso, e nem um
período para a vida adulta, descobre-se que a criança tem necessidades próprias e
precisa de cuidados, amor e respeito.
As ideias de Rousseau favoreceram as concepções de Pestalozzi (1997),
sendo antagônico a uma visão educacional tradicional, pautava suas concepções de
práticas educativas na bondade e no amor. Através de Pestalozzi, a educação se
ordenou na percepção para surgir à agilidade nas ações. (OLIVEIRA, 2008). Em
consonância surge Froebel que defendia a evolução natural da criança e enfatizava
a importância do simbolismo infantil. Em 1837, criou o “jardim de infância”, com a
afirmação de que as crianças eram “pequenas sementes”, cujo “ jardineiro” seria o
professor. Os “jardins de infância” iniciam uma visão pedagógica, onde, a criança
começa a se expressar através da linguagem e percepção sensorial, diversos
recursos e atividades pedagógicas, ou seja, as crianças passaram a vivenciar o
mundo infantil. Assim a infância tomou o seu lugar na história, as teorias de Froebel
foram gradativamente inseridas nas instituições de um modo geral. (OLIVEIRA,
2008)
14
No século XX surgem dois médicos interessados pela educação infantil, os
quais contribuíram significativamente com o cenário educacional. Decroly (2008)
elaborou um aprendizado global com materiais concretos, para ele a criança deve
ser criança e não um adulto em potencial, a partir desse pressuposto deriva sua
proposta pedagógica. Já Montessori (2008), ocupa também papel de destaque, o
método Montessori introduziu novas técnicas nos jardins de infância, calcados nas
informações científicas sobre o desenvolvimento infantil,ou seja, a evolução mental
da criança acompanha seu crescimento biológico. O seu método era designado a
crianças com e sem deficiências. Faz-se importante citar que Montessori criou
diversos materiais didáticos especialmente elaborados para educação motora, como
também o mobiliado escolar com tamanho reduzido e a casinha de boneca. Os
médicos educadores citados tinham a concepção que a escola deveria girar em
torno do aluno. (OLIVEIRA, 2008).
Muitos fatos ocorrem na educação das nossas crianças pequenas, foram
diversos educadores empenhados em construir uma educação com bases sólidas.
Contudo, as transformações sociais ocorridas na Europa influenciaram o Brasil e a
partir do século XX era o momento de resinificar as formas de educar as nossas
crianças, pois as instituições infantis incluindo as brasileiras, preservavam a cunho
assistencial
e não criava condições socioculturais para o desenvolvimento das
crianças.
A escolaridade destinada às crianças passou por momentos de expansão e
retraimento, os autores citados ao longo desse capitulo estabeleceram um sistema
de ensino centrado na criança, porém muitos entraves teriam que ser superados.
Surge também Freinet (2008), que renovou ainda mais as práticas educativas, com a
visão que a escola deveria extrapolar os limites da sala de aula, estabelecendo
assim às aulas passeio, mesmo não dedicando seu trabalho as crianças pequenas,
seu legado causou marcas nas práticas didáticas infantis em diversos países.
(OLIVEIRA, 2008).
Essas contribuições teóricas causaram na sociedade contemporânea uma
consciência da importância da primeira infância, as famílias começaram a despertar
sentimentos de preocupação com educação dos seus filhos e criou-se um espaço
para o posicionamento expressivo para buscar soluções e extinguir os modelos
assistenciais dados aos mais pobres e se basear em ricas experiências baseadas
nos “jardins de infância”, predominantes nas classes sociais privilegiadas. Passou-se
15
a dar importância à infância como etapa fundamental e decisiva na formação da
personalidade, percebe-se uma preocupação com “cuidar e educar as crianças”,
assim o campo da psicologia oferecia informações para compreender o
desenvolvimento das crianças, assunto que será visto posteriormente.
A intenção deste capítulo é deixar claro o processo histórico que a criança
passou até ser reconhecida como sujeito social de direitos, com sentimentos e capaz
de fazer descobertas. E para entendermos como os processos legais são
preponderantes nesta transformação social, iniciaremos uma análise das leis
voltadas para a educação.
1.1 UMA INCURSÃO SOBRE OS MARCOS LEGAIS PARA EDUCAÇÃO INFANTIL
Mediante a tantas controvérsias no nosso cenário educacional surge uma
mudança significativa, em 1961 é aprovada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB), Lei n. 4024/61. Iniciaremos uma análise nesta pioneira
LDB, que traz no seu bojo, dois artigos destinados a educação infantil.
Assim dispunha essa lei:
Art. 23 – “A educação pré- primária destina-se aos menores de até 7 anos, e
será ministrada em escolas maternais ou jardins - de- infância”.
Art. 24 – “As empresas que tenham a seu serviço mães de menores de sete
anos serão estimuladas a organizar e manter, por iniciativa própria ou em
cooperação com os poderes públicos, instituições de educação préprimária”.
A LDB evidenciou uma visão assistencialista e uma atuação compensatória
para sanar a ausência de mães trabalhadoras. Não se percebe a obrigatoriedade na
inserção das crianças nas escolas maternais ou jardins de infância.
Sendo assim fica claro que as crianças de baixa renda deveriam ser acolhidas
nas instituições, para que suas mães desenvolvessem suas atividades profissionais,
todo esse contexto envolve as questões sociais e políticas que mais uma vez acaba
refletindo de forma notória na formação educacional das crianças pequenas. Os
espaços escolares continuavam sendo organizados de forma filantrópicas e
assistenciais, para atender a sociedade industrial com um efeito tecnicista, existiam
preocupações com cuidados higiênicos e nutricionais, negando o direito de ensino e
aprendizagem das crianças.
Em 1971 é implementada a Lei n. 5. 692, que apresenta no seu bojo questões
relevantes para agravar ainda mais a educação compensatória e de cunho
16
assistencial.
A
respeito
da
educação
de
crianças
pequenas,
a
Lei
n.
5.692/71designa ao estado: “Os sistemas de ensino velarão para que as crianças de
idade inferior a sete anos recebam conveniente educação em escolas maternais,
jardins de infância e instituições equivalentes”. (BRASIL, 1977).
Sendo assim, fica clara a omissão da legislação perante a educação das
crianças, como também confirma que os menos favorecidos continuavam sem a
garantia legal de uma pré- escola condizente com o desenvolvimento das estruturas
afetivas, sociais e cognitivas.
O ingresso das mulheres cada vez maior no mercado de trabalho tecia
debates sobre a extinção de uma “educação compensatória” em defesa de um
padrão educativo voltados para educação e ensino. Historicamente no Brasil
existiram fatos que demonstraram o descaso com as crianças menos favorecidas
entre eles: a roda dos expostos, as criadeiras e a casa da criança, o que permeio
durante muito tempo. Essas polêmicas da educação assistencialista passaram a ser
desacreditada o que afirma Oliveira (2008, p.111):
No entanto, o descrédito da educação pré- escolar enquanto política
educacional com maior impacto continuou perdurando. Durante os
governos militares, assistiu-se ao embate entre programas federais de
convênio com entidades privadas de finalidade assistencial, para
atendimento ao pré- escolar, e a defesa, em nível municipal, da creche e
da pré- escola com função educativa. Discursos diversos as destacavam
como instrumentos de preparo para a escolarização obrigatória. Isso
ocorreu porque o interesse pela educação pré- escolar expresso pelas
camadas médias foi sendo gradativamente compartilhado por número cada
vez maior de famílias de baixa renda, que passaram a reivindicar o que
poderia representar uma conquista em seu projeto político.
Substituir essa concepção de educação assistencialista envolve aspectos
políticos. Deve-se atentar toda a sociedade a rever as concepções da infância e o
papel do Estado numa polêmica-assistencial versus educativa, a abertura política
permitiu o reconhecimento social desses direitos com a promulgação da carta
magna de 1988. A Constituição Federal de 1988 representa a mudança de transição
do regime militar para a democracia, esse avanço democrático reflete obrigações
existentes na relação entre o Estado e os indivíduos e define claramente a educação
das crianças de zero a seis anos.
O artigo 208, inciso IV, explicita que:
Art. 208 - O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a
garantia de:
17
IV- atendimento em creche e pré- escola às crianças de zero a seis anos
de idade.
Dessa forma, pela primeira vez no Brasil, garantiu como direito das crianças
de zero a seis anos de idade e dever do Estado o atendimento a criança como ser
social de direitos, um desenvolvimento integral assegurado por lei, rompendo assim
com a visão assistencialista e desigual, ao mesmo tempo em que reflete algumas
das conquistas em defesa da educação das crianças pequenas, continua a luta por
uma educação de qualidade.
Partindo dos pressupostos de uma visão reconhecida de instituição
educacional, as crianças passam a participar de um amplo movimento de mudanças,
direitos a receber uma educação de qualidade receber um atendimento pleno para o
desenvolvimento integral. Alguns documentos legais vão surgindo para reafirmar os
direitos das crianças, a década de 90 foi marcada pela promulgação do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), Lei Federal de n. 8.069/90, que em seu artigo 15
ratifica:
Art. 15- A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à
dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e
como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na
Constituição e nas leis.
Esse artigo do ECA confirma a construção de uma nova forma de olhar a
infância, apresenta uma infância com direito ao afeto, direito de brincar, direito de
sonhar com direito a participação na sociedade. As propostas pedagógicas devem
considerar as crianças integralmente. No processo de construção da democracia e
de uma nova concepção da infância é promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB) n. 9.394/96, surge uma visão sistematizada da préescola, a expressão “Educação Infantil’, aparece na LDB pela primeira vez, um
marco de grande significação, pois nas legislações educacionais anteriores, a
educação de crianças pequenas não constava como responsabilidade do Estado. É
importante reconhecer que essa lei chega para nos situar e para desvelar o
significado desse ordenamento jurídico, destacamos a reflexão do artigo 29:
Art. 29- A educação infantil, primeira etapa da Educação Básica, tem como
finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em
seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, completando a ação
da família e da comunidade.
18
Fica claro que a lei traz no seu bojo uma proposta de organização, que
priorizam o atendimento da criança da educação infantil na sua total integralidade de
suas necessidades e potencialidades físicas, psicológicas, intelectuais, sociais e
culturais. Portanto, o artigo 29 aponta para ações indissociáveis de educação e
cuidado, aquele cuidado que forma e educa que veremos mais posteriormente um
estudo acerca desse assunto.
A partir de todo esse envolvimento por uma educação infantil de qualidade para
as crianças brasileiras o Ministério da Educação e Cultura (MEC) divulga, em 1998,
o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), com o objetivo
de resinificar práticas numa ação integrada. O RCNEI apresenta a criança como
sujeito histórico e social com capacidades próprias de agir e pensar o mundo em
consonância com a sua totalidade, iremos assim fazer um breve analise sobre este
guia de cunho educacional.
1.2 DEMANDAS PARA EDUCAÇÃO INFANTIL
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil representa um
exemplo de currículo para o contexto da educação infantil no Brasil, apresenta
diferentes
linguagens
para
a
criança
avançar
na
construção
dos
seus
conhecimentos. Nesse sentido faz-se necessário compreender, ao contrário do que
muitos imaginam, o Referencial Curricular Nacional (RCN) não é um documento
normativo e sim uma referência, dentre tantas outras, para elaboração das propostas
pedagógicas de cada instituição.
Como forma de ampliar a visão a respeito do RCNEI vale ressaltar que
Considerando e respeitando a pluralidade e diversidade da sociedade
brasileira e das diversas propostas curriculares de educação infantil
existentes, este Referencial é uma proposta aberta, flexível e não obrigatória,
que poderá subsidiar os sistemas educacionais, que assim o desejarem, na
elaboração ou implementação de programas e currículos condizentes com
suas realidades singularidades. Seu caráter não obrigatório visa a favorecer o
diálogo com propostas e currículos que se constroem no cotidiano das
instituições, sejam creches, pré-escolas ou nos diversos grupos de formação
existentes nos diferentes sistemas. (BRASIL, 1998, p.14)
Desse modo o RCN, aponta uma proposta de mudança nos espaços
educativos das crianças pequenas, porém deixa uma liberdade de segmento de
escolha dos sujeitos envolvidos nos processos de mudança da esfera educacional
infantil. A busca da qualidade educacional daqueles que participaram dessa
19
empreitada, não visaram estabelecer uma obrigatoriedade com este material de
suporte e sim a realização de um trabalho prazeroso e enriquecedor nas discussões
pedagógicas, na elaboração dos projetos e nas diversas situações de aprendizagem
das crianças pequenas brasileiras.
De acordo com a construção de uma proposta pedagógica adequada Oliveira
(2008, p.169), apresenta uma afirmação condizente com a proposta do RCN.
Construir uma proposta pedagógica implica a opção por uma organização
curricular que seja um elemento mediador fundamental da relação entre a
realidade cotidiana da criança- as concepções valores e os desejos, as
necessidades e os conflitos vividos em seu meio próximo- e a realidade social
mais ampla, com outros conceitos, valores e visões de mundo. Envolve
elaborar um discurso que potencialize mudanças, que oriente rotas. Em
outras palavras, envolve concretizar um currículo para as crianças.
Sendo assim quando falamos em educação infantil, temos que elaborar uma
proposta que envolva a família e a comunidade, deverá ser criada condições
internas e externas com destaque para a organização do espaço e do tempo entre
outros aspectos favoráveis ao desenvolvimento da criança. Considerando esses
aspectos preponderantes o RCNEI explana essas condições que iremos vislumbrar:
a) o respeito à dignidade e os direitos das crianças, consideradas nas suas
diferenças individuais, sociais,econômicas,culturais, étnicas, religiosas
etc;
b) o direito das crianças a brincar, como forma particular de expressão,
pensamento, interação e comunicação infantil;
c) o acesso das crianças aos bens socioculturais disponíveis, ampliando o
desenvolvimento;
d) das capacidades relativas à expressão, à comunicação, à interação
social, ao pensamento, à ética e a estética;
e) a socialização das crianças por meio de sua participação e inserção nas
mais diversificadas práticas sociais, sem discriminação de espécie
alguma;
f) o atendimento aos cuidados essenciais associados à sobrevivência e ao
desenvolvimento de sua identidade. (BRASIL, 1998, p. 13).
É importante ressaltar que dar ênfase na criança em seus processos de
constituição como ser humano em diferentes contextos sociais, culturais,
intelectuais, artísticos e expressivos são princípios considerados importantes no
RCNEI, para que as crianças desenvolvam suas especificidades. Assim, permite-nos
significar o Referencial como instrumento potencializador para favorecer o
desenvolvimento das estruturas sociais e cognitivas. Este documento traz como
pano de fundo uma modificação da concepção assistencialista e tenta inserir uma
proposta nas práticas que privilegiam os cuidados físicos, os aspectos emocionais e
os cognitivos.
Iremos assim, suscitar um estudo nas propostas da pré-escola,
20
esclarecendo o processo de desenvolvimento que as atividades pedagógicas podem
proporcionar.
Utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical, plástica, oral e escrita )
ajustadas às diferentes intenções e situações de comunicação, de forma a
compreender e ser compreendido, expressar suas ideias, sentimentos,
necessidades e desejos e avançar no seu processo de construção de
significados, enriquecendo cada vez mais sua capacidade expressiva.
(BRASIL, 1998, p.63).
Desse modo, o RCNEI, apresenta diferentes linguagens para a criança
avançar na construção dos seus conhecimentos e traz suporte teórico para
realização dessas práticas educativas advindas das mais diversas experiências
sociais, afetivas e cognitivas. Esse suporte teórico encontra-se ancorado nas teorias
de: Jean Piaget (1995), Lev Semionovitch Vigotsky (2008) e Henry Wallon (1995),
que situa reflexões do processo de ensino, aprendizagem e desenvolvimento das
crianças, que analisaremos posteriormente, como também analisaremos as
concepções desse autores contemporâneos que tanto ofereceram formas de
compreender de maneira individual, numa perspectiva abrangente sobre: criança,
cuidar e aprendizagem.
21
2
AS
CONTRIBUIÇÕES
DE
PIAGET,
VIGOTSKY
E
WALLON
PARA
COMPREENSÃO DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM NA PRÉESCOLA
Neste
capítulo
faremos
uma
incursão
acerca
dos
pressupostos
epistemológicos sócio histórico e afetivos sobre o desenvolvimento infantil,
ressaltando a questão do processo de ensino e aprendizagem sobre a luz dos
teóricos Piaget (1995), Vigotsky (2008) e Wallon (1995).
Esses teóricos são importantes contribuidores nos desvelamentos da
compreensão do desenvolvimento humano, sobretudo, no que concerne aos
processos que envolvem a construção do conhecimento. Assim, a epistemologia
genética e o construtivismo em Piaget, a concepção sócio histórica e sócio
interacionista em Vigotsky e a psicogênese da pessoa completa em Wallon são
pontos fecundos e relevantes para compreensão do nosso objeto de estudo.
Jean Piaget nasceu em 1986, em Neuchâtel, na Suíça, biólogo e
epistemológico, construiu sua teoria ao longo de mais de 50 anos de pesquisa.
Preocupou-se com várias áreas do conhecimento, porém deu mais ênfase ao
desenvolvimento intelectual da criança. A preocupação central de Piaget foi “o
sujeito epistêmico”, ou seja, o estudo dos processos do pensamento presentes
desde a infância até a fase adulta. Foi considerado um dos grandes psicólogos do
século XX, embora se considerasse um epistemológico, Piaget sempre esteve
envolvido em averiguar como se constrói o pensamento e o desenvolvimento da
inteligência humana.
Para Piaget, a criança é concebida como um ser dinâmico, que a todo o
momento interage com a realidade, operando ativamente com objetos e pessoas.
Esta interação com o ambiente possibilita a construção de estruturas mentais ou
cognitivas. (WADSWORT, 1995).
Dessa forma, para entendermos o processo do desenvolvimento intelectual
de uma criança, partiremos da ideia de que os atos biológicos são atos de
adaptação ao meio físico e organizações do meio ambiente. Segundo Wadswort
(1995), a adaptação é a essência do funcionamento intelectual, assim como, a
essência do funcionamento biológico. Ainda segundo o autor, a adaptação acontece
através da organização de estímulos e sensações.
22
Esse processo de adaptação é realizado sob duas operações, a assimilação e
a acomodação. É importante ressaltar que Piaget usou o termo esquema para ajudar
a entender as crianças na estruturação dos correlatos mentais.
E sobre esquema Wadswort (1995, p.2), esclarece que:
esquemas podem ser pensados simplesmente como conceitos ou
categorias. Uma outra analogia pode ser a de um arquivo, no qual cada
ficha representa um esquema. Os adultos têm muitas fichas ou
esquemas. Estes esquemas são usados para processar e identificar a
entrada de estímulos. Dessa maneira, o organismo está apto a
diferenciar estímulos e a generalizar. A criança, quando nasce,
apresenta poucos esquemas (fichas no arquivo). À medida que se
desenvolvem, seus esquemas tornam-se mais generalizados, mais
diferenciados e progressivamente mais “adultos”.
Sendo assim percebe-se que a criança apresenta poucos esquemas e à
medida que se desenvolve e são confrontadas com desafios, são ampliados,
generalizados e diferenciados. Na proporção gradativa que as crianças tornam-se
mais capazes de propagar os estímulos, os esquemas vão se aprimorando na
medida em que a criança estabelece contato com o mundo, ou seja, na medida em
que a criança se desenvolve e defronta-se com estímulos apresenta um maior
número de estruturas intelectuais que organizam o pensamento.
No decorrer da infância, as interações sobre os objetos são bastante
importantes, pois devido à aplicação do mesmo esquema as diferentes ações a
criança consegue adaptar-se a situações diferentes. Assim, podemos constatar que
as crianças da pré-escola aprendem muitas coisas importantes por meio de suas
próprias descobertas.
E assim as estruturas do desenvolvimento cognitivo se transformam durante o
período da Educação Infantil, a partir das interações das crianças com as situações
de aprendizagem, serão promovidos desafios nos quais ocorrerá a aproximação das
crianças com os conhecimentos. Evidencia-se que a criança na pré-escola torna-se
mais perspicaz ao confrontar-se com os diversos desafios e transformá-los
gradativamente, o que se constata que os esquemas são ampliados nesta fase.
Os esquemas cognitivos do adulto são derivados dos esquemas sensóriomotores da criança, esses se desenvolvem de acordo a cada faixa etária, contudo a
partir da estruturação dos processos de cognição dos esquemas surgem às
mudanças ou novos padrões de conhecimentos, ocasionando assim a assimilação e
acomodação.
23
Iniciaremos um entendimento sobre assimilação partindo da ideia que é o
processo de classificar novos eventos em esquemas já existentes na estrutura
cognitiva, conseguindo a organização das situações de aprendizagem.
A assimilação significa tentar solucionar uma situação nova com base nas
estruturas antigas; isto é, a criança irá modificar suas estruturas antigas para poder
dominar uma nova situação. Procurando elucidar esse segmento Wadswort (1995,
p.6), diz que “assimilação é uma parte do processo pelo qual o indivíduo
cognitivamente se adapta ao ambiente e o organiza”.
A este processo de modificação de estruturas antigas com vistas à solução de
um novo desafio para ajustamento a uma nova situação, Piaget (1995 apud
WADSWORT, 1995), denomina essas transformações de acomodação, ou seja, no
momento em que a criança defronta-se com um novo estimulo e consegue dominar
adequadamente, diremos que se acomodou a ele e assim ocorreu a modificação de
velhos esquemas que irá resultar na adaptação intelectual e no desenvolvimento da
cognição. Sobre esse ponto Wadswort (1995, p.7), revela que:
durante a assimilação, uma pessoa impõe sua estrutura disponível aos
estímulos que estão sendo processados. Isto é, os estímulos são “forçados”
a se ajustarem à estrutura da pessoa. Na acomodação o inverso é
verdadeiro. A pessoa é “forçada” a mudar sua estrutura para acomodar os
novos estímulos. A acomodação explica o desenvolvimento (uma mudança
quantitativa); juntos eles explicam a adaptação intelectual e o
desenvolvimento das estruturas cognitivas.
A criança vai construindo seus esquemas com o processo de maturação e
consequentemente depende que ela esteja assimilando e acomodando ativamente.
Dessa forma, observa-se que durante a assimilação e acomodação a criança
estabelece sua estrutura disponível aos estímulos que estão sendo processados,
adaptando-se a nova exigência da realidade. É importante destacar que segundo
Piaget 1995 (apud WADSWORT, 1995, p.8), demonstra que:
um balanço entre assimilação e acomodação é necessário quanto os
processos em si. Piaget chamou o balanço entre assimilação acomodação
de equilíbrio. É ele o mecanismo auto regulador, necessário para assegurar
uma eficiente interação da criança com o meio-ambiente.
O resultado entre assimilação e acomodação é o processo de adaptação do
desenvolvimento intelectual pelo qual as crianças passam, porém o surgimento do
desenvolvimento intelectual na infância é uma construção constante das bases
sólidas para o desenvolvimento de um modo geral.
24
É interessante notarmos que a criança para avançar no desenvolvimento das
suas estruturas cognitivas necessita que o ambiente promova condições para
diversas transformações. A Escola possibilita o desenvolvimento amplo, pois nas
interações, se dá a ampliação dos conhecimentos sociais e afetivos que as crianças
podem estabelecer com as outras crianças e com os adultos, contribuindo para que
o reconhecimento do outro e a comprovação das diferenças entre as pessoas sejam
valorizadas e aproveitadas para o enriquecimento de si próprias. Na infância existem
experiências que possibilitam as crianças marcos claros de conduta que irá permear
grandes aprendizados na sua vida. Nessas situações de aprendizagem na préescola, se faz necessário que se estabeleça o conflito cognitivo, pois através desse
processo de experiências diversificadas entre: ambiente, esquemas, adaptação,
assimilação, acomodação, equilíbrio e desequilíbrio; a criança consegue segundo
Piaget, a auto regulação interna do organismo, que constitui na busca sucessiva de
equilibração, após cada desequilíbrio sofrido.
Qualquer experiência pode ser assimilada por uma criança, a equilibração
ocasiona avanço das estruturas internas e desta forma se processam o crescimento
e o desenvolvimento da criança de acordo ao avanço do desenvolvimento
intelectual.
A partir desses pontos explanados, evidencia-se que a teoria construtivista
engendrada por Piaget designa uma grande importância nas inter-relações e
interdependência entre a criança e o seu meio. Wadswort (1995) afirma que os
esquemas são construídos e reconstruídos (ou modificados), gradualmente. Piaget
considera quatro períodos no processo evolutivo da espécie humana que são eles:
a) o estágio da inteligência sensório-motora;
b) o estágio do pensamento pré-operacional;
c) o estágio das operações concretas;
d) o estágio das operações formais.
Vale ressaltar que nesse estudo discorremos apenas sobre o estágio préoperatório, pois a idade cronológica desse estágio refere-se às crianças da préescola. Piaget (1995 apud WADSWORT, 1995) denominou este estágio de préoperatório, porque significa que a criança irá utilizar a inteligência prática em
representação, com a introdução ao mundo da linguagem, do jogo simbólico e das
outras formas de função simbólica. Há um desenvolvimento notório das estruturas
mentais nesta fase.
25
Craides e Kaercher (2001, p.31), destacam algumas atividades realizadas
pelas crianças na fase da pré-escola:
(...) a criança vai construindo a capacidade de efetuar operações lógicomatemáticas (seriação, classificação). Ela aprende, por exemplo, a colocar
objetos do menor para o maior, a separá-los por tamanho, cor, forma, etc.
Embora a inteligência já seja capaz de empregar símbolos e signos, ainda
lhe falta a reversibilidade, ou seja, a capacidade de pensar simultaneamente
o estado inicial e o estado final de alguma transformação efetuada sobre os
objetos (por exemplo, a ausência de conservação da quantidade quando se
passa o líquido de um copo mais larga para um outro recipiente mais
estreito).
De acordo com o exposto concluímos que nesta fase ocorrem diversas
descobertas no universo das crianças da pré-escola, neste processo a educação
infantil poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de apropriação e
conhecimento das potencialidades emocionais, afetivas e cognitivas. No estágio préoperatório, além da evolução das estruturas cognitivas já relatadas, existe um
acontecimentos presente nesta fase que precisam ser resinificados na pré-escola: o
“egocentrismo”, que Wadswort (1995) explica, Piaget (1995) caracterizou o
pensamento e o comportamento de uma criança pré-operacional como egocêntrico.
Isto é, a criança não pode assumir o papel ou o ponto de vista do outro.
Com a participação do professor a criança irá vivenciar situações do
posicionamento e escuta, irá interagir com grupos da mesma faixa etária, assim, na
pré- escola deve-se rever a superação do egocentrismo. Sobre esse assunto o
RCNEI ressalta que:
no processo de construção do conhecimento, as crianças se utilizam das
mais diferentes linguagens e exercem a capacidade que possuem de terem
ideias e hipóteses originais sobre aquilo que buscam desvendar. Nessa
perspectiva as crianças constroem o conhecimento a partir das interações
que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem. O
conhecimento não se constitui em cópia da realidade, mas sim, fruto de um
intenso trabalho de criação, significação e ressignificação. (BRASIL, 1998,
p. 21).
Observa-se que, as crianças possuem estruturas cognitivas e que ao receber
estímulos do meio dá uma resposta em função dessas estruturas da inteligência que
são formadas após uma interação ativa com ações físicas ou mentais sobre os
objetos, as crianças constroem os seus conhecimentos, o que se conclui é que todo
conhecimento é resultado das ações com o meio.
É interessante notarmos que apesar da teoria da construção do conhecimento
difundida por Jean Piaget não ter intenção pedagógica, ofereceu aos professores e
26
professoras significativos princípios para orientar as suas ações pedagógicas, suas
contribuições para área da pedagogia foram imensuráveis até os dias atuais.
Ao elencarmos esse estudo acerca de Piaget, vale destacar que ele descobriu
que as crianças não raciocinam como adultos. Jean Piaget morreu em 1980, mas a
revolução cognitiva iniciada por ele acentuou-se em 1990 no Brasil. Ele modificou a
teria pedagógica tradicional que até então, afirmava que a mente de uma criança é
vazia esperando ser preenchida por conhecimento. Na visão de Piaget (1995 apud
WADSWORT, 1995) as crianças são as próprias construtoras ativas do
conhecimento.
Dando continuidade a essas contribuições teóricas tão importantes no
processo de ensino e aprendizagem a seguir será apresentado os pressupostos de
Vigotsky.
2.1 AS CONTRIBUIÇÕES DE VIGOTSKY
Lev Semenovich Vigotsky, foi um professor e pesquisador contemporâneo,
nasceu em Orssha na Rússia e morreu em Moscou em 1934, com apenas 38 anos.
Construiu sua teoria tendo por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado
de um processo sócio histórico. Para este autor, o funcionamento psicológico
estrutura-se a partir das relações sociais, enfatizando na sua abordagem que os
elementos mediadores do homem com o mundo são dois elementos básicos: o
instrumento, que tem a função de regular as ações sobre os objetos e o signo, que
regula as ações sobre o psiquismo (REGO, 2008).
Assim como Piaget, sua questão central é a aquisição dos conhecimentos
pela interação do sujeito com o meio, partindo desse principio analisaremos que
função mediadora está presente nos instrumentos provocadores de mudanças
externas, os signos agem como ampliação das capacidades cognitivas.
De acordo com a concepção de Vigotsky (2008 apud REGO, 2008) para o
processo de formação dos conceitos adquiridos é necessário a articulação entre
pensamento e linguagem. Sendo a linguagem um sistema simbólico, que representa
um salto qualitativo no desenvolvimento infantil, ela possui um papel de destaque,
pois através dela é possível os indivíduos abstrair e generalizar o pensamento. Sem
27
dúvida, através da análise entre a relação do uso dos instrumentos, signos e a da
linguagem, podemos perceber como essa teoria sócio interacionista esta imbricada
no contexto da pré-escola.
Dessa forma Rego (2008, p.56), esclarece que:
Vigotsky atribui enorme importância ao papel da interação social no
desenvolvimento do ser humano. Uma das mais significativas contribuições
das teses que formulou está na tentativa de explicitar (e não apenas
pressupor) como o processo de desenvolvimento é socialmente constituído.
Essa é a principal razão de seu interesse no estudo da infância.
É interessante notarmos que Vigotsky (2008 apud REGO, 2008) considera a
criança como um ser prático e social e é protagonista viva da história da sociedade e
da cultura. O Referencial ressalta informações em consonância com a teoria
histórico-cultural:
A criança como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte
de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma
determinada cultura, em um determinado momento histórico. É
profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas
também o marca. A criança tem na família, biológica ou não, um ponto de
referência fundamental, apesar da multiplicidade de interações sociais que
estabelece com outras instituições sociais. (BRASIL, 1998, p. 21).
A partir dessa articulação percebe-se que a criança através da relação com o
meio social irá construir a construção dos seus conhecimentos, ou seja, pela
interação e mediação a criança será protagonista da história da sociedade e da
cultura.
Diante do exposto fica claro que o desenvolvimento está relacionado ao
contexto sociocultural que a criança processa de forma dinâmica e dialética, o
Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil, revela no seu bojo
tendências para concepção construtivista e sócio interacionista na educação infantil.
Ao construir o conhecimento as crianças buscam as mais diversas linguagens e
busca através das ideias e hipóteses o que irão desvendar. Sendo assim, o meio
deverá favorecer essas descobertas como também a mediação de parceiros mais
experientes.
Dessa forma para que ocorra o desenvolvimento social e cognitivo na préescola deve haver influências e constantes interações com o meio social em que a
criança está inserida e na relação com o outro. Esta interação entre aprendizado e
desenvolvimento que as crianças passam Vigotsky identifica como: zona
desenvolvimento real desenvolvimento potencial e desenvolvimento proximal.
28
O desenvolvimento real é quando dizemos que a criança já sabe realizar
determinadas tarefas, ou seja, as etapas já alcançadas e conquistadas pele criança.
Quanto ao desenvolvimento potencial é a capacidade que a criança tem de realizar
tarefas de companheiros mais experientes. E a partir da existência desses dois
níveis de desenvolvimento, que surge a zona do desenvolvimento proximal.
Sobre esses níveis do desenvolvimento (REGO, 2008, p.74), explica:
o conceito de zona desenvolvimento proximal é de extrema importância para
as pesquisas do desenvolvimento infantil e para o plano educacional,
justamente porque permite a compreensão da dinâmica interna do
desenvolvimento individual. Através da consideração da zona do
desenvolvimento proximal, é possível verificar não somente os ciclos já
completados, como também os que estão em via de formação, o que permite
o delineamento da competência da criança e de suas futuras conquistas,
assim como a elaboração de estratégias pedagógicas que auxiliam nesse
processo.
De acordo com o exposto podemos identificar na pré-escola esses níveis de
desenvolvimento e mediar as aprendizagens no momento adequado. Cabe à escola
fazer a criança avançar intervindo na zona do desenvolvimento proximal, mediando
os aprendizados que não ocorreriam espontaneamente. Evidentemente a teoria
sócio interacionista elaborada por Vigotsky, contribui significativamente com a ação
pedagógica, pois ao se apropriar dos aprendizados na infância a criança forma a
base e se configura por todas as fases do desenvolvimento. Segundo Vigotsky
(2008 apud REGO, 2008), o que a criança pode fazer hoje com o auxilio dos adultos
poderá fazê-lo amanhã só.
Para ampliar nossa visão acerca dessa relação afetiva, cognitiva e motora
das crianças iremos abordar as valiosas contribuições de Henri Wallon para com
desenvolvimento infantil.
2.2 AS CONTRIBUIÇÕES DE WALLON
Henri Wallon nasceu na França em 1879 e morreu em 1962. Filósofo, médico,
psicólogo e político francês teve uma vida marcada pelo elevado desenvolvimento
intelectual. Dedicou-se a compreender o psiquismo humano, voltando sua atenção
as crianças. Wallon sistematizou a psicogênese da pessoa completa, articulando
nessa compreensão o aspecto cognitivo, motor e afetivo. Seu postulado dedica um
vasto espaço às emoções como forma de revelar as expressões e comunicações
como base do pensamento.
29
Para Wallon (1995, apud GALVÃO, 2008) o movimento é a primeira forma de
integração com o meio exterior, evidencia-se na sua abordagem a dimensão da
afetividade na construção do conhecimento do individuo, para este teórico, o
processo de desenvolvimento infantil se realiza nas interações sociais, com o
predomínio da emoção, o horizonte da criança amplia e faz transcender sua
subjetividade no seu crescimento individual, na pré-escola a estruturação do
ambiente escolar e as possibilidades das várias dimensões com o meio ampliará
ainda mais essas descobertas.
Como afirma o RCNEI evidencia-se que não é possível selecionar um único
aspecto do ser humano e sim a criança de forma contextualizada nos quais se
distribuem a atividade infantil.
(...) cabe ao professor propiciar situações de conversa, brincadeiras ou de
aprendizagens orientadas que garantam a troca entre as crianças, de forma
a que possam comunicar-se e expressar-se, demonstrando seus modos de
agir, de pensar e de sentir, em um ambiente acolhedor, porém, não significa
eliminar os conflitos, disputas e divergências presentes nas interações
sociais, mas pressupõe que o professor forneça elementos afetivos e de
linguagem para que as crianças aprendam a conviver, buscando as
soluções mais adequadas para as situações com as quais se defrontam
diariamente. (BRASIL, 1998, p. 31).
Assim destaca-se o valor da afetividade para desenvolver e promover o
desenvolvimento
das
crianças
pequenas,
esta
importância
revela-se
na
diferenciação que cada criança aprende a fazer entre si e com os outros. As
proposições de Craides e Kaercher (2008, p.28), revela concordância a partir do
exposto no Referencial:
(...) o desenvolvimento da inteligência depende das experiências oferecidas
pelo meio e do grau de apropriação que o sujeito faz delas. Neste sentido, os
aspectos físicos do espaço, as pessoas próximas, a linguagem, bem como os
conhecimentos presentes na cultura contribuem efetivamente para formar o
contexto de desenvolvimento (...) o desenvolvimento se dá de forma
descontínua, sendo marcado por rupturas e retrocessos.
Esses conflitos são propulsores do desenvolvimento, dessa forma este estudo
propõe conhecermos os estágios do desenvolvimento infantil, pois nesses processos
de aprendizagem o desenvolvimento não se dá linearmente por ampliação, mas por
reformulação, instalando no momento da passagem de uma etapa a outra.
Os cinco estágios do desenvolvimento de elencados por Wallon (1995 apud
GALVÃO, 2008) são:
- Impulsivo-emocional;
- Sensório- motor e pejorativo;
- Personalismo;
30
- Categorial;
- Predominância funcional.
Na pré- escola as crianças apresentam-se no estágio do personalismo,
estágio no qual se desenvolve a construção da consciência de si, mediante as
interações sociais, reorientando o interesse das crianças pelas pessoas. No
Personalismo as crianças, mostram suas conquistas constituindo-se reciprocamente
num permanente processo de integração e diferenciação.
Wallon (1995) nos deixou uma nova concepção de motricidade, da afetividade
e da inteligência humana, e, sobretudo, que a afetividade deve prevalecer nas
relações humanas de modo geral e na escola em particular. Obviamente esses
postulados nos conduz a pensar que a pré-escola é o lugar no qual as crianças não
devem encontrar atendimentos extra domésticos e sim um ideário pedagógico de
cuidar e educar. Destaca-se também o papel do professor frente ao desenvolvimento
infantil para fortalecer essa prática e mediar avanços que não ocorreriam
espontaneamente. A criança precisa ser vista muito além do que o aspecto
assistencialista é preciso não apenas cuidar, mas também educar, a incorporação
desse binômio “cuidar e educar” e o papel do professor neste contexto
explanaremos no próximo capítulo.(GALVÃO, 2008).
31
3 A RELAÇÃO ENTRE O CUIDAR E O EDUCAR NA PRÉ-ESCOLA
Neste capítulo serão retratados aspectos relativos aos objetivos que as
instituições da pré-escola se propõem a desempenhar acerca do papel social entre
educar e cuidar nesse segmento de ensino.
É sabido que o contexto sócio histórico da educação infantil girava em torno
de uma proposta assistencialista. Mas com as mudanças na sociedade da maneira
de pensar sobre as crianças, o surgimento das instituições de educação infantil
passou a ser relacionada ao pensamento pedagógico moderno, hoje o atendimento
da criança não pode ser considerado como uma necessidade decorrente das
condições de vida das famílias e sim uma nova forma de encarar a infância. Hoje no
Brasil e no mundo a educação infantil está mais consciente da importância das
experiências na primeira infância.
Existem aspectos inerentes à pré-escola que são eles: saúde, afeto,
alimentação, segurança, socialização, brincadeira, entre outros devem integrar o
cuidar e educar. Para que as crianças desenvolvam suas habilidades e se sentam
seguras e amadas. As polêmicas entre o cuidar e o educar surgem devido ao
posicionamento assistencial de algumas propostas que se preocupava em atuar
como substitutos maternos e não educava para o desenvolvimento e conhecimento
através da exploração e descobertas com suporte emocional. Para Wallon (1995
apud GALVÃO, 2008) o desenvolvimento da pessoa como uma construção
progressiva em que se sucedem fases com predominância alternadamente afetiva e
cognitiva.
Sendo assim, a cisão de cuidar e educar estão imbricados, mas ao
desenvolver estes cuidados na pré-escola, as instituições não podem ser pensadas
como substituta da família. O importante é que as escolas infantis desenvolvam
atividades para as crianças construam uma visão de mundo e de si mesma,
constituindo-se como sujeito social de direitos e deveres.
Nas instituições de
educação infantil o trabalho educativo cria condições para as crianças descobrirem
novos sentimentos, valores e ideias, essa prática desenvolvida na pré-escola deve
ser realizada com cuidados básicos necessários para a faixa etária, além de educar
as crianças deve apoiá-las em seu desenvolvimento.
Ao considerarmos que a pré-escola envolve simultaneamente o cuidar e o
educar, percebemos que desta forma a criança encontra maneiras peculiares e
32
muito originais de se expressar. A interação da criança no âmbito escolar inclui o
acolhimento, o lugar para emoção, para o gosto, para desenvolver a sensibilidade e
habilidades, o desenvolvimento integral depende tanto de cuidados relacionais que
envolvem a dimensão afetiva e com os aspectos biológicos do corpo. Para Oliveira
(2008, p.136):
o afeto inclui expressividade, a exteriorização de certos estados emocionais
socialmente elaborados em uma cultura. Contudo, em qualquer atividade
humana, afeto e cognição são aspectos inseparáveis. Embora presentes em
proporções variáveis, permitem ao indivíduo construir noções sobre objetos,
pessoas e situações, conferindo-lhes atributos e valores.
Segundo a autora, o afeto e um sentimento inerente ao individuo, sendo
assim deve estar presente em todas as suas vivências. É apresentada também, uma
ligação intrínseca entre afeto e cognição nas situações de descobertas e
aprendizagens.
Nesse sentido, o cuidar é uma forma de afeto para mediar às crianças nos
seus avanços sociais e cognitivos, podem trazer profundas modificações na forma
de agir e pensar, tal sentimento atua com resultados positivos no processo de
construção dos conhecimentos das crianças. Portanto o ato de cuidar é uma ação
de afeto que deve estar presente na pré-escola, pois irá contribuir imensuravelmente
nesta fase de desenvolvimento.
Nota-se uma articulação entre o cuidar e educar, assim caracteriza-se o ato
de cuidar como essencial e não desvincula do ato de educar, pois quando
auxiliamos uma criança estamos proporcionando situações de aprendizagem. No
entanto, o cuidar designa-se na forma afetiva de compreender o mundo e o educar é
o processo de construção desta compreensão de mundo.
Não cabe hoje na contemporaneidade o cuidar visto de forma assistencialista,
os cuidados na pré-escola é um direito da criança, ele deve contribuir com o
crescimento da autonomia, o cuidar atual é visto como uma prática pedagógica e
como forma de mediação.
O RCNEI apresenta a importante relação do cuidar no desenvolvimento
infantil:
Assim, cuidar da criança é, sobretudo, dar atenção a ela como pessoa que
está num contínuo crescimento e desenvolvimento, compreendendo sua
singularidade, identificando e respondendo às suas necessidades. Isto inclui
interessar-se sobre o que a criança sente, pensa, o que ela sabe sobre si e
sobre o mundo, visando à ampliação deste conhecimento e de suas
33
habilidades, que aos poucos a tornarão mais independentes e mais
autônoma. (BRASIL, 1998, p. 25).
Denota-se assim, que na pré-escola o desenvolvimento deve ocorrer de forma
integral, ressaltando que o cuidar e educar são ações dinâmicas da rotina
pedagógica, ou seja, não tem como separar essas duas maneiras de atuar, que
contribuem para o desenvolvimento das crianças. Sendo assim é necessário cuidar
para educar
Nesse cenário, anuncia-se uma nova concepção de pré-escola, que
contempla o cuidar e educar com a visão de consolidar as especificidades
necessárias para o desenvolvimento global das crianças. As instituições infantis
devem prestar cuidados físicos e possibilitar estratégias pedagógicas para propagar
o cognitivo, o simbólico, o social e o emocional.
Assim, evidenciamos a importância de conhecermos um pouco mais as ações cuidar
e educar na pré-escola, ressaltando seu caráter de unicidade.
3.1 A IMPORTÂNCIA DO CUIDAR
As aprendizagens na pré-escola envolvem não apenas conhecimentos
culturalmente difundidos. Outrossim, a construção de atitudes básicas para a
socialização da criança, sendo uma aprendizagem fundamentada na relação com o
outro, o afeto, a capacidade expressiva das emoções que se apresenta através do
cuidar. Considerando a prática do cuidado necessário quando convivemos com
crianças, ele potencializa os vínculos e permeia a formação do individuo. Existe uma
preocupação muito grande com a higiene e para não se machucar, são atenções
necessárias ao desenvolvimento da criança, ela precisa ser bem tratada pelos
professores, principalmente no que se refere aos cuidados indispensáveis para a
sua vida, pois eles são fundamentais para o seu desenvolvimento afetivo, social e
cognitivo.
Estão intrinsecamente imbricadas na pré-escola as ações de acolher as
crianças do ponto de vista integral, atender suas individualidades, compreender suas
manifestações emocionais, aceitá-la com linguagem própria, dar e receber afeto
proporciona o desenvolvimento da autonomia, ou seja, conhecê-la de forma ampla
significa cuidar.
34
O ato de cuidar transcende os conhecimentos didáticos, pois o processo de
cuidado se torna mais efetivo estabelecendo uma harmonia entre quem cuida e
quem é cuidado, contribuindo assim para as estruturas cognitivas se dá de forma
mais prazerosa.
O RCNEI traz a seguinte observação:
A base do cuidado humano é compreender como ajudar o outro a se
desenvolver como ser humano. Cuidar significa valorizar e ajudar a
desenvolver capacidades. O cuidado é um ato em relação ao outro e a si
próprio que possui uma dimensão expressiva e implica em procedimentos
específicos. (BRASIL, 1998, p. 24)
Dessa maneira, evidencia-se a complexidade e a importância das atitudes
permeadas por aspectos afetivos e emocionais, são formas privilegiadas de
promover a comunicação entre as crianças e os adultos. A ação do cuidar numa
perspectiva educativa configura-se com dimensões cognitivas, psicomotoras e
sociais.
Revela-se na pré-escola a importância da função dos pais e professores,
nesta fase, os estímulos oferecidos são fundamentais, as atitudes de carinho, as
brincadeiras favorecem a autoestima das crianças.
Cuidar de uma criança significa compreendê-la como parte integrante da
educação. Ou seja, cuidar de uma criança demanda a integração de vários campos
de conhecimentos (BRASIL, 1998).
Para cuidar das crianças devemos conhecê-la com suas peculiaridades,
origens e história, significa adotar uma metodologia dialógica, estimulando novas
descobertas, a resinificar os seus conhecimentos, adquirir valores e novas atitudes
na sua relação com o meio. O cuidado deve ter como objetivo a preservação da vida
e com desenvolvimento das capacidades humanas, precisa considerar as
necessidades individuais das crianças, e estas devem ser ouvidas e respeitadas.
De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
para cuidar e preciso estar comprometido com o outro, deve-se ser solidário com
suas necessidades e confiar nas suas capacidades. (BRASIL, 1998).
Na pré-escola é clara a necessidade do cuidar e da construção de uma
proposta pedagógica centrada na criança no seu processo de desenvolvimento e
aprendizagens, para conhecermos mais esta ação, iremos fazer um breve estudo
sobre o educar.
35
3.2 A IMPORTÂNCIA DO EDUCAR
A educação infantil fase inicial da educação formal, oportuniza as crianças
situações de aprendizagens diversas para a construção dos seus conhecimentos.
Nesse sentido, essa fase em que as crianças começam a frequentar a escola deve
ser marcada por muitas descobertas.
Vejamos o que sugere o Referencial Curricular para a Educação Infantil, para
reorientar as escolas brasileiras na sua prática educativa. Entre os diferentes eixos
sugeridos a serem trabalhados com as crianças: Formação Pessoal e Social,
Conhecimento de Mundo, Identidade e Autonomia, essa proposta educativa visa
contribuir para o planejamento e desenvolvimento escolar das crianças pequenas.
(BRASIL, 1998).
A partir do momento histórico em que a educação infantil das crianças da préescola modifica a prática assistencialista e assume as especificidades de
desenvolver as estruturas do pensamento, permitindo ao educando, formar
conceitos através das vivências e aprendizagens de conteúdos específicos, a escola
assume a meta de educar. (BRASIL, 1998).
O educar tem um papel fundamental na pré-escola, pois na escola a criança
convive com outras crianças. Ela passa a ter um grupo social da sua idade para
brincar, viverem interessantes experiências e significativas trocas. Na interação ela
aprende regra de convivência como: dividir, partilhar, fazer valer seus direitos,
respeitando o espaço do outro. Essas práticas possibilitam importantes estímulos
para as mais diversas esferas do conhecimento.
Os processos educativos das crianças na fase da pré-escola devem ser
encarados pela sociedade com muita seriedade, pois apesar dos aprendizados
surgirem das brincadeiras, jogos, faz-de-conta, enfim, todas essas atividades lúdicas
possuem uma intencionalidade pedagógica. Na infância as crianças podem
experimentar o mundo e internalizar uma compreensão particular sobre as pessoas,
os sentimentos e os diversos conhecimentos, portanto o educar tem relevância nesta
faixa etária.
De acordo com Bassedas, Huguet e Sole (1999, p.67 e 68):
36
A descoberta de si mesmo refere-se à construção da identidade psicológica
da criança que é resultante do conjunto de experiências que ela tem com o
mundo físico e social. Nessa construção manifesta-se a interação
estabelecida entre as possibilidades que oferece o calendário da maturação
- que possibilita competências no âmbito motriz, dirigidas ao alcance da
autonomia, por exemplo, em relação às capacidades de deslocar-se – e as
interações sociais e as experiências que lhe são oferecidas.
Na pré-escola é de fundamental importância para as crianças construir a sua
identidade, a partir desses conhecimentos a criança irá passar a conhecer-se, essa
construção própria da identidade, possibilitará uma relação de adaptação com o
mundo social, na perspectiva de contribuir para a formação de uma criança mais
autônoma. Isso significa que por meio de aprendizagens diversificadas o educar vai
promover avanços fundamentais na construção social da criança.
Nesse sentido, considera-se importante salientar a definição do RCNEI:
Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e
aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para
o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser
e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e
confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da
realidade social e cultural. (BRASIL, 1998, p. 23).
Ao fazer a leitura desse documento, percebe-se que a concepção
assistencialista, foi sobrepujada pela concepção educacional, cabe ressaltar que
esse educar exige padrões de qualidade, pois a complexidade do processo de
ensino e aprendizagem na pré-escola objetiva-se no desenvolvimento geral da
criança.
Para constatar a qualidade atual do educar as crianças pequenas, surge,
Indicadores da Qualidade na Educação Infantil (2009), um instrumento de auto
avaliação
das
práticas
educativas
das
instituições
de
educação
infantil,
considerando os seguintes aspectos: o ato de educar crianças está imbricado os
valores nos quais as pessoas acreditam as tradições de uma determinada cultura, os
conhecimentos científicos de acordo as aprendizagens e desenvolvimento das
crianças, o contexto histórico, social e econômico no qual estão inseridas as escolas.
Essas ações pedagógicas podem ser realizadas, porém cabe ao professor
organizar critérios relevantes na sua prática, sabendo educar com criatividade a
criança estará estimulada no seu processo de construção de conhecimentos. Educar
as crianças de hoje é importante, pois serão elas os adultos do amanhã. Cabe ao
professor atentar para a sua atuação, analisaremos esse profissional a seguir.
37
3.3 O PAPEL DO PROFESSOR NO BINÔMIO EDUCAR E CUIDAR NA PRÉESCOLA
Historicamente as funções dos profissionais da pré-escola estão perpassando
por reformulações constantes. O modelo educacional materno, de cuidados
familiares, esta sendo substituído por professores com uma formação mais
abrangente e unificada, que seguem uma proposta pedagógica, zelando assim pelo
desenvolvimento e aprendizagem dos alunos.
Dessa maneira, existe a necessidade de uma formação docente inicial e continuada,
pois os professores da pré-escolar buscam o desenvolvimento da cognição e
também mantêm relações cordiais, acolhedoras e balizadoras de limites que são
responsáveis pela trajetória escolar bem sucedida das crianças pequenas.
A LDB (1996) dispõe, no título VI, art.62:
A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível
superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e
institutos superiores de educação infantil e nas quatro primeiras séries do
ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal.
Dessa forma, a legislação indica como deverá ser conduzida a formação de
docentes, reorientando que as redes de ensino devem colocar-se a tarefa de investir
na capacitação e atualização permanente de seus educadores, aproveitando as
práticas e conhecimentos já acumulados daqueles que já trabalham com crianças há
mais tempo.
Faz-se necessário que os professores tenham ou venham a ter uma formação
educacional sólida e consistente, pois o professor da pré-escola tem como
desempenho ser uma pessoa verdadeiramente afetiva par acolher a criança e
contribuir com a estruturação do seu pensamento. A criança é considerada um
agente ativo de seu processo de desenvolvimento e o professor faz a mediação
entre ela e o seu meio.
O professor da pré-escola deve estar embasado na sua função de cuidar e
educar, pois assim irá desenvolver aspectos inerentes a faixa etária que são: afeto,
segurança, interação, estimulação, brincadeiras, higiene entre outros, ou seja, cabe
ao professor o cuidar/educar de forma dinâmica.
A formação do professor deve ser concebida como direito do profissional, pois
a mesma o levará a constantes reflexões acerca da sua própria prática pedagógica.
Nesse sentido Oliveira (2008), revela que a perspectiva do professor em constante
38
capacitação é de um profissional emocionalmente estruturado, com conhecimento
técnico-pedagógico e com compromisso com a promoção do desenvolvimento dos
alunos.
A partir desse contexto no qual se abrem diversas discussões sobre a
qualificação do profissional da pré-escola, aumenta o desafio permanente com
relação ao ato de educar e cuidar as crianças numa visão pedagógica.
Para compreender melhor essa atuação docente na educação infantil o
RCNEI esclarece:
O trabalho direto com crianças pequenas exige que o professor tenha uma
competência polivalente. Ser polivalente significa que ao professor cabe
trabalhar com conteúdos de naturezas diversas que abrangem desde
cuidados básicos essenciais até conhecimentos específicos provenientes
das diversas áreas do conhecimento. Este caráter polivalente demanda, por
sua vez, uma formação bastante ampla do profissional que deve tornar-se,
ele também, um aprendiz, refletindo constantemente sobre sua prática,
debatendo com seus pares, dialogando com as famílias e a comunidade e
buscando informações necessárias para o trabalho que desenvolve. São
instrumentos essenciais para reflexão sobre a prática direta com as crianças
a observação, o registro, o planejamento e a avaliação. (BRASIL, 1998, p.
41).
Desta forma, o Referencial designa a complexidade que tem a atuação do
professor na pré-escola, é ressaltado que esse educador deve ter uma prática
diversificada e comprometida. Esse profissional também deve ter ações planejadas e
compartilhadas e exercer sua função sempre meditando e resinificando suas
práticas cotidianas abrangendo as questões especificas relativas aos cuidados e
aprendizagens na infância. O reordenamento atual da pré-escola deve desenvolver
a formação de um profissional atualizado para responder as demandas atuais da
criança na pré-escola. É preciso ter educadores comprometidos com a prática
educacional, assim como as questões especificas relativas aos cuidados. A base
que sustenta as aprendizagens feitas na pré-escola é a relação afetiva que se cria
entre crianças, professores e a família.
O professor precisa garantir uma ação educativa, considerando as
especificidades da faixa etária, pois na pré-escola é que se instala de forma
marcante, a relação da criança com o conhecimento. Portanto desde cedo à criança
deve apropriar-se do conjunto de informações próprias da sua cultura, ampliando
seus conhecimentos e vivências. Deverá também garantir o cuidar que permite uma
construção progressiva da autonomia e da autoestima. Essas práticas educacionais
contemporâneas superam a visão de um profissional da educação sem qualificação.
39
CONCLUSÃO
Ao iniciar a construção dessa monografia se instaurou diversos diálogos em
torno de um tema que delimitasse as questões referentes ao cuidar e educar na préescola, essa delineação nos permitiu fazer um estudo sistematizado a respeito
desse binômio. A escolha do tema partiu das motivações pessoais que envolvem
esse assunto no cotidiano dos profissionais envolvidos com a presente pesquisa. A
relevância desse estudo visa contribuir com o avanço cultural acerca da temática
abordada.
O termo “infância” (in-fans), tem o sentido de “não fala”, essa conotação
durante a idade média e moderna causou uma lenta evolução envolvendo a
trajetória da concepção de infância. Essas opiniões negligentes voltadas à infância
interferiram nos graves prejuízos sofridos na parte social e educacional das crianças.
O ordenamento constitucional e legal brasileiro atribuiu no seu bojo, direitos
as crianças brasileiras, definindo as suas necessidades para desenvolver os
aspectos sociais, emocionais, afetivos e cognitivos.
As práticas educacionais sofreram uma visão assistencialista, divergindo
assim sobre sua finalidade social. Modificar essa concepção de educação
compensatória significa atentar para várias questões como: concepções sobre a
infância, aspectos legais, responsabilidade da sociedade e papel do Estado nesse
cenário educacional. A criança precisa ser vista muito além do que os aspectos dos
cuidados, porque ela como todo ser humano é um sujeito social e histórico que
possui natureza singular.
Assim o ato de cuidar deixa de ter uma conotação assistencialista e pode
adquirir um caráter educativo, a partir da ação pedagógica do professor da educação
infantil.
Os debates atuais apontam um sentido de traduzir a formação de o binômio
cuidar/educar, devem ser funções necessárias para pré-escola. As novas funções
devem estar imbricadas a padrões de qualidade para uma educação infantil de
qualidade.
O professor como mediador de desenvolvimento das crianças, precisa prestar
cuidados e criar condições para o seu desenvolvimento geral. É importante ressaltar
que as escolas não sejam pensadas como instituições familiares de assistência /
40
custódia e sim como ambiente de interações, diferente do familiar. Nelas as crianças
convivem, exploram, conhecem e constroem uma visão de mundo.
Quanto à função docente, há muito que reverberar, faz-se necessário uma
formação docente qualificada, fundamentada na teoria e na prática.
Conclui-se que para reestruturar uma pré-escola de qualidade é de extrema
importância que o binômio cuida/educar esteja presente na ação do professor, pois
para o individuo ser educado precisa passar por cuidados essenciais, que permitirá
assim o desenvolvimento integral.
Acredita-se que ao cuidar o profissional da educação tem ações para promover
as capacidades das crianças, além da dimensão afetiva e relacional é preciso que o
professor participe do que a criança sente e pensa, mediando a sua ampliação de
conhecimentos para que se tornem mais autônomas.
Durante muito tempo as funções de cuidar e educar foram entendidas de
maneira equivocada. Contudo, essa dimensão educativa é de suma relevância na
ação do professor contemporâneo, pois as aprendizagens passam a ter significados
no universo infantil, a partir da afetividade que surge através da promoção de ações
acolhedoras e instigadoras.
O ato de cuidar e educar não é uma dupla tarefa e sim uma ação unificada
para o desenvolvimento na educação infantil Por fim, conclui-se que esta pesquisa
foi muito significativa para entendermos que o ato de cuidar é à base de todas as
relações, sendo assim é muito importante no ato de educar. A esse respeito
evidencia-se que é imprescindível cuidar para educar, pois são dois fatores
intrínsecos no processo de ensino e aprendizagem das crianças na pré-escola.
41
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