ANÁLISE DO SIGNIFICADO E DOS SENTIDOS DO TRABALHO PARA OS
FUNCIONÁRIOS DO SETOR CONTÁBIL-FINANCEIRO DE UMA IES PÚBLICA
Henrique Luiz Caproni Neto
Graduado em Administração e MBA em Gestão Estratégica
de Pessoas, ambos na Universidade Federal de Juiz de Fora.
Email: [email protected]
RESUMO
O objetivo desta pesquisa é identificar e analisar o significado e sentidos do trabalho para os
funcionários do setor financeiro de uma IES (Instituição de Ensino Superior) pública,
composto por 16 participantes, localizada no interior de Minas Gerais, a partir das
considerações de Morin (2001) e do questionário e do modelo desenvolvidos pelo MOW –
Meaning of Working International Research Team (1986), com foco nas dimensões de
centralidade do trabalho e de resultados e objetivos valorizados no trabalho. Destacamos que
os sujeitos desta pesquisa consideram o trabalho como uma esfera tanto relativamente quanto
absolutamente significante em suas vidas. Eles demonstram uma concepção positiva quanto
ao trabalho e o enfatizam como meio de vinculação, como atividade geradora de valor, que
lhe fornece dinheiro e permite contribuir com a sociedade. Ademais, com relação aos
produtos valorizados do trabalho, o fator econômico apresentou forte destaque e,
considerando os objetivos valorizados no trabalho, o aprendizado foi demarcado como de
grande relevância.
Palavras chaves: Trabalho, sentidos do trabalho, significado do trabalho e organização do
trabalho.
ABSTRACT
The objective of this research is to identify and analyze the significance and meanings of
work for employees in the financial department of a HEI (Higher Education Institution)
public, composed of 16 participants, located in Minas Gerais, from considerations of Morin
(2001) and the questionnaire and the model developed by MOW – Meaning of Working
International Research Team (1986), focusing on the dimensions of centrality of work and
results and goals in the valued work. We emphasize that the subjects of this research consider
the work as a sphere both absolutely and relatively significant in their lives. They demonstrate
a positive conception of labor and emphasize it as a means of connection, such as a valuegenerating activity, which gives them money and lets them contribute to society. Furthermore,
with respect to products valued at work, the economic factor has a strong emphasis and, for
the purposes valued at work, learning was marked as highly relevant.
Keywords: Work, meanings of work, significance of work and work organization.
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1. Introdução
O objetivo do presente estudo é identificar e analisar o significado do trabalho para os
funcionários do setor financeiro de uma IES (Instituição de Ensino Superior) pública,
composto por 16 participantes, localizada no interior de Minas Gerais, a partir do modelo
desenvolvido pelo MOW – Meaning of Working International Research Team com foco nas
dimensões de centralidade do trabalho e de resultados e objetivos valorizados no trabalho.
É importante ressaltar que trabalho é tema atual, bem como relevante para a sociedade
e para os indivíduos. É discutido por várias ciências em diferentes perspectivas. Ao longo da
história, é uma esfera que sofre diversas mudanças sendo influenciado por aspectos sociais,
econômicos, organizacionais, etc. O mundo do trabalho também passa por profundas
mudanças em decorrência da inserção de novas tecnologias, foco em aprendizado, busca por
conhecimento, novos modelos de organização do trabalho, necessidade de flexibilidade e
agilidade, etc. Em face dessas mudanças e da importância dessa dimensão para os indivíduos
e sociedade, é relevante estudar o significado que os indivíduos atribuem ao trabalho.
2. O Trabalho e suas Concepções
Etimologicamente, a palavra trabalho tem sua origem do latim tripalium, que era um
instrumento utilizado por agricultores feito de três paus aguçados, às vezes, ainda munido de
uma ponta de ferro. Porém, é da utilização deste instrumento como meio de tortura que a
palavra trabalho significou por muito tempo e ainda hoje conota algo como padecimento e
cativeiro. Ao conteúdo semântico de sofrer acrescentou-se o de obrar, esforçar-se e laborar.
Em Inglês e Alemão, tanto a palavra work como werk se relacionam com a ativa criação da
obra. Já as palavras labour e arbeit se referem aos aspectos de cansaço e de esforço
(ALBORNOZ, 1992).
Borges (1999) ressalta que as principais concepções do trabalho são: a clássica, a
capitalista tradicional, a marxista, a gerencialista, a da centralidade expressiva e a da
centralidade externa. Essas concepções possuem origem em um processo histórico, no qual o
desenvolvimento e a disseminação de cada uma está relacionada com a evolução dos modos e
relações de produção, da organização da sociedade como um todo e das formas de
conhecimento humano.
A concepção clássica tem sua origem na filosofia clássica e no trabalho escravo.
Considerava-se o trabalho um fator de baixa centralidade na vida do indivíduo, assim como
degradante, inferior, desgastante e duro. Há uma relação de senhor e de escravo sendo estes
dominados pela força e pela coerção. O principal valor era o ócio (BORGES, 1999). Desta
forma, na Grécia Antiga, a prática material ocupava um lugar secundário, os homens livres
viviam no ócio exercendo a política ou a filosofia. O trabalho intelectual (tido como
propriamente humano e ausente de contato com a matéria) era destinado apenas para os
homens livres, o trabalho braçal estava destinado aos escravos e às mulheres. Essa relação
afirmava a posição social dos intelectuais ou ociosos e o desprezo aos trabalhadores manuais
ou braçais (ALBORNOZ, 1992).
Em direção à concepção capitalista do trabalho, cabe ressaltar a influência de aspectos
religiosos. A visão cristã ressalta os aspectos virtuosos do trabalho sendo visto como um
dever, mas também como fonte de crescimento e de mérito (MOTTA, 1998). Com a reforma
protestante, o trabalho foi de tal modo reavaliado, que é considerado o caminho religioso para
a salvação ou, pelo menos, livraria o homem do medo da condenação. Os seus frutos devem
ser reinvestidos visando mais trabalho. O ócio, o luxo e a vaidade são severamente
condenados. Weber relaciona a ética protestante ao espírito do capitalismo, visto que tal modo
de encarar o trabalho está diretamente relacionado aos interesses da burguesia. Dessa forma,
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“a psicologia do homem religioso e do homem econômico coincidiram no empresário burguês
dos tempos da austeridade, quando, para afirmar-se, a classe burguesa necessita da religião do
trabalho” (ALBORNOZ, 1992, p. 54).
Além da influência da reforma protestante, a concepção capitalista, que atribui alta
centralidade ao trabalho, baseou-se em conceitos da economia clássica, da administração
clássica e da psicologia industrial. Essa concepção caracteriza o trabalho como mercadoria e
defende sua instrumentalidade para o sucesso econômico. Objetiva-se um trabalho
disciplinado, padronizado, parcelado, supervisionado, sem necessidade de qualificação dos
trabalhadores e com a separação entre os que pensam e os que executam. O poder é exercido
por meio da propriedade, pelo controle das recompensas financeiras, pela coerção e pelo
domínio do saber (BORGES, 1999).
Em crítica à concepção anterior, surge a concepção marxista do trabalho que
caracteriza a elevada centralidade do trabalho, visto que este representa a própria
autoconstrução do ser humano. É a visão do trabalho como formador da condição humana,
expressivo, fonte de recompensas de acordo com as necessidades do indivíduo, de caráter
criativo e desafiante, dignificante, de controle coletivo e protegido pelo estado. A glorificação
do trabalho está fundamentada na crença de que a produção em massa apresenta avanço
qualitativo para a sociedade. Porém, o trabalho capitalista também é considerado mercadoria,
alienante, explorador, humilhante, monótono e repetitivo, discriminante, embrutecedor e
submisso (BORGES, 1999).
Objetivando amenizar os pontos negativos do capitalismo tradicional, surge a
concepção gerencialista do trabalho que teve como embasamento a corrente keynesianofordista na economia, a escola de relações humanas na administração e os estudos que deram
origem à psicologia organizacional. É caracterizada por uma centralidade mais baixa ao
trabalho, comparativamente às concepções do capitalismo tradicional e marxista. Ressalta o
trabalho como mercadoria vinculada ao consumo, assim sendo provedor de salários,
assistência, benefícios e ampla rede de proteção institucional. É visto como fonte de contatos
interpessoais, pobre de conteúdo, parcelado, monótono, mecanizado e repetitivo para a
maioria dos trabalhadores. Possui ainda uma supervisão mais polida e supõe que a baixa
qualidade de conteúdo do trabalho possa ser compensada por recompensas financeiras e
interpessoais (BORGES, 1999).
Ressalta-se que atualmente o mundo do trabalho vem passando por diversas e
profundas mudanças como o aumento da intelectualização em alguns setores, a terceirização,
a precarização, o desaparecimento de trabalhos estáveis, o trabalho informal, o teletrabalho, as
inovações tecnológicas, etc. Destarte, Harman e Hormann (1990) ressaltam que a sociedade
moderna está confusa em relação ao papel do trabalho, sendo um dos motivos básicos as
mudanças tecnológicas que afetam a natureza do trabalho. Destacam que, atualmente, os
empregos estão cada vez menos efetivos em desenvolver suas funções ancestrais legítimas: o
aprendizado e o desenvolvimento do cidadão; o desenvolvimento e os papéis sociais dos
indivíduos; a produção de bens e serviços relevantes e desejados pela sociedade; e a
distribuição de renda de modo equitativo.
Em face das contradições da sociedade atual, Borges (1999) enfatiza duas concepções
emergentes relacionadas à centralidade do trabalho: a centralidade expressiva e a centralidade
externa. A centralidade expressiva atribui alta centralidade ao trabalho, relaciona-se com os
valores do trabalho do marxismo, com o aspecto da horizontalização das estruturas
organizacionais, da participação e com a pluralidade de embasamento do poder. Assim,
destaca um trabalho multiprocessual, rico em conteúdo para alguns, e empobrecido para a
maioria, sistematizado, instável, de elevada tecnologia em setores avançados e convivendo
com vários estilos de estrutura e de gestão organizacional.
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Já a centralidade externa é caracterizada pela baixa centralidade atribuída ao trabalho,
porém tem aspectos semelhantes à anterior. Diferencia-se ao estabelecer um trabalho
instrumental, um igualitarismo relacionado com a socialização de aspectos negativos e
positivos do trabalho, horizontalização, instabilidade, e um trabalho leve em decorrência do
fator tecnológico e da diminuição do tempo de trabalho. Destaca o prazer fora do trabalho
como principal valor obtido por meio do lazer ou pelo consumo.
Através de sua pesquisa, por meio da utilização da técnica de análise de conteúdo com
dois periódicos de circulação nacional, Revista Exame e Folha de São Paulo, em que a seleção
dos artigos buscava os quais tiveram o trabalho como tema principal, Borges (1999) ressalta
que ambos os periódicos enfatizam a alta centralidade conferida ao trabalho gerencial,
revelando um elitismo, e apresentam divergência quanto às concepções emergentes do
trabalho, as concepções de centralidade expressiva e externa. Portanto, evidencia-se que
ambos os periódicos ainda destacam a fortaleza da concepção gerencialista do trabalho.
Como o mundo do trabalho vem sofrendo transformações, surgem diversas visões com
respeito ao papel do trabalho na sociedade atual, como no quadro a seguir:
Autor
Gorz
Offe
Quadro 1 – O Debate sobre a Centralidade do Trabalho
Centralidade do Trabalho
Defende a baixa centralidade do trabalho ao enfatizar uma sociedade de tempo livre na qual os
indivíduos possam desenvolver suas habilidades culturais e cognitivas Em sua perspectiva, os
indivíduos não podem mais encontrar um trabalho significativo em decorrência da revolução
microeletrônica sendo que esta ocasiona a diminuição do trabalho social assim como o aumento do
desemprego de natureza tecnológica.
Ressalta o declínio da ética do trabalho, já que não oferece mais aos indivíduos uma continuidade
biográfica. Assim, as pessoas não enfatizam sua autorrealização apenas nele. Isso se relaciona com
o crescimento do setor de serviços, o desemprego, o emprego parcial, a crise do estado do bemestar-social e a fragmentação da sociedade salarial.
Defende a concepção de que o trabalho abstrato, aquele que produz valor de troca, está em crise.
Sua ideia relaciona-se com o desenvolvimento tecnológico do Ocidente a partir dos anos de 1970.
Assim, ocorre uma elevação de produtividade sem precisar de força de trabalho barata. O fator
Kurz
predominante é o investimento em capital intensivo. Pela elevação da racionalidade técnica, o
capital perde sua capacidade de explorar o trabalho surgindo uma massa de sujeitos-dinheiro sem
dinheiro.
Enfatiza a linguagem como fundamento explicativo, além do trabalho, para a formação das
relações sociais e como forma de emancipação do homem. Estabelece uma distinção entre trabalho
– relacionado à esfera das necessidades e à razão instrumental – e interação – relacionada à esfera
Habermas do agir comunicativo e da liberdade (mundo da vida). Na esfera do agir comunicativo, ocorre a
possibilidade de integração social e de trabalho social, o que proporciona à linguagem papel
predominante. Assim, ressalta que no agir comunicativo, pode-se descolonizar o mundo da vida
proporcionando a liberdade, antes relacionada ao trabalho.
Ressalta a alta centralidade do trabalho ao possuir um caráter mediador entre o homem (sociedade)
e a natureza. Assim, sem que as necessidades básicas sejam satisfeitas pelo trabalho, nenhuma
outra poderá ser satisfeita. O trabalho possui essa alta centralidade ao responder às necessidades
Lukács humanas pelo agir humano sendo por meio de uma prévia ideação visando à transformação do real.
Além disso, enfatiza que por meio do trabalho, pode-se alcançar a liberdade humana, visto que as
exigências originárias do trabalho, ao se transferirem das relações homem (sociedade) e natureza
para as transformações entre os homens (pela intersubjetividade).
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Antunes
Afirma que mesmo o capitalismo tendo passado por diversas transformações, o trabalho é uma
categoria caracterizada pela complexidade e pela sua alta centralidade. Com tamanhas mudanças
como a informalidade, o trabalho feminino, a precarização etc. A classe que vive do trabalho é
caracterizada pela heterogeneização, complexificação e fragmentação. Defende a tese de que a
sociedade se emancipará com relação ao trabalho quando o trabalho concreto1 não for mais
subordinado ao trabalho abstrato2 (estranhado).
Fonte: elaborado pelo autor a partir de Organista (2006)
Considerar-se-á, para este estudo, a concepção gerencialista do trabalho, visto que esta
ainda é refletida na sociedade de acordo com a pesquisa de Borges (1999), citada acima. Esta
concepção demonstra o trabalho de modo rotineiro, fragmentado, mecanizado, monótono e de
conteúdo não significativo. Contudo, esses pontos negativos podem ser contrabalanceados ao
enfatizá-lo como meio de contato com o outro, ao oferecer salários e proteção ao individuo
como assistência, benefícios, estabilidade no emprego.
3. O Trabalho nas Organizações
O tema do trabalho nas organizações é extremamente vasto, assim para compreender
este fenômeno é relevante considerar o início dos estudos da administração. Logo é necessário
revisitar o taylorismo e seus impactos na organização do trabalho, visto que este é um marco
nos estudos da administração e admite-se o impacto da organização do trabalho na concepção
do sentido que os indivíduos atribuem ao trabalho (MORIN, 2001).
Braverman (1981) ressalta que, no início do capitalismo industrial, os trabalhadores se
encontravam organizados em pequenas oficinas e eram os responsáveis pelos processos de
produção, visto que possuíam o conhecimento e a habilidade para tal. As primeiras fases do
capitalismo foram caracterizadas pela visão do trabalho como simples mercadoria que tem sua
base no capitalismo mercantil. O capitalista não se atentava por uma diferença extremamente
relevante entre a força de trabalho e o trabalho que pode ser obtido desta. Assim, ainda
ocorria o trabalho domiciliar em que o capitalista (gerente) distribuía os materiais aos
trabalhadores e estes produziam em casa.
Destarte, foram também sendo criadas empresas e logo novas indústrias afetadas pela
transformação de novos processos produtivos. Desse modo, o ponto essencial para o
desenvolvimento da gerência foi a reunião dos trabalhadores em um mesmo teto o que
possibilitaria melhor controle, inclusive o controle do tempo, essencial para ampliação do
excedente neste período. Neste esteio, estava-se no caminho para o desenvolvimento de uma
teoria e prática da gerência (BRAVERMAN, 1981).
Taylor (1970), um dos precursores em tratar a administração como ciência, criticava
fortemente a administração empírica, na qual aos trabalhadores estava delegada a
responsabilidade de escolher o melhor modus operandi ao executar o seu trabalho. Entretanto,
os seus meios não eram capazes de incentivar os trabalhadores os quais eram considerados
indolentes, adeptos da vadiagem no trabalho, pois se dedicavam a arquitetar diversos planos
para diminuir a produtividade. Ademais, os trabalhadores não teriam o conhecimento ou a
inteligência para determinar o melhor processo de trabalho. O objetivo de Taylor era a
racionalização do trabalho, sistema que seria capaz de tornar a jornada do trabalhador um
“ótimo dia de trabalho”.
1 Na perspectiva Marxista, o trabalho concreto é aquele socialmente útil, relacionado à produção de bens e
serviços úteis à sociedade e ainda aquele que promove o intercâmbio entre o homem e a natureza. Relacionase com a dimensão qualitativa do trabalho.
2 Na perspectiva Marxista, o trabalho abstrato é aquele relacionado com o valor de troca, considerado
alienante. É todo o trabalho que não é útil ou concreto. Relaciona-se com a dimensão quantitativa do
trabalho.
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São elementos enfáticos na administração científica o reducionismo do trabalho ao
nível da tarefa e como meio de elevação dos salários (função econômica). Para Taylor (1970),
esses seriam os elementos de cúpula do seu sistema. A tarefa é um elemento tão relevante no
sistema de administração científica que esse sistema também era conhecido como
administração das tarefas. Portanto, a tarefa é vista como uma medida precisa que funciona
tão eficientemente que o trabalhador pode medir seu desempenho por meio dela, e esse
feedback é fonte de satisfação:
A ideia de tarefa é, quiça, o mais importante elemento na administração científica. O
trabalho de cada operário é completamente planejado pela direção, pelo menos, com um dia
de antecedência e cada homem recebe, na maioria dos casos, instruções escritas completas
que minudenciam a tarefa de que é encarregado e também os meios para realizá-la.
(TAYLOR, 1970, p. 51)
Nesse contexo, Morgan (1996) salienta que, em decorrência da Revolução Industrial,
as organizações começam a ser vistas como máquinas ou burocracias e o pensamento
mecanicista baseou conceitos fundamentais do pensamento organizacional. É a metáfora da
máquina aplicada às organizações, nesse aspecto, pensa-se a organização caracterizada como
um conjunto de relações ordenadas em partes objetivamente definidas que possuem uma
sequencia ou ordem definida. Evidencia-se uma forte tendência de burocratização e
rotinização da vida em geral, as pessoas frequentemente tratam a si mesmas como se fossem
máquinas. Desse modo, as organizações são “planejadas à imagem das máquinas, sendo
esperado que os seus empregados se comportem essencialmente como se fossem partes de
máquinas” (MORGAN, 1996, p. 22).
Em análise, Aktouf (1996) ressalta que, nessa perspectiva da administração clássica
que abrange tanto o Taylorismo como a Escola das Relações Humanas, as pessoas são
tratadas como ferramentas, “recursos” ou “objetos”, pois perderam seus status de “sujeito”.
Desse modo, são tratadas como pessoas “coisificadas”, alienadas, para melhor se adequar à
organização de um trabalho que se tornou um “trabalho morto”. Essa constatação também se
relaciona ao fato de que o pensamento administrativo foi calcado pela busca do maximalismo,
ou seja, pela busca de ser o mais rico, o mais rentável, visto que havia a convicção de que este
era o melhor modo para se atingir o progresso e a prosperidade.
Como contraponto dessa administração clássica e da primazia da visão de curto prazo
no mundo dos negócios, Aktouf (1996) propõe uma nova administração qualificada como
renovada. Esta administração renovada busca uma verdadeira revolução oposta às revoluções
que o autor tem experienciado no mundo empresarial, viso que estas buscam a manutenção do
status quo no qual continua a repartição tradicional de poder e riqueza. Para mudar
radicalmente, deve-se focar o longo prazo. Assim, o acionista se satisfará em ganhos que
decorrem da satisfação prévia do empregado e do cliente, sendo relevante satisfazer o cliente
e o empregado primeiro numa perspectiva de longo prazo. A busca de uma satisfação
recíproca contínua na relação empregador-empregado e vendedor-cliente, o objetivo é a
inversão de uma relação de força por outra de sentimento e de confiança. Visa à valorização
de aspectos humanos e intangíveis da organização, do capital humano, como fonte de sucesso.
Desta maneira, busca-se um trabalho em que as pessoas não se sintam frustradas e que
estejam serenas para que surja um desejo de fazer sempre bem e fazer bem juntos.
O trabalho nas organizações sofreu diversas transformações, há vários movimentos
que buscam organizá-lo sob enfoques diferentes. Contudo, pode-se notar que princípios
tayloristas ainda estão presentes em diversos tipos de organização. Desse modo, ressalta-se o
contraste entre a visão da administração na perspectiva clássica e na perspectiva renovada de
Aktouf (1996). A visão do taylorismo exalta o controle e demonstra o trabalho reduzido
principalmente ao nível da tarefa e como meio econômico. Já a administração renovada busca
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mudanças de pensamento ao exaltar os aspectos humanos do trabalho bem como mudanças de
longo prazo que beneficiem tanto as organizações quanto o trabalho dos empregados.
Na seção seguinte, pretende-se discutir o significado do trabalho apresentando sua
importância e uma perspectiva crítica com relação ao tema. Abordar-se-á as visões sobre os
conceitos de significado e sentido, ressalta-se que, neste estudo, são considerados sinônimos.
E finalmente, apresentar as pesquisas e os modelos que visam compreender o significado do
trabalho.
4. O Significado e os Sentidos do Trabalho
Ao longo da história, o trabalho vem sendo alvo de diversas transformações que
implicam mudanças tanto no nível individual, organizacional quanto no nível social que
afetam o significado do trabalho, bem como seus impactos para a sociedade. Nesta direção,
Sachuk e Araújo (2007) ressaltam que as mudanças no mundo do trabalho alteram as relações
de trabalho bem como as relações socioculturais-econômicas. Além disso, alteram-se os
sentidos conferidos ao trabalho, bem como, impõem-se aos indivíduos novas percepções,
novos modos de agir, pensar e sentir o que fazem. Em face disso:
Acredita-se que discutir os sentidos do trabalho presentes nas organizações contemporâneas
e suas implicações na constituição do homem enquanto sujeito parece ser uma oportunidade
não apenas de se evidenciar os aspectos de empobrecimento e ausência de significados que
o trabalho tem gerado na atualidade, mas também, e sobretudo, de repensar a importância
do trabalho na constituição do homem e o papel das organizações na humanização do
trabalho (SACHUK E ARAÚJO, 2007, p. 65)
Etimologicamente as palavras sentido e significado podem ser consideradas sinônimas
e possuem sua origem na palavra sensus relacionada com processos psicológicos básicos. No
meio acadêmico, os conceitos relacionados aos trabalhos sobre significado e sentidos do
trabalho também são comumente tratados como sinônimos. O grupo MOW3, tido como
referência nos estudos sobre o significado do trabalho, trata os dois conceitos como sinônimos
em seu modelo. Assim, na visão do grupo MOW, o significado do trabalho é visto como a
representação social que a tarefa realizada tem para o indivíduo, no nível individual (pela
identificação do trabalho com o resultado da tarefa), no nível do grupo (pelo sentimento de
pertencer a uma classe unida que realiza um trabalho em comum) ou no nível social (pelo
sentimento de realizar um trabalho que contribua à sociedade). Ainda na visão do grupo, o
sentido do trabalho é definido por meio das dimensões de utilidade da tarefa, de
autorrealização, de satisfação, pelo sentimento de desenvolvimento, pela evolução pessoal e
profissional e assim como pela liberdade e autonomia ao realizar a tarefa (1987, apud TOLFO
E PICCININI, 2007).
Tolfo e Piccinini (2007), baseando-se principalmente nos trabalhos de Hackman e
Oldham4 (1975) e de Morin (2001), dizem que surge uma distinção entre os conceitos de
significados e de sentidos do trabalho. Os significados estariam relacionados a uma
perspectiva coletiva ou social e os sentidos a uma perspectiva mais individual ou pessoal.
Porém, é importante enfatizar que há uma inequívoca interdependência entre os termos.
Assim, destacam:
Os significados são construídos coletivamente em um determinado contexto histórico,
econômico e social concreto, ao passo que os sentidos são caracterizados por ser uma
produção pessoal em função da apreensão individual dos significados coletivos, nas
experiências do cotidiano. Sendo que essas transformações que os sentidos e significados
3 Meaning of Working International Research Team. The Meaning of Working. London: Academic Press, 1987.
4 HACKMAN, J.; OLDHAM, G. Development of job diagnostic survey. Journal of Applied Psychology. 60(2),
159-170, 1975.
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sofrem, são construídos por meio de uma relação dialética com a realidade (TOLFO E
PICCININI, 2007, p. 44).
Ao ressaltar a perspectiva da organização do trabalho e dos sentidos do trabalho, é
relevante a contribuição de Hackman e Oldham5 (1976 apud Morin, 2001) que ressaltam que
um trabalho com sentido é aquele considerado importante, útil e legítimo pelo indivíduo.
Propõe em seu modelo que três características contribuem para dar sentido ao trabalho: a
variedade das tarefas, ou seja, um trabalho que exija uma variedade de atividades
necessitando de uma variedade de competências; a identidade do trabalho que se relaciona
com a capacidade de um trabalho permitir a realização de algo do começo ao fim com um
resultado tangível, que não seja alienante; e o significado do trabalho que está relacionado
com um trabalho que tenha um impacto significativo sobre o bem estar de outras pessoas.
Além destas três características, ressaltam a importância de um trabalho que ofereça
autonomia, ou seja, uma boa margem de liberdade, de independência e discrição para o
indivíduo decidir como realizá-lo, o que também confere ao indivíduo um senso de
responsabilidade com relação à realização das tarefas e o alcance dos objetivos fixados. E
finalmente, enfatizam a importância do feedback, ou seja, a informação que o indivíduo tem a
respeito de seu desempenho, podendo realizar os ajustes necessárias visando à melhoria de
seu desempenho.
A partir do modelo, os mesmos autores elaboram os seguintes princípios relacionados
à organização do trabalho: a reunião das tarefas, formação da unidade natural de trabalho
(equipes de trabalho semiautônomas), estabelecimento de relação cliente-fornecedor,
enriquecimento das tarefas e a utilização de mecanismos de feedback.
Na perspectiva de Morin (2008), pode-se definir os sentidos do trabalho de três
modos: pelo significado, pela orientação e pela coerência. O significado do trabalho se
relaciona com a representação ou definição que o indivíduo possui de sua atividade e com os
valores que ele atribui ao trabalho. A orientação está relacionada com o que o indivíduo busca
no trabalho e com o que guia suas ações. E a coerência se relaciona com o equilíbrio entre o
individuo e o trabalho por meio de suas expectativas, gestos e valores.
Ainda Morin (2001) ressalta a importância da organização das atividades do trabalho
ao enfatizar meios para que se possa revalorizar o trabalho e lhe dar sentido. Em sua pesquisa
sobre os sentidos do trabalho, baseou-se no questionário desenvolvido pelo grupo MOW
(1987) e realizou entrevistas com estudantes de administração do Canadá e administradores
de nível médio e superior da França e do Quebec.
Os resultados da pesquisa de Morin (2001) enfatizam as características de um trabalho
que possui sentido. Tantos os estudantes como os administradores revelam uma concepção
positiva com respeito ao trabalho. Para os estudantes de Administração, os motivos que se
relacionam com um trabalho com sentido são: realizar-se e atualizar seu potencial; adquirir
segurança, autonomia e independência; relacionar-se com o outro, ter contatos interessantes e
o sentimento de vinculação; prestar um serviço ao outro e contribuir para a sociedade; e para
ter um sentido na vida, o que está relacionado com o fato de terem uma ocupação ou algo a
fazer. Já para os administradores de nível médio e superior, um trabalho com sentido é feito
de maneira eficiente e leva a alguma coisa, visto que é relevante que a organização das tarefas
favoreça a eficiência e que os resultados e os objetivos visados sejam claros e significativos
para as pessoas. O trabalho com sentido é intrinsecamente satisfatório, pois o trabalho oferece
a oportunidade das pessoas desenvolverem seus talentos, demonstrarem sua criatividade,
aprenderem, resolverem problemas e exercerem autonomia. É importante que seja
5 HACKMAN, J.R.; OLDHAM, G. R. Motivation through the Design of Work: test of a theory.
Organizational Behavior and Human Perfomance. v. 16, p 250-279, 1976.
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moralmente aceitável, o trabalho deve exaltar valores compartilhados pelos indivíduos e ser
realizado de maneira socialmente responsável (MORIN, 2001).
Um trabalho com sentido também favorece experiências de relações humanas
satisfatórias, ao estabelecer contato entre as pessoas, contribuindo para a formação de suas
identidades. Além disso, ao ser fonte de contatos, o trabalho permite que as pessoas encarem
melhor a solidão e encontrem lugar na comunidade. O trabalho com sentido possibilita a
segurança e a autonomia sendo que o salário é associado principalmente a elementos de
segurança e de independência em detrimento do aspecto de prestígio. E finalmente, um
trabalho com sentido é aquele que mantém as pessoas ocupadas, funciona como uma ótima
forma de organizar o tempo e uma estrutura de defesa contra a ansiedade da morte e do vazio
(MORIN, 2001). Em decorrência de sua pesquisa, Morin (2001) apresenta os princípios para
se organizar o trabalho visando que os indivíduos lhe atribuam sentido, conforme quadro dois.
Quadro 2 - Sentido do trabalho e princípios da organização
Um trabalho que tem s entido é
Características do trabalho
Princípios da organização
um que
Clareza e importância dos objetivos.
Finalidade
É realizado de forma eficiente e
Utilidade e valor dos resultados.
leva a um resultado
Eficiência
Racionalidade das tarefas .
Aprendizagem e desenvolvimento Correspondência entre as exigênicas do
de competênicas
trabalho e as competênicas da pes soa.
Atualização e realização
Des afios e ideais.
É intrinsecamente satisfatório
Margem de manobra sobre a administração
Criatividade e autonomia
das atividades e a resolução de probelmas
Responsabilidade
Feedback sobre o desempenho
Retidão das práticas sociais e
Regras do dever e do saber viver em
organizacionais
s ociedade
É moralmente aceitável
Contribuição social
Valores morais , éticos e espirituais
É fonte de experiências de
relações humanas satisfatórias
Afiliação e vinculação
Trabalho em equipe
Serviços aos outros
Relações do tipo cliente-fornecedor
Garante a s egurnaça e a
autonomia
Independência Financeira
Salário apropriado e jus to
Saúde e segurança
Boas condições de trabalho
Fonte: Morin (2001, p.18)
Já na perspectiva do significado do trabalho, deve-se partir com base um uma
perspectiva multifacetada e que considere seu caráter dinâmico. Assim:
Aborda-se significado do trabalho como uma cognição subjetiva e social. Varia
individualmente, à medida que deriva do processo de atribuir significados e,
simultaneamente, apresenta aspectos socialmente compartilhados, associados às condições
históricas da sociedade. É, portanto, constructo sempre inacabado (BORGES E TAMAYO,
2000, p. 1).
Há modelos que buscam compreender o significado do trabalho. Pode-se citar a
pesquisa pioneira desenvolvida pelo grupo MOW – Meaning of Working International
Reserach Team em 1986. Esta pesquisa foi realizada em oito países: Bélgica, Inglaterra,
Alemanha, Iugoslávia, Israel, Japão, Holanda e Estados Unidos. Teve uma amostra de
aproximadamente 15.000 indivíduos, entrevistando estudantes, empregados parciais,
autônomos, aposentados, desempregados e representantes de várias profissões (engenheiros,
químicos, professores, operários, comerciantes, empregados de colarinho branco e
trabalhadores de indústrias têxteis) (1987, apud SILVA E ANDRADE, 2001).
Pesquisando a definição empírica de trabalho, o grupo MOW (1987, apud SILVA E
ANDRADE, 2001) encontrou a seguinte definição de trabalho: 35% dos entrevistados
definiram o trabalho em virtude de seus aspectos concretos (resultados econômicos e pelo
local de desenvolvimento); de 17 a 22% pelos aspectos sociais (fins sociais e interpessoais);
de 25 a 30% como um dever e cerca de 20% pela geração de estresse físico e mental.
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De modo mais específico, England e Whiteley6 (apud Morin, 2001), cabe ressaltar que
esses dois autores são integrantes do grupo MOW, revelam seis padrões de definição do
trabalho: padrão A, o trabalho acrescenta valor a qualquer coisa, deve-se prestar conta dele,
faz parte de suas tarefas e recebe-se dinheiro para realizá-lo, abrangeu 10,6% da amostra;
padrão B, há o sentimento de vinculação, recebe-se dinheiro para realizá-lo, faz-se para
contribuir para a sociedade e faz parte de suas tarefas, contemplou 27,6% da amostra; padrão
C, outros se beneficiam de seu trabalho, recebe-se dinheiro para realizá-lo, faz-se para
contribuir para a sociedade, acrescenta valor a qualquer coisa e é fisicamente exigente,
destacado por 17,6% da amostra; padrão D, recebe-se dinheiro para realizá-lo, faz parte de
suas tarefas, é realizado em um local de trabalho, você deve fazê-lo, alguém lhe diz o que
fazer e não é agradável, ressaltado por 21,7% da amostra; padrão E, é mentalmente exigente, é
fisicamente exigente, recebe-se dinheiro para realizá-lo, faz pare de suas tarefas e não está lhe
agradando, abrangeu 10,6% da amostra; e padrão F, possui um horário estabelecido, é
realizado em um local de trabalho, recebe-se dinheiro para realizá-lo e faz parte de suas
tarefas, destacado por 11,8% da amostra.
Pode-se notar que os padrões A, B e C possuem uma concepção positiva do trabalho
valorizando, respectivamente, a geração de valor, um vínculo entre indivíduo e seu trabalho e
o caráter social do trabalho. Já os padrões D e E possuem uma concepção negativa do
trabalho, o trabalho é visto como uma obrigação, um meio para se ganhar a vida, é
considerado desgastante e desagradável. Já o padrão F enfatiza uma concepção neutra do
trabalho, visto que ele é realizado em determinado local, possui um período determinado e se
recebe dinheiro para fazê-lo. Além disso, essas concepções de trabalho ressaltam as
características que fazem o trabalho ter sentido ou ser significativo para o indivíduo (MORIN,
2001).
O modelo do grupo MOW, para compreender o significado do trabalho, considera as
seguintes dimensões: a centralidade do trabalho, normas societais e resultados e objetivos
valorizados no trabalho (1987, apud SILVA E ANDRADE, 2001). A princípio, havia mais
outra dimensão, a identificação das regras do trabalho, porém esta foi excluída do modelo
devido a sua pouca consistência estatística (MOW, 1987 apud TOLFO e PICCININI, 2007).
A medida da centralidade do trabalho busca verificar a importância do trabalho para os
indivíduos em determinado momento de suas vidas, está relacionada com suas crenças
pessoais, e também busca comparar a importância do trabalho com outras áreas da vida
humana como família, lazer, religião e comunidade (MOW, 1987 apud SILVA E ANDRADE,
2001; BASTOS, PINHO E COSTA, 1995).
As variáveis “resultados e objetivos valorizados do trabalho” buscam compreender o
porquê do indivíduo trabalhar, também inclui o componente motivacional e de satisfação.
(MOW, 1987 apud BASTOS, PINHO E COSTA, 1995). A variável “objetivos valorizados do
trabalho” relaciona-se com os aspectos considerados relevantes pelos funcionários que são
divididos em intrínsecos (relacionados ao conteúdo da tarefa) e extrínsecos (não relacionados
ao conteúdo da tarefa). Já a variável “resultados esperados do trabalho” diz respeito às
funções atribuídas ao trabalho, como a função de realização, a função econômica etc. (MOW,
1987 apud SILVA E ANDRADE, 2001). Por meio dessas variáveis, pode-se enfatizar
aspectos que tornam o trabalho mais atraente para os indivíduos.
A pesquisa do grupo MOW (1987, apud SILVA E ANDRADE, 2001) revelou quatro
padrões de significado do trabalho. O padrão instrumental no qual são enfatizados os aspectos
econômicos do trabalho em detrimento dos aspectos intrínsecos. O padrão expressivo e de
centralidade, neste é exaltada a autoexpressão por meio do trabalho, que é uma esfera central
6 ENGLAND, G. W.; WHITELEY, W. T. Cross-national meanings of working. In: BRIEF, A. P., NORD W. R.
Meanings of occupational work. Toronto: Lexington Books, 1990.
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na vida das pessoas, e o salário não é considerado um resultado importante. O padrão de
significado com orientação para direito e contato, as pessoas consideram o trabalho uma
norma de direito e atribuem alto valor à dimensão de contato social. E no padrão de
significado com baixo direito, encontra-se pessoas que apresentam orientação extremamente
baixa para as normas de direito com uma orientação média para obrigação. Como resultado
principal, tem-se que, de modo geral, o principal padrão encontrado foi o instrumental, em
cerca de 30% da amostra. Ressalta-se como resultado um padrão complexo de significado do
trabalho que é influenciado por características individuais, características e qualidade das
experiências, ocupação e outros antecedentes.
Além disso, a equipe conseguiu identificar diferenças entre categorias profissionais e
entre nações, ressaltando o trabalho como uma esfera central para a maioria da amostra.
Enfatizou que pessoas mais velhas valorizam mais o trabalho, que o significado do trabalho
pode ser influenciado por fatores como educação e socialização, podendo, no decorrer da
vida, esses valores serem modificados pelas experiências de trabalho das pessoas. Ressaltou
que o significado atribuído ao trabalho está relacionado com a institucionalização do trabalho
e por sua relação com outros papéis da vida do indivíduo. Assim, as pessoas também atribuem
significado ao trabalho visando mudar organizações e estruturas sociais e não somente em
decorrência das experiências e condições de trabalho. Logo, os padrões de significado do
trabalho podem afetar as organizações e a sociedade em áreas como conflito e produtividade
(MOW, 1987 apud SILVA E ANDRADE, 2001).
Bastos, Pinho e Costa (1995) pesquisaram o significado do trabalho baseados na
pesquisa do grupo MOW (1987) com 1.013 participantes de vinte organizações (quatro
empresas públicas prestadoras de serviços de infraestrutura e financeiras, sete órgãos de
administração pública direta e nove empresas privadas) na região metropolitana de Salvador
na Bahia.
Com relação à centralidade do trabalho sendo vista comparativamente a outras esferas
da vida, o resultado mostrou a primazia da esfera da família para os indivíduos, em seguida as
esferas do trabalho, do lazer, da religião e da comunidade. Ainda, calcularam um escore que
agregou o peso atribuído às esferas da vida e o item isolado em que o respondente dizia sobre
a centralidade do trabalho em sua vida. Tal escore poderia variar de 2 pontos (baixa
centralidade) a 10 pontos (alta centralidade). Os trabalhadores baianos revelaram um escore
médio de 6,39 (BASTOS, PINHO E COSTA, 1995). É relevante ressaltar que o valor médio
desse escore encontrado pelo grupo MOW (1987, apud BASTOS, PINHO E COSTA, 1995)
foi de sete.
É importante destacar que a pesquisa revelou graus de centralidade com relevantes
diferenças em virtude dos segmentos da amostra. Há escores mais elevados entre os homens
do que entre mulheres. Trabalhadores de ocupações industriais, aqueles que estão em um
estágio mais avançado de suas carreiras, os que possuem segundo grau ou trabalham em
empresas públicas apresentam escores mais elevados. Contrariamente, aqueles que estão na
administração pública ou no estágio inicial de suas carreiras possuem escores mais baixos de
centralidade do trabalho (BASTOS, PINHO E COSTA, 1995).
Bastos, Pinho e Costa (1995), analisando os produtos valorizados do trabalho,
encontraram um maior destaque para os fatores de autorrealização (escore de 20,56) e de
ganhos necessários (escore de 19,46). O produto de status e prestígio foi o menos valorizado
entre os entrevistados baianos, apresentou o escore de 8,88. Os produtos que relacionam o
trabalho como uma forma de manter o indivíduo ocupado, de permitir contatos interessantes,
de servir à sociedade, de ser interessante em si mesmo, apresentaram escores médios que
variavam de 11,7 a 13,35.
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Andrade e Silva (2001) enfatizam, ao analisar as tendências e os caminhos das
pesquisas sobre o significado do trabalho, que o modelo MOW é tido como referência em
pesquisas posteriores ao utilizar suas variáveis e suas medidas. Sendo importante destacar que
as dimensões da centralidade e resultados esperados do trabalho se mantiveram como tradição
de pesquisa.
É relevante destacar que se considerará para este estudo a perspectiva do modelo do
grupo MOW que trata significado e sentido como sinônimos conforme foi enfatizado por
Tolfo e Piccinini (2007) anteriormente. Sendo relevante destacar a interdependência entre as
duas dimensões.
5. Metodologia
A partir do objetivo deste estudo, identificar e analisar o significado do trabalho para
os funcionários do departamento contábil-financeiro de uma IES pública, localizada no
interior de Minas Gerais, embasado no modelo do grupo MOW, trata-se de um estudo de caso,
composto por uma pesquisa caracterizada como descritiva com a utilização de questionário.
Quanto às pesquisas descritivas, Gil (2007, p.44) ressalta que:
as pesquisas deste tipo têm como objetivo primordial a descrição das características de
determinado grupo ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. São
inúmeros os estudos que podem ser classificados sob este título e uma de suas
características mais significantes está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de
dados.
Trata-se de um estudo de caso, pois se busca conhecer o significado do trabalho na
visão dos funcionários de certo setor. Yin (2005) diz que o estudo de caso é útil ao buscar
responder questões do tipo “como” e “por que”, quando o pesquisador tem pouco controle
sobre determinado evento e quanto enfoca um fenômeno contemporâneo da vida real. Gil
(2007) salienta que o estudo de caso vem sendo cada vez mais utilizado pelos pesquisadores
sociais. Assim, pode ser utilizado para pesquisas com diversos fins, como: explorar situações
da vida real cujos limites não estão claramente definidos; descrever a situação de contexto em
que está sendo feita determinada investigação; e explicar as variáveis causais de determinado
fenômeno em situações muito complexas que não possibilitam a utilização de levantamentos.
Quanto ao questionário, utilizou-se o questionário original do grupo MOW traduzido
para o português pelo autor. Nesse sentido, já se considerou o questionário validado, visto que
o questionário no estudo original do grupo MOW foi aplicado em oito países. Além disso,
vários estudos se basearam no trabalho do grupo MOW, como o de Morin (2001) no Quebec e
na França e o de Bastos, Pinho e Costa (1995) na região metropolitana de Salvador no Brasil.
Nesse sentido, Gil (2007, p. 128) define o questionário como “a técnica de investigação
composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às
pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses,
expectativas, situações vivenciadas etc.”.
Com relação aos respondentes, 16 funcionários responderam ao questionário, em
maioria, no setor. Sobre o perfil dos participantes: a maioria dos indivíduos está na faixa
etária de 45 a 60 anos, abrangendo 62,5% dos pesquisados e outra faixa de destaque é dos 35
aos 39 anos que contempla 31,25%. Com relação ao nível de escolaridade, os indivíduos
pesquisados, em sua maioria, possuem curso superior completo ou pós-graduação (81,25%) e
o restante possui o nível superior incompleto. A maioria pertence ao gênero feminino,
representando 68,75% dos funcionários.
É relevante enfatizar que o questionário traz um número grande de questões, sendo
considerado referência para abordar o tema. Ainda quanto ao questionário, cabe ressaltar que
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é composto, em sua maioria, por questões fechadas. Utiliza vários tipos de escala como a
escala de Likert, questões que utilizam distribuição de pontos, questões de classificação de
importância etc.
6 Estudo de Caso
Este estudo está subdividido nas seguintes seções: a visão do trabalho, a centralidade
ou importância do trabalho, e produtos e objetivos valorizados no trabalho.
6.1 A visão de trabalho
Na tabela 01 está a visão de cada indivíduo sobre quando considera que uma atividade
é trabalho. É importante destacar que 69% possui uma concepção positiva do trabalho, 25%
uma concepção entre neutra e positiva e 6% (ou um indivíduo) uma concepção neutra do
trabalho. Com relação ao padrão MOW, encontrou-se várias combinações que se aproximam
de diferentes padrões, sendo relevante destacar que 25% se aproximam dos padrões A e B,
25% dos padrões B e C e 19% dos padrões B e F.
Tabela 2
Tabela 01
Padrão
Concepção
MO W
Se você faz isso
Se, fazendo isso,
Se você tem
Próximo aos
Se outros se
p ara cont ribuir com você se sente
obrigação de fazer
p adrões B e Positiva
beneficiam disso
a sociedade
integrado
isso
C
Se você faz isso
Se, fazendo isso,
Se você recebe Próximo aos
Se agrega valor a
p ara cont ribuir com você se sente
dinheiro p ara fazer p adrões A e Positiva
algo
a sociedade
integrado
isso
B
Se você faz isso
Se, fazendo isso,
Próximo aos
Se p ertence a sua
Se agrega valor a
p ara contribuir com você se sente
p adrões A e Positiva
tarefa
algo
a sociedade
integrado
B
Se, fazendo isso,
Se você recebe
se você tem
Próximo aos
Se você tem que
você se sente
dinheiro p or fazer
obrigação de fazer p adrões B e Positiva
p restar contas disso
integrado
isso
isso
D
Se você faz isso
Se você recebe
Se agrega valor a
Se outros se
p ara cont ribuir com
dinheiro p ara fazer
Padrão C
Positiva
algo
beneficiam disso
a sociedade
isso
Se você faz isso
Se você tem
Próximo aos
Se agrega valor a
Se outros se
Entre neutra
durante um p eríodo
obrigação de fazer
p adrões C e
algo
beneficiam disso
e p ositiva
determinado
isso
F
Se, fazendo isso, Se você faz isso
Se você recebe Próximo aos
Se você realiza num
Entre neutra
você se sente
durante um p eríodo dinheiro p ara fazer p adrões B e
local de trabalho
e p ositiva
integrado
determinado
isso
F
Se, fazendo isso,
Se você recebe
Próximo aos
Se agrega valor a
Se você t em que
você se sente
dinheiro p ara fazer
p adrões A e Positiva
algo
p restar contas disso
integrado
isso
B
Se você faz isso
Se, fazendo isso,
Se você recebe Próximo aos
Se agrega valor a
p ara cont ribuir com você se sente
dinheiro p ara fazer p adrões A e Positiva
algo
a sociedade
integrado
isso
B
Se você faz isso
Se, fazendo isso,
Se você recebe Próximo aos
Se agrega valor a
p ara cont ribuir com você se sente
dinheiro p ara fazer p adrões B e Positiva
algo
a sociedade
integrado
isso
C
Se, fazendo isso,
Se você faz isso
Próximo aos
Se agrega valor a
Se você t em que
você se sente
durante um p eríodo
p adrões B e Positiva
algo
p restar contas disso
integrado
determinado
F
Se, fazendo isso,
Próximo aos
Se você realiza num Se p ertence a sua
Se você t em que
Entre neutra
você se sente
p adrões B e
local de trabalho
tarefa
p restar contas disso
e p ositiva
integrado
F
Se você faz isso
se você tem
Próximo aos
Se você realiza num
Se você tem que
num p eríodo
obrigação de fazer p adrões A e Neutra
local de trabalho
p restar contas disso
determinado
isso
F
Se você recebe
se você tem
Próximo aos
Se p ertence a sua
Se você tem que
Entre neutra
dinheiro p or fazer
obrigação de fazer p adrões A e
tarefa
p restar contas disso
e p ositiva
isso
isso
D
Se você faz isso
Se, fazendo isso,
Próximo aos
Se agrega valor a
Se outros se
p ara cont ribuir com você se sente
p adrões B e Positiva
algo
beneficiam disso
a sociedade
integrado
C
Se você faz isso
Se, fazendo isso,
Próximo aos
Se agrega valor a
Se outros se
p ara cont ribuir com você se sente
p adrões B e Positiva
algo
beneficiam disso
a sociedade
integrado
C
Fonte: Elaborada p elo autor
Q uando o indivíduo considera uma atividade como trabalho
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
Defi nição de
Trabalho
Masculino
%
Fe minino
%
Ge ral
%
Se, faz endo isso, você
se sente integrado
3
15
9
20,45
12
18,75
Se agrega valor a algo
2
10
8
18,18
10
15,63
2
10
6
13,64
8
12,50
3
15
5
11,36
8
12,50
Se você tem que
p restar contas disso
2
10
4
9,09
6
9,38
se você tem obrigação
de fazer isso
2
10
3
6,82
5
7,81
Se p ertence a sua
t arefa
0
0
3
6,82
3
4,69
Se outros se
beneficiam disso
2
10
3
6,82
5
7,81
Se você faz isso
durante um p eríodo
determinado
2
10
2
4,55
4
6,25
Se você realiz a num
local de trabalho
2
10
1
2,27
3
4,69
Soma
20
100
44
100
64
100
Se você faz isso p ara
contribuir p ara a
sociedade
Se você recebe
dinheiro p or faz er
isso
Font e: Elaborada p elo autor
É relevante destacar quais aspectos das definições do trabalho tiveram maior
frequência, conforme tabela dois acima. De modo geral, surge um padrão que enfatiza
principalmente o trabalho como meio de vinculação ou integração do indivíduo, como
atividade que agrega valor, que lhe fornece dinheiro e permite contribuir com a sociedade.
Logo, pode-se considerar um padrão de trabalho que valorize as relações interpessoais, a
geração de valor pelo trabalho, as relações sociais e os aspectos financeiros.
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6.2 A Centralidade do trabalho
Serão abordados nesta subseção a centralidade relativa e absoluta do trabalho e a
questão da loteria.
6.2.1 A centralidade relativa
A centralidade relativa busca comparar a importância do
trabalho para o indivíduo com outras dimensões de sua
Lazer (hobbies, esp ortes, etc.)
13,00
15,45
14,69
Comunidade (organiz ações
11,00
4,09
6,25
vida. Em geral, encontrou-se maior atribuição média à
comunitárias, p olíticas, etc)
Trabalho
19,00
29,09
25,94
esfera da família seguida pelo trabalho, religião, lazer e
Religião
22,00
15,45
17,50
comunidade, como tabela três. Há relevantes diferenças
Família
35,00
35,91
35,63
Fonte: Elaborada p elo autor
entre os gêneros. Destarte, as mulheres atribuem maior
centralidade ao trabalho, enquanto os homens possuem escores maiores com relação às áreas
de religião e de comunidade do que as mulheres. Para elas, o trabalho é a segunda área mais
importante, já, para eles, é a terceira.
Tabela 3
Áre as
Masc.
Fem.
Média
6.2.2 A centralidade absoluta
Esta dimensão busca verificar a importância e significância do trabalho para o
indivíduo. Desse modo, a maioria dos indivíduos considera o trabalho como uma das
dimensões mais importante de suas vidas, visto que 81,25% lhe atribui valor seis ou sete.
Enquanto três participantes o consideram como de média importância em toda a vida, de
acordo com a tabela 04. Considerando a importância ou significância do trabalho nos últimos
5 a 10 anos, 93,75% dos indivíduos o consideram um aspecto de alta importância ou de muito
alta importância, conforme tabela 05. Tratando da significância do trabalho para os próximos
5 a 10 anos, os mesmos atribuíram menor importância ao trabalho: 12,5% o consideraram de
muito alta importância apresentando uma variação negativa de 31,25%. Assim, aumentou o
número de indivíduos que o consideram de alta importância em 18,75%, como tabela 06.
Tabela 04
Tabela 05
Importância do trabalho em
toda a vida
N
%
1
0
0,00
2
0
3
Uma das coisas menos
imp ortantes
De média imp otânica
Uma das coisas mais
imp ortantes
Soma
Importância do trabalho nos
últimos 5 a 10 anos
Tabela 06
N
%
1. de muito p ouca imp ortância
0
0,00
0,00
2. de p ouca imp ortância
0
0
0,00
3. de média imp ortância
4
2
12,50
4. de alta imp ortância
5
1
6,25
5. de muito alta imp ortância
6
4
25,00
7
9
56,25
Fonte: Elaborada p elo autor
16
100
Importância do trabalho para os
próximos 5 a 10 anos
Tabela 07
N
%
Gênero
1. de muito p ouca imp ortância
1
6,25
Feminino
M édia
6,36
0,00
2. de p ouca imp ortância
0
0,00
M asculino
6,00
1
6,25
3. de média importância
2
12,50
Geral
6,25
8
50,00
4. de alta imp ortância
11
68,75
7
43,75
5. de muito alta imp ortância
2
12,50
16
100
16
100
Fonte: Elaborada p elo autor
Fonte: Elaborada p elo autor
Fonte: Elaborada p elo autor
Essa queda de importância encontrada ao analisar dois períodos da vida do indivíduo
pode estar relacionada com o fato de muitos estarem próximos da aposentadoria, sendo o caso
de quatro deles. Portanto, podem ver uma menor importância do trabalho em sua vida futura.
Além disso, é interessante destacar que há diferenças quanto à importância do trabalho em
toda a vida com relação ao gênero, como tabela 07. Assim, considerando uma escala que varia
de 1 a 7, as mulheres atribuem maior importância ao trabalho em toda vida, apresentando peso
superior ao gênero masculino.
6.2.3 A questão da “Loteria”
Os servidores foram avaliados com a seguinte questão “imagine que você ganhou na
loteria ou recebeu uma grande herança de modo que pudesse viver durante toda a sua vida
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sem trabalhar. O que você faria com relação ao trabalho?”. Demonstrando, de certo modo,
que o trabalho não depende apenas de fatores econômicos, 87,5% responderam que
continuariam a trabalhar. Porém, 68,75% continuariam a trabalhar em condições diferentes e
12,5 % parariam de trabalhar.
6.3 Produtos e objetivos valorizados no trabalho
Estas variáveis têm por objetivo compreender a razão do trabalho, inclui o
componente motivacional e de satisfação. A variável “objetivos valorizados do trabalho”
relaciona-se com os aspectos considerados relevantes pelos sujeitos que são divididos em
intrínsecos (relacionados ao conteúdo da tarefa) e extrínsecos (não relacionados ao conteúdo
da tarefa). Já a variável “produtos ou resultados esperados do trabalho” diz respeito às funções
atribuídas ao trabalho, como a função de realização, a função econômica, etc. É interessante
que por meio dessas variáveis, pode-se enfatizar aspectos que tornam o trabalho mais atraente
e valorizado para tais indivíduos.
6.3.1 Produtos ou resultados esperados
Com relação aos produtos valorizados, é relevante o destaque atribuído ao trabalho
como fonte de renda apresentando o maior escore geral de 24,50, o que favorece uma
orientação instrumental do significado do trabalho. Cabe destacar que os indivíduos buscam
um trabalho no qual possam contribuir para a sociedade, visto o peso elevado dessa dimensão.
Ademais, objetivam um trabalho que seja interessante e que permita satisfação e
autorrealização, demonstrando um padrão de significado intrínseco do trabalho. Logo, essas
três dimensões podem ser consideradas mais relevantes ao influenciar o padrão de significado
do trabalho, evidencia-se um padrão que envolva forte orientação econômica e social, e peso
médio à orientação intrínseca, consoante
Tabela 08
tabela 08.
Produtos valorizados
M asc.
Fem.
Geral
Vale considerar os escores por gênero,
O trabalho me provê uma fonte de renda
26,00
23,82
24,50
necessária
posto que os homens atribuem o mais elevado
O trabalho é uma forma útil de servir à
17,00
27,27
24,06
sociedade
escore ao trabalho como fonte de renda,
O trabalho é intrinsecamente interessante e
17,00
16,36
16,56
enquanto as mulheres destacam forte
satisfatório
O trabalho me permite ter contatos
orientação social do trabalho. Em segundo e
16,00
12,90
14,19
interessantes com outras pessoas
terceiro lugares, eles ressaltam a busca por um
O trabalho me mantém ocupado
14,00
14,27
13,06
O trabalho me proporciona status e prestígio
10,00
8,00
8,71
trabalho interessante e que seja útil para servir
Fonte: Elaborada pelo autor
a sociedade. Já elas salientam o trabalho como
forma de renda e como fator de autorrealização. Em últimos lugares, para homens, são
apresentados os produtos do trabalho como forma de mantê-los ocupados e de proporcionar
status e prestígio. Para as mulheres, surge a busca por um trabalho que permita contatos
interessantes com outras pessoas, que as mantenha ocupadas e que proporcione status e
prestígio. Diante disso, como diferença, entre ambos, é interessante enfatizar que os homens
revelam um padrão de significado com leve maior orientação de relações interpessoais do que
as mulheres.
6.3.2 Objetivos valorizados no trabalho
Primeiramente, destacamos que o objetivo considerado mais relevante para os
participantes foi o aprendizado, apresentou escore de 13,56, conforme tabela 09, único
considerado extremamente importante de acordo com a escala do questionário do MOW que
classifica de extremamente importante a pouco importante. Em seguida, o objetivo de um
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trabalho que ofereça bom salário foi o segundo mais importante. Além disso, os indivíduos
buscam contribuir socialmente através de seu trabalho, esse objetivo também apresentou
escore elevado no valor. Também apresentaram escores elevados, acima de 12, os objetivos
de boas relações interpessoais com os supervisores, de benefícios empregatícios e de
reconhecimento. Ainda assim, foram considerados muito importantes, por ordem decrescente,
os seguintes objetivos: estabilidade, boas relações interpessoais, um trabalho que seja
interessante e boa combinação entre a qualificação necessária para seu emprego e suas
habilidades. Foram considerados importantes, os objetivos de boas condições físicas,
promoção, tempo de trabalho conveniente e posição de influência na organização. E,
finalmente, como posição razoavelmente importante, observou-se os objetivos de variedade e
autonomia.
Ademais, homens valorizam o salário como prioridade e as mulheres, o aprendizado.
Tabela 09
Em segundo lugar, para os homens está o
Objetivo Valorizado
Fem.
M asc
Geral
Aprender
13,45
13,80
13,56
relacionamento com chefes/supervisores, enquanto
Salário
12,36
14,20
12,94
Contribuir socialmente
12,45
13,75
12,80
que para as mulheres está a contribuição social. Para
Relações interpessoais com supervisores
11,91
14,00
12,56
Benefícios empregatícios
11,91
13,20
12,31
eles, além do salário e das relações com chefias, o
Reconhecimento
11,55
13,40
12,13
Estabilidade
11,18
11,80
11,38
aprendizado, a contribuição social, reconhecimento e
Contatos interpessoais
10,64
11,20
10,81
benefícios
empregatícios
são
considerados
Trabalho interessante
11,00
10,20
10,75
Combinação entre qualificação requerida e
9,36
12,20
10,25
extremamente importantes. Já para elas, salário,
suas habilidades
Condições físicas
10,09
10,60
10,25
benefícios empregatícios, relações interpessoais com
Promoção
8,27
12,60
9,63
Tempo de trabalho conveniente
8,00
11,80
9,19
supervisores, dentro outros, são considerados muitos
Posição de influência
6,00
10,80
7,50
Variedade
5,82
9,60
7,00
importantes.
Autonomia
5,09
9,00
6,31
Fonte: Elaborada pelo autor
7. Considerações Finais
Ao analisar os dados da pesquisa, foi possível tecer algumas considerações.
Primeiramente, mesmo com uma intensa discussão quanto à centralidade do trabalho e a
perda do significado e dos sentidos do trabalho, pode-se constatar que os participantes desta
pesquisa ressaltam o trabalho como uma esfera tanto relativamente quanto absolutamente
significante em suas vidas. Assim, considera-se que o trabalho possui centralidade para os
mesmos, inclusive ficando como segunda esfera mais importante em suas vidas, atrás da
família. Quanto à avaliação absoluta da centralidade do trabalho, a maioria dos indivíduos o
ressalta como uma das coisas mais importantes na vida.
Encontrou-se maior centralidade, importância e significância com o trabalho entre os
indivíduos do gênero feminino. Pode-se relacionar este resultado às mudanças sociais quanto
ao papel da mulher que vem assumindo uma postura cada vez mais ativa na sociedade. Além
disso, evidencia-se que alguns indivíduos com mais tempo de serviço atribuem menor
importância ao trabalho quanto ao futuro, visto que muitos estão próximos de sua
aposentadoria.
É relevante destacar “a questão da loteria” que revela que dos 16 indivíduos
pesquisados, apenas dois parariam de trabalhar. De certo modo, isso demonstra que o trabalho
não depende apenas de fatores econômicos, bem como afirma sua significância. Contudo, 11
indivíduos revelam que trabalhariam em condições diferentes. E assim, a organização do
trabalho pode contribuir visando melhorar as condições de trabalho, revalorizando o trabalho
de acordo com a perspectiva dos indivíduos.
Quanto à visão e definição do trabalho pelos participantes, de acordo com padrão
MOW (1987), é necessário enfatizar que a maioria revela uma concepção positiva quanto ao
trabalho. E assim, os entrevistados enfatizam o trabalho como meio de vinculação, como
atividade geradora de valor, que lhe fornece dinheiro e permite contribuir com a sociedade.
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Assim, ressalta-se um trabalho composto principalmente de orientação econômica, social e
interpessoal. Indivíduos do gênero masculino tendem a demonstrar um padrão de orientação
econômica mais forte que indivíduos do gênero feminino. Também, cabe ressaltar que os dois
indivíduos, que deixariam de trabalhar, revelam uma concepção de trabalho mais relacionada
a aspectos neutros.
Considerando que essa definição de trabalho impacta o significado que o indivíduo
atribui ao trabalho, pode-se enfatizar meios de organização do trabalho visando maior
integração do individuo com seu trabalho, conforme perspectiva de Morin (2001) e concepção
gerencialista do trabalho ressaltada por Borges (1999). Assim, ressaltando os princípios de
organização do trabalho de Morin (2001), na busca do indivíduo por vinculação no trabalho,
pode-se enfatizar o trabalho em equipe e as relações do tipo cliente-fornecedor. Na busca por
contribuição social, deve-se enfatizar os valores morais e éticos compartilhados pelos
indivíduos e ressaltados pela sociedade. Ao expressar o trabalho como atividade geradora de
valor, pode-se enfatizar a racionalidade das tarefas, a clareza e a importância dos objetivos,
sua utilidade e valor dos resultados. Quanto ao aspecto financeiro, é significativo um trabalho
que ofereça salário apropriado e justo, que garanta independência financeira.
Com relação aos produtos valorizados do trabalho, o fator econômico apresentou forte
destaque. Porém, é interessante ressaltar que o fator econômico não é suficiente por si só.
Além dele, os indivíduos buscam um trabalho interessante e satisfatório que lhes permita
autorrealização e objetivam um trabalho que lhes permita contribuir à sociedade. Cabendo
ressaltar forte destaque para dois indivíduos do gênero feminino quanto à dimensão de
contribuição social pelo trabalho.
E considerando os objetivos valorizados no trabalho, é interessante a relevância que os
participantes atribuem ao aprendizado, dimensão considerada extremamente importante.
Atribuem muita importância ao objetivo de bom salário, de contribuição social, de boas
relações interpessoais, de reconhecimento, de estabilidade e de um trabalho interessante.
Assim, também considerando a perspectiva de organização do trabalho, pode-se exaltar ações
que valorizem o aprendizado dos servidores, bem como correspondência entre as exigências
do trabalho e as habilidades da pessoa.
Sugerimos unir a esse estudo de caso outros tipos de técnicas de pesquisa, tal como a
entrevista ou o grupo focal, visando discutir os resultados com os indivíduos e como meio de
descrevê-los de modo mais enriquecido. Seria relevante uma pesquisa que relacionasse o
significado do trabalho com a saúde do indivíduo. Também, é importante considerando
especificamente a perspectiva de Morin (2001) o desenvolvimento de um questionário para
estudos brasileiros.
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