pedro luís
tempo de menino
pedro luís
tempo de menino
1
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Nas Estrelas (Pedro Luís e Sérgio Paes)
Crise (Pedro Luís e Ivan Santos)
Imbora (Zé Renato e Pedro Luís)
Participação especial Milton Nascimento
4
Os Beijos (Pedro Luís e Ivan Santos)
Participação especial Roberta Sá
5
Menina do Salão de Beleza
(Pedro Luís, Beto Valente e Rodrigo Cabelo)
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Bela Fera (Pedro Luís)
Tempo de Menino (Pedro Luís)
Participação especial Erasmo Carlos
8
Na Medida do Meu Coração
(Ricardo Silveira e Pedro Luís)
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Tá? (Pedro Luís, Roberta Sá e Carlos Rennó)
Hoje e Amanhã Não Saio de Casa (Luiz Melodia)
Só o Esqueleto (Ricardo Coelho e Pedro Luís)
Rio Moderno (Pedro Luís e Carlos Rennó)
Lusa (Antonio Saraiva e Pedro Luís)
Participação especial Carminho
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Pedro Luís é um raro artista auto-suficiente
e multifacetado - afinal canta, compõe letra
e música, toca, arranja, produz e pode fazer
sozinho o que mais for necessário - que
ao mesmo tempo tem uma rara vocação
gregária. Foi roqueiro no Urge, nos anos
80, deu forma musical ao funk poético do
Boato nos 90, nos 2000 tornou-se e é até
hoje argamassa da usina musical chamada
A Parede, arrasta multidões no carnaval
carioca com o Monobloco, compõe lindas
canções para a MPB inteira com parceiros
variados, faz trilhas para cinema, para a TV.
Tem uma hora em que o gregário tem que
dar vez ao indivíduo, ao artista por trás de
tantos grupos e trabalhos coletivos. “Tempo
de menino”, inacreditavelmente o primeiro e
aguardado CD solo de Pedro depois de mais
de três décadas de carreira, é e não é isso.
Explico: se pela primeira vez Pedro consegue
botar num trabalho todas as suas (multi)
facetas individuais, ele não escolhe fugir do
espírito gregário que norteia e explica sua
criação musical. Senão, com perdão do clichê
didático, vejamos (e à guisa de descrever o
que há no CD).
O Urge está lá, em “Só o esqueleto”, que
embora um Rock típico tem uma característica
também muito típica da obra de Pedro, um
certo som de rua e uma observação da vida
nelas, as ruas: “Calmamente o indigente/
Deposita suas tralhas no asfalto/Instalado
em seu lar/Tranca a porta, tranca a rua/
Tranca a fome”.
10/6/11 5:12 PM
O Boato está lá no reggae carioca e funkeado “Menina
do salão de beleza”, nova parceria de Pedro com os
Boatos originais Beto Valente e Cabelo. Trata-se de
mais uma deliciosa musa carioca, no caso ninguém
menos que as próprias manicures e funcionárias, a
que não sai do salão e com um verso-cantada de
antologia: “Eu coloramo você (todinha)”.
As grandes canções estão ali. A toada “Imbora” é
mais uma de suas lindas parcerias com Zé Renato,
e mostra como Pedro dialoga com a melhor tradição
musical brasileira e tem direito à nobre participação
de Milton Nascimento.
“Os beijos” é uma magnífica list song feita em
parceria com o letrista Ivan Santos e já gravada
por Elba Ramalho no instigante e moderno CD
“Qual o assunto que mais lhe interessa”, produzido
por Lula Queiroga em 2007. Agora, Pedro refaz a
canção de forma nitidamente amorosa, em dueto
com sua mulher, Roberta Sá, uma das melhores (e
mais clássicas, no sentido brasileiro da expressão)
cantoras surgidas na última década, o que reforça o
caráter perene da música.
“A medida do meu coração” é um samba lindo e
consistente em parceria com o violonista Ricardo
Silveira e que já havia sido gravado por Maria Rita
no CD “Outro rio”, do parceiro. Na letra, Pedro
revela seu diálogo com a corrente central da música
brasileira: “E eu visto as notas da canção/Com
versos na medida do meu coração”. No arranjo,
guiado pelo violão de 7 cordas e pelo cavaquinho
de Rodrigo Campello e pela guitarra distorcida de
Jr. Tostoi, os produtores do disco, Pedro apresenta
sua visão do samba, ao mesmo tempo clássica e
irreverente, carioca sempre.
“Tá?” é menos clássica, mais experimental, latina,
uma parceria com Roberta Sá e com o letrista
Carlos Rennó, gravada originalmente por Mariana
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Aydar, outra cantora importante surgida nos últimos
anos. Revela em Pedro outra faceta interessante, o
artesanato de sua composição, um lado formalista,
de brincar com as formas, no caso a construção de
uma canção omitindo a sílaba “tá”.
“Lusa” é a mais vanguardista e elaborada das
canções de “Tempo de menino”. É uma parceria
com Antonio Saraiva, compositor da mesma geração
de Pedro, e autor de música rica e inventiva, e
que emula a origem portuguesa de ambos. Pedro
começou a fazer a canção em Lisboa, vendo a lua
sobre o Tejo, e propôs a parceria por telefone a
Saraiva, autor com quem tem intimidade total, com
quem ora faz música, ora faz letra. O resultado tem
a beleza e a estranheza da fonte de inspiração, a lua
sobre “Lisabone/Plenilúnio em Portucale”, e revela
mais uma faceta talvez menos conhecida de Pedro,
valorizada pela participação da cantora portuguesa
Carminho, uma das novas vozes expoentes do fado.
cidade natal que dialoga com a célebre “Rio antigo”,
Tem o sabor dos tempos de menino a própria
sucesso de Alcione composto por Nonato Buzar e
produção do CD, seja na verdadeira brincadeira
Chico Anisio. Trata-se de um retrato contemporâneo
musical proposta pelos produtores, a dupla
e original da cidade tão cantada, com referências até
MiniStereo, formada por Jr. Tostoi e Rodrigo
às Olimpíadas: “O Rio, cidade que é sede/Dos jogos
Campello, sempre brincando entre o pop e o
do amor, excede/Em convites que são mais de mil/E
experimental, entre brasileiro e o eletrônico, entre o
vão do mais óbvio e vil/Ao mais tênue, mais sutil/E
clássico e o irreverente, ou nos parceiros da Parede,
fazem do Rio o Rio”. A música acabou não entrando
C.A. Ferrari, Celso Alvim, Mario Moura e Sidon Silva
na série mas agora está aí.
espalhados pelo CD como que lembrando, mais
Tal diversidade e tal gosto algo infantil (no melhor
sentido do termo, o da invenção e do descompromisso)
uma vez, que mesmo solo Pedro não abre mão de
ser gregário.
pela criação fizeram Pedro batizar seu primeiro
“Tempo de menino” encarna mesmo é no samba
disco solo de “Tempo de menino”, ou aquele tempo
pop homônimo em que Pedro presta homenagem
em que se fica nas tardes vazias e vagabundas
ao bairro em que foi criado, a Tijuca, aquele canto
sonhando com o futuro. Esse espírito infantil se
na Zona Norte do Rio de Janeiro que vai do Estácio
reflete explicitamente em vários momentos, como
ao Alto da Boavista e que talvez seja o maior celeiro
na própria faixa de abertura, “Nas estrelas”, uma
de compositores do mundo. “Alô Tijuca/Você tá no
capoeira-reggae que, logo nos primeiros versos, já
cancioneiro/Desde os sambas de terreiro/Até o pop
convida a jogar: “Capoeira nas estrelas/Eu quero
nacional/Tim Maia/Jorge Ben, Erasmo Carlos/O
Numa outra vertente de seu trabalho, a veia afiada
de compositor pop está muito presente. Como no
reggae funkeado “Crise”, outra list song composta
em parceria com o especialista Ivan Santos. Ou, mais
ainda, no petardo “Bela fera”, mais uma cantada de
Pedro para mulher carioca, feita para a abertura da
série da TV Globo “As cariocas”, cuja trilha sonora
Pedro concebeu a convite do diretor Daniel Filho.
jogar/Vendo um céu bem azulzinho/Me alumiar”.
Aldir e o Roberto/Fazem seu manancial”, celebra
Para a mesma série, Pedro compôs com Carlos
Rennó “Rio moderno”, uma celebração da sua
compositor nas tardes vazias da adolescência e tudo
É do tempo de menino, também, a única faixa de
“Tempo de menino” que não é composta por Pedro:
“Hoje e amanhã não saio de casa”, um Luiz Melodia
de boa safra, 1980, compositor que encanta Pedro
desde que surgiu, em 1972, justamente por sua
diversidade, sua mistura de ritmos e gêneros, sua
observação da vida da rua, tudo que encantava o
que ele faria como artista nos anos seguintes.
o samba, feito originalmente para o filme tijucano
“Praça Saenz Peña”, de Vinicius Reis. A faixa, que
celebra o bairro, a música e o espírito lúdico, traz
outro sonho de infância, a participação autoreferente
de Erasmo Carlos. Claro, mesmo no momento mais
íntimo, quando vai falar da sua infância, Pedro
prefere não ficar sozinho. Quer companhia, quer o
grupo, afinal.
Hugo Sukman • Outubro de 2011
10/6/11 5:13 PM
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