3º Ano
Unidade 4 – A mistura brasileira
Plano de Aula 7
Chico rei
Em meados do século XVIII, Galanga, um rei do Congo, na África, foi derrotado num combate.
Aprisionado, foi vendido para o tráfico negreiro com toda a sua família. Durante a longa viagem
para o Brasil, sua mulher e seus filhos morreram – só restou um. Galanga e o filho foram
comprados no Rio de Janeiro pelo dono da mina Escandideira, que ficava em Vila Rica, Minas
Gerais. Quando chegaram lá, Galanga recebeu o nome de Francisco e logo ficou conhecido
como Chico.
Apesar da injustiça que sofrera, Chico percebeu que não adiantaria se revoltar. Com disciplina
e obstinação, trabalhava continuamente, balançando a bateia em busca de pepitas de ouro.
Pensando em conseguir dinheiro para sua libertação, ele e os outros escravos passaram a esconder
ouro em pó nos cabelos. Com sacrifício e economia, Chico conseguiu juntar o suficiente para
adquirir uma carta de alforria. Procurou o patrão e disse-lhe que desejava comprar a liberdade
de seu filho. O homem ficou impressionado com a generosidade do escravo, que cuidava de
livrar o filho em primeiro lugar. Então, o rapaz começou a trabalhar para libertar o pai.
Livres, Chico e o filho trabalhavam muito e economizavam o máximo possível. Assim que
reuniram dinheiro suficiente, compraram a liberdade de um escravo que pertencia à mesma
nação africana que eles. Juntos, os três libertaram um quarto escravo.
Nessa época, o patrão vendeu para Chico a sua mina, já decadente; nas mãos do novo dono, ela
voltou a prosperar. Com o dinheiro que ele ganhava, ele comprava a alforria dos outros escravos.
E assim continuou, até libertar todas as pessoas que pertenciam à sua nação. Com seu povo
reunido, ele voltava a ser o rei de sua gente, o Chico rei. Seu reino era dirigido com competência
e justiça, e uma parte do lucro da mina era reservada para libertar os escravos.
Dentro de Vila Rica, outra cidade que nascia, com ruas, casas e até uma igreja era a cidade de
Chico rei e sua corte. Ele construiu, com seu próprio dinheiro, A Igreja do Alto da Cruz, para a
qual o Aleijadinho, o principal artista da época, criou altares.
Nos dias de festa, Chico rei ia à igreja com a família, seguido do seu povo. As moças cobriam os
cabelos com pó de ouro e o deixavam na igreja para ser usado na libertação de escravos. Na saída
da missa, o grupo voltava dançando e cantando as músicas africanas. No dia dos Reis Magos, 6
de janeiro, e no de Nossa Senhora do Rosário, 7 de outubro, a comemoração era especial. Chico
rei, de coroa e cetro, e sua corte usavam trajes de gala e bordados a ouro; eram precedidos por
batedores e seguidos de dançarinos e músicos que cantavam e tocavam pandeiros, caxambu,
marimba e ganzá.
Dizem que foi assim que nasceram os reisados e congadas.
Baseada em fontes folclóricas e em história coletada por Câmara Cascudo, em Lendas brasileiras.
SALERNO, Silvana. Viagem pelo Brasil em 52 histórias. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2006. (p. 103-105).
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Chico rei - Editora Positivo