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Revisão de textos
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Capa e Editoração
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
C122
Cadernos UniFOA UniFOA : Edição Especial Ciências da
Saúde e Biológicas / Centro Universitário de Volta Redonda.
– ano VIII, (maio 2013). – Volta Redonda: FOA, 2013.
ISSN 1809-9475
1. Ciências da saúde – Periódicos. 2. Ciências biológicas –
Periódicos. I. Fundação Oswaldo Aranha. II. Título.
CDD – 050
FICHA CATALOGRÁFICA
Bibliotecária Gabriela Leite Ferreira - CRB 7/RJ - 5521
SUMÁRIO
EDITORIAL.......................................................................................................................................................................09
CIÊNCIAS DA SAÚDE E BIOLÓGICAS
Ação da giberelina no crescimento de pimenta (Capsicum frutescens).
Rafaela Cinigalha Torres e Kelly Carla Almeida de Souza Borges.................................................................................................. 11
Avaliação da População Microbiana Presente no Interior do Corpo das Torneiras de uma UTI em um Hospital no Município de Volta Redonda.
Tayane Cristine da Silva Corrêa, Hellen Avelar Duarte, Ester Albuquerque Lourenço, Gabriel José Ribeiro, Leoni Ferreira da Silva, Jessica
Rizkalla Correa Medeiros, Nathália Cristinne Pereira de Souza e Carlos Alberto Sanches Pereira...................................................... 17
Corpo e sexualidade: os processos de normalização na dança.
Aline Menezes de Oliveira, Carla de Oliveira dos Santos e Marcelo Paraíso Alves........................................................................... 23
Dermatoses prevalentes em idosos atendidos em um ambulatório de dermatologia de uma unidade básica de saúde (Policlínica UniFOA) de Volta Redonda, RJ, entre 2002 e 2010.
Luciana Aparecida Cruz de Siqueira Pegas, Sabrina Kelly Alves Honório, Valesca da Silva Gonzalez, Carolina Lorejam Crespo, Bianca
Ribeiro Barreto, Henrique José do Nascimento, Antonio Macedo D’Acri, Maria Inês Fernandes Pimentel, Sandro Javier Bedoya Pacheco.
............................................................................................................................................................................................ 39
O Médico a partir do imaginário coletivo de último anistas de Medicina.
Maria Auxiliadora Motta Barreto, Glauber Correia de Oliveira, Rosana Gonçalves Oliveira e Samara Guerra Carneiro........................ 47
O uso não prescrito de metilfenidato entre acadêmicos de Medicina.
Samara Guerra Carneiro, Airton Salviano Teixeira Prado, Hermiton Canedo Moura, João Francesco Strapasson, Natália Ferreira Rabelo,
Tiago Turci Ribeiro e Eliane Camargo de Jesus........................................................................................................................... 53
Para comer, para beber ou para remédio? Categorias de uso múltiplo em Etnobotânica.
Odara Horta Boscolo............................................................................................................................................................... 61
Pseudocisto Antral: Prevalência na cidade de Volta Redonda, Rio de Janeiro, Brasil.
Sérgio Elias Vieira Cury, Maria Dorotéa Pires Neves Cury, Brunno dos Santos de Freitas Silva, Omar Tinoco Franklin Molina, Jimmy de
Oliveira Araújo, Luiz Roberto Manhães Jr, Luciana Butini Oliveira............................................................................................. 69
Riqueza e composição de formigas de serapilheira na Reserva Florestal da Vista Chinesa, Rio de Janeiro, Brasil
André Barbosa Vargas, Antônio José Mayhé-Nunes e Jarbas Marçal Queiroz................................................................................ 85
Stent Multicamadas - uma nova alternativa no tratamento de Aneurismas. Revisão de Literatura.
Augusto Frederico Martins Lopes Oliveira, Gabriel Costa Miziara, Lívia Gomes de Oliveira Garani, Marcela Sousa Cruz de Oliveira e
Rodrigo Leal de Jesus Alves ..................................................................................................................................................... 95
LIST OF CONTRIBUTIONS
EDITORIAL.......................................................................................................................................................................09
HEALTH AND BIOLOGICAL SCIENCES
Effects of the action of gibberellin in the initial growth of pepper plants (Capsicum frutescens)
Rafaela Cinigalha Torres e Kelly Carla Almeida de Souza Borges.................................................................................................. 11
Evaluation of Microbial Population present inside the body taps in an ICU of a hospital in the city of Volta Redonda
Tayane Cristine da Silva Corrêa, Hellen Avelar Duarte, Ester Albuquerque Lourenço, Gabriel José Ribeiro, Leoni Ferreira da Silva, Jessica
Rizkalla Correa Medeiros, Nathália Cristinne Pereira de Souza e Carlos Alberto Sanches Pereira...................................................... 17
Body and sexuality: the normalization processes in dance
Aline Menezes de Oliveira, Carla de Oliveira dos Santos e Marcelo Paraíso Alves........................................................................... 23
Prevalent dermatological diseases in elderly treated in an outpatient dermatologic clinic in a primary care unit (Polyclinic
UniFOA) in Volta Redonda, RJ, between 2002 and 2010.
Luciana Aparecida Cruz de Siqueira Pegas, Sabrina Kelly Alves Honório, Valesca da Silva Gonzalez, Carolina Lorejam Crespo, Bianca
Ribeiro Barreto, Henrique José do Nascimento, Antonio Macedo D’Acri, Maria Inês Fernandes Pimentel, Sandro Javier Bedoya Pacheco.
............................................................................................................................................................................................ 39
The Medical Doctor from the collective imaginary of last year of Medicine students
Maria Auxiliadora Motta Barreto, Glauber Correia de Oliveira, Rosana Gonçalves Oliveira e Samara Guerra Carneiro........................ 47
The nonmedical use of methylphenidate among medical students
Samara Guerra Carneiro, Airton Salviano Teixeira Prado, Hermiton Canedo Moura, João Francesco Strapasson, Natália Ferreira Rabelo,
Tiago Turci Ribeiro e Eliane Camargo de Jesus........................................................................................................................... 53
To eat, to drink or to remedy? Multipurpose use categories in Ethnobotany.
Odara Horta Boscolo............................................................................................................................................................... 61
Antral pseudocyst: prevalence in the city of Volta Redonda, Rio de Janeiro, Brazil.
Sérgio Elias Vieira Cury, Maria Dorotéa Pires Neves Cury, Brunno dos Santos de Freitas Silva, Omar Tinoco Franklin Molina, Jimmy de
Oliveira Araújo, Luiz Roberto Manhães Jr, Luciana Butini Oliveira............................................................................................. 69
Inventory of ground-dwelling ants in the Chinese View Forest Reserve, Rio de Janeiro, Brazil
André Barbosa Vargas, Antônio José Mayhé-Nunes e Jarbas Marçal Queiroz................................................................................ 85
Stent Multilayer - a new alternative in the treatment of Aneurysms. Literature Review/
Augusto Frederico Martins Lopes Oliveira, Gabriel Costa Miziara, Lívia Gomes de Oliveira Garani, Marcela Sousa Cruz de Oliveira e
Rodrigo Leal de Jesus Alves ..................................................................................................................................................... 95
9
Editorial
O periódico Cadernos UniFOA é um veículo de divulgação de pesquisas em Ciência e Tecnologia
do Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA), que tem como objetivo primordial, divulgar para a
comunidade científica resultados de pesquisas realizadas dentro e fora da Instituição que, de alguma forma,
contribuam para o desenvolvimento das diversas áreas do conhecimento científico.
O Cadernos UniFOA tem trabalhado para que, cada vez mais, a qualidade dos artigos publicados
esteja em primeiro lugar, incentivando autores internos e externos à Instituição a divulgarem os resultados de
suas pesquisas por meio deste periódico.
É com enorme satisfação que apresento a Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas, de maio
de 2013, do Cadernos UniFOA. Nesta edição, são apresentados dez artigos originais de grande relevância
científica, todos contendo dados inéditos, ou na forma de artigos de revisão.
Em nome de todo o Corpo Editorial do Cadernos UniFOA, agradeço a todos que, de alguma forma,
colaboraram para a elaboração, revisão e edição dos artigos que compõe esta edição especial.
Prof. Dr. André Resende de Senna
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Editor da Área de Ciências da Saúde e Biológicas
11
Ação da giberelina no crescimento de pimenta (Capsicum frutescens)
Effects of the action of gibberellin in the initial growth of pepper plants (Capsicum
frutescens)
ISSN
1809-9475
Artigo
Original
Rafaela Cinigalha Torres1
Kelly Carla Almeida de Souza Borges2
Original
Paper
Ácido giberélico
Pimenta
Abstract
The present work was aimed at evaluating the effects of the action of gibberellin
in the initial growth of pepper plants (Capsicum frutescens) below foliar spray
at different concentrations of plant regulator. The experiment was conducted at
the Laboratory of Biotechnology UniFOA. The seeds of Capsicum frutescens
were sown in fertilized soil substrate in black polyethylene bags (10cm x
20cm) with a capacity of 1000ml. Four treatments were performed (Table 1)
with the plant regulator gibberellin concentrations 25mg / L (T1), 50 mg /
L (T2) and 100 mg / L (T3), and the control in the absence of the regulator
(T4), being three replications with ten seeds in each. The sprayings made with
bioregulators gibberellin provided significant growth in shoots of Capsicum
frutescens, where best results were associated with GA3 dosage of 50 mg / l
(T2), allowing to reach the 30 days after germination, the average values of 15
cm height and about 7 leaves per plant. However, no influence of gibberellin
in root growth.
1
Discente do Curso de Ciências Biológicas - UniFOA
2
Professora Mestra do Curso de Ciências Biológicas - UniFOA
Recebido em
03/2012
Aprovado em
04/2013
Keywords
Growth
Gibberellic acid
Pepper
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Crescimento
Resumo
O presente trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos da ação da giberelina no crescimento inicial de plantas de pimenta (Capsicum frutescens)
sob pulverização foliar, em diferentes concentrações desse fitorregulador.
O experimento foi realizado no Laboratório de Biotecnologia do UniFOA.
As sementes de Capsicum frutescens foram semeadas no substrato terra
adubada em sacos de polietileno preto (10cm x 20cm) com capacidade
de 1000ml. Foram realizados quatro tratamentos (Tabela 1) com o fitorregulador giberelina nas concentrações 25mg/L (T1), 50 mg/L (T2) e 100
mg/L (T3), além do controle na ausência do regulador (T4), sendo três
repetições com dez sementes em cada. As pulverizações realizadas com
o biorregulador giberelina proporcionaram crescimento significativo na
parte aérea de Capsicum frutescens, onde os melhores resultados estiveram associados à dosagem de GA3 50 mg/l (T2), permitindo atingir, aos
30 dias após a germinação, os valores médios de 15 cm de altura e cerca
de 7 folhas por planta. No entanto, não houve influência da giberelina no
crescimento de raiz.
Cadernos UniFOA
Palavras-chave
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
12
1. Introdução
A pimenta (Capsicum frutescens) tem
origem no continente americano e pertence à
família Solanaceae. Apresenta caule ramificado, ereto e folhas lanceoladas, verdes e brilhantes, com nervuras bem marcadas, as flores
são brancas ou arroxeadas, o fruto é do tipo
baga, de forma cônica, alongada e cor verde
ou vermelha, com 8 a 12 cm de comprimento e 1 a 2 cm de diâmetro (CARVALHO;
BIANCHETTI, 2004).
O mercado para as pimentas pode ser
dividido em dois grandes grupos: o consumo
in natura e as formas processadas, através de
molhos, conservas, flocos desidratados e pó
como ingrediente de alimentos processados
(LOPES, et al., 2007).
A pimenta (Capsicum spp) é uma especiaria bastante apreciada pela sua pungência,
flavor e como conservante alimentar, assim
como por suas propriedades fisiológicas e
farmacêuticas, devido à presença de determinados componentes como a capsaicina e a
dihidrocapsaicina (CISNEROS-PINEDA, et
al, 2007). Alguns estudos têm apontado que
as pimentas também são boas fontes de antioxidantes alimentares, como vitamina C, vitamina E, carotenóides e compostos fenólicos
(REIFSCHNEIDER, 2000). O fruto é usado
popularmente no combate a diversas doenças,
como nas inflamações na garganta, diarréia,
dilatador capilar, expectorante, para diminuir
o broncoespasmo e na obstrução da passagem de ar pulmonar induzido pela histamina
(PIRES et al., 2004).
No entanto, devido ao interesse por essas atividades medicinais, alimentícias e nos
benefícios promovidos por ela, existe a necessidade de um aumento e melhora na produção
de pimenta visando melhorar qualitativa e
quantitativamente a produtividade das culturas, e isso pode ser feito com a aplicação de
fitorreguladores (VIEIRA; CASTRO, 2004).
Dentre os diversos grupos de fitorreguladores está a giberelina (ácido giberélico) que
age de forma expressiva na germinação de sementes, tanto na quebra de dormência quanto no controle da hidrólise de reserva (TAIZ;
ZEIGER, 2004).
As giberelinas têm apresentado resultados favoráveis no aumento do número e o
comprimento das células em várias espécies
vegetais e tem sido utilizada para modificar
o crescimento e desenvolvimento de plantas,
além de funcionar como regulador da divisão
e alongamento das células (RODRIGUES;
LEITE, 2004). A aplicação exógena da giberelina provoca o crescimento foliar e alongamento do caule (MODESTO et al.,1996).
Também apresenta efeitos sobre a parede celular, promove o alongamento dos entrenós
em várias espécies, pois o alvo da ação das giberelinas é o meristema intercalar, o qual está
localizado próximo à base do entrenó (TAIZ;
ZEIGER, 2008).
Sendo assim, o presente trabalho teve
como objetivo avaliar o efeito da giberelina no
crescimento das plantas de pimenta (Capsicum
frutescens) no cultivo in vivo.
2. Material e Métodos
O experimento foi realizado no
Centro Universitário de Volta Redonda, no
Laboratório de Biotecnologia, entre os meses de maio a outubro de 2012. As sementes
de Capsicum frutescens foram semeadas no
substrato terra adubada em sacos de polietileno preto (10cm x 20cm) com capacidade de
1000ml. Foram realizados quatro tratamentos
(Tabela 1) com o fitorregulador giberelina nas
concentrações 25mg/L (T1), 50 mg/L (T2) e
100 mg/L (T3), além do controle na ausência
do regulador (T4), sendo três repetições com
dez sementes em cada.
2.1. Aplicação do regulador de crescimento
Ao completarem 20 dias, as plantas foram submetidas à aplicação de giberelina
uma vez ao dia, a cada dois dias, entre 6 e 7h
da manhã com auxílio de borrifador manual
com capacidade de 100ml, totalizando quatro
pulverizações foliares durante 10 dias. No trigésimo dia após a germinação foi realizada a
análise de crescimento para avaliar o efeito do
fitorregulador sobre as plantas.
3. Resultados e Discussão
As sementes de pimenta (Capsicum frutescens) germinaram no substrato terra vegetal
apresentando 90 % de germinação aos 11 dias.
Os parâmetros avaliados apontaram que
houve influência do fitorregulador giberelina
no crescimento de Capsicum frutescens aos
30 dias de cultivo, momento em que a análise de crescimento foi realizada com diferença
significativa entre os tratamentos na análise da
altura e número de folhas.
O ácido giberélico, em todas as concentrações testadas, promoveu um aumento na altura de plantas. Porém, os melhores resultados
foram obtidos a partir da aplicação das maiores concentrações de giberelina, sendo cerca
de 15 cm de comprimento na presença do T2
(50mg/L) e 14 cm no T3 (100 mg/L), ambos
diferindo dos demais tratamentos em que a
concentração do fitorregulador foi menor (T1
= 25mg/L: 13cm) ou ausente (T4 = 0 mg/L –
controle: 9 cm).
Para o número de folhas, os resultados
evidenciaram efeito significativo em função
das doses de giberelina aplicadas via pulverização foliar. Verificou-se que o maior valor
obtido, aos 30 dias de cultivo, foi de 7,78 folhas por planta para a concentração de 50 mg/L
de giberelina que corresponde ao tratamento
T2. Contudo, a maior concentração de giberelina (T3=100mg/L com 6,52 folhas), apesar de
ter produzido maior número de folhas que T1
(25mg/L com 6,21 folhas) e T4 (0 mg/L com
6,15 folhas), não diferiu estatisticamente desses tratamentos, exibindo diferença significativa apenas de T2 com 95% de probabilidade.
13
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
A análise de crescimento foi semanal e
aos 30 dias após a germinação foram avaliados
os seguintes parâmetros: tempo de germinação, altura, número de folhas, presença de raiz
e comprimento de raiz. Os resultados obtidos
foram submetidos ao programa “Statgraphics”
para a realização da análise de variância (teste F) e as médias dos tratamentos comparadas
pelo teste Tukey, utilizando-se o nível de 5%
de significância.
Como pode ser observado na figura 1, a
pulverização foliar com giberelina promoveu
aumento expressivo na parte aérea de plantas
de pimenta (Capsicum frutescens) aos 30 dias
de cultivo. No entanto, não foi significativa
para o crescimento de raiz (tabela 2).
Estes resultados confirmam o papel ativo
da giberelina na divisão celular e no alongamento da planta (HIGASHI et al., 2002), que
promove a extensibilidade da parede da célula (RAVEN et al., 2001). Agem também no
desenvolvimento reprodutivo afetando a transição do estado juvenil para o maduro, bem
como a indução da floração, determinação
do sexo e o estabelecimento do fruto (TAIZ;
ZEIGER, 2004). Esse regulador age durante
todo ciclo das plantas, desde a germinação até
o crescimento da semente e pericarpo, além
disso, são mediadoras dos estímulos ambientais e, portanto, a biossíntese desse hormônio é
de fundamental importância para desenvolvimento das plantas e sua adaptação ao ambiente (RODRIGUES; LEITE, 2004).
O efeito positivo do ácido giberélico sobre crescimento de plantas tem sido relatado
por vários autores, especialmente quando aplicado durante o desenvolvimento inicial das
plantas (COELHO et al, 1983; MODESTO
et al, 1996; LEITE et al, 2003; LEONEL;
PEDROSO, 2005).
Em maracujazeiro-doce, as aplicações
com giberelina através de pulverizações foliares nas concentrações 0, 100, 200, 300 e 400
mg/L resultou na aceleração do crescimento
das plantas, e a aplicação de 300 mg/L apresentou maiores valores para altura média do caule e
no número de folhas deferindo estatisticamente
dos demais (LEONEL; PEDROSO, 2005).
A aplicação em soja, via foliar, de
100mg/L de giberelina permitiu a obtenção
de aumento significativo na altura das plantas, altura do primeiro nó e diâmetro do caule
(LEITE et al, 2003).
Para o comprimento de raiz, os resultados demonstraram não haver diferença significativa entre os tratamentos, pois os valores
obtidos no tratamento controle (T4 = 0mg/L
com 2,42cm de raiz), marcado pela ausência
de giberelina, foram semelhantes aos encontrados nas plantas que foram submetidas às
aplicações com este fitorregulador.
Cadernos UniFOA
2.2. Análise de crescimento
14
Estes resultados para raiz corroboram
com o fato da giberelina influenciar de forma pouco acentuada no crescimento da raiz
(TAIZ; ZEIGER, 2009). Além disso, o efeito
da giberelina no crescimento da raiz é indireto
em função da sua ação no crescimento da parte
aérea (LEITE, 2003).
4. Conclusão
As pulverizações realizadas com o
biorregulador giberelina proporcionaram
crescimento significativo na parte aérea de
Capsicum frutescens, onde os melhores resultados estiveram associados à dosagem de
50 mg/l (T2), permitindo atingir, aos 30 dias
após a germinação, os valores médios de 15
cm de altura e cerca de 7 folhas por planta. No
entanto, não houve influência da giberelina no
crescimento de raiz.
5. Referências
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
1. CARVALHO, S.I.C.; BIANCHETTI; L.B. 2004
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spp.): Botânica. Embrapa Hortaliças, Sistemas
de Produção. Disponível em http://www.cnph.
embrapa.br/sistprod/pimenta/botanica.html
<Acesso em 15 de outubro de 2012>
2. CISNEROS-PINEDA, O.; TORRES-TAPIA,
L. W.; GUTIÉRREZ-PACHECO, L. C;
CONTRERAS-MARTÍN F.; GONZÁLESESTRADA, T.; PERADA-SÁNCHEZ, S. R.
Capsaicinoids quantification in chili peppers
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Food Chemistry. n.104, p. 1755-1760, 2007.
3. COELHO, Y.S.; OLIVEIRA, A.A.R.;
CALDAS, R.C. Efeitos do ácido
giberélico (GA3) no cres­
cimento de
porta-enxertos para citros. Pesquisa
Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 18,
n. 11, p. 1229-1232, 1983.
4. HIGASHI, E.N.; SILVEIRA, R.L.V.A.;
GOUVÊA, C. F.; BASSO, L.H. Ação
fisiológica de hormônios vegetais na
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mineral. In: CASTRO, P.R.C.; SENA,
J.O.A.; KLUGE, R.A. Introdução à
fisiologia do desenvolvimento vegetal.
Maringá: Eduem. cap. 9, 2002, p. 139 -158.
5. LEITE, V.M.; ROSOLEM, C.A.;
RODRIGUES, J.D. Gibberellin and
cytokinin effects on soybean growth.
Scientia Agrícola, Piracicaba, v. 60, n. 3,
p. 537-541, 2003.
6. LEONEL, S.; PEDROSO, C.J. Produção
de mudas de maracujazeiro-doce com uso
de biorregulador. Revista Brasileira de
Fruticultura, Jaboticabal, v.27, n.1, p.
107-109, 2005.
7. LOPES, C. A.; RIBEIRO, C. S. C.;
CRUZ, D. M. R.; FRANÇA, F. H.;
REIFSCHNEIDER, F. J. B.; HENZ,
G. P.; SILVA, H. R.; PESSOA, H. S.;
BIANETTI, L. B.; JUNQUEIRA N.
V.; MAKISHIMA N.; FONTES R. R.;
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de pimentas (Capsicum spp): Botânica,
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Hortaliças, Sistema de Produção, 4 ISSN
1678. Versão eletrônica. Disponível
em:<http: www. cnph.embrapa. br/sistprod/
pimenta /botanica.htm>. Acesso em 25 de
outubro de 2012.
8. MODESTO, J.C., RODRIGUES, J. D.,
PINHO, S. Z. Efeito do ácido giberélico
sobre o comprimento e diâmetro do caule
de plântulas de limão ‘Cravo’ (Citrus
limonia Osbeck). Scientia agrícola,
Piracicaba, vol.53, n.2-3, 7- 12, 1996.
9. PIRES, P. A., MALVAR, D. C., BLANCO,
L. C., VIGNOLI, T., CUNHA, A. F.,
VIEIRA,E.; DANTAS, T. N. C., MACIEL,
M. A. M., CÔTES, W. S., VANDERLINDE,
F. A. Estudo das atividades analgésicas do
extrato metanólico da Capsicum frutescens
–solanaceae (Pimenta Malagueta). Revista
Universidade Rural. Série Ciências
da Vida, v. 4, n. 2, jul.-dez., p. 129-134, 2004.
10. RAVEN,
P.H.;
EVERT,
R.F.;
EICHHORN
S.E.
Regulando
o
crescimento e o desenvolvimento: os
12. RODRIGUES, T de J. D. , LEITE, I.
C. Fisiologia vegetal – hormônios das
plantas. Jaboticabal: Funep. 2004.
15
14. Taiz, L., Zeiger, E. Fisiologia Vegetal.
Artmed, Porto Alegre, Brasil. 820p., 2008.
15. TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal.
4.ed. Artmed, Porto Alegre, Brasil. 819p.,
2009.
16. VIEIRA, E.L.; CASTRO, P.R.C. Ação
de bioestimulante na cultura da soja
(Glycine max L. Merrill). Cosmópolis:
Stoller do Brasil. 2004, 47p.
Endereço para Correspondência:
Rafaela Cinigalha Torres
[email protected]
Av. Paulo Erley Abrantes, 1325
Três Poços - Volta Redonda/RJ
CEP: 27240-560
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
11. REIFSCHNEIDER, F. J. B. (Org.)
Capsicum: pimentas e pimentões no
Brasil. Brasília: Embrapa Comunicação
para Transferência de Tecnologia/
Embrapa Hortaliças. 113p, 2000.
13. TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal.
3.ed. Porto Alegre: Artmed, 719p, 2004.
Cadernos UniFOA
hormônios vegetais. In: RAVEN, P.
H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E.
(Ed.). Biologia vegetal. Rio de Janeiro:
Guanabara Kogan. 2001, p. 649-674.
16
6. ANEXO
Figura 1 - Plantas de Capsicum frutescens, aos 30 dias após a germinação, submetidas
à aplicação dos tratamentos com giberelina. Comprimento da barra: 2cm
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Tabela 1 - Concentração do regulador vegetal aplicado no cultivo in vivo de pimenta (Capsicum frutescens)
Tratamentos
Concentração (mg/L)
T1
25
T2
50
T3
100
T4
Sem regulador de crescimento
Tabela 2: Ação da giberelina no crescimento de pimenta (Capsicum frutescens) aos 30 dias após a germinação
Tratamentos
Concentração
Giberelina
Altura
(cm)
Folha
Raiz (cm)
T1
25mg/L
13 b
6,21 b
2,26 a
T2
50 mg/L
15,47 a
7,78 a
2,73 a
T3
100 mg/L
14,89 a
6,52 b
2,42a
T4
0mg/L
9c
6,15 b
2,42a
Médias seguidas da mesma letra na mesma coluna não diferem estatisticamente entre si com 95% de confiança
Avaliação da População Microbiana Presente no Interior do Corpo das
Torneiras de uma UTI em um Hospital no Município de Volta Redonda.
Evaluation of Microbial Population present inside the body taps in an ICU of a
hospital in the city of Volta Redonda
Tayane Cristine da Silva Corrêa1
Hellen Avelar Duarte2
Ester Albuquerque Lourenço3
Gabriel José Ribeiro3
Leoni Ferreira da Silva3
Jessica Rizkalla Correa Medeiros3
Nathália Cristinne Pereira de Souza3
Carlos Alberto Sanches Pereira4
17
ISSN
1809-9475
Artigo
Original
Original
Paper
Recebido em
09/2012
Bacilos gramnegativos não
fermentadores
Infecção
relacionada à
assistência em
saúde
Abstract
The spread of infections related to health care (IRHC) often comes from crosscontamination. The most common way of transfer pathogens occurs between the
hands of health professionals and patients. It is observed that the environmental
contribution can be higher in intensive care units (ICU) and despite effort is
being made to kill or prevent the growth of micro-organisms in the hospital,
the hospital environment is an important reservoir for a variety of pathogens
that present a great risk to hospitalized patients. This study aimed to evaluate
the bacterial population present inside the body taps in an intensive care unit
(ICU) of a hospital in the city of Volta Redonda, RJ. The samples were collected
in 12 ICU taps and after isolation, the colonies were identified and subjected to
antimicrobial susceptibility testing by the Vitek 2 system (BioMérieux ®). Eight
taps had bacterial growth, and in three of them, there was a predominance of
Enterococcus durans.
1 Graduada em Ciências Biológicas - Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA
2 Discente do Curso de Ciências Biológicas - Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA
3 Discente do Curso de Medicina - Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA
4 Docente do Curso de Ciências Biológicas - Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA
Aprovado em
04/2013
Key-works
Body of taps
Non-fermenting
gram negative
bacilli
Infection related
to health care
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Corpo de torneiras
Resumo
A disseminação de infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) frequentemente advém da contaminação cruzada. A via mais comum de transferência de patógenos ocorre entre as mãos de profissionais de saúde e pacientes. Observa-se que a participação ambiental pode ser maior nas unidades de
terapia intensiva (UTI) e, embora todos os esforços sejam feitos para matar ou
impedir o crescimento de micro-organismos no hospital, o ambiente hospitalar é um importante reservatório para uma variedade de patógenos que apresentam um risco intenso para os pacientes hospitalizados. O presente trabalho
teve como objetivo avaliar a população bacteriana presente no interior do
corpo das torneiras de uma unidade de terapia intensiva (UTI) de um hospital
no município de Volta Redonda, RJ. As amostras foram coletadas em 12 torneiras de UTI e, após isoladas, as colônias foram identificadas e submetidas
ao teste de susceptibilidade aos antimicrobianos pelo sistema Vitek 2 (BioMérieux ®). Oito torneiras apresentaram crescimento bacteriano, sendo que
em três delas, houve predomínio da espécie Enterococcus durans.
Cadernos UniFOA
Palavra-chave
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
18
1. Introdução
A disseminação de infecções relacionadas à assistência em saúde (IRAS) frequentemente advém da contaminação cruzada. A via
mais comum de transferência de patógenos
ocorre entre as mãos de profissionais de saúde
e pacientes (OLIVEIRA, 2009).
No entanto, o ambiente hospitalar pode
contribuir para disseminação de patógenos.
Geralmente o ambiente ocupado por pacientes colonizados e/ou infectados pode tornar-se
contaminado. A presença de bactérias é comum em superfícies inanimadas e equipamentos (HUANG, 2006).
Observa-se que a participação ambiental
pode ser maior nas unidades de terapia intensiva (UTI) devido à gravidade e instabilidade
do quadro clínico do paciente com necessidade de cuidados intensivos, somados a fatores
como limpeza, desinfecção, estrutura física,
quantidades de equipamentos e superfícies em
determinadas unidades (PANIS, 2009).
A disseminação das infecções associadas
aos cuidados de saúde é complexa e multifatorial. Nesse sentido, a abordagem do ambiente
na disseminação de bactérias visa contribuir
para melhor compreensão das recomendações
de controle das IRAS, definição de políticas
de controle e aproximação dos profissionais de
saúde com o tema (OLIVEIRA, 2009).
Dentre os micro-organismos que podem ser encontrados nas IRAS, destacam-se os Bacilos Gram Negativos Não
Fermentadores (BGNNF), membros da família Enterobacteriaceae, Staphylococcus spp.,
e Enterococcus spp. Essas bactérias podem
sobreviver em condições adversas, sendo necessário apenas um local úmido para sua sobrevivência e viabilidade por vários meses.
Tornam-se patogênicas ao entrarem no tecido
do hospedeiro através da ruptura da barreira
cutânea, a inoculação por agulhas na infusão
intravenosa de soro, instalação de cateteres
vasculares, urinários, neurocirúrgicos, entre
outros (JULIET, 2002; ALMEIDA, 2004;
SÁNCHEZ, 2006; D’AZEVEDO, 2008;
LARANJEIRA et al., 2010;).
A entrada desses micro-organismos no
tecido hospedeiro faz com que uma gama de
infecções possa ser desenvolvida. Geralmente,
essas infecções estão associadas a pneumonias
em pacientes com ventilação mecânica e bacteremias associadas a processos invasivos do
cateter venoso central (DELIBERALI, 2011).
Além disso, casos de endocardites infecciosas, meningite neonatal, endoftalmites,
septicemia, peritonite, abscesso, tenossinovites e infecções de pele também podem estar
associadas a esses tipos de micro-organismos (LLASAT, 2010; D’AZEVEDO, 2008;
RIBOLDI, 2009).
Embora todos os esforços sejam feitos
para matar ou impedir o crescimento de micro-organismos no hospital, o ambiente hospitalar é um importante reservatório para uma
variedade de patógenos, e certos membros da
microbiota normal do corpo humano são oportunistas e apresentam um risco intenso para os
pacientes hospitalizados (TORTORA, 2008).
O presente trabalho teve como objetivo
avaliar a população bacteriana presente no interior do corpo das torneiras de uma unidade
de terapia intensiva (UTI) de um hospital no
município de Volta Redonda, RJ.
2. Material e Métodos
O presente trabalho foi desenvolvido no
laboratório de Microbiologia do UniFOA e
em um laboratório particular no município de
Volta Redonda.
2.1. Coleta das amostras
Foram coletadas amostras do interior do
corpo de 12 torneiras de uma unidade de terapia intensiva (UTI) em um hospital da cidade
de Volta Redonda.
As amostras foram colhidas com swab
estéril da parte superior da torneira retirando-se o aerador. O swab foi colocado no meio
de transporte e encaminhado ao laboratório,
onde foi processado. O meio escolhido para o
transporte das amostras foi o Amies, pois nele
oxigênio, superóxido e radicais livres são absorvidos e neutralizados por agentes desintoxicantes especialmente incorporados à fórmula do meio. Essa ação interrompe a oxidação,
assegurando um ótimo desempenho para bactérias (SIMÕES, 2005).
2.2. Isolamento e identificação
documento internacional M100S20 (CLSI
2012) pelo método de microdiluição conforme o equipamento de automação VITEK 2
(BioMérieux ®), cartão GN e GP (gram-negativo e gram-positivo respectivamente).
Após a chegada ao laboratório, as amostras foram semeadas em placas de Petri, contendo Agar MacConkey e Agar Sangue. As
mostras foram incubadas por até 48 horas a
37°C (+/-2°C) de onde foram selecionadas colônias para a coloração de Gram.
Todas as colônias que foram identificadas como bacilos gram-negativos, foram
submetidas ao teste da oxidase e catalase. As
que obtiveram resultados positivos foram submetidas à identificação pelo sistema Vitek 2
(BioMérieux ®), cartão número AST105.
Todas as colônias que foram identificadas como cocos gram-positivos, foram submetidas ao teste de catalase e tanto as catalase positivas, quanto as negativas, foram
submetidas à identificação pelo sistema Vitek
2 (BioMérieux ®), cartão número ASTP585.
19
2.4. Armazenamento das amostras bacterianas
Todas as amostras foram armazenadas
em tubos (criotubos) contendo caldo BHI com
glicerol a 20% e serão mantidas a -20oC, por
seis meses. Após esse período, todas as amostras serão reativadas para avaliar o comportamento bioquímico e novamente congeladas
(PEREIRA et al., 2004).
3. Resultados e Discussão
Das 12 torneiras analisadas, 8 (66,7%) apresentaram crescimento bacteriano e 4 (33,3%)
não apresentaram crescimento bacteriano.
O Enterococcus durans foi a bactéria
mais isolada nas torneiras, sendo esta encontrada em 3 torneiras, correspondendo a 25%
dos achados (Tabela 1).
2.3. Teste de susceptibilidade aos antimicrobianos
Todas as cepas identificadas foram
submetidas ao teste de susceptibilidade aos
antimicrobianos (TSA) segundo o padrão do
Bactérias Isoladas
Percentual
3
Enterococcus durans
25%
1
Pseudomonas aeroginosas
8,34%
1
Stenotrophomonas maltophilia
8,34%
1
Cupriavidus pauculis
8,34%
1
Pantoea spp
8,34%
1
Staphylococcus epidermidis
8,34%
Os E. durans estão constantemente relacionados aos casos de infecções do trato urinário, mas também, podem ser encontrados
em outros tipos de infecções endógenas como
endocardites e bacteremia, infecções essas,
adquiridas através da instalação de cateter
(JULIET, 2002).
Embora sejam bactérias encontradas no
trato intestinal do homem e dos animais, são
comumente isolados de ambientes contaminados pelo material fecal humano e animal,
como exemplo, esgoto urbano, água e solos
(AMARAL, 2007).
De acordo com o antibiograma, os 3 isolados de E. durans, apresentaram sensibilidade
a Benzilpenicilina, Ampicilina, Gentamicina
Alto Nível, Estreptomicina Alto Nível,
Ciprofloxacina, Moxifloxacina, Norfloxacina,
Linezlid, Teicoplanina, vancomicina e
Tigeciclina e resistência a Eritromicina e
Clindamicina. Essa condição nos leva a pensar
na possibilidade destas espécies apresentarem
o mesmo perfil genotípico.
As espécies Pseudomonas aeruginosa,
Stenotrophomonas maltophilia e Cupriavidus pauculis são os BGNNF isolados, conforme tabela 1.
Cadernos UniFOA
N° de Torneiras
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Tabela 1- Tipos e percentuais de bactérias isoladas
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
20
Esses BGNNF são organismos onipresentes, que podem ser isolados a partir de
inúmeras fontes de água, como rios, lagos,
lagoas, garrafas de água, esgoto entre outras
(LOPES, 2003).
A Pseudomonas aeruginosa, além de
receber destaque por ser relatada na literatura,
como a bactéria mais envolvida em IRAS, foi a
que apresentou resistência a um número maior de
antibióticos testados (Ampicilina, Ampicilina/
sulbactam, Piperacilina/Tazobactam, Cefalotina,
Cefoxitina, Cefotaxima e Tigeciclina).
Os BGNNF encontrados estão frequentemente associados a casos de pneumonia em
pacientes com ventilação mecânica e bacteremia, associadas ao cateter venoso central.
Também são relatadas em casos de infecções
do trato urinário, meningites, infecções de feridas cirúrgicas, epidermites, endocardites e
celulites (DELIBERALI, 2011).
A Pantoea spp foi isolada de uma das
torneiras (Tabela 1). Esse gênero da família
Enterobacteriaceae é um bacilo oportunista, dessa forma, encontrá-lo em ambiente (água) não
foi surpresa. Em se tratando de UTI- onde os pacientes se encontram, na maioria das vezes, imunodeprimidos- este micro-organismo pode estar
envolvido em casos de artrite séptica, peritonite
e diversas outras (SÁNCHEZ, 2006).
A espécie Staphylococcus epidermidis
também foi isolada em 1 das 12 torneiras analisadas (Tabela 1) e apresentou resistência somente a Benzilpenicilina e Eritromicina. Ela é
relatada na literatura como sendo responsável
pelas maiores causas de mortalidade e morbidade relacionadas a IRAS. São micro-organismos oportunistas que se tornam patogênicos
ao entrarem no tecido hospedeiro através da
ruptura da barreira cutânea (procedimento
realizado com frequência em UTI), podendo
desencadear casos de bacteremias, endocardites, peritonites, entre outras infecções que
podem comprometer a vida dos pacientes
(D’AZEVEDO, 2008).
Quando a equipe médica e/ou os demais
funcionários e visitantes higienizam suas mãos
para lidarem com os pacientes da unidade,
provavelmente estão cientes de que processo
foi bem realizado, mas diante deste “cenário”,
onde 8 de 12 torneiras apresentaram em seu
corpo interno bactérias com potencial patogênico, o simples ato de lavar as mãos poderá
complicar ainda mais o estado de saúde dos
doentes internados.
Dessa forma se faz necessário mudanças
no paradigma da limpeza do corpo das torneiras,
com periodicidade, para reduzir a possível disseminação pela água de bactérias patogênicas.
4. Conclusão
Com base nos resultados obtidos no presente trabalho, podemos concluir que:
a. o corpo interior de 8 torneiras apresentaram crescimento bacteriano;
b. asbactériasencontradasforam:Enterococcus
durans em três torneiras, Pseudomonas
aeruginosa, Stenotrophomonas maltophilia, Cupriavidus pauculis, Pantoea spp. e
Staphylococcus epidermidis.
5. Referências Bibliográficas
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alternativa ecológica. Revista Química
Viva, p. 122-133 , 2004.
2. AMARAL, A. L. P. Microrganismos
indicadores de qualidade de água. 2007,
40 f. Pós Graduação (Microbiologia).
Universidade Federal de Minas Gerais, MG.
3. D’AZEVEDO, P. A. et al. Oxacilinresistant Coagulase-negative staphylococci
(CoNS) bacteremia in a general hospital at
São Paulo city, Brasil. Brazilian Journal
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bacilos Gram-negativos não fermentadores
de pacientes internados em Porto Alegre-RS.
Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina
Laboratorial, v. 47, p. 529-534, 2011.
5. HUANG, S. et al. Risk of acquiring
antibiotic-resistant bacteria from prior
room occupants. Archives of Internal
Medicine, v. 16, p. 1945-1951, 2006.
6. JULIET, C. Estudio de susceptibilidad in
vitro de Enterococcus spp. Revista chilena
de infectologia, v.19, p.111-115, 2002.
7. LARANJEIRA, V. S. et al. Pesquisa
de Acinetobacter sp. e Pseudomonas
aeruginosa produtores de metalo-betalactamase em hospital de emergência
de Porto Alegre, Estado do Rio Grande
do Sul, Brasil. Revista da Sociedade
Brasileira de Medicina Tropical, v. 43,
p. 462-464, 2010.
8. LLASAT, J. M. B. et al. Cupriavidus
pauculus Pseudo-Outbreak of Infection
at an Outpatient Clinic Related to Rinsing
Culturette Swabs in Tap Water. Journal
of Clinical Microbiology, v. 48, p. 2645–
2647, 2010.
9. LOPES, R. R. Endocarditis por
Stenotrophomonas maltophilia: presentación
de um caso y revisión de La literatura. Anales
de Medicina Interna, v. 20, p. 42-46, 2003.
10. OLIVEIRA, A. C. et al. Superfícies
do ambiente hospitalar como possíveis
reservatórios de bactérias resistentes:
uma revisão. Revista da Escola de
Enfermagem, v. 44, p. 1118-1123, 2009.
12. PEREIRA, C. A. S.; LUCHESE, R. H.;
VALADÃO, R. C. Potencial probiótico
de linajes de Lactobacillus plantarum y
Lactobacillus fermentum. Alimentaria.
n. 352, p. 53-59, 2004.
21
13. RIBOLDI, G. P. et al. Antimicrobial
resistance profile of Enterococcus spp
isolated from food in Southern Brazil.
Brazilian Journal of Microbiology, v.
40, p. 125-128, 2009.
14. SÁNCHEZ, M. et al. Bacteremia por
Pantoea agglomerans. Anales de Medicina
Interna, v. 23, p. 250-251, 2006.
15. SIMÕES, J. A. et al. Influência do
conteúdo vaginal de gestantes sobre a
recuperação do estreptococo do grupo B
nos meios de transporte Stuart e Amies.
Revista Brasileira de Ginecologia e
Obstetrícia, v. 27, p. 672-676, 2005.
16. TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE,
C. L. Microbiologia, 8. ed. Porto Alegre:
ArtMed, 2008.
Carlos Alberto Sanches Pereira
[email protected]
Departamento de Ciências Biológicas – UniFOA
Av. Paulo Erley Abrantes, 1325
Três Poços - Volta Redonda/RJ
CEP: 27240-560
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Endereço para Correspondência:
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
11. PANIS, C. Nosocomial Infections
in Human Immunodeficiency Virus
Type 1(HIV-1) Infected and AIDS
Patients: Major Microorganisms and
Immunological. Brazilian Journal of
Microbiology, v. 40, p. 155-162, 2009.
23
Corpo e sexualidade: os processos de normalização na dança
ISSN
1809-9475
Body and sexuality: the normalization processes in dance
Aline Menezes de Oliveira1
Carla de Oliveira dos Santos1
Marcelo Paraíso Alves2
Sexualidade
Biopoder
Normalização
Abstract
This article aims to discuss the practice of dancing among boys within the
normalization process, taking into account the sexuality history to explain how
it came to the concept that men that dance are gays and explaining concepts
such as biopower and normalization. The production of this research came from
a project at the Future Generation Foundation, the COMUNI Project (United
Community) where we taught dance lessons. The experience in the mentioned
project has enabled us to reflect on certain aspects: is dancing a sport geared just
for girls? Why do the dance classes have a predominance of girls, specially in the
COMUNI project? Why is there such a big evasion in boys’ dance classes? Is there
a process that standardizes, regulates and controls men and women behavior?
What is the origin of this process of standardization? The objective of this work
is to enable a discussion about sexuality, specifically discussing conflicts and
tensions experienced in the cited project. The article intends to approximate the
reader of the COMUNI project space, contextualizing the space experienced by
the authors. Second the article proposes to discuss the historical constitution of
the regulation and sexual control process, as well as the concept of biopower.
Then it seeks to think the body from the corporeity that allows the understanding
of the complex net which constitutes the process of subjectivity, among them the
question of gender. Finally discussions about the role of the Physical Education
professional in the exclusion process that come from such normalization
processes. It is important to emphasize that the descriptive literature was opted.
1 Graduação e Licenciatura em Educação Física - Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA
2 Professor Doutor do Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA
Original
Paper
Recebido em
10/2012
Aprovado em
04/2013
Keywords
Dance
Sexuality
Biopower
Normalization
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Dança
Resumo
O presente trabalho busca como centralidade a discussão da prática da dança por
meninos dentro dos processos normalizadores, apropriando-se da história da sexualidade para explicar como surgiu a concepção de que homens que dançam são
gays e explicitando conceitos como biopoder e normalização. A produção desta
pesquisa partiu de um Projeto da Fundação Geração Futura, o Projeto COMUNI
(Comunidade Unida) onde ministrávamos aulas de dança. A experiência no projeto mencionado nos permitiu refletir sobre alguns aspectos: dança é uma modalidade voltada apenas para meninas? Por que as turmas de dança, mais precisamente a
do Projeto COMUNI existe a predominância de garotas? Por que há uma evasão
tão grande de meninos nas turmas de dança? Existe um processo que normatiza,
regula e controla os comportamentos do homem e da mulher? Qual a origem deste
processo de normatização? O intuito do trabalho é possibilitar um debate acerca da
sexualidade, mais especificamente discutindo os conflitos e tensões vivenciados
no cerne do projeto citado. O artigo pretende inicialmente aproximar o leitor do
espaço do Projeto COMUNI, contextualizando o espaço vivenciado pelos autores
do trabalho. No segundo momento, o artigo se propõe a discutir a constituição histórica do processo de regulação e controle da sexualidade, bem como o conceito
de biopoder. Posteriormente, buscou-se pensar o corpo a partir da corporeidade,
permitindo compreender a complexa rede que constituí o processo de subjetividade, dentre eles, a questão de gênero. Por fim, perspectivaremos possíveis discussões acerca do papel do profissional de Educação Física frente aos processos
exclusórios que emergem dos referidos processos de normatização. É relevante
ressaltar que optou-se pela pesquisa bibliográfica descritiva.
Cadernos UniFOA
Palavras-chave
Artigo
Original
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
24
1. Introdução
Na tentativa de propor soluções para alguns problemas que emergem na sociedade
atual, Estado, empresas e instituições privadas, organizações não governamentais, dentre outros, se mobilizam para desenvolver
projetos e atividades voltadas para crianças e
adolescentes de comunidades carentes em situação de vulnerabilidade social, ou seja, que
estejam em condição objetiva da situação de
exclusão. Estes tem o intuito de direcioná-los
para os referidos locais educativos, ao contrário de irem para as ruas, oferecendo a esses
sujeitos oportunidades de vivenciarem atividades prazerosas e educativas, buscando desenvolver suas habilidades físicas, cognitivas,
artísticas, dentre outras.
Dentre os diversos projetos desenvolvidos no município de Volta Redonda e que
buscam se articular às políticas públicas para
ações dos sujeitos supracitados, encontra-se
o Projeto COMUNI - Comunidade Unida (o
projeto bem como as entidades envolvidas
são fictícios), desenvolvido em parceria com
diversos órgãos municipais. Esse surgiu com
o objetivo de proporcionar informações, entretenimento saudável e vivência da cultura
através de atividades direcionadas, além de
possibilitar o resgate do equilíbrio e harmonia
social, segundo consta no documento idealizador do projeto.
O projeto constitui-se de várias oficinas:
música, esporte (futebol, tênis, handebol e
futsal) e dança (Jazz, balé, hip-hop, contemporânea, todas trabalhadas alternadamente nas
aulas). Possui também atendimento e apoio
psicológico para a família. Essas atividades
são realizadas duas vezes durante a semana,
atendendo crianças e adolescentes na faixa
etária de 06 a 16 anos.
Nossa inserção do projeto se deu nas turmas de dança, como estagiárias, e algumas
situações começaram a nos chamar a atenção. Notamos, inicialmente, a predominância
da participação das meninas em detrimento
da presença dos meninos, mas, com o passar
dos meses, ocorreram algumas mudanças na
busca dos discentes pelas aulas, modificando
a configuração da turma que passou a não ter
apenas meninas. O que nos intrigou e nos levou a alguns questionamentos foi o comporta-
mento apresentado pelas discentes (crianças e
adolescentes) diante da presença dos meninos,
seja na sua participação nas aulas, bem como
quando observavam outras turmas do projeto
de dança: a maneira como se referem aos meninos que dançam; como se dá a relação durante aula e, por outro lado, como os meninos
percebem seu próprio corpo, as permissões e
os interditos, por exemplo, em inúmeras situações, os meninos paravam na metade da aula
e sentavam, pois afirmavam que as meninas
estavam zombando deles, chamando-os de
gays, “mocinhas”. Não era raro o depoimento
de insultos e alunos relatando agressões verbais de outros garotos e até mesmo de meninas
quando saíam das aulas de dança.
Dessa forma, estabelecem-se como reflexão os seguintes aspectos: dança é uma modalidade voltada apenas para meninas? Por que
nas turmas de dança, mais precisamente a do
Projeto COMUNI, existe predominância de
garotas? Por que há uma evasão tão grande de
meninos em turmas de dança? Existe um processo que normatiza, regula e controla os comportamentos do homem e da mulher? Qual a
origem deste processo de normatização?
Na intenção de provocar um debate acerca
dos questionamentos expostos, o presente estudo
objetiva compreender os processos de regulação
e controle dos corpos no espaço da dança.
O presente estudo busca a sua relevância acadêmica ao discutir os aspectos vinculados a dimensões relacionadas ao biopoder
(FOUCAULT, 1979), ao processo de subjetivação e à determinação dos corpos autorizados a dançar (NOLASCO, 1995).
A opção metodológica foi a pesquisa bibliográfica descritiva, pois, tal ótica “procura
explicar um problema a partir de referências
teóricas publicadas em artigos, dissertações e
teses” (CERVO et al. 2007, p.60).
Em certos meios acadêmicos, a pesquisa
bibliográfica tem sido tratada como secundária
e sem dados inéditos, porém, é preciso levar em
consideração a originalidade dos raciocínios que
ela desperta, pois fenômenos já publicados podem possibilitar raciocínios inéditos, entendendo-se que o conceito de inédito não se restringirá
a uma nova realidade (SANTOS, 2006).
A pesquisa foi de nível descritivo, pois o
desenvolvimento do artigo detém-se em descrever, registrar e interpretar dados existentes a
O projeto COMUNI é uma intervenção
social, realizada em um município da região
Sul Fluminense do estado do Rio de Janeiro.
Essa ação social se desenvolve, por uma autarquia do poder executivo municipal (instituição
criada em 1968, com o objetivo de auxiliar e
assistir a crianças e adolescentes, em situação
de risco, vítimas de maus tratos, abandono,
abuso sexual, em situação de rua, ou qualquer
outra que coloque em risco a sua integridade física, moral ou psicológica). De acordo
com os documentos oficiais da instituição,
25
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
2. Conhecendo os espaços e
sujeitos do Projeto COMUNI
a primeira mobilização para que ocorresse a
criação do projeto iniciou-se em uma reunião
ocorrida em dezembro de 2008, no Conselho
Tutelar, articulada pelo posto de saúde da família (PSF) de um bairro periférico e com a
presença de representantes dos mais variados
setores do município.
A reunião tinha como objetivo chamar
a atenção de toda a rede municipal para os
problemas que ocorriam constantemente na
comunidade, visando propor soluções para
amenizar alguns destes embates, sendo o principal deles o aumento significativo de crianças
e adolescentes viciados em álcool e drogas.
Uma vez ao mês ocorriam reuniões para
discutir como sanar os problemas mais graves
que ocorriam na comunidade: o abandono de
crianças, maus tratos, déficit de aprendizagem,
drogas e alcoolismo.
No ano de 2009, esse grupo de representantes encaminhou diversos casos para tratamento
em instituições especializadas, o que permitiu
perceber “novas” possibilidades de intervenção
para estes problemas sociais. Assim, crianças
e adolescentes passariam a ser estimulados na
direção de hábitos e práticas saudáveis, ocupando o seu tempo disponível com atividades que
despertassem seus interesses, necessidades e,
consequentemente, perspectivando uma trajetória de prevenção para os sujeitos envolvidos nas
tramas sociais já enunciadas.
Além das atividades proporcionadas pelo
projeto, ainda seria disponibilizada às famílias
um trabalho em grupo voltado para a área terapêutica, com o intuito de promover diálogos entre a comunidade e especialistas para a busca de
soluções dos problemas sociais e individuais,
como por exemplo, o apoio psicológico.
Dessa forma, o projeto foi criado COMUNI (Comunidade Unida) – em 30 de
julho de 2010, com ações específicas de fundações e secretarias municipais da cidade, tendo
os seguintes objetivos: proporcionar através
das oficinas culturais e esportivas, o bem-estar, a integração e a formação de hábitos
saudáveis; criar oportunidades e realizar atividades voltadas para crianças e adolescentes,
envolvendo cultura e esporte; apoiar e orientar
as famílias diante dos problemas partilhados
nos grupos. Na intenção de atingir os objetivos
propostos, a comunidade, em conjunto com
instituições e órgãos municipais, definiram as
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respeito do tema da sexualidade, bem como sua
influência na organização social. A pesquisa
descritiva é “um levantamento das características conhecidas que compõem o processo. É
normalmente feita na forma de levantamentos
ou observações sistemáticas do fato/fenômeno/
processo escolhido” (SANTOS, 2006, p.26).
Este artigo se baseia principalmente nas referências de Foucault (1979, 1989,
2008) e Louro (1997, 2000, 2001, 2004, 2007,
2010), pois estes autores são referências em
temas sobre a sexualidade e a maneira como
ela é percebida diante da ótica social.
O intuito do trabalho é possibilitar um
debate acerca da sexualidade, pois segundo
Louro (2010), ao longo de toda história, sempre observamos discussões referentes ao corpo, principalmente no que diz respeito à sua
imagem diante da sociedade.
O artigo , inicialmente, aproximar o leitor
do espaço do Projeto COMUNI, contextualizando o espaço vivenciado pelos autores do
trabalho. No segundo momento, se propõe a
discutir a constituição histórica do processo
de regulação e controle da sexualidade, bem
como o conceito de biopoder(FOUCAULT,
1979). Posteriormente, busca-se pensar o corpo a partir da corporeidade permitindo compreender a complexa rede que constituí o processo de subjetividade, dentre eles a questão
de gênero. Por fim, perspectivar-se-ão possíveis discussões acerca do papel do profissional
de Educação Física frente aos processos exclusórios que emergem dos referidos processos de normatização.
26
ações sociais a partir das seguintes atividades:
futebol, percussão, dança e tênis.
Inicialmente, as oficinas eram realizadas
duas vezes por semana. Os horários eram definidos semestralmente, de acordo com vários
aspectos: disponibilidade das crianças, cronograma de atividades e disponibilidade do professor. Os atendimentos às famílias ocorriam
toda quarta-feira e sexta-feira, no período da
tarde, e aos sábados, no período da manhã, no
Posto de Saúde da Família do bairro (PSF) e, as
oficinas para as crianças e adolescentes no campo de futebol, quadra poliesportiva e na Casa
Comunitária também localizada no bairro.
Portanto, a presente pesquisa tem como
ponto central a discussão das tensões que
emergem das oficinas de dança, na tentativa
de compreender os conflitos presentes cotidianamente nas aulas de dança. Nesse sentido, o
item a seguir inicia a discussão necessária à
compreensão dos problemas relacionados à
temática da sexualidade.
3. Sexualidade
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3.1. A história da sexualidade
A sexualidade na modernidade tornou-se
uma questão central da sociedade. Por toda
parte, notam-se comportamentos e identidades
sexuais sendo controladas, vigiadas, padronizadas e normatizadas assumindo tons e diretivas diferentes conforme o gênero, mas nem
sempre foi assim. Conforme Foucault (1979),
ela constituiu-se em um processo de pelo menos duzentos anos.
O que antes parecia ser carregado de
certezas e respostas estáveis traz agora uma
gama de incertezas e modelos inúteis, sendo
também impossível ignorar essas questões,
levando-nos ao seguinte questionamento: “o
que fazer?” Antes de tudo é preciso conhecer
como essas questões e práticas emergiram e
tornaram-se alvo de tantas discussões.
Aproximadamente até o século XVIII, as
anatomias dos sujeitos eram percebidas como
uma matriz unissexual, pois “o corpo masculino era o modelo e o feminino a sua versão
atenuada”, considerando-se então a mulher,
um homem invertido (FRAGA, 2000 p. 134).
A partir do referido século, os estudos
anatômicos começavam a demonstrar as diferenças entre homens e mulheres, então, se criou
uma nomenclatura específica para os órgãos femininos, mas ainda, associados aos masculinos.
Fraga (2000) menciona que havia, nesse
período histórico, uma sujeição do corpo feminino a um discurso biológico-moral. O autor
reitera que ocorre um processo de aparecimento
e sumiço do clitóris na literatura médica ocidental, que segundo Foucault (1979) faz parte de
uma eficiente tecnologia de controle do corpo
feminino a partir do discurso biológico e moral.
Apresentar o processo contraditório de
aparecimento e desaparecimento do clitóris é
relevante pelo fato de ser uma explicitação do
controle social sobre o corpo da mulher, pois o
órgão mencionado era concebido apenas como
a função de proporcionar prazer à mulher, sem
caráter reprodutivo, o que era um problema, pois
representava uma ameaça à normalidade na relação heterossexual. Contudo, estes estudos e controvérsias obtinham como principal finalidade,
além de normatizar a reprodução humana, estruturar detalhadamente uma política sexual para os
sujeitos tornarem-se seus próprios reguladores,
instituindo uma série de condutas consideradas
apropriadas (FRAGA, 2000).
A todo este processo, Foucault (1979)
intitula de histerização do corpo da mulher
em que este passa a ser analisado como integralmente saturado de sexualidade e, posteriormente, colocado em comunicação com o
corpo social, espaço familiar e com a vida das
crianças, reafirmando, mais uma vez, uma série de normas e papéis socialmente impostos
que devem ser seguidos.
Posteriormente aos acontecimentos mencionados, mais precisamente no fim do século XVIII, as sociedades ocidentais modernas
criaram e instalaram um novo dispositivo: o da
sexualidade, que seria relacionado com as sensações corporais, a natureza das impressões, a
qualidade dos prazeres. O dispositivo da sexualidade “tem como razão de ser não o reproduzir,
mas o proliferar, inovar, anexar, inventar, penetrar nos corpos de maneira cada vez mais detalhada e controlar as populações de modo cada
vez mais global” (FOUCAULT, 1979, p. 101).
Para Foucault (1979), o dispositivo da sexualidade centra-se na família, tendo nela como
27
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O termo homossexualidade foi conceituado ainda no século XIX (LOURO, 2001)
para caracterizar os indivíduos que fugiam dos
padrões da normalidade no que diz respeito à
sua opção sexual. À medida que a sociedade
se tornou mais preocupada com a vida dos
seus membros, ela passa a se atentar cada vez
mais para o disciplinamento dos corpos e com
a vida sexual dos indivíduos. O que antes era
tido como uma atividade indesejável ou pecaminosa, agora passava a ser vista sob uma
nova perspectiva: “a prática passava a definir
um tipo especial de sujeito que viria assim
a ser marcado e reconhecido. Categorizado
e nomeado como desvio da norma, seu destino só poderia ser segredo ou segregação”
(LOURO, 2001 p.542).
É importante ressaltar que relações afetivas e amorosas entre sujeitos do mesmo sexo
já existiam antes desta época, mas não eram
nomeadas como homossexualidade, mas consideradas práticas pecaminosas. Com o advento desse novo conceito, essa prática passa a
“indicar um tipo particular de pessoa, um tipo
social, uma ‘espécie’ de gente que se desviara
da ‘normalidade’ ” (LOURO, 2010).
Nos anos que compreenderam o século
XX, mas precisamente na década de 1940, houve certa preocupação com o controle da natalidade para que a família fosse constituída pelo
tipo certo de indivíduo, e um zelo maior em
relação aos papéis apropriados para homens e
mulheres. Já a partir de 1950, houve uma caça
àqueles que iam contra os padrões comportamentais e heterossexuais, pois eram considerados diante da sociedade como degenerados.
A década de 1960 foi marcada por um
período de transição, onde houve um relaxamento dos velhos códigos de autoritarismo e
uma descoberta de novos modos de regulação
social. Por volta dos anos de 1970 e 1980 houve uma reação contra aquilo que não foi tido
como excessos da década anterior, devido ao
fim da ditadura, o reestabelecimento da democracia, a abertura política e à anistia possibilitando estudos referentes a gênero, raça, etnia,
classe social e sexualidade baseado nos estudos
sobre mulheres e suas relações sociais (SILVA
JÚNIOR, 2009) tornando então a sexualidade
como “uma verdadeira questão política de primeira linha, com a Nova Direita identificando o
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principais agentes os pais e os cônjuges e exteriormente os médicos, pedagogos e psiquiatras.
No decorrer do século XIX, percebe-se de
uma maneira mais clara a presença e implantação mais acentuada do referido dispositivo no
cotidiano social, pautado agora em um novo
conceito, o de biopoder, utilizando-o como uma
forma de repressão e controle dos corpos. A sociedade, neste período, volta seus olhares para
as mulheres com o intuito de assegurar uma
imagem de “pureza”. Mas isso não ocorria, pois
ainda havia o predomínio da prostituição o que
acarretava o aumento das doenças venéreas.
Como diz Weeks (2000), esse século foi marcado por uma dose de hipocrisia moral, quando
se aparentava respeitabilidade ao sujeito, e sua
prática era totalmente contraditória e carregada
de princípios pré-estabelecidos.
No período compreendido entre 1860 até
1890, “a prostituição, as doenças venéreas, a
imoralidade pública e os vícios privados estavam no centro dos debates devido o aumento
dessas práticas no século, muitas pessoas viam
na decadência moral um símbolo da decadência social” (WEEKS, 2000, p. 37).
Esse modo de compreensão ou concepção de mundo fazia com que a sexualidade se
tornasse uma obsessão pública, que buscava
controlar, ao máximo, os corpos, ditando suas
formas de ação e distinguindo o comportamento “normal” do “anormal”, começando
então a transformar-se em uma questão, sendo
“objeto de atenção do estado, da medicina, das
leis, além de continuar a ser tema da religião”
(LOURO, 2010, p.334)
Ao longo de todo século XIX, o Estado
preocupou-se cada vez mais com a organização e controle de suas populações, procurando
meios de garantir a vida e a produtividade de
seus povos, voltando-se para a disciplinarização, regulação da família, da reprodução e das
práticas sexuais. Nas décadas finais deste século, surge uma nova disciplina: a sexologia, em
que médicos, filósofos, moralistas e pensadores
começaram a pesquisar mais profundamente
sobre o sexo, inventando classificações de sujeitos, práticas sexuais e determinando o que
era normal ou não, adequado e sadio. A partir
de então, as diferenças entre sujeitos e suas práticas sexuais eram determinadas de acordo com
o olhar de tais autoridades. (LOURO, 2010).
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28
“declínio da família”, o feminismo e a nova militância homossexual como potentes símbolos
do declínio nacional” (WEEKS, 2000, p. 49).
Inspirados então no movimento feminista,
em 1978, os/as homossexuais, criaram a primeira associação gay do Brasil, indicando o início da luta pelo reconhecimento social de suas
identidades sexuais (SILVA JÚNIOR, 2009).
Todo este movimento em busca do respeito e da visibilidade veio a transformar a vida
cultural dos indivíduos, construindo espaços
de lazer e arte, e constituindo aquilo que veio
a se chamar política de identidades, conceituada como um “conjunto de movimentos sociais
organizados que teve e tem como protagonistas
grupos historicamente subalternizados (mulheres, jovens, negros, gays e lésbicas)” (LOURO,
2010, p. 336). Foi a partir deste marco que gays
lésbicas e mulheres começaram a falar suas experiências amorosas e sexuais.
Os debates acerca da sexualidade tornaram-se mais frequentes com a erotização dos
corpos infantis, o aumento de adolescentes
grávidas, das doenças sexualmente transmissíveis – DST, a desconstrução do arquétipo
familiar tradicional (BRAGA, 2010) e, principalmente, a proliferação da AIDS, a partir
dos anos de 1980, que, segundo Silva Júnior
(2009), deu maior visibilidade à causa homossexual, transgredindo as fronteiras convencionais da heterossexualidade hegemônica.
Com o advento da AIDS, surgiram diversas alianças de solidariedade entre amigos e
parentes, não necessariamente homossexuais,
para se discutir normas de sexo seguro e de
prevenção com o intuito de mostrar à sociedade outras maneiras de vivenciar a sexualidade,
o prazer e o desejo. Outro fator relevante e
que influenciou nas futuras discussões acerca
da sexualidade era a ideia que se tinha a respeito da AIDS, que era considerada um câncer gay, desencadeando assim um sentimento
homofóbico em diversos indivíduos ( SILVA
JÚNIOR, 2009). A partir de então, mais especificamente no Brasil, a sexualidade passa
a ser discutida em várias instâncias sociais,
inclusive nas escolas, através do Ministério da
Educação e Cultura estimulando projetos de
educação sexual (LOURO, 2010).
Além de todo esse movimento promovido, principalmente, por homossexuais e o advento da AIDS, Louro (2010) ainda relata que:
outros grupos não priorizam, propriamente as reivindicações de inclusão social, mas preferem desafiar as fronteiras
tradicionais de gênero e sexuais – em
outras palavras, esses grupos decidem
por em xeque as dicotomias masculino/
feminino, homem/mulher, heterossexual/homossexual e pretendem, de muitos
modos, atravessar e perturbar essas
fronteiras. Há, ainda, aqueles que não
se contentam em atravessar as divisões,
mas decidem viver a ambiguidade da
própria fronteira. Sujeitos que. deliberadamente, inscrevem em seus corpos,
suas roupas, seu comportamento e atitudes signos masculinos e femininos
buscando embaralhar esses signos,
afirmando-se propositalmente, como
diferentes, estranhos, queer – para usar
um termo bem contemporâneo (p. 338)
Como citado, Louro (2004) utiliza em
suas obras o termo queer, que traduzido do
inglês pode ser entendido como estranho, esquisito, palavra esta empregada para se referir,
de forma pejorativa, a um sujeito não heterossexual. Enquanto para alguns, a referida palavra serviu e serve para marcar uma posição
marginalizada e abominada, para outros, ela
indica um movimento, a não acomodação,
uma disposição, um modo de ser e viver. Do
termo queer, surge uma nova teoria, intitulada
por Teoria Queer, que segundo a autora, possibilita o pensamento em torno da “ambiguidade, a multiplicidade e a fluidez das identidades
sexuais e de gênero, mas, além disso, também
sugere novas formas de pensar a cultura, o conhecimento, o poder e a educação” (p. 47).
Para Fraga (2000), a referida temática assumiu o caráter da verdade mais profunda a
respeito de nós mesmos. Surge então a sexualidade como um dos temas centrais da atualidade, sendo vista como objeto de controle do
corpo e também social.
A construção da história da sexualidade, diante dos fatos supracitados, passa então
por dois momentos de ruptura voltados para
os mecanismos de repressão, um deles ocorre
no século XVII com o nascimento das grandes
proibições, uma valorização da sexualidade
adulta e matrimonial, contenção e controle da
linguagem e o outro no século XX, quando
Para compreender o pensamento foucaultiano e seu conceito de biopoder, é relevante
ressaltar que a sexualidade é considerada um
dispositivo histórico, uma invenção social, que
se constituiu a partir de diversos discursos sobre
o sexo, que tinham como intenção regular, normatizar, instaurar saberes e produzir verdades
(FOUCAULT, 1979). Para o autor, a definição
de dispositivo é tida como um conjunto que
possui componentes distintos que englobam
discursos, instituições, leis, enunciados científicos, o dito e o não dito, entre outros, sendo o
dispositivo a rede ou conexão que se estabelece
entre esses elementos (FOUCAULT, 2008).
29
poder disciplinador e normalizador que
já não se exercia sobre os corpos individualizados nem se encontrava disseminado no tecido institucional da sociedade, mas se concentrava na figura do
Estado e se exercia a título de política
estatal que pretendia administrar a vida
e o corpo da população.(p. 3).
Foucault (2008) pontua outros dois aspectos considerados relevantes para a constituição
do conceito de biopoder na Idade Média, e que
interferiu e interfere ainda hoje no processo de
interjeição do sujeito. Primeiramente, a confissão (dispositivo religioso), pois através desse
dispositivo de poder, os prazeres individuais,
os sentimentos, desejos, vontades e as próprias
emoções da alma, poderiam ser requisitados,
conhecidos, medidos e regulados (MENDES,
2006). E, em um segundo plano, o exame de
consciência, disposta enquanto circunstância,
em que os sujeitos, através dos parâmetros
impostos por instituições e quadros morais,
avaliariam consigo mesmos suas atitudes e
pensamentos analisando se corresponderia ou
não com os valores morais socialmente estabelecidos (MENDES, 2006).
A confissão e o exame de consciência são
logo, considerados técnicas e dispositivos para
a constituição do biopoder, atuando no sentido
de estimular
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3.2. Biopoder em Foucault
Considerando as prerrogativas supracitadas, Foucault desenvolve seu estudo no campo
da sexualidade, apropriando-se dos referidos
conceitos como a base de toda sua discussão,
principalmente no que concerne ao estabelecimento das definições de biopoder e biopolítica.
O conceito de biopoder (e biopolítica) é
citado pela primeira vez em sua obra História
da Sexualidade, volume um, sendo abordada
através de uma comparação sobre o poder que
os pais de família romanos obtinham sobre o
direito de vida e morte de seus filhos e escravos, afirmando então que o biopoder e a biopolítica vem com o intuito de regular e controlar
os corpos como feito antigamente na sociedade
romana (FOUCAULT, 1979). Segundo Duarte
(2008), eles são idealizados por Foucault ao
vislumbrar no decorrer do século XVIII e, sobretudo na virada para o século XIX,
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começa um afrouxamento dos mecanismos
de repressão (FOUCAULT, 1979), tornando
os debates acerca da sexualidade uma prática usual, mas que ainda objetiva o controle e
dominação dos corpos, estabelecendo papéis
socialmente padronizados.
Diante dos aspectos históricos apresentados, percebemos que o corpo e a concepção
de sexualidade que hoje se configura na sociedade incorporaram os valores vigentes em
décadas anteriores, é uma transmissão cultural
com idealizações, padronizações e normatizações advindas através dos séculos, portanto, uma construção sócio-histórica. Perfis de
“beleza, saúde, doença, vida, juventude, virilidade, entre outras, não deixaram de existir,
apenas transmudaram-se, incorporaram outros contornos, produziram outros contornos”
(GOELLNER, 2010, p. 38).
Partindo então desse constructo histórico referente à sexualidade, observamos, na
atualidade, que esta será modelada a partir da
junção de dois elementos: o subjetivo e o social que estão intimamente ligados através do
corpo. A sociedade tornou-se cada vez mais
preocupada com a vida de seus membros, assim como com o disciplinamento dos corpos e
com as vidas sexuais dos indivíduos, possibilitando o surgimento de poderes que regulam o
comportamento sexual (WEEKS, 2000). Que
poder é esse que emerge capilarmente na sociedade estabelecendo padrões de comportamento? Responder a essa pergunta não é algo
simples, mas complexo, o que nos move ao
próximo item deste artigo.
30
os sujeitos a praticar uma estética de
si, procurando alcançar o melhor que
podem fazer de suas vidas em vários
campos: no trabalho, em sua aparência,
em suas relações familiares e com os
amigos, estando tudo isso imbricado
com valores morais que remetem a uma
vasta gama de sentimentos, relativos a
outros, mas em especial, a nós mesmos.
Mais do que uma projeção externa sobre nós, é uma projeção nossa em nós
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mesmos (MENDES, 2006, p. 175).
A idealização do biopoder, partindo da
afirmação, vem então com o intuito de se juntar às reflexões sobre as práticas disciplinares.
Disciplinas essas que se centram no corpo de
uma maneira mecânica: no seu adestramento,
no acréscimo de suas aptidões, no crescimento
de sua utilidade e docilidade, na sua conexão
em sistemas de controle eficazes e econômicos
(FOUCAULT, 1979), ou seja, se voltam para
o sujeito, seu corpo, sua normalização (linha
auferida nas proporções e variáveis aceitas
pelo coletivo os pelos padrões institucionais)
e domesticação (saber que limita a liberdade e
o espaço de um corpo, invadindo e delineando
seu meio social) por meio das inúmeras instituições panópticas, como, por exemplo, a escola, a fábrica, o hospital, a prisão (Foucault,
1989) dentre outras e que poderíamos inclusive acrescentar os espaços da Dança.
Segundo Foucault (1989), eram instituições que docilizavam os corpos e os colocavam
prontos à produção industrial, em vigência enquanto produção central na fase do capitalismo
Nesse sentido, o biopoder é concebido
com o intuito de reger a vida da população,
organizando-a e vigiando-a para assim buscar
atender a determinadas expectativas de modernização e progresso. O biopoder é entendido então como “a gestão da vida como um
todo, uma técnica, um poder sobre o biológico
que vira tema central nas discussões políticas”
(CUPELLO, 2010, p. 3).
Pode-se afirmar, diante dos aspectos supramencionados, que o biopoder é baseado na
disciplina e vigilância do sujeito. Badiali (2009)
afirma que: “o poder disciplinar age através da
inscrição desses corpos em espaços determinados, do controle do tempo sobre eles, da vigilância contínua e permanente, e da produção
de saber por meio dessas práticas de poder” (p.
21). Então, se a disciplina opera sobre os indivíduos, o biopoder age sobre o ser humano, no
corpo, que perpassa pelo aspecto orgânico do
ser vivo, como base nos processos biológicos,
por intermédio dos processos de saúde coletiva, nascimentos, mortalidades e longevidades.
Para o autor, o ato de cuidar desse corpo acarretará, dessa forma, em modelos controlados nos
aparelhos de produção capitalistas.
Ainda sobre biopoder, Duarte (2008)
menciona a relação que Foucault faz com a
sexualidade, aqui intitulada por ele de dispositivo da sexualidade:
a partir do momento em que passou à
análise dos dispositivos de produção da
sexualidade, Foucault percebeu que o
sexo e, portanto, a própria vida, se tornaram alvos privilegiados da atuação
de um poder que já não tratava simplesmente de disciplinar e regrar comportamentos individuais, mas que pretendia
normalizar a própria conduta da espécie
ao regrar, manipular, incentivar e observar fenômenos que não se restringiam
mais ao homem no singular, como as
taxas de natalidade e mortalidade, as
condições sanitárias das grandes cidades, o fluxo das infecções e contaminações, a duração e as condições da vida
etc. A partir do século XIX já não importava apenas disciplinar as condutas
individuais, mas, sobretudo, implantar
um gerenciamento planificado da vida
das populações. Assim, o que se produzia por meio da atuação específica do
biopoder não era mais apenas o indivíduo dócil e útil, mas era a própria gestão da vida do corpo social. O sexo se
tornou então um foco privilegiado para
o controle disciplinar do corpo e para
a regulação dos fenômenos da população, constituindo-se o que o autor denominou como dispositivo da sexualidade
(Op. cit., p.3).
Diante do exposto, o autor anuncia o corpo e a sexualidade, como técnicas e dispositivos centrais de controle para além do indivíduo: a sociedade, o coletivo. Duarte (2008),
a partir de estudos foucaultianos, nos permite
perceber como as instituições, historicamente
construídas na atualidade, reproduzem as marcas deixadas nos corpos, e, o espaço da dança
como parte de todo esse processo, nos revela
esses interditos, os fechamentos aos corpos
proibidos de estarem ali, participando e expressando uma forma particular de cultura.
A discussão do conceito de biopoder remete-nos ao próximo tópico deste artigo, buscando pensar o corpo a partir da corporeidade,
procurando compreender como se constitui a
complexa rede de subjetividades, dentre essas
questões, o gênero, para posteriormente discutir-se como o biopoder, o gênero, os processos
de normalização e a sexualidade influenciarão
nas concepções de comportamentos modelos,
esperados para meninos e meninas durante
suas práticas cotidianas, mais especificamente
nas aulas de dança.
normais, inscrevendo e hierarquizando as práticas sexuais, em que os sujeitos são marcados
e denominados a partir dessa referência que,
posteriormente, os classifica como desviantes
da norma, cabendo aos mesmos o destino ou a
segregação (MORAES, 2006).
Pode-se considerar que gênero e sexualidade atrelam-se em um constructo histórico,
que se consolidou no decorrer dos séculos, e
cultural, que determina, de acordo com a cultura, as variadas formas de sentir-se homem e
mulher e seus respectivos papéis, definindo o
que é normal e anormal na ótica de determinada sociedade (LOURO, 2007). De acordo com
Louro (2000),
31
a inscrição dos gêneros — feminino ou
masculino — nos corpos é feita, sempre, no contexto de uma determinada
cultura e, portanto, com as marcas des-
4. Sexualidade e Gênero: possíveis
enredamentos
sa cultura. As possibilidades da sexualidade — das formas de expressar os
desejos e prazeres — também são sempre socialmente estabelecidas e codificadas. As identidades de gênero e sexuais são, portanto, compostas e definidas
por relações sociais, elas são moldadas
pelas redes de poder de uma sociedade
Torna-se claro, diante de tais discussões,
que é, no âmbito cultural e histórico que se
definem as identidades sociais mais especificamente aqui tratadas identidades referentes a
gênero e sexualidade, que constituirão os sujeitos a partir de diferentes situações, instituições
ou agrupamentos sociais. Então, reconhecer-se
em uma determinada identidade pressupõe-se pertencer a um grupo social de referência
(LOURO, 2000), ou seja, a sexualidade e a
questão do gênero são carregadas de valores
próprios de cada cultura e períodos históricos,
podendo-se afirmar que, por exemplo, atos sexuais fisicamente idênticos podem ter significação social variada e variado sentido subjetivo,
de acordo com a cultura (WEEKS, 2000).
Diante dos conceitos já explicitados,
(biopoder, sexualidade, gênero) e, traçados
seus possíveis enredamentos, cabe-nos, por
fim, relacioná-los à dança e, aos processos de
normalização construídos no decorrer da história, pois estes se mantêm ainda hoje como
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(Op. cit., p. 9).
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Sexualidade e gênero são dois conceitos
que inúmeras vezes são confundidos ou considerados palavras sinônimas, mas na realidade
não são, apesar de estarem intimamente interligados. Suas diferenças demarcarão lugares,
influenciarão comportamentos, maneiras e
determinadas práticas no exercício do prazer
sexual, intitulado como feminino e masculino,
partindo de corpos que correspondem de maneira diferente, na sua interface com o campo
biológico (SILVA, 2008).
Para Louro (1997), a questão do gênero
está ligada à identificação histórica e social dos
sujeitos, que se denominam como femininos
ou masculinos, já a sexualidade indica diretamente a forma com que os sujeitos experienciam seus desejos corporais, de variadas maneiras, podendo ser sozinhos/as, com parceiros
do mesmo sexo ou não. Esta dada sexualidade,
segundo Souza (1999) não é fixa, mas se constrói ao longo da vida, ela se torna a verdade definitiva sobre cada sujeito e seus corpos suscitando também segundo Foucault (1979) como
elemento especulativo a noção do sexo.
O gênero perpassa a sexualidade, possibilitando em determinados momentos históricos,
a delimitação das características principais
que compõem a masculinidade e feminilidade
32
dispositivos de controle e vigilância dos sujeitos, perspectivando algumas discussões relacionadas ao papel do professor de Educação
Física, que busca se posicionar contrário aos
processos exclusórios.
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
5. Biopoder e os processos de
normalização na dança
A dança tem se constituído ao longo dos
anos em um espaço de corporificação de sexualidades que, articuladas com as representações culturais, define e regula comportamentos adequados para homens e mulheres. Cada
estilo de dança trará consigo um mecanismo
cultural que produzirá tipos específicos de
políticas de masculinidades e feminilidades
(ANDREOLI, 2010). Um corpo quando é definido como sendo do sexo masculino, torna-se
codificado por uma rede de valores culturais,
com comportamentos e atitudes sociais esperadas da referida masculinidade (SANTOS,
2009), comportamentos estes que se estabelecem socialmente e que compreendem a dança
como uma ação não estabelecida para homens.
Os referidos valores culturais, considerados essencialmente masculinos e femininos, configurarão tipificações dos papéis
pertinentes ao homem e a mulher, englobando
aprovações, restrições e proibições que são
transmitidas ao longo das gerações e influenciarão na sexualidade do sujeito enquanto ser
subjetivo e membro da sociedade. Bandeira e
Domingues (2010) afirmam que:
os homens são reconhecidos dentro dos
inúmeros espaços que estão inseridos e,
para que isso ocorra, primeiramente, é
preciso localizar o tempo e o espaço no
qual eles estão circulando, isso porque
as masculinidades são construídas socialmente e historicamente, variando de
uma cultura para outra (Op. cit., p.3).
Na cultura vigente ocidental, cabe aos meninos serem fortes, independentes, dominantes,
competentes e agressivos, eliminando expressões físicas de conteúdo emocional ou que transpareçam sensibilidade, enquanto às meninas
compete serem dependentes, sensíveis e afetuosas (NEGREIROS E CARNEIRO, 2004).
Para se entender melhor o processo da
dança, enquanto modalidade voltada para
meninas, torna-se necessário conceituá-la e
discuti-la dentro da esfera do biopoder. Achar
(1998) define a dança como “o entendimento
completo das possibilidades físicas do corpo
humano, a qual permite exteriorizar um estado latente, pelos jogos dos músculos, segundo
as leis naturais do ritmo e da estética” (p. 15).
O aparato físico mencionado emerge das expressões corporais embebidos de sentimentos
e emoções fazendo com que o homem transcenda ao movimento simples, técnico e sem
sentido ou significado.
Então, a dança enquanto expressão corporal, é a exteriorização de sentimentos, partindo opostamente aos valores socialmente julgados como masculinos. Meninos que dançam
são considerados gays, pois os mecanismos
articulados pelo biopoder disciplinar (MAIA,
2011), vinculam à sociedade o valor de que o
homem não pode se expressar corporalmente
de forma suave e demonstrar seus sentimentos
através da dança.
O biopoder é um dispositivo que orienta
a vida em sociedade por dentro, decifrando-a
e rearticulando-a (BRAGA, 2004). A atuação
do biopoder na dança como objeto de controle
dos corpos, afirma-se em dois níveis de exercício: de um lado as técnicas, implicadas nos
corpos através da disciplina e do poder disciplinar, e, do outro o corpo percebido, como
parte de uma espécie (população) com suas
leis e regularidades determinadas. Dos referidos níveis, surge o processo de disciplinarização, que através do biopoder irá padronizar e
normatizar os papéis e atividades pré-determinadas para homens e mulheres. Para Foucault
(1979), a fabricação do biopoder se processa
e se insere nas fábricas, hospitais, hospícios,
prisões e outras instituições necessárias para a
vida da sociedade: em nosso estudo, revela-se
nas aulas de dança.
Com relação ao exposto, Mondardo
(2009) afirma que
a ação do poder sobre o corpo atua para
a normatização do comportamento, a
partir do adestramento e da imposição
na forma de movimento dos sujeitos. O
objetivo é controlar as inúmeras formas
territoriais que se formam para admi-
para a manutenção dos comportamentos dos corpos através da mobilidade
adestrada, buscando torná-la cada vez
mais “limitada”, e desta forma, controlada (p. 4).
Portanto, o processo de ação do biopoder sobre os corpos julga, condena e classifica
(BRAGA,2004) homens que dançam como
indivíduos que vivem à margem da sociedade, transformando então as práticas dançantes
como exclusivamente femininas.
Partindo do referido pressuposto, além
dos já mencionados, outro fator que reafirma nas crianças e adolescentes o panóptico
de papéis pré-determinados, em que dançar
é considerado, ao ver da sociedade, prática
de homossexuais, mais popularmente falada
como “coisa de gay”, advém inicialmente da
própria família como os processos de normalização, que simultaneamente também produzem e reproduzem os panópticos sociais,
constituídos pela cultura, auxiliando assim, a
normatização, regulação e instituição dos modos masculinos de ser e suas respectivas práticas. Quando há esta interferência negativa
por parte da família, ocasiona um determinado
medo de se perder a identidade masculina, um
choque de identidades, ou seja, neste processo
de normatização, para constituir-se “como um
sujeito heterossexual um indivíduo é estimulado e obrigado a negar tudo àquilo que possa
o mais vagamente possível ser associado à homossexualidade” (ANDREOLI, 2010, p.87).
Nota-se, então, que o biopoder determina
todo e qualquer papel social, investindo sobre
toda a vida do sujeito, desde a biológica até
a cultural (FERREIRA, 2008). Dessa forma,
para ser aceito, ser considerado normal e estar
dentro dos padrões sociais, os sujeitos devem
abnegar suas vontades e desejos, permitindo
que suas práticas e sua construção sexual sejam determinadas pelos mecanismos de poder
estabelecidos socialmente.
Esses mecanismos de poder trazem, em
seu bojo, o imaginário de que homens, ao
dançar, se aproximam de uma tendência ao
homossexualismo, tornando-a então um elemento marcante e de peso na prática da dança
por parte dos homens, sendo apontada como
um obstáculo social por não estar enquadrada nas representações culturais hegemônicas
de masculinidade (ANDREOLI, 2010). Este
rótulo homossexual aos praticantes da dança,
afeta não somente a vida externa, mas também sua própria consciência (BANDEIRA;
DOMINGUES, 2010).
Justifica-se assim a procura quase que
absoluta das meninas no campo da dança, e
para não ficar à margem ou ser um sujeito
desviante da norma, cabe aos meninos praticar esportes, principalmente o futebol, considerado interesse masculino obrigatório e um
elemento essencial para manutenção/produção
da masculinidade (SANTOS, 2009).
No Projeto COMUNI, notou-se, com frequência, atitudes preconceituosas e carregadas
desses valores culturais e processos normalizadores, construídos e impostos pela sociedade
no decorrer dos anos. Em várias aulas, pode-se
observar como os meninos se sentiam coagidos
com a presença de garotos que não fossem da
turma e até mesmo das próprias companheiras.
Em inúmeras situações os meninos paravam
na metade da aula e sentavam, pois afirmavam
que as meninas estavam zombando deles, chamando-os de gays, “mocinhas”, entre outros.
Quando outros meninos assistiam, nenhum dos
alunos (homens) fazia aula e, quando ao término os chamávamos para conversar, afirmavam
não participar, pois não se sentiam à vontade
de dançar na frente dos outros garotos. Não
era raro o depoimento de insultos e alunos relatando as agressões verbais. Outro relato interessante foram as afirmações em que os alunos
admitiam dançar escondidos e que não participariam de nenhuma apresentação por medo de
serem classificados como afeminados.
Por esse motivo, percebemos que parece haver uma relação entre o quantitativo de
alunos e alunas que participam das aulas de
dança no Projeto COMUNI em decorrência
do processo de normalização estabelecido
pela sociedade. A nomenclatura na qual foram
classificados a zombaria dos amigos, vizinhos,
familiares, e até mesmo durante as aulas por
parte das companheiras de turma, os tornam
infrequentes ou desistentes, pois são diversas
vezes coagidos e inibidos, apresentando comportamentos retraídos ou agressivos.
Diante dessa problemática, cabe ao profissional de Educação Física intervir durante
33
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
nesse sentido, é de suma importância
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nistrar os corpos. A produção do poder,
34
as aulas com diálogos ou até mesmo propiciando experiências para que haja uma desconstrução do conceito de que dançar é “coisa
de gay”, mostrando aos sujeitos que a sexualidade é algo subjetivo e construído ao longo do
tempo, cabendo a cada um escolher o local e a
opção sexual que se sentir melhor. É evidente
que essa prática não trará resultados imediatos, é uma construção e uma mudança gradual
e em longo prazo, que exigirá do profissional
paciência e determinação.
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Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
6. Considerações Finais
Na intenção de compreender os processos
exclusórios que emergiam de nossa experiência em um projeto de dança no município de
Volta Redonda, buscou-se o referido trabalho.
O processo de discutir como a constituição
do processo de normalização dos corpos cotidianamente se produz na sociedade atual, nos
permitiu acessar outros conhecimentos antes
não vislumbrados em nossas leituras e debates acadêmicos. Portanto, acreditamos que, a
intenção de discutir os processos de controle que a sociedade “usa” para normatizar as
ações dos sujeitos- estabelecendo papéis que
definem os indivíduos como sendo masculino
ou feminino, e inscrevendo em seus corpos padrões que devem ser seguidos, tendo a sexualidade como referência - foi atingido.
Percebemos que, diante da padronização,
refletem-se, atualmente, determinadas ações,
sendo a dança uma prática que inibe e coíbe
a participação de meninos, gerando aos que a
praticam, comentários que vão muitas vezes
confrontar suas identidades sexuais pelo fato
da dança se caracterizar enquanto expressão
de sentimentos.
Assim, a prática da dança não define a sexualidade dos sujeitos e cabe aos profissionais
de Educação Física trabalhar nesta vertente,
conscientizando os alunos que a identidade
sexual de cada sujeito é construída subjetivamente, independente do indivíduo dançar ou
não, possibilitando a eles a vivência de todas
as modalidades, sejam elas esportivas ou apenas expressivas.
Outro aspecto importante a ser ressaltado, é a percepção de que o corpo é um processo de construção histórica, pois muitos fatos
importantes e marcantes que ocorreram desde
o início do século XVIII até o fim do século XX interferiram na sexualidade como uma
forma de controle dos corpos e da sociedade:
do dispositivo da sexualidade ao biopoder.
Assim, entendendo a sexualidade como
um dispositivo histórico e uma invenção da
sociedade a fim de regular os comportamentos, temos o biopoder como forma de disciplinarização normalizando e domesticando os seres através de instituições panópticas, regendo
assim, a vida da população para que atendam
às expectativas de modernização e progresso.
Sendo assim, ficou evidente que o biopoder se
baseia na disciplina e vigilância do sujeito.
Outro aspecto importante a ser salientado
é a impossibilidade de tratar de sexualidade
sem levar em consideração sua íntima relação
com as questões de gênero. Vimos que podemos entender como gênero a identificação
histórica dos sujeitos denominando-se como
femininos ou masculinos. Já a sexualidade trata da forma como esses sujeitos optam em vivenciar seus desejos sexuais. Essa forma não é
fixa, ela se constrói ao longo da vida. Quando
o gênero perpassa a sexualidade, delimita as
características que compõem a feminilidade e
a masculinidade, marcando e denominando os
sujeitos que fogem a essa delimitação como
‘anormais’. Falamos aqui como o gênero e a
sexualidade, de forma atrelada, determinam as
várias formas de sentir-se homem ou mulher e
quais são seus papéis, definindo o que é normal e desvio sob a visão de uma determinada
sociedade. Entendemos que as identidades sociais, inclusive as de gênero e sexualidade, são
compostas e definidas por relações sociais que
formam grupos com identidade determinada e
os sujeitos reconhecem-se como parte desses
grupos de acordo com suas atitudes.
Em nossa pesquisa vimos que a dança
se constitui em um desses espaços em que a
sexualidade se corporifica articulando as representações culturais, definindo e regulando comportamentos que são adequados aos
homens e às mulheres. Um comportamento
masculino deve expressar força, competência e
agressividade, sem conteúdo emocional, como
a dança é uma prática de expressão corporal e
de exteriorização de sentimentos, meninos que
dançam são considerados gays. Esses valores
culturais são transmitidos de geração a gera-
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Cadernos UniFOA
ção influenciando na sexualidade dos sujeitos
enquanto ser subjetivo e membro da sociedade.
Enfim, a homossexualidade é apontada
como um obstáculo à prática da dança por meninos, pois, mesmo de forma inconsciente eles
agem de forma a contribuir com a manutenção da masculinidade. Observamos em nossas
aulas de dança várias atitudes preconceituosas
e depois de nossa pesquisa pudemos entender
que essas atitudes fazem parte de uma construção histórica e cultural que viabilizam os
processos normalizadores construídos no decorrer dos anos.
Entende-se que os profissionais de
Educação Física podem contribuir de maneira
a esclarecer que todos têm o direito de expressar seus sentimentos da maneira como preferirem, e que não é a dança que define a sexualidade das pessoas. Acredita-se então, que
trabalhando de forma a incentivar o respeito
às diversidades, contribuir-se-á na diminuição
dos processos exclusórios e/ou discriminatórios na sociedade.
36
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Carla de Oliveira dos Santos
[email protected]
Cadernos UniFOA
Endereço para Correspondência:
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
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In: LOURO, Guacira Lopes. O corpo
educado: pedagogias da sexualidade. 2. ed.
Belo Horizonte: Autêntica, 2000. 168 p.
39
Luciana Aparecida Cruz de Siqueira Pegas1
Sabrina Kelly Alves Honório1
Valesca da Silva Gonzalez1
Carolina Lorejam Crespo1
Bianca Ribeiro Barreto1
Henrique José do Nascimento1
Antonio Macedo D’Acri2
Maria Inês Fernandes Pimentel1,3
Sandro Javier Bedoya Pacheco1,3
Palavras-chave
Dermatoses
Idosos
Diagnóstico
Prevalência
Resumo
Estudos demonstram que, comparados com outros grupos de doenças, as
dermatoses estão entre as mais frequentes patologias em consulta com médico generalista. Além disso, a faixa etária de 60 anos ou mais (idosos) é particularmente relevante, tendo em vista o envelhecimento gradual da população
e necessidade cada vez maior de serviço médico qualificado, direcionado
a este grupo populacional para diagnosticar e tratar as doenças específicas
dessa idade. São necessários estudos epidemiológicos para determinar as
dermatoses prevalentes, de modo a planejar melhor o atendimento e estabelecer prioridades e estratégias de cuidado, definindo áreas da Dermatologia
que necessitam de maior atenção. O presente estudo tem o objetivo de conhecer a prevalência das dermatoses nos idosos atendidos pela especialidade
Dermatologia da Policlínica do UniFOA, de modo a prover subsídios para
melhorar o atendimento. Como metodologia, informações foram obtidas a
partir de prontuários de 4.928 pacientes atendidos pela Dermatologia na Policlínica- UniFOA e os dados referentes a fevereiro de 2002 até maio de 2010
foram transferidos para um banco de dados e armazenados em computador.
Diagnósticos dermatológicos foram divididos em grandes categorias para
efeito de análise, realizada com o auxílio do pacote estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 16.0. Os idosos corresponderam
a 10,24% do total dos pacientes e, dentre eles, a mediana de idade foi de 67
anos. Dermatoses infecciosas / infestações corresponderam à maioria dos
casos (24,2%), seguida por eczemas (19,8%) e fotoenvelhecimento (8,9%).
As neoplasias representaram 3,8% das afecções cutâneas. Saber quais são
as doenças dermatológicas que mais comumente acometem este parcela de
pacientes é importante para a otimização de estratégias voltadas ao seu diagnóstico e tratamento, principalmente daquelas que tem maior prevalência.
1 Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA), Curso de Medicina.
2 Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNI-RIO).
3 Fundação Oswaldo Cruz, Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (IPEC).
Artigo
Original
Original
Paper
Recebido em
10/2012
Aprovado em
04/2013
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Prevalent dermatological diseases in elderly treated in an outpatient
dermatologic clinic in a primary care unit (Polyclinic UniFOA) in Volta
Redonda, RJ, between 2002 and 2010.
ISSN
1809-9475
Cadernos UniFOA
Dermatoses prevalentes em idosos atendidos em um ambulatório de
dermatologia de uma unidade básica de saúde (Policlínica UniFOA) de Volta
Redonda, RJ, entre 2002 e 2010.
40
Abstract
Studies show that, compared to other groups, skin diseases are among the most
frequent diseases in consultation with a general practitioner. Furthermore,
aged 60 or older (elderly) are particularly relevant in view of the gradual
aging of the population and increasing need for qualified medical service
directed to this population group to diagnose and treat specific diseases of
this age. Epidemiological studies are needed to determine the prevalent skin
diseases in order to better plan and prioritize care strategies, defining areas
of Dermatology that need more attention. This study aims to determine the
prevalence of skin diseases in the elderly served by Dermatology specialty
at Polyclinic UniFOA, in order to improve care. Information was obtained
from medical records of 4,928 patients seen by the Dermatology outpatient
clinics at Polyclinic-UniFOA from February 2002 through May 2010, and
data were transferred to a database and stored in computer. Dermatological
diagnoses were divided into broad categories for analysis, performed with
the aid of the Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) version 16.0.
Elderly accounted for 10.24% of the total of the patients, and, among them,
the median age was 67 years. Most cases corresponded to skin infections /
infestations (24.2%), followed by eczema (19.8%) and photoaging (8.9%).
Neoplasms accounted for 3.8% of skin disorders. It is important to learn the
most common skin diseases that affect this portion of patients to optimize
strategies aimed at diagnosis and treatment, particularly for those that have
a higher prevalence.
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
1. Introdução
Espera-se que, em 2050, muitos países tenham mais de 30% de suas populações
constituídas por pessoas idosas (ONU, Madrid
International Plan of Action on Ageing, 2002).
No Brasil, o Estatuto do Idoso (Lei no 10.741,
de 1º de Outubro de 2003) em seu artigo 1º,
considera como tais “as pessoas com idade
igual ou superior a 60 (sessenta) anos”.
Queixas dermatológicas são muito frequentes na atenção básica de saúde, tornando
extremamente necessário o treinamento médico em doenças cutâneas (AL SHOBAILI,
2010; NORMAN; MÖLSTAD, 2010). Alguns
estudos demonstram que, comparados com
outros grupos de doenças, as dermatoses são
mais frequentes ou estão entre as mais frequentes razões para consulta ao médico generalista (SCHOFIELD et al., 2011). Estudos
epidemiológicos são necessários para determinar as dermatoses mais prevalentes, de modo
a planejar melhor o atendimento e estabelecer
prioridades e estratégias de cuidado, definindo
áreas da Dermatologia que necessitam de mais
atenção. Educação e treinamento apropriados
em doenças dermatológicas são necessários
para os estudantes de Medicina e para todos os
profissionais que lidam ou lidarão com aten-
Keywords
Dermatological
Diseases
Elderly
Prevalence
ção básica de saúde. A faixa etária de 60 anos
ou mais é particularmente relevante, tendo em
vista o envelhecimento gradual da população.
O presente projeto visa conhecer a frequência das dermatoses na faixa de idade
acima de 60 anos, de modo a aprofundar o
conhecimento sobre as doenças na pele do
idoso, bem como prover subsídios para melhorar o atendimento dermatológico aos pacientes atendidos na Policlínica Três Poços
(UniFOA). É necessário conhecer a ocorrência de doenças cutâneas infecciosas, dermatites ou eczemas, distúrbios dos pelos e dos
pigmentos, neoplasias em idosos. Esperamos
fornecer informações que possam auxiliar na
elaboração de futuros parâmetros diagnósticos
e terapêuticos direcionados às dermatoses nos
idosos, especialmente no que se refere à identificação dos pacientes com doenças de maior
gravidade ou de maior risco de insucesso no
tratamento. Por outro lado, pretendemos contribuir para melhorar as medidas de controle
e prevenção das doenças cutâneas nesta faixa
etária, considerando que a Policlínica UniFOA
é um centro de referência para o atendimento em Dermatologia no município de Volta
Redonda e municípios vizinhos (Pinheiral,
Barra Mansa, Barra do Piraí, Arrozal, Quatis).
Acreditamos ser o ponto de partida de projetos
Trata-se de um estudo descritivo retrospectivo. Desde 2002, são computados todos
os atendimentos realizados pelo ambulatório
de Dermatologia na Policlínica UniFOA. As
informações são obtidas a partir dos prontuários (informações secundárias) e constam
das seguintes variáveis: gênero, idade, cor,
diagnóstico(s) dermatológico(s), CID-10.
Os dados referentes a fevereiro de 2002
até maio de 2010 foram coletados e transferidos para um banco de dados, ficando sob o
cuidado dos professores responsáveis e dos
alunos envolvidos no projeto. A anonimidade
dos pacientes foi totalmente garantida.
A análise dos dados constou de medidas
de proporção para as variáveis categóricas
(gênero, cor, diagnóstico(s), CID-10), bem
como medidas de tendência central e dispersão para a variável quantitativa contínua (idade). Os diagnósticos dermatológicos foram
41
3. Resultados
Dentre 4.928 pacientes atendidos no
ambulatório de Dermatologia da Policlínica
UniFOA, entre 01 de fevereiro de 2002 e 31
de maio de 2010, 505 pacientes tinham idade
entre 60 e 98 anos, perfazendo 10,24% do total (Fig.1), sendo a mediana de idade 67 anos.
Dentre estes, trezentos e quarenta e um (67,5%)
eram do sexo feminino, e 163 (32,3%) do sexo
masculino. Quanto a cor, havia 1% de pardos,
31,3% de negros e 67,5% de brancos (Fig. 2).
Figura 1 - Proporção de idosos quanto à idade (n=505)
Figura 2 - Proporção de idosos quanto à cor
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
2. Materiais e métodos
divididos em grandes categorias para efeito
de análise, a saber: dermatoses infecciosas /
infestações (produzidas por vírus, bactérias,
fungos, protozoários, ácaros, larvas, etc); eczemas e afins (englobando as diversas formas
de dermatites); distúrbios da pigmentação (hipercromia, hipocromia, acromia); distúrbios
dos pelos (alopecias, hirsutismo, etc); neoplasias; fotoenvelhecimento; nevos; e outras
(dermatoses não passíveis de agrupamento nas
categorias acima discriminadas).
Os dados foram analisados com o auxílio
do pacote estatístico Statistical Package for the
Social Sciences (SPSS for Windows versão 16.0).
Cadernos UniFOA
relacionados às dermatoses nos idosos, grupo
etário que cresce em importância à medida
que ocorre o processo natural de envelhecimento da população.
42
Dentre as dermatoses encontradas neste grupo de idosos, aquelas caracterizadas como infecciosas /
infestações corresponderam à maioria dos casos (24,2%), seguida por eczemas (19,8%) e fotoenvelhecimento (8,9%) (Fig. 3).
Figura 3 - Distribuição dos pacientes quanto às dermatoses prevalentes
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
4. Discussão
Existem dermatoses que estão relacionadas com a idade, estando os pacientes idosos
em risco para uma grande variedade de alterações da pele, desde a xerose cutânea até o
melanoma, de alto risco para a vida. Um estudo no México relacionou como as dermatoses mais frequentes encontradas em idosos,
tanto em um serviço geriátrico quanto em um
serviço de dermatologia (com achados semelhantes em ambos): ceratose actínica, onicodistrofia, xerose, prurigo, doenças vasculocutâneas, lentigos solares, ceratose seborreica,
doença de Favre-Racouchot, angiomas rubi
e hipomelanose guttata (Vargas-Alvarado et
al, 2009). Já na Croácia, estudo semelhante
com pacientes geriátricos em um ambulatório
de dermatologia, revelou que os diagnósticos
mais comuns entre as pessoas de 65 anos ou
mais foram: ceratose actínica, ceratose seborreica, eczema numular, dermatite alérgica de
contato, micoses, psoríase, verrugas vulgares,
fibromas, nevos; e que o número de pacientes
com ceratose actínica, ceratose seborreica e
micose foi significativamente maior entre os
idosos do que em uma população mais jovem
(CVITANOVIC et al., 2010). Os pacientes por
nós estudados tiveram como suas principais
queixas dermatológicas as infecções/infestações cutâneas e os eczemas ou lesões afins;
e, em menor escala, o fotoenvelhecimento, os
distúrbios da pigmentação, e as neoplasias.
Quase 24% dos pacientes idosos atendidos na Policlínica UniFOA entre 2002 e
2010 apresentaram infecções ou infestações
cutâneas. Uma susceptibilidade aumentada a
infecções entre idosos é observada (Maillard,
2011) e é indicativa de que a imunidade cutânea se torna defeituosa com a idade
(VUKMANOVIC-STEJIC et al., 2011).
Os eczemas e lesões afins representaram
cerca de 1/5 das queixas principais dos pacientes analisados. O conteúdo de ácidos graxos
livres na pele é bastante diferente entre pessoas jovens e pessoas idosas (JACOBSON et
al., 1990). Fatores intrínsecos (predisposição
genética), fatores extrínsecos próprios da idade (efeito do dano causado pelo sol e debilidade geral da saúde) (DAVIES, 2008), uso
de diuréticos e medicações similares, abuso
de aquecedores ou ar condicionado (WHITECHU; REDDY, 2011) são fatores contribuintes que podem afetar a pele em idosos. Três
fatores fisiológicos ocorrem com a idade e
podem conduzir à alta prevalência de problemas dermatológicos pruriginosos em idosos:
o reparo da barreira epidérmica está diminuído; o sistema imune nos idosos apresenta um
balanço alterado entre as funções dos linfócitos T helper 1 (Th1) e T helper 2 (Th2); e
desordens neurodegenerativas podem levar
ao prurido através de efeitos centrais ou periféricos (BERGER; STEINHOFF, 2011). O
sobrevivência específica relacionada à doença
significativamente menor em pacientes mais
idosos. A probabilidade de desenvolvimento
de melanoma nos Estados Unidos aumenta de
0,15% (homens) e 0,28% (mulheres), entre o
nascimento e 39 anos, para 1,85% (homens) e
0,81% (mulheres) para pessoas com 70 anos
ou mais (AMERICAN CANCER SOCIETY,
CANCER FACTS & FIGURES, 2011).
43
5. Conclusão
O conhecimento das dermatoses que afetam os idosos é importante para o estabelecimento de estratégias voltadas ao seu diagnóstico e tratamento, por exemplo, a verificação da
possibilidade de realização de exames complementares como o exame micológico, e o entendimento com outros serviços em nível municipal para viabilizar o tratamento de lesões como
as neoplasias cutâneas. Com este estudo, esperamos contribuir para um melhor atendimento
voltado aos pacientes com 60 anos ou mais na
Policlínica UniFOA, nos anos vindouros.
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Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
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Cadernos UniFOA
prurido é uma queixa frequente em idosos, e
estes frequentemente apresentam numerosas
comorbidades que dificultam a determinação
da causa do prurido, bem como seu tratamento
(PATEL; YOSIPOVITCH, 2010; REICH et
al., 2011). A xerose causa prurido, que leva a
escoriações e a risco aumentado de infecções
cutâneas (WHITE-CHU; REDDY, 2011).
Fotoenvelhecimento foi encontrado em
pouco menos de 10% dos nossos pacientes
idosos, e distúrbios da pigmentação foram encontrados em menos de 5% destes. Nesta faixa
etária, são comuns os lentigos solares e outras
alterações com fisiopatologia menos definida, como a hipomelanose guttata idiopática
(SHIN et al., 2011).
O aumento da ocorrência de câncer na
população em geral é principalmente explicado pelo progressivo envelhecimento da
população (BUZZONI et al., 2011). O câncer
de pele é particularmente importante entre os
idosos, e o diagnóstico precoce e tratamentos
adequados constituem-se em fatores cruciais
para reduzir a morbimortalidade com ele relacionada. A ocorrência de câncer cutâneo
não melanoma é comum em pacientes nesta
faixa etária, sendo sua principal causa a exposição ao sol (PERROTTA et al., 2011); a
deficiência da imunidade cutânea nos idosos
aumenta também a susceptibilidade ao câncer (VUKMANOVIC-STEJIC et al., 2011).
Metade de todas as lesões cirurgicamente removidas da cabeça e pescoço de pessoas com
60 anos ou mais, em um hospital da Croácia,
eram tumores malignos, dentre os quais os
mais comuns eram carcinomas basocelulares (ALERIC; BAUER, 2011). A incidência
do melanoma cutâneo está crescendo nos
Estados unidos, especialmente em pacientes
com 65 anos ou mais (SIMARD et al., 2012).
Num estudo de 364 pacientes, com diagnóstico de melanoma atendidos na Santa Casa
de Misericórdia de São Paulo entre maio de
1993 e janeiro de 2006, 52% tinham mais de
60 anos, e a mediana de idade foi de 61 anos;
os idosos foram significativamente mais afetados por lesões de pior prognóstico – mais
espessas e ulceradas (FERRARI JR et al.,
2008). Rutkowski et al. (2010) também observaram que as lesões de melanoma em pacientes idosos (≥ 65 anos) eram mais espessas e 70% apresentavam ulceração, sendo a
44
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Valesca da Silva Gonzalez
[email protected]
Cadernos UniFOA
Endereço para Correspondência:
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
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47
O Médico a partir do imaginário coletivo de último anistas de Medicina
The Medical Doctor from the collective imaginary of last year of Medicine students
Maria Auxiliadora Motta Barreto¹
Glauber Correia de Oliveira²
Rosana Gonçalves Oliveira²
Samara Guerra Carneiro²
Desenho-Estória
com Tema
Medicina
Original
Paper
Resumo
O objetivo do trabalho foi considerar o imaginário coletivo de último anistas
de um curso de medicina, sobre a profissão do médico, a partir de pesquisa
feita em um projeto de Iniciação Científica. Foram realizados encontros coletivos com alunos voluntários do 11º e 12º períodos. Utilizou-se o procedimento de Desenhos-Estória com Tema, tendo sido analisados 17 Desenhos-Estória. A partir de uma abordagem psicanalítica, foram descritos determinantes
lógico-emocionais, destacando a predominância de campos psicológicos não
conscientes, como o que diz respeito às produções em que são expressas a
imagem que os alunos têm sobre o médico e seu paciente, percebendo-se
descaracterização da figura de ambos. Destacaram-se concepções mercantilistas, como a representação da profissão apenas como um cifrão e representações estereotipadas, como o “homem vitruviano”, mostrando dificuldade
em integrar ideias pré-concebidas acerca da profissão. Assim, constata-se
a necessidade de reapropriação do jovem, da própria escolha profissional e
aproximação da realidade que será vivenciada enquanto médico.
Abstract
This study was aimed to consider the collective imagination of their last year
of medical students about the medical profession, from a research done on
a project of Undergraduate Research. Group meetings were performed with
students from 11 and 12 periods. We used the procedure with DrawingsStory theme whose were analyzed 17. From the psychoanalytic approach, we
obtained logical-emotional determinants that sustain the collective imagination
as conduct, highlighting the prevalence of unconscious psychological fields,
which refers to productions that are expressed in images that students have
about the doctor and his patient, noticing the picture is distorted in both.
Mercantilist concepts were highlight, for example, the representation of the
profession as a dollar sign and stereotypical representations, as the “vitruvian
man”, showing difficulty in integrating pre-conceived ideas on the profession.
So, we can realize the necessity of reappropriation of their own choice and
approximation of the reality to be experienced as a medical professional.
Recebido em
09/2012
Aprovado em
04/2013
Key-words
Collective
imaginary
Draw Stories
with a Theme
Medicine
1 Doutora em Psicologia como Profissão e Ciência, PUC-Campinas; docente e orientadora de projeto de iniciação científica no Centro
Universitário de Volta Redonda (UniFOA) e da Universidade de São Paulo (USP-Lorena)
2 Graduandos em Medicina na Escola de Ciências Médicas de Volta Redonda (UniFOA); pesquisadores do projeto de iniciação científica)
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Imaginário
coletivo
Artigo
Original
Cadernos UniFOA
Palavras-chave:
ISSN
1809-9475
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
48
1. Introdução
mação generalista, humanista, crítica e
reflexiva, capacitado a atuar, pautado
Sabe-se que a satisfação laboral e pessoal do
indivíduo está relacionada com o estilo de vida e
com a personalidade de cada um (BARRETO,
2000; BARRETO et al., 2009). Partimos do
princípio de que a escolha profissional está diretamente relacionada com essa satisfação e optamos por pesquisar o que pensam jovens médicos,
sobre a profissão, em um momento em que já
atuam como internos e em que as práticas individuais e coletivas vão se consolidando.
O trabalho, além de uma atividade humana
natural e que promove desenvolvimento e manutenção da saúde do ser humano é, também, uma
atividade comercial criada pela sociedade, exigindo gastos e energia física e mental. Portanto,
é uma atividade que, invariavelmente, acompanha as várias mudanças da vida cotidiana e
que sofre alterações constantemente, ao longo
de toda a história, caracterizando-se como fenômeno de grande complexidade (BARRETO;
VAISBERG, 2007). Dessa forma, o trabalho é
parte da vida física e emocional de cada pessoa,
sendo sua escolha influenciada diretamente pelos sentimentos do indivíduo.
Em se tratando da área da saúde, com
a constante desvalorização que o setor vem
sofrendo, nos últimos anos, devido às dificuldades impostas pelo mercado de trabalho,
os jovens estão se sentindo cada vez menos atraídos pela área, embora ainda exista
a marca do status, já que a medicina é uma
das faculdades mais conceituadas como promissora e de grande sucesso, como apontam
diversas obras sobre escolha e orientação
profissional (BARRETO; VAISBERG, 2007;
SPARTA, 2003; NORONHA; AMBIEL,
2006, WOLECK, 2002).
Como participantes ativos na escola de medicina, seja como docente ou como discentes,
podemos observar claramente a diferença entre
como os estudantes se portam e falam sobre a
profissão, em função de diversas concepções,
daquilo que é preconizado nas diretrizes curriculares nacionais da graduação em medicina.
Art. 3º O Curso de Graduação em Medicina tem como perfil do formando
egresso/profissional o médico, com for-
em princípios éticos, no processo de
saúde-doença em seus diferentes níveis
de atenção, com ações de promoção,
prevenção, recuperação e reabilitação à
saúde, na perspectiva da integralidade
da assistência, com senso de responsabilidade social e compromisso com
a cidadania, como promotor da saúde
integral do ser humano (CONSELHO
NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2001)
Essas diferenças entre as atitudes e verbalizações dos estudantes do curso, do que é
preconizado, despertam a necessidade de atuar
preventivamente junto aos jovens que fazem
parte dessa realidade. É muito comum os estudantes encontrarem dúvidas, medo, insegurança e vários outros sentimentos que podem
prejudicar seu desempenho profissional e sua
satisfação na carreira escolhida (BARRETO,
2000; BARRETO; VAISBERG, 2007).
Assim, consideramos, neste trabalho, a
dramática do viver adolescente a respeito da
escolha profissional (WINNICOTT, 1975),
em especial a escolha da profissão do médico. Para isso, utilizamos a visão blegeriana
(BLEGER, 1963) sobre a necessidade de considerar todas as condições concretas em que
um fenômeno ocorre.
A escolha profissional é uma conduta
eminentemente humana e o que é aplicado à
conduta é também aplicado às escolhas, sendo que ambas são influenciadas pelo pessoal
e pelo social.
Baseamo-nos no conceito de campos psicológicos propostos por Bleger (1975), enfatizando que a dramática humana é forjada na relação com o outro (BARRETO; VAISBERG,
2007) e em conjunto com a coletividade.
A partir desse contexto, este artigo foi escrito como resultado de um projeto de iniciação
científica. O objetivo da pesquisa foi avaliar o
imaginário coletivo de estudantes de medicina,
sobre a profissão do médico. Para esse estudo
foram considerados estudantes de uma escola
médica do interior do estado do Rio de Janeiro,
prestes a se formar, ou seja, que cursavam o 11º
e o 12º períodos no ano de 2009.
49
3. Resultados e Discussão
Foram obtidos 17 desenhos-estórias dos
últimos anistas, considerados válidos, produzidos por nove (9) alunos do 11° e por oito (8 )
alunos do 12° períodos do curso de Medicina.
Durante a realização do procedimento, houve
certa dificuldade em encontrar os alunos devido à diferença de horários entre eles, por serem internos. Entre os que foram contatados,
a maioria mostrou interesse em participar da
pesquisa, porém, houve aqueles que se recusaram ou copiaram o desenho do colega.
Na análise dos Desenhos-Estória com
Tema, percebemos uma predominância de alguns campos psicológicos não conscientes e
dentre eles destacamos:
3.1. Sem cara, sem coração
Esse campo diz respeito às produções em
que são expressas as imagens que os alunos
têm sobre o médico e seu paciente. Nota-se
que, na maioria dos desenhos-estória, o paciente não é sequer referenciado, o mesmo
acontecendo com a figura do próprio médico.
Foi percebida uma descaracterização da figura
de ambos e, quando representados, foi de forma incompleta como, por exemplo, a presença
apenas do tronco de um médico (figura 1), ou
sem características relacionadas ao solicita-
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
O desenho metodológico empregado nesta pesquisa foi qualitativo. Assim, esperamos
compreender as idealizações acerca da profissão e as expectativas de quem estará no mercado de trabalho, em breve.
Baseando-nos no conceito de que o homem é um ser essencialmente social e considerando que cada pessoa expressa sua conduta
tanto em âmbito individual, quanto em âmbito
coletivo (BLEGER, 1963), abordamos o imaginário de estudantes de medicina, enquanto
um grupo que representa uma coletividade.
Podemos abordar as atitudes humanas
de maneira singular e subjetiva, porém, é possível também que o coletivo represente uma
ação mais globalizada e que não especifica a
particularidade de cada indivíduo e, assim, a
análise é feita em sua totalidade. O imaginário
coletivo avalia um conjunto de ideias e imaginações, dando a conhecer expressões afetivas e
emocionais inconscientes, através de condutas
manifestas. O conceito de transicionalidade de
Winnicott (1967/1975) também foi aqui empregado, uma vez que atribui, ao lugar a que nos referimos, o significado de espaço intermediário,
ou transicional, entre o que é percebido objetivamente e concebido subjetivamente (AIELLOVAISBERG, 2004). Nesse espaço intermediário é que julgamos encontrar o real significado
de pensamentos, sentimentos e ações humanas.
(BARRETO; VAISBERG, 2007).
Fizemos uso, assim, do procedimento de
Desenhos-Estória com Tema, para tal investigação. Realizamos a pesquisa com alunos
do 11º e 12º períodos durante o ano de 2009,
convidando os estudantes a participarem de
uma atividade que se tornaria uma pesquisa.
Ressaltamos que os procedimentos somente
foram desenvolvidos após submissão e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisas com
Seres Humanos do UniFOA.
Para obtermos a produção, foram distribuídas folhas de sulfite A4 e foi solicitado,
aos alunos, que desenhassem um médico, da
seguinte forma: “Desenhe um (a) médico(a)
e, depois, escreva uma estória sobre ele(a),
no verso da folha. Pedimos não assinar a folha, mas colocar sua idade e sexo”. O procedimento de Desenho-Estórias com Tema, nos
modelos de Aiello-Vaisberg (2004) e Trinca
(1987) para análise do imaginário coletivo, é
bastante utilizado como recurso de abordagem
de temas com difícil acesso e que não se apresentam no campo consciente e/ou suscitam
emoções indesejáveis (BARRETO, 2006).
Após a obtenção dos desenhos-estória,
foi iniciada a análise dos mesmos, no grupo
responsável pela pesquisa. Numa abordagem
psicanalítica, foi feito o uso de associações livres e atenção flutuante, devidamente ajustado
da prática clínica para a pesquisa. Utilizamos
as ideias que Silva (1993, p. 20) destaca, adotando, como nossa, a concepção que o método
em psicanálise caracteriza-se:
...por uma espécie de jogo em que fantasias
de ambos os interlocutores organizam-se em
busca de um consenso sempre questionado a
respeito do avesso do que foi dito. Ou seja, o
método da psicanálise caracteriza-se por abertura, construção e participação.
Cadernos UniFOA
2. Metodologia
50
do, como no desenho de um surfista (figura
3). Também chama a atenção a falta total de
figura 1
alusão a pessoas, caracterizando a despersonalização (figura 2).
figura 2 figura 3/
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
3.2. Real versus Ideal
Em trabalho anterior (BARRETO et al.,
2009), na mesma linha que seguimos aqui, mas
com outra população, a idealização aparecia de
forma imatura, impregnada da fantasia do ideal
de médico. Nesse campo, eram apresentados
médicos como responsáveis únicos pela saúde
e bem-estar do paciente, capazes de solucionar
todos os problemas, totalmente incansáveis e
a medicina aparecia como verdade absoluta.
Aqui, com este grupo, pelo estágio de formação – último anistas –, era esperado que os estudantes estivessem mais próximos da realidade
profissional do médico, até mesmo pelo que
preconizam as próprias DCN´s (2001, p.3):
Art. 5º A formação do médico tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos
figura 4
requeridos para o exercício das seguintes
competências e habilidades específicas:
XVI - lidar criticamente com a dinâmica
do mercado de trabalho e com as políticas de saúde;
No entanto, os jovens apresentaram, por
exemplo, concepções como: apenas um cifrão
(figura 4) ou a medicina exclusivamente como
doação de si (figura 5), ou ainda, representações
estereotipadas, como o “homem vitruviano”
(figura 6) ou a representação do paciente com
o corpo e do médico apenas com cabeça (figura
7), atestando uma certa soberania deste e fragilidade daquele. Tais representações mostram
a dificuldade em integrar ideias pré-concebidas
acerca da profissão com a prática profissional.
figura 5
51
Esse campo do imaginário retrata a existência de uma dúvida persistente que envolve
a dificuldade em lidar com aquilo que se considera como oposto. O imaginário configura-se de acordo com as linhas que definem uma
estrutura de conduta onde se distinguem o bom
e o mau, o certo e o errado, o desejado e o encontrado, como polaridades inconciliáveis. O
médico é apresentado como sujeito à indecisão
total, pura e simples, o que foi retratado por pontos de interrogação (figura 8) ou à escolha entre
dois caminhos (figura 9), ou ainda é apresentado como pendendo sempre entre polos opostos.
Por exemplo, quando é apresentado como escravo e senhor – crucificado (figura 10), ou ainda
quando coloca a profissão como uma profissão
de contrastes, antagonizando o relacionamento
interpessoal com remuneração (figura 11).
figura 8
figura 9
figura 10
figura 11
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
3.3. E agora?
figura 7
Cadernos UniFOA
figura 6
52
4. Considerações Finais
A análise do material coletado na pesquisa
nos faz considerar que, nos moldes preconizados
pelas DCN´s, a formação do profissional médico
não vem proporcionando uma representação da
profissão que possa ser considerada integrada.
O imaginário apresentado não condiz
com a ênfase humanista esperada, e demonstra
preocupações voltadas ao mercado de trabalho,
mais do que quanto ao exercício da profissão.
Na amostra em questão, em similaridade com
pesquisa anterior foi identificada uma tendência a encarar a medicina como negócio, com
onipotência, independente do paciente, ou
como um estereótipo que, ao longo da formação, precisaria estar mais próximo da práxis.
Encarada assim, a opção pela profissão e
a formação profissional deixam de ser momentos integrados e passam a ser um sintoma de
problema que impede a expressão do self, acarretando diversas desadaptações. O que se apresenta indica a necessidade de reapropriação,
pelo jovem, da própria escolha e aproximação
da realidade que será vivenciada enquanto profissional de medicina, apontando para a importância de estratégias psicoprofiláticas a serem
desenvolvidas junto aos futuros médicos.
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
5. Referências
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emprego: uma perspectiva histórica. Revista
Leonardo Pós – Instituto Catarinense de
Pós-Graduação, v. 1, p. 1, 2002.
Endereço para Correspondência:
Maria Auxiliadora Motta Barreto
[email protected]
Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA
Av. Paulo Erley Abrantes, 1325
Três Poços - Volta Redonda/RJ
CEP: 27240-560
53
O uso não prescrito de metilfenidato entre acadêmicos de Medicina
The nonmedical use of methylphenidate among medical students
Samara Guerra Carneiro1
Airton Salviano Teixeira Prado1
Hermiton Canedo Moura1
João Francesco Strapasson1
Natália Ferreira Rabelo1
Tiago Turci Ribeiro1
Eliane Camargo de Jesus2
Automedicação
Estudantes de
Medicina
Original
Paper
Resumo
O metilfenidato é um fármaco do grupo dos anfetamínicos. A potencialização do
desempenho cognitivo apresentado pelo medicamento atrai pessoas saudáveis que
buscam a melhora de sua performance. Este estudo teve como objetivo analisar a
prevalência do uso não prescrito do metilfenidato entre os estudantes de Medicina. Estudo transversal no qual obtivemos informações a partir de um questionário
aplicado aos alunos do 1° ao 8 ° períodos do curso de Medicina. Encontramos uma
prevalência de 23,72% para o uso indiscriminado desse estimulante entre os acadêmicos. Não houve diferença significativa de consumo entre homens e mulheres.
Dentre as pessoas que fazem o uso indiscriminado, 64,86% informaram ter apresentado efeitos colaterais. Desses 23,72%, 13,51% usam o fármaco para estudar para
todas as provas do período letivo, e 10,81% tiveram que aumentar a dose da droga
para tentar obter o mesmo efeito de quando iniciaram o uso. Por outro lado, 86,49%
dos que usam indiscriminadamente relataram aumento do poder de concentração
e ainda 54,05% observaram uma melhora do rendimento acadêmico. Observamos
um relevante aumento do uso com o decorrer do curso, pois, a distribuição dos 37
participantes que já fizeram uso do metilfenidato de forma indiscriminada se deu
entre o 3º e 8º períodos, sendo a maior distribuição no último período analisado. Por
fim, existe a necessidade de melhor compreender os diferentes fatores envolvidos
na resposta e na adaptação ao estresse inerente ao curso de Medicina para poder
ajudar na prevenção do uso inadequado de metilfenidato pelos futuros médicos.
Abstract
Methylphenidate is a drug that belongs to the group of amphetamine. The
enhancement of cognitive performance presented by the drug attracts healthy people
seeking to improve their performance. This study aimed to analyze the prevalence of
non-prescribed use of methylphenidate substance among medical students. Crosssectional study in which we obtained information from a questionnaire, was applied
over students from 1st to 8th semesters of medical school. We found a prevalence of
23.72% for the indiscriminate use of this stimulant among academics. There was no
significant difference in consumption between males and females. Among the people
who make indiscriminate use, 64.86% of them reported side effects. Also out of this
23.72%, 13.51% used the drug to study for all tests of the school year, and 10.81% had
to increase the dosage to get the same effect as when they started using it. Moreover,
the remaining 86.49% of whom use indiscriminately, reported increase in power of
concentration and yet, 54.05% observed an improvement in academic performance.
We noticed a significant increase in the use of the drug throughout the Medical
Degree. Once there is no report of usage in the early semesters, the distribution of the
37 participants, who have used methylphenidate indiscriminately, took place between
the 3rd and 8th semesters, with the largest concentration in the last period analyzed.
Finally, there is the need to better understand the different factors involved in the
response and adaptation to the stress, inherent to medical school, in order to help
preventing the inappropriate use of methylphenidate by future doctors.
1 Discente do curso de medicina do Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA
2 Docente do curso de medicina do Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA
Keywords
Amethylphenidate
Self medication
Medical students
Recebido em
10/2012
Aprovado em
04/2013
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Metilfenidato
Artigo
Original
Cadernos UniFOA
Palavras-chave
ISSN
1809-9475
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
54
1. Introdução
O metilfenidato é um fármaco do grupo dos anfetamínicos que tem como forma
comercial mais conhecida a Ritalina®. Essa
substância, classificada como estimulante
do sistema nervoso central, apresenta efeitos
mais proeminentes sobre a atividade mental
do que a motora. (COCCARO et al., 2006).
Seu mecanismo de ação está relacionado
ao estímulo direto de receptores alfa e beta
adrenérgicos ou à liberação, indiretamente,
de dopamina e noradrenalina nos terminais
sinápticos (PASTURA; MATTOS, 2004).
Tem como principais indicações, o tratamento
da narcolepsia, em que se observa sonolência diurna, episódios de sono inapropriados e
ocorrência súbita de perda de tônus muscular
voluntário, e do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) que consiste
em um padrão persistente de desatenção e/ou
hiperatividade. Surge antes dos sete anos de
idade e interfere em pelo menos duas áreas de
atuação da criança, como lar, colégio e grupo
de amigos (PASTURA; MATTOS, 2004).
Devido ao aumento de casos diagnosticados de TDAH, prevalente transtorno neurocomportamental, foi facilitado o acesso ao
metilfenidato e às anfetaminas, medicamentos indicados ao controle dessa síndrome
(WILENS et al., 2008).
A potencialização do desempenho cognitivo apresentado pelo medicamento atrai
pessoas saudáveis que buscam melhorar seu
desempenho. Isso, frequentemente, ocorre
quando são submetidas a situações que exijam
uma maior capacidade neste sentido. O termo
“Cognitive enhancement” traduzido como
“aperfeiçoamento cognitivo”, surgiu, segundo Teixeira (2005) no início do ano 2000 para
indicar a possibilidade de uma droga - além
de sua indicação médica - “aperfeiçoar” artificialmente uma capacidade já presente.
Os universitários, devido a suas obrigações e cobranças internas, representam grande
parcela dos usuários que não apresentam indicações clínicas, como TDAH (DE SANTIS
et al., 2008). No Brasil, ainda não existe uma
palavra ou expressão estabelecida para nomear essa prática, porém, surgiram algumas
denominações, tais como: “uso instrumental
de remédios”, “drogas para turbinar o cére-
bro”, “neurologia cosmética”, “dopping cerebral” e “drogas de inteligência” (BARROS;
ORTEGA, 2009) . Cruz et al. (2011), em um
estudo realizado na Universidade Federal da
Bahia encontraram uma prevalência de 8,3%
para o uso não prescrito do metilfenidato entre
os acadêmicos de Medicina.
O uso desse fármaco tem autorização legal para o tratamento de pessoas com doenças
e transtornos psiquiátricos. O metilfenidato
está incluído na Convenção de Substâncias
Psicotrópicas de 1971 da ONU, assim, esse
medicamento necessita de um controle especial, pois apresenta risco de abuso e dependência (BARROS; ORTEGA, 2011). Apesar disso,
estudantes de medicina- por serem sobrecarregados com vasto conteúdo e pelos momentos
de estresse, que correspondem principalmente
ao período de avaliações- representam o grupo
de estudantes que mais comumente faz uso indiscriminado da droga, sem se preocupar com
os efeitos colaterais (POSADA, 1996, apud
MENDONZA, 2002). Entre os de curto prazo,
destacam-se anorexia e insônia, seguidas de dor
abdominal e cefaleia. Já, em longo prazo, o destaque maior é para a dependência, sendo esse
um risco mais teórico do que prático, segundo
Pastura e Mattos (2004).
Apesar da realidade vivenciada, poucos
estudos têm sido realizados no mundo com o
intuito de verificar a prevalência do uso indiscriminado de metilfenidato. Em estudo realizado pelo Ministério da Saúde da Colômbia,
Posada (1996, apud MENDONZA, 2002)
demonstrou que os acadêmicos de Medicina
foram os maiores consumidores entre os grupos de universitários selecionados. Alguns
estudos norte-americanos mostraram uma
importante prevalência do uso dessa droga,
principalmente entre universitários. Babcock
e Byrne (2000) encontraram a prevalência de
16% em estudo realizado numa universidade
do Estado de Massachusetts. De Santis et al.
(2008), em estudo realizado na Universidade
de Kentucky, mostraram uma frequência de
34%. McCabe et al. (2005) apontaram que
6,9% dos estudantes de diversas faculdades
norte-americanas faziam uso. Por outro lado,
Bassols et al. (2008) mostraram que nenhum
acadêmico da Faculdade de Medicina da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
informou usar a droga.
Estudo transversal, cuja amostra foi os alunos do curso de Medicina do Centro Universitário
de Volta Redonda, localizado na cidade de Volta
Redonda, no Estado do Rio de Janeiro, no período de agosto a novembro de 2011.
Após o trabalho ter sido aprovado pelo
Comitê de Ética, foi aplicado um questionário padronizado e autoexplicativo aos alunos
do 1° ao 8° períodos. Foram sorteados aleatoriamente 20 alunos de cada sala, totalizando
160 pessoas. Todos os estudantes do curso de
Medicina do 1° ao 8° períodos, independente do sexo, foram incluídos no estudo. Foram
55
3. Resultados
A pesquisa foi realizada entre os dias
31 de outubro e 16 de novembro de 2011,
no Centro Universitário de Volta Redonda.
Alunos do 1° ao 8 ° períodos do curso de
Medicina participaram do estudo. Foram sorteados 20 alunos de cada sala, de forma aleatória, totalizando 160 pessoas, sendo que 4
recusaram-se a participar, 3 destes do primeiro
período e 1 do quinto período. Entre os participantes, 72 (45%) eram do sexo feminino e 88
(55%) do sexo masculino.
Dos resultados avaliados, 94,23% (147)
dos participantes já ouviram falar da droga metilfenidato e 62,82% (98) do total conhecem
o mecanismo de ação. Todos os alunos analisados, 23,72% (37) relatam que já fizeram ou
fazem o uso indiscriminado da droga e apenas
2,56% (4) utilizam a medicação sob prescrição
médica para o tratamento de T.D.A.H.
Figura 1: Comparação do uso e não uso do metilfenidato pelos entrevistados
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
2. Materiais e Métodos
excluídos os indivíduos que se recusaram a
participar da pesquisa e os menores de dezoito
anos, além dos internos, alunos do 9° ao 12°
períodos do curso, pois esses não eram submetidos a períodos de prova como os demais.
Cadernos UniFOA
Esse estudo teve como objetivo geral
identificar a prevalência do uso indiscriminado da substância metilfenidato entre os estudantes de Medicina do Centro Universitário
de Volta Redonda - RJ. Entre os específicos,
destacam-se: analisar se há aumento do uso da
droga no decorrer do curso, comparar o uso
entre alunos calouros e veteranos, investigar
os benefícios e riscos da sua utilização, descrever os efeitos colaterais observados pelos
estudantes e por fim, conscientizar os alunos
sobre o uso errado do fármaco.
56
Dentre as pessoas que utilizam o medicamento indiscriminadamente, 22 são homens,
representando 25% da amostra masculina e 15
são do sexo feminino, representando cerca de
20% das mulheres que participaram da pesquisa.
Das pessoas que fazem o uso indiscriminado, 64,86% (24) informaram ter apresentado efeitos colaterais, sendo os mais fre-
quentes, taquicardia e ansiedade seguidos de
tremores, perda de apetite e boca seca, respectivamente. Mesmo apresentando efeitos
colaterais, 27,03% (10) continuam fazendo o
uso da droga de acordo com as necessidades
da faculdade. E ainda 51,35% (19) sentem-se
cansados após o término do efeito.
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Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Figura 2: Efeitos colaterais mais frequentes em função do uso de metilfenidato
Desses 23,72% (37), 13,51% (5) usam
o fármaco pra estudar para todas as provas
do período letivo, e 10,81% (4) tiveram que
aumentar a dose da droga para tentar obter o
mesmo efeito de quando iniciou o uso.
Por outro lado, mesmo com todas essas
desvantagens citadas, 86,49% (32) dos que
usam indiscriminadamente relataram melhora do poder de concentração e ainda 54,05%
(20) observaram uma melhora do rendimento
acadêmico.
A partir das informações coletadas, observamos um relevante aumento do uso com o
decorrer do curso, uma vez que nos períodos
iniciais (primeiro e segundo), não há relato de
uso. A distribuição dos 37 participantes que já
fizeram uso do metilfenidato de forma indiscriminada se deu entre o 3º e 8º período, da seguinte forma: no 3º período, tivemos 2 alunos, assim
como no 4º período (onde também observamos
2), no 5º período, 3 relataram uso. No 6º período,
oito pessoas já fizeram o uso, este mesmo número foi observado no 7º período, enquanto que no
8º período, 14 relataram fazer o uso. Com isso
podemos constatar que o uso do medicamento
aumenta progressivamente.
Figura 3: Porcentagem de estudantes por período que fazem uso indiscriminado do metilfenidato
57
5. Conclusão
Observarmos que a prevalência do uso
indiscriminado do metilfenidato entre os acadêmicos de medicina do Centro Universitário
de Volta Redonda é considerada alta quando
comparada aos outros estudos analisados, perdendo apenas para a prevalência encontrada
por De Santis et al. (2008).
Há necessidade de melhor compreender
os diferentes fatores envolvidos na resposta e
na adaptação ao estresse inerente ao curso de
medicina para poder ajudar na prevenção do
uso inadequado de metilfenidato pelos futuros médicos. Uma política clara quanto ao uso
indiscriminado pelos estudantes, informação
científica, educação com treino de habilidades
para melhor lidar com estresse, podem se mostrar úteis na prevenção. Normas e regras bem
explicitadas, bem como o oferecimento de atividades recreativas e de relaxamento que não
incluam substâncias alteradoras do psiquismo
podem vir a melhorar a situação.
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
O metilfenidato é um recurso para aqueles que buscam uma potencialização do desempenho cognitivo, o que é bastante observado entre os estudantes quando são submetidos
a situações que exijam uma maior capacidade
neste sentido. Pelos estudos analisados, podemos perceber que estudantes de medicina
parecem formar um grupo em que se observa
com frequência a utilização deste medicamento para este fim, pelo grande esforço determinado pelo curso.
Nesse trabalho, foi avaliado o uso não
prescrito da droga por uma população específica de universitários. Encontramos uma prevalência de 23,72% para o uso indiscriminado
desse estimulante entre os estudantes de medicina do Centro Universitário de Volta Redonda.
Os valores que mais se aproximaram dessa prevalência, foram os encontrados por Babcock
e Byrne (2000) e DeSantis et al. (2008), 16%
e 34%, respectivamente. Já Mc Cabe et al.
(2005)mostraram a frequência de 6,9% e Cruz
et al. (2011) apresentou uma prevalência de
8,6%. Esses dados ajudam a confirmar a hipótese que o uso não prescrito dessa substância
é uma prática comum entre os universitários e
que o curso de Medicina pode ser considerado
um fator de risco importante, como propunha
Posada (1996, apud MENDONZA, 2002), em
um estudo realizado pelo Ministério da Saúde
da Colômbia, uma vez que, dentre grupos pré-selecionados, os maiores consumidores foram
os futuros médicos.
Entre os acadêmicos de Medicina do
Centro Universitário de Volta Redonda, não
houve diferença significativa de consumo entre
os gêneros masculino e feminino. Tal situação
também foi observada por Teter et al. (2006)
em um estudo realizado em universidades do
sudeste dos Estados Unidos. Por outro lado,
Cruz et al. (2011) encontrou diferença marcante entre os dois gêneros, sendo o masculino o
maior consumidor da droga sem prescrição.
Percebemos que a maioria dos indivíduos
que faz o uso indiscriminado da substância
relata ter apresentado algum efeito colateral
e sentir-se cansados após o término do efeito. Por outro lado, apesar disso, essas pessoas
veem algumas vantagens na sua utilização
como o aumento da capacidade de concen-
tração e uma melhora do rendimento acadêmico após o início do uso. De Santis (2008)
demonstrou que a maioria dos usuários ilegais
fazia o uso da droga em períodos de stress elevado e que a substância fazia reduzir a fadiga e
aumentar o entendimento de leitura, o interesse, a cognição e por fim, a memória.
Notamos ainda que alguns participantes relataram que precisam usar a substância
para conseguir estudar para todas as provas
do período letivo, e, outros informaram a necessidade de aumentar a dose com o decorrer
do tempo para tentar obter o mesmo efeito de
quando iniciou o uso, configurando um quadro
de tolerância ao medicamento. Porém, segundo Pastura e Mattos (2004), o quadro de dependência medicamentosa ao metilfenidato é
algo mais teórico que prático.
Foi observado que o uso da substância
aumenta com o decorrer do curso, uma vez
que uma maior distribuição dos participantes
que usam indiscriminadamente se deu nos últimos períodos analisados. Talvez, uma maior
carga horária somada a uma maior quantidade
de conteúdo administrado aos períodos acima
possa ser uma explicação para tal situação.
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4. Discussão
58
6. Anexo
Questionário de pesquisa: O Uso indiscriminado de Metilfenidato entre os estudantes de medicina.
Sexo: Masc. ( ) Fem. ( ) Idade: ______
Período: ____
1. Hoje em dia vê-se muito o uso indiscriminado da substância Metilfenidato, cujo nome comercial
mais famoso é Ritalina. Você conhece e/ou já ouviu falar dessa droga?
Sim ( ) Não ( ) Caso a resposta seja sim, prossiga. Caso contrário pode encerrar as respostas.
2. Conhece mecanismo de ação da droga?
Sim ( ) Não ( )
3. Já fez uso da substância?
Sim ( ) Não ( )
4. Caso a resposta da questão anterior tenha sido sim, o seu uso é feito sob prescrição médica, uso
para tratamento do Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade?
Sim ( ) Não ( ) Se a resposta for sim, obrigado pela participação.
5. A droga aumenta o seu poder de concentração?
Sim ( ) Não ( )
6. Já apresentou algum efeito colateral?
Sim ( ) Não ( )
Caso a resposta seja não, vá para a questão 9.
7. Caso a resposta tenha sido sim, quais dos efeitos abaixo você já apresentou? Obs: a resposta a
seguir tem mais de uma resposta:
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( ) Taquicardia ( ) Perda de apetite ( ) Tremores nas mãos ( ) Boca seca ( ) Ansiedade
8. Mesmo apresentando esses sintomas, continua fazendo o uso indiscriminado da droga de acordo
com suas necessidades na faculdade?
Sim ( ) Não ( )
9. Você utiliza a droga para estudar para todas as provas do período letivo?
Sim ( ) Não ( )
10.Sente-se cansado após acabar o efeito da droga?
Sim ( ) Não ( )
11.Desde que você começou a utilizar o fármaco, notou que teve de aumentar a sua dose para obter
o mesmo efeito de quando iniciou o uso da droga?
Sim ( ) Não ( )
12.Você tem notado melhora no seu rendimento acadêmico com o uso da substância?
Sim ( ) Não ( )
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Endereço para Correspondência:
Samara Guerra Carneiro
[email protected]
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
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Cadernos UniFOA
7. Referências Bibliográficas
61
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Etnobotânica.
ISSN
1809-9475
To eat, to drink or to remedy? Multipurpose use categories in Ethnobotany.
Artigo
Original
Odara Horta Boscolo1
Original
Paper
Comunidades
tradicionais
Parque Nacional
da Restinga de
Jurubatiba
Plantas
Medicinais
Abstract
The use of plants combines a number of factors, showing the interdependence
of the biological, social and cultural man. This way the relationship between
men and environment are established. Ethnobotanic studies faces the difficult
task of organizing the information and observation of the use of plants by
traditional communities into categories based on the cultural references of the
communities themselves. During this process, a fine line is drawn between the
medicine and food categories. For some communities, however, this distinction
simply does not exist. The aim of this work is to register which plants are used
both as food and medicine by selected respondents in City of Quissamã and
investigate this duality. In total, 39 plants species were found, belonging to 23
botanic families, of which Myrtaceae (5 species), Cucurbitaceae (4 species)
and Solanaceae (4 species) are the most representative ones. The ambiguity
of plants utilization for food and medicinal purposes shows the complexity of
the native categories. Despite the scientific advances, these categories, which
are part of structures of beliefs and representations of local people, do not
disappear. This research exemplifies that the inclusion of emic information
in categories is unclear and alert to a greater dialogue between the various
disciplines that form the framework of ethnobotany.
1 Universidade Federal Fluminense (UFF), Departamento de Biologia Geral, Setor Botânica.
Keywords
Traditional
Knowledge
Traditional
Communities
Restinga de
Jurubatiba
National Park
Medicinal Plants
Recebido em
11/2012
Aprovado em
04/2013
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Conhecimento
tradicional
Resumo
A utilização de plantas combina uma série de fatores, mostrando a interdependência entre o homem biológico, social e cultural. Dessa forma, as relações entre o homem e o meio ambiente são estabelecidas. Estudos etnobotânicos enfrentam a difícil tarefa de organizar as informações e observações
do uso de plantas por comunidades locais em categorias com base nas referências culturais das próprias comunidades. Durante esse processo, uma
linha tênue é desenhada entre a categoria medicinal e a alimentícia. Para algumas comunidades, no entanto, esta distinção, simplesmente não existe. O
objetivo deste trabalho é registrar quais plantas são usadas como alimentos
e remédios, ao mesmo tempo, por entrevistados selecionados no Município
de Quissamã, para averiguar essa dualidade. No total, 39 espécies de plantas
foram encontradas, pertencentes a 23 famílias botânicas, sendo que Myrtaceae (5 espécies), Cucurbitaceae (4 espécies) e Solanaceae (4 espécies) as
mais representativas. A ambiguidade das utilizações para fins alimentícios e
medicinais mostra a complexidade das categorias nativas. Apesar dos avanços científicos, essas categorias, que fazem parte das estruturas de crenças e
representações da população local, não desaparecem. Esta pesquisa exemplifica de forma prática como é obscura a inserção das informações êmicas
em categorias e atenta para diálogo maior entre as diversas disciplinas que
formam o arcabouço da etnobotânica.
Cadernos UniFOA
Palavras-chave
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
62
1. Introdução
A Etnobotânica pode ser definida como
o estudo da relação existente entre o Homem
e as Plantas e o modo como essas plantas são
usadas como recursos. Alguns autores a definem como: campo científico, que estuda as
inter-relações as quais se estabelecem entre
o ser humano e as plantas, através do tempo
e em diferentes ambientes (XOLOCOTZI,
1982); estudo das sociedades humanas, passadas e presentes e todos os tipos de inter-relações ecológicas, evolucionárias e simbólicas
(ALEXIADES, 1996).
A Etnobotânica passou por diversas tendências, desde simples trabalhos com listagens
das plantas úteis em determinadas populações,
até a compreensão de como essas populações
interagem com as plantas, considerando o conhecimento êmico, sua cosmologia; a diversidade vegetal e a diversidade cultural; o uso,
o manejo e a conservação da biodiversidade,
dentre outros. Porém, se for pensado bem,
assim que o ser humano começou a interagir
com o reino vegetal, nasceu a Etnobotânica
(SCHULTES; REIS, 1995).
Atualmente, a etnobotânica tenta se comprometer com o mundo em desenvolvimento,
adotando uma posição estratégica com seu
foco integrativo (ALCORN, 1995). Permite
um melhor entendimento das formas pelas
quais as pessoas pensam, classificam, controlam, manipulam e utilizam espécies de plantas
e comunidades. Pesquisas de cunho etnobotânico podem ajudar planejadores, agências
de desenvolvimento, organizações, governos
e comunidades a conceber e implementar
práticas de conservação e desenvolvimento
(TUXILL; NABHAN, 2001).
O homem é e sempre foi dependente do
uso de plantas para a sua sobrevivência. Essa
utilização vai desde as necessidades mais básicas como alimento e medicina até para fins
mágicos, ritualísticos e simbólicos. Porém, ele
não é só dependente, mas também manipulador de paisagens e responsável por uma parcela da coevolução com os vegetais. Para alguns
autores, como Balée (1991), o manejo realizado pelas populações traz uma diversidade ao
ambiente maior que a existente nas condições
naturais onde não existe a presença humana.
Por mais que algumas espécies se extingam, a
intervenção humana resulta num aumento real
da diversidade ecológica e biológica de um lugar específico ou região.
Ao considerar que as populações locais
possuam um conhecimento sobre os ambientes que ocupam, que é de real valia para sua
adaptação, o saber-fazer acumulado é e pode
ser transmitido oralmente ao longo das gerações. Esse conhecimento é dinâmico, e novos
conhecimentos são adicionados aos conhecimentos locais (OLFIELD; ALCORN, 1991).
Estudos etnobotânicos enfrentam a difícil
tarefa de organizar as informações e observações do uso de plantas por comunidades locais
em categorias com base nas referências culturais das próprias comunidades. Durante esse
processo, uma linha tênue é desenhada entre
a categoria medicinal e a alimentícia. Para algumas comunidades, no entanto, essa distinção, simplesmente não existe. O objetivo deste trabalho é registrar quais plantas são usadas
como alimentos e remédios, ao mesmo tempo,
por entrevistados selecionados no Município
de Quissamã, para averiguar essa dualidade.
Esse local mostrou-se interessante para desenvolver este trabalho etnobotânico devido a
suas peculiaridades como a diversidade da população residente (descendentes de escravos, de índios Goytacazes e trabalhadores rurais vindos de
outros locais para lidar na lavoura açucareira) e a
diversidade religiosa que inclui católicos, evangélicos, espíritas e umbandistas. O Município
abriga a maior parte do Parque Nacional da
Restinga de Jurubatiba, único Parque Nacional
em área totalmente de restinga, sendo uma das
mais conservadas do país (BOSCOLO, 2003).
2. Material e Métodos
O Município de Quissamã (22º05’S,
41º28’W) localiza-se na região norte do Estado
do Rio de Janeiro, possui em seu território o
maior ecossistema de restinga do estado, com
cerca de 50 mil hectares, onde se localiza o
Parque Nacional de Jurubatiba. Esse ambiente
abriga diversas comunidades vegetais distintas quanto à fisionomia e composição florística
(ZONEAMENTO AGROECOLÓGICO DA
RESTINGA, 1994).
posse das informações acerca das plantas utilizadas, acompanhamos os informantes aos locais de onde usualmente eles as obtêm, seja em
seus próprios quintais e ruas, seja na restinga.
Todo material foi devidamente herborizado e
depositado no Herbário do Museu Nacional do
Rio de Janeiro (R). Para a identificação do material, foi utilizado microscópio estereoscópico,
comparação com outros materiais de herbário,
envio de alguns espécimes para especialistas e
consulta à literatura especializada.
63
Uma das tarefas mais árduas dos trabalhos de Etnobotânica é encaixar as indicações
das plantas que os informantes (visão êmica)
indicam, nas categorias predeterminadas pelos
pesquisadores (visão ética). Essa tradução do
êmico ao ético se faz necessária para que as
respostas sejam uniformizadas para as análises subsequentes. Porém, perguntado para os
entrevistados, quais as plantas que eles utilizam e para que fim, as respostas mostram que,
para eles, a comida é também remédio. Não
fazem uma distinção formal do que é só para
comer ou só para se medicar, acreditam que
quando se alimentam, ao mesmo tempo estão
“fortalecendo e curando o organismo”.
Este conceito “alimento/medicamento”
é muito natural para os informantes e segue a
mesma filosofia do que atualmente a sociedade
chama de alimentos funcionais ou nutracêuticos. Ou seja, os alimentos ou bebidas que são
consumidos na alimentação cotidiana podem
trazer benefícios fisiológicos específicos, graças à presença de ingredientes fisiologicamente saudáveis (CÂNDIDO; CAMPOS, 2005).
No total, 39 espécies de plantas foram
encontradas, pertencentes a 23 famílias botânicas, sendo que Myrtaceae (5 espécies),
Cucurbitaceae (4 espécies) e Solanaceae (4
espécies) as mais representativas (Tabela 1).
Os frutos são a parte mais utilizada (26 indicações), seguida das folhas (18 indicações) e
cascas do tronco (6 indicações) (Tabela 1).
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3. Resultados e Discussão
Cadernos UniFOA
De fevereiro de 2001 a janeiro de 2002
foram realizadas excursões mensais à referida localidade. Optou-se pela abordagem da
Observação Direta na qual o pesquisador tem
um grande contato com a comunidade, mas
sem um envolvimento total. Para a seleção
dos informantes, foram feitos contatos com os
moradores que demonstraram possuir conhecimento sobre os usos das plantas e, a partir desses, foram obtidos outros informantes, caracterizando a técnica da “bola de neve” (BAILEY,
1994). Foram contatados 10 informantes que,
além de sua ocupação profissional, agiam também como curandeiros e benzedores.
O primeiro instrumento a ser elaborado foi o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE). O processo de consentimento livre e esclarecido teve por objetivo
permitir que a pessoa que está sendo convidada a participar da pesquisa compreenda os procedimentos, riscos, desconfortos, benefícios
e direitos envolvidos, visando permitir uma
decisão autônoma. A obtenção de consentimento livre e esclarecido é um dever moral
do pesquisador, é a manifestação do respeito
às pessoas envolvidas no projeto (CLOTET,
1995). Esse termo documenta a autorização do
sujeito da pesquisa e permite que as informações básicas possam ser mantidas para leitura
posterior. Seus princípios estão resguardados pela Resolução do Conselho Nacional de
Saúde (CNS) nº 196/96, que atualmente regula
as pesquisas em questão.
Também foi confeccionado formulário com perguntas abertas e fechadas (REA;
PARKER, 2000) que trata dos dados pessoais de
cada informante e sobre as plantas informadas.
Depois foram realizadas entrevistas visando obter dados acerca das plantas por eles
indicadas como alimento e ao mesmo medicinal. Foram consideradas como alimentícias
aquelas plantas consumidas cruas ou cozidas
como, por exemplo, frutas in natura, bebidas,
infusões alcoólicas, condimentos, alimentos
para animais, dentre outros. E como plantas medicinais, aquelas capazes de promover
cura, bem estar e prevenção de doenças. De
64
Tabela 1- Plantas informadas tanto para alimento como para medicamento: Família e Nome científico, Nome Popular, Indicações, Parte vegetal utilizada.
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Família e nome
científico
Nome
popular
Indicações
Parte vegetal
utilizada
ANACARDIACEAE
Anacardium occidentale L.
R- 202068 (OHB 78)
caju
Diabete, dor de garganta, feridas, aftas, cólicas
intestinais, tosse, bronquite, fraqueza do organismo,
debilidade muscular.
Cascas do
tronco, folhas
e fruto.
Mangifera indica L.
R- 202069 (OHB 102)
manga
Feridas, tosse, bronquite, asma, cólicas, diarreia,
inflamações em geral.
Cascas do
tronco, folhas
e frutos.
Schinus terebinthifolius
Raddi
R- 202042 (OHB 90)
aroeira
Gripe com febre, bronquite, feridas, inflamação
no útero.
Cascas do
tronco e frutos
ANNONACEAE
Annona muricata L.
R- 202035 (OHB 45)
graviola
Diabete
Folhas e frutos
ARACEAE
Colocasia esculenta (L.)
Schott
(OHB 94)
inhame-branco
Reumatismo, moléstias da pele, convalescença,
fraqueza
Tubérculos
ARECACEAE
Cocos nucifera L.
R- 202072 (OHB 62)
coco
Raquitismo, vermes, prisão de ventre, anemia,
erisipelas, fraqueza, desnutrição.
Frutos
BRASSICACEAE
Sinapis nigra L.
R- 202059 (OHB103)
mostarda
Dores nas costas, dores nas articulações, pulmão
congestionado, inflamações localizadas.
Flores e folhas
BROMELIACEAE
Ananas comosus (L.) Merr.
(OHB 63)
abacaxi
Dor de garganta, vermes, inflamações em geral,
doenças da bexiga, reumatismo, restaura o
fluxo menstrual, tosse, problemas nos pulmões,
queimaduras, coceiras.
Frutos
CARICACEAE
Carica papaya L.
R- 202048 (OHB 60)
mamão
Bronquite, tosse, gripe, vermes, dermatoses,
prisão de ventre.
Flores, frutos,
látex e sementes.
CONVOLVULACEAE
Ipomoea batatas (L.) Poir.
R- 202050 (OHB 80)
batata-doce
Cicatrização, furúnculos
Folhas e tubérculos
CUCURBITACEAE
Cucumis anguria L.
R- 202002 (OHB 75)
maxixe
Hemorroidas, feridas, furúnculos.
Frutos
Cucumis sativus L.
R- 202003 (OHB 76)
pepino
Problemas na bexiga, rins, inflamações dos
olhos, sarna, coceira.
Casca do fruto
e frutos
Lagenaria vulgaris Ser.
R- 202010 (OHB 86)
abóbora
d`agua
Problemas no fígado e baço
Flores, frutos
e pecíolo.
Momordica charantia L.
R- 202070 (OHB 119)
melão-de-são-caetano
Febre, reumatismo
Folhas e frutos
LAMIACEAE
Ocimum gratissimum L.
R- 202062 (OHB 116)
alfavacão
Gripe, artrite, gases
Folhas
Ocimum micranthum
Willd.
R- 202001 (OHB 48)
alfavaca
Reumatismo, cólicas menstruais e intestinais,
ânsia de vômito, bronquite, tosse, expectorante
Folhas
Rosmarinus officinalis L.
R- 202017 (OHB 61)
alecrim
Dores de barriga, bronquite, reumatismo, cicatrizante
Folhas
LAURACEAE
Persea americana Mill.
R- 202083 (OHB 46)
abacate
Problema nos rins, diurético, restaurador do
fluxo menstrual, gases, prisão de ventre, reumatismo
Folhas e frutos
MALVACEAE
Hibiscus esculentum L.
R- 202071 (OHB 118)
quiabo
Furúnculos, puxar o pus de dentro das feridas
Folhas e frutos
Indicações
Parte vegetal
utilizada
MALPIGHIACEAE
Byrsonima sericea DC.
R- 202038 (OHB 125)
murici
Diarreia, diabete
Frutos e raiz
Malpighia glabra L.
R- 202057 (OHB 104)
acerola
Gripe
Frutos
MORACEAE
Artocarpus integrifolia L.
R- 202011 (OHB 92)
jaca
Diarreia
Folhas
Morus nigra L.
R- 201999 (OHB 98)
amora
Aftas, diarreia, dor de garganta, inflamações na
boca, diabete, problemas de menstruação e de
ovário.
Folhas e frutos
MUSACEAE
Musa paradisiaca L.
R- 202073 (OHB 44)
banana
Machucadura, queimaduras, hemorragias, hemorroidas, inflamações, feridas, verrugas, artrite,
úlceras no intestino, laxativo.
Cascas dos
frutos, frutos e
seiva
MYRTACEAE
Eugenia cauliflora O. Berg
(OHB 101)
jabuticaba
Asma, diarreia, inflamação da garganta.
Cascas do
tronco e frutos
Eugenia uniflora L.
R- 202034 (OHB 110)
pitanga
Gota, reumatismo, gripe.
Folhas e frutos
Psidium cattleianum
Sabine
R- 202018 (OHB 54)
araçá-da-praia
Doenças das vias urinárias, diarreia.
Brotos, cascas
do tronco e
frutos.
Psidium guajava L.
R- 202009 (OHB 95)
goiaba
Diarreia, dor de garganta, tosse.
Brotos, folhas
e frutos.
Syzygium cumini (L.)
Skeels
R- 202088 (OHB 42)
jamelão
Diabete, diarreia
Cascas do
tronco, folhas
e frutos.
OXALIDACEAE
Averrhoa carambola L.
R- 202032 (OHB 93)
carambola
Pressão alta, diabete, problemas nos rins, feridas
na pele
Folhas e frutos
PASSIFLORACEAE
Passiflora edulis Sims
R- 202079 (OHB 111)
maracujá
Dor de cabeça, nervoso, insônia, asma, diarreia,
vermes.
Folhas e frutos
POACEAE
Saccharum officinarum L.
R- 202008 (OHB 114)
cana-de-açúcar
Cansaço, anemia, cólicas, digestiva, aftas, dor no
fígado, prisão de ventre, rachaduras dos seios,
coceiras, feridas, infecções, catarro, bronquite.
Parte interna
dos colmos
Zea mays L.
(OHB 96)
milho
Diurético, inflamações da bexiga, rins, olhos.
Estigmas e
frutos
PUNICACEAE
Punica granatum L.
R- 202082 (OHB 89)
romã
Dor de garganta, vermes.
Cascas dos
frutos e frutos
SAPOTACEAE
Pouteria caimito (Ruiz &
Pav.) Radlk.
R- 202080 (OHB 79)
abiu
Tosse, bronquite, diarreia.
Folhas e frutos
SOLANACEAE
Capsicum annuum L.
R- 201995 (OHB 121)
pimentão
Hemorroidas, dor de estômago, prisão de ventre,
pneumonia.
Frutos
Lycopersicon esculentum
Mill.
R- 202046 (OHB 132)
tomate
Inflamações purulentas, gripe, tosse, rouquidão,
picadas de insetos, queimaduras, reumatismo.
Frutos
Solanum paniculatum L.
R- 202075 (OHB 135)
jurubeba
Problemas nos rins, doenças venéreas, diurético,
problemas no fígado, úlceras no estômago,
inflamações em geral.
Folhas e frutos
ZINGIBERACEAAE
Zingiber officinale Rosc.
R- 202076 (OHB 139)
gengibre
Digestivo, falta de apetite, cólicas, gases, tosse,
bronquite, resfriado, catarro, asma, rouquidão,
gripe.
Rizoma
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Nome
popular
Cadernos UniFOA
Família e nome
científico
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
66
Os resultados encontrados neste trabalho,
com relação às principais famílias botânicas e
aos órgãos das plantas mais utilizadas (folhas
e frutos) coincidem com diversas publicações
sobre plantas medicinais (VARGAS; RIOS,
1990; WAIZEL, 1990; STALCUP, 2000;
CARVALHO et al., 2001).
Os resultados revelam que existe uma
ambiguidade das utilizações para fins alimentícios e medicinais, mostrando a complexidade das categorias nativas. Apesar dos avanços
científicos, essas categorias, que fazem parte
das estruturas de crenças e representações da
população local, não desaparecem. Ou seja,
essas plantas não são estritamente medicinais
e nem alimentícias. Quando o pesquisador enquadra essas citações em categorias fixas, ele
opta por uma visão reducionista e acaba perdendo a essência das informações obtidas em
campo. Por exemplo, uma planta indicada para
se benzer uma determinada enfermidade, ela
será incluída na Categoria de Uso ritual ou medicinal, já que a finalidade dela é trazer cura e
bem estar? Ao mesmo tempo este pesquisador
encontra-se em um dilema, pois se não incluí-las em Categorias de Uso, não terá como
tratar estatisticamente os dados e nem como
compará-los com outros trabalhos. Neste momento, ainda persiste uma segunda dificuldade, porque não existem Categorias pré-fixadas,
dessa forma, cada um define suas próprias categorias, que nem sempre correspondem as definições de outros investigadores.
Na etnobotânica, a problemática das
Categorias de Uso é recorrente, porém, nunca
foi explicitada essa necessidade de se chegar
a um lugar comum. São necessários estudos
mais complexos sobre a classificação dessas
categorias e seus significados, visto que, não
há trabalhos científicos que proponham uma
solução para tal dificuldade. Esta pesquisa
exemplifica de forma prática como é obscura
a inserção das informações êmicas em categorias e atenta para diálogo maior entre as diversas disciplinas que formam o arcabouço da
etnobotânica como a biologia, antropologia,
ciências sociais, agronomia, dentre outras.
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Endereço para Correspondência:
Odara Horta Boscolo
[email protected]
Universidade Federal Fluminense (UFF)
Departamento de Biologia Geral - Setor Botânica
Outeiro de São João Batista s/n° - Niterói - RJ
CEP: 24020-150
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
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69
Pseudocisto Antral: Prevalência na cidade de Volta Redonda, Rio de Janeiro, Brasil.
Antral pseudocyst: prevalence in the city of Volta Redonda, Rio de Janeiro, Brazil.
Sérgio Elias Vieira Cury1
Maria Dorotéa Pires Neves Cury2
Brunno dos Santos de Freitas Silva3
Omar Tinoco Franklin Molina4
Jimmy de Oliveira Araújo5
Luiz Roberto Manhães Jr6
Luciana Butini Oliveira7
Palavras-chave
Radiografias
Panorâmicas
Seios maxilares
Pseudocisto antral
Cisto mucoso do
seio maxilar
Poluição do ar
Siderurgia
ISSN
1809-9475
Artigo
Original
Original
Paper
Resumo
O objetivo deste foi o de avaliar, através da análise de radiografias panorâmicas, a ocorrência do pseudocisto antral na cidade de Volta Redonda, Rio
de Janeiro, associando condições geográficas e poluição do ar. Duas mil e
quatrocentas radiografias panorâmicas pertencentes ao arquivo do RADIOCENTRO - Centro Odontológico de Documentação Ortodôntica, localizado
na cidade de Volta Redonda, obtidas no período de janeiro a dezembro de
2008, foram analisadas em relação à presença de imagens radiográficas compatíveis com Pseudocisto Antral. Concluiu-se que a prevalência média encontrada (6,83%) está dentro dos índices relatados na literatura (variação de
1,4 e 9,6%), porém, quando estudadas as condições geográficas do município e poluição do ar, verificou-se que a incidência nos bairros localizados na
margem esquerda em relação ao Rio Paraíba do Sul (8,67% e 17,5%) esteve
acima da média relatada na literatura, indicando a participação da poluição
do ar na gênese do pseudocisto antral.
Recebido em
09/2012
Aprovado em
04/2013
Volta Redonda
Panoramic
radiography
maxillary sinus
antral pseudocyst
mucous cyst of the
maxillary sinus
Air pollution
Steel
Volta Redonda
1 DDS, PhD - Disciplina Patologia Bucal – Curso de Odontologia - UniFOA - Centro Universitário de Volta Redonda
2 MDS - Disciplina Odontologia Social – Curso de Odontologia - UniFOA - Centro Universitário de Volta Redonda
3 DDS, PhD - Disciplina Patologia Bucal – Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo
4 DDS, PhD - Disciplina de Disfunção Têmporo-mandibular – Faculdade de odontologia - UNIRG-TO
5 MDS - Disciplina de Disfunção Têmporo-mandibular – Faculdade de Odontologia – SLMandic
6 DDS, PhD – Disciplina de Radiologia e Imaginologia - Faculdade de Odontologia – SLMandic,
7 DDS, PhD – Disciplina de Radiologia e Imaginologia - Faculdade de Odontologia – SLMandic,
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Keywords
Cadernos UniFOA
Abstract
Our objective was to evaluate through analysis of panoramic radiographs,
the occurrence of antral pseudocyst in the city of Volta Redonda, involving
geographic and air pollution. Two thousand and four hundred panoramic
radiographs from the files of RADIOCENTRO - Dental Orthodontic
Documentation Center in Volta Redonda, Rio de Janeiro, and obtained from
January to December 2008, were analyzed for the presence of radiographic
images compatible with Antral pseudocyst. We concluded that the average
incidence found in the city of Volta Redonda (6,83%) is within the rates
reported in the literature (ranging from 1,4 to 9,6%), but when studied the
geographical conditions of the city and poluition, it was verified that the
incidence in the districts located on the left of the Paraíba do Sul river (8,67%
ande 17,5%), was above the average reported in the literature, indicating
the involvement of air pollution in the genesis of antral pseudocyst.
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1. Introdução
Com o surgimento das áreas urbanas,
ocorreu um agravamento na qualidade do ar,
causando problemas na saúde populacional.
Dessa forma, houve uma maior preocupação
com esse tipo de problema, que não é simples
de ser tratado, por englobar diversos fatores:
desde a dispersão dos poluentes e composição
química dos mesmos até seu efeito na saúde
da população (YARA et al., 2006).
Dentre as alterações pato­lógicas que acometem os seios maxilares, a entidade considerada a mais comum é o pseudocisto antral,
frequentemente diagnosticada em radiografias
panorâmicas como exames de rotina nos consultórios odontológicos. A patogenia do pseudocisto antral é incerta (WHITE, PHAROAH, 2000),
porém, sua etiologia tem possível relação com
quadros alérgicos diversos, e períodos de elevação da umidade relativa do ar (GONÇALVES;
SILVEIRA, 1993; MARQUES et al., 2006).
Volta Redonda é uma cidade localizada na macro região do Vale do Paraíba, ao sul
do Rio de Janeiro, onde situa-se a Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN), maior usina siderúrgica da América Latina. Por tratar-se de uma
cidade onde localiza-se uma grande usina, capaz
de lançar no ar local diversos tipos de poluentes
atmosféricos, apresentou-se a dúvida se a poluição produzida por uma usina siderúrgica participaria na gênese do pseudocisto antral. Sendo
a poluição atmosférica reconhecidamente um
fator de risco para a saúde (PEITTER; TOBAR,
1998), surgiu-nos a hipótese de que sim.
A não existência de trabalhos que associassem a poluição do ar e a gênese do pseudocisto nos motivou para a realização deste
estudo, que tem por objetivo avaliar, através
da análise de radiografias panorâmicas, a
ocorrência do pseudocisto antral na cidade de
Volta Redonda, associando condições geográficas e poluição do ar.
2. Revisão da Literatura
2.1. O município de Volta Redonda
Volta Redonda é um município brasileiro
situado na macrorregião do Vale do Paraíba dentro da mesorregião Sul Fluminense, no estado
do Rio de Janeiro. Também é conhecida como
a “Cidade do Aço”, localiza-se a 22º31’23” de
latitude sul e 44º06’15” de longitude oeste, a
uma altitude de 390 metros. Situada entre as
serras do Mar e da Mantiqueira, é cortada pelo
Rio Paraíba do Sul, que corre de Oeste para
Leste, sendo a principal fonte de abastecimento do município e também responsável pelo
seu nome, devido a um acidente geográfico no
seu curso (DIAS, 2005; WIKIPEDIA, 2009;
EPD - PMVR, 2008).
O clima é mesotérmico, com verões
quentes e chuvosos e invernos secos. A umidade relativa do ar é alta (77%), mesmo nos
meses de frio, quando varia entre 71% e 72%.
A temperatura média compensada é de 20°C,
a média mínima anual de 16,5°C e média máxima anual de 27,8°C. A precipitação média
anual é de 1.377,9 mm, sendo janeiro e fevereiro os meses com maior incidência de chuvas.
É comum, no inverno, o fenômeno da inversão térmica, causado pela camada de poluição
que permanece sobre a cidade, formando uma
barreira à penetração dos raios solares, diminuindo a insolação e impedindo a liberação do
calor e das novas cargas de poluentes lançados
a cada dia. Os ventos dominantes atingem a
região, predominantemente em sentido noroeste, porém, a localização do município, em
fundo de vale, faz com que na maior parte do
tempo haja calmaria. Isso dificulta a dispersão
dos gases e partículas, lançadas principalmente pela usina siderúrgica, e provoca alterações
no microclima (WIKIPEDIA, 2009; IPPUPMVR, 2009).
2.2. Poluição do ar
O ar é um recurso natural, sem fronteiras definidas, e que, juntamente com a água
e o solo, é responsável pela sustentabilidade
da vida em nosso planeta. Por isso, ao se classificar a atmosfera como uma parte do ambiente com a qual o organismo humano está
permanentemente em contato, entende-se que
muitas das reações ocorridas nesse mesmo organismo podem ser explicadas como um tipo
de resposta às mudanças observadas nos estados físico, químico e biológico da atmosfera
(JENDRITZKY, 2008).
A poluição atmosférica pode ser definida, de maneira simplificada, como a presença
ciliar, permitindo uma maior penetração e
acesso de partículas e alérgenos às células do
sistema imune. Dentre os efeitos da poluição
sobre e trato respiratório incluem-se: diminuição da atividade ciliar; produção de dano
epitelial e aumento da permeabilidade da mucosa brônquica; diminuição da produção dos
antioxidantes gerados naturalmente; indução
da secreção de citocinas proinflamatórias e
a expressão de moléculas de adesão, que orquestram, por sua vez, as funções de células
inflamatórias (CROCE et al., 1998).
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A siderurgia, sendo uma indústria de base,
é tida como uma grande causadora de impactos ambientais, especialmente no que se refere
à poluição do ar, devido à natureza dos seus
processos de produção do aço. Na indústria siderúrgica integrada a coque, dentre os poluentes gerados, destaca-se o material particulado,
proveniente principalmente das operações de
estocagem, manuseio e transporte de matérias-primas, bem como da queima de combustíveis
utilizados nas várias etapas do processo produtivo (MELO; MITKIEWICZ, 2002).
Segundo Cançado et al. (2006), o material particulado é uma mistura de partículas
líquidas e sólidas em suspensão no ar. Sua
composição e tamanho dependem das fontes
de emissão. As partículas podem ser divididas em dois grupos: partículas grandes (coarse mode), com diâmetro entre 2,5 e 30 mm,
emitidas através de combustões descontroladas, dispersão mecânica do solo ou outros
materiais da crosta terrestre (polens, esporos
e materiais biológicos também se encontram
nesta faixa de tamanho); e partículas pequenas
(fine mode), com diâmetro menor que 2,5 mm,
emitidas pela combustão de fontes móveis e
estacionárias, como automóveis, incineradores e termoelétricas, que, por serem de menor
tamanho e mais ácidas, podem atingir as porções mais inferiores do trato respiratório.
A Companhia Siderúrgica Nacional
(CSN) é a maior indústria siderúrgica do
Brasil e da América Latina e uma das maiores do mundo (WIKIPEDIA, 2009). Desde a
sua fundação, a cidade de Volta Redonda vem
enfrentando inúmeros problemas ambientais,
onde destaca-se a poluição do ar por gases e
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2.3. Siderurgia e a poluição do ar
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no ar de matérias ou formas de energias que
impliquem em risco, dano ou moléstia grave
para as pessoas e bens de qualquer natureza
(BALLESTER; TENÍAS; PÉREZ-HOYOS,
1999; HASEGAWA, 2001).
O problema da poluição atmosférica vem
sendo trabalhado, no campo da saúde pública,
com diversos enfoques, em numerosos estudos
sobre os efeitos da poluição do ar na saúde. Nos
subcampos da saúde ambiental e especificamente da toxicologia, estudos apontam que os
efeitos da poluição do ar se manifestam em geral sob forma de doenças crônicas, prejudicando a qualidade de vida das populações afetadas
(HOFMEISTER, 1991; HOFMEISTER et al.,
1992; DUCHIADE, 1992).
A relação entre danos à saúde e poluição
atmosférica foi estabelecida a partir de episódios agudos de contaminação do ar, entre eles
se destacando o excesso de mortes ocorridas
em Londres nos anos de 1948 e 1952, onde
foram descritos incrementos de aproximadamente 300 e 4.000 mortes, respectivamente
(FREITAS et al., 2002). No Brasil, o primeiro
episódio agudo de contaminação do ar ocorreu
na cidade de São Paulo em 1972, e foi provocado por emissões de veículos e indústrias, em
fenômeno de inversão térmica, com ausência
de ventos e de chuvas. A cidade ficou coberta
por uma densa névoa (VIGIAR, 2006).
A dispersão dos poluentes atmosféricos
em uma determinada região depende das condições meteorológicas e topográficas do local,
influenciando na quantidade de poluentes a
qual a população desta região estará sujeita,
além da diferença na quantidade de fontes poluidoras e dos tipos de poluentes mais abundantes em cada região (YARA et al., 2006).
A poluição do ar causa uma resposta inflamatória no aparelho respiratório, induzida
pela ação de substâncias oxidantes, as quais
acarretam aumento da produção da acidez, da
viscosidade e da consistência do muco produzido pelas vias aéreas, levando, consequentemente, à diminuição da resposta e/ou eficácia
do sistema mucociliar (GONÇALVES et al.,
2005; CANÇADO, 2006).
As modificações ou alterações do epitélio respiratório têm repercussões diretas sobre
o mecanismo funcional respiratório. Estudos
têm demonstrado que a poluição induz um
dano epitelial e alterações no mecanismo
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partículas emitidas no processo de produção
do aço (PEITER; TOBAR, 1998).
Gioda et al. (2004) realizaram um importante estudo para avaliar a qualidade do
ar em Volta Redonda, distribuindo filtros de
ar em cinco estações localizadas em lugares
estratégicos no perímetro do município, realizando duas avaliações em períodos diferentes.
Segundo os autores, o total de partículas supensas (TSP) em Volta Redonda, apresentou
níveis médios que não excederam os padrões
propostos pelo CONAMA (240 mg/m3) e que
os níveis de Partículas inaladas (PM10) ficaram abaixo do limite diário estabelecido pelo
mesmo órgão (150 mg/m3), sendo as concentrações encontradas desses poluentes, semelhantes às de outras cidades. Destaca-se no
estudo, porém, a informação de que a grande
maioria dos metais monitorados estava em altas concentrações nas estações localizadas no
bairro Belmonte e na FEEMA, sendo as mais
altas as de ferro (Fe), cobre (Cu), zinco (Zn) e
manganês (Mn), metais esses que estão entre
os mais utilizados pelas indústrias locais, em
especial na CSN, e que estão correlacionados
com doença pulmonar.
O estudo realizado por Gioda et al.
(2004) avaliou também a concentração de
outros poluentes atmosféricos na cidade.
Benzeno, Tolueno e Xileno (B, T e X), principalmente B e T, apresentaram altas concentrações na primeira avaliação, sendo reduzidas
na segunda, mas os valores de B foram ainda
elevados. Tolueno e xileno não ultrapassaram o limite sugerido pela WHO. O benzeno
é tóxico em qualquer concentração, portanto,
pode ser considerado o maior poluente no ar
em Volta Redonda. Os mais altos níveis de B,
T e X foram obtidos nas estações Belmonte e
FEEMA, em especial quando os ventos sopravam mais fortes em direção a essas estações,
principalmente quando o coque era realizado
pela CSN, apontando-a como sua principal
fonte de emissão. Concentrações elevadas de
benzeno podem ter influenciando diretamente a saúde da população em Volta Redonda,
fato confirmado pelo elevado índice de benzenismo (688 casos registrados entre 1984 e
1999). Concentrações de Dióxido de enxofre
(SO2) foram abaixo da média de acordo com
CONAMA (365 mg/m3), mas excedeu os limites estabelecidos pela WHO na primeira
amostra. Na segunda, os níveis foram reduzidos, porém ainda são altos para vegetação.
Segundo os autores, O manuseio de minérios de ferro e da queima de carvão vegetal
na CSN, associados à direção dos ventos na
região, possivelmente são responsáveis pela
nuvem de poluição que atingiram as estações
Belmonte e Retiro.
2.4. Radiografia panorâmica
A radiografia panorâmica constitui um
método radiográfico prático e atual, que fornece uma visão global do complexo maxilomandibular, de toda região dento-alveolar e
estruturas adjacentes. É um procedimento que
se realiza em um único filme radiográfico, em
curto espaço de tempo e com menor exposição
biológica à radiação para o paciente, sendo de
muito valor para uma interpretação precoce ou
exame de triagem (TIEPO et al., 2002).
Como técnica radiográfica, as panorâmicas apresentam a vantagem de visualização
de todo o complexo maxilomandibular, articulação temporomandibular e devido a sua
abrangência, possibilita avaliar as estruturas
circunvizinhas, como os seios maxilares ou
antrum, cavidades aéreas revestidas de mucosa respiratória, em forma de pirâmide invertida (COSTA et al., 2007).
Segundo Ohba et al. (1991), a radiografia
panorâmica permite a visualização do assoalho do seio maxilar devido ao tangencionamento do feixe de Raios X à parede posterior.
Os autores explicaram que isso permite identificar com clareza a presença do cisto mucoso,
principalmente, em sua parede inferior.
Poyton e Pharoah (1992) referiram-se ao
cisto mucoso como cisto de retenção da mucosa do seio, e que são observados em maior
parte dos casos e em tomadas intrabucais e radiografias panorâmicas.
Em relação aos seios da face, uma análise, realizada através da radiografia panorâmica, possibilita a visualização das seguintes
regiões antrais: inferior, posterior e médio superior (VAN DIS; MILLES, 1994).
Segundo Costa et al. (2007), as doenças
inflamatórias não odontogênicas e as lesões
antrais idiopáticas, quando localizadas no assoalho do seio maxilar, são bem definidas nas
radiografias panorâmicas.
Segundo Dood e Jing (1978), a vasta maioria dos cistos mucosos ou cistos de retenção são
pequenos, não preenchem completamente a cavidade sinusal, não causam deformidade nas paredes do seio maxilar, rompem-se espontaneamente e raramente apresentam sintomatologia.
Radiograficamente são homogêneos, cupulares,
bem definidos, frequentemente situados no assoalho do seio maxilar, geralmente associados à
mucosa do seio, e não mudam de posição.
Segundo Milles et al. (1991), o acúmulo de
fluidos abaixo da mucosa do seio maxilar pode
causar uma lesão elevada e em forma de cúpula.
Lesões com essas características são chamadas
de pseudocisto antral (cisto mucoso, cisto seroso ou cisto não secretor). O cisto de retenção
mucoso ou cisto de retenção antral é o resultado
do bloqueio parcial acarretando, consequentemente, a dilatação do ducto de uma glândula, de
causa infecciosa, odontogênica ou alérgica. A
mucocele é causada pelo bloqueio do óstio e por
uma expansão destrutiva, limitada por epitélio,
preenchido por uma secreção mucoide. O termo
pseudocisto antral é apropriado para lesões que
não tenham forro epitelial.
Freitas (1992) conferiu que o cisto de retenção do seio maxilar tem sido referido com
os nomes de cisto mucoso e mucocele do seio
maxilar. Essas lesões são usualmente descobertas em exames radiográficos de rotina, principalmente, com o advento das radiografias
pantomográficas. Esses cistos aparecem como
radiopacidades esféricas, ovoides, em forma
de cúpula, com limites uniformes, contrastando
com a imagem francamente radiolúcida do conteúdo aéreo da cavidade sinusal, em radiografias
das regiões de pré-molares e molares da maxila.
De acordo com Bohay e Gordon (1997),
os cistos de retenção mucosos dos maxilares
ocorrem em todas as idades, ambos os sexos
podem variar de tamanho, raramente podem
completar todo o seio maxilar e, nesse caso,
é impossível distingui-lo de uma sinusite.
Segundo os autores, no diagnóstico diferencial
devem ser considerados os pólipos antrais, as
mucoceles do seio e os cistos odontogênicos,
sendo a biópsia raramente necessária para estabelecer o diagnóstico.
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Sicher e Du Brull (1977) descreveram os
seios paranasais como cavidades pneumáticas
localizadas na parte craniana e facial, que são
revestidas por membrana mucosa, comunicando-se direta ou indiretamente com o aparelho
respiratório. O seio maxilar é a cavidade mais
ampla dentre os seios paranasais, ocupando
todo o corpo da maxila.
Figun e Garrino (1986) descreveram o
seio maxilar como uma ampla cavidade escavada no corpo da maxila, consequentemente,
tem comunicação com a cavidade nasal em nível de meato médio, através do óstio sinusal.
A parede superior corresponde ao assoalho de
órbita, a parede anterior é delgada e utilizada
para abordagens cirúrgicas, a parede posterior
se relaciona com a tuberosidade do maxilar e o
assoalho do seio tem relação com as raízes dos
pré-molares e molares superiores.
Os seios paranasais são cavi­dades pneumáticas localizados na parte craniana e facial,
sendo os mesmos revestidos por membrana
mucosa, comunicando-se direta ou indiretamente com o aparelho res­piratório. Dos seios
paranasais, a cavidade mais ampla é o seio
maxi­
lar, ocupando todo o corpo da maxila
(GONÇALVES; SILVEIRA, 1993)
Madeira (2003) descreveu que o seio maxilar é o maior de todos os seios paranasais, o
primeiro a se desenvolver, ficando entre as paredes anterior (voltada para a face), posterior
(para a fossa infratemporal), medial (para a cavidade nasal), superior ou teto (para a órbita)
e inferior ou soalho (para o processo alveolar).
Mais precisamente, o seio maxilar tem a
forma piramidal, com sua base na parede nasosinusal e o ápice na raiz do zigoma. A parede superior situa-se sob a órbita e é constituída
pela lâmina orbital da maxila. Seu assoalho é
formado pelo processo alveolar da maxila. A
parede posterior consiste de uma lâmina fina
de osso, separando a cavidade da fossa infratemporal. Medialmente, a parede nasal separa
o seio da cavidade nasal. A parede ântero-lateral ou fossa canina representa a parte facial
da maxila. A cavidade nasal contém a saída do
seio, o óstium, que se situa logo abaixo do teto
do antrum (TIEPO, 2004; COSTA 2007).
2.6. Pseudo Cisto Antral
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2.5. Seios maxilares
74
O cisto mucoso do seio maxilar é uma lesão de relevante importância, por ser a entidade
patológica que mais atinge o seio maxilar. São
achados comuns nas radiografias panorâmicas,
periapicais e nas incidências para seios maxilares; são citados na literatura mundial por diversas terminologias, e muitos autores os consideram como uma lesão benigna situada nos
seios maxilares (BULGARELLI et al., 2002;
MANHÃES JR. et al., 2004; PONTES, 2006).
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2.7. Características anátomopatológicas
Pontes em 2006 realizou um estudo histológico onde mostrou que a grande maioria dos
cistos mucosos é composta por falsos cistos, a
luz não é forrada por epitélio e não apresenta
elementos glandulares associados a estes cistos. Após explorações cirúrgicas, clinicamente
foram observadas massas redondas, dilatadas,
translúcidas, azuladas ou amareladas, com
paredes finas que se rompem com facilidade
saindo um líquido aquoso, ou mucoide. O autor
ainda relatou que os cistos mucosos devem ser
diferenciados de outras lesões de tecidos moles
do seio maxilar como pólipos, infecções dentárias sinusites, mucoceles de seio maxilar e principalmente tumores malignos.
Neville et al. (2009) diferenciaram os
pseudocistos antrais, cistos de retenção e mucoceles como lesões distintas. O pseudocisto antral é o acúmulo de exudato inflamatório (soro
não mucina) sob a mucosa do seio maxilar
causando uma elevação séssil, circundada por
tecido conjuntivo sendo o revestimento epitelial do seio superior ao fluido; as mucoceles são
acúmulos de mucina completamente coberta
por epitélio ocorrendo a partir de uma cirurgia
no seio maxilar (cisto cirúrgico ciliado) ou a
obstrução do óstio bloqueando a drenagem, aumentando em tamanho e a pressão intraluminal
aumenta podendo distender e desgastar o osso.
Os cistos de retenção aparecem a partir de um
bloqueio parcial das glândulas seromucosas ou
invaginação do epitélio respiratório. O pseudocisto do seio maxilar e o cisto de retenção não
requerem tratamento, somente uma avaliação
dos dentes adjacentes; as mucoceles devem ser
removidas cirurgicamente.
2.8. Características radiográficas
Segundo Wood e Goaz (1983), radiograficamente são descritos como uma área radiopaca, homogênea, curva, de forma esférica, ovoide, ou em cúpula; contorno regular uniforme
de base de inserção estreita ou larga, única ou
bilateral, encontrados em todas as idades e, segundo o sexo, varia de estudo para estudo.
Coleman e Nelson (1993) relataram que
radiograficamente caracteriza-se por um aumento radiopaco homogêneo, em forma de
cúpula, bordas bem delineadas, curvas, de
base localizada ao longo da parede inferior ou
posterior dos seios maxilares; não se indica
tratamento algum.
De acordo com Langlais et al. (1995), os
cistos de retenção mucoso dos seios maxilares, em sua maioria, são assintomáticos, não
destroem o osso, permanecem estáticos por
anos ou podem romper e desaparecer completamente. Radiograficamente são radiopacos,
cupulares ou semicirculares situados geralmente no assoalho do seio maxilar.
Em estudo realizado no ano de 2003,
Whaites descreveu o cisto mucoso de retenção
como achado acidental, opacidade bem definida, circular, em forma de cúpula, no interior
do seio maxilar, desde diminuta até um preenchimento completo do seio; normalmente não
há alteração do contorno sinusal, ocasionalmente é bilateral e a causa é desconhecida.
A imagem radiográfica do cisto mucoso é
característica, sendo discretamente radiopaca,
bem definida, com bordos arredondados, lisos,
cupulares, nítidos, de base larga, únicos, homogêneos, geralmente situados no assoalho do
seio maxilar, uni ou bilateral, sem deformar as
corticais sinusais, aparecendo com boa nitidez
nas radiografias panorâmicas (PONTES, 2006).
Marques et al. (2006) relataram que o
pseudo cisto antral apresenta-se como área
homogeneamente radiopaca, com limites bem
definidos, em forma de cúpula ou esférica, de
dimensão variável e sem cortical óssea circunscrevendo-a, sendo sua presença mais evidente devido ao comprometimento unilateral,
na maioria dos casos.
Allard et al. (1981) chegaram à conclusão de que a patogênese do cisto mucoso é
obscura e de que a incidência dessas lesões foi
de 1,4 a 9,6%. Afirmaram ainda que o cisto
mucoso é mais bem visualizado nas radiografias panorâmicas, sendo descrito como uma
lesão ovoide, redonda ou em forma de cúpula.
Wood e Goaz (1983) constataram que
os cistos mucosos, em sua maioria, são falsos
cistos que ocorrem predominantemente no assoalho do seio maxilar, por vezes na parede
lateral, podem regredir espontaneamente, são
lesões comuns e ocorrem entre 2% e 9,6% na
população geral.
Ruprecht et al. (1986) revisaram 1685
radiografias panorâmicas, dentre as quais 44
apresentaram um ou mais pseudocistos antrais, totalizando 2,6% da amostra estudada.
Gonçalves e Silveira (1993) realizaram
um estudo onde foram analisados 3.180 laudos de radiografias panoramicas, efetua­das
no período compreendido entre agosto de
I988 a fevereiro de 1992, pertencentes a pacientes atendidos por um Ser­viço Privado de
Documentação Odontológica da Cidade do
Recife - PE. Verificaram 143 imagens compatives com cistos mucosos em 139 pacientes,
perfazendo 4,4 % da amostra. Foi observado
predileção pelo sexo masculino, não havendo diferença estatisticamente significante em
relação ao lado comprometido e faixa etária,
bem como, não foi possível estabelecer a inter-relação de condições odontogênicas com o
desenvolvimento dessa alteração. Ralatam ser
possível que a elevação da umidade relativa
do ar tenha contribuido para o aparecimento
destes cistos. Concluiram citando que nenhu-
75
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
2.9. Incidência
ma conduta terapêutica foi instituída, visto
que todos os pacientes eram assintomáticos,
recomendando-se acompanhamento radiográfico periódico.
Pontes em 2006 realizou um estudo no
qual foram observadas 600 radiografias panorâmicas, sendo 270 pertencentes à pacientes
do gênero masculino (45%) e 330 pacientes do
sexo feminino (55%). Relatou que foram observados 30 pacientes acometidos com cistos
mucosos, sendo 12 do sexo masculino e 18 do
gênero feminino, isto é, 5% da amostra estudada. A faixa etária estudada foi diversificada,
havendo pacientes com treze anos de idade até
setenta anos na maior idade pesquisada. O cisto mucoso no seio maxilar do lado esquerdo
foi observado em 21 pacientes (70%), no lado
direito foram analisados 09 casos (30%), ao
passo que bilateralmente nenhum paciente foi
acometido por esta lesão.
Costa em 2007 realizou uma seleção
aleatória de 252 radiografias panorâmicas
realizadas para o tratamento odontológico de
rotina, em um total de 1980 exames panorâmicos dos arquivos digitais do ano de 2003, do
centro de diagnóstico por imagem, CEDRUL,
na cidade de João Pessoa – PB, perfazendo um
total de 12,73% da população em questão. A
idade dos pacientes variou entre 4 e 80 anos,
divididos por faixa etária, determinando as diferentes fases da vida humana: 0 a 11 anos (infância), 12 a 20 anos (adolescência), 21 a 39
anos (primeira fase da vida adulta) e acima de
60 anos (terceira idade). Os índices de prevalência para o lado direito foram de 2,38%, para
o lado esquerdo foi de 1,98%. No gênero feminino, foi de 0,79%; para o gênero masculino foi de 3,57%. A prevalência dessa alteração
ocorreu apenas nos indivíduos das faixas etárias correspondentes à infância (0 a 11 anos),
à adolescência (12 a 20 anos) e à primeira fase
adulta (21 a 39 anos).
Com o objetivo de analisar a prevalência
de pseudocistos antrais, Rodrigues et al. (2009)
analisaram 6293 radiografias panorâmicas no
período de novembro de 2002 a maio de 2003
na cidade de Goiânia – GO, encontrando como
resultado 201 casos (3,19%). Acrescentaram
que não houve correlação significante com a
incidência da lesão e a umidade relativa do ar
ou temperatura.
Cadernos UniFOA
As características radiográficas do cisto
mucoso são fáceis de serem observadas, principalmente nas tomadas panorâmicas, e são de
extrema importância para que os profissionais
dentistas possam distingui-la de outras alterações que ocorrem nesta região anatômica. Em
sua maioria, os cistos mucosos se situam no
assoalho e por vezes na parede lateral do seio
maxilar, e os pacientes acometidos por esta
lesão não apresentam sintomatologia, sendo
descobertos em exames radiográficos de rotina
(PONTES, 2006; RAMESH; PABLA, 2008).
76
3. Material e Método
Duas mil e quatrocentas radiografias
panorâmicas, obtidas no período de janeiro a
dezembro de 2008, pertencentes ao arquivo do
RADIOCENTRO - Centro Odontológico de
Documentação Ortodôntica localizado na cidade de Volta Redonda, Rio de Janeiro, foram
analisadas em relação à presença de imagens
radiográficas compatíveis com Pseudocisto
Antral (figuras 1 a 3).
Figura 1 – Radiografia Panorâmica - imagem compatível com Pseudocisto antral lado direito.
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Imagem gentilmente cedida pela Drª Maria Dorotéa Cury
Figura 2 – Radiografia Panorâmica: imagem compatível com Pseudocisto antral lado esquerdo.
Imagem gentilmente cedida pela Drª Maria Dorotéa Cury
Figura 3 – Radiografia Panorâmica: imagem compatível com Pseudocisto antral ambos os lados
Imagem gentilmente cedida pela Drª Maria Dorotéa Cury
O aparelho utilizado para a realização dos
exames foi um modelo Panoura Ultra (Yoshida
– Japão). Os filmes e soluções processadoras
foram da marca Kodak, e para o processamento
foi utilizada a processadora para filmes odontológicos Revell (Revell – Brasil), no intuito
de padronizar a qualidade das imagens radiográficas. As radiografias foram examinadas em
negatoscópio com tela composta por diodos
emissores de luz branca (LEDs) modelo Driller
(VK Driller – Brasil), e com o auxílio de uma
lupa com cabo, 60 mm de diâmetro, aumento de 2x, modelo LP-60 (Western – Brasil). A
Cidade de Volta Redonda foi dividida em bairros, de acordo com a localização geográfica
dos mesmos, localizados na margem direita, e
bairros de localizados na margem esquerda em
relação ao Rio Paraíba do Sul, sendo demarcada área onde se encontrava a maior concentração de poluição (figura 8).
77
Figura 8 – Divisão geográfica da cidade de Volta Redonda
minhado ao Comitê de Ética em Pesquisa
do UniFOA - Centro Universitário de Volta
Redonda (Processo nº 199/09, Protocolo nº
067740 de 26/10/2009).
Carta de solicitação para autorização da
realização da pesquisa, juntamente com cópia
do Protocolo do COEP-UniFOA, foi enviada à
empresa RADIOCENTRO, obtendo autorização em 02/11/2009.
4. Resultados
Do total de 2400 radiografias panorâmicas
estudadas, 6,83% (n=164) apresentaram imagens com características de pseudocisto antral.
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Os dados de prontuário como idade,
sexo, lado afetado e alteração patológica, no
quadrante homólogo, também foram analisados, associados à localização geográfica da
residência de cada indivíduo pesquisado.
Após serem registrados, os dados obtidos
foram transportados para um banco de dados,
com intuito único de facilitar o processo de
análise e interpretação. Para a organização dos
mesmos, foi utilizado o programa Microsoft
Excel versão 2010. Toda a análise foi realizada
através de cálculo numérico e percentual. Os
dados foram apresentados em tabelas.
Para avaliação dos critérios éticos e
atendimento às recomendações da Resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde
(BRASIL, 1997), um Protocolo foi enca-
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
(Adaptado de Peiter e Tobar, 1998).
78
4.1. Gênero
Dos 164 casos encontrados, houve predileção por indivíduos do genero masculino, totalizando
57,9% dos casos (n=95), quando comparados ao gênero feminino com 42,1% (n=69), numa relação
de 1,37X1 (tabela 1).
Tabela 1 - Gênero
GÊNERO
n
%
MASCULINO
95
57,9
FEMININO
69
42,1
TOTAL
164
100
4.2. Idade
A idade variou de 8 a 60 anos, com média de 25 anos, apresentando uma maior concentração
na faixa etária entre 10 e 40 anos (tabela 2).
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Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Tabela 2 - Idade
IDADE
n
%
1 a 10
5
3,04
10 a 20
60
36,58
20 a 30
52
31,7
30 a 40
30
18,29
40 a 50
9
5,48
50 a 60
8
4,88
TOTAL
164
100
4.3. Lado afetado
O lado mais afetado foi o direito com 54,88% (n=90) em relação ao esquerdo com 34,14%
(n=56). A imagem compatível com o pseudocisto localizada em ambos os lados foi encontrada em
10,98% dos casos (n=18) (tabela 3).
Tabela 3 – Lado afetado
LADO
n
%
DIREITO
90
54,88
ESQUERDO
56
34,14
AMBOS
18
10,98
4.4. Alteração patológica no quadrante homólogo
79
Mais da metade dos casos (51,83%) não apresentou alteração associada no quadrante afetado (n=85). Dentre as alterações patológicas observadas, a ausência dentária foi a mais encontrada
(n=43), totalizando 26,22% dos casos (tabela 4).
Tabela 4 - Alteração patológica no quadrante homólogo
ALTERAÇÃO ASSOCIADA
n
%
LESÃO APICAL
4
2,44
LESÃO PERIODONTAL
12
7,31
DENTE INCLUSO
20
12,19
DENTE AUSENTE
43
26,22
S/ ALTERAÇÃO
85
51,83
TOTAL
164
100
indivíduos residentes nessa região, sendo a
estimativa da proporção média encontrada p
= 0.086, e desvio padrão s = 0.086. A área
de maior concentração de poluentes apresentou alto índice de incidência (17,5%) quando
analisada a relação entre o número de radiografias estudas (n=440) e os casos encontrados (n=77), sendo a estimativa da proporção
média encontrada p = 0.175, e desvio padrão s
= 0.418 . (tabela 5).
Tabela 5 - Relação casos x radiografias estudadas x distribuição geográfica da poluição
POLUIÇÃO/REGIÃO
nº radiografias
nº casos
%
POUCO ELEVADA
1764 (73,5%)
70
3,96
ELEVADA
196 (8,16%)
17
8,67
MUITO ELEVADA
440 (18,34%)
77
17,50
TOTAL
2400 (100%)
164
6,83
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A maioria das radiografias estudas pertenceram a área de poluição pouco elevada (n=
1764) correspondendo a 73,5% da amostra.
Nessa região, foram encontrados 70 casos de
pseudocisto antral, correspondendo à 3,96%,
sendo a estimativa da proporção média encontrada p = 0.039, e desvio padrão s = 0.197 .
Na área de concentração de poluentes elevada,
foram encontrados 17 casos, correspondendo
à 8,67% das 196 radiografias pertencentes a
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4.5. Relação casos x radiografias estudadas x poluição
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80
5. Discussão
A dispersão dos poluentes e seu impacto na saúde ainda parecem-nos um assunto
complexo, pois uma quantidade de poluente
as quais as pessoas estão expostas é diferente
para cada uma delas, dependendo de sua faixa
etária, do seu estado imunológico e herança
familiar, tornando-as mais ou menos sensíveis
à poluição do ar. A quantidade de poluição a
qual as pessoas estão sujeitas varia significativamente conforme o local onde elas trabalham
e moram, e a frequência com que mudam de
residência ou cidade, fatores esses que influenciam na quantidade e qualidade do ar a
qual cada um está sujeito (YARA et al., 2006).
A maioria dos trabalhos sobre os efeitos
dos poluentes atmosféricos na saúde tem sido
realizada nos países mais desenvolvidos, localizados, principalmente, no hemisfério norte.
De um modo geral, países situados nessas regiões apresentam características meteorológicas, composição dos poluentes e perfis socioeconômicos bastante distintos das demais
regiões do planeta, criando dúvidas quando
seus resultados são aplicados em outros locais,
como no Brasil (comentário pessoal).
Diversos fatores podem estar associados
aos distúrbios respiratórios, destacando-se, dentre esses, a qualidade do ar. Sabe-se que a poluição atmosférica pode trazer danos manifestados
de diferentes formas. A exposição total diária
de um indivíduo aos poluentes atmosféricos é a
soma dos contatos com os poluentes ao longo de
diversas fontes durante todo o dia. Sendo Volta
Redonda considerada uma cidade com áreas de
concentração de poluentes, onde a qualidade do
ar está diretamente relacionada à indústria siderúrgica, é compreensível a ocorrência de doenças associadas ao trato respiratório, dentre elas,
alterações localizadas nos seios da face, responsáveis pelo aquecimento e filtragem do ar, promovendo importante barreira imunológica para
as vias respiratórias (Comentário pessoal).
A radiografia panorâmica é uma radiografia que permite ao examinador observar grande
parte das estruturas que compõem o complexo
maxilomandibular, com o conforto de uma
única exposição radiográfica. É utilizada em
diversas áreas da prática odontológica, pois,
além de possibilitar uma cobertura de todos os
dentes das arcadas e avaliação do posiciona-
mento dos terceiros molares, apresenta visão
panorâmica de lesões patológicas e alterações
ósseas de desenvolvimento, abrangendo ainda
as articulações têmporomandibulares e fossas
nasais. É utilizada para diagnóstico de fraturas
ósseas, e, frequentemente, para verificação do
desenvolvimento e crescimento dentário e ósseo em ortodontia e odontopediatria (OHBA et
al., 1991; VAN DIS; MILLES, 1994; TIEPO
et al., 2002; COSTA et al., 2007).
Com o advento das radiogra­fias panorâmicas, o número de ca­sos descobertos de pseudocistos antrais aumentou conside­
ravelmente,
em razão dessa tomada ser amplamente utilizada para ou­tros fins, sendo o pseudocisto
diagnostica­do como achado radiográfico, pelo
falo do paciente mostrar-se assintomático, não
despertando ao profissional atenção para essa
área. Em relação ao nosso estudo, as imagens
radiográficas compatíveis com pseudocisto antral encontradas foram semelhantes a todas as
imagens descritas na literatura para a lesão, onde
foram observadas estruturas cupulares, homogêneas, bem definidas, moderadamente radiopacas
em nítido contraste com a radiolucidez do seio
maxilar, e situadas em seu assoalho, uni ou bilaterais (WOOD; GOAZ, 1983; COLEMAN;
NELSON, 1993; LANGLAIS et al., 1995;
WHAITES, 2003; PONTES, 2006; MARQUES
et al., 2006; RAMESH; PABLA, 2008).
A radiografia panorâmica, mesmo não
sendo a técnica de eleição para o diagnóstico
de alterações nos seios maxilares, nos pareceu
satisfatória para a execução do nosso trabalho.
Sendo o pseudocisto antral um achado radiográfico, a técnica panorâmica deve ser valorizada, devido sua grande utilização em tratamentos de rotina.
Neste estudo, não foi observada discrepância na ocorrência do pseudocisto antral em
relação ao gênero, com pequena predileção
pelo masculino, o que está de acordo com os
estudos de Gonçalves e Silveira (1993) realizado na cidade de Recife, e Costa (2007), realizado na cidade de João Pessoa, diferente, porém, do estudo realizado por Pontes, em 2006,
no qual o autor encontrou maior incidência em
pacientes do gênero feminino. Quanto à idade,
notou-se maior prevalência entre os adolescentes e adultos jovens, diminuindo após os
40 anos, resultado semelhante encontrado no
estudo Costa (2007). Esses dados não refletem
a prevalência do pseudocisto antral na cidade,
principalmente, impedindo a liberação do calor e das novas cargas de poluentes lançados
no ar a cada dia (IPPU, 2009).
Dentre os poluentes atmosféricos relatados
no estudo de Gouda et al. (2004), aparecem os
metais ferro, cobre, zinco e manganês, que apresentavam-se em altas concentrações nas estações
localizadas na zona considerada mais poluída de
Volta Redonda. O benzeno também foi citado
pelos autores como o principal componente da
poluição atmosférica na cidade. Estando essa
região, segundo nossos resultados, como de alta
incidência do pseudocisto antral, surge então
uma nova especulação de que os poluentes citados pelos referidos autores, possam estar associados à gênese da patologia, o que não foi possível avaliar, em função de o nosso estudo estar
fundamentado apenas em imagens radiográficas.
Levando-se em conta essa nova especulação,
maiores estudos deverão ser realizados no intuito de avaliar os componentes da poluição local e
seus efeitos na mucosa dos seios maxilares.
Os resultados poderão ser utilizados na
avaliação do programa de monitoramento da
qualidade do ar existente, e poderá contribuir
para a geração de novas estratégias e de novas
políticas de controle da poluição na cidade.
81
Avaliada a ocorrência de imagens compatíveis com pseudocisto antral em radiografias panorâmicas pode-se concluir que:
a.
A incidência média encontrada na
cidade de Volta Redonda está dentro
dos índices relatados na literatura.
b. Quando estudadas as condições geográficas do município, observa-se que
a incidência nos bairros localizados
na margem esquerda em relação ao
Rio Paraíba do Sul esteve acima da
média relatada na literatura.
c. Comparando-se as condições geográficas e poluição do ar, observou-se
alto índice de pacientes portadores da
lesão nos bairros mais poluídos, indicando a participação da poluição do
ar na gênese do pseudocisto antral.
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6. Conclusão
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nenhuma especificidade regional, o que corrobora as afirmações de Wood e Goaz (1983),
no qual os autores relataram que a lesão pode
ser encontrada em todas as idades e, segundo o
sexo, pode variar de estudo para estudo.
A ocorrência do pseudocisto antral em
nosso estudo foi maior no lado direito, semelhante ao encontrado por Costa em 2007, porém, resultado diferente foi relatado no estudo
de Pontes em 2006, onde o autor relata uma
incidência bem maior no lado esquerdo. No
estudo de Gonçalves e Silveira (1993), os autores relataram que não encontraram diferença
estatisticamente significante em relação ao lado
comprometido. No estudo de Pontes (2006), o
autor cita o fato de não haver encontrado ocorrência bilateral, o que difere do nosso estudo,
onde aproximadamente 11% dos casos foram
bilaterais. Não foi encontrado qualquer evidência em relação ao porque da predileção de um
lado ou outro em nossos estudos, não existindo
qualquer relato na literatura para explicar o fato.
Mais da metade das lesões observadas
em nosso estudo, não apresentavam alterações
patológicas no quadrante homólogo, não podendo atribuir a qualquer uma delas a causa
do pseudocisto. Relato semelhante foi feito por
Gonçalves e Silveira (1993), em que os autores
mencionam que não foi possível estabelecer a
inter-relação de condições odontogênicas com
o desenvolvimento do pseudocisto antral.
As estações de monitoramento do ar de
Volta Redonda, descritas nos relatos de Goida
et al. (2004), incluem como as que apresentaram maior captação de poluentes, as estações
do Belmonte, do Retiro e da FEEMA, estações
situadas na margem esquerda do rio Paraíba
do Sul, e que coincidem com a região de maior
concentração de poluentes, descrita no estudo
de Peiter e Tobar (1996). Esses relatos vão
ao encontro ao nosso estudo, que encontrou
maior incidência do pseudocisto antral nessa
mesma área, indicando a associação da poluição do ar com a ocorrência de casos de pseudocisto antral na cidade.
No trabalho realizado por Rodrigues et
al. (2009), os autores relataram que não encontraram correlação significante entre a incidência do pseudocisto antral e a umidade do
ar ou temperatura, cabe porém ressaltar, que o
fenômeno de inversão térmica que ocorre nos
períodos de inverno, pode ter contribuído com
82
7. Referências
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Endereço para Correspondência:
Sérgio Elias Vieira Cury
[email protected]
Curso de Odontologia
Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA
Av. Paulo Erley Abrantes, 1325
Três Poços - Volta Redonda/RJ
CEP: 27240-560
85
Riqueza e composição de formigas de serapilheira na Reserva Florestal da
Vista Chinesa, Rio de Janeiro, Brasil
Inventory of ground-dwelling ants in the Chinese View Forest Reserve, Rio de
Janeiro, Brazil
André Barbosa Vargas1
Antônio José Mayhé-Nunes2
Jarbas Marçal Queiroz3
Biodiversidade
Inventário
Extrator de
Winkler
Original
Paper
Resumo
Inventário das formigas de serapilheira na Reserva Florestal da Vista Chinesa, Rio de Janeiro, Brasil. A mirmecofauna da Reserva Florestal da Vista Chinesa (RFVC) foi amostrada por 50 parcelas de 1m2 de serapilheira,
submetidas ao extrator de Winkler, onde 90 espécies/morfoespécies foram
registradas. A composição de espécies apresentou similaridade de 24% (índice de Jaccard) e 38% (índice de Sorensen) entre as amostras. A distribuição
de abundância das espécies não diferiu estatisticamente da distribuição série
logarítmica. A riqueza estimada foi 129 (Chao2); em média cada amostra
apresentou 112,5 (±68,9) indivíduos e 15,8 (±4,4) espécies/morfoespécies. O
fragmento de floresta estudado na Cidade do Rio de Janeiro apresentou uma
fauna rica e diversificada de formigas de serapilheira e como essa diversidade
pode indicar a diversidade de outros grupos e processos no ecossistema, a
manutenção dessa reserva é importante para a conservação da biodiversidade
na Mata Atlântica brasileira.
Abstract
Inventory of ground-dwelling ants in the Chinese View Forest Reserve, Rio
de Janeiro, Brazil. We sampled the ants from Reserva Florestal da Vista
Chinesa (RFVC) using 50 litter plots with 1m2, which were submitted to
Winkler extractor. We found 90 species/morphospecies, and similarity in
species composition among samples was quite low (24%, Jaccard index, and
38% Sorensen index). Abundance distribution followed a logarithm series
model. Each sample had 112.5 (±68.9) specimens and 15.8 (±4.4) species/
morphospecies, although estimated richness was 129 (Chao2), on average.
The forest fragment in the City of Rio de Janeiro showed a rich and varied
fauna of ground-dwelling ants, and as the diversity of ants can be correlated
with the diversity of other organisms, as well as ecosystem process, the
maintenance of this urban forest reserve is important to the conservation of
biodiversity in the Brazilian Atlantic Forest.
Recebido em
11/2012
Aprovado em
04/2013
Key words
Atlantic Forest
Biodiversity
Inventory
Winkler extractor
1 Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA), Centro de Ciências da Saúde.
2 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Instituto de Biologia, Departamento de Biologia Animal.
3 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Instituto de Florestas, Departamento de Ciências Ambientais.
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Mata Atlântica
Artigo
Original
Cadernos UniFOA
Palavras-chave
ISSN
1809-9475
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
86
1. Introdução
Os remanescentes florestais urbanos,
além de possuírem importância estética podem
promover o lazer e contribuir na relação “homem e natureza” a fim de proporcionar maior
conhecimento sobre a diversidade biológica
e na compreensão de sua importância. Além
disso, são úteis, pois contribuem na manutenção da biodiversidade, funcionando como refúgio da vida silvestre, e de um possível elo
entre áreas adjacentes. Entretanto, fragmentos
florestais, inseridos em áreas urbanas, podem
ser inadequados para organismos com hábitos
mais restritos como, por exemplo, espécies
que dependem de condições específicas de
temperatura e recurso alimentar. Tais fragmentos podem apresentar maior efeito de borda, maiores incidência de ventos e variações
bruscas na temperatura, favorecendo espécies
com hábitos generalistas, aumentando a competição e assim ocasionando desequilíbrios na
estrutura destes ecossistemas (MCINTYRE
et al., 2001). No entanto, pouco se sabe sobre
a biodiversidade dessas áreas, seu estado de
conservação ou mesmo como as espécies se
distribuem nestes fragmentos.
As formigas são componentes importantes da biodiversidade de florestas por desempenharem funções biológicas e ecológicas vitais para a manutenção dos processos
ecossistêmicos (HÖLLDOBLER; WILSON,
1990). Elas são bons bioindicadores, por serem
sensíveis a mudanças ambientais (AGOSTI et
al., 2000; RIBAS et al., 2012), e podem ser
utilizadas em programas de monitoramento
(ANDERSEN; MAJER, 2004; BRAGA et al.,
2010). Além disso, formigas destacam-se por
seu papel estruturador da comunidade de artrópodes (HÖLLDOBLER; WILSON, 1990),
por sua influência significativa em processos
edáficos (BROWN, 1997) e pela predação e
dispersão de sementes (FOLGARAIT, 1998).
A riqueza e composição dessas assembleias
de formigas estão intimamente relacionadas
com a complexidade estrutural dos ambientes (NAKAMURA et al., 2003; LASSAU;
HOCHULI, 2004; VARGAS et al., 2007;
MARTINS et al., 2011).
A Mata Atlântica brasileira é considerada uma área prioritária para a conservação da
biodiversidade, possuindo alta diversidade de
plantas endêmicas, vertebrados e invertebrados
(MITTERMEIER et al., 2004; GALINDOLEAL; CÂMARA, 2005). Mas apesar da cobertura original de Mata Atlântica ter sido reduzida para menos de 10%, o Estado do Rio de
Janeiro ainda possui remanescentes florestais
deste bioma relativamente bem conectados,
formando grandes blocos florestais (ROCHA
et al., 2003). Esses blocos compõem um mosaico de fragmentos florestais em paisagens
distintas, nas quais espécies da flora e fauna
desempenham serviços ecossistêmicos como
polinização, decomposição de matéria orgânica e controle biológico (CUMMING, 2007).
A fragmentação florestal afeta diretamente
esses organismos, limitando os serviços por
eles desempenhados ou até mesmo causando sua extinção em escala local ou regional
(STEFFAN-DEWENTER et al., 2002). Na
região metropolitana do Rio de Janeiro, o maciço da Tijuca representa a principal área com
cobertura florestal (ROCHA et al., 2003) e dentro dele se localiza a Reserva Florestal da Vista
Chinesa (RFVC) que é o foco deste estudo.
A região onde se encontra a RFVC foi
severamente desmatada durante o período da
colonização portuguesa e, posteriormente, por
decreto real, foi reflorestada como medida de
recuperação dos mananciais. Na época, foram
plantadas quase 60.000 árvores (MOULTON et
al., 2007). Atualmente, a RFVC apresenta uma
formação florestal em estado avançado de regeneração, embora a região do maciço da Tijuca
sofra queimadas constantes, mais frequentes
na vertente Norte (OLIVEIRA et al., 1995).
Por se tratar de um dos maiores remanescentes
florestais em área urbana no Brasil, a necessidade de sua conservação justifica a realização
de estudos sobre sua biodiversidade. Estudos
anteriores, em florestas urbanas, revelaram
padrões importantes de distribuição, riqueza e
composição da fauna de formigas (FEITOSA;
RIBEIRO, 2005; MIRANDA et al., 2006;
MORINI et al., 2007). Neste estudo realizamos
uma descrição da fauna de formigas de serapilheira na RFVC, descrevendo parâmetros básicos da comunidade como riqueza e composição
de espécies. Além disso, comparamos, com o
objetivo de fornecer subsídios a futuros estudos realizados em escala regional, dados sobre
espécies de formigas de serapilheira da RFVC
A Reserva Florestal da Vista Chinesa
(RFVC) possui cerca de 15 ha e localiza-se no
Maciço da Tijuca (11.870 ha), que por sua vez
situa-se em uma região exclusivamente urbana sobre forte pressão antrópica. O clima na
região é considerado tropical quente e úmido,
apresentando um ou dois meses secos ao longo do ano. A temperatura anual média varia
entre 22 e 24ºC, apresentando máxima absoluta de 38 a 40ºC nos meses de dezembro a
fevereiro, e mínimas de 4 a 8ºC nos meses de
junho e julho. A pluviosidade anual varia de
1.250 a 1.500 mm (MATOS et al., 2002).
A amostragem da fauna de formigas foi
realizada em fevereiro de 2004, empregando o
extrator de Winkler, descrito em Bestelmeyer et
al. (2000). Essa técnica de amostragem é extremamente eficiente na serapilheira e possibilita a
captura de formigas, de tamanho reduzido, que
apresentam comportamento críptico (PARR;
CHOWN, 2001, VARGAS et al., 2009). Foram
demarcadas e peneiradas 50 parcelas de 1 m2
de serapilheira, ao longo de uma transecção
de 1.200 m de comprimento, marcada com 25
pontos espaçados por 50 m um do outro. Em
cada ponto demarcado na transecção foram esticadas duas linhas perpendiculares de 25 m,
uma para o lado esquerdo e outra para o direito
da transecção, sob as quais foram demarcadas
parcelas de serapilheira, caracterizando assim
unidades amostrais independentes. As amostras
obtidas em cada parcela foram individualizadas
e submetidas aos extratores de Winkler por 48
h, em condições de laboratório.
Exemplares coletados de cada espécie
foram montados em via seca e depositados na
Coleção Entomológica Costa Lima (CECL) do
Instituto de Biologia da Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Os gêneros foram identificados com base na chave de
Bolton (1994) e as subfamílias de acordo com
a proposta de Bolton (2003).
Para analisar a acumulação de espécies,
com o esforço de amostragem, foram utilizados os métodos Mao Tau e Chao2, ambos com
100 aleatorizações, com auxílio do programa
87
3. Resultados
Foram coletados 5.627 indivíduos, pertencentes a dez subfamílias, 32 gêneros e 90 espécies/morfoespécies de formigas na Reserva
Florestal da Vista Chinesa. A subfamília
Myrmicinae foi a mais rica em espécies (n=51);
seguida de Ponerinae (n=17), Ectatomminae
(n=8), Formicinae (n=5); Amblyoponinae,
Ceraphachyinae e Heteroponerinae tiveram
duas espécies e Dolichoderinae, Ecitoninae e
Proceratiinae, uma espécie cada. Pheidole e
Hypoponera foram os gêneros mais ricos com
dez espécies, seguidos por Solenopsis (n=8);
juntos estes gêneros representaram 31% das
espécies coletadas. Dezenove espécies foram
registradas com apenas um exemplar capturado, correspondendo a 21,1% do total de
espécies amostradas. As cinco espécies mais
abundantes responderam por 43% do total de
indivíduos capturados (Tabela 1).
O número médio de espécies por amostra
foi de 15,8 (± 4,4), variando entre seis e 26 espécies por metro quadrado. A curva de acumulação de espécies gerada por meio de amostras
aleatorizadas apresenta uma tendência a se estabilizar. A estimativa de riqueza de Chao2 foi de
129 em 50 amostras (Figura 1). A similaridade
na composição em espécies entre as amostras
de 1 m2 de serapilheira foi de 24% pelo índice
de Jaccard e 38% pelo índice de Sorensen.
A distribuição de abundância das espécies não diferiu estatisticamente da distribuição série logarítmica (Teste Qui-quadrado,
P > 0,05) (Figura 2). Essa distribuição prevê
poucas espécies abundantes e um grande número de espécies raras.
4. Discussão
Em florestas tropicais, são comuns as
curvas de riqueza de espécies não atingirem
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
2. Material e Métodos
EstimateS (COWELL 2000). A similaridade
entre as amostras foi calculada pelo índice de
Jaccard e de Sorensen. A distribuição de abundância das espécies observada foi comparada
à distribuição série logarítmica e submetida ao
teste de Qui-quadrado disponível no programa
SYSTAT® versão 8.0.
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com trabalhos previamente realizados em outros fragmentos florestais.
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
88
a assíntota (estabilização), diante da enorme
diversidade de espécies que exploram uma
multiplicidade de recursos alimentares e sítios
de nidificação (LEPONCE et al., 2004). Por
outro lado, estudos apontam a necessidade de
um maior esforço amostral e o emprego de outras técnicas de amostragem que resultariam
em uma fauna mais rica e diversa (ROMERO;
JAFFÉ, 1989; ALONSO; AGOSTI, 2000;
SCHUTTE et al., 2007). Entretanto, a viabilidade econômica, o espaço físico, o tempo
gasto em campo e no processamento de todo
o material coletado é extenso. Nesse sentido,
o que se tem feito é a escolha de uma técnica
mais eficiente e apropriada ao ambiente.
Os resultados obtidos aqui mostram uma
tendência à estabilização para a curva de riqueza observada na RFVC. A riqueza observada corresponde a 70% da riqueza estimada.
Em fragmento (Parque Estadual da Cantareira,
SP) com condições semelhantes à RFVC e
com o mesmo esforço amostral empregado
aqui Feitosa; Ribeiro (2005) observaram 62
espécies, porém alcançando 78% das espécies
estimadas. Morini et al. (2007) estudaram três
fragmentos de tamanhos diferentes, também
sob influência antrópica, em São Paulo, e encontraram 79 espécies. Para todos esses estudos, as diferenças de riqueza estão relacionadas ao tamanho dos remanescentes e/ou o grau
de conservação da paisagem do entorno.
A RFVC faz parte do maciço da Tijuca,
cuja área de florestas é de quase 12 mil hectares, sua riqueza em espécies de formigas é
muito mais próxima do encontrado por VeigaFerreira et al. (2005) na Reserva Biológica
do Tinguá, com área de 26.000 ha. Assim,
suportando a hipótese de que áreas maiores
comportam maior riqueza de espécies. Além
disso, áreas maiores podem proporcionar mais
recursos, sejam alimentares ou de sítios de
nidificação (KASPARI, 1993), aumentando a
área para o forrageamento das espécies. Com
relação aos dados de Morini et al. (2007), o
fator seria o tamanho amostral, fisionomia e
o tipo de técnica utilizada, já que empregaram
iscas atrativas e armadilhas de solo, respectivamente, tornando suas amostragens mais seletivas quanto à guilda de formigas capturada.
O padrão de distribuição de abundância
das espécies de formigas na RFVC sugere que
poucos fatores são dominantes na estruturação
da comunidade (MAGURRAN, 1988). A subfamília Myrmicinae, que apresentou a maior
abundância e riqueza de espécies, é a mais diversificada em termos de hábitos alimentares
e de nidificação (HÖLLDOBLER; WILSON,
1990), sendo frequentemente o grupo a representar a maior porção da diversidade de formigas de serapilheira na maioria dos ambientes
(MARINHO et al., 2002; VEIGA-FERREIRA
et al., 2005; VARGAS et al., 2007). Os gêneros Hypoponera, Pheidole e Solenopsis, que
representaram 31% das espécies encontradas
na RFVC, apresentam grande variedade de espécies em amostragens na serapilheira de ambientes de Cerrado (MARINHO et al., 2002),
Caatinga (LEAL, 2003) e Mata Atlântica
(VEIGA-FERREIRA et al., 2005; VARGAS et
al., 2007). Mesmo outros remanescentes florestais em ambientes urbanos, localizados em região de Mata Atlântica, apresentam esses gêneros como os mais ricos em espécies (FEITOSA;
RIBEIRO, 2005; MORINI et al., 2007).
Estudos que utilizam a técnica dos extratores de Winkler raramente amostram espécies do gênero Atta e Acromyrmex (VEIGAFERREIRA et al., 2005), embora eles tenham
sido observados na RFVC, durante os trabalhos de campo. Além de Acromyrmex e
Atta, cabe ressaltar a ausência de gêneros
como Azteca, Camponotus, Cephalotes,
Dolichoderus e Pseudomyrmex, todos comuns
em florestas tropicais e predominantemente
arborícolas, exceto Camponotus que também
é frequente na serapilheira. Fatores como o
comportamento das formigas e a limitação
da técnica de amostragem estão relacionados
ao não registro desses gêneros na RFVC (ver
VARGAS et al., 2009), corroborando ao exposto por Longino et al. (2002).
Com base no modelo de guildas propostas
por Delabie et al. (2000), a composição da fauna de formigas, amostradas na RFVC, só não
abriga representantes da guilda das “subterrâneas dependentes de honeydew”, o que de fato
deve-se à técnica utilizada, a qual inviabiliza
a captura de formigas subterrâneas, amostrando-as eventualmente (ver BESTELMEYER et
al., 2000). Isso mostra que, apesar de ter sido
utilizado apenas uma técnica de amostragem,
os resultados são relevantes e que o acréscimo de técnicas de amostragem aumentaria a
riqueza de espécies nas guildas já presentes.
A Rafael D. Loyola pelas considerações
propostas em versão prévia do manuscrito.
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Conforme exposto anteriormente, a riqueza de espécies observadas para a RFVC é
elevada se comparada a outras áreas, mesmo
com esforço amostral menor e/ou equivalente.
Como as formigas podem ser bons indicadores
da diversidade outros grupos de organismos
(ANDERSEN; MAJER, 2004), a conservação
desse fragmento florestal urbano na Cidade do
Rio de Janeiro torna-se essencial para ajudar
na proteção e conservação de numerosas espécies da fauna e flora da Mata Atlântica.
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MAYHE-NUNES, A. J., ORSOLON, G.
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Universidade Rural Série Ciências da
Vida, v. 25, p. 49-54, 2005.
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32. Ribas, C. S.; Campos, R. B. F.;
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suggestions to improve the use of ants
in environmental monitoring programs.
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35. Vargas, A. B., Mayhe-Nunes,
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fatores ambientais sobre a mirmecofauna
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Cadernos UniFOA
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and bioindicator sampling: testing pitfall
and winkler methods with ants in a South
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Conservation, v. 5, p. 27-36, 2001.
92
TABELA 1: Lista de espécies de formigas amostradas na Reserva Florestal da Vista Chinesa
(RFVC), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. (fev/2004). TABLE 1: List of ant species sampled in Reserva
Florestal da Vista Chinesa (RFVC), Rio de Janeiro, Brazil. (Feb/2004).
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Grupo Taxonômico
Subfamília Amblyoponinae
Amblyopone armigera Mayr, 1897
Amblyopone sp.2
Subfamília Ceraphachyinae
Cerapachys splendens Borgmeier, 1957
Cerapachys cf toltecus
Subfamília Dolichoderinae
Linepithema sp.
Subfamília Ecitoninae
Labidus sp.
Subfamília Ectatomminae
Ectatomma edentatum Roger, 1863
Gnamptogenys cf porcata
Gnamptogenys cf lucaris
Gnamptogenys rastrata (Mayr, 1866)
Gnamptogenys horni Santschi, 1929
Gnamptogenys continua Mayr, 1887
Gnamptogenys cf horni
Gnamptogenys sp.7
Subfamília Formicinae
Brachymyrmex sp.1
Brachymyrmex sp.2
Brachymyrmex sp.3
Nylanderia sp.1
Nylanderia sp.2
Subfamília Heteroponerinae
Heteroponera sp.1
Heteroponera sp.2
Subfamília Myrmicinae
Apterostigma sp. 1
Apterostigma sp. 2
Basiceros disciger (Mayr, 1887)
Carebara urichi (Wheeler, 1922)
Crematogaster nigropilosa Mayr, 1870
Cyphomyrmex strigatus Mayr, 1887
Cyphomyrmex gr rimosus
Hylomyrma balzani (Emery, 1894)
Hylomyrma reitteri (Mayr, 1887)
Megalomyrmex sp.1
Megalomyrmex sp.2
Megalomyrmex sp.3
Megalomyrmex sp.4
Octostruma rugifera (Mayr, 1887)
Octostruma iheringi (Emery, 1887)
Octostruma sp.3
Oxyepoecus sp.1
Oxyepoecus sp.2
Pheidole gr Gertrudae
Abundância
Registros
1
1
1
1
22
1
9
1
22
6
4
1
8
276
6
11
2
18
1
1
3
33
4
8
2
3
1
1
101
347
29
8
131
6
16
10
1
11
12
1
10
1
44
152
51
3
1
8
125
53
63
37
4
1
1
95
2
3
2
1
2
9
23
15
1
1
5
31
15
22
8
2
1
1
20
1
1
1
1
1
Registros
820
212
1
3
69
8
18
1
7
5
8
1
1
37
401
382
74
42
68
84
71
1
37
429
48
1
12
1
3
286
413
1
44
19
1
2
12
5
7
1
2
2
6
1
1
6
31
35
14
8
17
11
15
1
10
41
12
1
9
1
2
19
33
1
18
139
4
75
29
41
29
11
3
44
2
2
19
5
3
1
2
11
27
3
21
9
12
9
5
1
8
2
2
12
3
2
1
1
4
2
93
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Pheidole sp.1
Pheidole sp.2
Pheidole sp.3
Pheidole sp.4
Pheidole sp.5
Pheidole sp.6
Pheidole sp.7
Pheidole sp.8
Pheidole sp.9
Pheidole sp.10
Rogeria sp.1
Rogeria sp.2
Rogeria sp.3
Sericomyrmex sp.
Solenopsis sp.1
Solenopsis sp.2
Solenopsis sp.3
Solenopsis sp.4
Solenopsis sp.5
Solenopsis sp.6
Solenopsis sp.7
Solenopsis sp.8
Strumigenys sp.1
Strumigenys sp.2
Strumigenys sp.3
Strumigenys sp.4
Strumigenys sp.5
Strumigenys sp.6
Trachymyrmex sp.
Wasmannia auropunctata (Roger, 1863)
Wasmannia cf rochai
Wasmannia cf scrobifera
Subfamília Ponerinae
Anochetus mayri
Hypoponera sp.1
Hypoponera sp.2
Hypoponera sp.3
Hypoponera sp.4
Hypoponera sp.5
Hypoponera sp.6
Hypoponera sp.7
Hypoponera sp.8
Hypoponera sp.9
Hypoponera sp.10
Odontomachus chelifer (Latreille, 1802)
Odontomachus meinerti Forel, 1905
Pachycondyla harpax (Fabricius, 1804)
Pachycondyla lunaris (Emery, 1896)
Pachycondyla striata Fr. Smith, 1858
Thaumatomyrmex sp.
Subfamília Proceratiinae
Discothyrea sp.
Abundância
Cadernos UniFOA
Grupo Taxonômico
94
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
FIGURA 1: Curva de acumulação de espécies de formigas de serapilheira para a Reserva Florestal
da Vista Chinesa, Rio de Janeiro, RJ, Brasil (fev/2004). A riqueza (S) observada foi calculada
pelo método Mao Tau e a estimada pelo método Chao2; ambas com 100 aleatorizações.
FIGURA 2: Distribuição da abundância de espécies de formigas de serapilheira na
Reserva Florestal da Vista Chinesa, Rio de Janeiro, RJ, Brasil (fev/2004).
Endereço para Correspondência:
André Barbosa Vargas
[email protected]
Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA
Campus Olezio Galotti, Av. Paulo Erlei Alves
Abrantes, 1325 - Três Poços.
CEP: 27240-560
Volta Redonda, RJ – Brasil.
95
Stent Multicamadas - uma nova alternativa no tratamento de Aneurismas.
Revisão de Literatura
Stent Multilayer - a new alternative in the treatment of Aneurysms.
Literature Review
Augusto Frederico Martins Lopes Oliveira 1
Gabriel Costa Miziara 1
Lívia Gomes de Oliveira Garani 2
Marcela Sousa Cruz de Oliveira 3
Rodrigo Leal de Jesus Alves 3
ISSN
1809-9475
Artigo
Original
Original
Paper
Recebido em
10/2012
Aorta
Reconstrução
Endoluminal
Abstract
The objective of this study is to demonstrate the emergence of a new safe
and effective alternative for the endovascular treatment of aneurysms via 3D
Multilayer Stent, which has multiple layers of braided cobalt alloy, giving
a 3D geometric structure, because unlike the conventional treatment of
embolization coils or by exclusion grafts, stent Multilayer reduces the speed
and pressure of blood flow within the aneurysm sac, while maintaining the
flow to collaterals, with this implementation the probability of rupture of the
aneurysm sac becomes minimum. Studies support the efficacy and safety of its
implantation in aortic aneurysms, peripheral and visceral, and the retraction of
the aneurysm occurs in the months following implantation of Multilayer Stent,
when compared to traditional treatment is a reduction of complications and
mortality. This therapeutic option appears as a very promising breakthrough
for the endovascular treatment of aneurysms.
1 Acadêmicos do curso de Medicina da Universidade Gama Filho - RJ
2 Acadêmica do curso de Medicina da Universidade Severino Sombra - RJ
3 Acadêmicos do curso de Medicina do Centro Universitário de Volta Redonda - RJ
Keywords
Aneurysm
Aorta
Endoluminal
Repair
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Aneurisma
Resumo
O objetivo deste estudo é demonstrar o surgimento de uma nova alternativa
segura e eficaz no tratamento endovascular dos aneurismas através do Stent
Multicamadas 3D, que possui múltiplas camadas trançadas de liga de cobalto, dando uma estrutura geométrica em 3D, pois, ao contrário do tratamento
convencional de embolização de bobinas ou exclusão pelos enxertos, o Stent
Multicamadas reduz a velocidade e a pressão do fluxo sanguíneo dentro do
saco aneurismático ao mesmo tempo em que mantém o fluxo para as artérias colaterais, com essa implantação, a probabilidade de ruptura do saco
do aneurisma se torna mínima. Estudos corroboram a eficácia e a segurança
de sua implantação nos aneurismas aórticos, viscerais e periféricos, além de
ocorrer a retração do aneurisma nos meses seguintes à implantação do Stent
Multicamadas, sendo assim, quando comparado ao tratamento tradicional,
ocorre uma redução das complicações e das mortalidades. Essa opção terapêutica surge como um avanço bastante promissor para o tratamento endovascular dos aneurismas.
Cadernos UniFOA
Palavras-chave
Aprovado em
04/2013
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
96
1. Introdução
Um aneurisma ocorre quando há uma
dilatação na parede da artéria de, pelo menos, 50% maior que seu diâmetro normal.
Tradicionalmente, considera-se a aterosclerose como causa primária em 90% dos casos. Os
aneurismas das artérias viscerais são aqueles
aneurismas intra-abdominais que afetam a artéria celíaca, as artérias mesentéricas superior
e inferior e as artérias renais e seus ramos[12].
Os aneurismas periféricos são poucos comuns, porém, quando surgem, podem trazer
consequências graves ao paciente, como no
caso de aneurismas de artérias poplíteas que
se destacam pela maioria dos casos periféricos. Tem como complicação, a amputação do
membro, devido à trombose ou embolia[2]. A
prevalência de aneurisma de artéria aorta torácica está crescendo, tendo atenção especial
também dos cardiologistas, visto que traz
complicações de valva aórtica, pois causa refluxo sanguíneo para o ventrículo esquerdo
quando a válvula se fecha, caracterizando uma
insuficiência aórtica[3].A maior incidência de
aneurismas está na aorta abdominal, pois é comum surgir em hipertensos e tabagistas; possui grande chance de ruptura, pois se trata de
um aneurisma assintomático, talvez este seja o
motivo da alta taxa de mortalidade em relação
aos outros aneurismas[12].
Estudos promissores indicam uma nova
linha terapêutica para o tratamento endovascular de aneurisma aórticos, periféricos e viscerais, trata-se do Stent Multilayer 3D Cardiatis,
sua plataforma tecnológica se baseia na técnica de múltiplas camadas de ligas de cobalto
trançadas desenvolvendo nos stents estruturas
geométricas tridimensionais espacias[4].
A estrutura do Stent Multilayer, em virtude de sua geometria 3D, confere ao stent
alta resistência e flexibilidade, sendo que sua
principal vantagem está no fato de modular o
fluxo hemodinâmico dentro do aneurisma, pois
reduz a velocidade no vórtex do mesmo, com
isso, forma-se um trombo organizado e estável,
mantendo o fluxo laminar na artéria principal
e preservando os ramos colaterais e distais [2].
Ao ocorrer um fluxo laminar e lento dentro do saco aneurismático, reduz-se a
probabilididade de ruptura e há retração do
aneurisma ao longo do tratamento, ao mesmo tempo que assegura perfusão sanguínea
para as artérias colaterais e distais, isso torna
o Stent Multilayer uma evolução terapêutica
no tratamento endovascular dos aneurismas.
Países como Bélgica, Grécia, Alemanha,
França e Itália demostraram por relatos de casos a eficiência e segurança do uso do Stent
Multilayer[5], portanto, foi constatado, através desta revisão bibliográfica, que o Stent
Multilayer surge como alternativa segura e de
excelentes resultados nos casos de aneurismas
aórticos, periféricos e viscerais[13].
2. Métodos
Trata-se de uma revisão de literatura,
realizada por meio de levantamento de artigos científicos, publicados entre os anos de
2007 e 2012. As buscas bibliográficas foram
realizadas através de banco de dados eletrônicos internacionais, como a Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências
da Saúde (LILACS), National Library of
Medicine (MEDLINE), Scientific Eletronic
Library Online (SCIELO) e na biblioteca
virtual Pubmed. As palavras-chave utilizadas para a busca dos artigos foram às seguintes: Aneurismas; Stent Multilayer 3D
Cardiatis; Tratamento Endovascular; Efeitos
Hemodinâmicos. Os critérios de inclusão dos
artigos foram aqueles em que usaram o Stent
Multilayer para o tratamento endovascular dos
aneurismas e os seus respectivos prognósticos.
Os artigos selecionados foram publicados em
periódicos internacionais e no idioma inglês.
3. Resultados
97
TABELA 1 Estudos científicos relatados.
Número
de Casos
Sucesso
Técnico
Sucesso
Clínico
[1] Balderi et al. (2010) Itália
Relato de caso
1
100%
100%
[2] Carrafiello et al. (2011) Itália
Relato de caso
1
100%
100%
[3]Ferrero et al. (2010) Itália
Relato de caso
2
100%
100%
[4] Henry et al. (2010) Bélgica, França e Grécia
Série
30
100%
100%
[5] Henry et al. (2008) França
Relato de caso
1
100%
100%
[6] Meyer et al. (2010) Alemanha
Relato de caso
1
100%
100%
[7] Polydorou et al. (2010) Grécia
Relato de caso
19
100%
100%
[8] Polydorou (2007) Grécia
Relato de caso
1
100%
100%
[9] Polydorou (2007) Grécia
Relato de caso
1
100%
100%
[10] Rabbia (2010) Itália
Série
45
100%
100%
[11] Ruffino et al. (2010) Itália
Série
52
92.3%
94.1%
TOTAL
4. Discussão
A principal vantagem da plataforma tecnológia das multicamadas reside no fato de
tornar possível modular o fluxo hemodinâmico dentro do segmento arterial acometido[11].
O design do Stent Multilayer, em virtude
de sua geometria 3D, reduz a velocidade do fluxo dentro do vórtex do aneurisma, melhorando
o fluxo laminar na artéria principal e nas colaterias. Isso permite a redução da pressão dentro
do saco aneurismático, reduz também a estase e
a formação de um trombo organizado[11].
Balderi et al.[1] relata o caso de um paciente, do sexo masculino, de 74 anos de idade,
com aneurisma de artéria hepática de 85mm
de diâmetro, originário da artéria hepática comum, envolvendo até a artéria gastroduodenal. Por causa do risco de ruptura espontânea
do aneurisma foi utilizada a angiografia por
subtração digital, já no pós-operatório imediato, pode-se observar uma formação inicial de
trombos organizados, isso levou à redução do
fluxo turbulento dentro do saco aneurismático
e manteve o fluxo para os ramos colaterais e
para as artérias esplênicas, hepáticas direita e
esquerda e gastroduodenal. Após seis meses,
houve completa redução do aneurisma e os ramos mantiveram perfundidos.
-
154
Já Carrafielo et al.[2] relata o caso de um
paciente do sexo masculino de 60 anos de
idade, com aneurisma de tronco celíaco, que
foi tratado com Stent Multilayer com objetivo
de preservar os ramos colaterais do aneurisma. Sucesso clínico foi obtido em aproximadamente seis meses, e a confirmação ocorreu
após doze meses, com trombose completa do
saco aneurismático sem comprometer ramos e
a perfusão regular do fígado e baço.
Ferrero et al.[3], relatam o caso de dois pacientes do sexo masculino, um de 71 anos e o
outro de 73 anos de idade, ambos com aneurisma de artéria hepática (34 mm e 48 mm de
diâmetro respectivamente). Imediatamente, no
pós-operatório, demonstrou formação inicial
de um trombo com redução do fluxo dentro do
saco aneurismático e perfusão para os ramos
colaterais. Com seis meses após a colocação do
Stent Multilayer, ocorreu trombose completa
do aneurisma e perfusão contínua para os ramos colaterais, em seguida, após doze meses,
foi realizada outra avaliação que confirmou o
sucesso clínico no tratamento do aneurisma.
O primeiro paciente teve alta em três dias
e o segundo em dois dias. Ferrero et al.[3] relatam ainda que as limitações deste novo stent
são determinadas pelo fato de que não pode
ser usado em casos de emergência, como em
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Tipo de estudo
Cadernos UniFOA
Autoria e País
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
98
uma ruptura de aneurisma de artéria visceral
porque não é um stent recoberto. Além disso,
o posicionamento do dispositivo requer um
apoio que ainda hoje é grande no tamanho.
Finalmente, as dificuldades de canulação do
vaso alvo podem ocorrer devido à anatomia
do vaso, a pouca flexibilidade dos materiais e
da necessidade de usar guias bastante rígidos
para a liberação do stent.
Henry et al.[4] relata uma série de 30 pacientes, sendo 22 de aneurismas periféricos
(Ilíaca: 14; Femoral: 1; Poplíteo: 2 ; Renal: 4;
Mesentérica: 1); 6 de aneurismas torácicos e 2
de aneurismas abdominais. O sucesso técnico
foi obtido em todos os pacientes. Para os aneurismas periféricos ocorreu a exclusão e o fluxo permaneceu para as artérias colaterais, em
relação aos aneurismas tóraco-abdominais,
todos mantiveram o fluxo para as colaterais,
sendo que a total exclusão necessitaria de um
período de 06, 12 e 30 meses de pós operatório
respectivamente, para aneurismas periféricos,
torácicos e abdominais, para confirmar a total
exclusão do aneurisma.
Henry et al.[5] relata o caso de um paciente do sexo masculino, 78 anos de idade, com
múltiplas comorbidades, apresentando aneurisma sacular de artéria renal direita com 30
mm de diâmetro, que foi submetido ao tratamento endovascular com o Stent Multilayer
e imediatamente após a colocação do stent
houve redução do fluxo turbulento no saco
aneurismático e perfusão sanguínea para as
artérias colaterais. Após seis meses, o paciente apresentou completa exclusão do aneurisma
e com contínuo fluxo para as colaterais e alta
hospitalar no dia seguinte. Henry et al. escrevem ainda que o mecanismo pelo qual o Stent
Multilayer pode causar a absorção do aneurisma se deve a hemodinâmica dentro do saco.
Para um aneurisma sem colaterais, o
sangue flui para dentro do saco, gerando um
vórtex, uma após a outra, todas ao longo da
parede do aneurisma, à medida que estes progressos geram perturbações de fluxo, tornam-se mais fortes e estes movimentos contínuos
induzem o estresse na parede arterial. Quando
o Stent Multilayer é colocado na frente do
colo do aneurisma, a geometria 3D reduz a
velocidade do fluxo dentro do vórtex do saco
aneurismático, melhorando o fluxo laminar na
artéria principal e nos ramos colaterais.
Meyer et al.[6] relatam o caso de um paciente do sexo masculino, 74 anos de idade,
com aneurisma de artéria renal esquerda de
26mm de diâmetro que tratado com Stent
Multilayer, imediatamente após a colocação
do stent, apresentou diminuição do fluxo turbulento dentro do aneurisma, e a angiografia,
obtida após 20 minutos à colocação do stent,
demonstrou uma completa exclusão do fluxo
turbulento no aneurisma e a perfusão preservada para as artérias colaterais. Cinco meses
após da implantação do Stent Multilayer, o
paciente mostrou exclusão do saco aneurismático e, sem sinais de infarto renal, o paciente
teve alta hospitalar no dia seguinte.
Polydorou et al.[7] relatou 19 pacientes
com aneurismas, sendo 4 de artérias renais, 15
de artérias ilíacas, 1 artéria poplítea, 1 artéria
aorta torácica e 1 de artéria aorta abdominal.
Foi obtido o sucesso técnico em todos os casos
. A taxa de exclusão dos aneurismas periféricos foi de 100% e todos os ramos colaterais
com perfusão. Para os aneurismas de tórax e
abdômen, a angiografia, realizada após três
meses, mostrou redução do fluxo sanguíneo
no interior do saco aneurismático e perfusão
mantida para os ramos colaterais, porém,
concluiu-se que havia necessidade um tempo
maior para excluir completamente os aneurismas de artérias de maior calibre, como aorta
torácica e abdominal. O autor descreve ainda
que isso se deve ao número e o tamanho dos
ramos dentro do aneurisma, bem como o tamanho do vaso alvo em si.
Polydorou et al.[8] relata o caso uma paciente, de 78 anos de idade, do sexo feminino,
com aneurisma de artéria poplítea direita, com
5 mm de diâmetro. Após a colocação do Stent
Multilayer com sucesso técnico de 100%,
houve uma redução do fluxo turbulento dentro
do aneurisma. Dois meses após, foi realizado
uma angiografia, revelando um trombo organizado dentro do aneurisma ao mesmo tempo
em que se observava a redução do fluxo turbulento. Sete meses após, outra angiografia mostrou exclusão completa do aneurisma e sem
alteração na perfusão dos ramos colaterais.
Polydorou et al.[9] relata o caso de uma paciente do sexo feminino, de 78 anos de idade,
com aneurisma sacular de artéria renal direita
de 30 mm de diâmetro. No pós-operatório, a
angiografia mostrou redução da velocidade do
Através desta revisão, podemos concluir
que o novo Stent Multilayer surge como uma
alternativa segura e eficaz no tratamento endovascular dos aneurismas. O sucesso técnico
aliado ao clínico faz com que ocorra a exclusão
dos aneurismas pela formação de um trombo
organizado, enfatizando que aneurismas de
vasos de maior calibre levam um tempo maior
para serem excluídos em relação aos de pequeno calibre e ao mesmo tempo em que mantém
a perfusão sanguínea para os ramos colaterais.
Sem dúvida, os resultados obtidos na utilização
99
6. Referências
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Aneurysm using Multilayer Stent.
Cardiovascular and Interventional
Radiology, v. 34, n. 3, p. 637-641, 2011.
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
5. Conclusão
do Stent Multilayer foram superiores ao tratamento convencional. Serão necessários, ainda,
mais estudos para que se possa afirmar que o
Stent Multilayer é a evolução definitiva para o
tratamento endovascular dos aneurismas, porém, é bastante promissor para o futuro.
Conflitos de interesses: Nenhum e não
houve qualquer auxílio por parte do fabricante
da endoprótese.
Cadernos UniFOA
fluxo dentro do saco aneurismático e perfusão
para os ramos colaterais. Três meses após, a
angiografia mostrou completa exclusão do
aneurisma bem como os ramos colaterais preservados. Paciente teve alta hospitalar no dia
seguinte.
Rabbia et al.[10] descreve uma série de estudos que foram realizadas em centros de estudos na Itália, o relato foi feito com 45 pacientes
entre aneurismas periféricos e viscerais. A taxa
de sucesso foi avaliada em 30 dias, 3 meses e
6 meses, respectivamente, com isso o sucesso
obtido em 30 dias foi de 88,9% (40/45), em 3
meses foi de 93.3% (28/30) e em 6 meses chegou 100% (16/16). Ao final do estudo preliminar ficou firmada a eficácia da utilização do
Stent Multilayer no tratamento endovascular
dos aneurismas realizada neste estudo.
Ruffino et al.[11] relatam uma série de 52
pacientes com aneurismas, sendo 36 periféricos
e 16 viscerais, tratados em 32 centros clínicos
da Itália. Dos 52 pacientes, 39 tinham ramos colaterais mal perfundidos. O sucesso técnico foi
alcançado no intraoperatório em 48 pacientes
(92.3%). O sucesso clínico foi obtido naqueles
pacientes em que houve a formação de trombo
organizado dentro do aneurisma, perfusão contínua para os ramos colaterais e a exclusão do
aneurisma, a avaliação angiográfica foi programada para três fases, sendo após 30 dias, 3 meses e 6 meses, respectivamente, e obtiveram os
seguintes resultados, em 30 dias: 91.6% (44/48),
em 3 meses: 93.3% (24/26) e em 6 meses: 94.1%
(16/17). Portanto, conclui-se que ao longo de 6
meses os resultados são ainda melhores se comparado ao tratamento convencional.
100
7. POLYDOROU, A.; HENRY, M.;
BELLENIS, I. et al. Endovascular Treatment
of Aneurysm With Side Branches - A
Simple Method. Myth or Reality? Hospital
Chronicles, v. 5, n. 2, p. 88-95, 2010.
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com/images/stories/info/popliteal-aneurysmcase.pdf> Acessado em 20 Jan. 2012.
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with Fluid Smart 3D Multilayer Stent.
Disponível em < http://www.cardiatis.
com/images/stories/info/renal-aneurysmcase.pdf> Acessado em 20 Jan. 2012.
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
10. RABBIA, C. Experience With The Use of the
Multilayer Stent for the treatment of Peripheral
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http://www.veithpress.org/pdf/vei/3724.pdf>
Acessado em 23 Nov. 2011.
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Peripheral and Visceral Aneurysm Repair
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Disponível em < http://content.onlinejacc.
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Disponível em < http://www.cardiatis.
com/images/stories/info/fluid-19(105)_c.
wailliez_g.coussement_fpms.pdf>
Acessado em 03 Set. 2012.
Endereço para Correspondência:
Augusto Frederico Martins Lopes Oliveira
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Rua 41, 360 - Vila Santa Cecília
Volta Redonda - RJ.
CEP: 27253-070
9
Editorial
O periódico Cadernos UniFOA é um veículo de divulgação de pesquisas em Ciência e Tecnologia
do Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA), que tem como objetivo primordial, divulgar para a
comunidade científica resultados de pesquisas realizadas dentro e fora da Instituição que, de alguma forma,
contribuam para o desenvolvimento das diversas áreas do conhecimento científico.
O Cadernos UniFOA tem trabalhado para que, cada vez mais, a qualidade dos artigos publicados
esteja em primeiro lugar, incentivando autores internos e externos à Instituição a divulgarem os resultados de
suas pesquisas por meio deste periódico.
É com enorme satisfação que apresento a Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas, de maio
de 2013, do Cadernos UniFOA. Nesta edição, são apresentados dez artigos originais de grande relevância
científica, todos contendo dados inéditos, ou na forma de artigos de revisão.
Em nome de todo o Corpo Editorial do Cadernos UniFOA, agradeço a todos que, de alguma forma,
colaboraram para a elaboração, revisão e edição dos artigos que compõe esta edição especial.
Prof. Dr. André Resende de Senna
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Editor da Área de Ciências da Saúde e Biológicas
11
Ação da giberelina no crescimento de pimenta (Capsicum frutescens)
Effects of the action of gibberellin in the initial growth of pepper plants (Capsicum
frutescens)
ISSN
1809-9475
Artigo
Original
Rafaela Cinigalha Torres1
Kelly Carla Almeida de Souza Borges2
Original
Paper
Ácido giberélico
Pimenta
Abstract
The present work was aimed at evaluating the effects of the action of gibberellin
in the initial growth of pepper plants (Capsicum frutescens) below foliar spray
at different concentrations of plant regulator. The experiment was conducted at
the Laboratory of Biotechnology UniFOA. The seeds of Capsicum frutescens
were sown in fertilized soil substrate in black polyethylene bags (10cm x
20cm) with a capacity of 1000ml. Four treatments were performed (Table 1)
with the plant regulator gibberellin concentrations 25mg / L (T1), 50 mg /
L (T2) and 100 mg / L (T3), and the control in the absence of the regulator
(T4), being three replications with ten seeds in each. The sprayings made with
bioregulators gibberellin provided significant growth in shoots of Capsicum
frutescens, where best results were associated with GA3 dosage of 50 mg / l
(T2), allowing to reach the 30 days after germination, the average values of 15
cm height and about 7 leaves per plant. However, no influence of gibberellin
in root growth.
1
Discente do Curso de Ciências Biológicas - UniFOA
2
Professora Mestra do Curso de Ciências Biológicas - UniFOA
Recebido em
03/2012
Aprovado em
04/2013
Keywords
Growth
Gibberellic acid
Pepper
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Crescimento
Resumo
O presente trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos da ação da giberelina no crescimento inicial de plantas de pimenta (Capsicum frutescens)
sob pulverização foliar, em diferentes concentrações desse fitorregulador.
O experimento foi realizado no Laboratório de Biotecnologia do UniFOA.
As sementes de Capsicum frutescens foram semeadas no substrato terra
adubada em sacos de polietileno preto (10cm x 20cm) com capacidade
de 1000ml. Foram realizados quatro tratamentos (Tabela 1) com o fitorregulador giberelina nas concentrações 25mg/L (T1), 50 mg/L (T2) e 100
mg/L (T3), além do controle na ausência do regulador (T4), sendo três
repetições com dez sementes em cada. As pulverizações realizadas com
o biorregulador giberelina proporcionaram crescimento significativo na
parte aérea de Capsicum frutescens, onde os melhores resultados estiveram associados à dosagem de GA3 50 mg/l (T2), permitindo atingir, aos
30 dias após a germinação, os valores médios de 15 cm de altura e cerca
de 7 folhas por planta. No entanto, não houve influência da giberelina no
crescimento de raiz.
Cadernos UniFOA
Palavras-chave
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
12
1. Introdução
A pimenta (Capsicum frutescens) tem
origem no continente americano e pertence à
família Solanaceae. Apresenta caule ramificado, ereto e folhas lanceoladas, verdes e brilhantes, com nervuras bem marcadas, as flores
são brancas ou arroxeadas, o fruto é do tipo
baga, de forma cônica, alongada e cor verde
ou vermelha, com 8 a 12 cm de comprimento e 1 a 2 cm de diâmetro (CARVALHO;
BIANCHETTI, 2004).
O mercado para as pimentas pode ser
dividido em dois grandes grupos: o consumo
in natura e as formas processadas, através de
molhos, conservas, flocos desidratados e pó
como ingrediente de alimentos processados
(LOPES, et al., 2007).
A pimenta (Capsicum spp) é uma especiaria bastante apreciada pela sua pungência,
flavor e como conservante alimentar, assim
como por suas propriedades fisiológicas e
farmacêuticas, devido à presença de determinados componentes como a capsaicina e a
dihidrocapsaicina (CISNEROS-PINEDA, et
al, 2007). Alguns estudos têm apontado que
as pimentas também são boas fontes de antioxidantes alimentares, como vitamina C, vitamina E, carotenóides e compostos fenólicos
(REIFSCHNEIDER, 2000). O fruto é usado
popularmente no combate a diversas doenças,
como nas inflamações na garganta, diarréia,
dilatador capilar, expectorante, para diminuir
o broncoespasmo e na obstrução da passagem de ar pulmonar induzido pela histamina
(PIRES et al., 2004).
No entanto, devido ao interesse por essas atividades medicinais, alimentícias e nos
benefícios promovidos por ela, existe a necessidade de um aumento e melhora na produção
de pimenta visando melhorar qualitativa e
quantitativamente a produtividade das culturas, e isso pode ser feito com a aplicação de
fitorreguladores (VIEIRA; CASTRO, 2004).
Dentre os diversos grupos de fitorreguladores está a giberelina (ácido giberélico) que
age de forma expressiva na germinação de sementes, tanto na quebra de dormência quanto no controle da hidrólise de reserva (TAIZ;
ZEIGER, 2004).
As giberelinas têm apresentado resultados favoráveis no aumento do número e o
comprimento das células em várias espécies
vegetais e tem sido utilizada para modificar
o crescimento e desenvolvimento de plantas,
além de funcionar como regulador da divisão
e alongamento das células (RODRIGUES;
LEITE, 2004). A aplicação exógena da giberelina provoca o crescimento foliar e alongamento do caule (MODESTO et al.,1996).
Também apresenta efeitos sobre a parede celular, promove o alongamento dos entrenós
em várias espécies, pois o alvo da ação das giberelinas é o meristema intercalar, o qual está
localizado próximo à base do entrenó (TAIZ;
ZEIGER, 2008).
Sendo assim, o presente trabalho teve
como objetivo avaliar o efeito da giberelina no
crescimento das plantas de pimenta (Capsicum
frutescens) no cultivo in vivo.
2. Material e Métodos
O experimento foi realizado no
Centro Universitário de Volta Redonda, no
Laboratório de Biotecnologia, entre os meses de maio a outubro de 2012. As sementes
de Capsicum frutescens foram semeadas no
substrato terra adubada em sacos de polietileno preto (10cm x 20cm) com capacidade de
1000ml. Foram realizados quatro tratamentos
(Tabela 1) com o fitorregulador giberelina nas
concentrações 25mg/L (T1), 50 mg/L (T2) e
100 mg/L (T3), além do controle na ausência
do regulador (T4), sendo três repetições com
dez sementes em cada.
2.1. Aplicação do regulador de crescimento
Ao completarem 20 dias, as plantas foram submetidas à aplicação de giberelina
uma vez ao dia, a cada dois dias, entre 6 e 7h
da manhã com auxílio de borrifador manual
com capacidade de 100ml, totalizando quatro
pulverizações foliares durante 10 dias. No trigésimo dia após a germinação foi realizada a
análise de crescimento para avaliar o efeito do
fitorregulador sobre as plantas.
3. Resultados e Discussão
As sementes de pimenta (Capsicum frutescens) germinaram no substrato terra vegetal
apresentando 90 % de germinação aos 11 dias.
Os parâmetros avaliados apontaram que
houve influência do fitorregulador giberelina
no crescimento de Capsicum frutescens aos
30 dias de cultivo, momento em que a análise de crescimento foi realizada com diferença
significativa entre os tratamentos na análise da
altura e número de folhas.
O ácido giberélico, em todas as concentrações testadas, promoveu um aumento na altura de plantas. Porém, os melhores resultados
foram obtidos a partir da aplicação das maiores concentrações de giberelina, sendo cerca
de 15 cm de comprimento na presença do T2
(50mg/L) e 14 cm no T3 (100 mg/L), ambos
diferindo dos demais tratamentos em que a
concentração do fitorregulador foi menor (T1
= 25mg/L: 13cm) ou ausente (T4 = 0 mg/L –
controle: 9 cm).
Para o número de folhas, os resultados
evidenciaram efeito significativo em função
das doses de giberelina aplicadas via pulverização foliar. Verificou-se que o maior valor
obtido, aos 30 dias de cultivo, foi de 7,78 folhas por planta para a concentração de 50 mg/L
de giberelina que corresponde ao tratamento
T2. Contudo, a maior concentração de giberelina (T3=100mg/L com 6,52 folhas), apesar de
ter produzido maior número de folhas que T1
(25mg/L com 6,21 folhas) e T4 (0 mg/L com
6,15 folhas), não diferiu estatisticamente desses tratamentos, exibindo diferença significativa apenas de T2 com 95% de probabilidade.
13
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
A análise de crescimento foi semanal e
aos 30 dias após a germinação foram avaliados
os seguintes parâmetros: tempo de germinação, altura, número de folhas, presença de raiz
e comprimento de raiz. Os resultados obtidos
foram submetidos ao programa “Statgraphics”
para a realização da análise de variância (teste F) e as médias dos tratamentos comparadas
pelo teste Tukey, utilizando-se o nível de 5%
de significância.
Como pode ser observado na figura 1, a
pulverização foliar com giberelina promoveu
aumento expressivo na parte aérea de plantas
de pimenta (Capsicum frutescens) aos 30 dias
de cultivo. No entanto, não foi significativa
para o crescimento de raiz (tabela 2).
Estes resultados confirmam o papel ativo
da giberelina na divisão celular e no alongamento da planta (HIGASHI et al., 2002), que
promove a extensibilidade da parede da célula (RAVEN et al., 2001). Agem também no
desenvolvimento reprodutivo afetando a transição do estado juvenil para o maduro, bem
como a indução da floração, determinação
do sexo e o estabelecimento do fruto (TAIZ;
ZEIGER, 2004). Esse regulador age durante
todo ciclo das plantas, desde a germinação até
o crescimento da semente e pericarpo, além
disso, são mediadoras dos estímulos ambientais e, portanto, a biossíntese desse hormônio é
de fundamental importância para desenvolvimento das plantas e sua adaptação ao ambiente (RODRIGUES; LEITE, 2004).
O efeito positivo do ácido giberélico sobre crescimento de plantas tem sido relatado
por vários autores, especialmente quando aplicado durante o desenvolvimento inicial das
plantas (COELHO et al, 1983; MODESTO
et al, 1996; LEITE et al, 2003; LEONEL;
PEDROSO, 2005).
Em maracujazeiro-doce, as aplicações
com giberelina através de pulverizações foliares nas concentrações 0, 100, 200, 300 e 400
mg/L resultou na aceleração do crescimento
das plantas, e a aplicação de 300 mg/L apresentou maiores valores para altura média do caule e
no número de folhas deferindo estatisticamente
dos demais (LEONEL; PEDROSO, 2005).
A aplicação em soja, via foliar, de
100mg/L de giberelina permitiu a obtenção
de aumento significativo na altura das plantas, altura do primeiro nó e diâmetro do caule
(LEITE et al, 2003).
Para o comprimento de raiz, os resultados demonstraram não haver diferença significativa entre os tratamentos, pois os valores
obtidos no tratamento controle (T4 = 0mg/L
com 2,42cm de raiz), marcado pela ausência
de giberelina, foram semelhantes aos encontrados nas plantas que foram submetidas às
aplicações com este fitorregulador.
Cadernos UniFOA
2.2. Análise de crescimento
14
Estes resultados para raiz corroboram
com o fato da giberelina influenciar de forma pouco acentuada no crescimento da raiz
(TAIZ; ZEIGER, 2009). Além disso, o efeito
da giberelina no crescimento da raiz é indireto
em função da sua ação no crescimento da parte
aérea (LEITE, 2003).
4. Conclusão
As pulverizações realizadas com o
biorregulador giberelina proporcionaram
crescimento significativo na parte aérea de
Capsicum frutescens, onde os melhores resultados estiveram associados à dosagem de
50 mg/l (T2), permitindo atingir, aos 30 dias
após a germinação, os valores médios de 15
cm de altura e cerca de 7 folhas por planta. No
entanto, não houve influência da giberelina no
crescimento de raiz.
J.O.A.; KLUGE, R.A. Introdução à
fisiologia do desenvolvimento vegetal.
Maringá: Eduem. cap. 9, 2002, p. 139 -158.
5.
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LEONEL, S.; PEDROSO, C.J. Produção
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de biorregulador. Revista Brasileira de
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7.
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CARVALHO S. I. C.; MAROUELLI W.
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8.
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Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
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16. VIEIRA, E.L.; CASTRO, P.R.C. Ação
de bioestimulante na cultura da soja
(Glycine max L. Merrill). Cosmópolis:
Stoller do Brasil. 2004, 47p.
Endereço para Correspondência:
Rafaela Cinigalha Torres
[email protected]
Av. Paulo Erley Abrantes, 1325
Três Poços - Volta Redonda/RJ
CEP: 27240-560
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
11. REIFSCHNEIDER, F. J. B. (Org.)
Capsicum: pimentas e pimentões no
Brasil. Brasília: Embrapa Comunicação
para Transferência de Tecnologia/
Embrapa Hortaliças. 113p, 2000.
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Cadernos UniFOA
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(Ed.). Biologia vegetal. Rio de Janeiro:
Guanabara Kogan. 2001, p. 649-674.
16
6. ANEXO
Figura 1 - Plantas de Capsicum frutescens, aos 30 dias após a germinação, submetidas
à aplicação dos tratamentos com giberelina. Comprimento da barra: 2cm
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Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Tabela 1 - Concentração do regulador vegetal aplicado no cultivo in vivo de pimenta (Capsicum frutescens)
Tratamentos
Concentração (mg/L)
T1
25
T2
50
T3
100
T4
Sem regulador de crescimento
Tabela 2: Ação da giberelina no crescimento de pimenta (Capsicum frutescens) aos 30 dias após a germinação
Tratamentos
Concentração
Giberelina
Altura
(cm)
Folha
Raiz (cm)
T1
25mg/L
13 b
6,21 b
2,26 a
T2
50 mg/L
15,47 a
7,78 a
2,73 a
T3
100 mg/L
14,89 a
6,52 b
2,42a
T4
0mg/L
9c
6,15 b
2,42a
Médias seguidas da mesma letra na mesma coluna não diferem estatisticamente entre si com 95% de confiança
Avaliação da População Microbiana Presente no Interior do Corpo das
Torneiras de uma UTI em um Hospital no Município de Volta Redonda.
Evaluation of Microbial Population present inside the body taps in an ICU of a
hospital in the city of Volta Redonda
Tayane Cristine da Silva Corrêa1
Hellen Avelar Duarte2
Ester Albuquerque Lourenço3
Gabriel José Ribeiro3
Leoni Ferreira da Silva3
Jessica Rizkalla Correa Medeiros3
Nathália Cristinne Pereira de Souza3
Carlos Alberto Sanches Pereira4
17
ISSN
1809-9475
Artigo
Original
Original
Paper
Recebido em
09/2012
Bacilos gramnegativos não
fermentadores
Infecção
relacionada à
assistência em
saúde
Abstract
The spread of infections related to health care (IRHC) often comes from crosscontamination. The most common way of transfer pathogens occurs between the
hands of health professionals and patients. It is observed that the environmental
contribution can be higher in intensive care units (ICU) and despite effort is
being made to kill or prevent the growth of micro-organisms in the hospital,
the hospital environment is an important reservoir for a variety of pathogens
that present a great risk to hospitalized patients. This study aimed to evaluate
the bacterial population present inside the body taps in an intensive care unit
(ICU) of a hospital in the city of Volta Redonda, RJ. The samples were collected
in 12 ICU taps and after isolation, the colonies were identified and subjected to
antimicrobial susceptibility testing by the Vitek 2 system (BioMérieux ®). Eight
taps had bacterial growth, and in three of them, there was a predominance of
Enterococcus durans.
1 Graduada em Ciências Biológicas - Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA
2 Discente do Curso de Ciências Biológicas - Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA
3 Discente do Curso de Medicina - Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA
4 Docente do Curso de Ciências Biológicas - Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA
Aprovado em
04/2013
Key-works
Body of taps
Non-fermenting
gram negative
bacilli
Infection related
to health care
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Corpo de torneiras
Resumo
A disseminação de infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) frequentemente advém da contaminação cruzada. A via mais comum de transferência de patógenos ocorre entre as mãos de profissionais de saúde e pacientes. Observa-se que a participação ambiental pode ser maior nas unidades de
terapia intensiva (UTI) e, embora todos os esforços sejam feitos para matar ou
impedir o crescimento de micro-organismos no hospital, o ambiente hospitalar é um importante reservatório para uma variedade de patógenos que apresentam um risco intenso para os pacientes hospitalizados. O presente trabalho
teve como objetivo avaliar a população bacteriana presente no interior do
corpo das torneiras de uma unidade de terapia intensiva (UTI) de um hospital
no município de Volta Redonda, RJ. As amostras foram coletadas em 12 torneiras de UTI e, após isoladas, as colônias foram identificadas e submetidas
ao teste de susceptibilidade aos antimicrobianos pelo sistema Vitek 2 (BioMérieux ®). Oito torneiras apresentaram crescimento bacteriano, sendo que
em três delas, houve predomínio da espécie Enterococcus durans.
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Palavra-chave
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18
1. Introdução
A disseminação de infecções relacionadas à assistência em saúde (IRAS) frequentemente advém da contaminação cruzada. A via
mais comum de transferência de patógenos
ocorre entre as mãos de profissionais de saúde
e pacientes (OLIVEIRA, 2009).
No entanto, o ambiente hospitalar pode
contribuir para disseminação de patógenos.
Geralmente o ambiente ocupado por pacientes colonizados e/ou infectados pode tornar-se
contaminado. A presença de bactérias é comum em superfícies inanimadas e equipamentos (HUANG, 2006).
Observa-se que a participação ambiental
pode ser maior nas unidades de terapia intensiva (UTI) devido à gravidade e instabilidade
do quadro clínico do paciente com necessidade de cuidados intensivos, somados a fatores
como limpeza, desinfecção, estrutura física,
quantidades de equipamentos e superfícies em
determinadas unidades (PANIS, 2009).
A disseminação das infecções associadas
aos cuidados de saúde é complexa e multifatorial. Nesse sentido, a abordagem do ambiente
na disseminação de bactérias visa contribuir
para melhor compreensão das recomendações
de controle das IRAS, definição de políticas
de controle e aproximação dos profissionais de
saúde com o tema (OLIVEIRA, 2009).
Dentre os micro-organismos que podem ser encontrados nas IRAS, destacam-se os Bacilos Gram Negativos Não
Fermentadores (BGNNF), membros da família Enterobacteriaceae, Staphylococcus spp.,
e Enterococcus spp. Essas bactérias podem
sobreviver em condições adversas, sendo necessário apenas um local úmido para sua sobrevivência e viabilidade por vários meses.
Tornam-se patogênicas ao entrarem no tecido
do hospedeiro através da ruptura da barreira
cutânea, a inoculação por agulhas na infusão
intravenosa de soro, instalação de cateteres
vasculares, urinários, neurocirúrgicos, entre
outros (JULIET, 2002; ALMEIDA, 2004;
SÁNCHEZ, 2006; D’AZEVEDO, 2008;
LARANJEIRA et al., 2010;).
A entrada desses micro-organismos no
tecido hospedeiro faz com que uma gama de
infecções possa ser desenvolvida. Geralmente,
essas infecções estão associadas a pneumonias
em pacientes com ventilação mecânica e bacteremias associadas a processos invasivos do
cateter venoso central (DELIBERALI, 2011).
Além disso, casos de endocardites infecciosas, meningite neonatal, endoftalmites,
septicemia, peritonite, abscesso, tenossinovites e infecções de pele também podem estar
associadas a esses tipos de micro-organismos (LLASAT, 2010; D’AZEVEDO, 2008;
RIBOLDI, 2009).
Embora todos os esforços sejam feitos
para matar ou impedir o crescimento de micro-organismos no hospital, o ambiente hospitalar é um importante reservatório para uma
variedade de patógenos, e certos membros da
microbiota normal do corpo humano são oportunistas e apresentam um risco intenso para os
pacientes hospitalizados (TORTORA, 2008).
O presente trabalho teve como objetivo
avaliar a população bacteriana presente no interior do corpo das torneiras de uma unidade
de terapia intensiva (UTI) de um hospital no
município de Volta Redonda, RJ.
2. Material e Métodos
O presente trabalho foi desenvolvido no
laboratório de Microbiologia do UniFOA e
em um laboratório particular no município de
Volta Redonda.
2.1. Coleta das amostras
Foram coletadas amostras do interior do
corpo de 12 torneiras de uma unidade de terapia intensiva (UTI) em um hospital da cidade
de Volta Redonda.
As amostras foram colhidas com swab
estéril da parte superior da torneira retirando-se o aerador. O swab foi colocado no meio
de transporte e encaminhado ao laboratório,
onde foi processado. O meio escolhido para o
transporte das amostras foi o Amies, pois nele
oxigênio, superóxido e radicais livres são absorvidos e neutralizados por agentes desintoxicantes especialmente incorporados à fórmula do meio. Essa ação interrompe a oxidação,
assegurando um ótimo desempenho para bactérias (SIMÕES, 2005).
2.2. Isolamento e identificação
documento internacional M100S20 (CLSI
2012) pelo método de microdiluição conforme o equipamento de automação VITEK 2
(BioMérieux ®), cartão GN e GP (gram-negativo e gram-positivo respectivamente).
Após a chegada ao laboratório, as amostras foram semeadas em placas de Petri, contendo Agar MacConkey e Agar Sangue. As
mostras foram incubadas por até 48 horas a
37°C (+/-2°C) de onde foram selecionadas colônias para a coloração de Gram.
Todas as colônias que foram identificadas como bacilos gram-negativos, foram
submetidas ao teste da oxidase e catalase. As
que obtiveram resultados positivos foram submetidas à identificação pelo sistema Vitek 2
(BioMérieux ®), cartão número AST105.
Todas as colônias que foram identificadas como cocos gram-positivos, foram submetidas ao teste de catalase e tanto as catalase positivas, quanto as negativas, foram
submetidas à identificação pelo sistema Vitek
2 (BioMérieux ®), cartão número ASTP585.
19
2.4. Armazenamento das amostras bacterianas
Todas as amostras foram armazenadas
em tubos (criotubos) contendo caldo BHI com
glicerol a 20% e serão mantidas a -20oC, por
seis meses. Após esse período, todas as amostras serão reativadas para avaliar o comportamento bioquímico e novamente congeladas
(PEREIRA et al., 2004).
3. Resultados e Discussão
Das 12 torneiras analisadas, 8 (66,7%) apresentaram crescimento bacteriano e 4 (33,3%)
não apresentaram crescimento bacteriano.
O Enterococcus durans foi a bactéria
mais isolada nas torneiras, sendo esta encontrada em 3 torneiras, correspondendo a 25%
dos achados (Tabela 1).
2.3. Teste de susceptibilidade aos antimicrobianos
Todas as cepas identificadas foram
submetidas ao teste de susceptibilidade aos
antimicrobianos (TSA) segundo o padrão do
Bactérias Isoladas
Percentual
3
Enterococcus durans
25%
1
Pseudomonas aeroginosas
8,34%
1
Stenotrophomonas maltophilia
8,34%
1
Cupriavidus pauculis
8,34%
1
Pantoea spp
8,34%
1
Staphylococcus epidermidis
8,34%
Os E. durans estão constantemente relacionados aos casos de infecções do trato urinário, mas também, podem ser encontrados
em outros tipos de infecções endógenas como
endocardites e bacteremia, infecções essas,
adquiridas através da instalação de cateter
(JULIET, 2002).
Embora sejam bactérias encontradas no
trato intestinal do homem e dos animais, são
comumente isolados de ambientes contaminados pelo material fecal humano e animal,
como exemplo, esgoto urbano, água e solos
(AMARAL, 2007).
De acordo com o antibiograma, os 3 isolados de E. durans, apresentaram sensibilidade
a Benzilpenicilina, Ampicilina, Gentamicina
Alto Nível, Estreptomicina Alto Nível,
Ciprofloxacina, Moxifloxacina, Norfloxacina,
Linezlid, Teicoplanina, vancomicina e
Tigeciclina e resistência a Eritromicina e
Clindamicina. Essa condição nos leva a pensar
na possibilidade destas espécies apresentarem
o mesmo perfil genotípico.
As espécies Pseudomonas aeruginosa,
Stenotrophomonas maltophilia e Cupriavidus pauculis são os BGNNF isolados, conforme tabela 1.
Cadernos UniFOA
N° de Torneiras
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Tabela 1- Tipos e percentuais de bactérias isoladas
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Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
20
Esses BGNNF são organismos onipresentes, que podem ser isolados a partir de
inúmeras fontes de água, como rios, lagos,
lagoas, garrafas de água, esgoto entre outras
(LOPES, 2003).
A Pseudomonas aeruginosa, além de
receber destaque por ser relatada na literatura,
como a bactéria mais envolvida em IRAS, foi a
que apresentou resistência a um número maior de
antibióticos testados (Ampicilina, Ampicilina/
sulbactam, Piperacilina/Tazobactam, Cefalotina,
Cefoxitina, Cefotaxima e Tigeciclina).
Os BGNNF encontrados estão frequentemente associados a casos de pneumonia em
pacientes com ventilação mecânica e bacteremia, associadas ao cateter venoso central.
Também são relatadas em casos de infecções
do trato urinário, meningites, infecções de feridas cirúrgicas, epidermites, endocardites e
celulites (DELIBERALI, 2011).
A Pantoea spp foi isolada de uma das
torneiras (Tabela 1). Esse gênero da família
Enterobacteriaceae é um bacilo oportunista, dessa forma, encontrá-lo em ambiente (água) não
foi surpresa. Em se tratando de UTI- onde os pacientes se encontram, na maioria das vezes, imunodeprimidos- este micro-organismo pode estar
envolvido em casos de artrite séptica, peritonite
e diversas outras (SÁNCHEZ, 2006).
A espécie Staphylococcus epidermidis
também foi isolada em 1 das 12 torneiras analisadas (Tabela 1) e apresentou resistência somente a Benzilpenicilina e Eritromicina. Ela é
relatada na literatura como sendo responsável
pelas maiores causas de mortalidade e morbidade relacionadas a IRAS. São micro-organismos oportunistas que se tornam patogênicos
ao entrarem no tecido hospedeiro através da
ruptura da barreira cutânea (procedimento
realizado com frequência em UTI), podendo
desencadear casos de bacteremias, endocardites, peritonites, entre outras infecções que
podem comprometer a vida dos pacientes
(D’AZEVEDO, 2008).
Quando a equipe médica e/ou os demais
funcionários e visitantes higienizam suas mãos
para lidarem com os pacientes da unidade,
provavelmente estão cientes de que processo
foi bem realizado, mas diante deste “cenário”,
onde 8 de 12 torneiras apresentaram em seu
corpo interno bactérias com potencial patogênico, o simples ato de lavar as mãos poderá
complicar ainda mais o estado de saúde dos
doentes internados.
Dessa forma se faz necessário mudanças
no paradigma da limpeza do corpo das torneiras,
com periodicidade, para reduzir a possível disseminação pela água de bactérias patogênicas.
4. Conclusão
Com base nos resultados obtidos no presente trabalho, podemos concluir que:
a. o corpo interior de 8 torneiras apresentab.
ram crescimento bacteriano;
asbactériasencontradasforam:Enterococcus
durans em três torneiras, Pseudomonas
aeruginosa, Stenotrophomonas maltophilia, Cupriavidus pauculis, Pantoea spp. e
Staphylococcus epidermidis.
5. Referências Bibliográficas
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alternativa ecológica. Revista Química
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do Sul, Brasil. Revista da Sociedade
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16. TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE,
C. L. Microbiologia, 8. ed. Porto Alegre:
ArtMed, 2008.
Carlos Alberto Sanches Pereira
[email protected]
Departamento de Ciências Biológicas – UniFOA
Av. Paulo Erley Abrantes, 1325
Três Poços - Volta Redonda/RJ
CEP: 27240-560
Cadernos UniFOA
Endereço para Correspondência:
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
11. PANIS, C. Nosocomial Infections
in Human Immunodeficiency Virus
Type 1(HIV-1) Infected and AIDS
Patients: Major Microorganisms and
Immunological. Brazilian Journal of
Microbiology, v. 40, p. 155-162, 2009.
23
Corpo e sexualidade: os processos de normalização na dança
ISSN
1809-9475
Body and sexuality: the normalization processes in dance
Aline Menezes de Oliveira1
Carla de Oliveira dos Santos1
Marcelo Paraíso Alves2
Sexualidade
Biopoder
Normalização
Abstract
This article aims to discuss the practice of dancing among boys within the
normalization process, taking into account the sexuality history to explain how
it came to the concept that men that dance are gays and explaining concepts
such as biopower and normalization. The production of this research came from
a project at the Future Generation Foundation, the COMUNI Project (United
Community) where we taught dance lessons. The experience in the mentioned
project has enabled us to reflect on certain aspects: is dancing a sport geared just
for girls? Why do the dance classes have a predominance of girls, specially in the
COMUNI project? Why is there such a big evasion in boys’ dance classes? Is there
a process that standardizes, regulates and controls men and women behavior?
What is the origin of this process of standardization? The objective of this work
is to enable a discussion about sexuality, specifically discussing conflicts and
tensions experienced in the cited project. The article intends to approximate the
reader of the COMUNI project space, contextualizing the space experienced by
the authors. Second the article proposes to discuss the historical constitution of
the regulation and sexual control process, as well as the concept of biopower.
Then it seeks to think the body from the corporeity that allows the understanding
of the complex net which constitutes the process of subjectivity, among them the
question of gender. Finally discussions about the role of the Physical Education
professional in the exclusion process that come from such normalization
processes. It is important to emphasize that the descriptive literature was opted.
1 Graduação e Licenciatura em Educação Física - Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA
2 Professor Doutor do Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA
Original
Paper
Recebido em
10/2012
Aprovado em
04/2013
Keywords
Dance
Sexuality
Biopower
Normalization
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Dança
Resumo
O presente trabalho busca como centralidade a discussão da prática da dança por
meninos dentro dos processos normalizadores, apropriando-se da história da sexualidade para explicar como surgiu a concepção de que homens que dançam são
gays e explicitando conceitos como biopoder e normalização. A produção desta
pesquisa partiu de um Projeto da Fundação Geração Futura, o Projeto COMUNI
(Comunidade Unida) onde ministrávamos aulas de dança. A experiência no projeto mencionado nos permitiu refletir sobre alguns aspectos: dança é uma modalidade voltada apenas para meninas? Por que as turmas de dança, mais precisamente a
do Projeto COMUNI existe a predominância de garotas? Por que há uma evasão
tão grande de meninos nas turmas de dança? Existe um processo que normatiza,
regula e controla os comportamentos do homem e da mulher? Qual a origem deste
processo de normatização? O intuito do trabalho é possibilitar um debate acerca da
sexualidade, mais especificamente discutindo os conflitos e tensões vivenciados
no cerne do projeto citado. O artigo pretende inicialmente aproximar o leitor do
espaço do Projeto COMUNI, contextualizando o espaço vivenciado pelos autores
do trabalho. No segundo momento, o artigo se propõe a discutir a constituição histórica do processo de regulação e controle da sexualidade, bem como o conceito
de biopoder. Posteriormente, buscou-se pensar o corpo a partir da corporeidade,
permitindo compreender a complexa rede que constituí o processo de subjetividade, dentre eles, a questão de gênero. Por fim, perspectivaremos possíveis discussões acerca do papel do profissional de Educação Física frente aos processos
exclusórios que emergem dos referidos processos de normatização. É relevante
ressaltar que optou-se pela pesquisa bibliográfica descritiva.
Cadernos UniFOA
Palavras-chave
Artigo
Original
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
24
1. Introdução
Na tentativa de propor soluções para alguns problemas que emergem na sociedade
atual, Estado, empresas e instituições privadas, organizações não governamentais, dentre outros, se mobilizam para desenvolver
projetos e atividades voltadas para crianças e
adolescentes de comunidades carentes em situação de vulnerabilidade social, ou seja, que
estejam em condição objetiva da situação de
exclusão. Estes tem o intuito de direcioná-los
para os referidos locais educativos, ao contrário de irem para as ruas, oferecendo a esses
sujeitos oportunidades de vivenciarem atividades prazerosas e educativas, buscando desenvolver suas habilidades físicas, cognitivas,
artísticas, dentre outras.
Dentre os diversos projetos desenvolvidos no município de Volta Redonda e que
buscam se articular às políticas públicas para
ações dos sujeitos supracitados, encontra-se
o Projeto COMUNI - Comunidade Unida (o
projeto bem como as entidades envolvidas
são fictícios), desenvolvido em parceria com
diversos órgãos municipais. Esse surgiu com
o objetivo de proporcionar informações, entretenimento saudável e vivência da cultura
através de atividades direcionadas, além de
possibilitar o resgate do equilíbrio e harmonia
social, segundo consta no documento idealizador do projeto.
O projeto constitui-se de várias oficinas:
música, esporte (futebol, tênis, handebol e
futsal) e dança (Jazz, balé, hip-hop, contemporânea, todas trabalhadas alternadamente nas
aulas). Possui também atendimento e apoio
psicológico para a família. Essas atividades
são realizadas duas vezes durante a semana,
atendendo crianças e adolescentes na faixa
etária de 06 a 16 anos.
Nossa inserção do projeto se deu nas turmas de dança, como estagiárias, e algumas
situações começaram a nos chamar a atenção. Notamos, inicialmente, a predominância
da participação das meninas em detrimento
da presença dos meninos, mas, com o passar
dos meses, ocorreram algumas mudanças na
busca dos discentes pelas aulas, modificando
a configuração da turma que passou a não ter
apenas meninas. O que nos intrigou e nos levou a alguns questionamentos foi o comporta-
mento apresentado pelas discentes (crianças e
adolescentes) diante da presença dos meninos,
seja na sua participação nas aulas, bem como
quando observavam outras turmas do projeto
de dança: a maneira como se referem aos meninos que dançam; como se dá a relação durante aula e, por outro lado, como os meninos
percebem seu próprio corpo, as permissões e
os interditos, por exemplo, em inúmeras situações, os meninos paravam na metade da aula
e sentavam, pois afirmavam que as meninas
estavam zombando deles, chamando-os de
gays, “mocinhas”. Não era raro o depoimento
de insultos e alunos relatando agressões verbais de outros garotos e até mesmo de meninas
quando saíam das aulas de dança.
Dessa forma, estabelecem-se como reflexão os seguintes aspectos: dança é uma modalidade voltada apenas para meninas? Por que
nas turmas de dança, mais precisamente a do
Projeto COMUNI, existe predominância de
garotas? Por que há uma evasão tão grande de
meninos em turmas de dança? Existe um processo que normatiza, regula e controla os comportamentos do homem e da mulher? Qual a
origem deste processo de normatização?
Na intenção de provocar um debate acerca
dos questionamentos expostos, o presente estudo
objetiva compreender os processos de regulação
e controle dos corpos no espaço da dança.
O presente estudo busca a sua relevância acadêmica ao discutir os aspectos vinculados a dimensões relacionadas ao biopoder
(FOUCAULT, 1979), ao processo de subjetivação e à determinação dos corpos autorizados a dançar (NOLASCO, 1995).
A opção metodológica foi a pesquisa bibliográfica descritiva, pois, tal ótica “procura
explicar um problema a partir de referências
teóricas publicadas em artigos, dissertações e
teses” (CERVO et al. 2007, p.60).
Em certos meios acadêmicos, a pesquisa
bibliográfica tem sido tratada como secundária
e sem dados inéditos, porém, é preciso levar em
consideração a originalidade dos raciocínios que
ela desperta, pois fenômenos já publicados podem possibilitar raciocínios inéditos, entendendo-se que o conceito de inédito não se restringirá
a uma nova realidade (SANTOS, 2006).
A pesquisa foi de nível descritivo, pois o
desenvolvimento do artigo detém-se em descrever, registrar e interpretar dados existentes a
O projeto COMUNI é uma intervenção
social, realizada em um município da região
Sul Fluminense do estado do Rio de Janeiro.
Essa ação social se desenvolve, por uma autarquia do poder executivo municipal (instituição
criada em 1968, com o objetivo de auxiliar e
assistir a crianças e adolescentes, em situação
de risco, vítimas de maus tratos, abandono,
abuso sexual, em situação de rua, ou qualquer
outra que coloque em risco a sua integridade física, moral ou psicológica). De acordo
com os documentos oficiais da instituição,
25
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
2. Conhecendo os espaços e
sujeitos do Projeto COMUNI
a primeira mobilização para que ocorresse a
criação do projeto iniciou-se em uma reunião
ocorrida em dezembro de 2008, no Conselho
Tutelar, articulada pelo posto de saúde da família (PSF) de um bairro periférico e com a
presença de representantes dos mais variados
setores do município.
A reunião tinha como objetivo chamar
a atenção de toda a rede municipal para os
problemas que ocorriam constantemente na
comunidade, visando propor soluções para
amenizar alguns destes embates, sendo o principal deles o aumento significativo de crianças
e adolescentes viciados em álcool e drogas.
Uma vez ao mês ocorriam reuniões para
discutir como sanar os problemas mais graves
que ocorriam na comunidade: o abandono de
crianças, maus tratos, déficit de aprendizagem,
drogas e alcoolismo.
No ano de 2009, esse grupo de representantes encaminhou diversos casos para tratamento
em instituições especializadas, o que permitiu
perceber “novas” possibilidades de intervenção
para estes problemas sociais. Assim, crianças
e adolescentes passariam a ser estimulados na
direção de hábitos e práticas saudáveis, ocupando o seu tempo disponível com atividades que
despertassem seus interesses, necessidades e,
consequentemente, perspectivando uma trajetória de prevenção para os sujeitos envolvidos nas
tramas sociais já enunciadas.
Além das atividades proporcionadas pelo
projeto, ainda seria disponibilizada às famílias
um trabalho em grupo voltado para a área terapêutica, com o intuito de promover diálogos entre a comunidade e especialistas para a busca de
soluções dos problemas sociais e individuais,
como por exemplo, o apoio psicológico.
Dessa forma, o projeto foi criado COMUNI (Comunidade Unida) – em 30 de
julho de 2010, com ações específicas de fundações e secretarias municipais da cidade, tendo
os seguintes objetivos: proporcionar através
das oficinas culturais e esportivas, o bem-estar, a integração e a formação de hábitos
saudáveis; criar oportunidades e realizar atividades voltadas para crianças e adolescentes,
envolvendo cultura e esporte; apoiar e orientar
as famílias diante dos problemas partilhados
nos grupos. Na intenção de atingir os objetivos
propostos, a comunidade, em conjunto com
instituições e órgãos municipais, definiram as
Cadernos UniFOA
respeito do tema da sexualidade, bem como sua
influência na organização social. A pesquisa
descritiva é “um levantamento das características conhecidas que compõem o processo. É
normalmente feita na forma de levantamentos
ou observações sistemáticas do fato/fenômeno/
processo escolhido” (SANTOS, 2006, p.26).
Este artigo se baseia principalmente nas referências de Foucault (1979, 1989,
2008) e Louro (1997, 2000, 2001, 2004, 2007,
2010), pois estes autores são referências em
temas sobre a sexualidade e a maneira como
ela é percebida diante da ótica social.
O intuito do trabalho é possibilitar um
debate acerca da sexualidade, pois segundo
Louro (2010), ao longo de toda história, sempre observamos discussões referentes ao corpo, principalmente no que diz respeito à sua
imagem diante da sociedade.
O artigo , inicialmente, aproximar o leitor
do espaço do Projeto COMUNI, contextualizando o espaço vivenciado pelos autores do
trabalho. No segundo momento, se propõe a
discutir a constituição histórica do processo
de regulação e controle da sexualidade, bem
como o conceito de biopoder(FOUCAULT,
1979). Posteriormente, busca-se pensar o corpo a partir da corporeidade permitindo compreender a complexa rede que constituí o processo de subjetividade, dentre eles a questão
de gênero. Por fim, perspectivar-se-ão possíveis discussões acerca do papel do profissional
de Educação Física frente aos processos exclusórios que emergem dos referidos processos de normatização.
26
ações sociais a partir das seguintes atividades:
futebol, percussão, dança e tênis.
Inicialmente, as oficinas eram realizadas
duas vezes por semana. Os horários eram definidos semestralmente, de acordo com vários
aspectos: disponibilidade das crianças, cronograma de atividades e disponibilidade do professor. Os atendimentos às famílias ocorriam
toda quarta-feira e sexta-feira, no período da
tarde, e aos sábados, no período da manhã, no
Posto de Saúde da Família do bairro (PSF) e, as
oficinas para as crianças e adolescentes no campo de futebol, quadra poliesportiva e na Casa
Comunitária também localizada no bairro.
Portanto, a presente pesquisa tem como
ponto central a discussão das tensões que
emergem das oficinas de dança, na tentativa
de compreender os conflitos presentes cotidianamente nas aulas de dança. Nesse sentido, o
item a seguir inicia a discussão necessária à
compreensão dos problemas relacionados à
temática da sexualidade.
3. Sexualidade
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
3.1. A história da sexualidade
A sexualidade na modernidade tornou-se
uma questão central da sociedade. Por toda
parte, notam-se comportamentos e identidades
sexuais sendo controladas, vigiadas, padronizadas e normatizadas assumindo tons e diretivas diferentes conforme o gênero, mas nem
sempre foi assim. Conforme Foucault (1979),
ela constituiu-se em um processo de pelo menos duzentos anos.
O que antes parecia ser carregado de
certezas e respostas estáveis traz agora uma
gama de incertezas e modelos inúteis, sendo
também impossível ignorar essas questões,
levando-nos ao seguinte questionamento: “o
que fazer?” Antes de tudo é preciso conhecer
como essas questões e práticas emergiram e
tornaram-se alvo de tantas discussões.
Aproximadamente até o século XVIII, as
anatomias dos sujeitos eram percebidas como
uma matriz unissexual, pois “o corpo masculino era o modelo e o feminino a sua versão
atenuada”, considerando-se então a mulher,
um homem invertido (FRAGA, 2000 p. 134).
A partir do referido século, os estudos
anatômicos começavam a demonstrar as diferenças entre homens e mulheres, então, se criou
uma nomenclatura específica para os órgãos femininos, mas ainda, associados aos masculinos.
Fraga (2000) menciona que havia, nesse
período histórico, uma sujeição do corpo feminino a um discurso biológico-moral. O autor
reitera que ocorre um processo de aparecimento
e sumiço do clitóris na literatura médica ocidental, que segundo Foucault (1979) faz parte de
uma eficiente tecnologia de controle do corpo
feminino a partir do discurso biológico e moral.
Apresentar o processo contraditório de
aparecimento e desaparecimento do clitóris é
relevante pelo fato de ser uma explicitação do
controle social sobre o corpo da mulher, pois o
órgão mencionado era concebido apenas como
a função de proporcionar prazer à mulher, sem
caráter reprodutivo, o que era um problema, pois
representava uma ameaça à normalidade na relação heterossexual. Contudo, estes estudos e controvérsias obtinham como principal finalidade,
além de normatizar a reprodução humana, estruturar detalhadamente uma política sexual para os
sujeitos tornarem-se seus próprios reguladores,
instituindo uma série de condutas consideradas
apropriadas (FRAGA, 2000).
A todo este processo, Foucault (1979)
intitula de histerização do corpo da mulher
em que este passa a ser analisado como integralmente saturado de sexualidade e, posteriormente, colocado em comunicação com o
corpo social, espaço familiar e com a vida das
crianças, reafirmando, mais uma vez, uma série de normas e papéis socialmente impostos
que devem ser seguidos.
Posteriormente aos acontecimentos mencionados, mais precisamente no fim do século XVIII, as sociedades ocidentais modernas
criaram e instalaram um novo dispositivo: o da
sexualidade, que seria relacionado com as sensações corporais, a natureza das impressões, a
qualidade dos prazeres. O dispositivo da sexualidade “tem como razão de ser não o reproduzir,
mas o proliferar, inovar, anexar, inventar, penetrar nos corpos de maneira cada vez mais detalhada e controlar as populações de modo cada
vez mais global” (FOUCAULT, 1979, p. 101).
Para Foucault (1979), o dispositivo da sexualidade centra-se na família, tendo nela como
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O termo homossexualidade foi conceituado ainda no século XIX (LOURO, 2001)
para caracterizar os indivíduos que fugiam dos
padrões da normalidade no que diz respeito à
sua opção sexual. À medida que a sociedade
se tornou mais preocupada com a vida dos
seus membros, ela passa a se atentar cada vez
mais para o disciplinamento dos corpos e com
a vida sexual dos indivíduos. O que antes era
tido como uma atividade indesejável ou pecaminosa, agora passava a ser vista sob uma
nova perspectiva: “a prática passava a definir
um tipo especial de sujeito que viria assim
a ser marcado e reconhecido. Categorizado
e nomeado como desvio da norma, seu destino só poderia ser segredo ou segregação”
(LOURO, 2001 p.542).
É importante ressaltar que relações afetivas e amorosas entre sujeitos do mesmo sexo
já existiam antes desta época, mas não eram
nomeadas como homossexualidade, mas consideradas práticas pecaminosas. Com o advento desse novo conceito, essa prática passa a
“indicar um tipo particular de pessoa, um tipo
social, uma ‘espécie’ de gente que se desviara
da ‘normalidade’ ” (LOURO, 2010).
Nos anos que compreenderam o século
XX, mas precisamente na década de 1940, houve certa preocupação com o controle da natalidade para que a família fosse constituída pelo
tipo certo de indivíduo, e um zelo maior em
relação aos papéis apropriados para homens e
mulheres. Já a partir de 1950, houve uma caça
àqueles que iam contra os padrões comportamentais e heterossexuais, pois eram considerados diante da sociedade como degenerados.
A década de 1960 foi marcada por um
período de transição, onde houve um relaxamento dos velhos códigos de autoritarismo e
uma descoberta de novos modos de regulação
social. Por volta dos anos de 1970 e 1980 houve uma reação contra aquilo que não foi tido
como excessos da década anterior, devido ao
fim da ditadura, o reestabelecimento da democracia, a abertura política e à anistia possibilitando estudos referentes a gênero, raça, etnia,
classe social e sexualidade baseado nos estudos
sobre mulheres e suas relações sociais (SILVA
JÚNIOR, 2009) tornando então a sexualidade
como “uma verdadeira questão política de primeira linha, com a Nova Direita identificando o
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principais agentes os pais e os cônjuges e exteriormente os médicos, pedagogos e psiquiatras.
No decorrer do século XIX, percebe-se de
uma maneira mais clara a presença e implantação mais acentuada do referido dispositivo no
cotidiano social, pautado agora em um novo
conceito, o de biopoder, utilizando-o como uma
forma de repressão e controle dos corpos. A sociedade, neste período, volta seus olhares para
as mulheres com o intuito de assegurar uma
imagem de “pureza”. Mas isso não ocorria, pois
ainda havia o predomínio da prostituição o que
acarretava o aumento das doenças venéreas.
Como diz Weeks (2000), esse século foi marcado por uma dose de hipocrisia moral, quando
se aparentava respeitabilidade ao sujeito, e sua
prática era totalmente contraditória e carregada
de princípios pré-estabelecidos.
No período compreendido entre 1860 até
1890, “a prostituição, as doenças venéreas, a
imoralidade pública e os vícios privados estavam no centro dos debates devido o aumento
dessas práticas no século, muitas pessoas viam
na decadência moral um símbolo da decadência social” (WEEKS, 2000, p. 37).
Esse modo de compreensão ou concepção de mundo fazia com que a sexualidade se
tornasse uma obsessão pública, que buscava
controlar, ao máximo, os corpos, ditando suas
formas de ação e distinguindo o comportamento “normal” do “anormal”, começando
então a transformar-se em uma questão, sendo
“objeto de atenção do estado, da medicina, das
leis, além de continuar a ser tema da religião”
(LOURO, 2010, p.334)
Ao longo de todo século XIX, o Estado
preocupou-se cada vez mais com a organização e controle de suas populações, procurando
meios de garantir a vida e a produtividade de
seus povos, voltando-se para a disciplinarização, regulação da família, da reprodução e das
práticas sexuais. Nas décadas finais deste século, surge uma nova disciplina: a sexologia, em
que médicos, filósofos, moralistas e pensadores
começaram a pesquisar mais profundamente
sobre o sexo, inventando classificações de sujeitos, práticas sexuais e determinando o que
era normal ou não, adequado e sadio. A partir
de então, as diferenças entre sujeitos e suas práticas sexuais eram determinadas de acordo com
o olhar de tais autoridades. (LOURO, 2010).
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28
“declínio da família”, o feminismo e a nova militância homossexual como potentes símbolos
do declínio nacional” (WEEKS, 2000, p. 49).
Inspirados então no movimento feminista,
em 1978, os/as homossexuais, criaram a primeira associação gay do Brasil, indicando o início da luta pelo reconhecimento social de suas
identidades sexuais (SILVA JÚNIOR, 2009).
Todo este movimento em busca do respeito e da visibilidade veio a transformar a vida
cultural dos indivíduos, construindo espaços
de lazer e arte, e constituindo aquilo que veio
a se chamar política de identidades, conceituada como um “conjunto de movimentos sociais
organizados que teve e tem como protagonistas
grupos historicamente subalternizados (mulheres, jovens, negros, gays e lésbicas)” (LOURO,
2010, p. 336). Foi a partir deste marco que gays
lésbicas e mulheres começaram a falar suas experiências amorosas e sexuais.
Os debates acerca da sexualidade tornaram-se mais frequentes com a erotização dos
corpos infantis, o aumento de adolescentes
grávidas, das doenças sexualmente transmissíveis – DST, a desconstrução do arquétipo
familiar tradicional (BRAGA, 2010) e, principalmente, a proliferação da AIDS, a partir
dos anos de 1980, que, segundo Silva Júnior
(2009), deu maior visibilidade à causa homossexual, transgredindo as fronteiras convencionais da heterossexualidade hegemônica.
Com o advento da AIDS, surgiram diversas alianças de solidariedade entre amigos e
parentes, não necessariamente homossexuais,
para se discutir normas de sexo seguro e de
prevenção com o intuito de mostrar à sociedade outras maneiras de vivenciar a sexualidade,
o prazer e o desejo. Outro fator relevante e
que influenciou nas futuras discussões acerca
da sexualidade era a ideia que se tinha a respeito da AIDS, que era considerada um câncer gay, desencadeando assim um sentimento
homofóbico em diversos indivíduos ( SILVA
JÚNIOR, 2009). A partir de então, mais especificamente no Brasil, a sexualidade passa
a ser discutida em várias instâncias sociais,
inclusive nas escolas, através do Ministério da
Educação e Cultura estimulando projetos de
educação sexual (LOURO, 2010).
Além de todo esse movimento promovido, principalmente, por homossexuais e o advento da AIDS, Louro (2010) ainda relata que:
outros grupos não priorizam, propriamente as reivindicações de inclusão social, mas preferem desafiar as fronteiras
tradicionais de gênero e sexuais – em
outras palavras, esses grupos decidem
por em xeque as dicotomias masculino/
feminino, homem/mulher, heterossexual/homossexual e pretendem, de muitos
modos, atravessar e perturbar essas
fronteiras. Há, ainda, aqueles que não
se contentam em atravessar as divisões,
mas decidem viver a ambiguidade da
própria fronteira. Sujeitos que. deliberadamente, inscrevem em seus corpos,
suas roupas, seu comportamento e atitudes signos masculinos e femininos
buscando embaralhar esses signos,
afirmando-se propositalmente, como
diferentes, estranhos, queer – para usar
um termo bem contemporâneo (p. 338)
Como citado, Louro (2004) utiliza em
suas obras o termo queer, que traduzido do
inglês pode ser entendido como estranho, esquisito, palavra esta empregada para se referir,
de forma pejorativa, a um sujeito não heterossexual. Enquanto para alguns, a referida palavra serviu e serve para marcar uma posição
marginalizada e abominada, para outros, ela
indica um movimento, a não acomodação,
uma disposição, um modo de ser e viver. Do
termo queer, surge uma nova teoria, intitulada
por Teoria Queer, que segundo a autora, possibilita o pensamento em torno da “ambiguidade, a multiplicidade e a fluidez das identidades
sexuais e de gênero, mas, além disso, também
sugere novas formas de pensar a cultura, o conhecimento, o poder e a educação” (p. 47).
Para Fraga (2000), a referida temática assumiu o caráter da verdade mais profunda a
respeito de nós mesmos. Surge então a sexualidade como um dos temas centrais da atualidade, sendo vista como objeto de controle do
corpo e também social.
A construção da história da sexualidade, diante dos fatos supracitados, passa então
por dois momentos de ruptura voltados para
os mecanismos de repressão, um deles ocorre
no século XVII com o nascimento das grandes
proibições, uma valorização da sexualidade
adulta e matrimonial, contenção e controle da
linguagem e o outro no século XX, quando
Para compreender o pensamento foucaultiano e seu conceito de biopoder, é relevante
ressaltar que a sexualidade é considerada um
dispositivo histórico, uma invenção social, que
se constituiu a partir de diversos discursos sobre
o sexo, que tinham como intenção regular, normatizar, instaurar saberes e produzir verdades
(FOUCAULT, 1979). Para o autor, a definição
de dispositivo é tida como um conjunto que
possui componentes distintos que englobam
discursos, instituições, leis, enunciados científicos, o dito e o não dito, entre outros, sendo o
dispositivo a rede ou conexão que se estabelece
entre esses elementos (FOUCAULT, 2008).
29
poder disciplinador e normalizador que
já não se exercia sobre os corpos individualizados nem se encontrava disseminado no tecido institucional da sociedade, mas se concentrava na figura do
Estado e se exercia a título de política
estatal que pretendia administrar a vida
e o corpo da população.(p. 3).
Foucault (2008) pontua outros dois aspectos considerados relevantes para a constituição
do conceito de biopoder na Idade Média, e que
interferiu e interfere ainda hoje no processo de
interjeição do sujeito. Primeiramente, a confissão (dispositivo religioso), pois através desse
dispositivo de poder, os prazeres individuais,
os sentimentos, desejos, vontades e as próprias
emoções da alma, poderiam ser requisitados,
conhecidos, medidos e regulados (MENDES,
2006). E, em um segundo plano, o exame de
consciência, disposta enquanto circunstância,
em que os sujeitos, através dos parâmetros
impostos por instituições e quadros morais,
avaliariam consigo mesmos suas atitudes e
pensamentos analisando se corresponderia ou
não com os valores morais socialmente estabelecidos (MENDES, 2006).
A confissão e o exame de consciência são
logo, considerados técnicas e dispositivos para
a constituição do biopoder, atuando no sentido
de estimular
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3.2. Biopoder em Foucault
Considerando as prerrogativas supracitadas, Foucault desenvolve seu estudo no campo
da sexualidade, apropriando-se dos referidos
conceitos como a base de toda sua discussão,
principalmente no que concerne ao estabelecimento das definições de biopoder e biopolítica.
O conceito de biopoder (e biopolítica) é
citado pela primeira vez em sua obra História
da Sexualidade, volume um, sendo abordada
através de uma comparação sobre o poder que
os pais de família romanos obtinham sobre o
direito de vida e morte de seus filhos e escravos, afirmando então que o biopoder e a biopolítica vem com o intuito de regular e controlar
os corpos como feito antigamente na sociedade
romana (FOUCAULT, 1979). Segundo Duarte
(2008), eles são idealizados por Foucault ao
vislumbrar no decorrer do século XVIII e, sobretudo na virada para o século XIX,
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começa um afrouxamento dos mecanismos
de repressão (FOUCAULT, 1979), tornando
os debates acerca da sexualidade uma prática usual, mas que ainda objetiva o controle e
dominação dos corpos, estabelecendo papéis
socialmente padronizados.
Diante dos aspectos históricos apresentados, percebemos que o corpo e a concepção
de sexualidade que hoje se configura na sociedade incorporaram os valores vigentes em
décadas anteriores, é uma transmissão cultural
com idealizações, padronizações e normatizações advindas através dos séculos, portanto, uma construção sócio-histórica. Perfis de
“beleza, saúde, doença, vida, juventude, virilidade, entre outras, não deixaram de existir,
apenas transmudaram-se, incorporaram outros contornos, produziram outros contornos”
(GOELLNER, 2010, p. 38).
Partindo então desse constructo histórico referente à sexualidade, observamos, na
atualidade, que esta será modelada a partir da
junção de dois elementos: o subjetivo e o social que estão intimamente ligados através do
corpo. A sociedade tornou-se cada vez mais
preocupada com a vida de seus membros, assim como com o disciplinamento dos corpos e
com as vidas sexuais dos indivíduos, possibilitando o surgimento de poderes que regulam o
comportamento sexual (WEEKS, 2000). Que
poder é esse que emerge capilarmente na sociedade estabelecendo padrões de comportamento? Responder a essa pergunta não é algo
simples, mas complexo, o que nos move ao
próximo item deste artigo.
30
os sujeitos a praticar uma estética de
si, procurando alcançar o melhor que
podem fazer de suas vidas em vários
campos: no trabalho, em sua aparência,
em suas relações familiares e com os
amigos, estando tudo isso imbricado
com valores morais que remetem a uma
vasta gama de sentimentos, relativos a
outros, mas em especial, a nós mesmos.
Mais do que uma projeção externa sobre nós, é uma projeção nossa em nós
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mesmos (MENDES, 2006, p. 175).
A idealização do biopoder, partindo da
afirmação, vem então com o intuito de se juntar às reflexões sobre as práticas disciplinares.
Disciplinas essas que se centram no corpo de
uma maneira mecânica: no seu adestramento,
no acréscimo de suas aptidões, no crescimento
de sua utilidade e docilidade, na sua conexão
em sistemas de controle eficazes e econômicos
(FOUCAULT, 1979), ou seja, se voltam para
o sujeito, seu corpo, sua normalização (linha
auferida nas proporções e variáveis aceitas
pelo coletivo os pelos padrões institucionais)
e domesticação (saber que limita a liberdade e
o espaço de um corpo, invadindo e delineando
seu meio social) por meio das inúmeras instituições panópticas, como, por exemplo, a escola, a fábrica, o hospital, a prisão (Foucault,
1989) dentre outras e que poderíamos inclusive acrescentar os espaços da Dança.
Segundo Foucault (1989), eram instituições que docilizavam os corpos e os colocavam
prontos à produção industrial, em vigência enquanto produção central na fase do capitalismo
Nesse sentido, o biopoder é concebido
com o intuito de reger a vida da população,
organizando-a e vigiando-a para assim buscar
atender a determinadas expectativas de modernização e progresso. O biopoder é entendido então como “a gestão da vida como um
todo, uma técnica, um poder sobre o biológico
que vira tema central nas discussões políticas”
(CUPELLO, 2010, p. 3).
Pode-se afirmar, diante dos aspectos supramencionados, que o biopoder é baseado na
disciplina e vigilância do sujeito. Badiali (2009)
afirma que: “o poder disciplinar age através da
inscrição desses corpos em espaços determinados, do controle do tempo sobre eles, da vigilância contínua e permanente, e da produção
de saber por meio dessas práticas de poder” (p.
21). Então, se a disciplina opera sobre os indivíduos, o biopoder age sobre o ser humano, no
corpo, que perpassa pelo aspecto orgânico do
ser vivo, como base nos processos biológicos,
por intermédio dos processos de saúde coletiva, nascimentos, mortalidades e longevidades.
Para o autor, o ato de cuidar desse corpo acarretará, dessa forma, em modelos controlados nos
aparelhos de produção capitalistas.
Ainda sobre biopoder, Duarte (2008)
menciona a relação que Foucault faz com a
sexualidade, aqui intitulada por ele de dispositivo da sexualidade:
a partir do momento em que passou à
análise dos dispositivos de produção da
sexualidade, Foucault percebeu que o
sexo e, portanto, a própria vida, se tornaram alvos privilegiados da atuação
de um poder que já não tratava simplesmente de disciplinar e regrar comportamentos individuais, mas que pretendia
normalizar a própria conduta da espécie
ao regrar, manipular, incentivar e observar fenômenos que não se restringiam
mais ao homem no singular, como as
taxas de natalidade e mortalidade, as
condições sanitárias das grandes cidades, o fluxo das infecções e contaminações, a duração e as condições da vida
etc. A partir do século XIX já não importava apenas disciplinar as condutas
individuais, mas, sobretudo, implantar
um gerenciamento planificado da vida
das populações. Assim, o que se produzia por meio da atuação específica do
biopoder não era mais apenas o indivíduo dócil e útil, mas era a própria gestão da vida do corpo social. O sexo se
tornou então um foco privilegiado para
o controle disciplinar do corpo e para
a regulação dos fenômenos da população, constituindo-se o que o autor denominou como dispositivo da sexualidade
(Op. cit., p.3).
Diante do exposto, o autor anuncia o corpo e a sexualidade, como técnicas e dispositivos centrais de controle para além do indivíduo: a sociedade, o coletivo. Duarte (2008),
a partir de estudos foucaultianos, nos permite
perceber como as instituições, historicamente
construídas na atualidade, reproduzem as marcas deixadas nos corpos, e, o espaço da dança
como parte de todo esse processo, nos revela
esses interditos, os fechamentos aos corpos
proibidos de estarem ali, participando e expressando uma forma particular de cultura.
A discussão do conceito de biopoder remete-nos ao próximo tópico deste artigo, buscando pensar o corpo a partir da corporeidade,
procurando compreender como se constitui a
complexa rede de subjetividades, dentre essas
questões, o gênero, para posteriormente discutir-se como o biopoder, o gênero, os processos
de normalização e a sexualidade influenciarão
nas concepções de comportamentos modelos,
esperados para meninos e meninas durante
suas práticas cotidianas, mais especificamente
nas aulas de dança.
normais, inscrevendo e hierarquizando as práticas sexuais, em que os sujeitos são marcados
e denominados a partir dessa referência que,
posteriormente, os classifica como desviantes
da norma, cabendo aos mesmos o destino ou a
segregação (MORAES, 2006).
Pode-se considerar que gênero e sexualidade atrelam-se em um constructo histórico,
que se consolidou no decorrer dos séculos, e
cultural, que determina, de acordo com a cultura, as variadas formas de sentir-se homem e
mulher e seus respectivos papéis, definindo o
que é normal e anormal na ótica de determinada sociedade (LOURO, 2007). De acordo com
Louro (2000),
31
a inscrição dos gêneros — feminino ou
masculino — nos corpos é feita, sempre, no contexto de uma determinada
cultura e, portanto, com as marcas des-
4. Sexualidade e Gênero: possíveis
enredamentos
sa cultura. As possibilidades da sexualidade — das formas de expressar os
desejos e prazeres — também são sempre socialmente estabelecidas e codificadas. As identidades de gênero e sexuais são, portanto, compostas e definidas
por relações sociais, elas são moldadas
pelas redes de poder de uma sociedade
Torna-se claro, diante de tais discussões,
que é, no âmbito cultural e histórico que se
definem as identidades sociais mais especificamente aqui tratadas identidades referentes a
gênero e sexualidade, que constituirão os sujeitos a partir de diferentes situações, instituições
ou agrupamentos sociais. Então, reconhecer-se
em uma determinada identidade pressupõe-se pertencer a um grupo social de referência
(LOURO, 2000), ou seja, a sexualidade e a
questão do gênero são carregadas de valores
próprios de cada cultura e períodos históricos,
podendo-se afirmar que, por exemplo, atos sexuais fisicamente idênticos podem ter significação social variada e variado sentido subjetivo,
de acordo com a cultura (WEEKS, 2000).
Diante dos conceitos já explicitados,
(biopoder, sexualidade, gênero) e, traçados
seus possíveis enredamentos, cabe-nos, por
fim, relacioná-los à dança e, aos processos de
normalização construídos no decorrer da história, pois estes se mantêm ainda hoje como
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(Op. cit., p. 9).
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Sexualidade e gênero são dois conceitos
que inúmeras vezes são confundidos ou considerados palavras sinônimas, mas na realidade
não são, apesar de estarem intimamente interligados. Suas diferenças demarcarão lugares,
influenciarão comportamentos, maneiras e
determinadas práticas no exercício do prazer
sexual, intitulado como feminino e masculino,
partindo de corpos que correspondem de maneira diferente, na sua interface com o campo
biológico (SILVA, 2008).
Para Louro (1997), a questão do gênero
está ligada à identificação histórica e social dos
sujeitos, que se denominam como femininos
ou masculinos, já a sexualidade indica diretamente a forma com que os sujeitos experienciam seus desejos corporais, de variadas maneiras, podendo ser sozinhos/as, com parceiros
do mesmo sexo ou não. Esta dada sexualidade,
segundo Souza (1999) não é fixa, mas se constrói ao longo da vida, ela se torna a verdade definitiva sobre cada sujeito e seus corpos suscitando também segundo Foucault (1979) como
elemento especulativo a noção do sexo.
O gênero perpassa a sexualidade, possibilitando em determinados momentos históricos,
a delimitação das características principais
que compõem a masculinidade e feminilidade
32
dispositivos de controle e vigilância dos sujeitos, perspectivando algumas discussões relacionadas ao papel do professor de Educação
Física, que busca se posicionar contrário aos
processos exclusórios.
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5. Biopoder e os processos de
normalização na dança
A dança tem se constituído ao longo dos
anos em um espaço de corporificação de sexualidades que, articuladas com as representações culturais, define e regula comportamentos adequados para homens e mulheres. Cada
estilo de dança trará consigo um mecanismo
cultural que produzirá tipos específicos de
políticas de masculinidades e feminilidades
(ANDREOLI, 2010). Um corpo quando é definido como sendo do sexo masculino, torna-se
codificado por uma rede de valores culturais,
com comportamentos e atitudes sociais esperadas da referida masculinidade (SANTOS,
2009), comportamentos estes que se estabelecem socialmente e que compreendem a dança
como uma ação não estabelecida para homens.
Os referidos valores culturais, considerados essencialmente masculinos e femininos, configurarão tipificações dos papéis
pertinentes ao homem e a mulher, englobando
aprovações, restrições e proibições que são
transmitidas ao longo das gerações e influenciarão na sexualidade do sujeito enquanto ser
subjetivo e membro da sociedade. Bandeira e
Domingues (2010) afirmam que:
os homens são reconhecidos dentro dos
inúmeros espaços que estão inseridos e,
para que isso ocorra, primeiramente, é
preciso localizar o tempo e o espaço no
qual eles estão circulando, isso porque
as masculinidades são construídas socialmente e historicamente, variando de
uma cultura para outra (Op. cit., p.3).
Na cultura vigente ocidental, cabe aos meninos serem fortes, independentes, dominantes,
competentes e agressivos, eliminando expressões físicas de conteúdo emocional ou que transpareçam sensibilidade, enquanto às meninas
compete serem dependentes, sensíveis e afetuosas (NEGREIROS E CARNEIRO, 2004).
Para se entender melhor o processo da
dança, enquanto modalidade voltada para
meninas, torna-se necessário conceituá-la e
discuti-la dentro da esfera do biopoder. Achar
(1998) define a dança como “o entendimento
completo das possibilidades físicas do corpo
humano, a qual permite exteriorizar um estado latente, pelos jogos dos músculos, segundo
as leis naturais do ritmo e da estética” (p. 15).
O aparato físico mencionado emerge das expressões corporais embebidos de sentimentos
e emoções fazendo com que o homem transcenda ao movimento simples, técnico e sem
sentido ou significado.
Então, a dança enquanto expressão corporal, é a exteriorização de sentimentos, partindo opostamente aos valores socialmente julgados como masculinos. Meninos que dançam
são considerados gays, pois os mecanismos
articulados pelo biopoder disciplinar (MAIA,
2011), vinculam à sociedade o valor de que o
homem não pode se expressar corporalmente
de forma suave e demonstrar seus sentimentos
através da dança.
O biopoder é um dispositivo que orienta
a vida em sociedade por dentro, decifrando-a
e rearticulando-a (BRAGA, 2004). A atuação
do biopoder na dança como objeto de controle
dos corpos, afirma-se em dois níveis de exercício: de um lado as técnicas, implicadas nos
corpos através da disciplina e do poder disciplinar, e, do outro o corpo percebido, como
parte de uma espécie (população) com suas
leis e regularidades determinadas. Dos referidos níveis, surge o processo de disciplinarização, que através do biopoder irá padronizar e
normatizar os papéis e atividades pré-determinadas para homens e mulheres. Para Foucault
(1979), a fabricação do biopoder se processa
e se insere nas fábricas, hospitais, hospícios,
prisões e outras instituições necessárias para a
vida da sociedade: em nosso estudo, revela-se
nas aulas de dança.
Com relação ao exposto, Mondardo
(2009) afirma que
a ação do poder sobre o corpo atua para
a normatização do comportamento, a
partir do adestramento e da imposição
na forma de movimento dos sujeitos. O
objetivo é controlar as inúmeras formas
territoriais que se formam para admi-
para a manutenção dos comportamentos dos corpos através da mobilidade
adestrada, buscando torná-la cada vez
mais “limitada”, e desta forma, controlada (p. 4).
Portanto, o processo de ação do biopoder sobre os corpos julga, condena e classifica
(BRAGA,2004) homens que dançam como
indivíduos que vivem à margem da sociedade, transformando então as práticas dançantes
como exclusivamente femininas.
Partindo do referido pressuposto, além
dos já mencionados, outro fator que reafirma nas crianças e adolescentes o panóptico
de papéis pré-determinados, em que dançar
é considerado, ao ver da sociedade, prática
de homossexuais, mais popularmente falada
como “coisa de gay”, advém inicialmente da
própria família como os processos de normalização, que simultaneamente também produzem e reproduzem os panópticos sociais,
constituídos pela cultura, auxiliando assim, a
normatização, regulação e instituição dos modos masculinos de ser e suas respectivas práticas. Quando há esta interferência negativa
por parte da família, ocasiona um determinado
medo de se perder a identidade masculina, um
choque de identidades, ou seja, neste processo
de normatização, para constituir-se “como um
sujeito heterossexual um indivíduo é estimulado e obrigado a negar tudo àquilo que possa
o mais vagamente possível ser associado à homossexualidade” (ANDREOLI, 2010, p.87).
Nota-se, então, que o biopoder determina
todo e qualquer papel social, investindo sobre
toda a vida do sujeito, desde a biológica até
a cultural (FERREIRA, 2008). Dessa forma,
para ser aceito, ser considerado normal e estar
dentro dos padrões sociais, os sujeitos devem
abnegar suas vontades e desejos, permitindo
que suas práticas e sua construção sexual sejam determinadas pelos mecanismos de poder
estabelecidos socialmente.
Esses mecanismos de poder trazem, em
seu bojo, o imaginário de que homens, ao
dançar, se aproximam de uma tendência ao
homossexualismo, tornando-a então um elemento marcante e de peso na prática da dança
por parte dos homens, sendo apontada como
um obstáculo social por não estar enquadrada nas representações culturais hegemônicas
de masculinidade (ANDREOLI, 2010). Este
rótulo homossexual aos praticantes da dança,
afeta não somente a vida externa, mas também sua própria consciência (BANDEIRA;
DOMINGUES, 2010).
Justifica-se assim a procura quase que
absoluta das meninas no campo da dança, e
para não ficar à margem ou ser um sujeito
desviante da norma, cabe aos meninos praticar esportes, principalmente o futebol, considerado interesse masculino obrigatório e um
elemento essencial para manutenção/produção
da masculinidade (SANTOS, 2009).
No Projeto COMUNI, notou-se, com frequência, atitudes preconceituosas e carregadas
desses valores culturais e processos normalizadores, construídos e impostos pela sociedade
no decorrer dos anos. Em várias aulas, pode-se
observar como os meninos se sentiam coagidos
com a presença de garotos que não fossem da
turma e até mesmo das próprias companheiras.
Em inúmeras situações os meninos paravam
na metade da aula e sentavam, pois afirmavam
que as meninas estavam zombando deles, chamando-os de gays, “mocinhas”, entre outros.
Quando outros meninos assistiam, nenhum dos
alunos (homens) fazia aula e, quando ao término os chamávamos para conversar, afirmavam
não participar, pois não se sentiam à vontade
de dançar na frente dos outros garotos. Não
era raro o depoimento de insultos e alunos relatando as agressões verbais. Outro relato interessante foram as afirmações em que os alunos
admitiam dançar escondidos e que não participariam de nenhuma apresentação por medo de
serem classificados como afeminados.
Por esse motivo, percebemos que parece haver uma relação entre o quantitativo de
alunos e alunas que participam das aulas de
dança no Projeto COMUNI em decorrência
do processo de normalização estabelecido
pela sociedade. A nomenclatura na qual foram
classificados a zombaria dos amigos, vizinhos,
familiares, e até mesmo durante as aulas por
parte das companheiras de turma, os tornam
infrequentes ou desistentes, pois são diversas
vezes coagidos e inibidos, apresentando comportamentos retraídos ou agressivos.
Diante dessa problemática, cabe ao profissional de Educação Física intervir durante
33
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
nesse sentido, é de suma importância
Cadernos UniFOA
nistrar os corpos. A produção do poder,
34
as aulas com diálogos ou até mesmo propiciando experiências para que haja uma desconstrução do conceito de que dançar é “coisa
de gay”, mostrando aos sujeitos que a sexualidade é algo subjetivo e construído ao longo do
tempo, cabendo a cada um escolher o local e a
opção sexual que se sentir melhor. É evidente
que essa prática não trará resultados imediatos, é uma construção e uma mudança gradual
e em longo prazo, que exigirá do profissional
paciência e determinação.
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Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
6. Considerações Finais
Na intenção de compreender os processos
exclusórios que emergiam de nossa experiência em um projeto de dança no município de
Volta Redonda, buscou-se o referido trabalho.
O processo de discutir como a constituição
do processo de normalização dos corpos cotidianamente se produz na sociedade atual, nos
permitiu acessar outros conhecimentos antes
não vislumbrados em nossas leituras e debates acadêmicos. Portanto, acreditamos que, a
intenção de discutir os processos de controle que a sociedade “usa” para normatizar as
ações dos sujeitos- estabelecendo papéis que
definem os indivíduos como sendo masculino
ou feminino, e inscrevendo em seus corpos padrões que devem ser seguidos, tendo a sexualidade como referência - foi atingido.
Percebemos que, diante da padronização,
refletem-se, atualmente, determinadas ações,
sendo a dança uma prática que inibe e coíbe
a participação de meninos, gerando aos que a
praticam, comentários que vão muitas vezes
confrontar suas identidades sexuais pelo fato
da dança se caracterizar enquanto expressão
de sentimentos.
Assim, a prática da dança não define a sexualidade dos sujeitos e cabe aos profissionais
de Educação Física trabalhar nesta vertente,
conscientizando os alunos que a identidade
sexual de cada sujeito é construída subjetivamente, independente do indivíduo dançar ou
não, possibilitando a eles a vivência de todas
as modalidades, sejam elas esportivas ou apenas expressivas.
Outro aspecto importante a ser ressaltado, é a percepção de que o corpo é um processo de construção histórica, pois muitos fatos
importantes e marcantes que ocorreram desde
o início do século XVIII até o fim do século XX interferiram na sexualidade como uma
forma de controle dos corpos e da sociedade:
do dispositivo da sexualidade ao biopoder.
Assim, entendendo a sexualidade como
um dispositivo histórico e uma invenção da
sociedade a fim de regular os comportamentos, temos o biopoder como forma de disciplinarização normalizando e domesticando os seres através de instituições panópticas, regendo
assim, a vida da população para que atendam
às expectativas de modernização e progresso.
Sendo assim, ficou evidente que o biopoder se
baseia na disciplina e vigilância do sujeito.
Outro aspecto importante a ser salientado
é a impossibilidade de tratar de sexualidade
sem levar em consideração sua íntima relação
com as questões de gênero. Vimos que podemos entender como gênero a identificação
histórica dos sujeitos denominando-se como
femininos ou masculinos. Já a sexualidade trata da forma como esses sujeitos optam em vivenciar seus desejos sexuais. Essa forma não é
fixa, ela se constrói ao longo da vida. Quando
o gênero perpassa a sexualidade, delimita as
características que compõem a feminilidade e
a masculinidade, marcando e denominando os
sujeitos que fogem a essa delimitação como
‘anormais’. Falamos aqui como o gênero e a
sexualidade, de forma atrelada, determinam as
várias formas de sentir-se homem ou mulher e
quais são seus papéis, definindo o que é normal e desvio sob a visão de uma determinada
sociedade. Entendemos que as identidades sociais, inclusive as de gênero e sexualidade, são
compostas e definidas por relações sociais que
formam grupos com identidade determinada e
os sujeitos reconhecem-se como parte desses
grupos de acordo com suas atitudes.
Em nossa pesquisa vimos que a dança
se constitui em um desses espaços em que a
sexualidade se corporifica articulando as representações culturais, definindo e regulando comportamentos que são adequados aos
homens e às mulheres. Um comportamento
masculino deve expressar força, competência e
agressividade, sem conteúdo emocional, como
a dança é uma prática de expressão corporal e
de exteriorização de sentimentos, meninos que
dançam são considerados gays. Esses valores
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Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
7. Referências Bibliográficas
5.
Cadernos UniFOA
ção influenciando na sexualidade dos sujeitos
enquanto ser subjetivo e membro da sociedade.
Enfim, a homossexualidade é apontada
como um obstáculo à prática da dança por meninos, pois, mesmo de forma inconsciente eles
agem de forma a contribuir com a manutenção da masculinidade. Observamos em nossas
aulas de dança várias atitudes preconceituosas
e depois de nossa pesquisa pudemos entender
que essas atitudes fazem parte de uma construção histórica e cultural que viabilizam os
processos normalizadores construídos no decorrer dos anos.
Entende-se que os profissionais de
Educação Física podem contribuir de maneira
a esclarecer que todos têm o direito de expressar seus sentimentos da maneira como preferirem, e que não é a dança que define a sexualidade das pessoas. Acredita-se então, que
trabalhando de forma a incentivar o respeito
às diversidades, contribuir-se-á na diminuição
dos processos exclusórios e/ou discriminatórios na sociedade.
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Carla de Oliveira dos Santos
[email protected]
Cadernos UniFOA
Endereço para Correspondência:
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
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In: LOURO, Guacira Lopes. O corpo
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39
Luciana Aparecida Cruz de Siqueira Pegas1
Sabrina Kelly Alves Honório1
Valesca da Silva Gonzalez1
Carolina Lorejam Crespo1
Bianca Ribeiro Barreto1
Henrique José do Nascimento1
Antonio Macedo D’Acri2
Maria Inês Fernandes Pimentel1,3
Sandro Javier Bedoya Pacheco1,3
Palavras-chave
Dermatoses
Idosos
Diagnóstico
Prevalência
Resumo
Estudos demonstram que, comparados com outros grupos de doenças, as
dermatoses estão entre as mais frequentes patologias em consulta com médico generalista. Além disso, a faixa etária de 60 anos ou mais (idosos) é particularmente relevante, tendo em vista o envelhecimento gradual da população
e necessidade cada vez maior de serviço médico qualificado, direcionado
a este grupo populacional para diagnosticar e tratar as doenças específicas
dessa idade. São necessários estudos epidemiológicos para determinar as
dermatoses prevalentes, de modo a planejar melhor o atendimento e estabelecer prioridades e estratégias de cuidado, definindo áreas da Dermatologia
que necessitam de maior atenção. O presente estudo tem o objetivo de conhecer a prevalência das dermatoses nos idosos atendidos pela especialidade
Dermatologia da Policlínica do UniFOA, de modo a prover subsídios para
melhorar o atendimento. Como metodologia, informações foram obtidas a
partir de prontuários de 4.928 pacientes atendidos pela Dermatologia na Policlínica- UniFOA e os dados referentes a fevereiro de 2002 até maio de 2010
foram transferidos para um banco de dados e armazenados em computador.
Diagnósticos dermatológicos foram divididos em grandes categorias para
efeito de análise, realizada com o auxílio do pacote estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 16.0. Os idosos corresponderam
a 10,24% do total dos pacientes e, dentre eles, a mediana de idade foi de 67
anos. Dermatoses infecciosas / infestações corresponderam à maioria dos
casos (24,2%), seguida por eczemas (19,8%) e fotoenvelhecimento (8,9%).
As neoplasias representaram 3,8% das afecções cutâneas. Saber quais são
as doenças dermatológicas que mais comumente acometem este parcela de
pacientes é importante para a otimização de estratégias voltadas ao seu diagnóstico e tratamento, principalmente daquelas que tem maior prevalência.
1 Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA), Curso de Medicina.
2 Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNI-RIO).
3 Fundação Oswaldo Cruz, Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (IPEC).
Artigo
Original
Original
Paper
Recebido em
10/2012
Aprovado em
04/2013
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Prevalent dermatological diseases in elderly treated in an outpatient
dermatologic clinic in a primary care unit (Polyclinic UniFOA) in Volta
Redonda, RJ, between 2002 and 2010.
ISSN
1809-9475
Cadernos UniFOA
Dermatoses prevalentes em idosos atendidos em um ambulatório de
dermatologia de uma unidade básica de saúde (Policlínica UniFOA) de Volta
Redonda, RJ, entre 2002 e 2010.
40
Abstract
Studies show that, compared to other groups, skin diseases are among the most
frequent diseases in consultation with a general practitioner. Furthermore,
aged 60 or older (elderly) are particularly relevant in view of the gradual
aging of the population and increasing need for qualified medical service
directed to this population group to diagnose and treat specific diseases of
this age. Epidemiological studies are needed to determine the prevalent skin
diseases in order to better plan and prioritize care strategies, defining areas
of Dermatology that need more attention. This study aims to determine the
prevalence of skin diseases in the elderly served by Dermatology specialty
at Polyclinic UniFOA, in order to improve care. Information was obtained
from medical records of 4,928 patients seen by the Dermatology outpatient
clinics at Polyclinic-UniFOA from February 2002 through May 2010, and
data were transferred to a database and stored in computer. Dermatological
diagnoses were divided into broad categories for analysis, performed with
the aid of the Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) version 16.0.
Elderly accounted for 10.24% of the total of the patients, and, among them,
the median age was 67 years. Most cases corresponded to skin infections /
infestations (24.2%), followed by eczema (19.8%) and photoaging (8.9%).
Neoplasms accounted for 3.8% of skin disorders. It is important to learn the
most common skin diseases that affect this portion of patients to optimize
strategies aimed at diagnosis and treatment, particularly for those that have
a higher prevalence.
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
1. Introdução
Espera-se que, em 2050, muitos países tenham mais de 30% de suas populações
constituídas por pessoas idosas (ONU, Madrid
International Plan of Action on Ageing, 2002).
No Brasil, o Estatuto do Idoso (Lei no 10.741,
de 1º de Outubro de 2003) em seu artigo 1º,
considera como tais “as pessoas com idade
igual ou superior a 60 (sessenta) anos”.
Queixas dermatológicas são muito frequentes na atenção básica de saúde, tornando
extremamente necessário o treinamento médico em doenças cutâneas (AL SHOBAILI,
2010; NORMAN; MÖLSTAD, 2010). Alguns
estudos demonstram que, comparados com
outros grupos de doenças, as dermatoses são
mais frequentes ou estão entre as mais frequentes razões para consulta ao médico generalista (SCHOFIELD et al., 2011). Estudos
epidemiológicos são necessários para determinar as dermatoses mais prevalentes, de modo
a planejar melhor o atendimento e estabelecer
prioridades e estratégias de cuidado, definindo
áreas da Dermatologia que necessitam de mais
atenção. Educação e treinamento apropriados
em doenças dermatológicas são necessários
para os estudantes de Medicina e para todos os
profissionais que lidam ou lidarão com aten-
Keywords
Dermatological
Diseases
Elderly
Prevalence
ção básica de saúde. A faixa etária de 60 anos
ou mais é particularmente relevante, tendo em
vista o envelhecimento gradual da população.
O presente projeto visa conhecer a frequência das dermatoses na faixa de idade
acima de 60 anos, de modo a aprofundar o
conhecimento sobre as doenças na pele do
idoso, bem como prover subsídios para melhorar o atendimento dermatológico aos pacientes atendidos na Policlínica Três Poços
(UniFOA). É necessário conhecer a ocorrência de doenças cutâneas infecciosas, dermatites ou eczemas, distúrbios dos pelos e dos
pigmentos, neoplasias em idosos. Esperamos
fornecer informações que possam auxiliar na
elaboração de futuros parâmetros diagnósticos
e terapêuticos direcionados às dermatoses nos
idosos, especialmente no que se refere à identificação dos pacientes com doenças de maior
gravidade ou de maior risco de insucesso no
tratamento. Por outro lado, pretendemos contribuir para melhorar as medidas de controle
e prevenção das doenças cutâneas nesta faixa
etária, considerando que a Policlínica UniFOA
é um centro de referência para o atendimento em Dermatologia no município de Volta
Redonda e municípios vizinhos (Pinheiral,
Barra Mansa, Barra do Piraí, Arrozal, Quatis).
Acreditamos ser o ponto de partida de projetos
Trata-se de um estudo descritivo retrospectivo. Desde 2002, são computados todos
os atendimentos realizados pelo ambulatório
de Dermatologia na Policlínica UniFOA. As
informações são obtidas a partir dos prontuários (informações secundárias) e constam
das seguintes variáveis: gênero, idade, cor,
diagnóstico(s) dermatológico(s), CID-10.
Os dados referentes a fevereiro de 2002
até maio de 2010 foram coletados e transferidos para um banco de dados, ficando sob o
cuidado dos professores responsáveis e dos
alunos envolvidos no projeto. A anonimidade
dos pacientes foi totalmente garantida.
A análise dos dados constou de medidas
de proporção para as variáveis categóricas
(gênero, cor, diagnóstico(s), CID-10), bem
como medidas de tendência central e dispersão para a variável quantitativa contínua (idade). Os diagnósticos dermatológicos foram
41
3. Resultados
Dentre 4.928 pacientes atendidos no
ambulatório de Dermatologia da Policlínica
UniFOA, entre 01 de fevereiro de 2002 e 31
de maio de 2010, 505 pacientes tinham idade
entre 60 e 98 anos, perfazendo 10,24% do total (Fig.1), sendo a mediana de idade 67 anos.
Dentre estes, trezentos e quarenta e um (67,5%)
eram do sexo feminino, e 163 (32,3%) do sexo
masculino. Quanto a cor, havia 1% de pardos,
31,3% de negros e 67,5% de brancos (Fig. 2).
Figura 1 - Proporção de idosos quanto à idade (n=505)
Figura 2 - Proporção de idosos quanto à cor
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
2. Materiais e métodos
divididos em grandes categorias para efeito
de análise, a saber: dermatoses infecciosas /
infestações (produzidas por vírus, bactérias,
fungos, protozoários, ácaros, larvas, etc); eczemas e afins (englobando as diversas formas
de dermatites); distúrbios da pigmentação (hipercromia, hipocromia, acromia); distúrbios
dos pelos (alopecias, hirsutismo, etc); neoplasias; fotoenvelhecimento; nevos; e outras
(dermatoses não passíveis de agrupamento nas
categorias acima discriminadas).
Os dados foram analisados com o auxílio
do pacote estatístico Statistical Package for the
Social Sciences (SPSS for Windows versão 16.0).
Cadernos UniFOA
relacionados às dermatoses nos idosos, grupo
etário que cresce em importância à medida
que ocorre o processo natural de envelhecimento da população.
42
Dentre as dermatoses encontradas neste grupo de idosos, aquelas caracterizadas como infecciosas /
infestações corresponderam à maioria dos casos (24,2%), seguida por eczemas (19,8%) e fotoenvelhecimento (8,9%) (Fig. 3).
Figura 3 - Distribuição dos pacientes quanto às dermatoses prevalentes
Cadernos UniFOA
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4. Discussão
Existem dermatoses que estão relacionadas com a idade, estando os pacientes idosos
em risco para uma grande variedade de alterações da pele, desde a xerose cutânea até o
melanoma, de alto risco para a vida. Um estudo no México relacionou como as dermatoses mais frequentes encontradas em idosos,
tanto em um serviço geriátrico quanto em um
serviço de dermatologia (com achados semelhantes em ambos): ceratose actínica, onicodistrofia, xerose, prurigo, doenças vasculocutâneas, lentigos solares, ceratose seborreica,
doença de Favre-Racouchot, angiomas rubi
e hipomelanose guttata (Vargas-Alvarado et
al, 2009). Já na Croácia, estudo semelhante
com pacientes geriátricos em um ambulatório
de dermatologia, revelou que os diagnósticos
mais comuns entre as pessoas de 65 anos ou
mais foram: ceratose actínica, ceratose seborreica, eczema numular, dermatite alérgica de
contato, micoses, psoríase, verrugas vulgares,
fibromas, nevos; e que o número de pacientes
com ceratose actínica, ceratose seborreica e
micose foi significativamente maior entre os
idosos do que em uma população mais jovem
(CVITANOVIC et al., 2010). Os pacientes por
nós estudados tiveram como suas principais
queixas dermatológicas as infecções/infestações cutâneas e os eczemas ou lesões afins;
e, em menor escala, o fotoenvelhecimento, os
distúrbios da pigmentação, e as neoplasias.
Quase 24% dos pacientes idosos atendidos na Policlínica UniFOA entre 2002 e
2010 apresentaram infecções ou infestações
cutâneas. Uma susceptibilidade aumentada a
infecções entre idosos é observada (Maillard,
2011) e é indicativa de que a imunidade cutânea se torna defeituosa com a idade
(VUKMANOVIC-STEJIC et al., 2011).
Os eczemas e lesões afins representaram
cerca de 1/5 das queixas principais dos pacientes analisados. O conteúdo de ácidos graxos
livres na pele é bastante diferente entre pessoas jovens e pessoas idosas (JACOBSON et
al., 1990). Fatores intrínsecos (predisposição
genética), fatores extrínsecos próprios da idade (efeito do dano causado pelo sol e debilidade geral da saúde) (DAVIES, 2008), uso
de diuréticos e medicações similares, abuso
de aquecedores ou ar condicionado (WHITECHU; REDDY, 2011) são fatores contribuintes que podem afetar a pele em idosos. Três
fatores fisiológicos ocorrem com a idade e
podem conduzir à alta prevalência de problemas dermatológicos pruriginosos em idosos:
o reparo da barreira epidérmica está diminuído; o sistema imune nos idosos apresenta um
balanço alterado entre as funções dos linfócitos T helper 1 (Th1) e T helper 2 (Th2); e
desordens neurodegenerativas podem levar
ao prurido através de efeitos centrais ou periféricos (BERGER; STEINHOFF, 2011). O
sobrevivência específica relacionada à doença
significativamente menor em pacientes mais
idosos. A probabilidade de desenvolvimento
de melanoma nos Estados Unidos aumenta de
0,15% (homens) e 0,28% (mulheres), entre o
nascimento e 39 anos, para 1,85% (homens) e
0,81% (mulheres) para pessoas com 70 anos
ou mais (AMERICAN CANCER SOCIETY,
CANCER FACTS & FIGURES, 2011).
43
5. Conclusão
O conhecimento das dermatoses que afetam os idosos é importante para o estabelecimento de estratégias voltadas ao seu diagnóstico e tratamento, por exemplo, a verificação da
possibilidade de realização de exames complementares como o exame micológico, e o entendimento com outros serviços em nível municipal para viabilizar o tratamento de lesões como
as neoplasias cutâneas. Com este estudo, esperamos contribuir para um melhor atendimento
voltado aos pacientes com 60 anos ou mais na
Policlínica UniFOA, nos anos vindouros.
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Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
6. Bibliografia
Cadernos UniFOA
prurido é uma queixa frequente em idosos, e
estes frequentemente apresentam numerosas
comorbidades que dificultam a determinação
da causa do prurido, bem como seu tratamento
(PATEL; YOSIPOVITCH, 2010; REICH et
al., 2011). A xerose causa prurido, que leva a
escoriações e a risco aumentado de infecções
cutâneas (WHITE-CHU; REDDY, 2011).
Fotoenvelhecimento foi encontrado em
pouco menos de 10% dos nossos pacientes
idosos, e distúrbios da pigmentação foram encontrados em menos de 5% destes. Nesta faixa
etária, são comuns os lentigos solares e outras
alterações com fisiopatologia menos definida, como a hipomelanose guttata idiopática
(SHIN et al., 2011).
O aumento da ocorrência de câncer na
população em geral é principalmente explicado pelo progressivo envelhecimento da
população (BUZZONI et al., 2011). O câncer
de pele é particularmente importante entre os
idosos, e o diagnóstico precoce e tratamentos
adequados constituem-se em fatores cruciais
para reduzir a morbimortalidade com ele relacionada. A ocorrência de câncer cutâneo
não melanoma é comum em pacientes nesta
faixa etária, sendo sua principal causa a exposição ao sol (PERROTTA et al., 2011); a
deficiência da imunidade cutânea nos idosos
aumenta também a susceptibilidade ao câncer (VUKMANOVIC-STEJIC et al., 2011).
Metade de todas as lesões cirurgicamente removidas da cabeça e pescoço de pessoas com
60 anos ou mais, em um hospital da Croácia,
eram tumores malignos, dentre os quais os
mais comuns eram carcinomas basocelulares (ALERIC; BAUER, 2011). A incidência
do melanoma cutâneo está crescendo nos
Estados unidos, especialmente em pacientes
com 65 anos ou mais (SIMARD et al., 2012).
Num estudo de 364 pacientes, com diagnóstico de melanoma atendidos na Santa Casa
de Misericórdia de São Paulo entre maio de
1993 e janeiro de 2006, 52% tinham mais de
60 anos, e a mediana de idade foi de 61 anos;
os idosos foram significativamente mais afetados por lesões de pior prognóstico – mais
espessas e ulceradas (FERRARI JR et al.,
2008). Rutkowski et al. (2010) também observaram que as lesões de melanoma em pacientes idosos (≥ 65 anos) eram mais espessas e 70% apresentavam ulceração, sendo a
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Valesca da Silva Gonzalez
[email protected]
Cadernos UniFOA
Endereço para Correspondência:
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
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47
O Médico a partir do imaginário coletivo de último anistas de Medicina
The Medical Doctor from the collective imaginary of last year of Medicine students
Maria Auxiliadora Motta Barreto¹
Glauber Correia de Oliveira²
Rosana Gonçalves Oliveira²
Samara Guerra Carneiro²
Desenho-Estória
com Tema
Medicina
Original
Paper
Resumo
O objetivo do trabalho foi considerar o imaginário coletivo de último anistas
de um curso de medicina, sobre a profissão do médico, a partir de pesquisa
feita em um projeto de Iniciação Científica. Foram realizados encontros coletivos com alunos voluntários do 11º e 12º períodos. Utilizou-se o procedimento de Desenhos-Estória com Tema, tendo sido analisados 17 Desenhos-Estória. A partir de uma abordagem psicanalítica, foram descritos determinantes
lógico-emocionais, destacando a predominância de campos psicológicos não
conscientes, como o que diz respeito às produções em que são expressas a
imagem que os alunos têm sobre o médico e seu paciente, percebendo-se
descaracterização da figura de ambos. Destacaram-se concepções mercantilistas, como a representação da profissão apenas como um cifrão e representações estereotipadas, como o “homem vitruviano”, mostrando dificuldade
em integrar ideias pré-concebidas acerca da profissão. Assim, constata-se
a necessidade de reapropriação do jovem, da própria escolha profissional e
aproximação da realidade que será vivenciada enquanto médico.
Abstract
This study was aimed to consider the collective imagination of their last year
of medical students about the medical profession, from a research done on
a project of Undergraduate Research. Group meetings were performed with
students from 11 and 12 periods. We used the procedure with DrawingsStory theme whose were analyzed 17. From the psychoanalytic approach, we
obtained logical-emotional determinants that sustain the collective imagination
as conduct, highlighting the prevalence of unconscious psychological fields,
which refers to productions that are expressed in images that students have
about the doctor and his patient, noticing the picture is distorted in both.
Mercantilist concepts were highlight, for example, the representation of the
profession as a dollar sign and stereotypical representations, as the “vitruvian
man”, showing difficulty in integrating pre-conceived ideas on the profession.
So, we can realize the necessity of reappropriation of their own choice and
approximation of the reality to be experienced as a medical professional.
Recebido em
09/2012
Aprovado em
04/2013
Key-words
Collective
imaginary
Draw Stories
with a Theme
Medicine
1 Doutora em Psicologia como Profissão e Ciência, PUC-Campinas; docente e orientadora de projeto de iniciação científica no Centro
Universitário de Volta Redonda (UniFOA) e da Universidade de São Paulo (USP-Lorena)
2 Graduandos em Medicina na Escola de Ciências Médicas de Volta Redonda (UniFOA); pesquisadores do projeto de iniciação científica)
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Imaginário
coletivo
Artigo
Original
Cadernos UniFOA
Palavras-chave:
ISSN
1809-9475
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
48
1. Introdução
mação generalista, humanista, crítica e
reflexiva, capacitado a atuar, pautado
Sabe-se que a satisfação laboral e pessoal do
indivíduo está relacionada com o estilo de vida e
com a personalidade de cada um (BARRETO,
2000; BARRETO et al., 2009). Partimos do
princípio de que a escolha profissional está diretamente relacionada com essa satisfação e optamos por pesquisar o que pensam jovens médicos,
sobre a profissão, em um momento em que já
atuam como internos e em que as práticas individuais e coletivas vão se consolidando.
O trabalho, além de uma atividade humana
natural e que promove desenvolvimento e manutenção da saúde do ser humano é, também, uma
atividade comercial criada pela sociedade, exigindo gastos e energia física e mental. Portanto,
é uma atividade que, invariavelmente, acompanha as várias mudanças da vida cotidiana e
que sofre alterações constantemente, ao longo
de toda a história, caracterizando-se como fenômeno de grande complexidade (BARRETO;
VAISBERG, 2007). Dessa forma, o trabalho é
parte da vida física e emocional de cada pessoa,
sendo sua escolha influenciada diretamente pelos sentimentos do indivíduo.
Em se tratando da área da saúde, com
a constante desvalorização que o setor vem
sofrendo, nos últimos anos, devido às dificuldades impostas pelo mercado de trabalho,
os jovens estão se sentindo cada vez menos atraídos pela área, embora ainda exista
a marca do status, já que a medicina é uma
das faculdades mais conceituadas como promissora e de grande sucesso, como apontam
diversas obras sobre escolha e orientação
profissional (BARRETO; VAISBERG, 2007;
SPARTA, 2003; NORONHA; AMBIEL,
2006, WOLECK, 2002).
Como participantes ativos na escola de medicina, seja como docente ou como discentes,
podemos observar claramente a diferença entre
como os estudantes se portam e falam sobre a
profissão, em função de diversas concepções,
daquilo que é preconizado nas diretrizes curriculares nacionais da graduação em medicina.
Art. 3º O Curso de Graduação em Medicina tem como perfil do formando
egresso/profissional o médico, com for-
em princípios éticos, no processo de
saúde-doença em seus diferentes níveis
de atenção, com ações de promoção,
prevenção, recuperação e reabilitação à
saúde, na perspectiva da integralidade
da assistência, com senso de responsabilidade social e compromisso com
a cidadania, como promotor da saúde
integral do ser humano (CONSELHO
NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2001)
Essas diferenças entre as atitudes e verbalizações dos estudantes do curso, do que é
preconizado, despertam a necessidade de atuar
preventivamente junto aos jovens que fazem
parte dessa realidade. É muito comum os estudantes encontrarem dúvidas, medo, insegurança e vários outros sentimentos que podem
prejudicar seu desempenho profissional e sua
satisfação na carreira escolhida (BARRETO,
2000; BARRETO; VAISBERG, 2007).
Assim, consideramos, neste trabalho, a
dramática do viver adolescente a respeito da
escolha profissional (WINNICOTT, 1975),
em especial a escolha da profissão do médico. Para isso, utilizamos a visão blegeriana
(BLEGER, 1963) sobre a necessidade de considerar todas as condições concretas em que
um fenômeno ocorre.
A escolha profissional é uma conduta
eminentemente humana e o que é aplicado à
conduta é também aplicado às escolhas, sendo que ambas são influenciadas pelo pessoal
e pelo social.
Baseamo-nos no conceito de campos psicológicos propostos por Bleger (1975), enfatizando que a dramática humana é forjada na relação com o outro (BARRETO; VAISBERG,
2007) e em conjunto com a coletividade.
A partir desse contexto, este artigo foi escrito como resultado de um projeto de iniciação
científica. O objetivo da pesquisa foi avaliar o
imaginário coletivo de estudantes de medicina,
sobre a profissão do médico. Para esse estudo
foram considerados estudantes de uma escola
médica do interior do estado do Rio de Janeiro,
prestes a se formar, ou seja, que cursavam o 11º
e o 12º períodos no ano de 2009.
49
3. Resultados e Discussão
Foram obtidos 17 desenhos-estórias dos
últimos anistas, considerados válidos, produzidos por nove (9) alunos do 11° e por oito (8 )
alunos do 12° períodos do curso de Medicina.
Durante a realização do procedimento, houve
certa dificuldade em encontrar os alunos devido à diferença de horários entre eles, por serem internos. Entre os que foram contatados,
a maioria mostrou interesse em participar da
pesquisa, porém, houve aqueles que se recusaram ou copiaram o desenho do colega.
Na análise dos Desenhos-Estória com
Tema, percebemos uma predominância de alguns campos psicológicos não conscientes e
dentre eles destacamos:
3.1. Sem cara, sem coração
Esse campo diz respeito às produções em
que são expressas as imagens que os alunos
têm sobre o médico e seu paciente. Nota-se
que, na maioria dos desenhos-estória, o paciente não é sequer referenciado, o mesmo
acontecendo com a figura do próprio médico.
Foi percebida uma descaracterização da figura
de ambos e, quando representados, foi de forma incompleta como, por exemplo, a presença
apenas do tronco de um médico (figura 1), ou
sem características relacionadas ao solicita-
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
O desenho metodológico empregado nesta pesquisa foi qualitativo. Assim, esperamos
compreender as idealizações acerca da profissão e as expectativas de quem estará no mercado de trabalho, em breve.
Baseando-nos no conceito de que o homem é um ser essencialmente social e considerando que cada pessoa expressa sua conduta
tanto em âmbito individual, quanto em âmbito
coletivo (BLEGER, 1963), abordamos o imaginário de estudantes de medicina, enquanto
um grupo que representa uma coletividade.
Podemos abordar as atitudes humanas
de maneira singular e subjetiva, porém, é possível também que o coletivo represente uma
ação mais globalizada e que não especifica a
particularidade de cada indivíduo e, assim, a
análise é feita em sua totalidade. O imaginário
coletivo avalia um conjunto de ideias e imaginações, dando a conhecer expressões afetivas e
emocionais inconscientes, através de condutas
manifestas. O conceito de transicionalidade de
Winnicott (1967/1975) também foi aqui empregado, uma vez que atribui, ao lugar a que nos referimos, o significado de espaço intermediário,
ou transicional, entre o que é percebido objetivamente e concebido subjetivamente (AIELLOVAISBERG, 2004). Nesse espaço intermediário é que julgamos encontrar o real significado
de pensamentos, sentimentos e ações humanas.
(BARRETO; VAISBERG, 2007).
Fizemos uso, assim, do procedimento de
Desenhos-Estória com Tema, para tal investigação. Realizamos a pesquisa com alunos
do 11º e 12º períodos durante o ano de 2009,
convidando os estudantes a participarem de
uma atividade que se tornaria uma pesquisa.
Ressaltamos que os procedimentos somente
foram desenvolvidos após submissão e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisas com
Seres Humanos do UniFOA.
Para obtermos a produção, foram distribuídas folhas de sulfite A4 e foi solicitado,
aos alunos, que desenhassem um médico, da
seguinte forma: “Desenhe um (a) médico(a)
e, depois, escreva uma estória sobre ele(a),
no verso da folha. Pedimos não assinar a folha, mas colocar sua idade e sexo”. O procedimento de Desenho-Estórias com Tema, nos
modelos de Aiello-Vaisberg (2004) e Trinca
(1987) para análise do imaginário coletivo, é
bastante utilizado como recurso de abordagem
de temas com difícil acesso e que não se apresentam no campo consciente e/ou suscitam
emoções indesejáveis (BARRETO, 2006).
Após a obtenção dos desenhos-estória,
foi iniciada a análise dos mesmos, no grupo
responsável pela pesquisa. Numa abordagem
psicanalítica, foi feito o uso de associações livres e atenção flutuante, devidamente ajustado
da prática clínica para a pesquisa. Utilizamos
as ideias que Silva (1993, p. 20) destaca, adotando, como nossa, a concepção que o método
em psicanálise caracteriza-se:
...por uma espécie de jogo em que fantasias
de ambos os interlocutores organizam-se em
busca de um consenso sempre questionado a
respeito do avesso do que foi dito. Ou seja, o
método da psicanálise caracteriza-se por abertura, construção e participação.
Cadernos UniFOA
2. Metodologia
50
do, como no desenho de um surfista (figura
3). Também chama a atenção a falta total de
figura 1
alusão a pessoas, caracterizando a despersonalização (figura 2).
figura 2
figura 3/
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
3.2. Real versus Ideal
Em trabalho anterior (BARRETO et al.,
2009), na mesma linha que seguimos aqui, mas
com outra população, a idealização aparecia de
forma imatura, impregnada da fantasia do ideal
de médico. Nesse campo, eram apresentados
médicos como responsáveis únicos pela saúde
e bem-estar do paciente, capazes de solucionar
todos os problemas, totalmente incansáveis e
a medicina aparecia como verdade absoluta.
Aqui, com este grupo, pelo estágio de formação – último anistas –, era esperado que os estudantes estivessem mais próximos da realidade
profissional do médico, até mesmo pelo que
preconizam as próprias DCN´s (2001, p.3):
Art. 5º A formação do médico tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos
figura 4
requeridos para o exercício das seguintes
competências e habilidades específicas:
XVI - lidar criticamente com a dinâmica
do mercado de trabalho e com as políticas de saúde;
No entanto, os jovens apresentaram, por
exemplo, concepções como: apenas um cifrão
(figura 4) ou a medicina exclusivamente como
doação de si (figura 5), ou ainda, representações
estereotipadas, como o “homem vitruviano”
(figura 6) ou a representação do paciente com
o corpo e do médico apenas com cabeça (figura
7), atestando uma certa soberania deste e fragilidade daquele. Tais representações mostram
a dificuldade em integrar ideias pré-concebidas
acerca da profissão com a prática profissional.
figura 5
51
Esse campo do imaginário retrata a existência de uma dúvida persistente que envolve
a dificuldade em lidar com aquilo que se considera como oposto. O imaginário configura-se de acordo com as linhas que definem uma
estrutura de conduta onde se distinguem o bom
e o mau, o certo e o errado, o desejado e o encontrado, como polaridades inconciliáveis. O
médico é apresentado como sujeito à indecisão
total, pura e simples, o que foi retratado por pontos de interrogação (figura 8) ou à escolha entre
dois caminhos (figura 9), ou ainda é apresentado como pendendo sempre entre polos opostos.
Por exemplo, quando é apresentado como escravo e senhor – crucificado (figura 10), ou ainda
quando coloca a profissão como uma profissão
de contrastes, antagonizando o relacionamento
interpessoal com remuneração (figura 11).
figura 8
figura 9
figura 10
figura 11
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
3.3. E agora?
figura 7
Cadernos UniFOA
figura 6
52
4. Considerações Finais
A análise do material coletado na pesquisa
nos faz considerar que, nos moldes preconizados
pelas DCN´s, a formação do profissional médico
não vem proporcionando uma representação da
profissão que possa ser considerada integrada.
O imaginário apresentado não condiz
com a ênfase humanista esperada, e demonstra
preocupações voltadas ao mercado de trabalho,
mais do que quanto ao exercício da profissão.
Na amostra em questão, em similaridade com
pesquisa anterior foi identificada uma tendência a encarar a medicina como negócio, com
onipotência, independente do paciente, ou
como um estereótipo que, ao longo da formação, precisaria estar mais próximo da práxis.
Encarada assim, a opção pela profissão e
a formação profissional deixam de ser momentos integrados e passam a ser um sintoma de
problema que impede a expressão do self, acarretando diversas desadaptações. O que se apresenta indica a necessidade de reapropriação,
pelo jovem, da própria escolha e aproximação
da realidade que será vivenciada enquanto profissional de medicina, apontando para a importância de estratégias psicoprofiláticas a serem
desenvolvidas junto aos futuros médicos.
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Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
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Maria Auxiliadora Motta Barreto
[email protected]
Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA
Av. Paulo Erley Abrantes, 1325
Três Poços - Volta Redonda/RJ
CEP: 27240-560
53
O uso não prescrito de metilfenidato entre acadêmicos de Medicina
The nonmedical use of methylphenidate among medical students
Samara Guerra Carneiro1
Airton Salviano Teixeira Prado1
Hermiton Canedo Moura1
João Francesco Strapasson1
Natália Ferreira Rabelo1
Tiago Turci Ribeiro1
Eliane Camargo de Jesus2
Automedicação
Estudantes de
Medicina
Original
Paper
Resumo
O metilfenidato é um fármaco do grupo dos anfetamínicos. A potencialização do
desempenho cognitivo apresentado pelo medicamento atrai pessoas saudáveis que
buscam a melhora de sua performance. Este estudo teve como objetivo analisar a
prevalência do uso não prescrito do metilfenidato entre os estudantes de Medicina. Estudo transversal no qual obtivemos informações a partir de um questionário
aplicado aos alunos do 1° ao 8 ° períodos do curso de Medicina. Encontramos uma
prevalência de 23,72% para o uso indiscriminado desse estimulante entre os acadêmicos. Não houve diferença significativa de consumo entre homens e mulheres.
Dentre as pessoas que fazem o uso indiscriminado, 64,86% informaram ter apresentado efeitos colaterais. Desses 23,72%, 13,51% usam o fármaco para estudar para
todas as provas do período letivo, e 10,81% tiveram que aumentar a dose da droga
para tentar obter o mesmo efeito de quando iniciaram o uso. Por outro lado, 86,49%
dos que usam indiscriminadamente relataram aumento do poder de concentração
e ainda 54,05% observaram uma melhora do rendimento acadêmico. Observamos
um relevante aumento do uso com o decorrer do curso, pois, a distribuição dos 37
participantes que já fizeram uso do metilfenidato de forma indiscriminada se deu
entre o 3º e 8º períodos, sendo a maior distribuição no último período analisado. Por
fim, existe a necessidade de melhor compreender os diferentes fatores envolvidos
na resposta e na adaptação ao estresse inerente ao curso de Medicina para poder
ajudar na prevenção do uso inadequado de metilfenidato pelos futuros médicos.
Abstract
Methylphenidate is a drug that belongs to the group of amphetamine. The
enhancement of cognitive performance presented by the drug attracts healthy people
seeking to improve their performance. This study aimed to analyze the prevalence of
non-prescribed use of methylphenidate substance among medical students. Crosssectional study in which we obtained information from a questionnaire, was applied
over students from 1st to 8th semesters of medical school. We found a prevalence of
23.72% for the indiscriminate use of this stimulant among academics. There was no
significant difference in consumption between males and females. Among the people
who make indiscriminate use, 64.86% of them reported side effects. Also out of this
23.72%, 13.51% used the drug to study for all tests of the school year, and 10.81% had
to increase the dosage to get the same effect as when they started using it. Moreover,
the remaining 86.49% of whom use indiscriminately, reported increase in power of
concentration and yet, 54.05% observed an improvement in academic performance.
We noticed a significant increase in the use of the drug throughout the Medical
Degree. Once there is no report of usage in the early semesters, the distribution of the
37 participants, who have used methylphenidate indiscriminately, took place between
the 3rd and 8th semesters, with the largest concentration in the last period analyzed.
Finally, there is the need to better understand the different factors involved in the
response and adaptation to the stress, inherent to medical school, in order to help
preventing the inappropriate use of methylphenidate by future doctors.
1 Discente do curso de medicina do Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA
2 Docente do curso de medicina do Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA
Keywords
Amethylphenidate
Self medication
Medical students
Recebido em
10/2012
Aprovado em
04/2013
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Metilfenidato
Artigo
Original
Cadernos UniFOA
Palavras-chave
ISSN
1809-9475
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
54
1. Introdução
O metilfenidato é um fármaco do grupo dos anfetamínicos que tem como forma
comercial mais conhecida a Ritalina®. Essa
substância, classificada como estimulante
do sistema nervoso central, apresenta efeitos
mais proeminentes sobre a atividade mental
do que a motora. (COCCARO et al., 2006).
Seu mecanismo de ação está relacionado
ao estímulo direto de receptores alfa e beta
adrenérgicos ou à liberação, indiretamente,
de dopamina e noradrenalina nos terminais
sinápticos (PASTURA; MATTOS, 2004).
Tem como principais indicações, o tratamento
da narcolepsia, em que se observa sonolência diurna, episódios de sono inapropriados e
ocorrência súbita de perda de tônus muscular
voluntário, e do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) que consiste
em um padrão persistente de desatenção e/ou
hiperatividade. Surge antes dos sete anos de
idade e interfere em pelo menos duas áreas de
atuação da criança, como lar, colégio e grupo
de amigos (PASTURA; MATTOS, 2004).
Devido ao aumento de casos diagnosticados de TDAH, prevalente transtorno neurocomportamental, foi facilitado o acesso ao
metilfenidato e às anfetaminas, medicamentos indicados ao controle dessa síndrome
(WILENS et al., 2008).
A potencialização do desempenho cognitivo apresentado pelo medicamento atrai
pessoas saudáveis que buscam melhorar seu
desempenho. Isso, frequentemente, ocorre
quando são submetidas a situações que exijam
uma maior capacidade neste sentido. O termo
“Cognitive enhancement” traduzido como
“aperfeiçoamento cognitivo”, surgiu, segundo Teixeira (2005) no início do ano 2000 para
indicar a possibilidade de uma droga - além
de sua indicação médica - “aperfeiçoar” artificialmente uma capacidade já presente.
Os universitários, devido a suas obrigações e cobranças internas, representam grande
parcela dos usuários que não apresentam indicações clínicas, como TDAH (DE SANTIS
et al., 2008). No Brasil, ainda não existe uma
palavra ou expressão estabelecida para nomear essa prática, porém, surgiram algumas
denominações, tais como: “uso instrumental
de remédios”, “drogas para turbinar o cére-
bro”, “neurologia cosmética”, “dopping cerebral” e “drogas de inteligência” (BARROS;
ORTEGA, 2009) . Cruz et al. (2011), em um
estudo realizado na Universidade Federal da
Bahia encontraram uma prevalência de 8,3%
para o uso não prescrito do metilfenidato entre
os acadêmicos de Medicina.
O uso desse fármaco tem autorização legal para o tratamento de pessoas com doenças
e transtornos psiquiátricos. O metilfenidato
está incluído na Convenção de Substâncias
Psicotrópicas de 1971 da ONU, assim, esse
medicamento necessita de um controle especial, pois apresenta risco de abuso e dependência (BARROS; ORTEGA, 2011). Apesar disso,
estudantes de medicina- por serem sobrecarregados com vasto conteúdo e pelos momentos
de estresse, que correspondem principalmente
ao período de avaliações- representam o grupo
de estudantes que mais comumente faz uso indiscriminado da droga, sem se preocupar com
os efeitos colaterais (POSADA, 1996, apud
MENDONZA, 2002). Entre os de curto prazo,
destacam-se anorexia e insônia, seguidas de dor
abdominal e cefaleia. Já, em longo prazo, o destaque maior é para a dependência, sendo esse
um risco mais teórico do que prático, segundo
Pastura e Mattos (2004).
Apesar da realidade vivenciada, poucos
estudos têm sido realizados no mundo com o
intuito de verificar a prevalência do uso indiscriminado de metilfenidato. Em estudo realizado pelo Ministério da Saúde da Colômbia,
Posada (1996, apud MENDONZA, 2002)
demonstrou que os acadêmicos de Medicina
foram os maiores consumidores entre os grupos de universitários selecionados. Alguns
estudos norte-americanos mostraram uma
importante prevalência do uso dessa droga,
principalmente entre universitários. Babcock
e Byrne (2000) encontraram a prevalência de
16% em estudo realizado numa universidade
do Estado de Massachusetts. De Santis et al.
(2008), em estudo realizado na Universidade
de Kentucky, mostraram uma frequência de
34%. McCabe et al. (2005) apontaram que
6,9% dos estudantes de diversas faculdades
norte-americanas faziam uso. Por outro lado,
Bassols et al. (2008) mostraram que nenhum
acadêmico da Faculdade de Medicina da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
informou usar a droga.
Estudo transversal, cuja amostra foi os alunos do curso de Medicina do Centro Universitário
de Volta Redonda, localizado na cidade de Volta
Redonda, no Estado do Rio de Janeiro, no período de agosto a novembro de 2011.
Após o trabalho ter sido aprovado pelo
Comitê de Ética, foi aplicado um questionário padronizado e autoexplicativo aos alunos
do 1° ao 8° períodos. Foram sorteados aleatoriamente 20 alunos de cada sala, totalizando
160 pessoas. Todos os estudantes do curso de
Medicina do 1° ao 8° períodos, independente do sexo, foram incluídos no estudo. Foram
55
3. Resultados
A pesquisa foi realizada entre os dias
31 de outubro e 16 de novembro de 2011,
no Centro Universitário de Volta Redonda.
Alunos do 1° ao 8 ° períodos do curso de
Medicina participaram do estudo. Foram sorteados 20 alunos de cada sala, de forma aleatória, totalizando 160 pessoas, sendo que 4
recusaram-se a participar, 3 destes do primeiro
período e 1 do quinto período. Entre os participantes, 72 (45%) eram do sexo feminino e 88
(55%) do sexo masculino.
Dos resultados avaliados, 94,23% (147)
dos participantes já ouviram falar da droga metilfenidato e 62,82% (98) do total conhecem
o mecanismo de ação. Todos os alunos analisados, 23,72% (37) relatam que já fizeram ou
fazem o uso indiscriminado da droga e apenas
2,56% (4) utilizam a medicação sob prescrição
médica para o tratamento de T.D.A.H.
Figura 1: Comparação do uso e não uso do metilfenidato pelos entrevistados
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
2. Materiais e Métodos
excluídos os indivíduos que se recusaram a
participar da pesquisa e os menores de dezoito
anos, além dos internos, alunos do 9° ao 12°
períodos do curso, pois esses não eram submetidos a períodos de prova como os demais.
Cadernos UniFOA
Esse estudo teve como objetivo geral
identificar a prevalência do uso indiscriminado da substância metilfenidato entre os estudantes de Medicina do Centro Universitário
de Volta Redonda - RJ. Entre os específicos,
destacam-se: analisar se há aumento do uso da
droga no decorrer do curso, comparar o uso
entre alunos calouros e veteranos, investigar
os benefícios e riscos da sua utilização, descrever os efeitos colaterais observados pelos
estudantes e por fim, conscientizar os alunos
sobre o uso errado do fármaco.
56
Dentre as pessoas que utilizam o medicamento indiscriminadamente, 22 são homens,
representando 25% da amostra masculina e 15
são do sexo feminino, representando cerca de
20% das mulheres que participaram da pesquisa.
Das pessoas que fazem o uso indiscriminado, 64,86% (24) informaram ter apresentado efeitos colaterais, sendo os mais fre-
quentes, taquicardia e ansiedade seguidos de
tremores, perda de apetite e boca seca, respectivamente. Mesmo apresentando efeitos
colaterais, 27,03% (10) continuam fazendo o
uso da droga de acordo com as necessidades
da faculdade. E ainda 51,35% (19) sentem-se
cansados após o término do efeito.
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Figura 2: Efeitos colaterais mais frequentes em função do uso de metilfenidato
Desses 23,72% (37), 13,51% (5) usam
o fármaco pra estudar para todas as provas
do período letivo, e 10,81% (4) tiveram que
aumentar a dose da droga para tentar obter o
mesmo efeito de quando iniciou o uso.
Por outro lado, mesmo com todas essas
desvantagens citadas, 86,49% (32) dos que
usam indiscriminadamente relataram melhora do poder de concentração e ainda 54,05%
(20) observaram uma melhora do rendimento
acadêmico.
A partir das informações coletadas, observamos um relevante aumento do uso com o
decorrer do curso, uma vez que nos períodos
iniciais (primeiro e segundo), não há relato de
uso. A distribuição dos 37 participantes que já
fizeram uso do metilfenidato de forma indiscriminada se deu entre o 3º e 8º período, da seguinte forma: no 3º período, tivemos 2 alunos, assim
como no 4º período (onde também observamos
2), no 5º período, 3 relataram uso. No 6º período,
oito pessoas já fizeram o uso, este mesmo número foi observado no 7º período, enquanto que no
8º período, 14 relataram fazer o uso. Com isso
podemos constatar que o uso do medicamento
aumenta progressivamente.
Figura 3: Porcentagem de estudantes por período que fazem uso indiscriminado do metilfenidato
57
5. Conclusão
Observarmos que a prevalência do uso
indiscriminado do metilfenidato entre os acadêmicos de medicina do Centro Universitário
de Volta Redonda é considerada alta quando
comparada aos outros estudos analisados, perdendo apenas para a prevalência encontrada
por De Santis et al. (2008).
Há necessidade de melhor compreender
os diferentes fatores envolvidos na resposta e
na adaptação ao estresse inerente ao curso de
medicina para poder ajudar na prevenção do
uso inadequado de metilfenidato pelos futuros médicos. Uma política clara quanto ao uso
indiscriminado pelos estudantes, informação
científica, educação com treino de habilidades
para melhor lidar com estresse, podem se mostrar úteis na prevenção. Normas e regras bem
explicitadas, bem como o oferecimento de atividades recreativas e de relaxamento que não
incluam substâncias alteradoras do psiquismo
podem vir a melhorar a situação.
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
O metilfenidato é um recurso para aqueles que buscam uma potencialização do desempenho cognitivo, o que é bastante observado entre os estudantes quando são submetidos
a situações que exijam uma maior capacidade
neste sentido. Pelos estudos analisados, podemos perceber que estudantes de medicina
parecem formar um grupo em que se observa
com frequência a utilização deste medicamento para este fim, pelo grande esforço determinado pelo curso.
Nesse trabalho, foi avaliado o uso não
prescrito da droga por uma população específica de universitários. Encontramos uma prevalência de 23,72% para o uso indiscriminado
desse estimulante entre os estudantes de medicina do Centro Universitário de Volta Redonda.
Os valores que mais se aproximaram dessa prevalência, foram os encontrados por Babcock
e Byrne (2000) e DeSantis et al. (2008), 16%
e 34%, respectivamente. Já Mc Cabe et al.
(2005)mostraram a frequência de 6,9% e Cruz
et al. (2011) apresentou uma prevalência de
8,6%. Esses dados ajudam a confirmar a hipótese que o uso não prescrito dessa substância
é uma prática comum entre os universitários e
que o curso de Medicina pode ser considerado
um fator de risco importante, como propunha
Posada (1996, apud MENDONZA, 2002), em
um estudo realizado pelo Ministério da Saúde
da Colômbia, uma vez que, dentre grupos pré-selecionados, os maiores consumidores foram
os futuros médicos.
Entre os acadêmicos de Medicina do
Centro Universitário de Volta Redonda, não
houve diferença significativa de consumo entre
os gêneros masculino e feminino. Tal situação
também foi observada por Teter et al. (2006)
em um estudo realizado em universidades do
sudeste dos Estados Unidos. Por outro lado,
Cruz et al. (2011) encontrou diferença marcante entre os dois gêneros, sendo o masculino o
maior consumidor da droga sem prescrição.
Percebemos que a maioria dos indivíduos
que faz o uso indiscriminado da substância
relata ter apresentado algum efeito colateral
e sentir-se cansados após o término do efeito. Por outro lado, apesar disso, essas pessoas
veem algumas vantagens na sua utilização
como o aumento da capacidade de concen-
tração e uma melhora do rendimento acadêmico após o início do uso. De Santis (2008)
demonstrou que a maioria dos usuários ilegais
fazia o uso da droga em períodos de stress elevado e que a substância fazia reduzir a fadiga e
aumentar o entendimento de leitura, o interesse, a cognição e por fim, a memória.
Notamos ainda que alguns participantes relataram que precisam usar a substância
para conseguir estudar para todas as provas
do período letivo, e, outros informaram a necessidade de aumentar a dose com o decorrer
do tempo para tentar obter o mesmo efeito de
quando iniciou o uso, configurando um quadro
de tolerância ao medicamento. Porém, segundo Pastura e Mattos (2004), o quadro de dependência medicamentosa ao metilfenidato é
algo mais teórico que prático.
Foi observado que o uso da substância
aumenta com o decorrer do curso, uma vez
que uma maior distribuição dos participantes
que usam indiscriminadamente se deu nos últimos períodos analisados. Talvez, uma maior
carga horária somada a uma maior quantidade
de conteúdo administrado aos períodos acima
possa ser uma explicação para tal situação.
Cadernos UniFOA
4. Discussão
58
6. Anexo
Questionário de pesquisa: O Uso indiscriminado de Metilfenidato entre os estudantes de medicina.
Sexo: Masc. ( ) Fem. ( ) Idade: ______
Período: ____
1. Hoje em dia vê-se muito o uso indiscriminado da substância Metilfenidato, cujo nome comercial
mais famoso é Ritalina. Você conhece e/ou já ouviu falar dessa droga?
Sim ( ) Não ( ) Caso a resposta seja sim, prossiga. Caso contrário pode encerrar as respostas.
2. Conhece mecanismo de ação da droga?
Sim ( ) Não ( )
3. Já fez uso da substância?
Sim ( ) Não ( )
4. Caso a resposta da questão anterior tenha sido sim, o seu uso é feito sob prescrição médica, uso
para tratamento do Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade?
Sim ( ) Não ( ) Se a resposta for sim, obrigado pela participação.
5. A droga aumenta o seu poder de concentração?
Sim ( ) Não ( )
6. Já apresentou algum efeito colateral?
Sim ( ) Não ( )
Caso a resposta seja não, vá para a questão 9.
7. Caso a resposta tenha sido sim, quais dos efeitos abaixo você já apresentou? Obs: a resposta a
seguir tem mais de uma resposta:
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
( ) Taquicardia ( ) Perda de apetite ( ) Tremores nas mãos ( ) Boca seca ( ) Ansiedade
8. Mesmo apresentando esses sintomas, continua fazendo o uso indiscriminado da droga de acordo
com suas necessidades na faculdade?
Sim ( ) Não ( )
9. Você utiliza a droga para estudar para todas as provas do período letivo?
Sim ( ) Não ( )
10. Sente-se cansado após acabar o efeito da droga?
Sim ( ) Não ( )
11. Desde que você começou a utilizar o fármaco, notou que teve de aumentar a sua dose para obter
o mesmo efeito de quando iniciou o uso da droga?
Sim ( ) Não ( )
12. Você tem notado melhora no seu rendimento acadêmico com o uso da substância?
Sim ( ) Não ( )
ARRIA, A.M.; Figura 3: Porcentagem
de estudantes por período que fazem uso
indiscriminado do metilfenidato
2.
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Endereço para Correspondência:
Samara Guerra Carneiro
[email protected]
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
1.
8.
Cadernos UniFOA
7. Referências Bibliográficas
61
Para comer, para beber ou para remédio? Categorias de uso múltiplo em
Etnobotânica.
ISSN
1809-9475
To eat, to drink or to remedy? Multipurpose use categories in Ethnobotany.
Artigo
Original
Odara Horta Boscolo1
Original
Paper
Comunidades
tradicionais
Parque Nacional
da Restinga de
Jurubatiba
Plantas
Medicinais
Abstract
The use of plants combines a number of factors, showing the interdependence
of the biological, social and cultural man. This way the relationship between
men and environment are established. Ethnobotanic studies faces the difficult
task of organizing the information and observation of the use of plants by
traditional communities into categories based on the cultural references of the
communities themselves. During this process, a fine line is drawn between the
medicine and food categories. For some communities, however, this distinction
simply does not exist. The aim of this work is to register which plants are used
both as food and medicine by selected respondents in City of Quissamã and
investigate this duality. In total, 39 plants species were found, belonging to 23
botanic families, of which Myrtaceae (5 species), Cucurbitaceae (4 species)
and Solanaceae (4 species) are the most representative ones. The ambiguity
of plants utilization for food and medicinal purposes shows the complexity of
the native categories. Despite the scientific advances, these categories, which
are part of structures of beliefs and representations of local people, do not
disappear. This research exemplifies that the inclusion of emic information
in categories is unclear and alert to a greater dialogue between the various
disciplines that form the framework of ethnobotany.
1 Universidade Federal Fluminense (UFF), Departamento de Biologia Geral, Setor Botânica.
Keywords
Traditional
Knowledge
Traditional
Communities
Restinga de
Jurubatiba
National Park
Medicinal Plants
Recebido em
11/2012
Aprovado em
04/2013
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Conhecimento
tradicional
Resumo
A utilização de plantas combina uma série de fatores, mostrando a interdependência entre o homem biológico, social e cultural. Dessa forma, as relações entre o homem e o meio ambiente são estabelecidas. Estudos etnobotânicos enfrentam a difícil tarefa de organizar as informações e observações
do uso de plantas por comunidades locais em categorias com base nas referências culturais das próprias comunidades. Durante esse processo, uma
linha tênue é desenhada entre a categoria medicinal e a alimentícia. Para algumas comunidades, no entanto, esta distinção, simplesmente não existe. O
objetivo deste trabalho é registrar quais plantas são usadas como alimentos
e remédios, ao mesmo tempo, por entrevistados selecionados no Município
de Quissamã, para averiguar essa dualidade. No total, 39 espécies de plantas
foram encontradas, pertencentes a 23 famílias botânicas, sendo que Myrtaceae (5 espécies), Cucurbitaceae (4 espécies) e Solanaceae (4 espécies) as
mais representativas. A ambiguidade das utilizações para fins alimentícios e
medicinais mostra a complexidade das categorias nativas. Apesar dos avanços científicos, essas categorias, que fazem parte das estruturas de crenças e
representações da população local, não desaparecem. Esta pesquisa exemplifica de forma prática como é obscura a inserção das informações êmicas
em categorias e atenta para diálogo maior entre as diversas disciplinas que
formam o arcabouço da etnobotânica.
Cadernos UniFOA
Palavras-chave
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
62
1. Introdução
A Etnobotânica pode ser definida como
o estudo da relação existente entre o Homem
e as Plantas e o modo como essas plantas são
usadas como recursos. Alguns autores a definem como: campo científico, que estuda as
inter-relações as quais se estabelecem entre
o ser humano e as plantas, através do tempo
e em diferentes ambientes (XOLOCOTZI,
1982); estudo das sociedades humanas, passadas e presentes e todos os tipos de inter-relações ecológicas, evolucionárias e simbólicas
(ALEXIADES, 1996).
A Etnobotânica passou por diversas tendências, desde simples trabalhos com listagens
das plantas úteis em determinadas populações,
até a compreensão de como essas populações
interagem com as plantas, considerando o conhecimento êmico, sua cosmologia; a diversidade vegetal e a diversidade cultural; o uso,
o manejo e a conservação da biodiversidade,
dentre outros. Porém, se for pensado bem,
assim que o ser humano começou a interagir
com o reino vegetal, nasceu a Etnobotânica
(SCHULTES; REIS, 1995).
Atualmente, a etnobotânica tenta se comprometer com o mundo em desenvolvimento,
adotando uma posição estratégica com seu
foco integrativo (ALCORN, 1995). Permite
um melhor entendimento das formas pelas
quais as pessoas pensam, classificam, controlam, manipulam e utilizam espécies de plantas
e comunidades. Pesquisas de cunho etnobotânico podem ajudar planejadores, agências
de desenvolvimento, organizações, governos
e comunidades a conceber e implementar
práticas de conservação e desenvolvimento
(TUXILL; NABHAN, 2001).
O homem é e sempre foi dependente do
uso de plantas para a sua sobrevivência. Essa
utilização vai desde as necessidades mais básicas como alimento e medicina até para fins
mágicos, ritualísticos e simbólicos. Porém, ele
não é só dependente, mas também manipulador de paisagens e responsável por uma parcela da coevolução com os vegetais. Para alguns
autores, como Balée (1991), o manejo realizado pelas populações traz uma diversidade ao
ambiente maior que a existente nas condições
naturais onde não existe a presença humana.
Por mais que algumas espécies se extingam, a
intervenção humana resulta num aumento real
da diversidade ecológica e biológica de um lugar específico ou região.
Ao considerar que as populações locais
possuam um conhecimento sobre os ambientes que ocupam, que é de real valia para sua
adaptação, o saber-fazer acumulado é e pode
ser transmitido oralmente ao longo das gerações. Esse conhecimento é dinâmico, e novos
conhecimentos são adicionados aos conhecimentos locais (OLFIELD; ALCORN, 1991).
Estudos etnobotânicos enfrentam a difícil
tarefa de organizar as informações e observações do uso de plantas por comunidades locais
em categorias com base nas referências culturais das próprias comunidades. Durante esse
processo, uma linha tênue é desenhada entre
a categoria medicinal e a alimentícia. Para algumas comunidades, no entanto, essa distinção, simplesmente não existe. O objetivo deste trabalho é registrar quais plantas são usadas
como alimentos e remédios, ao mesmo tempo,
por entrevistados selecionados no Município
de Quissamã, para averiguar essa dualidade.
Esse local mostrou-se interessante para desenvolver este trabalho etnobotânico devido a
suas peculiaridades como a diversidade da população residente (descendentes de escravos, de índios Goytacazes e trabalhadores rurais vindos de
outros locais para lidar na lavoura açucareira) e a
diversidade religiosa que inclui católicos, evangélicos, espíritas e umbandistas. O Município
abriga a maior parte do Parque Nacional da
Restinga de Jurubatiba, único Parque Nacional
em área totalmente de restinga, sendo uma das
mais conservadas do país (BOSCOLO, 2003).
2. Material e Métodos
O Município de Quissamã (22º05’S,
41º28’W) localiza-se na região norte do Estado
do Rio de Janeiro, possui em seu território o
maior ecossistema de restinga do estado, com
cerca de 50 mil hectares, onde se localiza o
Parque Nacional de Jurubatiba. Esse ambiente
abriga diversas comunidades vegetais distintas quanto à fisionomia e composição florística
(ZONEAMENTO AGROECOLÓGICO DA
RESTINGA, 1994).
posse das informações acerca das plantas utilizadas, acompanhamos os informantes aos locais de onde usualmente eles as obtêm, seja em
seus próprios quintais e ruas, seja na restinga.
Todo material foi devidamente herborizado e
depositado no Herbário do Museu Nacional do
Rio de Janeiro (R). Para a identificação do material, foi utilizado microscópio estereoscópico,
comparação com outros materiais de herbário,
envio de alguns espécimes para especialistas e
consulta à literatura especializada.
63
Uma das tarefas mais árduas dos trabalhos de Etnobotânica é encaixar as indicações
das plantas que os informantes (visão êmica)
indicam, nas categorias predeterminadas pelos
pesquisadores (visão ética). Essa tradução do
êmico ao ético se faz necessária para que as
respostas sejam uniformizadas para as análises subsequentes. Porém, perguntado para os
entrevistados, quais as plantas que eles utilizam e para que fim, as respostas mostram que,
para eles, a comida é também remédio. Não
fazem uma distinção formal do que é só para
comer ou só para se medicar, acreditam que
quando se alimentam, ao mesmo tempo estão
“fortalecendo e curando o organismo”.
Este conceito “alimento/medicamento”
é muito natural para os informantes e segue a
mesma filosofia do que atualmente a sociedade
chama de alimentos funcionais ou nutracêuticos. Ou seja, os alimentos ou bebidas que são
consumidos na alimentação cotidiana podem
trazer benefícios fisiológicos específicos, graças à presença de ingredientes fisiologicamente saudáveis (CÂNDIDO; CAMPOS, 2005).
No total, 39 espécies de plantas foram
encontradas, pertencentes a 23 famílias botânicas, sendo que Myrtaceae (5 espécies),
Cucurbitaceae (4 espécies) e Solanaceae (4
espécies) as mais representativas (Tabela 1).
Os frutos são a parte mais utilizada (26 indicações), seguida das folhas (18 indicações) e
cascas do tronco (6 indicações) (Tabela 1).
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
3. Resultados e Discussão
Cadernos UniFOA
De fevereiro de 2001 a janeiro de 2002
foram realizadas excursões mensais à referida localidade. Optou-se pela abordagem da
Observação Direta na qual o pesquisador tem
um grande contato com a comunidade, mas
sem um envolvimento total. Para a seleção
dos informantes, foram feitos contatos com os
moradores que demonstraram possuir conhecimento sobre os usos das plantas e, a partir desses, foram obtidos outros informantes, caracterizando a técnica da “bola de neve” (BAILEY,
1994). Foram contatados 10 informantes que,
além de sua ocupação profissional, agiam também como curandeiros e benzedores.
O primeiro instrumento a ser elaborado foi o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE). O processo de consentimento livre e esclarecido teve por objetivo
permitir que a pessoa que está sendo convidada a participar da pesquisa compreenda os procedimentos, riscos, desconfortos, benefícios
e direitos envolvidos, visando permitir uma
decisão autônoma. A obtenção de consentimento livre e esclarecido é um dever moral
do pesquisador, é a manifestação do respeito
às pessoas envolvidas no projeto (CLOTET,
1995). Esse termo documenta a autorização do
sujeito da pesquisa e permite que as informações básicas possam ser mantidas para leitura
posterior. Seus princípios estão resguardados pela Resolução do Conselho Nacional de
Saúde (CNS) nº 196/96, que atualmente regula
as pesquisas em questão.
Também foi confeccionado formulário com perguntas abertas e fechadas (REA;
PARKER, 2000) que trata dos dados pessoais de
cada informante e sobre as plantas informadas.
Depois foram realizadas entrevistas visando obter dados acerca das plantas por eles
indicadas como alimento e ao mesmo medicinal. Foram consideradas como alimentícias
aquelas plantas consumidas cruas ou cozidas
como, por exemplo, frutas in natura, bebidas,
infusões alcoólicas, condimentos, alimentos
para animais, dentre outros. E como plantas medicinais, aquelas capazes de promover
cura, bem estar e prevenção de doenças. De
64
Tabela 1- Plantas informadas tanto para alimento como para medicamento: Família e Nome científico, Nome Popular, Indicações, Parte vegetal utilizada.
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Família e nome
científico
Nome
popular
Indicações
Parte vegetal
utilizada
ANACARDIACEAE
Anacardium occidentale L.
R- 202068 (OHB 78)
caju
Diabete, dor de garganta, feridas, aftas, cólicas
intestinais, tosse, bronquite, fraqueza do organismo,
debilidade muscular.
Cascas do
tronco, folhas
e fruto.
Mangifera indica L.
R- 202069 (OHB 102)
manga
Feridas, tosse, bronquite, asma, cólicas, diarreia,
inflamações em geral.
Cascas do
tronco, folhas
e frutos.
Schinus terebinthifolius
Raddi
R- 202042 (OHB 90)
aroeira
Gripe com febre, bronquite, feridas, inflamação
no útero.
Cascas do
tronco e frutos
ANNONACEAE
Annona muricata L.
R- 202035 (OHB 45)
graviola
Diabete
Folhas e frutos
ARACEAE
Colocasia esculenta (L.)
Schott
(OHB 94)
inhame-branco
Reumatismo, moléstias da pele, convalescença,
fraqueza
Tubérculos
ARECACEAE
Cocos nucifera L.
R- 202072 (OHB 62)
coco
Raquitismo, vermes, prisão de ventre, anemia,
erisipelas, fraqueza, desnutrição.
Frutos
BRASSICACEAE
Sinapis nigra L.
R- 202059 (OHB103)
mostarda
Dores nas costas, dores nas articulações, pulmão
congestionado, inflamações localizadas.
Flores e folhas
BROMELIACEAE
Ananas comosus (L.) Merr.
(OHB 63)
abacaxi
Dor de garganta, vermes, inflamações em geral,
doenças da bexiga, reumatismo, restaura o
fluxo menstrual, tosse, problemas nos pulmões,
queimaduras, coceiras.
Frutos
CARICACEAE
Carica papaya L.
R- 202048 (OHB 60)
mamão
Bronquite, tosse, gripe, vermes, dermatoses,
prisão de ventre.
Flores, frutos,
látex e sementes.
CONVOLVULACEAE
Ipomoea batatas (L.) Poir.
R- 202050 (OHB 80)
batata-doce
Cicatrização, furúnculos
Folhas e tubérculos
CUCURBITACEAE
Cucumis anguria L.
R- 202002 (OHB 75)
maxixe
Hemorroidas, feridas, furúnculos.
Frutos
Cucumis sativus L.
R- 202003 (OHB 76)
pepino
Problemas na bexiga, rins, inflamações dos
olhos, sarna, coceira.
Casca do fruto
e frutos
Lagenaria vulgaris Ser.
R- 202010 (OHB 86)
abóbora
d`agua
Problemas no fígado e baço
Flores, frutos
e pecíolo.
Momordica charantia L.
R- 202070 (OHB 119)
melão-de-são-caetano
Febre, reumatismo
Folhas e frutos
LAMIACEAE
Ocimum gratissimum L.
R- 202062 (OHB 116)
alfavacão
Gripe, artrite, gases
Folhas
Ocimum micranthum
Willd.
R- 202001 (OHB 48)
alfavaca
Reumatismo, cólicas menstruais e intestinais,
ânsia de vômito, bronquite, tosse, expectorante
Folhas
Rosmarinus officinalis L.
R- 202017 (OHB 61)
alecrim
Dores de barriga, bronquite, reumatismo, cicatrizante
Folhas
LAURACEAE
Persea americana Mill.
R- 202083 (OHB 46)
abacate
Problema nos rins, diurético, restaurador do
fluxo menstrual, gases, prisão de ventre, reumatismo
Folhas e frutos
MALVACEAE
Hibiscus esculentum L.
R- 202071 (OHB 118)
quiabo
Furúnculos, puxar o pus de dentro das feridas
Folhas e frutos
Indicações
Parte vegetal
utilizada
MALPIGHIACEAE
Byrsonima sericea DC.
R- 202038 (OHB 125)
murici
Diarreia, diabete
Frutos e raiz
Malpighia glabra L.
R- 202057 (OHB 104)
acerola
Gripe
Frutos
MORACEAE
Artocarpus integrifolia L.
R- 202011 (OHB 92)
jaca
Diarreia
Folhas
Morus nigra L.
R- 201999 (OHB 98)
amora
Aftas, diarreia, dor de garganta, inflamações na
boca, diabete, problemas de menstruação e de
ovário.
Folhas e frutos
MUSACEAE
Musa paradisiaca L.
R- 202073 (OHB 44)
banana
Machucadura, queimaduras, hemorragias, hemorroidas, inflamações, feridas, verrugas, artrite,
úlceras no intestino, laxativo.
Cascas dos
frutos, frutos e
seiva
MYRTACEAE
Eugenia cauliflora O. Berg
(OHB 101)
jabuticaba
Asma, diarreia, inflamação da garganta.
Cascas do
tronco e frutos
Eugenia uniflora L.
R- 202034 (OHB 110)
pitanga
Gota, reumatismo, gripe.
Folhas e frutos
Psidium cattleianum
Sabine
R- 202018 (OHB 54)
araçá-da-praia
Doenças das vias urinárias, diarreia.
Brotos, cascas
do tronco e
frutos.
Psidium guajava L.
R- 202009 (OHB 95)
goiaba
Diarreia, dor de garganta, tosse.
Brotos, folhas
e frutos.
Syzygium cumini (L.)
Skeels
R- 202088 (OHB 42)
jamelão
Diabete, diarreia
Cascas do
tronco, folhas
e frutos.
OXALIDACEAE
Averrhoa carambola L.
R- 202032 (OHB 93)
carambola
Pressão alta, diabete, problemas nos rins, feridas
na pele
Folhas e frutos
PASSIFLORACEAE
Passiflora edulis Sims
R- 202079 (OHB 111)
maracujá
Dor de cabeça, nervoso, insônia, asma, diarreia,
vermes.
Folhas e frutos
POACEAE
Saccharum officinarum L.
R- 202008 (OHB 114)
cana-de-açúcar
Cansaço, anemia, cólicas, digestiva, aftas, dor no
fígado, prisão de ventre, rachaduras dos seios,
coceiras, feridas, infecções, catarro, bronquite.
Parte interna
dos colmos
Zea mays L.
(OHB 96)
milho
Diurético, inflamações da bexiga, rins, olhos.
Estigmas e
frutos
PUNICACEAE
Punica granatum L.
R- 202082 (OHB 89)
romã
Dor de garganta, vermes.
Cascas dos
frutos e frutos
SAPOTACEAE
Pouteria caimito (Ruiz &
Pav.) Radlk.
R- 202080 (OHB 79)
abiu
Tosse, bronquite, diarreia.
Folhas e frutos
SOLANACEAE
Capsicum annuum L.
R- 201995 (OHB 121)
pimentão
Hemorroidas, dor de estômago, prisão de ventre,
pneumonia.
Frutos
Lycopersicon esculentum
Mill.
R- 202046 (OHB 132)
tomate
Inflamações purulentas, gripe, tosse, rouquidão,
picadas de insetos, queimaduras, reumatismo.
Frutos
Solanum paniculatum L.
R- 202075 (OHB 135)
jurubeba
Problemas nos rins, doenças venéreas, diurético,
problemas no fígado, úlceras no estômago,
inflamações em geral.
Folhas e frutos
ZINGIBERACEAAE
Zingiber officinale Rosc.
R- 202076 (OHB 139)
gengibre
Digestivo, falta de apetite, cólicas, gases, tosse,
bronquite, resfriado, catarro, asma, rouquidão,
gripe.
Rizoma
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Nome
popular
Cadernos UniFOA
Família e nome
científico
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
66
Os resultados encontrados neste trabalho,
com relação às principais famílias botânicas e
aos órgãos das plantas mais utilizadas (folhas
e frutos) coincidem com diversas publicações
sobre plantas medicinais (VARGAS; RIOS,
1990; WAIZEL, 1990; STALCUP, 2000;
CARVALHO et al., 2001).
Os resultados revelam que existe uma
ambiguidade das utilizações para fins alimentícios e medicinais, mostrando a complexidade das categorias nativas. Apesar dos avanços
científicos, essas categorias, que fazem parte
das estruturas de crenças e representações da
população local, não desaparecem. Ou seja,
essas plantas não são estritamente medicinais
e nem alimentícias. Quando o pesquisador enquadra essas citações em categorias fixas, ele
opta por uma visão reducionista e acaba perdendo a essência das informações obtidas em
campo. Por exemplo, uma planta indicada para
se benzer uma determinada enfermidade, ela
será incluída na Categoria de Uso ritual ou medicinal, já que a finalidade dela é trazer cura e
bem estar? Ao mesmo tempo este pesquisador
encontra-se em um dilema, pois se não incluí-las em Categorias de Uso, não terá como
tratar estatisticamente os dados e nem como
compará-los com outros trabalhos. Neste momento, ainda persiste uma segunda dificuldade, porque não existem Categorias pré-fixadas,
dessa forma, cada um define suas próprias categorias, que nem sempre correspondem as definições de outros investigadores.
Na etnobotânica, a problemática das
Categorias de Uso é recorrente, porém, nunca
foi explicitada essa necessidade de se chegar
a um lugar comum. São necessários estudos
mais complexos sobre a classificação dessas
categorias e seus significados, visto que, não
há trabalhos científicos que proponham uma
solução para tal dificuldade. Esta pesquisa
exemplifica de forma prática como é obscura
a inserção das informações êmicas em categorias e atenta para diálogo maior entre as diversas disciplinas que formam o arcabouço da
etnobotânica como a biologia, antropologia,
ciências sociais, agronomia, dentre outras.
4. Referências Bibliográficas
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ethnobotany in a developing world. In:
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OLFIELD, M. L.; ALCORN, J. B.
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(Mestrado em Botânica). Museu
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medicina y homeopatia. Revista Cubana
de Plantas Medicinales, v. 13, n. 17, p.
34-41, 1990.
18. ZONEAMENTO AGROECOLÓGICO
DA RESTINGA: Contribuição ao plano
diretor de ocupação, Estudos do Meio
Biótico. Prefeitura Municipal de Quissamã,
Secretaria Municipal de Agricultura e
Meio Ambiente, Coletivo Interdisciplinar
de Consultores CIC, 1994.
Endereço para Correspondência:
Odara Horta Boscolo
[email protected]
Universidade Federal Fluminense (UFF)
Departamento de Biologia Geral - Setor Botânica
Outeiro de São João Batista s/n° - Niterói - RJ
CEP: 24020-150
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
11. Paulo: Editora Pioneira, 2000.
15. VARGAS, S. C.; RÍOS, P. J. Etnobotanica
medicinal de Quimixtlan, Puebla. Revista
Cubana de Plantas Medicinales, v. 22,
n. 8, p. 65-87, 1990.
Cadernos UniFOA
10. REA, L. M.; PARKER, R. A. Metodologia
de Pesquisa: do planejamento à
execução. São
69
Pseudocisto Antral: Prevalência na cidade de Volta Redonda, Rio de Janeiro, Brasil.
Antral pseudocyst: prevalence in the city of Volta Redonda, Rio de Janeiro, Brazil.
Sérgio Elias Vieira Cury1
Maria Dorotéa Pires Neves Cury2
Brunno dos Santos de Freitas Silva3
Omar Tinoco Franklin Molina4
Jimmy de Oliveira Araújo5
Luiz Roberto Manhães Jr6
Luciana Butini Oliveira7
Palavras-chave
Radiografias
Panorâmicas
Seios maxilares
Pseudocisto antral
Cisto mucoso do
seio maxilar
Poluição do ar
Siderurgia
ISSN
1809-9475
Artigo
Original
Original
Paper
Resumo
O objetivo deste foi o de avaliar, através da análise de radiografias panorâmicas, a ocorrência do pseudocisto antral na cidade de Volta Redonda, Rio
de Janeiro, associando condições geográficas e poluição do ar. Duas mil e
quatrocentas radiografias panorâmicas pertencentes ao arquivo do RADIOCENTRO - Centro Odontológico de Documentação Ortodôntica, localizado
na cidade de Volta Redonda, obtidas no período de janeiro a dezembro de
2008, foram analisadas em relação à presença de imagens radiográficas compatíveis com Pseudocisto Antral. Concluiu-se que a prevalência média encontrada (6,83%) está dentro dos índices relatados na literatura (variação de
1,4 e 9,6%), porém, quando estudadas as condições geográficas do município e poluição do ar, verificou-se que a incidência nos bairros localizados na
margem esquerda em relação ao Rio Paraíba do Sul (8,67% e 17,5%) esteve
acima da média relatada na literatura, indicando a participação da poluição
do ar na gênese do pseudocisto antral.
Recebido em
09/2012
Aprovado em
04/2013
Volta Redonda
Panoramic
radiography
maxillary sinus
antral pseudocyst
mucous cyst of the
maxillary sinus
Air pollution
Steel
Volta Redonda
1 DDS, PhD - Disciplina Patologia Bucal – Curso de Odontologia - UniFOA - Centro Universitário de Volta Redonda
2 MDS - Disciplina Odontologia Social – Curso de Odontologia - UniFOA - Centro Universitário de Volta Redonda
3 DDS, PhD - Disciplina Patologia Bucal – Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo
4 DDS, PhD - Disciplina de Disfunção Têmporo-mandibular – Faculdade de odontologia - UNIRG-TO
5 MDS - Disciplina de Disfunção Têmporo-mandibular – Faculdade de Odontologia – SLMandic
6 DDS, PhD – Disciplina de Radiologia e Imaginologia - Faculdade de Odontologia – SLMandic,
7 DDS, PhD – Disciplina de Radiologia e Imaginologia - Faculdade de Odontologia – SLMandic,
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Keywords
Cadernos UniFOA
Abstract
Our objective was to evaluate through analysis of panoramic radiographs,
the occurrence of antral pseudocyst in the city of Volta Redonda, involving
geographic and air pollution. Two thousand and four hundred panoramic
radiographs from the files of RADIOCENTRO - Dental Orthodontic
Documentation Center in Volta Redonda, Rio de Janeiro, and obtained from
January to December 2008, were analyzed for the presence of radiographic
images compatible with Antral pseudocyst. We concluded that the average
incidence found in the city of Volta Redonda (6,83%) is within the rates
reported in the literature (ranging from 1,4 to 9,6%), but when studied the
geographical conditions of the city and poluition, it was verified that the
incidence in the districts located on the left of the Paraíba do Sul river (8,67%
ande 17,5%), was above the average reported in the literature, indicating
the involvement of air pollution in the genesis of antral pseudocyst.
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
70
1. Introdução
Com o surgimento das áreas urbanas,
ocorreu um agravamento na qualidade do ar,
causando problemas na saúde populacional.
Dessa forma, houve uma maior preocupação
com esse tipo de problema, que não é simples
de ser tratado, por englobar diversos fatores:
desde a dispersão dos poluentes e composição
química dos mesmos até seu efeito na saúde
da população (YARA et al., 2006).
Dentre as alterações patológicas que acometem os seios maxilares, a entidade considerada a mais comum é o pseudocisto antral,
frequentemente diagnosticada em radiografias
panorâmicas como exames de rotina nos consultórios odontológicos. A patogenia do pseudocisto antral é incerta (WHITE, PHAROAH, 2000),
porém, sua etiologia tem possível relação com
quadros alérgicos diversos, e períodos de elevação da umidade relativa do ar (GONÇALVES;
SILVEIRA, 1993; MARQUES et al., 2006).
Volta Redonda é uma cidade localizada na macro região do Vale do Paraíba, ao sul
do Rio de Janeiro, onde situa-se a Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN), maior usina siderúrgica da América Latina. Por tratar-se de uma
cidade onde localiza-se uma grande usina, capaz
de lançar no ar local diversos tipos de poluentes
atmosféricos, apresentou-se a dúvida se a poluição produzida por uma usina siderúrgica participaria na gênese do pseudocisto antral. Sendo
a poluição atmosférica reconhecidamente um
fator de risco para a saúde (PEITTER; TOBAR,
1998), surgiu-nos a hipótese de que sim.
A não existência de trabalhos que associassem a poluição do ar e a gênese do pseudocisto nos motivou para a realização deste
estudo, que tem por objetivo avaliar, através
da análise de radiografias panorâmicas, a
ocorrência do pseudocisto antral na cidade de
Volta Redonda, associando condições geográficas e poluição do ar.
2. Revisão da Literatura
2.1. O município de Volta Redonda
Volta Redonda é um município brasileiro
situado na macrorregião do Vale do Paraíba dentro da mesorregião Sul Fluminense, no estado
do Rio de Janeiro. Também é conhecida como
a “Cidade do Aço”, localiza-se a 22º31’23” de
latitude sul e 44º06’15” de longitude oeste, a
uma altitude de 390 metros. Situada entre as
serras do Mar e da Mantiqueira, é cortada pelo
Rio Paraíba do Sul, que corre de Oeste para
Leste, sendo a principal fonte de abastecimento do município e também responsável pelo
seu nome, devido a um acidente geográfico no
seu curso (DIAS, 2005; WIKIPEDIA, 2009;
EPD - PMVR, 2008).
O clima é mesotérmico, com verões
quentes e chuvosos e invernos secos. A umidade relativa do ar é alta (77%), mesmo nos
meses de frio, quando varia entre 71% e 72%.
A temperatura média compensada é de 20°C,
a média mínima anual de 16,5°C e média máxima anual de 27,8°C. A precipitação média
anual é de 1.377,9 mm, sendo janeiro e fevereiro os meses com maior incidência de chuvas.
É comum, no inverno, o fenômeno da inversão térmica, causado pela camada de poluição
que permanece sobre a cidade, formando uma
barreira à penetração dos raios solares, diminuindo a insolação e impedindo a liberação do
calor e das novas cargas de poluentes lançados
a cada dia. Os ventos dominantes atingem a
região, predominantemente em sentido noroeste, porém, a localização do município, em
fundo de vale, faz com que na maior parte do
tempo haja calmaria. Isso dificulta a dispersão
dos gases e partículas, lançadas principalmente pela usina siderúrgica, e provoca alterações
no microclima (WIKIPEDIA, 2009; IPPUPMVR, 2009).
2.2. Poluição do ar
O ar é um recurso natural, sem fronteiras definidas, e que, juntamente com a água
e o solo, é responsável pela sustentabilidade
da vida em nosso planeta. Por isso, ao se classificar a atmosfera como uma parte do ambiente com a qual o organismo humano está
permanentemente em contato, entende-se que
muitas das reações ocorridas nesse mesmo organismo podem ser explicadas como um tipo
de resposta às mudanças observadas nos estados físico, químico e biológico da atmosfera
(JENDRITZKY, 2008).
A poluição atmosférica pode ser definida, de maneira simplificada, como a presença
ciliar, permitindo uma maior penetração e
acesso de partículas e alérgenos às células do
sistema imune. Dentre os efeitos da poluição
sobre e trato respiratório incluem-se: diminuição da atividade ciliar; produção de dano
epitelial e aumento da permeabilidade da mucosa brônquica; diminuição da produção dos
antioxidantes gerados naturalmente; indução
da secreção de citocinas proinflamatórias e
a expressão de moléculas de adesão, que orquestram, por sua vez, as funções de células
inflamatórias (CROCE et al., 1998).
71
A siderurgia, sendo uma indústria de base,
é tida como uma grande causadora de impactos ambientais, especialmente no que se refere
à poluição do ar, devido à natureza dos seus
processos de produção do aço. Na indústria siderúrgica integrada a coque, dentre os poluentes gerados, destaca-se o material particulado,
proveniente principalmente das operações de
estocagem, manuseio e transporte de matérias-primas, bem como da queima de combustíveis
utilizados nas várias etapas do processo produtivo (MELO; MITKIEWICZ, 2002).
Segundo Cançado et al. (2006), o material particulado é uma mistura de partículas
líquidas e sólidas em suspensão no ar. Sua
composição e tamanho dependem das fontes
de emissão. As partículas podem ser divididas em dois grupos: partículas grandes (coarse mode), com diâmetro entre 2,5 e 30 mm,
emitidas através de combustões descontroladas, dispersão mecânica do solo ou outros
materiais da crosta terrestre (polens, esporos
e materiais biológicos também se encontram
nesta faixa de tamanho); e partículas pequenas
(fine mode), com diâmetro menor que 2,5 mm,
emitidas pela combustão de fontes móveis e
estacionárias, como automóveis, incineradores e termoelétricas, que, por serem de menor
tamanho e mais ácidas, podem atingir as porções mais inferiores do trato respiratório.
A Companhia Siderúrgica Nacional
(CSN) é a maior indústria siderúrgica do
Brasil e da América Latina e uma das maiores do mundo (WIKIPEDIA, 2009). Desde a
sua fundação, a cidade de Volta Redonda vem
enfrentando inúmeros problemas ambientais,
onde destaca-se a poluição do ar por gases e
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
2.3. Siderurgia e a poluição do ar
Cadernos UniFOA
no ar de matérias ou formas de energias que
impliquem em risco, dano ou moléstia grave
para as pessoas e bens de qualquer natureza
(BALLESTER; TENÍAS; PÉREZ-HOYOS,
1999; HASEGAWA, 2001).
O problema da poluição atmosférica vem
sendo trabalhado, no campo da saúde pública,
com diversos enfoques, em numerosos estudos
sobre os efeitos da poluição do ar na saúde. Nos
subcampos da saúde ambiental e especificamente da toxicologia, estudos apontam que os
efeitos da poluição do ar se manifestam em geral sob forma de doenças crônicas, prejudicando a qualidade de vida das populações afetadas
(HOFMEISTER, 1991; HOFMEISTER et al.,
1992; DUCHIADE, 1992).
A relação entre danos à saúde e poluição
atmosférica foi estabelecida a partir de episódios agudos de contaminação do ar, entre eles
se destacando o excesso de mortes ocorridas
em Londres nos anos de 1948 e 1952, onde
foram descritos incrementos de aproximadamente 300 e 4.000 mortes, respectivamente
(FREITAS et al., 2002). No Brasil, o primeiro
episódio agudo de contaminação do ar ocorreu
na cidade de São Paulo em 1972, e foi provocado por emissões de veículos e indústrias, em
fenômeno de inversão térmica, com ausência
de ventos e de chuvas. A cidade ficou coberta
por uma densa névoa (VIGIAR, 2006).
A dispersão dos poluentes atmosféricos
em uma determinada região depende das condições meteorológicas e topográficas do local,
influenciando na quantidade de poluentes a
qual a população desta região estará sujeita,
além da diferença na quantidade de fontes poluidoras e dos tipos de poluentes mais abundantes em cada região (YARA et al., 2006).
A poluição do ar causa uma resposta inflamatória no aparelho respiratório, induzida
pela ação de substâncias oxidantes, as quais
acarretam aumento da produção da acidez, da
viscosidade e da consistência do muco produzido pelas vias aéreas, levando, consequentemente, à diminuição da resposta e/ou eficácia
do sistema mucociliar (GONÇALVES et al.,
2005; CANÇADO, 2006).
As modificações ou alterações do epitélio respiratório têm repercussões diretas sobre
o mecanismo funcional respiratório. Estudos
têm demonstrado que a poluição induz um
dano epitelial e alterações no mecanismo
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Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
72
partículas emitidas no processo de produção
do aço (PEITER; TOBAR, 1998).
Gioda et al. (2004) realizaram um importante estudo para avaliar a qualidade do
ar em Volta Redonda, distribuindo filtros de
ar em cinco estações localizadas em lugares
estratégicos no perímetro do município, realizando duas avaliações em períodos diferentes.
Segundo os autores, o total de partículas supensas (TSP) em Volta Redonda, apresentou
níveis médios que não excederam os padrões
propostos pelo CONAMA (240 mg/m3) e que
os níveis de Partículas inaladas (PM10) ficaram abaixo do limite diário estabelecido pelo
mesmo órgão (150 mg/m3), sendo as concentrações encontradas desses poluentes, semelhantes às de outras cidades. Destaca-se no
estudo, porém, a informação de que a grande
maioria dos metais monitorados estava em altas concentrações nas estações localizadas no
bairro Belmonte e na FEEMA, sendo as mais
altas as de ferro (Fe), cobre (Cu), zinco (Zn) e
manganês (Mn), metais esses que estão entre
os mais utilizados pelas indústrias locais, em
especial na CSN, e que estão correlacionados
com doença pulmonar.
O estudo realizado por Gioda et al.
(2004) avaliou também a concentração de
outros poluentes atmosféricos na cidade.
Benzeno, Tolueno e Xileno (B, T e X), principalmente B e T, apresentaram altas concentrações na primeira avaliação, sendo reduzidas
na segunda, mas os valores de B foram ainda
elevados. Tolueno e xileno não ultrapassaram o limite sugerido pela WHO. O benzeno
é tóxico em qualquer concentração, portanto,
pode ser considerado o maior poluente no ar
em Volta Redonda. Os mais altos níveis de B,
T e X foram obtidos nas estações Belmonte e
FEEMA, em especial quando os ventos sopravam mais fortes em direção a essas estações,
principalmente quando o coque era realizado
pela CSN, apontando-a como sua principal
fonte de emissão. Concentrações elevadas de
benzeno podem ter influenciando diretamente a saúde da população em Volta Redonda,
fato confirmado pelo elevado índice de benzenismo (688 casos registrados entre 1984 e
1999). Concentrações de Dióxido de enxofre
(SO2) foram abaixo da média de acordo com
CONAMA (365 mg/m3), mas excedeu os limites estabelecidos pela WHO na primeira
amostra. Na segunda, os níveis foram reduzidos, porém ainda são altos para vegetação.
Segundo os autores, O manuseio de minérios de ferro e da queima de carvão vegetal
na CSN, associados à direção dos ventos na
região, possivelmente são responsáveis pela
nuvem de poluição que atingiram as estações
Belmonte e Retiro.
2.4. Radiografia panorâmica
A radiografia panorâmica constitui um
método radiográfico prático e atual, que fornece uma visão global do complexo maxilomandibular, de toda região dento-alveolar e
estruturas adjacentes. É um procedimento que
se realiza em um único filme radiográfico, em
curto espaço de tempo e com menor exposição
biológica à radiação para o paciente, sendo de
muito valor para uma interpretação precoce ou
exame de triagem (TIEPO et al., 2002).
Como técnica radiográfica, as panorâmicas apresentam a vantagem de visualização
de todo o complexo maxilomandibular, articulação temporomandibular e devido a sua
abrangência, possibilita avaliar as estruturas
circunvizinhas, como os seios maxilares ou
antrum, cavidades aéreas revestidas de mucosa respiratória, em forma de pirâmide invertida (COSTA et al., 2007).
Segundo Ohba et al. (1991), a radiografia
panorâmica permite a visualização do assoalho do seio maxilar devido ao tangencionamento do feixe de Raios X à parede posterior.
Os autores explicaram que isso permite identificar com clareza a presença do cisto mucoso,
principalmente, em sua parede inferior.
Poyton e Pharoah (1992) referiram-se ao
cisto mucoso como cisto de retenção da mucosa do seio, e que são observados em maior
parte dos casos e em tomadas intrabucais e radiografias panorâmicas.
Em relação aos seios da face, uma análise, realizada através da radiografia panorâmica, possibilita a visualização das seguintes
regiões antrais: inferior, posterior e médio superior (VAN DIS; MILLES, 1994).
Segundo Costa et al. (2007), as doenças
inflamatórias não odontogênicas e as lesões
antrais idiopáticas, quando localizadas no assoalho do seio maxilar, são bem definidas nas
radiografias panorâmicas.
Segundo Dood e Jing (1978), a vasta maioria dos cistos mucosos ou cistos de retenção são
pequenos, não preenchem completamente a cavidade sinusal, não causam deformidade nas paredes do seio maxilar, rompem-se espontaneamente e raramente apresentam sintomatologia.
Radiograficamente são homogêneos, cupulares,
bem definidos, frequentemente situados no assoalho do seio maxilar, geralmente associados à
mucosa do seio, e não mudam de posição.
Segundo Milles et al. (1991), o acúmulo de
fluidos abaixo da mucosa do seio maxilar pode
causar uma lesão elevada e em forma de cúpula.
Lesões com essas características são chamadas
de pseudocisto antral (cisto mucoso, cisto seroso ou cisto não secretor). O cisto de retenção
mucoso ou cisto de retenção antral é o resultado
do bloqueio parcial acarretando, consequentemente, a dilatação do ducto de uma glândula, de
causa infecciosa, odontogênica ou alérgica. A
mucocele é causada pelo bloqueio do óstio e por
uma expansão destrutiva, limitada por epitélio,
preenchido por uma secreção mucoide. O termo
pseudocisto antral é apropriado para lesões que
não tenham forro epitelial.
Freitas (1992) conferiu que o cisto de retenção do seio maxilar tem sido referido com
os nomes de cisto mucoso e mucocele do seio
maxilar. Essas lesões são usualmente descobertas em exames radiográficos de rotina, principalmente, com o advento das radiografias
pantomográficas. Esses cistos aparecem como
radiopacidades esféricas, ovoides, em forma
de cúpula, com limites uniformes, contrastando
com a imagem francamente radiolúcida do conteúdo aéreo da cavidade sinusal, em radiografias
das regiões de pré-molares e molares da maxila.
De acordo com Bohay e Gordon (1997),
os cistos de retenção mucosos dos maxilares
ocorrem em todas as idades, ambos os sexos
podem variar de tamanho, raramente podem
completar todo o seio maxilar e, nesse caso,
é impossível distingui-lo de uma sinusite.
Segundo os autores, no diagnóstico diferencial
devem ser considerados os pólipos antrais, as
mucoceles do seio e os cistos odontogênicos,
sendo a biópsia raramente necessária para estabelecer o diagnóstico.
73
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Sicher e Du Brull (1977) descreveram os
seios paranasais como cavidades pneumáticas
localizadas na parte craniana e facial, que são
revestidas por membrana mucosa, comunicando-se direta ou indiretamente com o aparelho
respiratório. O seio maxilar é a cavidade mais
ampla dentre os seios paranasais, ocupando
todo o corpo da maxila.
Figun e Garrino (1986) descreveram o
seio maxilar como uma ampla cavidade escavada no corpo da maxila, consequentemente,
tem comunicação com a cavidade nasal em nível de meato médio, através do óstio sinusal.
A parede superior corresponde ao assoalho de
órbita, a parede anterior é delgada e utilizada
para abordagens cirúrgicas, a parede posterior
se relaciona com a tuberosidade do maxilar e o
assoalho do seio tem relação com as raízes dos
pré-molares e molares superiores.
Os seios paranasais são cavidades pneumáticas localizados na parte craniana e facial,
sendo os mesmos revestidos por membrana
mucosa, comunicando-se direta ou indiretamente com o aparelho respiratório. Dos seios
paranasais, a cavidade mais ampla é o seio
maxilar, ocupando todo o corpo da maxila
(GONÇALVES; SILVEIRA, 1993)
Madeira (2003) descreveu que o seio maxilar é o maior de todos os seios paranasais, o
primeiro a se desenvolver, ficando entre as paredes anterior (voltada para a face), posterior
(para a fossa infratemporal), medial (para a cavidade nasal), superior ou teto (para a órbita)
e inferior ou soalho (para o processo alveolar).
Mais precisamente, o seio maxilar tem a
forma piramidal, com sua base na parede nasosinusal e o ápice na raiz do zigoma. A parede superior situa-se sob a órbita e é constituída
pela lâmina orbital da maxila. Seu assoalho é
formado pelo processo alveolar da maxila. A
parede posterior consiste de uma lâmina fina
de osso, separando a cavidade da fossa infratemporal. Medialmente, a parede nasal separa
o seio da cavidade nasal. A parede ântero-lateral ou fossa canina representa a parte facial
da maxila. A cavidade nasal contém a saída do
seio, o óstium, que se situa logo abaixo do teto
do antrum (TIEPO, 2004; COSTA 2007).
2.6. Pseudo Cisto Antral
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2.5. Seios maxilares
74
O cisto mucoso do seio maxilar é uma lesão de relevante importância, por ser a entidade
patológica que mais atinge o seio maxilar. São
achados comuns nas radiografias panorâmicas,
periapicais e nas incidências para seios maxilares; são citados na literatura mundial por diversas terminologias, e muitos autores os consideram como uma lesão benigna situada nos
seios maxilares (BULGARELLI et al., 2002;
MANHÃES JR. et al., 2004; PONTES, 2006).
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2.7. Características anátomopatológicas
Pontes em 2006 realizou um estudo histológico onde mostrou que a grande maioria dos
cistos mucosos é composta por falsos cistos, a
luz não é forrada por epitélio e não apresenta
elementos glandulares associados a estes cistos. Após explorações cirúrgicas, clinicamente
foram observadas massas redondas, dilatadas,
translúcidas, azuladas ou amareladas, com
paredes finas que se rompem com facilidade
saindo um líquido aquoso, ou mucoide. O autor
ainda relatou que os cistos mucosos devem ser
diferenciados de outras lesões de tecidos moles
do seio maxilar como pólipos, infecções dentárias sinusites, mucoceles de seio maxilar e principalmente tumores malignos.
Neville et al. (2009) diferenciaram os
pseudocistos antrais, cistos de retenção e mucoceles como lesões distintas. O pseudocisto antral é o acúmulo de exudato inflamatório (soro
não mucina) sob a mucosa do seio maxilar
causando uma elevação séssil, circundada por
tecido conjuntivo sendo o revestimento epitelial do seio superior ao fluido; as mucoceles são
acúmulos de mucina completamente coberta
por epitélio ocorrendo a partir de uma cirurgia
no seio maxilar (cisto cirúrgico ciliado) ou a
obstrução do óstio bloqueando a drenagem, aumentando em tamanho e a pressão intraluminal
aumenta podendo distender e desgastar o osso.
Os cistos de retenção aparecem a partir de um
bloqueio parcial das glândulas seromucosas ou
invaginação do epitélio respiratório. O pseudocisto do seio maxilar e o cisto de retenção não
requerem tratamento, somente uma avaliação
dos dentes adjacentes; as mucoceles devem ser
removidas cirurgicamente.
2.8. Características radiográficas
Segundo Wood e Goaz (1983), radiograficamente são descritos como uma área radiopaca, homogênea, curva, de forma esférica, ovoide, ou em cúpula; contorno regular uniforme
de base de inserção estreita ou larga, única ou
bilateral, encontrados em todas as idades e, segundo o sexo, varia de estudo para estudo.
Coleman e Nelson (1993) relataram que
radiograficamente caracteriza-se por um aumento radiopaco homogêneo, em forma de
cúpula, bordas bem delineadas, curvas, de
base localizada ao longo da parede inferior ou
posterior dos seios maxilares; não se indica
tratamento algum.
De acordo com Langlais et al. (1995), os
cistos de retenção mucoso dos seios maxilares, em sua maioria, são assintomáticos, não
destroem o osso, permanecem estáticos por
anos ou podem romper e desaparecer completamente. Radiograficamente são radiopacos,
cupulares ou semicirculares situados geralmente no assoalho do seio maxilar.
Em estudo realizado no ano de 2003,
Whaites descreveu o cisto mucoso de retenção
como achado acidental, opacidade bem definida, circular, em forma de cúpula, no interior
do seio maxilar, desde diminuta até um preenchimento completo do seio; normalmente não
há alteração do contorno sinusal, ocasionalmente é bilateral e a causa é desconhecida.
A imagem radiográfica do cisto mucoso é
característica, sendo discretamente radiopaca,
bem definida, com bordos arredondados, lisos,
cupulares, nítidos, de base larga, únicos, homogêneos, geralmente situados no assoalho do
seio maxilar, uni ou bilateral, sem deformar as
corticais sinusais, aparecendo com boa nitidez
nas radiografias panorâmicas (PONTES, 2006).
Marques et al. (2006) relataram que o
pseudo cisto antral apresenta-se como área
homogeneamente radiopaca, com limites bem
definidos, em forma de cúpula ou esférica, de
dimensão variável e sem cortical óssea circunscrevendo-a, sendo sua presença mais evidente devido ao comprometimento unilateral,
na maioria dos casos.
Allard et al. (1981) chegaram à conclusão de que a patogênese do cisto mucoso é
obscura e de que a incidência dessas lesões foi
de 1,4 a 9,6%. Afirmaram ainda que o cisto
mucoso é mais bem visualizado nas radiografias panorâmicas, sendo descrito como uma
lesão ovoide, redonda ou em forma de cúpula.
Wood e Goaz (1983) constataram que
os cistos mucosos, em sua maioria, são falsos
cistos que ocorrem predominantemente no assoalho do seio maxilar, por vezes na parede
lateral, podem regredir espontaneamente, são
lesões comuns e ocorrem entre 2% e 9,6% na
população geral.
Ruprecht et al. (1986) revisaram 1685
radiografias panorâmicas, dentre as quais 44
apresentaram um ou mais pseudocistos antrais, totalizando 2,6% da amostra estudada.
Gonçalves e Silveira (1993) realizaram
um estudo onde foram analisados 3.180 laudos de radiografias panoramicas, efetuadas
no período compreendido entre agosto de
I988 a fevereiro de 1992, pertencentes a pacientes atendidos por um Serviço Privado de
Documentação Odontológica da Cidade do
Recife - PE. Verificaram 143 imagens compatives com cistos mucosos em 139 pacientes,
perfazendo 4,4 % da amostra. Foi observado
predileção pelo sexo masculino, não havendo diferença estatisticamente significante em
relação ao lado comprometido e faixa etária,
bem como, não foi possível estabelecer a inter-relação de condições odontogênicas com o
desenvolvimento dessa alteração. Ralatam ser
possível que a elevação da umidade relativa
do ar tenha contribuido para o aparecimento
destes cistos. Concluiram citando que nenhu-
75
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
2.9. Incidência
ma conduta terapêutica foi instituída, visto
que todos os pacientes eram assintomáticos,
recomendando-se acompanhamento radiográfico periódico.
Pontes em 2006 realizou um estudo no
qual foram observadas 600 radiografias panorâmicas, sendo 270 pertencentes à pacientes
do gênero masculino (45%) e 330 pacientes do
sexo feminino (55%). Relatou que foram observados 30 pacientes acometidos com cistos
mucosos, sendo 12 do sexo masculino e 18 do
gênero feminino, isto é, 5% da amostra estudada. A faixa etária estudada foi diversificada,
havendo pacientes com treze anos de idade até
setenta anos na maior idade pesquisada. O cisto mucoso no seio maxilar do lado esquerdo
foi observado em 21 pacientes (70%), no lado
direito foram analisados 09 casos (30%), ao
passo que bilateralmente nenhum paciente foi
acometido por esta lesão.
Costa em 2007 realizou uma seleção
aleatória de 252 radiografias panorâmicas
realizadas para o tratamento odontológico de
rotina, em um total de 1980 exames panorâmicos dos arquivos digitais do ano de 2003, do
centro de diagnóstico por imagem, CEDRUL,
na cidade de João Pessoa – PB, perfazendo um
total de 12,73% da população em questão. A
idade dos pacientes variou entre 4 e 80 anos,
divididos por faixa etária, determinando as diferentes fases da vida humana: 0 a 11 anos (infância), 12 a 20 anos (adolescência), 21 a 39
anos (primeira fase da vida adulta) e acima de
60 anos (terceira idade). Os índices de prevalência para o lado direito foram de 2,38%, para
o lado esquerdo foi de 1,98%. No gênero feminino, foi de 0,79%; para o gênero masculino foi de 3,57%. A prevalência dessa alteração
ocorreu apenas nos indivíduos das faixas etárias correspondentes à infância (0 a 11 anos),
à adolescência (12 a 20 anos) e à primeira fase
adulta (21 a 39 anos).
Com o objetivo de analisar a prevalência
de pseudocistos antrais, Rodrigues et al. (2009)
analisaram 6293 radiografias panorâmicas no
período de novembro de 2002 a maio de 2003
na cidade de Goiânia – GO, encontrando como
resultado 201 casos (3,19%). Acrescentaram
que não houve correlação significante com a
incidência da lesão e a umidade relativa do ar
ou temperatura.
Cadernos UniFOA
As características radiográficas do cisto
mucoso são fáceis de serem observadas, principalmente nas tomadas panorâmicas, e são de
extrema importância para que os profissionais
dentistas possam distingui-la de outras alterações que ocorrem nesta região anatômica. Em
sua maioria, os cistos mucosos se situam no
assoalho e por vezes na parede lateral do seio
maxilar, e os pacientes acometidos por esta
lesão não apresentam sintomatologia, sendo
descobertos em exames radiográficos de rotina
(PONTES, 2006; RAMESH; PABLA, 2008).
76
3. Material e Método
Duas mil e quatrocentas radiografias
panorâmicas, obtidas no período de janeiro a
dezembro de 2008, pertencentes ao arquivo do
RADIOCENTRO - Centro Odontológico de
Documentação Ortodôntica localizado na cidade de Volta Redonda, Rio de Janeiro, foram
analisadas em relação à presença de imagens
radiográficas compatíveis com Pseudocisto
Antral (figuras 1 a 3).
Figura 1 – Radiografia Panorâmica - imagem compatível com Pseudocisto antral lado direito.
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Imagem gentilmente cedida pela Drª Maria Dorotéa Cury
Figura 2 – Radiografia Panorâmica: imagem compatível com Pseudocisto antral lado esquerdo.
Imagem gentilmente cedida pela Drª Maria Dorotéa Cury
Figura 3 – Radiografia Panorâmica: imagem compatível com Pseudocisto antral ambos os lados
Imagem gentilmente cedida pela Drª Maria Dorotéa Cury
O aparelho utilizado para a realização dos
exames foi um modelo Panoura Ultra (Yoshida
– Japão). Os filmes e soluções processadoras
foram da marca Kodak, e para o processamento
foi utilizada a processadora para filmes odontológicos Revell (Revell – Brasil), no intuito
de padronizar a qualidade das imagens radiográficas. As radiografias foram examinadas em
negatoscópio com tela composta por diodos
emissores de luz branca (LEDs) modelo Driller
(VK Driller – Brasil), e com o auxílio de uma
lupa com cabo, 60 mm de diâmetro, aumento de 2x, modelo LP-60 (Western – Brasil). A
Cidade de Volta Redonda foi dividida em bairros, de acordo com a localização geográfica
dos mesmos, localizados na margem direita, e
bairros de localizados na margem esquerda em
relação ao Rio Paraíba do Sul, sendo demarcada área onde se encontrava a maior concentração de poluição (figura 8).
77
Figura 8 – Divisão geográfica da cidade de Volta Redonda
minhado ao Comitê de Ética em Pesquisa
do UniFOA - Centro Universitário de Volta
Redonda (Processo nº 199/09, Protocolo nº
067740 de 26/10/2009).
Carta de solicitação para autorização da
realização da pesquisa, juntamente com cópia
do Protocolo do COEP-UniFOA, foi enviada à
empresa RADIOCENTRO, obtendo autorização em 02/11/2009.
4. Resultados
Do total de 2400 radiografias panorâmicas
estudadas, 6,83% (n=164) apresentaram imagens com características de pseudocisto antral.
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Os dados de prontuário como idade,
sexo, lado afetado e alteração patológica, no
quadrante homólogo, também foram analisados, associados à localização geográfica da
residência de cada indivíduo pesquisado.
Após serem registrados, os dados obtidos
foram transportados para um banco de dados,
com intuito único de facilitar o processo de
análise e interpretação. Para a organização dos
mesmos, foi utilizado o programa Microsoft
Excel versão 2010. Toda a análise foi realizada
através de cálculo numérico e percentual. Os
dados foram apresentados em tabelas.
Para avaliação dos critérios éticos e
atendimento às recomendações da Resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde
(BRASIL, 1997), um Protocolo foi enca-
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(Adaptado de Peiter e Tobar, 1998).
78
4.1. Gênero
Dos 164 casos encontrados, houve predileção por indivíduos do genero masculino, totalizando
57,9% dos casos (n=95), quando comparados ao gênero feminino com 42,1% (n=69), numa relação
de 1,37X1 (tabela 1).
Tabela 1 - Gênero
GÊNERO
n
%
MASCULINO
95
57,9
FEMININO
69
42,1
TOTAL
164
100
4.2. Idade
A idade variou de 8 a 60 anos, com média de 25 anos, apresentando uma maior concentração
na faixa etária entre 10 e 40 anos (tabela 2).
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Tabela 2 - Idade
IDADE
n
%
1 a 10
5
3,04
10 a 20
60
36,58
20 a 30
52
31,7
30 a 40
30
18,29
40 a 50
9
5,48
50 a 60
8
4,88
TOTAL
164
100
4.3. Lado afetado
O lado mais afetado foi o direito com 54,88% (n=90) em relação ao esquerdo com 34,14%
(n=56). A imagem compatível com o pseudocisto localizada em ambos os lados foi encontrada em
10,98% dos casos (n=18) (tabela 3).
Tabela 3 – Lado afetado
LADO
n
%
DIREITO
90
54,88
ESQUERDO
56
34,14
AMBOS
18
10,98
4.4. Alteração patológica no quadrante homólogo
79
Mais da metade dos casos (51,83%) não apresentou alteração associada no quadrante afetado (n=85). Dentre as alterações patológicas observadas, a ausência dentária foi a mais encontrada
(n=43), totalizando 26,22% dos casos (tabela 4).
Tabela 4 - Alteração patológica no quadrante homólogo
ALTERAÇÃO ASSOCIADA
n
%
LESÃO APICAL
4
2,44
LESÃO PERIODONTAL
12
7,31
DENTE INCLUSO
20
12,19
DENTE AUSENTE
43
26,22
S/ ALTERAÇÃO
85
51,83
TOTAL
164
100
indivíduos residentes nessa região, sendo a
estimativa da proporção média encontrada p
= 0.086, e desvio padrão s = 0.086. A área
de maior concentração de poluentes apresentou alto índice de incidência (17,5%) quando
analisada a relação entre o número de radiografias estudas (n=440) e os casos encontrados (n=77), sendo a estimativa da proporção
média encontrada p = 0.175, e desvio padrão s
= 0.418 . (tabela 5).
Tabela 5 - Relação casos x radiografias estudadas x distribuição geográfica da poluição
POLUIÇÃO/REGIÃO
nº radiografias
nº casos
%
POUCO ELEVADA
1764 (73,5%)
70
3,96
ELEVADA
196 (8,16%)
17
8,67
MUITO ELEVADA
440 (18,34%)
77
17,50
TOTAL
2400 (100%)
164
6,83
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A maioria das radiografias estudas pertenceram a área de poluição pouco elevada (n=
1764) correspondendo a 73,5% da amostra.
Nessa região, foram encontrados 70 casos de
pseudocisto antral, correspondendo à 3,96%,
sendo a estimativa da proporção média encontrada p = 0.039, e desvio padrão s = 0.197 .
Na área de concentração de poluentes elevada,
foram encontrados 17 casos, correspondendo
à 8,67% das 196 radiografias pertencentes a
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4.5. Relação casos x radiografias estudadas x poluição
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80
5. Discussão
A dispersão dos poluentes e seu impacto na saúde ainda parecem-nos um assunto
complexo, pois uma quantidade de poluente
as quais as pessoas estão expostas é diferente
para cada uma delas, dependendo de sua faixa
etária, do seu estado imunológico e herança
familiar, tornando-as mais ou menos sensíveis
à poluição do ar. A quantidade de poluição a
qual as pessoas estão sujeitas varia significativamente conforme o local onde elas trabalham
e moram, e a frequência com que mudam de
residência ou cidade, fatores esses que influenciam na quantidade e qualidade do ar a
qual cada um está sujeito (YARA et al., 2006).
A maioria dos trabalhos sobre os efeitos
dos poluentes atmosféricos na saúde tem sido
realizada nos países mais desenvolvidos, localizados, principalmente, no hemisfério norte.
De um modo geral, países situados nessas regiões apresentam características meteorológicas, composição dos poluentes e perfis socioeconômicos bastante distintos das demais
regiões do planeta, criando dúvidas quando
seus resultados são aplicados em outros locais,
como no Brasil (comentário pessoal).
Diversos fatores podem estar associados
aos distúrbios respiratórios, destacando-se, dentre esses, a qualidade do ar. Sabe-se que a poluição atmosférica pode trazer danos manifestados
de diferentes formas. A exposição total diária
de um indivíduo aos poluentes atmosféricos é a
soma dos contatos com os poluentes ao longo de
diversas fontes durante todo o dia. Sendo Volta
Redonda considerada uma cidade com áreas de
concentração de poluentes, onde a qualidade do
ar está diretamente relacionada à indústria siderúrgica, é compreensível a ocorrência de doenças associadas ao trato respiratório, dentre elas,
alterações localizadas nos seios da face, responsáveis pelo aquecimento e filtragem do ar, promovendo importante barreira imunológica para
as vias respiratórias (Comentário pessoal).
A radiografia panorâmica é uma radiografia que permite ao examinador observar grande
parte das estruturas que compõem o complexo
maxilomandibular, com o conforto de uma
única exposição radiográfica. É utilizada em
diversas áreas da prática odontológica, pois,
além de possibilitar uma cobertura de todos os
dentes das arcadas e avaliação do posiciona-
mento dos terceiros molares, apresenta visão
panorâmica de lesões patológicas e alterações
ósseas de desenvolvimento, abrangendo ainda
as articulações têmporomandibulares e fossas
nasais. É utilizada para diagnóstico de fraturas
ósseas, e, frequentemente, para verificação do
desenvolvimento e crescimento dentário e ósseo em ortodontia e odontopediatria (OHBA et
al., 1991; VAN DIS; MILLES, 1994; TIEPO
et al., 2002; COSTA et al., 2007).
Com o advento das radiografias panorâmicas, o número de casos descobertos de pseudocistos antrais aumentou consideravelmente,
em razão dessa tomada ser amplamente utilizada para outros fins, sendo o pseudocisto
diagnosticado como achado radiográfico, pelo
falo do paciente mostrar-se assintomático, não
despertando ao profissional atenção para essa
área. Em relação ao nosso estudo, as imagens
radiográficas compatíveis com pseudocisto antral encontradas foram semelhantes a todas as
imagens descritas na literatura para a lesão, onde
foram observadas estruturas cupulares, homogêneas, bem definidas, moderadamente radiopacas
em nítido contraste com a radiolucidez do seio
maxilar, e situadas em seu assoalho, uni ou bilaterais (WOOD; GOAZ, 1983; COLEMAN;
NELSON, 1993; LANGLAIS et al., 1995;
WHAITES, 2003; PONTES, 2006; MARQUES
et al., 2006; RAMESH; PABLA, 2008).
A radiografia panorâmica, mesmo não
sendo a técnica de eleição para o diagnóstico
de alterações nos seios maxilares, nos pareceu
satisfatória para a execução do nosso trabalho.
Sendo o pseudocisto antral um achado radiográfico, a técnica panorâmica deve ser valorizada, devido sua grande utilização em tratamentos de rotina.
Neste estudo, não foi observada discrepância na ocorrência do pseudocisto antral em
relação ao gênero, com pequena predileção
pelo masculino, o que está de acordo com os
estudos de Gonçalves e Silveira (1993) realizado na cidade de Recife, e Costa (2007), realizado na cidade de João Pessoa, diferente, porém, do estudo realizado por Pontes, em 2006,
no qual o autor encontrou maior incidência em
pacientes do gênero feminino. Quanto à idade,
notou-se maior prevalência entre os adolescentes e adultos jovens, diminuindo após os
40 anos, resultado semelhante encontrado no
estudo Costa (2007). Esses dados não refletem
a prevalência do pseudocisto antral na cidade,
principalmente, impedindo a liberação do calor e das novas cargas de poluentes lançados
no ar a cada dia (IPPU, 2009).
Dentre os poluentes atmosféricos relatados
no estudo de Gouda et al. (2004), aparecem os
metais ferro, cobre, zinco e manganês, que apresentavam-se em altas concentrações nas estações
localizadas na zona considerada mais poluída de
Volta Redonda. O benzeno também foi citado
pelos autores como o principal componente da
poluição atmosférica na cidade. Estando essa
região, segundo nossos resultados, como de alta
incidência do pseudocisto antral, surge então
uma nova especulação de que os poluentes citados pelos referidos autores, possam estar associados à gênese da patologia, o que não foi possível avaliar, em função de o nosso estudo estar
fundamentado apenas em imagens radiográficas.
Levando-se em conta essa nova especulação,
maiores estudos deverão ser realizados no intuito de avaliar os componentes da poluição local e
seus efeitos na mucosa dos seios maxilares.
Os resultados poderão ser utilizados na
avaliação do programa de monitoramento da
qualidade do ar existente, e poderá contribuir
para a geração de novas estratégias e de novas
políticas de controle da poluição na cidade.
81
Avaliada a ocorrência de imagens compatíveis com pseudocisto antral em radiografias panorâmicas pode-se concluir que:
a.
b.
c.
A incidência média encontrada na
cidade de Volta Redonda está dentro
dos índices relatados na literatura.
Quando estudadas as condições geográficas do município, observa-se que
a incidência nos bairros localizados
na margem esquerda em relação ao
Rio Paraíba do Sul esteve acima da
média relatada na literatura.
Comparando-se as condições geográficas e poluição do ar, observou-se
alto índice de pacientes portadores da
lesão nos bairros mais poluídos, indicando a participação da poluição do
ar na gênese do pseudocisto antral.
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6. Conclusão
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nenhuma especificidade regional, o que corrobora as afirmações de Wood e Goaz (1983),
no qual os autores relataram que a lesão pode
ser encontrada em todas as idades e, segundo o
sexo, pode variar de estudo para estudo.
A ocorrência do pseudocisto antral em
nosso estudo foi maior no lado direito, semelhante ao encontrado por Costa em 2007, porém, resultado diferente foi relatado no estudo
de Pontes em 2006, onde o autor relata uma
incidência bem maior no lado esquerdo. No
estudo de Gonçalves e Silveira (1993), os autores relataram que não encontraram diferença
estatisticamente significante em relação ao lado
comprometido. No estudo de Pontes (2006), o
autor cita o fato de não haver encontrado ocorrência bilateral, o que difere do nosso estudo,
onde aproximadamente 11% dos casos foram
bilaterais. Não foi encontrado qualquer evidência em relação ao porque da predileção de um
lado ou outro em nossos estudos, não existindo
qualquer relato na literatura para explicar o fato.
Mais da metade das lesões observadas
em nosso estudo, não apresentavam alterações
patológicas no quadrante homólogo, não podendo atribuir a qualquer uma delas a causa
do pseudocisto. Relato semelhante foi feito por
Gonçalves e Silveira (1993), em que os autores
mencionam que não foi possível estabelecer a
inter-relação de condições odontogênicas com
o desenvolvimento do pseudocisto antral.
As estações de monitoramento do ar de
Volta Redonda, descritas nos relatos de Goida
et al. (2004), incluem como as que apresentaram maior captação de poluentes, as estações
do Belmonte, do Retiro e da FEEMA, estações
situadas na margem esquerda do rio Paraíba
do Sul, e que coincidem com a região de maior
concentração de poluentes, descrita no estudo
de Peiter e Tobar (1996). Esses relatos vão
ao encontro ao nosso estudo, que encontrou
maior incidência do pseudocisto antral nessa
mesma área, indicando a associação da poluição do ar com a ocorrência de casos de pseudocisto antral na cidade.
No trabalho realizado por Rodrigues et
al. (2009), os autores relataram que não encontraram correlação significante entre a incidência do pseudocisto antral e a umidade do
ar ou temperatura, cabe porém ressaltar, que o
fenômeno de inversão térmica que ocorre nos
períodos de inverno, pode ter contribuído com
82
7. Referências
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Endereço para Correspondência:
Sérgio Elias Vieira Cury
[email protected]
Curso de Odontologia
Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA
Av. Paulo Erley Abrantes, 1325
Três Poços - Volta Redonda/RJ
CEP: 27240-560
85
Riqueza e composição de formigas de serapilheira na Reserva Florestal da
Vista Chinesa, Rio de Janeiro, Brasil
Inventory of ground-dwelling ants in the Chinese View Forest Reserve, Rio de
Janeiro, Brazil
André Barbosa Vargas1
Antônio José Mayhé-Nunes2
Jarbas Marçal Queiroz3
Biodiversidade
Inventário
Extrator de
Winkler
Original
Paper
Resumo
Inventário das formigas de serapilheira na Reserva Florestal da Vista Chinesa, Rio de Janeiro, Brasil. A mirmecofauna da Reserva Florestal da Vista Chinesa (RFVC) foi amostrada por 50 parcelas de 1m2 de serapilheira,
submetidas ao extrator de Winkler, onde 90 espécies/morfoespécies foram
registradas. A composição de espécies apresentou similaridade de 24% (índice de Jaccard) e 38% (índice de Sorensen) entre as amostras. A distribuição
de abundância das espécies não diferiu estatisticamente da distribuição série
logarítmica. A riqueza estimada foi 129 (Chao2); em média cada amostra
apresentou 112,5 (±68,9) indivíduos e 15,8 (±4,4) espécies/morfoespécies. O
fragmento de floresta estudado na Cidade do Rio de Janeiro apresentou uma
fauna rica e diversificada de formigas de serapilheira e como essa diversidade
pode indicar a diversidade de outros grupos e processos no ecossistema, a
manutenção dessa reserva é importante para a conservação da biodiversidade
na Mata Atlântica brasileira.
Abstract
Inventory of ground-dwelling ants in the Chinese View Forest Reserve, Rio
de Janeiro, Brazil. We sampled the ants from Reserva Florestal da Vista
Chinesa (RFVC) using 50 litter plots with 1m2, which were submitted to
Winkler extractor. We found 90 species/morphospecies, and similarity in
species composition among samples was quite low (24%, Jaccard index, and
38% Sorensen index). Abundance distribution followed a logarithm series
model. Each sample had 112.5 (±68.9) specimens and 15.8 (±4.4) species/
morphospecies, although estimated richness was 129 (Chao2), on average.
The forest fragment in the City of Rio de Janeiro showed a rich and varied
fauna of ground-dwelling ants, and as the diversity of ants can be correlated
with the diversity of other organisms, as well as ecosystem process, the
maintenance of this urban forest reserve is important to the conservation of
biodiversity in the Brazilian Atlantic Forest.
Recebido em
11/2012
Aprovado em
04/2013
Key words
Atlantic Forest
Biodiversity
Inventory
Winkler extractor
1 Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA), Centro de Ciências da Saúde.
2 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Instituto de Biologia, Departamento de Biologia Animal.
3 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Instituto de Florestas, Departamento de Ciências Ambientais.
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Mata Atlântica
Artigo
Original
Cadernos UniFOA
Palavras-chave
ISSN
1809-9475
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
86
1. Introdução
Os remanescentes florestais urbanos,
além de possuírem importância estética podem
promover o lazer e contribuir na relação “homem e natureza” a fim de proporcionar maior
conhecimento sobre a diversidade biológica
e na compreensão de sua importância. Além
disso, são úteis, pois contribuem na manutenção da biodiversidade, funcionando como refúgio da vida silvestre, e de um possível elo
entre áreas adjacentes. Entretanto, fragmentos
florestais, inseridos em áreas urbanas, podem
ser inadequados para organismos com hábitos
mais restritos como, por exemplo, espécies
que dependem de condições específicas de
temperatura e recurso alimentar. Tais fragmentos podem apresentar maior efeito de borda, maiores incidência de ventos e variações
bruscas na temperatura, favorecendo espécies
com hábitos generalistas, aumentando a competição e assim ocasionando desequilíbrios na
estrutura destes ecossistemas (MCINTYRE
et al., 2001). No entanto, pouco se sabe sobre
a biodiversidade dessas áreas, seu estado de
conservação ou mesmo como as espécies se
distribuem nestes fragmentos.
As formigas são componentes importantes da biodiversidade de florestas por desempenharem funções biológicas e ecológicas vitais para a manutenção dos processos
ecossistêmicos (HÖLLDOBLER; WILSON,
1990). Elas são bons bioindicadores, por serem
sensíveis a mudanças ambientais (AGOSTI et
al., 2000; RIBAS et al., 2012), e podem ser
utilizadas em programas de monitoramento
(ANDERSEN; MAJER, 2004; BRAGA et al.,
2010). Além disso, formigas destacam-se por
seu papel estruturador da comunidade de artrópodes (HÖLLDOBLER; WILSON, 1990),
por sua influência significativa em processos
edáficos (BROWN, 1997) e pela predação e
dispersão de sementes (FOLGARAIT, 1998).
A riqueza e composição dessas assembleias
de formigas estão intimamente relacionadas
com a complexidade estrutural dos ambientes (NAKAMURA et al., 2003; LASSAU;
HOCHULI, 2004; VARGAS et al., 2007;
MARTINS et al., 2011).
A Mata Atlântica brasileira é considerada uma área prioritária para a conservação da
biodiversidade, possuindo alta diversidade de
plantas endêmicas, vertebrados e invertebrados
(MITTERMEIER et al., 2004; GALINDOLEAL; CÂMARA, 2005). Mas apesar da cobertura original de Mata Atlântica ter sido reduzida para menos de 10%, o Estado do Rio de
Janeiro ainda possui remanescentes florestais
deste bioma relativamente bem conectados,
formando grandes blocos florestais (ROCHA
et al., 2003). Esses blocos compõem um mosaico de fragmentos florestais em paisagens
distintas, nas quais espécies da flora e fauna
desempenham serviços ecossistêmicos como
polinização, decomposição de matéria orgânica e controle biológico (CUMMING, 2007).
A fragmentação florestal afeta diretamente
esses organismos, limitando os serviços por
eles desempenhados ou até mesmo causando sua extinção em escala local ou regional
(STEFFAN-DEWENTER et al., 2002). Na
região metropolitana do Rio de Janeiro, o maciço da Tijuca representa a principal área com
cobertura florestal (ROCHA et al., 2003) e dentro dele se localiza a Reserva Florestal da Vista
Chinesa (RFVC) que é o foco deste estudo.
A região onde se encontra a RFVC foi
severamente desmatada durante o período da
colonização portuguesa e, posteriormente, por
decreto real, foi reflorestada como medida de
recuperação dos mananciais. Na época, foram
plantadas quase 60.000 árvores (MOULTON et
al., 2007). Atualmente, a RFVC apresenta uma
formação florestal em estado avançado de regeneração, embora a região do maciço da Tijuca
sofra queimadas constantes, mais frequentes
na vertente Norte (OLIVEIRA et al., 1995).
Por se tratar de um dos maiores remanescentes
florestais em área urbana no Brasil, a necessidade de sua conservação justifica a realização
de estudos sobre sua biodiversidade. Estudos
anteriores, em florestas urbanas, revelaram
padrões importantes de distribuição, riqueza e
composição da fauna de formigas (FEITOSA;
RIBEIRO, 2005; MIRANDA et al., 2006;
MORINI et al., 2007). Neste estudo realizamos
uma descrição da fauna de formigas de serapilheira na RFVC, descrevendo parâmetros básicos da comunidade como riqueza e composição
de espécies. Além disso, comparamos, com o
objetivo de fornecer subsídios a futuros estudos realizados em escala regional, dados sobre
espécies de formigas de serapilheira da RFVC
A Reserva Florestal da Vista Chinesa
(RFVC) possui cerca de 15 ha e localiza-se no
Maciço da Tijuca (11.870 ha), que por sua vez
situa-se em uma região exclusivamente urbana sobre forte pressão antrópica. O clima na
região é considerado tropical quente e úmido,
apresentando um ou dois meses secos ao longo do ano. A temperatura anual média varia
entre 22 e 24ºC, apresentando máxima absoluta de 38 a 40ºC nos meses de dezembro a
fevereiro, e mínimas de 4 a 8ºC nos meses de
junho e julho. A pluviosidade anual varia de
1.250 a 1.500 mm (MATOS et al., 2002).
A amostragem da fauna de formigas foi
realizada em fevereiro de 2004, empregando o
extrator de Winkler, descrito em Bestelmeyer et
al. (2000). Essa técnica de amostragem é extremamente eficiente na serapilheira e possibilita a
captura de formigas, de tamanho reduzido, que
apresentam comportamento críptico (PARR;
CHOWN, 2001, VARGAS et al., 2009). Foram
demarcadas e peneiradas 50 parcelas de 1 m2
de serapilheira, ao longo de uma transecção
de 1.200 m de comprimento, marcada com 25
pontos espaçados por 50 m um do outro. Em
cada ponto demarcado na transecção foram esticadas duas linhas perpendiculares de 25 m,
uma para o lado esquerdo e outra para o direito
da transecção, sob as quais foram demarcadas
parcelas de serapilheira, caracterizando assim
unidades amostrais independentes. As amostras
obtidas em cada parcela foram individualizadas
e submetidas aos extratores de Winkler por 48
h, em condições de laboratório.
Exemplares coletados de cada espécie
foram montados em via seca e depositados na
Coleção Entomológica Costa Lima (CECL) do
Instituto de Biologia da Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Os gêneros foram identificados com base na chave de
Bolton (1994) e as subfamílias de acordo com
a proposta de Bolton (2003).
Para analisar a acumulação de espécies,
com o esforço de amostragem, foram utilizados os métodos Mao Tau e Chao2, ambos com
100 aleatorizações, com auxílio do programa
87
3. Resultados
Foram coletados 5.627 indivíduos, pertencentes a dez subfamílias, 32 gêneros e 90 espécies/morfoespécies de formigas na Reserva
Florestal da Vista Chinesa. A subfamília
Myrmicinae foi a mais rica em espécies (n=51);
seguida de Ponerinae (n=17), Ectatomminae
(n=8), Formicinae (n=5); Amblyoponinae,
Ceraphachyinae e Heteroponerinae tiveram
duas espécies e Dolichoderinae, Ecitoninae e
Proceratiinae, uma espécie cada. Pheidole e
Hypoponera foram os gêneros mais ricos com
dez espécies, seguidos por Solenopsis (n=8);
juntos estes gêneros representaram 31% das
espécies coletadas. Dezenove espécies foram
registradas com apenas um exemplar capturado, correspondendo a 21,1% do total de
espécies amostradas. As cinco espécies mais
abundantes responderam por 43% do total de
indivíduos capturados (Tabela 1).
O número médio de espécies por amostra
foi de 15,8 (± 4,4), variando entre seis e 26 espécies por metro quadrado. A curva de acumulação de espécies gerada por meio de amostras
aleatorizadas apresenta uma tendência a se estabilizar. A estimativa de riqueza de Chao2 foi de
129 em 50 amostras (Figura 1). A similaridade
na composição em espécies entre as amostras
de 1 m2 de serapilheira foi de 24% pelo índice
de Jaccard e 38% pelo índice de Sorensen.
A distribuição de abundância das espécies não diferiu estatisticamente da distribuição série logarítmica (Teste Qui-quadrado,
P > 0,05) (Figura 2). Essa distribuição prevê
poucas espécies abundantes e um grande número de espécies raras.
4. Discussão
Em florestas tropicais, são comuns as
curvas de riqueza de espécies não atingirem
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
2. Material e Métodos
EstimateS (COWELL 2000). A similaridade
entre as amostras foi calculada pelo índice de
Jaccard e de Sorensen. A distribuição de abundância das espécies observada foi comparada
à distribuição série logarítmica e submetida ao
teste de Qui-quadrado disponível no programa
SYSTAT® versão 8.0.
Cadernos UniFOA
com trabalhos previamente realizados em outros fragmentos florestais.
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
88
a assíntota (estabilização), diante da enorme
diversidade de espécies que exploram uma
multiplicidade de recursos alimentares e sítios
de nidificação (LEPONCE et al., 2004). Por
outro lado, estudos apontam a necessidade de
um maior esforço amostral e o emprego de outras técnicas de amostragem que resultariam
em uma fauna mais rica e diversa (ROMERO;
JAFFÉ, 1989; ALONSO; AGOSTI, 2000;
SCHUTTE et al., 2007). Entretanto, a viabilidade econômica, o espaço físico, o tempo
gasto em campo e no processamento de todo
o material coletado é extenso. Nesse sentido,
o que se tem feito é a escolha de uma técnica
mais eficiente e apropriada ao ambiente.
Os resultados obtidos aqui mostram uma
tendência à estabilização para a curva de riqueza observada na RFVC. A riqueza observada corresponde a 70% da riqueza estimada.
Em fragmento (Parque Estadual da Cantareira,
SP) com condições semelhantes à RFVC e
com o mesmo esforço amostral empregado
aqui Feitosa; Ribeiro (2005) observaram 62
espécies, porém alcançando 78% das espécies
estimadas. Morini et al. (2007) estudaram três
fragmentos de tamanhos diferentes, também
sob influência antrópica, em São Paulo, e encontraram 79 espécies. Para todos esses estudos, as diferenças de riqueza estão relacionadas ao tamanho dos remanescentes e/ou o grau
de conservação da paisagem do entorno.
A RFVC faz parte do maciço da Tijuca,
cuja área de florestas é de quase 12 mil hectares, sua riqueza em espécies de formigas é
muito mais próxima do encontrado por VeigaFerreira et al. (2005) na Reserva Biológica
do Tinguá, com área de 26.000 ha. Assim,
suportando a hipótese de que áreas maiores
comportam maior riqueza de espécies. Além
disso, áreas maiores podem proporcionar mais
recursos, sejam alimentares ou de sítios de
nidificação (KASPARI, 1993), aumentando a
área para o forrageamento das espécies. Com
relação aos dados de Morini et al. (2007), o
fator seria o tamanho amostral, fisionomia e
o tipo de técnica utilizada, já que empregaram
iscas atrativas e armadilhas de solo, respectivamente, tornando suas amostragens mais seletivas quanto à guilda de formigas capturada.
O padrão de distribuição de abundância
das espécies de formigas na RFVC sugere que
poucos fatores são dominantes na estruturação
da comunidade (MAGURRAN, 1988). A subfamília Myrmicinae, que apresentou a maior
abundância e riqueza de espécies, é a mais diversificada em termos de hábitos alimentares
e de nidificação (HÖLLDOBLER; WILSON,
1990), sendo frequentemente o grupo a representar a maior porção da diversidade de formigas de serapilheira na maioria dos ambientes
(MARINHO et al., 2002; VEIGA-FERREIRA
et al., 2005; VARGAS et al., 2007). Os gêneros Hypoponera, Pheidole e Solenopsis, que
representaram 31% das espécies encontradas
na RFVC, apresentam grande variedade de espécies em amostragens na serapilheira de ambientes de Cerrado (MARINHO et al., 2002),
Caatinga (LEAL, 2003) e Mata Atlântica
(VEIGA-FERREIRA et al., 2005; VARGAS et
al., 2007). Mesmo outros remanescentes florestais em ambientes urbanos, localizados em região de Mata Atlântica, apresentam esses gêneros como os mais ricos em espécies (FEITOSA;
RIBEIRO, 2005; MORINI et al., 2007).
Estudos que utilizam a técnica dos extratores de Winkler raramente amostram espécies do gênero Atta e Acromyrmex (VEIGAFERREIRA et al., 2005), embora eles tenham
sido observados na RFVC, durante os trabalhos de campo. Além de Acromyrmex e
Atta, cabe ressaltar a ausência de gêneros
como Azteca, Camponotus, Cephalotes,
Dolichoderus e Pseudomyrmex, todos comuns
em florestas tropicais e predominantemente
arborícolas, exceto Camponotus que também
é frequente na serapilheira. Fatores como o
comportamento das formigas e a limitação
da técnica de amostragem estão relacionados
ao não registro desses gêneros na RFVC (ver
VARGAS et al., 2009), corroborando ao exposto por Longino et al. (2002).
Com base no modelo de guildas propostas
por Delabie et al. (2000), a composição da fauna de formigas, amostradas na RFVC, só não
abriga representantes da guilda das “subterrâneas dependentes de honeydew”, o que de fato
deve-se à técnica utilizada, a qual inviabiliza
a captura de formigas subterrâneas, amostrando-as eventualmente (ver BESTELMEYER et
al., 2000). Isso mostra que, apesar de ter sido
utilizado apenas uma técnica de amostragem,
os resultados são relevantes e que o acréscimo de técnicas de amostragem aumentaria a
riqueza de espécies nas guildas já presentes.
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5. Agradecimentos
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propostas em versão prévia do manuscrito.
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89
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
5.
Cadernos UniFOA
Conforme exposto anteriormente, a riqueza de espécies observadas para a RFVC é
elevada se comparada a outras áreas, mesmo
com esforço amostral menor e/ou equivalente.
Como as formigas podem ser bons indicadores
da diversidade outros grupos de organismos
(ANDERSEN; MAJER, 2004), a conservação
desse fragmento florestal urbano na Cidade do
Rio de Janeiro torna-se essencial para ajudar
na proteção e conservação de numerosas espécies da fauna e flora da Mata Atlântica.
90
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Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
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31. PARR, C. L. & CHOWN, S. L. Inventory
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and winkler methods with ants in a South
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92
TABELA 1: Lista de espécies de formigas amostradas na Reserva Florestal da Vista Chinesa
(RFVC), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. (fev/2004). TABLE 1: List of ant species sampled in Reserva
Florestal da Vista Chinesa (RFVC), Rio de Janeiro, Brazil. (Feb/2004).
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Grupo Taxonômico
Subfamília Amblyoponinae
Amblyopone armigera Mayr, 1897
Amblyopone sp.2
Subfamília Ceraphachyinae
Cerapachys splendens Borgmeier, 1957
Cerapachys cf toltecus
Subfamília Dolichoderinae
Linepithema sp.
Subfamília Ecitoninae
Labidus sp.
Subfamília Ectatomminae
Ectatomma edentatum Roger, 1863
Gnamptogenys cf porcata
Gnamptogenys cf lucaris
Gnamptogenys rastrata (Mayr, 1866)
Gnamptogenys horni Santschi, 1929
Gnamptogenys continua Mayr, 1887
Gnamptogenys cf horni
Gnamptogenys sp.7
Subfamília Formicinae
Brachymyrmex sp.1
Brachymyrmex sp.2
Brachymyrmex sp.3
Nylanderia sp.1
Nylanderia sp.2
Subfamília Heteroponerinae
Heteroponera sp.1
Heteroponera sp.2
Subfamília Myrmicinae
Apterostigma sp. 1
Apterostigma sp. 2
Basiceros disciger (Mayr, 1887)
Carebara urichi (Wheeler, 1922)
Crematogaster nigropilosa Mayr, 1870
Cyphomyrmex strigatus Mayr, 1887
Cyphomyrmex gr rimosus
Hylomyrma balzani (Emery, 1894)
Hylomyrma reitteri (Mayr, 1887)
Megalomyrmex sp.1
Megalomyrmex sp.2
Megalomyrmex sp.3
Megalomyrmex sp.4
Octostruma rugifera (Mayr, 1887)
Octostruma iheringi (Emery, 1887)
Octostruma sp.3
Oxyepoecus sp.1
Oxyepoecus sp.2
Pheidole gr Gertrudae
Abundância
Registros
1
1
1
1
22
1
9
1
22
6
4
1
8
276
6
11
2
18
1
1
3
33
4
8
2
3
1
1
101
347
29
8
131
6
16
10
1
11
12
1
10
1
44
152
51
3
1
8
125
53
63
37
4
1
1
95
2
3
2
1
2
9
23
15
1
1
5
31
15
22
8
2
1
1
20
1
1
1
1
1
Registros
820
212
1
3
69
8
18
1
7
5
8
1
1
37
401
382
74
42
68
84
71
1
37
429
48
1
12
1
3
286
413
1
44
19
1
2
12
5
7
1
2
2
6
1
1
6
31
35
14
8
17
11
15
1
10
41
12
1
9
1
2
19
33
1
18
139
4
75
29
41
29
11
3
44
2
2
19
5
3
1
2
11
27
3
21
9
12
9
5
1
8
2
2
12
3
2
1
1
4
2
93
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
Pheidole sp.1
Pheidole sp.2
Pheidole sp.3
Pheidole sp.4
Pheidole sp.5
Pheidole sp.6
Pheidole sp.7
Pheidole sp.8
Pheidole sp.9
Pheidole sp.10
Rogeria sp.1
Rogeria sp.2
Rogeria sp.3
Sericomyrmex sp.
Solenopsis sp.1
Solenopsis sp.2
Solenopsis sp.3
Solenopsis sp.4
Solenopsis sp.5
Solenopsis sp.6
Solenopsis sp.7
Solenopsis sp.8
Strumigenys sp.1
Strumigenys sp.2
Strumigenys sp.3
Strumigenys sp.4
Strumigenys sp.5
Strumigenys sp.6
Trachymyrmex sp.
Wasmannia auropunctata (Roger, 1863)
Wasmannia cf rochai
Wasmannia cf scrobifera
Subfamília Ponerinae
Anochetus mayri
Hypoponera sp.1
Hypoponera sp.2
Hypoponera sp.3
Hypoponera sp.4
Hypoponera sp.5
Hypoponera sp.6
Hypoponera sp.7
Hypoponera sp.8
Hypoponera sp.9
Hypoponera sp.10
Odontomachus chelifer (Latreille, 1802)
Odontomachus meinerti Forel, 1905
Pachycondyla harpax (Fabricius, 1804)
Pachycondyla lunaris (Emery, 1896)
Pachycondyla striata Fr. Smith, 1858
Thaumatomyrmex sp.
Subfamília Proceratiinae
Discothyrea sp.
Abundância
Cadernos UniFOA
Grupo Taxonômico
94
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
FIGURA 1: Curva de acumulação de espécies de formigas de serapilheira para a Reserva Florestal
da Vista Chinesa, Rio de Janeiro, RJ, Brasil (fev/2004). A riqueza (S) observada foi calculada
pelo método Mao Tau e a estimada pelo método Chao2; ambas com 100 aleatorizações.
FIGURA 2: Distribuição da abundância de espécies de formigas de serapilheira na
Reserva Florestal da Vista Chinesa, Rio de Janeiro, RJ, Brasil (fev/2004).
Endereço para Correspondência:
André Barbosa Vargas
[email protected]
Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA
Campus Olezio Galotti, Av. Paulo Erlei Alves
Abrantes, 1325 - Três Poços.
CEP: 27240-560
Volta Redonda, RJ – Brasil.
95
Stent Multicamadas - uma nova alternativa no tratamento de Aneurismas.
Revisão de Literatura
Stent Multilayer - a new alternative in the treatment of Aneurysms.
Literature Review
Augusto Frederico Martins Lopes Oliveira 1
Gabriel Costa Miziara 1
Lívia Gomes de Oliveira Garani 2
Marcela Sousa Cruz de Oliveira 3
Rodrigo Leal de Jesus Alves 3
ISSN
1809-9475
Artigo
Original
Original
Paper
Recebido em
10/2012
Aorta
Reconstrução
Endoluminal
Abstract
The objective of this study is to demonstrate the emergence of a new safe
and effective alternative for the endovascular treatment of aneurysms via 3D
Multilayer Stent, which has multiple layers of braided cobalt alloy, giving
a 3D geometric structure, because unlike the conventional treatment of
embolization coils or by exclusion grafts, stent Multilayer reduces the speed
and pressure of blood flow within the aneurysm sac, while maintaining the
flow to collaterals, with this implementation the probability of rupture of the
aneurysm sac becomes minimum. Studies support the efficacy and safety of its
implantation in aortic aneurysms, peripheral and visceral, and the retraction of
the aneurysm occurs in the months following implantation of Multilayer Stent,
when compared to traditional treatment is a reduction of complications and
mortality. This therapeutic option appears as a very promising breakthrough
for the endovascular treatment of aneurysms.
1 Acadêmicos do curso de Medicina da Universidade Gama Filho - RJ
2 Acadêmica do curso de Medicina da Universidade Severino Sombra - RJ
3 Acadêmicos do curso de Medicina do Centro Universitário de Volta Redonda - RJ
Keywords
Aneurysm
Aorta
Endoluminal
Repair
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Aneurisma
Resumo
O objetivo deste estudo é demonstrar o surgimento de uma nova alternativa
segura e eficaz no tratamento endovascular dos aneurismas através do Stent
Multicamadas 3D, que possui múltiplas camadas trançadas de liga de cobalto, dando uma estrutura geométrica em 3D, pois, ao contrário do tratamento
convencional de embolização de bobinas ou exclusão pelos enxertos, o Stent
Multicamadas reduz a velocidade e a pressão do fluxo sanguíneo dentro do
saco aneurismático ao mesmo tempo em que mantém o fluxo para as artérias colaterais, com essa implantação, a probabilidade de ruptura do saco
do aneurisma se torna mínima. Estudos corroboram a eficácia e a segurança
de sua implantação nos aneurismas aórticos, viscerais e periféricos, além de
ocorrer a retração do aneurisma nos meses seguintes à implantação do Stent
Multicamadas, sendo assim, quando comparado ao tratamento tradicional,
ocorre uma redução das complicações e das mortalidades. Essa opção terapêutica surge como um avanço bastante promissor para o tratamento endovascular dos aneurismas.
Cadernos UniFOA
Palavras-chave
Aprovado em
04/2013
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96
1. Introdução
Um aneurisma ocorre quando há uma
dilatação na parede da artéria de, pelo menos, 50% maior que seu diâmetro normal.
Tradicionalmente, considera-se a aterosclerose como causa primária em 90% dos casos. Os
aneurismas das artérias viscerais são aqueles
aneurismas intra-abdominais que afetam a artéria celíaca, as artérias mesentéricas superior
e inferior e as artérias renais e seus ramos[12].
Os aneurismas periféricos são poucos comuns, porém, quando surgem, podem trazer
consequências graves ao paciente, como no
caso de aneurismas de artérias poplíteas que
se destacam pela maioria dos casos periféricos. Tem como complicação, a amputação do
membro, devido à trombose ou embolia[2]. A
prevalência de aneurisma de artéria aorta torácica está crescendo, tendo atenção especial
também dos cardiologistas, visto que traz
complicações de valva aórtica, pois causa refluxo sanguíneo para o ventrículo esquerdo
quando a válvula se fecha, caracterizando uma
insuficiência aórtica[3].A maior incidência de
aneurismas está na aorta abdominal, pois é comum surgir em hipertensos e tabagistas; possui grande chance de ruptura, pois se trata de
um aneurisma assintomático, talvez este seja o
motivo da alta taxa de mortalidade em relação
aos outros aneurismas[12].
Estudos promissores indicam uma nova
linha terapêutica para o tratamento endovascular de aneurisma aórticos, periféricos e viscerais, trata-se do Stent Multilayer 3D Cardiatis,
sua plataforma tecnológica se baseia na técnica de múltiplas camadas de ligas de cobalto
trançadas desenvolvendo nos stents estruturas
geométricas tridimensionais espacias[4].
A estrutura do Stent Multilayer, em virtude de sua geometria 3D, confere ao stent
alta resistência e flexibilidade, sendo que sua
principal vantagem está no fato de modular o
fluxo hemodinâmico dentro do aneurisma, pois
reduz a velocidade no vórtex do mesmo, com
isso, forma-se um trombo organizado e estável,
mantendo o fluxo laminar na artéria principal
e preservando os ramos colaterais e distais [2].
Ao ocorrer um fluxo laminar e lento dentro do saco aneurismático, reduz-se a
probabilididade de ruptura e há retração do
aneurisma ao longo do tratamento, ao mesmo tempo que assegura perfusão sanguínea
para as artérias colaterais e distais, isso torna
o Stent Multilayer uma evolução terapêutica
no tratamento endovascular dos aneurismas.
Países como Bélgica, Grécia, Alemanha,
França e Itália demostraram por relatos de casos a eficiência e segurança do uso do Stent
Multilayer[5], portanto, foi constatado, através desta revisão bibliográfica, que o Stent
Multilayer surge como alternativa segura e de
excelentes resultados nos casos de aneurismas
aórticos, periféricos e viscerais[13].
2. Métodos
Trata-se de uma revisão de literatura,
realizada por meio de levantamento de artigos científicos, publicados entre os anos de
2007 e 2012. As buscas bibliográficas foram
realizadas através de banco de dados eletrônicos internacionais, como a Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências
da Saúde (LILACS), National Library of
Medicine (MEDLINE), Scientific Eletronic
Library Online (SCIELO) e na biblioteca
virtual Pubmed. As palavras-chave utilizadas para a busca dos artigos foram às seguintes: Aneurismas; Stent Multilayer 3D
Cardiatis; Tratamento Endovascular; Efeitos
Hemodinâmicos. Os critérios de inclusão dos
artigos foram aqueles em que usaram o Stent
Multilayer para o tratamento endovascular dos
aneurismas e os seus respectivos prognósticos.
Os artigos selecionados foram publicados em
periódicos internacionais e no idioma inglês.
3. Resultados
97
TABELA 1 Estudos científicos relatados.
Número
de Casos
Sucesso
Técnico
Sucesso
Clínico
[1] Balderi et al. (2010) Itália
Relato de caso
1
100%
100%
[2] Carrafiello et al. (2011) Itália
Relato de caso
1
100%
100%
[3]Ferrero et al. (2010) Itália
Relato de caso
2
100%
100%
[4] Henry et al. (2010) Bélgica, França e Grécia
Série
30
100%
100%
[5] Henry et al. (2008) França
Relato de caso
1
100%
100%
[6] Meyer et al. (2010) Alemanha
Relato de caso
1
100%
100%
[7] Polydorou et al. (2010) Grécia
Relato de caso
19
100%
100%
[8] Polydorou (2007) Grécia
Relato de caso
1
100%
100%
[9] Polydorou (2007) Grécia
Relato de caso
1
100%
100%
[10] Rabbia (2010) Itália
Série
45
100%
100%
[11] Ruffino et al. (2010) Itália
Série
52
92.3%
94.1%
TOTAL
4. Discussão
A principal vantagem da plataforma tecnológia das multicamadas reside no fato de
tornar possível modular o fluxo hemodinâmico dentro do segmento arterial acometido[11].
O design do Stent Multilayer, em virtude
de sua geometria 3D, reduz a velocidade do fluxo dentro do vórtex do aneurisma, melhorando
o fluxo laminar na artéria principal e nas colaterias. Isso permite a redução da pressão dentro
do saco aneurismático, reduz também a estase e
a formação de um trombo organizado[11].
Balderi et al.[1] relata o caso de um paciente, do sexo masculino, de 74 anos de idade,
com aneurisma de artéria hepática de 85mm
de diâmetro, originário da artéria hepática comum, envolvendo até a artéria gastroduodenal. Por causa do risco de ruptura espontânea
do aneurisma foi utilizada a angiografia por
subtração digital, já no pós-operatório imediato, pode-se observar uma formação inicial de
trombos organizados, isso levou à redução do
fluxo turbulento dentro do saco aneurismático
e manteve o fluxo para os ramos colaterais e
para as artérias esplênicas, hepáticas direita e
esquerda e gastroduodenal. Após seis meses,
houve completa redução do aneurisma e os ramos mantiveram perfundidos.
-
154
Já Carrafielo et al.[2] relata o caso de um
paciente do sexo masculino de 60 anos de
idade, com aneurisma de tronco celíaco, que
foi tratado com Stent Multilayer com objetivo
de preservar os ramos colaterais do aneurisma. Sucesso clínico foi obtido em aproximadamente seis meses, e a confirmação ocorreu
após doze meses, com trombose completa do
saco aneurismático sem comprometer ramos e
a perfusão regular do fígado e baço.
Ferrero et al.[3], relatam o caso de dois pacientes do sexo masculino, um de 71 anos e o
outro de 73 anos de idade, ambos com aneurisma de artéria hepática (34 mm e 48 mm de
diâmetro respectivamente). Imediatamente, no
pós-operatório, demonstrou formação inicial
de um trombo com redução do fluxo dentro do
saco aneurismático e perfusão para os ramos
colaterais. Com seis meses após a colocação do
Stent Multilayer, ocorreu trombose completa
do aneurisma e perfusão contínua para os ramos colaterais, em seguida, após doze meses,
foi realizada outra avaliação que confirmou o
sucesso clínico no tratamento do aneurisma.
O primeiro paciente teve alta em três dias
e o segundo em dois dias. Ferrero et al.[3] relatam ainda que as limitações deste novo stent
são determinadas pelo fato de que não pode
ser usado em casos de emergência, como em
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Tipo de estudo
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Autoria e País
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98
uma ruptura de aneurisma de artéria visceral
porque não é um stent recoberto. Além disso,
o posicionamento do dispositivo requer um
apoio que ainda hoje é grande no tamanho.
Finalmente, as dificuldades de canulação do
vaso alvo podem ocorrer devido à anatomia
do vaso, a pouca flexibilidade dos materiais e
da necessidade de usar guias bastante rígidos
para a liberação do stent.
Henry et al.[4] relata uma série de 30 pacientes, sendo 22 de aneurismas periféricos
(Ilíaca: 14; Femoral: 1; Poplíteo: 2 ; Renal: 4;
Mesentérica: 1); 6 de aneurismas torácicos e 2
de aneurismas abdominais. O sucesso técnico
foi obtido em todos os pacientes. Para os aneurismas periféricos ocorreu a exclusão e o fluxo permaneceu para as artérias colaterais, em
relação aos aneurismas tóraco-abdominais,
todos mantiveram o fluxo para as colaterais,
sendo que a total exclusão necessitaria de um
período de 06, 12 e 30 meses de pós operatório
respectivamente, para aneurismas periféricos,
torácicos e abdominais, para confirmar a total
exclusão do aneurisma.
Henry et al.[5] relata o caso de um paciente do sexo masculino, 78 anos de idade, com
múltiplas comorbidades, apresentando aneurisma sacular de artéria renal direita com 30
mm de diâmetro, que foi submetido ao tratamento endovascular com o Stent Multilayer
e imediatamente após a colocação do stent
houve redução do fluxo turbulento no saco
aneurismático e perfusão sanguínea para as
artérias colaterais. Após seis meses, o paciente apresentou completa exclusão do aneurisma
e com contínuo fluxo para as colaterais e alta
hospitalar no dia seguinte. Henry et al. escrevem ainda que o mecanismo pelo qual o Stent
Multilayer pode causar a absorção do aneurisma se deve a hemodinâmica dentro do saco.
Para um aneurisma sem colaterais, o
sangue flui para dentro do saco, gerando um
vórtex, uma após a outra, todas ao longo da
parede do aneurisma, à medida que estes progressos geram perturbações de fluxo, tornam-se mais fortes e estes movimentos contínuos
induzem o estresse na parede arterial. Quando
o Stent Multilayer é colocado na frente do
colo do aneurisma, a geometria 3D reduz a
velocidade do fluxo dentro do vórtex do saco
aneurismático, melhorando o fluxo laminar na
artéria principal e nos ramos colaterais.
Meyer et al.[6] relatam o caso de um paciente do sexo masculino, 74 anos de idade,
com aneurisma de artéria renal esquerda de
26mm de diâmetro que tratado com Stent
Multilayer, imediatamente após a colocação
do stent, apresentou diminuição do fluxo turbulento dentro do aneurisma, e a angiografia,
obtida após 20 minutos à colocação do stent,
demonstrou uma completa exclusão do fluxo
turbulento no aneurisma e a perfusão preservada para as artérias colaterais. Cinco meses
após da implantação do Stent Multilayer, o
paciente mostrou exclusão do saco aneurismático e, sem sinais de infarto renal, o paciente
teve alta hospitalar no dia seguinte.
Polydorou et al.[7] relatou 19 pacientes
com aneurismas, sendo 4 de artérias renais, 15
de artérias ilíacas, 1 artéria poplítea, 1 artéria
aorta torácica e 1 de artéria aorta abdominal.
Foi obtido o sucesso técnico em todos os casos
. A taxa de exclusão dos aneurismas periféricos foi de 100% e todos os ramos colaterais
com perfusão. Para os aneurismas de tórax e
abdômen, a angiografia, realizada após três
meses, mostrou redução do fluxo sanguíneo
no interior do saco aneurismático e perfusão
mantida para os ramos colaterais, porém,
concluiu-se que havia necessidade um tempo
maior para excluir completamente os aneurismas de artérias de maior calibre, como aorta
torácica e abdominal. O autor descreve ainda
que isso se deve ao número e o tamanho dos
ramos dentro do aneurisma, bem como o tamanho do vaso alvo em si.
Polydorou et al.[8] relata o caso uma paciente, de 78 anos de idade, do sexo feminino,
com aneurisma de artéria poplítea direita, com
5 mm de diâmetro. Após a colocação do Stent
Multilayer com sucesso técnico de 100%,
houve uma redução do fluxo turbulento dentro
do aneurisma. Dois meses após, foi realizado
uma angiografia, revelando um trombo organizado dentro do aneurisma ao mesmo tempo
em que se observava a redução do fluxo turbulento. Sete meses após, outra angiografia mostrou exclusão completa do aneurisma e sem
alteração na perfusão dos ramos colaterais.
Polydorou et al.[9] relata o caso de uma paciente do sexo feminino, de 78 anos de idade,
com aneurisma sacular de artéria renal direita
de 30 mm de diâmetro. No pós-operatório, a
angiografia mostrou redução da velocidade do
do Stent Multilayer foram superiores ao tratamento convencional. Serão necessários, ainda,
mais estudos para que se possa afirmar que o
Stent Multilayer é a evolução definitiva para o
tratamento endovascular dos aneurismas, porém, é bastante promissor para o futuro.
Conflitos de interesses: Nenhum e não
houve qualquer auxílio por parte do fabricante
da endoprótese.
1.
BALDERI, A.; ANTONIETTI, A.;
PEDRAZZINI, F. et al. Treatment of a
Hepatic Artery Aneurysm by Endovascular
Exclusion Using the Multilayer Cardiatis
Stent. Cardiovascular and interventional
Radiology, v. 33, n. 6, p. 1282-1286, 2010.
2.
CARRAFIELLO, G.; RIVOLTA, N.;
ANNONI, M. et al. Endovascular Repair
of a Celiac Trunk Aneurysm with a new
Multilayer Stent. Disponível em < http://
www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21684712>.
Acessado em 23 jul. 2012.
3.
FERRERO, E.; FERRI, M.; VIAZZO, A.;
et al. Endovascular Treatment of Hepatic
Artery Aneurysm by Multilayer Stent: Two
Cases and one- year follow-up. Interactive
Cardiovascular and Thoracic Surgery,
doi: 10,1510/icvts, 2011, 280842, 2011.
4.
HENRY,
M.;
HUGEL,
M.;
BENJELLOUN, A. et al. A new Concept
of Stent: the Multilayer Stent. First
Human Study in arterial Aneurysms.
Disponível em <http://content.onlinejacc.
org/cgi/reprint/56/13_MeetingAbstracts/
B93. pdf>. Acessado em 20 Jun. 2012.
5.
HENRY, M.; POLYDOROU, A.; FRID, N. et
al. Treatment of Renal Artery Aneurysm With
the Multilayer Stent. Journal of Endovascular
Therapy, v. 15, n. 2, p. 231-236, 2008.
6.
MEYER, C.; VERREL, F.; WEYER,
G.; WILHELM, K. Endovascular
Management of Complex Renal Artery
Aneurysm using Multilayer Stent.
Cardiovascular and Interventional
Radiology, v. 34, n. 3, p. 637-641, 2011.
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
6. Referências
5. Conclusão
Através desta revisão, podemos concluir
que o novo Stent Multilayer surge como uma
alternativa segura e eficaz no tratamento endovascular dos aneurismas. O sucesso técnico
aliado ao clínico faz com que ocorra a exclusão
dos aneurismas pela formação de um trombo
organizado, enfatizando que aneurismas de
vasos de maior calibre levam um tempo maior
para serem excluídos em relação aos de pequeno calibre e ao mesmo tempo em que mantém
a perfusão sanguínea para os ramos colaterais.
Sem dúvida, os resultados obtidos na utilização
99
Cadernos UniFOA
fluxo dentro do saco aneurismático e perfusão
para os ramos colaterais. Três meses após, a
angiografia mostrou completa exclusão do
aneurisma bem como os ramos colaterais preservados. Paciente teve alta hospitalar no dia
seguinte.
Rabbia et al.[10] descreve uma série de estudos que foram realizadas em centros de estudos na Itália, o relato foi feito com 45 pacientes
entre aneurismas periféricos e viscerais. A taxa
de sucesso foi avaliada em 30 dias, 3 meses e
6 meses, respectivamente, com isso o sucesso
obtido em 30 dias foi de 88,9% (40/45), em 3
meses foi de 93.3% (28/30) e em 6 meses chegou 100% (16/16). Ao final do estudo preliminar ficou firmada a eficácia da utilização do
Stent Multilayer no tratamento endovascular
dos aneurismas realizada neste estudo.
Ruffino et al.[11] relatam uma série de 52
pacientes com aneurismas, sendo 36 periféricos
e 16 viscerais, tratados em 32 centros clínicos
da Itália. Dos 52 pacientes, 39 tinham ramos colaterais mal perfundidos. O sucesso técnico foi
alcançado no intraoperatório em 48 pacientes
(92.3%). O sucesso clínico foi obtido naqueles
pacientes em que houve a formação de trombo
organizado dentro do aneurisma, perfusão contínua para os ramos colaterais e a exclusão do
aneurisma, a avaliação angiográfica foi programada para três fases, sendo após 30 dias, 3 meses e 6 meses, respectivamente, e obtiveram os
seguintes resultados, em 30 dias: 91.6% (44/48),
em 3 meses: 93.3% (24/26) e em 6 meses: 94.1%
(16/17). Portanto, conclui-se que ao longo de 6
meses os resultados são ainda melhores se comparado ao tratamento convencional.
100
7.
POLYDOROU, A.; HENRY, M.;
BELLENIS, I. et al. Endovascular Treatment
of Aneurysm With Side Branches - A
Simple Method. Myth or Reality? Hospital
Chronicles, v. 5, n. 2, p. 88-95, 2010.
8.
POLYDOROU, A. Treatment of Popliteal
Aneurysm with FluidSmart 3D Multilayer Stent
System. Disponível em < http://www.cardiatis.
com/images/stories/info/popliteal-aneurysmcase.pdf> Acessado em 20 Jan. 2012.
9.
POLYDOROU, A. Treatment of Renal
Artery Branched Saccular Aneurysm
with Fluid Smart 3D Multilayer Stent.
Disponível em < http://www.cardiatis.
com/images/stories/info/renal-aneurysmcase.pdf> Acessado em 20 Jan. 2012.
Cadernos UniFOA
Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013
10. RABBIA, C. Experience With The Use of the
Multilayer Stent for the treatment of Peripheral
and Visceral Aneurysms. Disponível em <
http://www.veithpress.org/pdf/vei/3724.pdf>
Acessado em 23 Nov. 2011.
11. RUFFINO, M.; MURATORE, P.;
MANCINI, A. et al. Endovascular
Peripheral and Visceral Aneurysm Repair
With Cardiatis Multilayer Stent: Italian
Multicenter Preliminary Experience.
Disponível em < http://content.onlinejacc.
org/cgi/reprint/56/13_MeetingAbstracts/
B93.pdf> Acessado em 20 Jan. 2012.
12. SABISTON JUNIOR, D. C.; TOWNSEND,
C. M.; BEAUCHAMP, R. D.; EVERS, B.
M.; MATTOX, K. L. Sabiston tratado
de cirurgia: a base biológica da prática
cirúrgica moderna, v. 2. 18. ed. Rio de
Janeiro: Saunders Elsevier, 2010.
13. WAILLIEZ, C.; COUSSEMENT, G. CFD
study of multilayer stent haemodynamics
effects in abdominl aortic aneurysms.
Disponível em < http://www.cardiatis.
com/images/stories/info/fluid-19(105)_c.
wailliez_g.coussement_fpms.pdf>
Acessado em 03 Set. 2012.
Endereço para Correspondência:
Augusto Frederico Martins Lopes Oliveira
[email protected]
Rua 41, 360 - Vila Santa Cecília
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CEP: 27253-070
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