12/13/13
ANS amplia cobertura nacional de exames genéticos
ANS amplia cobertura nacional de
exames genéticos
Planos terão que pagar por análises preventivas de doenças hereditárias
Maria Clara Serra
RIO - A partir do dia 2 de janeiro de 2014, os planos de saúde serão obrigados a bancar exames de alta
complexidade para o rastreamento de 29 doenças genéticas. A recomendação já existia, porém sem normas
claras, o que gerava ambiguidade e demora na aprovação. Com a publicação das diretrizes de utilização pela
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), realizada ontem, especialistas afirmam que os trâmites serão
mais rápidos e os benefícios, maiores.
- É um grande ganho, pois até então tinha uma recomendação muito genérica - afirma Helio Torres Filho,
integrante da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e diretor médico do laboratório Richet. - Agora eles
criaram regras para essa cobertura determinando para quais pacientes ela será oferecida.
Na lista dos exames, aquele que determina alterações genéticas que podem levar aos cânceres hereditários de
mama, para homens e mulheres, e ovário, em grupos de alto risco (pessoas que têm vários casos na família) é
o mais comemorado. De acordo com dados do Ministério da Saúde, a doença matou 52.680 mulheres somente
em 2012.
A análise dos genes BRCA1 e BRCA2 ficou famosa após a atriz Angelina Jolie realizar uma mastectomia dupla
para a retirada das mamas. Casos como o de Angelina, em que mãe e tia morreram em decorrência da doença,
terão cobertura obrigatória pelo plano.
- Uma mulher sem nenhum fator de risco tem cerca de 12% de chance de desenvolver câncer de mama ao
longo da vida. Se ela pertence a uma família portadora da mutação genética, a chance aumenta para 80% até os
60 anos - explica Mauro Zukin, diretor técnico do Grupo COI, Clínicas Oncológicas Integradas. - Isso não é uma
sentença de morte, ao contrário, é uma sentença de vida, pois agora vamos ter mais chance de acompanhar
esses casos de uma maneira mais eficaz.
A medida pode acabar barateando os exames genéticos, que são muito mais caros no país pela necessidade
de importar reagentes e equipamentos com alta tributação. Com a maior procura pelas análises, especialistas
afirmam que os custos devem cair. Para se ter uma ideia, o exame que identifica mutações no BRCA1 e BRCA2
custa R$ 9 mil no Brasil, enquanto sai por US$ 3 mil nos Estados Unidos.
Outras doenças hereditárias, como as raras adrenoleucodistria - que atinge as glândulas adrenais, o sistemas
nervoso e os testículos -, e a ataxia de Friedreich, que pode causar dificuldades no equilíbrio e falta de
coordenação, também terão exames cobertos.
- São doenças que podem se manifestar ao longo da vida e não vai mudar muito para o paciente saber que
possui esse cromossomo alterado, pois a doença não tem cura e ainda pode deixar o paciente com depressão
- analisa Roni Zanenga, geneticista do laboratório Carlos Chagas. - Mas, mesmo assim, o exame pode ser
benéfico pois poderia impedir um casal de passar o gene para os seus filhos, por exemplo. É uma discussão
que tem que ser feita.
Para requerer o exame, o segurado deverá receber a indicação de um médico para que procure um geneticista.
De acordo com a norma publicada pela ANS, é somente o geneticista quem poderá pedir o exame, após
confirmação de necessidade e verificação de enquadramento nas diretrizes da agência (detalhadas no quadro
ao lado).
- É muito importante que um geneticista peça o exame para que não vire moda e não sobrecarregue os
convênios - ressalta Zanenga. - Além disso, é fundamental que este profissional seja responsável pelo
diagnóstico, pois se o médico não tiver experiência, não saberá interpretar os resultados.
Escassez de geneticistas
Apesar da obrigatoriedade, a falta de profissionais de genética pode colocar em risco a abrangência da medida.
- Existem poucos geneticistas e a maioria não tem convênio com planos de saúde - afirma Christian Domenge,
diretor científico do Hospital 9 de Julho. - Além disso, os reembolsos são muito difíceis de se conseguir. Eu
acredito que essa medida terá de ser revista.
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Segundo Karla Coelho, gerente de Assistência à Saúde da ANS, todos os planos devem disponibilizar
geneticistas:
- O segurado deve ligar para a operadora e pedir indicação de especialista. Se não tiver na rede, pode pedir
reembolso. Caso tenha dificuldade, reclamações devem ser feitas no telefone 0800 7019656 ou por meio do
site www.ans.gov.br/faleconosco.
Em nota, a Abramge (Associação dos Planos de Saúde) afirmou que a medida será objeto de “avaliação atuarial
para cálculo das mensalidades, que poderão ser reajustadas".
Veja a lista completa de doenças e os critérios para a solicitação dos exames no site da ANS.
URL: http://glo.bo/Jcs0Mq
Notícia publicada em 12/12/13 - 21h33 Atualizada em 12/12/13 - 21h33 Impressa em 13/12/13 - 17h35
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