ANÁLISE
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Sólon do Valle
Alto Esotar MP8D
Pré-amplificador e conversor
A
terra de origem da Alto Pro Audio - a musical Itália - já sugere a que veio sua linha de produtos. Juntese a isso o slogan da marca: “Para música com paixão”, e fica formada uma grande expectativa em
torno da sonoridade ou, melhor ainda, da musicalidade de seus produtos.
Já havíamos tido a oportunidade de testar aqui um amplificador de potência Alto, que se saiu muito bem
nas provas a que o submetemos. Desta vez, fomos até o extremo oposto, o delicado e sofisticado estágio de
entrada do sinal, assim que sai do microfone ou instrumento. Novamente, o resultado foi satisfatório, ainda
mais levando em conta o excelente custo/benefício oferecido por esta linha de produtos, projetados com
sangue latino e montados por pacientes mãos asiáticas.
Descrição geral
O MP8D é um conjunto de oito canais de pré-amplificador com conversor analógico/digital. Todas as entradas
podem receber microfones, com conectores XLR e phantom power individualmente acionável. Os canais 1 e 2
também possuem entradas de alta impedância para instrumentos musicais, em jaques P10 de ¼”, situados confortavelmente no painel frontal.
Cada canal, além de ser convertido para digital, tem um jaque P10 chamado Insert, localizado na traseira
do equipamento. Além da função óbvia de ponto de inserção de processadores, esse jaque serve, também,
como saída analógica do respectivo canal, com alto ganho. O insert tem mais uma utilidade, para os que gostam de experimentar: pode dar lugar a um atenuador variável (um controle de ganho), que pode ser usado
para trabalhar com níveis muito quentes no estágio de entrada sem, no entanto, chegar ao nível máximo de
saída digital ou mesmo analógica.
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As saídas do MP8D são em dois formatos:
elétrico, no padrão AES/EBU, através de um conector
DB9 com quatro saídas balanceadas;
ótico, no padrão ADAT Lightpipe, através de um conector de fibra ótica Toslink.
Além desses, estão presentes dois conectores do tipo
BNC, com entrada e saída de wordclock para perfeita sincronização do MP8D a outros equipamentos digitais, seja
como master ou como slave.
Na unidade que testamos, a alimentação é por 120V, e a
entrada de AC é do tipo padrão.
Os controles
Os controles do MP8D são extremamente simples, como
convém a um pré-amp que se propõe a uma resposta
essencialmente pura.
No painel frontal, temos o controle de ganho, com gama
de 60dB. Com tamanha gama, pode-se usar a entrada
XLR tanto como entrada de microfone, com alto ganho,
quanto como entrada de linha, neste caso suportando
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sinais de entrada de até +24dBu sem distorção. O nível de entrada é sinalizado por três leds: um verde,
que acende quando o sinal ultrapassa -20dB do máximo, um amarelo, que acende a 0dB (nível máximo
nominal) e um vermelho, que acende 3dB abaixo do nível de saturação.
Além do controle rotativo (infelizmente não calibrado) de ganho, temos para cada canal a chave de acionamento do phantom power, e a chave de acionamento do filtro passa-altas.
À direita, temos a chave (tipo pushbutton) seletora de sample rate, de 44.1 a 192kHz, e a chave seletora de clock
interno ou externo. Na extremidade direita, fica a chave liga-desliga, protegida dentro de um rebaixo no painel.
O painel traseiro não possui controles, apenas as entradas XLR, os jaques P10 de Insert, as conexões
digitais e de AC.
Traseira do MP8D
O som do MP8D
Para avaliar a sonoridade do MP8D, utilizamos samples de bateria absolutamente limpos e sem qualquer efeito, reproduzidos em 24 bits pela interface TC Electronic Konnekt 24, e ouvidos através de monitores Yamaha
MSPL7 Studio e por confiáveis fones AKG D701. Usamos também uma guitarra Fender Telecaster, com captadores Seymour Duncan, para testar a entrada de alta impedância.
Em níveis moderados, o MP8D se mostra absolutamente transparente. A bateria aparece com todo o brilho do
hi-hat e dos pratos, e com o bumbo extremamente firme e pleno, fazendo os dutos de graves dos monitores
produzirem vento a uma boa distância! Toda a dinâmica da bateria é reproduzida, sem o menor esforço aparente, pelo pré-amp.
Ao se esquentar as coisas, o Esotar MP8D diz a que veio. Quando aumentamos radicalmente o ganho, vão surgindo harmônicos e outros “efeitos especiais”, que transformam a bateria, antes absolutamente limpa, em trash,
com bumbo e caixa rascantes e muito brilho nos pratos todos. Quando os leds vermelhos finalmente acendem,
a distorção começa a se tornar insuportável - para o nosso gosto, é claro.
Com a nossa Tele, o resultado foi muito agradável. A impedância de entrada se mostrou bem alta, valorizando os
tão amados harmônicos desse instrumento. Mesmo sem nenhum simulador, o timbre da guitarra compareceu inteiro. Aumentando-se um pouco mais o ganho, surge um efeito de crunch, que pode ser usado com moderação.
Vem, então, a tentação de “arregaçar” o ganho para saturar o MP8D... Péssima idéia! Não esqueça, este pré,
apesar de seu bonito timbre limpo, é solid state, e sua saturação produz distorção muito áspera. Se você quiser overdrive, use um pedal ou um plug-in simulador - e deixe o MP8D fazer bem o que ele sabe.
Análise técnica
Para a análise técnica do MP8D, usamos o nosso fiel Neutrik A2D. O analisador foi complementado pelo software AS04, rodando num PC com Windows XP.
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Resposta de freqüência digital
A resposta de freqüência é excelente em qualquer hipótese. Ela se estende praticamente plana desde 10Hz
até 20kHz com sample rate de 44.1kHz, atingindo, com sample rate de 96kHz, cerca de 45kHz sem queda.
Isso caracteriza um bom projeto, tanto da parte analógica, como da conversão analógico/digital do aparelho.
Não chegamos a testar as pouco populares taxas de 176.4 e de 192kHz.
Resposta de freqüência, saída digital
Resposta de freqüência analógica
Extraindo o sinal de saída analógico através do conector Insert, pudemos avaliar a resposta de freqüência
analógica do MP8D. Como já era de se esperar, o resultado foi espetacular, mostrando uma resposta perfeitamente plana até 100kHz, perdendo apenas 0,4dB em 20Hz.
O filtro Hi-pass tem freqüência de corte pouco abaixo de 100Hz e corte de 12dB/oitava. Pouco acima da freqüência de corte, ele produz um pequeno reforço, que não chega, porém, a modificar o timbre.
Resposta de freqüência, saída analógica
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Resposta de fase analógica
Ainda conectados à saída analógica, medimos a resposta de fase do Esotar MP8D. Com aquela resposta de
freqüência, o que esperávamos da resposta de fase? Exatamente o que encontramos: grande linearidade,
chegando a não mais que 20° positivos em 20Hz e a baixíssimos -3,9° em 20kHz.
Resposta de fase, saída analógica
Nível máximo de saída
O máximo nível de saída digital é, obviamente, 0dBFS. O máximo nível de saída analógica, medido no conector Insert, é de +22,9dBu.
Nível máximo de saída analógica
Ganho e sensibilidade
O ganho, medido entre a entrada XLR e a saída analógica Insert, varia naturalmente rm função do respectivo
controle no painel frontal, indo desde -0,5dB, na posição mínima, até 56dB no máximo.
Portanto, a sensibilidade para máxima saída sem distorção (+22,9dBu) é de -33dBu ou 17mV.
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Ganho máximo, saída analógica
Relação sinal/ruído
A relação sinal/ruído foi também medida na saída analógica, em
relação ao nível de saída em que a distorção harmônica total
(THD) atinge 1%, ou seja, +22,9dBu.
O ruído do MP8D é baixíssimo: medimos uma relação sinal/ruído de 115dB (não ponderada) com o controle de ganho em sua
posição média.
Ruído extremamente baixo
Adorável distorção
Adorável??? Sim, no mesmo sentido em que adoramos o som
de gravadores de fita, de microfones clássicos, de pré-amps vintage e de amplificadores valvulados: pela musicalidade. O que
é a distorção, afinal - não é acrescentar novas freqüências ao
som original? Se o som original ganha, com isso, em brilho, em
impacto, em emoção, ou outro sentimento humano... então viva
a distorção!
O que não podemos suportar são altos índices de distorção, em
harmônicos anti-musicais, como os ímpares e de ordem alta (7º,
9º, 11º, 13º etc.). Um pouquinho de intermodulação também esquenta o som - salve a fita magnética, ave microfone valvulado!
A condição é não passar da conta. E quanto é a conta? Segundo
os experts, o limiar absoluto da percepção está entre 0,1% e
0,2%. Isso é relativo; um amp valvulado de guitarra, soando
clean, está por volta dos 5% de distorção harmônica. Um bom
gravador de fita de 2”, trabalhando perto de 0 VU, distorce cerca
de 1%. E não incomodam ninguém.
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Voltando ao Esotar MP8D, as leituras de distorção revelaram um equipamento com personalidade, que acrescenta sua própria assinatura ao som. Tecnologia de amplificação não falta ao projeto, tanto que, abaixo de
certo nível de saída (+6dBu), a distorção é praticamente impossível de ser medida, de tão baixa. Acima desse
nível, o MP8D começa a esquentar ligeiramente o som!
Distorção harmônica: quase impossível de medir até +6dBu
Note que, mesmo nos níveis em que a distorção harmônica é mais “alta”, ela ainda é inaudível, situando-se
em torno de 0,04%. Para completar, o espectro dessa distorção é formado principalmente pelo 2º e pelo 3º
harmônico, com uma pitada de 4º e de 6º harmônico, muito pouco do 5º, do 7º e do 8º... e mais nada. Note
que esse 3º harmônico já está a quase 95dB abaixo do nível do sinal! Veja o espectro.
Espectro da distorção harmônica a +4dBu
A níveis altos, a distorção esquenta, mas não perde a linha - nunca ultrapassa os 0,05%. Levantamos também
o espectro a +22dBu de nível de saída, faltando pouco para a saturação - e obtivemos o interessante gráfico
mostrado em seguida. O mais proeminente é, novamente, o 3º harmônico, aqui a 70dB abaixo do nível de sinal.
O 5º harmônico também aparece na mesma ordem de grandeza (73dB abaixo do sinal), e vários outros aparecem, inclusive ímpares. Mas, com 0,04%, não dá pra ouvir nada!
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Espectro da distorção harmônica a +22dBu
Intermodulação
A distorção por intermodulação, certamente por decisão de projeto, é ligeiramente audível no MP8D, como
fator de personalidade de seu som.
Até o nível de saída analógica de +6dBu, a intermodulação é absurdamente baixa, na casa de 0,004%. A partir desse nível, essa distorção sobe - controladamente - até pouco mais de 0,2%, mantendo-se nesse patamar
até o nível máximo de saída. Refizemos esta leitura com ganho ajustado em 0dB (quase todo fechado), 20dB
e 40dB (bastante aberto), obtendo o mesmo resultado, o que permite dizer que o estágio de saída analógico
é onde se programa a distorção.
Intermodulação: controlada para esquentar
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Acabamento e visual
O MP8D, apesar de pequeno no tamanho, é pesado, o que inspira confiança: definitivamente, é um equipamento robusto, feito de metal. As chapas que formam seu chassi e tampas são de aço, e seu painel é de
alumínio, com alguns milímetros de espessura, anodizado em cor levemente dourada, com knobs da mesma
coloração. Os muitos leds de sinalização são das três cores mais usadas (verdes, amarelos e vermelhos) e as
chaves pushbutton são sinalizadas por dentro com luz amarelo-âmbar. Achamos os knobs de ganho, com quase 60dB de gama, difíceis de ajustar com precisão: qualquer toque, e o ganho varia alguns dB. Seria preferível
um controle duplo, com uma chave de, digamos, três posições: 0dB, -20dB e -40dB mais um knob rotativo
com 20dB de gama total. Mas, é claro, isso não chega a afetar o desempenho do aparelho.
O painel traseiro é muito simples, negro com caracteres brancos. O gabinete também é todo negro, com uma
unidade de rack (44,4mm) de altura.
A montagem interna é em placas de circuito impresso em epóxi, com cabos de interligação bem presos ao
chassi. A fonte de alimentação é robusta, empregando transformador toroidal.
Montagem interna do MP8D
Conclusão
O Esotar MP8D é mais um produto de bom desempenho da Alto Pro Audio, com preço situado numa faixa
acessível a muitos bolsos. Não pensem, porém, que é um equipamento popular, no sentido negativo do termo: por seu desempenho, em termos de baixo ruído, distorção controlada e resposta de freqüência, o MP8D
é um básico que não faz feio no meio dos grandes.
Sólon do Valle, engenheiro eletrônico, entre testes de equipamento (e às vezes durante eles) arranja
tempo pra tirar um som na guitarra...
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