A REVOLUÇÃO DOS
MARINHEIROS
1910
José Miguel Arias Neto
Prof.História Contemporânea
Universidade Estadual de Londrina
 Lutas sociais por direitos no Brasil
 Movimento dos Marinheiros de 1910
 Interpretações
Militares: insubordinação
Intelectuais, etc.: revolta popular;
 Mesmo quadro explicativo:
a) castigos físicos, aplicados com a chibata;
b) permanência da escravidão
 Movimento:
22 a 26 de novembro de 1910:
marinheiros
9 e 10 de dezembro:
oficiais inferiores e praças do Batalhão Naval
(fuzileiros)
24 de dezembro: Ilha das Cobras
25 de dezembro: Navio Satélite
Documento dos marinheiros

Rio de Janeiro, 22 de novembro de 1910. Ilmo. e Exmo. Sr. presidente da
República Brasileira, Cumpre-nos, comunicar a V.Excia. como Chefe da Nação
Brasileira: Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podendo
mais suportar a escravidão na Marinha Brasileira, a falta de proteção que a
Pátria nos dá; e até então não nos chegou; rompemos o negro véu, que nos
cobria aos olhos do patriótico e enganado povo .Achando-se todos os navios
em nosso poder, tendo a seu bordo prisioneiros todos os Oficiais, os quais, tem
sido os causadores da Marinha Brasileira não ser grandiosa, porque durante
vinte anos de República ainda não foi bastante para tratar-nos como cidadãos
fardados em defesa da Pátria, mandamos esta honrada mensagem para que
V. Excia. faça os Marinheiros Brasileiros possuirmos os direitos sagrados que as
leis da República nos facilita, acabando com a desordem e nos dando outros
gozos que venham engrandecer a Marinha Brasileira; bem assim como: retirar
os oficiais incompetentes e indignos de servir a Nação Brasileira. Reformar o
Código Imoral e Vergonhoso que nos rege, a fim de que desapareça a chibata, o
bolo, e outros castigos semelhantes; aumentar o soldo pelos últimos planos do
ilustre Senador José Carlos de Carvalho, educar os marinheiros que não tem
competência para vestir a orgulhosa farda, mandar por em vigor a tabela de
serviço diário, que a acompanha. Tem V.Excia. o prazo de 12 horas, para
mandar-nos a resposta satisfatória, sob pena de ver a Pátria aniquilada. Bordo
do Encouraçado São Paulo, em 22 de novembro de 1910. Nota: Não poderá ser
interrompida a ida e volta do mensageiro.- Marinheiros.“
 Documento
enfeixa problemas bem
mais
complexos
do
que
as
interpretações até então apontavam:
 Reivindicação de direitos republicanos
Reivindicação de direitos militares
 Apresentavam-se então as questões da
formação dos quadros militares no antigo
regime, ou seja, no regime escravista e o
que havia, se é que havia mudado algo na
República.

 Tentativa
de
compreensão
de
formação / estruturação da Marinha,
uma vez que a historiografia militar
não
fornecia
elementos
que
permitissem traçar um quadro, quer
de mudanças, quer de continuidades
entre a Monarquia e a República.
 Assim,vou
começar minha exposição
especifica sobre o tema fazendo uma releitura do Brasil Imperial a partir da
problemática que pude construir a partir
dos próprios termos do documento.
 Império
Momento
da independência não há
forças armadas nacionais: Exército e
Marinha
Há milícias e forças navais portuguesas.
 No que diz respeito à Marinha:
 Confisco de navios
 Contratação de mercenários
 Recrutamento
forçado:
índios,
escravos
negros,
captura
de
marinheiros de navios de comércio
 Guerras de Independência/ Cisplatina/
Revoltas do período regencial
 Revolta dos irlandeses - 1828
 Deserção é o maior problema
 Regimento Provisional/ Artigos de Guerra :
reformas
pombalinas,
modernizantes,
incorpora tradição naval da chibata
 Brasil esta tradição se inverte: castigo – ritual
de suplício – vingança do Rei – delegado aos
comandantes dos navios
 1822 – 1840, basicamente o mesmo quadro,
devido à esta instabilidade do regime.
 A partir dos anos de 1840 esta
situação passa por algumas
mudanças:
 Reformas





no
sentido
de
institucionalização da força
Regulamentação dos corpos de oficiais e
marinheiros : Imperiais Marinheiros
20 anos serviço militar obrigatório
Recrutamento de cidadãos de “segunda
classe”, isto é, homens livres pobres
Rejeição ao negro
Legislação portuguesa se mantém
 Guerra
com o Paraguai vai provocar
emergência de movimento reformista mas
que não atenta para a base do sistema, isto
é, para a situação dos marinheiros
 Petição de 1867
 República
 Fim do recrutamento forçado
 Constituição de 1891: voluntariado; sorteio militar
 Nova legislação penal: punições segundo recorte
classista/ Companhia Correcional
 Abolição dos castigos corporais; 9 anos de
serviço militar obrigatório
 Revolta da Armada (1895-6)
 Pessoal
 Material
 Revolta S. Silvino
 Corrida armamentista mundial
 Europa , EUA, Japão, China
 América do Sul: Argentina e Chile
 Novas
tecnologias:
eletricidade,
radiotelegrafia
 Navios de ferro e aço: couraça e artilharia
 Industrialização
 1902 – Regeneração Nacional
 Estabilização econômica
 Rio de Janeiro/ capital da República: Pereira







Passos, Oswaldo Cruz
Vacinação obrigatória/ saneamento
Novas forças armadas
Planos Navais 1904; 1906
Dreadnoughts: Minas, São Paulo
Navios fábricas: especialistas
Bases navais; escolas de formação
Salários
 Esta modernização tecnológica que impôs a
necessidade da existência de quadros
especialistas, implicariam em transformações
institucionais que não ocorreram. Assim,
dentro do programa naval de 1904,
modificado em 1906, só haveria formação
especializada
caso
o
marinheiro
permanecesse nos quadros da Marinha por
um período entre 20 a 25 anos. Isto gerou a
inexistência de quadros para operar os novos
navios:
Efetivos do Corpo de Marinheiros Nacionais - 1909
Especial.
Completo
Efetivo
Ausentes
Excede
Falta
Artífices
118
-
-
-
118
Mineir. Merg.
118
-
-
-
118
Artilheiros
1180
30
1
-
1149
Torpedistas
590
70
4
-
516
Timoneiros
236
28
-
-
208
Sinal.Merg.
118
5
-
-
113
Serv. Acess.
170
6
-
-
164
Taifeiros
118
-
-
-
118
Sem Especial.
1770
3203
1054
2487
-
Músicos
236
183
1
-
52
Fluviais
236
107
-
-
129
-
-
-
36
-
4890
3632
1060
2523
2685
Correcional
Total
 1908 – Lei do sorteio militar: reação nacional
 Na ausência de dados mais massivos, seriais, eu
pude perceber pela literatura que trata do
movimento dos marinheiros – memórias, crônicas,
etc., que há um recrudescimento dos castigos
corporais na Marinha, isto testemunhado pelos
próprios oficiais de marinha.
 Bem, constituído este quadro mais ou menos geral
eu vou encaminhando para minhas conclusões,
retomando alguns dos termos do manifesto dos
marinheiros.
Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos
Escravidão
rompemos o negro véu, que nos cobria aos olhos do
patriótico e enganado povo
porque durante vinte anos de República ainda não foi
bastante para tratar-nos como cidadãos fardados
em defesa da Pátria
direitos sagrados que as leis da República nos
facilita, acabando com a desordem e nos
dando outros gozos que venham engrandecer a
Marinha Brasileira
bem assim como: retirar os oficiais incompetentes
e indignos de servir a Nação Brasileira.
Reformar o Código Imoral e Vergonhoso que
nos rege, a fim de que desapareça a chibata, o
bolo, e outros castigos semelhantes; aumentar
o soldo ...
educar os marinheiros que não tem competência
para vestir a orgulhosa farda, mandar por em
vigor a tabela de serviço diário, que a
acompanha.
 onde o "pathos da novidade se fizer presente, e
onde a novidade estiver relacionada com a
idéia de liberdade, é que temos o direito de
falar em revolução” Hannah Arendt
 1910: ". A revolução se consolidaria, segundo
a autora, com a criação de uma Constituição.
O que dizer de um movimento que
manifestava o desejo de consolidação da
Constituição? Podemos supor, portanto, que
o movimento de 1910 é um momento da
longa e incompleta revolução republicana
brasileira.
Acima: Liderança do
Encouraçado S.Paulo
(Avelino e Manoel)
Ao lado:
Liderença do
Encouraçado Bahia
(Francisco Dias Martins)
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A Revolução dos Marinheiros - 1910