Conservação e restauro de um biombo lacado chinês
Maria João Petisca
Resumo
Um biombo lacado chinês de nove folhas pertencente a D. Fernando II e à Condessa D’Edla
foi separado em 1834, tendo ficado cinco volantes à guarda do Museu Condes de Castro
Guimarães em Cascais e os restantes quatro, no Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa.
Características da sua manufactura assim como diferenças no percurso de cada uma das
partes que constituem a peça concorreram para o seu estado de conservação diferenciado
que obrigou a diferentes abordagens de tratamento.
Palavras-Chave
Biombo, China, exportação, laca oriental, urushi.
Abstract
A nine leaf Chinese lacquered screen that belonged to the king D. Fernando II and his second
wife Condessa D’Edla was separated in 1834, keeping the Museu Condes de Castro Guimarães,
in Cascais five of his leafs and staying the remaining four at the Museu Nacional de Arte Antiga,
in Lisboa. Characteristics of its manufacture as well as the different environments where the
piece stayed were responsible for the difference in its conservation state and conditioned the
treatment performed.
Keywords
Screen, China, export, oriental lacquer, urushi.
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O artigo apresentado diz respeito ao estudo e tratamento de um biombo lacado chinês que se
iniciou na Secção de Mobiliário, ao abrigo do Plano Operacional da Cultura, no então Instituto
Português de Conservação e Restauro, e que se encontra no presente a ser concluído no actual
Instituto dos Museus e da Conservação como parte integrante de um projecto de investigação
sobre lacas chinesas de exportação.
A peça é um biombo chinês lacado a negro com decoração a ouro na frente e a ouro com
policromia no verso. É composto por nove folhas, mas pela descontinuidade na decoração
crê-se que o mesmo esteja incompleto e que fosse originalmente constituído por doze folhas
(Figs. 1 e 2).
Fig. 1 – Frente do biombo de nove folhas, propriedade do Museu Nacional de Arte Antiga e do Museu Condes de
Castro Guimarães. Fotografia Luís Piorro, DDF-IMC.
Fig. 2 – Verso do biombo de nove folhas, propriedade do Museu Nacional de Arte Antiga e do Museu Condes de
Castro Guimarães. Fotografia Luís Piorro, DDF-IMC.
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Terá sido executado no século XVIII, muito provavelmente na região de Cantão, no sul da China,
entreposto comercial que foi um dos principais fornecedores de artigos lacados para o mercado
de exportação. O mobiliário lacado, constituía um dos artigos mais cobiçados pelos compradores
ocidentais, sendo os biombos uma das tipologias que faria parte dessas exportações.
De acordo com a investigação histórica levado a cabo pela historiadora de arte Alexandra
Curvelo, o biombo terá sido adquirido após o casamento de D. Fernando II com a sua segunda
mulher, Elise Hensler, Condessa d’Edla, em 1869, encontrando-se a decorar o gabinete ocupado
por aquela no Palácio das Necessidades. Em 1930 foi vendido no leilão dos bens da Condessa,
tendo sido o seu neto, Mário de Azevedo Gomes, o intermediário para a sua compra por parte do
Museu Nacional de Arte Antiga. Em 1932, e muito provavelmente devido a questões orçamentais,
cinco das suas folhas foram vendidas e deram entrada na colecção do Museu Condes de Castro
Guimarães em Cascais, ficando o biombo separado por cerca de sete décadas.
As cinco folhas adquiridas pelo Museu de Cascais, Inv. Nº 1176 (Figs. 3 e 4), incluíam as folhas
terminais da peça, o que, apesar de serem notórias as faltas na continuidade da decoração,
criava a ilusão de se tratar de um biombo completo.
Figs. 3 e 4 – Frente e verso do conjunto de cinco folhas propriedade do Museu Condes Castro Guimarães,
Cascais (Inv. Nº 1176). Fotografia Luís Piorro, DDF-IMC
A peça ficou exposta na sala de jantar, como atesta uma imagem de 1932 pertencente ao
espólio do Dr. João Couto1, na época conservador do Museu Castro Guimarães, tendo o biombo
em determinada altura, da qual se desconhece a data, sido retirado para reserva, por já
apresentar alguns problemas de conservação.
No Museu Nacional de Arte Antiga permaneceram as quatro restantes folhas, Inv. Nº MOB148
(Figs. 5 e 6), e sobre as quais não existe registo se terão sido expostas ou se permaneceram
em reserva na referida instituição.
1 Para imagem ver INSTITUTO PORTUGUÊS DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO. Biombo Lacado. Lisboa: IPCR, 2004, p. 24.
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Figs. 5 e 6 – Frente e verso do conjunto de quatro folhas propriedade do Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
(Inv. Nº MOB148). Fotografia Luís Piorro, DDF-IMC.
Em 1938, as quatro folhas deixaram o Museu de Arte Antiga e foram colocadas em depósito
na Residência Oficial do Primeiro-Ministro em São Bento, tendo sido objecto de restauro em
19882. Após o seu regresso à Residência Oficial, a peça foi colocada a ocultar um aquecimento
de parede estando sujeita a constantes alterações ambientais. Veio posteriormente a dar
entrada na Secção de Mobiliário do Instituto Português de Conservação e Restauro, em
avançado estado de degradação, sobretudo ao nível do destacamento do revestimento lacado.
Em 2002, uma visita do então responsável pela secção de mobiliário Pedro Cancela de Abreu,
ao Museu Condes de Castro Guimarães, permitiu a identificação das cinco folhas propriedade
do museu como parte do conjunto que se encontrava no Instituto de Conservação e Restauro.
Ao abrigo do Plano Operacional da Cultura o conjunto das nove folhas, foi novamente reunido
no Instituto (Fig. 7), para que se pudesse proceder ao seu estudo histórico e material e ao
tratamento da peça.
A peça é em madeira, identificada como Cryptomeria japónica Don, tendo sido possível
verificar, através de radiografia, que cada uma das suas folhas é constituída por várias tábuas
ligadas entre si por pequenas cavilhas. A estrutura apresenta um revestimento lacado que pela
observação de cortes estratigráficos (Fig. 8), é constituído por duas camadas preparatórias
com um material de reforço entre ambas e entre duas a três camadas de laca.
2 Conforme ficha de inventário do MNAA.
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Fig. 7 – Sessão fotográfica do biombo no IPCR, após a
reunião dos dois conjuntos que o constituem, em 2002.
Fig. 8 – Corte estratigráfico de uma amostra do
biombo sob luz UV, onde são visíveis duas camadas
preparatórias e duas camadas de laca. Microfotografia
adquirida com um microscópio óptico Leitz WETZLAR,
equipado com uma câmara digital Leica DC500.
Ampliação original 65X.
As camadas preparatórias são maioritariamente constituídas por caulinite e quartzo, materiais
normalmente presentes em argilas e terras, aglutinadas por um material de origem proteica
que se crê tratar-se de uma cola ou sangue de origem animal. Fibras de cânhamo foram
identificadas como o material de reforço entre as duas camadas de preparação. As camadas
negras são constituídas por laca oriental, ou urushi, a sua designação em japonês e a mais
comummente utilizada, para referir a seiva extraída do floema de várias árvores da família
Anacardiaceae. Análises recentes no Laboratório José de Figueiredo, efectuadas por pirólise
seguida de cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massa (Py-GC/MS) permitiram
a identificação de Rhus suceddanea, como a variedade de laca utilizada para a decoração desta
peça. Associada a esta foi também detectada a presença de óleos, que eram frequentemente
utilizados quer para acelerar o tempo de secagem quer para conferir mais brilho à laca. Ao
nível da decoração, os motivos dourados são executados com uma mistura de ouro e prata,
tendo sido aplicados em pó sobre um mordente de urushi vermelho, coloração esta obtida pela
presença de óxidos de ferro (ocres). Nos pigmentos usados para a decoração policroma foram
detectados para os vermelhos, cinábrio ou vermelhão, para os amarelos, ouropigmento e para
os verdes a malaquite3.
Os revestimentos lacados aplicados em peças para exportação apresentam geralmente
algumas alterações no seu processo de manufactura, em relação aos das peças realizadas
para o mercado interno. Algumas dessas alterações traduzem-se em camadas preparatórias
com aglutinante proteico em substituição ao uso de urushi, redução no número de camadas
de laca aplicadas e ausência de uma camada de protecção sobre a decoração dourada.
3 Para informações mais detalhadas consultar INSTITUTO PORTUGUÊS DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO. Biombo Lacado. Lisboa:
IPCR, 2004, pp. 42-51.
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Estas características contribuem para que aquelas apresentem frequentemente estados de
conservação deficientes.
Repintes, alteração do sistema de articulação das folhas, desgaste da decoração dourada e
degradação pela luz, foram algumas das patologias detectadas na peça. As maiores alterações
a nível do estado de conservação do biombo foram, no entanto, provocadas pela adulteração da
aparência original da superfície e pelo destacamento do revestimento lacado.
A alteração da superfície original da peça, foi consequência da aplicação de um verniz em todo o
biombo, acção que terá sido efectuada num restauro anterior crê-se que ainda com a peça toda
junta. É comum a aplicação de vernizes em peças lacadas sobretudo numa tentativa de repor
o brilho característico da laca quando esta começa a apresentar uma aparência matificada.
A aplicação permite também a integração de zonas de repinte com zonas originais de laca
cujos brilhos são, na generalidade, significativamente diferentes. O verniz, identificado como
sendo resina copal, foi aplicado em toda a superfície da peça e o seu forte amarelecimento
alterou por completo a percepção das cores e em alguns casos a percepção dos pormenores
do desenho original (Fig. 9).
Fig. 9 – Alteração da superfície devido ao amarelecimento da camada de resina copal colocada sobre a
decoração numa intervenção anterior.
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O destacamento do revestimento lacado constituía a patologia mais extensa e problemática
sendo aquela que levantou mais questões e dificuldades ao nível da decisão de acções de
conservação.
As peças lacadas produzidas para exportação apresentam problemas de conservação que
têm vindo a ser considerados como resultado directo do seu processo de manufactura. As
camadas preparatórias destes revestimentos lacados, na sua generalidade, não apresentam
urushi na composição, o que as torna mais frágeis e quebradiças e com tendência a perder
a sua capacidade adesiva. Como referido anteriormente foi possível confirmar esta ausência
nas camadas preparatórias do biombo tendo sido detectado um aglutinante de base proteica,
provavelmente uma cola animal. A posterior aplicação das camadas de laca, em menor número
e com menor tempo de secagem entre camadas do que o que era praticado em relação aos
revestimentos tradicionais, traduziu-se num filme lacado instável e com tendência a fracturar
numa direcção específica definida por estas tensões criadas inicialmente.
Essa patologia é detectada por toda a peça, traduzida nas características fracturas
perpendiculares ao veio da madeira. No entanto, neste caso, o percurso distinto dos dois
conjuntos que constituem o biombo foi responsável pela dimensão diferenciada que esta
degradação atingiu em ambos. Na figura 10, vemos uma das folhas pertencentes ao Museu
Condes de Castro Guimarães, com fractura e destacamento da laca a um nível comummente
detectado em peças com as mesmas particularidades de produção. Na figura 11 é visível
uma das folhas do conjunto propriedade do MNAA, em que essa degradação característica
foi potenciada até chegar ao nível de destacamento e distorção que é visível, devido a ter sido
usado para ocultar um aquecedor e como tal exposto a amplas e rápidas alterações térmicas.
Figs. 10 e 11 – Diferença no nível de fractura, fendimento e destacamento do revestimento lacado nos dois
conjuntos de folhas que constituem o biombo.
Na figura 12 vemos mais um aspecto do destacamento da laca. Neste caso o fendimento da
superfície é consequência directa da degradação pela luz, que quebra as ligações moleculares
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do polímero, criando microfendas que com o passar do tempo vão assumindo a forma de
pequenas fracturas sem direcção definida, como as que vemos na imagem. Esta alteração
traduz-se inicialmente pela perda de brilho na superfície, progredindo depois para a fractura
e destacamento da mesma. O conjunto do Museu Castro Guimarães era o que apresentava
maior incidência deste tipo de degradação.
Foi decidida a remoção da camada de verniz aplicada em restauro anterior procurando devolver
à peça a sua leitura original. A limpeza foi desenvolvida de forma a procurar a menor abrasão
possível sobre a superfície, uma vez que a mesma não apresenta uma camada de laca de
protecção sobre o ouro, práctica comum nas peças destinadas a exportação, encontrando-se
a decoração totalmente exposta. Na figura 13 é visível a aparência da superfície antes e depois
da remoção do verniz.
Fig. 12 – Degradação da superfície lacada provocada
por exposição à luz.
Fig. 13 – Pormenor do aspecto da superfície após
remoção da camada de resina copal.
O destacamento do revestimento lacado processava-se em ambas as faces das folhas do biombo
o que colocava problemas quanto à forma de criar um aperto para proceder à fixação da laca.
A decisão recaiu num método denominado shinbari, originalmente usado para restauro de
lacas em contexto oriental, e consiste num sistema composto por uma armação em madeira
onde são colocados paus de bambú, que possibilitam força e flexibilidade simultânea, e criam
um aperto localizado na zona a fixar. No caso do biombo foi desenvolvida uma estrutura em
madeira, com elementos móveis em cortiça na base, que permitissem que as folhas do biombo
fossem apoiadas apenas em zonas sem destacamento. Foram executadas doze estruturas
semelhantes de forma a permitir colagens simultâneas (Fig. 14).
Para além do elevado destacamento da laca, a presença de colas de restauros anteriores nas
camadas preparatórias dificultou o processo de fixação. Foram realizados vários testes com
vários adesivos, usados sobretudo em conservação de lacas em contextos ocidentais, não tendo
nenhum deles sido eficaz na fixação do revestimento lacado. Foi então decidido testar o uso de
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ki-urushi, urushi não refinado e tradicionalmente utilizado em países orientais para fixações
em peças lacadas. Revelou-se mais eficaz que os anteriores mas ainda não suficientemente
forte em zonas onde se detectava a presença de colas antigas. Tornava-se então necessário
aumentar o poder adesivo do ki-urushi, o que se conseguiu com a mistura do mesmo com
farinha de trigo, mistura que tem a denominação de mugi-urushi. Com esta mistura foram
obtidos os resultados mais satisfatórios e foi este o adesivo escolhido para a fixação da peça.
Para se proceder à colagem da laca, tornava-se necessário humidificá-la previamente e
localmente na zona a fixar. Tal foi conseguido com recurso a um sistema criado com um aro
de plástico, retirado de uma garrafa, e uma gaze humedecida que permitiu elevar a humidade
numa área específica. Este sistema foi desenvolvido e utilizado neste tratamento por indicação
de Marianne Webb, conservadora de lacas no Royal Ontario Museum e consultora deste
projecto. Desta forma a laca tornava-se mais maleável, sendo possível planificá-la e efectuar
a sua fixação (Fig. 15).
Fig. 14 – Pormenor das estruturas de madeira
desenvolvidas para a colagem do revestimento lacado.
Fig. 15 – Sistema de aro de plástico e gaze para
humidificação local da zona a colar.
Nas quatro folhas do MNAA, foi detectada a presença de um adesivo, em practicamente todas
as zonas visíveis de camadas preparatórias, que terá sido provavelmente aplicado no restauro
efectuado nos anos oitenta. A aplicação do mesmo para a fixação do revestimento lacado, terá
sido feita através de injecção, o que permitiu que o mesmo atingisse uma grande área da peça.
No entanto a perda da sua acção adesiva possibilitou o posterior destacamento da laca, sendo
agora visível o filme criado por esta aplicação sobre as referidas camadas (Fig. 16). O adesivo foi
identificado através de análises de microespectroscopia de infravermelho com transformada
de Fourier (micro-FTIR), como sendo poli (acetato de vinilo) (PVA), e a presença do mesmo
tornou ineficaz o adesivo usado com sucesso no conjunto de cinco folhas do MCCG. Em zonas
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que o possibilitassem procedeu-se à remoção parcial do filme de PVA, de forma a garantir uma
fixação mais eficaz. Ao mugi-urushi foi adicionado glúten para aumentar o seu poder adesivo
sendo esta a mistura usada na fixação do conjunto de folhas do MNAA. Em inúmeras zonas o
revestimento lacado encontrava-se fendido mas não destacado o que impedia a aplicação do
adesivo. O uso de ki-urushi diluído em white-spirit não constituía uma alternativa uma vez que
o mesmo foi testado sem sucesso. Estas são zonas por onde o revestimento irá futuramente
destacar e, na impossibilidade de se proceder a uma colagem, as mesmas foram isoladas pela
aplicação de mugi-urushi nas fendas (Fig. 17).
Fig. 16 – Filme de PVA sobre as camadas
preparatórias do revestimento lacado.
Fig. 17- Fendas preenchidas com mugi-urushi.
Nas figuras 18 e 19 vemos um exemplo de uma zona da frente do biombo antes e após a fixação.
Figs. 18 e 19 – Zona de destacamento do revestimento lacado antes e após fixação.
Após as etapas de limpeza e fixação, o tratamento de conservação contemplou o preenchimento
das lacunas existentes e a sua integração. A integração foi feita apenas à tonalidade de base
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do biombo, o negro, sem reconstituição de elementos decorativos. Para tal foi usado cashew,
extraído da casca da noz do cajú, da árvore Anacardium occidentale, com características
similares ao urushi, na sua aparência depois de seco, mas que não necessita das mesmas
condições específicas de secagem. Na figura 20 podemos ver um exemplo de um pormenor da
frente do biombo após intervenção.
Fig. 20 – Pormenor da decoração após reintegração cromática.
A intervenção do conjunto de cinco folhas do Museu Condes de Castro Guimarães já se encontra
concluída (figuras 21 e 22) e a peça já regressou ao museu onde se encontra exposta na actual
“Sala dos Contadores”.
Figs. 21 e 22 – Frente e verso do conjunto de cinco folhas do Museu Condes de Castro Guimarães após
tratamento. Fotografia de Luís Piorro, DDF-IMC.
Quanto ao tratamento de conservação do conjunto pertencente ao Museu Nacional de Arte
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Antiga está neste momento a ser concluído na Secção de Mobiliário do Instituto dos Museus e
da Conservação (Fig. 23).
Fig. 23 – Conjunto de quatro folhas do Museu Nacional de Arte Antiga em tratamento
na Secção de Mobiliário do IMC.
Equipa
O projecto de estudo e tratamento desta peça compreendeu uma equipa interdisciplinar referida
em seguida e à qual a autora gostaria de agradecer, nomeadamente, Alexandra Curvelo,
responsável pela investigação histórica e edição da publicação posterior; Pedro Cancela de
Abreu e Margarida Cavaco, o anterior e a actual responsável pela Secção de Mobiliário do
Instituto dos Museus e Conservação; Marianne Webb, conservadora de Artes Decorativas do
Royal Ontario Museum e consultora do projecto; a Sofia Vidal e Ulrike Kober, que participaram
no tratamento de conservação e restauro; ao Laboratório José de Figueiredo, nas pessoas
de Ana Mesquita e Carmo, Isabel Ribeiro, Lília Esteves, Maria José Oliveira e José Carlos
Frade, que desenvolveram todas as análises referentes à peça; Luís Piorro, da Divisão de
Documentação Fotográfica, pela documentação fotográfica e radiográfica; Rui Ferreira da
Silva, Alexandre Pais e Nazaré Escobar, pela edição da publicação Biombo Lacado resultante
deste projecto.
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Referências bibliográficas
INSTITUTO PORTUGUÊS DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO. Biombo Lacado. Lisboa: IPCR, 2004.
Nota biográfica
Maria João Petisca é conservadora-restauradora de mobiliário desde 1998, tem vindo desde
2002 a especializar-se na conservação de mobiliário lacado. Terminou o Bacharelato em
Conservação e Restauro em 1997, no Instituto Politécnico de Tomar, tendo concluído em 2001
a Licenciatura em Conservação e Restauro, pela mesma instituição. Em Novembro de 2009
concluiu o Mestrado em Artes Decorativas na Universidade Católica Portuguesa com o tema
“A laca de Cantão: um estudo sobre biombos de exportação nos séculos XVIII e XIX”.
Participante do URUSHI2009-International Course on Conservation of Japanese Lacquer
organizado pelo ICCROM/National Research Institute for Cultural Properties, em Tóquio.
No presente, é bolseira da Fundação para a Ciência e Tecnologia, integrando o projecto de
investigação “Lacas chinesas de exportação” no IMC.
Endereço electrónico - [email protected]
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