XXII CONFAEB Arte/Educação: Corpos em Trânsito
29 de outubro a 02 de novembro de 2012
Instituto de Artes / Universidade Estadual Paulista
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CENTRO CULTURAL, SEU PRÓPRIO: PERTENCIMENTO, RECONHECIMENTO E
IDENTIDADE NO E DO ESPAÇO PÚBLICO
Alexandra Ribas Itacarambi
Centro Cultural São Paulo
[email protected]
http://lattes.cnpq.br/3772102670234189
Giuliano Tierno de Siqueira
Centro Cultural São Paulo
[email protected]
http://lattes.cnpq.br/3954079408509272
RESUMO: O Centro Cultural, Seu Próprio é um projeto criado pela Divisão de Ação Cultural
e Educativa (DACE) do Centro Cultural São Paulo (CCSP) com o objetivo de catalisar e
mover impressões, desejos e olhares acerca do espaço público. As ações são contínuas e
estão em permanente processo de reflexão e reformulação. A principal abordagem do
projeto é artística, dito de outro modo, desde o princípio a escolha curatorial foi a de propor
o encontro entre artista e público freqüentador, por meio da criação artística. A aposta de
atuação tem sido na potência mediadora dos processos de criação diretos entre artista e
público. A forma que a DACE encontrou para colocar em prática tal aposta foi a de convidar
artistas das mais diversas linguagens (contação de histórias, música, teatro, dança, artes
visuais, áudio visual, etc) instigando que os mesmos realizem uma pesquisa dos usos dos
espaços pelos freqüentadores do CCSP e que a partir da sua linguagem e de sua poética de
criação proponham a produção de uma ação artística a partir de sua própria experiência
com os conceitos de pertencimento, reconhecimento e identidade no e do espaço público.
Palavras-chave: Espaço público; pertencimento; mediação.
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ABSTRACT: Centro Cultural, Seu Próprio (Cultural Center, Your Own) is a Project created
by The Cultural and Educational Division of Centro Cultural São Paulo (São Paulo Cultural
Center) that the main goal is to catalyze and move impressions, desires and views of the use
of the public space with the people who come to the Centro Cultural São Paulo. The actions
are continuos and are in permanently process of refletion and redoing. The principal
approach of the Project is artistic, in other words, since from the beginning, the curatorial
choice was to propose the meeting between the artist and the public, through the artistic
creation. Our bet of action has been in the mediation potency of the process of creation
directly between the artists and the public. The way that the Division found to make it happen
was to invite artists from various areas (storytellers, musicians, drama and dance
professionals, visual and audiovisual artists) provoking them to do a research about the use
of the space by the people who are in the Centro Cultural São Paulo. And from their own art
and their poetic of creation, propose an artistic action based on belonging, recognition and
identity in and of the public space.
Key words: public space; belonging; mediation.
Histórico do projeto
O Centro Cultural São Paulo (CCSP) está localizado na região central da cidade de
São Paulo, no bairro do Paraíso, bem em cima da estação de metrô Vergueiro, próximo a
importantes instituições culturais como SESC Vila Mariana, Itaú Cultural, Casa das Rosas e
Museu de Arte de São Paulo (MASP). Ao seu redor também encontram-se algumas
Universidades como a: UNIP; FMU; SENAC; diversas escolas particulares e públicas do
ensino infantil, fundamental e médio, totalizando 106 escolas segundo dados da Secretaria
Estadual da Educação de São Paulo. Além de ter, em suas imediações, importantes
instituições que trabalham com projetos de inclusão e acessibilidade como é o caso da
Fundação Dorina Nowill.
O Centro Cultural São Paulo possui uma estrutura física complexa formada por
bibliotecas, acervos, espaços expositivos, teatros, salas de cinema e espaços multiusos.
Desta forma, há diferentes públicos que têm diferentes finalidades dentro do espaço.
Finalidades estas que podem cristalizar a ocupação pública do espaço, alijando os
freqüentadores das produções, acervos e programações que acontecem no CCSP.
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Desta forma, foi vital projetar uma ação que propusesse a des-cristalização dos usos
do espaço, por meio de atividades que trouxessem um tempo para suspensão do
automatismo da ação:
A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque,
requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos
tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para
escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar;
parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender
a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o
automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os
ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos
outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo
e espaço. (LARROSA, 2004. p. 86).
A Divisão de Ação Cultural e Educativa (DACE) do Centro Cultural São Paulo, desde
o início de 2011, vem pensando projetos e ações pontuais que procuram articular a
programação proposta pela Divisão de Curadoria aos diversos usos dos espaços que os
freqüentadores dão ao CCSP e que possam abrir os olhos e ouvidos, despertar os sentidos,
tanto do público quanto da própria DACE, da Divisão de Programação e Curadoria e
funcionários das demais divisões e, que sejam ações potentes para se falar sobre o que nos
acontece publicamente nos espaços de convívio, sugerindo uma reflexão da produção e
consumo de cultura.
O projeto Centro Cultural, Seu Próprio1 teve início nas comemorações de 29 anos do
CCSP, no dia 13 de maio de 2011, e é um dispositivo criado pela DACE com o objetivo de
catalisar as impressões, desejos e olhares do público, por meio de ações contínuas e que
estão em permanente processo de reflexão e reformulação.
A intenção primeira foi a de conhecer o fluxo de atividades realizadas por aqueles
que freqüentam de maneira cotidiana o Centro, ao mesmo tempo em que as práticas
reconhecidas pudessem sugerir proposições artísticas com a ambição de criar conexões
com os programas das diversas curadorias e abrir novos trajetos às habituais ocupações.
Desde o princípio do projeto a escolha curatorial foi a de propor o encontro entre artista e
público, por meio da criação poética. A aposta de atuação é a de continuidade e está
1
O nome foi inspirado na intervenção ocorrida em 2010 proposta pelo Coletivo Bruto.
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centrada na potência mediadora da criação direta entre produtor e consumidor de
arte/cultura.
Esta potência mediadora de criação direta está ancorada na reflexão posta pelo
professor do século XIX Joseph Jacotot, dada a ler na obra O Mestre Ignorante – cinco
lições para a emancipação intelectual, pelo filósofo Jacques Rancière. Jacotot traz uma
distinção entre o mestre explicador e o mestre emancipador. Diz ele acerca do mestre
explicador:
(...) É o explicador que tem necessidade do incapaz, e não o contrário, é
ele que constitui o incapaz como tal. Explicar alguma coisa a alguém é,
antes de mais nada, demonstrar-lhe que não pode compreendê-la por si
só. Antes de ser o ato do pedagogo, a explicação é o mito da pedagogia, a
parábola de um mundo dividido em espíritos sábios e espíritos ignorantes,
espíritos maduros e imaturos, capazes e incapazes, inteligentes e bobos. O
procedimento próprio do explicador consiste nesse duplo gesto inaugural:
por um lado, ele decreta o começo absoluto – somente agora tem início o
ato de aprender; por outro lado, ele cobre todas as coisas a serem
aprendidas desse véu de ignorância que ele próprio se encarrega de
retirar. (RANCIÈRE, 2007. p. 23-24).
Nesta perspectiva, o mestre explicador seria uma espécie de mediador que primeiro
decreta o ato de aprender, por exemplo, dizendo ao freqüentador que ocupa os espaços do
CCSP que existe uma programação “muito mais interessante” do que aquela que a pessoa
já está inserida, portanto, alguma ação que ele como mediador já conhece, pois valorou
como “superior” e neste ato cobre todas as coisas a serem apreendidas desse véu de
ignorância que ele próprio se encarregará de retirar.
Em relação ao mestre emancipador – ideário ancoradouro do que nomeamos como
sendo uma ação de criação direta entre artista e público – diz Jacotot, por meio das palavras
de Rancière: Não digas que não podes. Tu sabes ver, tu sabes falar, tu sabes mostrar, tu
podes te lembrar. (RACIÈRE, 2007. p. 43).
(...) Arte e pedagogia deixam de ser campos antagônicos e passam a
engendrar um novo espaço de atuação, protagonizado por seus
respectivos profissionais. Dito em outras palavras, estamos diante de uma
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acepção singular do termo: a mediação passa agora a constituir, em si
2
mesma, uma modalidade de criação .
Para tanto, a forma encontrada para a concretização da ação foi a de convidar
profissionais das mais diversas linguagens (contação de histórias, música, teatro, dança,
artes visuais, audiovisual, etc.) propondo que os mesmos realizem uma pesquisa dos
programas realizados de maneira “espontânea” e das formas desta realização por parte do
público e que a partir de sua linguagem e de sua poética de criação façam uma ação
artística com o foco no pertencimento, no reconhecimento e na identidade no e do espaço
público (de acordo também com a compreensão do artista-parceiro de tais conceitos em seu
fazer artístico).
Depois deste quase um ano e meio de realização do projeto, a equipe da DACE tem
avaliado que o aspecto mais potente é a diversidade de usos e programas que os públicos
(também diversos) dão ao CCSP e explicitar (para poder diminuir as distâncias) as barreiras
simbólicas que separam produtores de consumidores de cultura (BOTELHO, 2011. p 10).
Algo que não estava dado desde o princípio do projeto curatorial, mas que se elucidou a
partir da transposição do projeto para a sua realização.
Dos objetivos
O objetivo primeiro do projeto foi o de conhecer o fluxo de públicos 3 que freqüentam
e ocupam os espaços do Centro Cultural São Paulo, sobretudo o público mais cotidiano que
atravessa a parte interna do prédio ou que permanece nas mesas de estudo, nos treinos de
dança de rua, nos ensaios de dança pop, jogadores de xadrez, entre outros. Além disso,
ambiciona-se criar conexões entre os programas das diversas curadorias e entre os
acervos, possibilitando a abertura de novos trajetos e práticas às habituais ocupações.
2 PUPO, M. L. S. B. Mediação artística, uma tessitura em processo. Disponível em: <
http://www.ceart.udesc.br/ppgt/urdimento/2011/arquivos_urdimento_17/113_marialucia_urd17.pdf>. Acesso em:
27 set. 2012, 17:27.
3
Optou-se por empregar o verbete públicos no plural por entender que há uma diversidade muito grande de
pessoas que ocupam e participam da programação do Centro Cultural São Paulo.
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Outro ponto importante do projeto é que por ele perpassam noções de
pertencimento, reconhecimento e identidade no e do espaço público a partir de um trabalho
da DACE mais próximo dos públicos e por meio de questões que são parâmetros de
atuação: O que eu conheço do lugar que eu freqüento cotidianamente? Qual a minha
relação com este espaço e com o que este espaço me oferece? O que eu procuro neste
espaço? O que eu acho deste e neste espaço? O que este espaço contém?
Desta forma, coloca-se em evidência o principal desejo com este projeto: investigar,
problematizar e instigar a relação entre a instituição, como um todo, e seus públicos.
O caminho escolhido para a atuação
Partindo do pressuposto que cada ação é geradora de dados e apontamentos de
novas ações, num processo de distribuição de acontecimentos e não de centralização dos
mesmos (DELEUZE, 2001) optou-se por um caminho de construção e partilha das
inquietações da DACE junto aos artistas e ao público.
O processo dá-se no seguinte percurso: primeiro faz-se um levantamento de
questão, relacionada à mediação cultural a partir do mapeamento realizado pela DACE
(equipe de mediação, curadoria e direção); na seqüência dá-se o levantamento de
linguagens e artistas que em sua produção poética tratem da questão, tanto em relação ao
conteúdo quanto em relação à forma; o convite vai sempre na direção de pensar junto com
um artista ou um coletivo de artistas uma ação poética com potência mediativa,
aproximando artista, público e a própria DACE da questão disparadora; a partir daí existe
um tempo para a vivência empírica dos artistas nos espaços do CCSP e um tempo para
conhecer os públicos implicados nestes espaços.
O contato com a questão posta pela equipe interna e a realização da pesquisa com
os públicos mostrou-se um potente caminho para o artista buscar uma resposta artística
para a proposta; esta “resposta” será matéria para o diálogo do artista (ou do coletivo) junto
com a equipe da DACE produzirem esta ação de mediação junto aos públicos; há a
realização da ação e na sequência a avaliação da ação dá-se por meio de texto ou reflexão
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ou algum resíduo matérico de criação a exemplo da ação Retratos Sonoros criada e
desenvolvida pelo artista Leonardo Aldrovandi.
Durante uma semana no mês de julho de 2011, como parte do projeto Centro
Cultural, Seu Próprio, o artista realizou a ação, em diferentes horários e lugares do CCSP,
convidando cerca de 70 pessoas a responderem questões sobre o espaço, como, por
exemplo, "Que lugar você ocupa aqui?". As respostas foram gravadas e o artista criou, e
encaminhou por e-mail ao freqüentador, uma linha melódica para cada resposta. Estas
“respostas-composições” tiveram um duplo objetivo: retribuir de maneira afetiva ao público
em contrapartida à sua contribuição no mapeamento de ocupação do espaço; ao mesmo
tempo que compuseram um banco de dados para desdobramentos de outras proposições
da DACE a partir do projeto CC, Seu Próprio e outros projetos que são interligados e que
compõem a política de ação da Divisão de Ação Cultural e Educativa.
De forma inversa, As Meninas do Conto, iniciaram sua ações com o Cutuque Sua
Memória, solicitando via twitter frases de até 140 caracteres aos frequentadores do CCSP e
usuários das redes sociais relembrando suas histórias afetivas com o espaço. Os tweets
transformaram-se em microcontos e foram narrados ao pé do ouvido do público em diversos
espaços da instituição. Destacamos um tweet recebido: “Heitor Nunes (@hectoribus) - Na
fila p/ ver "Vestido de Noiva" o cara me pergunta: - É desfile? - É teatro. - Mas é drama ou
comédia? - É Nelson Rodrigues...#seuproprio”4.
Para não nos estendermos muito, outro exemplo significante do projeto foi a ação
com os dançarinos. Depois de anos treinando seus passos de break em frente ao mural de
programação, os bboys e bgirls já conquistaram seu espaço no cotidiano dos
frequentadores do CCSP. O projeto não poderia ignorar tal realidade e afetividade, assim foi
criada a Ação Break. Camisas foram impressas com a programação estampada nas costas
de bboys e bgirls e todos os cartazes foram retirados da parede. Naquele momento da ação,
os dançarinos eram a programação do CCSP. O resultado foi a legitimação da ocupação por
parte da instituição, gerando um sentido de pertencimento do grupo de dançarinos, tendo
como resíduo um vídeo postado no youtube.
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http://www.centrocultural.sp.gov.br/memorias/index.html
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Pertencimento, reconhecimento e identidade no e do espaço público
Os textos e reflexões de Jacques Rancière (2007), Jorge Larrosa (2004) e Isaura
Botelho (2011) têm acompanhado o projeto ao longo da experiência, propondo a intersecção
entre: educação, mediação cultural e políticas públicas de acesso à produção e consumo de
cultura.
O projeto nasceu em primeira instância da observação e experiência empírica da
equipe da DACE que percebia e entendia que o público, independente da programação
proposta pela Divisão de Curadoria e Programação do CCSP, ocupava os espaços e
produzia suas próprias programações.
Desde o princípio a equipe entendeu que não seria um projeto para “facilitar” o
acesso do público à produção artística e cultural proposta pela curadoria, ou aos acervos do
CCSP, mas sim, colocar lado a lado o interesse dos freqüentadores com os interesses dos
curadores das diversas linguagens e, com a mediação de uma ação poética de algum artista
– ação esta, focada no ato de criação e não no de transmissão – refletir o acervo, as obras
distribuídas pelos espaços do CCSP, as exposições, a filmografia exibida na sala de
cinema, os espetáculos de dança e teatro apresentados nos espaços cênicos, o uso das
bibliotecas e sobretudo, a negociação do sentido de pertencimento, reconhecimento e
identidade quando do uso dos equipamentos, do contato com a produção cultural e artística
e das relações de convivência dentro do espaço público.
Destas constatações, deu-se a necessidade do diálogo com os teóricos citados e de
suas contribuições nos campos específicos de suas produções, além, da necessidade de
produzir, a partir de um ciclo de debates, intitulado, A Obediência e a Desobediência no
Espaço Público, um material textual de referência para darmos continuidade ao processo de
aprofundamento teórico acerca das ações realizadas em vistas de potencializarmos ainda
mais as ações. Convidamos a professora doutora Luiza Helena da Silva Christov, do
Instituto de Artes da UNESP, para produzir ensaios textuais a partir das discussões
realizadas em torno da temática da negociação de regras, limites e convivência no espaço
público. Foram produzidos quatro ensaios que estão disponíveis para consulta do público
em geral por meio do site da instituição (www.centrocultural.sp.gov.br), na página do
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educativo. No primeiro ensaio, Luiza insta-nos a pensarmos as negociações num espaço
que ambiciona ser pertencido, reconhecido e identitário para o público que o ocupa:
A proposição de encontros para pensar/falar sobre obediência e
desobediência e com isso fazer do Centro Cultural São Paulo algo que é
meu/ seu próprio traz nela mesma alguns saberes. O fato de se propor
encontro de escuta e fala traz em si o saber de que por meio do encontro,
dos encontrões, dos esbarrões, do estar entre outros corpos e vozes é que
os corpos podem mudar de lugar para ver mais lugares, para conquistar
novas perspectivas, para sair das cavernas e buscar mais experiência,
mais pensamentos e novas palavras, em suma: mais vida e mais histórias
5
sobre ela .
Alcance do projeto, reflexão final e abertura para recomeços
O projeto está tendo grande visibilidade e adesão do público, pois suas ações
acontecem em espaços de convívio e passagem da instituição, por um período prolongado
por meio de ações pontuais, destinado a diversas faixas etárias. Além disto, o projeto
também utiliza ferramentas comunicativas por meio da internet e das redes sociais.
Depois deste quase um ano e meio de realização do projeto, a DACE compreendeu
que o aspecto mais potente foi o de considerar a diversidade de públicos e explicitar, para
poder diminuir as distâncias, as barreiras simbólicas que separam produtores de
consumidores de cultura. Algo que não estava dado desde o princípio do projeto curatorial,
mas que se elucidou a partir da transposição do projeto para a sua realização.
O fato de se propor que o público faça o Centro Cultural dele próprio traz
em si mesmo o saber de que encontrar outros corpos, sair do lugar, ver de
outro canto é processo que move o corpo, envolve o corpo, remove o
6
corpo, exige ver com esforços de quem está fora do corpo .
O projeto produziu juntamente com seus participantes vários “produtos culturais”
como mapas (ver um exemplo na figura ao final do artigo), desenhos, vídeos, relatos
5
CHRISTOV, L. H. S. Centro Cultural, Seu Próprio: O ciclo de debates sobre obediência e desobediência
no espaço público. Disponível em: <http://www.centrocultural.sp.gov.br/pdfs/seuproprio_ensaio1.pdf>. Acesso
em: 25 set. 2012, 16:38.
6
Idem.
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sonoros, uma horta, depoimentos e textos reflexivos. O total de público presente e
mensurável foi o de 8.363 pessoas, mas grande parte deste público não foi contabilizado já
que a maioria das ações acontecem onde circulam os freqüentadores da instituição, sem
haver nenhum tipo de inscrição ou contagem de público.
O projeto também abrange o público que acessa o site do Centro Cultural São Paulo
por meio da página do Projeto, no link do Educativo, onde está toda a documentação
desenvolvida nas ações. (http://www.ccsplab.org/educativo/). O total de acessos no site do
projeto foi de 2.349. Todo o produto desenvolvido fará parte do acervo no Arquivo
Multimeios/DADOC do CCSP, disponível para pesquisa.
Entende-se por política pública toda e qualquer ação que vise a democratização dos
bens culturais tanto àquilo que tange à produção quanto àquilo que diz respeito ao acesso e
consumo. Produção, acessibilidade e consumo foram e continuam a serem pensadas no
projeto Centro Cultural, Seu Próprio, questionando a unidirecionalidade daqueles que
propõem, portanto aqueles que miram o alvo, daqueles que serão atingidos, aqueles que
comumente são chamados de público alvo.
Tudo para pensar, propor e atuar junto aos públicos de maneira horizontal,
provocando o estatuto de legitimidade de escolha de programação tanto da própria DACE,
quanto da Curadoria e da própria instituição como um todo. Tendo como premissa que os
públicos vivem suas volições nos diversos espaços do CCSP, pertencendo, reconhecendo e
identificando-se com o espaço público e com a sua complexidade, já que o espaço público
em essência é justamente aquele que é meu e que ao mesmo tempo é de todos. Demanda
cotidianamente negociações de sentidos, sem perder de vista a condição de igualdade de
direitos, deveres e formas de pensar, sentir e dizer as experiências nele vividas.
O conceito de mediação sem dúvida sofre assim um nítido deslocamento.
Se na origem (...) o conceito diz respeito à apropriação das obras pelo
público, nesse momento ele passa a ocupar um espaço outro, e a se
7
configurar em um âmbito que vai além da leitura da obra .
7
PUPO, M. L. S. B. Mediação artística, uma tessitura em processo. Disponível em: <
http://www.ceart.udesc.br/ppgt/urdimento/2011/arquivos_urdimento_17/113_marialucia_urd17.pdf>. Acesso em:
27 set. 2012, 17:27.
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Folder do projeto produzido pela artista Tamara Andrade de Souza com a participação do público e
pela equipe da DACE. Projeto Gráfico Adriane Bertini (Novembro de 2011).
Referências
BOTELHO, Isaura. Os públicos da cultura: desafios para as políticas culturais. In: Revista
Observatório Itaú Cultural: OIC – N. 12 (maio/ago. 2011). – São Paulo: Itaú Cultural, 2011.
CHRISTOV, L. H. S. Centro Cultural, Seu Próprio: O ciclo de debates sobre obediência e
desobediência
no
espaço
público.
Disponível
em:
<http://www.centrocultural.sp.gov.br/pdfs/seuproprio_ensaio1.pdf>. Acesso em: 25 set.
2012, 16:38.
LARROSA, Jorge. Linguagem e Educação depois de Babel. Belo Horizonte: Autêntica,
2004.
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PUPO, M. L. S. B. Mediação artística, uma tessitura em processo. Disponível em: <
http://www.ceart.udesc.br/ppgt/urdimento/2011/arquivos_urdimento_17/113_marialucia_urd1
7.pdf>. Acesso em: 27 set. 2012, 17:27.
RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante – cinco lições para a emancipação intelectual.
Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
Alexandra Ribas Itacarambi
Especialista em Gestão de Processos Comunicacionais pela ECA-USP e graduada pela The
Juilliard School (NY-EUA). Diretora da Divisão de Ação Cultural e Educativa do Centro
Cultural São Paulo.
Giuliano Tierno de Siqueira
Doutorando e mestre em Artes pelo Instituto de Artes da UNESP. Curador educativo do
Centro Cultural São Paulo. Coordenador e professor do curso de pós-graduação lato sensu
A Arte de Contar Histórias – Abordagens poética, literária e performática.
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