SAÚDE & TECNOLOGIA . NOVEMBRO | 2012 | #8 | P. 24-30 . ISSN: 1646-9704
Desvio de posicionamento em radioterapia para patologias de cabeça
e pescoço e próstata: revisão de literatura
Ana Rita Simões1, Margarida Eiras2, Isabel Monteiro Grillo1
1. Serviço de Radioterapia, Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte, EPE, [email protected]
2. Área Científica de Radioterapia, Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa, Instituto Politécnico de Lisboa.
RESUMO: Introdução – Numa era em que os tratamentos de Radioterapia Externa (RTE)
exigem cada vez mais precisão, a utilização de imagem médica permitirá medir, quantificar e avaliar o impacto do erro provocado pela execução do tratamento ou pelos movimentos dos órgãos. Objetivo – Analisar os dados existentes na literatura acerca de desvios de posicionamento (DP) em patologias de cabeça e pescoço (CP) e próstata, medidos
com Cone Beam Computed Tomography (CBCT) ou Electronic Portal Image Device (EPID).
Metodologia – Para esta revisão da literatura foram pesquisados artigos recorrendo às
bases de dados MEDLINE/PubMed e b-on. Foram incluídos artigos que reportassem DP
em patologias CP e próstata medidos através de CBCT e EPID. Seguidamente foram aplicados critérios de validação, que permitiram a seleção dos estudos. Resultados – Após a
análise de 35 artigos foram incluídos 13 estudos e validados 9 estudos. Para tumores CP,
a média (μ) dos DP encontra-se entre 0,0 e 1,2mm, com um desvio padrão (σ) máximo de
1,3mm. Para patologias de próstata observa-se μDP compreendido entre 0,0 e 7,1mm,
com σ máximo de 7,5mm. Discussão/Conclusão – Os DP em patologias CP são atribuídos, maioritariamente, aos efeitos secundários da RTE, como mucosite e dor, que afetam
a deglutição e conduzem ao emagrecimento, contribuindo para a instabilidade da posição do doente durante o tratamento, aumentando as incertezas de posicionamento. Os
movimentos da próstata devem-se principalmente às variações de preenchimento vesical,
retal e gás intestinal. O desconhecimento dos DP afeta negativamente a precisão da RTE.
É importante detetá-los e quantificá-los para calcular margens adequadas e a magnitude
dos erros, aumentando a precisão da administração de RTE, incluindo o aumento da segurança do doente.
Palavras-chave: desvios de posicionamento, Cone-Beam CT, EPID, precisão.
Radiotherapy setup deviations in head and neck and
prostate tumours: a review
ABSTRACT: Background and Purpose – In an era where precision is an increasing
necessity in external radiotherapy (RT), modern medical imaging techniques provide means
for measuring, quantifying and evaluating the impact of treatment execution and movement error. The aim of this paper is to review the current literature on the quantification of
setup deviations (SD) in patients with head and neck (H&N) or prostate tumors, using Cone
Beam Computed Tomography (CBCT) or Electronic Portal Image Device (EPID). Methods
– According to the study protocol, MEDLINE/PubMed and b-on databases were searched
for trials, which were analyzed using selection criteria based on the quality of the articles.
Results – After assessment of 35 papers, 13 studies were included in this analysis and nine
were authenticated (6 for prostate and 3 for H&N tumors). The SD in the treatment of H&N
cancer patients is in the interval of 0.1 to 1.2mm, whereas in prostate cancer this interval is
0.0 to 7.1mm. Discussion – The reproducibility of patient positioning is the biggest barrier
for higher precision in RT, which is affected by geometrical uncertainty, positioning errors
and inter or intra-fraction organ movement. There are random and systematic errors associated to patient positioning, introduced since the treatment planning phase or through
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physiological organ movement. Conclusion – The H&N SD are mostly assigned to the
Radiotherapy adverse effects, like mucositis and pain, which affect swallowing and decrease secretions, contributing for the instability of patient positioning during RT treatment
and increasing positioning uncertainties. Prostate motion is mainly related to the variation
in bladder and rectal filling. Ignoring SD affects negatively the accuracy of RT. Therefore,
detection and quantification of SD is crucial in order to calculate appropriate margins, the
magnitude of error and to improve accuracy in RTE and patient safety.
Keywords: set-up deviation, Cone-Beam CT, EPID, accuracy.
Introdução
O objetivo primordial da Radioterapia Externa (RTE) é a
administração de uma dose de radiação, medida com precisão, num volume tumoral definido com o mínimo possível de efeitos secundários nas células vizinhas. Com este
método de tratamento, pretende-se a erradicação do
tumor, uma elevada qualidade de vida e o prolongamento
da sobrevivência1.
De maneira a tornar este objetivo real e exequível, com o
menor número de imprecisões, foram definidas incertezas
e fontes de erro em RTE associadas à preparação e administração do tratamento. Sabe-se, então, que as fontes de
introdução de incertezas estão principalmente relacionadas com incertezas de posicionamento do doente, assim
como com a delimitação do Gross Tumor Volume (GTV),
devendo-se esta última ao desconhecimento da extensão
microscópica do tumor2-8,10.
Centrar-nos-emos, neste trabalho, na análise das incertezas de posicionamento, nomeadamente dos desvios de
posicionamento (DP) do doente durante o tratamento de
radioterapia. São estes definidos como diferenças anatómicas observáveis através da comparação de uma imagem
de referência com uma imagem prévia ao tratamento10-13.
Atendendo à dimensão desta problemática e centrando-nos numa Era em que a precisão é cada vez mais exigida,
a utilização de imagem médica permitirá medir, quantificar e avaliar o impacto dos DP na execução do tratamento
ou no erro provocado pelos movimentos dos órgãos de
uma forma mais precisa. Nesse sentido, tem-se verificado,
nas últimas décadas, um claro aumento do investimento na
tecnologia utilizada nesta área. Tornou-se, assim, comum
a introdução de protocolos de verificação imagiológica
com recurso a ferramentas como o Electronic Portal Image
Device (EPID) ou a Cone Beam Computed Tomography
(CBCT) nos departamentos de radioterapia a nível mundial.
A utilização de EPID para verificação do posicionamento
do doente revelou-se um método eficaz, substituindo a utilização de filmes radiográficos em radioterapia. Tal deve-se ao facto destas imagens digitais, obtidas através de um
detetor de silício amorfo, terem um maior contraste e uma
qualidade marcadamente superior. Ao recorrermos a este
método, os DP são baseados, principalmente, na anatomia
óssea, facilmente observada em duas dimensões (2D)14.
Com o intuito de aumentar a precisão da radioterapia
surge o CBCT, com a possibilidade de realizar imagens
volumétricas associadas a uma boa visualização de tecidos
moles, baixas doses de radiação e possibilidade de observar variações inter e intrafração15. Este sistema é baseado
numa fonte de raios X posicionada no sentido oposto do
detetor, posicionada no anel do acelerador linear. Enquanto
a gantry roda à volta do doente, a reconstrução da imagem
é obtida através de uma aproximação bidimensional dos
dados de projeção3.
Tendo em conta esta realidade, o presente trabalho pretende analisar a literatura existente acerca de DP em doentes com patologias de cabeça e pescoço (CP) e próstata,
medidos com CBCT ou EPID.
Metodologia
Pesquisa de artigos
Para esta revisão de literatura foram pesquisados artigos
recorrendo às bases de dados MEDLINE/PubMed e b-on,
através das palavras Cone-Beam CT, EPID, Head and Neck,
prostate, intrafraction errors, intrafraction errors e setup
error. A pesquisa foi limitada a publicações escritas em
inglês.
Seleção de artigos
Foram incluídos artigos que quantificassem DP de doentes com tumores malignos de próstata ou localizados na
região de CP submetidos a tratamentos RTE. Destes, foram
selecionados os estudos cujos DP foram avaliados através
das ferramentas de aquisição de imagem CBCT ou EPID.
Em alguns dos estudos foram apenas selecionados os
dados referentes às patologias de próstata e patologias
de CP, sendo excluídos todos os DP existentes referentes a
outras patologias.
Estratégias de seleção de artigos
Para a presente revisão foram definidos parâmetros de
avaliação da qualidade dos estudos incluídos, como descritos por Jadad, et al17.
Elaborou-se uma tabela (cf. Tabela1) com os itens considerados como desejavelmente descritos nos artigos. De
seguida, foi verificada a conformidade entre os parâmetros
definidos e os descritos nos estudos. Caso os itens estivessem descritos, seria atribuída a classificação designada. A
classificação máxima estimada para os artigos incluídos foi
de 62 pontos. Foram excluídos todos os estudos que obtiveram uma classificação inferior ou igual a 29 pontos, cujos
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Tabela 1: Parâmetros de validação dos estudos incluídos
Parâmetros de avaliação dos estudos
Classificação
Materiais e métodos explicados
5
Dados dos desvios disponíveis:
Dados em bruto
Média, desvio-padrão, medida de tendência central
3
2
Descrição da metodologia de análise dos DP e erros aleatórios e sistemáticos
3
Avaliação dos erros de setup segundo um protocolo de aquisição de imagem
2
Dimensão da amostra:
6 a 10 doentes
11 ou mais doentes
2
3
Conformidade entre objetivo e métodos utilizados
5
São quantificados DP?
5
Existe análise dos desvios de posicionamento?
5
É apresentado um significado clínico para os DP?
5
É um estudo prospetivo?
5
A conclusão está em conformidade com o objetivo proposto?
5
São sugeridas estratégias para diminuição do erro sistemático?
3
Um dos objetivos é definição de protocolo ou linhas de orientação para implementação?
3
Existe uma preparação prévia ao tratamento?
4
Descrição da preparação, se aplicável.
3
Uniformidade do posicionamento dos doentes.
2
Consentimento informado.
1
Classificação máxima:
dados de DP não estivessem quantificados e cuja amostra
fosse inferior a 5 doentes.
Após terem sido incluídos 13 estudos para esta revisão,
foram validados 9 estudos (3 referentes a tumores de CP e
6 a patologias de próstata). A pontuação média obtida no
processo de validação dos estudos foi de 39,1 pontos, com
amplitude de 31 a 49 pontos.
Nas Tabelas 2 e 3 encontram-se descritos os estudos e
algumas das suas características.
62
de 1,6 a 3,4mm. Aubry, et al. registaram valores de µDP
entre 0,0 e 0,2mm com σDP entre 0,2 e 0,7mm. Sandhu,
et al publicaram DP entre 1,0 e 5,3mm com σDP entre 1,7
e 8,1mm. Polat, et al. analisaram apenas os DP no sentido antero-posterior, tendo sido foi obtida µDP=0mm; para
todas as aquisições, os valores de σDP encontraram-se entre
1,0 e 1,7mm, enquanto para Cheung, et al. a média dos
DP foi quantificada entre 0,14 e 0,72mm. Rajendram, et al.
registaram um µDP entre 0,7mm e 7,1mm.
Os valores mais elevados de DP para estas patologias
encontram-se no sentido antero-posterior.
Resultados
Desvios de posicionamento
Discussão
A reprodutibilidade do posicionamento do doente é a
maior barreira para o aumento da precisão em radioterapia, a qual é afetada por múltiplos aspetos inerentes ao
tratamento13,24-25. Nesse sentido, caracterizam-se os DP
como o somatório de erros sistemáticos (introduzidos ao
longo do planeamento), erros aleatórios (associados a cada
fração) e de incertezas geométricas (relacionadas com o
equipamento)6.
Para CP observa-se que a média dos DP tem uma amplitude entre 0,0 e 1,2mm com um desvio-padrão máximo
de 1,3mm. É ainda de referir que os resultados não diferem significativamente na literatura consultada, o que
poderá ser atribuído à utilização de máscara de imobilização. Nestes estudos, o aumento dos DP no decorrer da RTE
Cabeça e Pescoço
Na Tabela 4 encontram-se descritos os resultados da
média (µDP) e desvio-padrão (σDP) dos DP dos mesmos autores. Wang, et al. documentaram que a µDP se encontrava
entre 0,0 e 0,7mm, enquanto o intervalo de σDP é de 0,4 a
1,3mm. Xu, et al. registaram, em 2008, valores de µDP entre
0,6 e 1,2mm com σDP entre 0,5 e 1,1mm. Em 2009, os mesmos autores publicaram um estudo cujos doentes apresentavam DP entre 0,1 e 0,3mm com σ entre 0,4 e 0,8mm.
Próstata
Na Tabela 5 encontram-se descritos os resultados dos
autores. Nairz, et al. documentaram que o µDP se encontrava entre 0,0 e 0,7mm, enquanto o intervalo de σDP é
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Tabela 2: Representação por autor, ano, posicionamento, ferramenta de aquisição de imagem dos estudos de patologias
de CP considerados para este trabalho
Autor
Ano
Posicionamento
Amostra
Ferramenta
de aquisição
de imagem
Xu, et al21
2008
Dec. Dorsal; Acessório de fixação de máscaras; máscara
termoplástica de cabeça; depressor de ombros; apoio
popliteu.
n=19
CBCT
Wang, et al23
2009
Dec. Dorsal; Acessório de fixação de máscaras; máscara
termoplástica de cabeça; apoio popliteu.
n=22
CBCT
Xu, et al22
2008
Dec. Dorsal; Acessório de fixação de máscaras; máscara
termoplástica de cabeça; depressor de ombros; apoio
popliteu.
n=19
CBCT
Tabela 3: Representação por autor, ano, posicionamento, dimensão da amostra, marcadores fiduciais, preparação e
ferramenta de aquisição de imagem dos estudos de patologias de próstata considerados
Preparação
Ferramenta
de aquisição
de imagem
utilizada
Não
Não
CBCT
Sim
Bexiga cheia e
reto vazio
EPID
Sim
Bexiga cheia e
reto vazio
EPID
CBCT
Autor
Ano
Posicionamento
Amostra
Marcadores
fiduciais
Nairz, et al.26
2008
Não especificado
n=27
Aubry, et al.29
2004
Não especificado
Sandhu, et al.27
2008
Dec. Dorsal; colchão
de vácuo
n=18
n=26
2008
Não especificado
n=27
Não
Bexiga cheia e
reto vazio.
Aconselhamento
nutricional
Chueng, et al.30
2005
Dec. Dorsal; colchão
de vácuo
n=33
Sim
Bexiga e reto
vazios
EPID
Rajendran, et al.31
2010
Dec. Dorsal; apoio
região pélvica e
região politeia
n=28
Sim
Bexiga cheia
EPID
Polat, et al.
28
estar relacionado com o facto de o aconselhamento nutricional, aplicado por estes autores, ser um fator essencial para o controlo da posição do reto e, consequentemente, da próstata. É assim realçada a importância da
implementação de um protocolo que englobe esta
componente, além da necessária preparação de bexiga
e reto. Note-se que apenas um autor desconsiderou a preparação retal e vesical26.
É ainda de referir que não existe unanimidade na literatura em relação ao procedimento que deverá ser realizado
para controlar o volume da bexiga. Alguns autores referem instruir os doentes para ingerir sempre a mesma quantidade de água antes do tratamento. Contudo, na maioria dos artigos analisados não é descrita a quantidade de
água nem o tempo de espera antes de realizar tratamento.
Por outro lado, Chueng, et al. defendem que a bexiga e o
reto deverão estar vazios antes do tratamento para que se
possa controlar o movimento interno da próstata de uma
forma precisa.
é relacionado com o aparecimento de efeitos secundários
do tratamento, nomeadamente mucosite e xerostomia. De
facto, com o aparecimento destes sintomas, a deglutição
é afetada, conduzindo a perda ponderal. Se somarmos a
este fator a dor inerente ao desenvolvimento de inflamação nos tecidos durante o tratamento, compreende-se que
o posicionamento do doente sofre de uma maior imprecisão e menor reprodutibilidade21-23.
Nesta análise verifica-se que os DP em doentes com patologia de CP são menores do que no caso de doentes com
patologia prostática. No entanto, não devemos descurar o
seu estudo e medição, já que existem valores atípicos para
alguns doentes que deverão sempre ser corrigidos.
Os DP da próstata devem-se principalmente a variações de preenchimento vesical e retal. Observa-se que a
média dos DP para próstata tem uma amplitude de 0,0
e 7,1mm com um desvio-padrão máximo de 7,5mm. Os
menores valores de DP são reportados por Polat, et al.,
apresentando-se no sentido antero-posterior. Tal poderá
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Tabela 4: Representação dos DP (média ± desvio-padrão para Patologias de CP.
X,Y e Z, representam, respetivamente, os sentidos latero-medial, crânio-caudal e antero-posterior
DP (média±desvio-padrão)
Sentidos
Autor
Wang, et al.23
Xu, et al.22
Xu, et al.21
Latero-medial (X)
Crânio-caudal (Y)
Antero-Posterior (Z)
-0,7±1,1
-0,7±1,3
-0,3±1,2
-0,4±0,5
0,3±0,5
0,0±0,4
-0,3±0,7
0,3±0,9
0,1±0,7
-0,3±0,5
0,1±0,5
0,2±0,4
-0,3±0,6
0,3±0,8
0,2±0,6
1,2±0,9
0,7±0,6
0,9±0,8
1,2±1,1
0,6±0,5
1,0±0,9
1,0±0,8
0,6±0,5
0,9±0,7
Tabela 5: Representação dos valores absolutos de DP, em mm, para patologias de próstata
DP (média±desvio-padrão)
Autor
S. Latero-Medial (X)
S. Crânio-caudal (Y)
S. Antero-posterior (Z)
Nairz, et al.26
0,0±1,6
0,0±2,4
0,7±3,4
Aubry, et al.
0,2±0,2
0,0±0,4
0,2±0,7
3,9±5,9
5,3±8,1
3,8 ±5,5
1,0±1,7
2,4±2,1
2,8±2,1
3,6±5,6
4,9±7,5
5,2±7,1
Não foi avaliado
Não foi avaliado
0±1,7
0±1,0
0±1,3
Chueng, et al.30
0,14±0,9
0,45±1,3
0,72±1,8
Rajendran, et al.
0,8±6,8
4,2±4,9
7,1±7,4
29
Sandhu, et al.27
Polat, et al.28
31
só calcular margens de tratamento adequadas, mas também definir protocolos de aquisição de imagem. Esta abordagem levará a um incremento da precisão e à diminuição
das incertezas no tratamento. Aumentar-se-á, consequentemente, a sua qualidade de administração.
Verifica-se existirem mais estratégias de redução de DP
para a patologia de próstata do que para CP. Esta diferença
decorrerá potencialmente dos valores de DP documentados para CP serem relativamente diminutos quando comparados com os DP de patologias prostáticas. No entanto,
entende-se que, para CP, é desejável o desenvolvimento
de estratégias que minimizem a toxicidade da RTE. Tal
como anteriormente referido, a toxicidade do tratamento
provoca queixas álgicas e evolução da morfologia (com a
perda ponderal) do doente, tornando-a, segundo os autores, na maior fonte de DP durante o tratamento.
Verificam-se, presentemente, grandes discrepâncias na
forma de apresentar estes resultados na literatura. Futuramente dever-se-ão definir linhas de orientação que permitam uma definição uniforme e inequívoca de como quantificar DP com os vários métodos disponíveis. Deverão ser
sempre tomados em conta aspetos como a ferramenta de
Verifica-se ainda que os autores que utilizam CBCT não
colocam marcas radiopacas na próstata, apesar de não ser
referida uma justificação. Sugere-se que o motivo desta
observação se prende com a visualização de tecidos moles
nas imagens de CBCT. Apesar de a visualização da próstata
se manter inexata ao recorrer a tomografia computorizada,
é muito mais precisa quando comparada com EPID, onde
apenas são visíveis estruturas ósseas. É ainda de referir que
os quatro autores analisados que utilizam EPID recorrem à
utilização de marcadores fiduciais.
Os DP apresentados nos estudos que contemplam a patologia de próstata poderão não ser comparáveis, uma vez
que se verificam diferenças no posicionamento utilizado
para os doentes de próstata entre os diversos autores.
Conclusão
O desconhecimento dos DP afeta negativamente a precisão da radioterapia, pelo que a deteção e quantificação
dos primeiros permitirá o aumento da última. De facto,
conhecer o DP para cada patologia em cada centro de
radioterapia permitirá calcular o erro sistemático e aleatório associado à localização de tratamento. Tal permitirá não
28
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publicados permitiria, no futuro, análises metodológicas
mais claras e a potenciação do desenvolvimento de melhores estratégias no caminho para o aumento da precisão em
radioterapia.
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Artigo recebido em 09.02.2012 e aprovado em 29.05.2012.
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