CANDIDATO E CONCURSOS – SUPERANDO OBSTÁCULOS1
Douglas Phillips Freitas2
Uma longa viagem começa com um único passo, como leciona o conhecido
provérbio chinês.
Todo candidato quando se prepara para um concurso, inicia uma batalha, interna
e externa, onde seu corpo quer ficar usufruindo os prazeres da inércia e sua mente, por
vezes, apresenta-se contraditória, ora querendo estudar, ora querendo descansar.
Embora seja normal tal dilema, o problema reside basicamente no fato de que o
estudante almeja os benefícios que obterá com a aprovação, porém, não reflete as
auguras que sofrerá para alcançar o seu objetivo.
A pressão trazida pela obrigação do sucesso sempre é esmagadora, um
verdadeiro inibidor no processo de estudo e aprendizagem. Embora a família, amigos e
o próprio estudante exijam a aprovação ou mesmo, este, crie expectativas pessoais e
profissionais sobre tal êxito, a frustração é proporcional ao tamanho da carga emocional
imposta.
Esta roda vida, decorrente da ansiedade/frustração/maior ansiedade,
principalmente quando se é reprovado no primeiro Exame de Ordem, ou em
determinado concurso, agrava ainda mais a situação.
É necessário dar o primeiro passo...
Decidir aproveitar estas dificuldades em prol do êxito é a primeira tarefa. Não é
o resultado do concurso que deve ficar na mente do estudante, mas o concurso em si.
O estudante, quando candidato, deve zerar suas emoções. Obviamente, não se
pode tirar a pressão emocional e jogá-la no lixo como algo indesejável, já que o ser
humano é uma criatura, essencialmente, de emoções.
Então, como proceder?
A resposta é simples, mas ao mesmo tempo, árdua. Nesta dicotomia, buscar-se-á
explicar, de forma sucinta o diagnóstico desta equação.
A criação de um projeto de estudo propiciará ao candidato, um melhor
aproveitamento de seu potencial, aperfeiçoando suas deficiências e acima de tudo,
dando-lhe maior segurança, consequentemente, abrandando suas emoções a um nível
produtivo.
É importante lembrar, que ao dizer que se deve “zerar as emoções”, não é buscar
o impossível, mas, retirar todas as “emoções improdutivas”, como o medo, angústia,
ansiedade, e deixar somente as “emoções produtivas”, como a confiança!
Como fora dito, somente é possível este resultado, com um projeto de estudo
eficaz, conforme as orientações que abaixo seguem:
1. PLANEJAMENTO DE ESTUDO
O candidato deve estar motivado em estudar.
1
Texto do livro: Novo Manual do Aprovado. 2ª edição. Florianópolis: VOXLEGEM, 2007.
Republicado na revista CONSULEX: PRÁTICA JURÍDICA. Brasília: Consulex, dez-2007.
2
Advogado. Especialista em Psicopedagogia pela UNIVILLE/ISEPG. Professor de Direito de graduação
e pós-graduação pelo CESUSC, FUCAP, INPG e VOXLEGEM. Autor de diversos livros e artigos
jurídicos. Organizador dos livros: Curso de Direito de Família (2005) e Código Civil – anotado por
artigos (2003), co-autor do livro: Compêndio Doutrinário de Direito (2004), todos pela Editora da
VOXLEGEM. Co-autor dos livros: Perícia Social (2002), pela Editora da OAB/SC e Direito e Processo
(2007), pela Editora Conceito.
Douglas Phillips Freitas
A motivação, outrossim, não pode estar fundada nas conseqüências que a
aprovação irá trazer ao candidato, pois se trata de terreno perigoso e que gera ansiedade,
frustração e todos os sentimentos “improdutivos” que resultam no fracasso.
É necessário se motivar sobre alicerces sólidos, como no crescimento pessoal,
pois todo o resto é acrescido. O candidato ciente disto irá estudar visando algo maior,
um resultado final que realmente fará a diferença, superior ao seu desempenho neste ou
naquele concurso.
Uma vez firmado uma meta que valerá para toda uma vida, afinal, no Direito,
uma área em constante evolução, não é possível estudar somente por um período, é
preciso um constante empenho em busca de atualização.
Com tal compromisso, sem dúvida, neste processo, haverá muitos sucessos.
O candidato, compromissado com um estudo fundado em si e não no concurso,
terá sem dúvidas sucesso em suas empreitadas, e caso não o tiver, numa ou noutra, sem
dúvidas, não irá esmorecer, mas, continuará sua jornada, cada vez mais fortalecido.
2. TEMPO DE ESTUDO
Devidamente motivado, o candidato deve buscar a concretização de seu objetivo.
Autodisciplina e organização de seu tempo são requisitos essenciais para o sucesso.
Nesta obra haverá lições de como realizar as etapas do concurso, porém, neste
momento é necessário discutir o modo do estudo para tais etapas.
O candidato deve organizar-se para a batalha que irá enfrentar. Analisará a prova
e o conteúdo exigido nesta e levantará todo o material necessário para cumprir com o
cronograma que irá formular.
Todo o ser humano é único, físico e psicologicamente falando. Cada um tem um
período de dispersão que deve ser respeitado. Uns estudam duas, três horas, até cinco
horas direto, outros, após dez minutos lendo, ficam com sono ou começam a pensar na
namorada, no noivo, naquilo que fará a noite ou mesmo, “em como fica pensando em
tudo, menos em estudar!”.
Isso é normal. Há diferenças entre os sujeitos.
A necessidade de respeitar o tempo de dispersão de acordo com o biotipo é
crucial para a definição de um tempo ideal de estudo.
Descoberto o tempo que se consegue estudar, o candidato irá buscar otimizar
este tempo, levantando materiais e buscando excluir os fatores que minam seu tempo de
concentração, principalmente ligados ao ambiente de estudo, como televisão, telefone,
etc (porém, esta questão será abordada mais adiante).
Feito estas adaptações, o candidato irá estudar de acordo com o tempo que
consegue ou que lhe é permitido, fazendo sempre, breves intervalos quando seu tempo
de dispersão chegar.
A qualidade do tempo estudado é muito superior à quantidade de tempo
dedicado ao estudo.
IMPORTANTE:
A falta de tempo para estudar não pode ser desculpa, pois como foi discutido: a
qualidade do estudo é superior a quantidade. O motivo da falta de tempo, geralmente
está ligado a “falta de prioridade, organização e multiplicidade de responsabilidades”.3
É equivocada a idéia de que para estudar seja necessária toda uma estrutura
própria para esta tarefa. Os procedimentos que foram discutidos acima servem para
potencializar e organizar a tarefa. Estudos “informais” são extremamente válidos, como
3
DOUGLAS, Willian. Como passar em provas e concursos. Rio de Janeiro: Impetus. p. 201.
Manual do Aprovado
Candidato e concursos – superando obstáculos
leitura de resumos na fila do banco, numa viagem, enquanto espera ser atendido no
fórum ou mesmo, no banheiro.
O estudo para ser potencializado, deve respeitar os limites individuais e a
qualidade do mesmo.
Flexibilização é a palavra chave para aqueles que não possuem tempo!
3. TÉCNICAS DE ESTUDO – APLICANDO O 5 S
Há várias formas e técnicas de estudos. Cada indivíduo deve criar a sua. Embora
haja alguns conselhos para otimizar este processo, a máxima ainda é que cada individuo
é único!
Ocorre que algumas regras não devem ser flexibilizadas ou mesmo
desrespeitadas para um estudo de qualidade. Muitas empresas adotam a teoria japonesa
do “5 S” para “arrumar sua casa”. A teoria consiste em 5 (cinco) sensos: utilidade,
organização, limpeza, higiene e autodisciplina.
Adaptado ao estudo, a aplicação do “5 S” deve ser da seguinte forma:
SENSO DE UTILIDADE Estude somente o que é útil.
SENSO DE ORGANIZAÇÃO Faça um levantamento “do que” e “como”
estudar. Planejamento é essencial.
SENSO DE LIMPEZA Haverá muito “lixo” que deverá ser
descartado após o levantamento do que é
útil e o que será utilizado.
SENSO DE HIGIENE Mantenha sua limpeza. Não permita que o
“lixo” e o material que não será utilizado,
volte.
SENSO DE AUTODISCIPLINA Supere aquilo que te atrapalha. “Somos o
que fazemos, mas somos, principalmente,
o que fazemos para mudar o que somos.”
Eduardo Galeano.
4. VENCENDO A SI MESMO
Diversas pesquisas apontam que quase 50% das pessoas sofrem de distúrbios de
ansiedade em provas de alta competitividade, tais como vestibular, Exame de Ordem ou
concursos públicos.4
Resumidamente, o ser humano em momento de estresse, sofre um processo
químico decorrente do aumento excessivo da adrenalina, que por sua vez, inibe a
acetilcolina (uma substância que interliga as sinapses que fazem as conexões mentais),
resultando no conhecido “branco”.
Ao contrário do que se pensa, o estresse não é necessariamente um vilão.
Sabendo lidar com ele, o candidato pode reverter à situação em seu benefício, fugindo
da possibilidade de ter um “branco” e indo para uma seara mais produtiva, o da
acuidade mental.
Aquele “frio na barriga” que é sentido antes de realizar uma prova importante,
sem dúvida é devido ao estresse, porém, aquele sentimento na verdade é um sintoma de
que o corpo está acompanhando a reorganização cognitiva que está em processo no
cérebro do candidato. Isto permite que haja uma maior acuidade física e mental para
realização do objetivo, dando maior concentração para o exercício da tarefa.
No intuito de valer-se desse lado benéfico do estresse, o candidato deve se sentir
preparado, por isto a importância de um planejamento e execução de um bom sistema
4
FRAIMAN, Leo. Exame de Ordem. São Paulo: Editora Minuano. p. 4.
Douglas Phillips Freitas
de estudo, conforme já discutido, pois dá segurança na realização da avaliação.
Ademais, alguns cuidados, principalmente durante a prova devem ser seguidos: 5
Antes de iniciar a prova, o candidato deve respirar fundo, buscar relaxar. Uma
dica é fechar os olhos e mentalizar sua tarefa e o êxito que obterá, pois assim o
“cérebro tenderá a buscar esta referência para a ação”.
O candidato deve lembrar que planejou e estudou para este momento, embora
haja enunciados e problemas das mais diversas formas, todo conteúdo foi
estudado, pelo menos, o problema apresentado já foi lido com certeza.
Ter um planejamento para execução da prova (conforme será discutido nos
capítulos “como realizar a prova objetiva” e “como realizar a prova prática”),
permitirá uma maior segurança.
Não se deve ficar olhando para os lados no momento da realização da prova,
para ver como os outros estão se saindo ou quem terminará o exame mais cedo.
Cada um deve tomar conta de sua avaliação, pois somente este poderá executála, por isto, é esforço inútil ficar se preocupando com os outros.
A cada período de tempo (o mais indicado é a cada 30 minutos), o candidato
deve fazer alguns pequenos alongamentos, como mexer o pescoço, espreguiçar
um pouco, levantar o ombro, segurar e depois soltá-lo, além de, se for possível,
ir ao banheiro ou beber um pouco de água quando necessitar. Fazendo isto, o
candidato manda um sinal para seu cérebro que o corpo está relaxado e em
perfeito estado de funcionamento, assim, o cérebro continuará com seu foco e
concentração.
IMPORTANTE: “Ter alguma atividade paralela, como artes, esportes, religião
ou música, algo que você faça por prazer pode fazer „aquela diferença‟ na „hora H‟.
Quando fazemos algo que gostamos, distraímos nossa mente dos focos de estresse,
equilibrando a química mental... BITOLA NÃO APROVA NINGUÉM. MEXA
SEU CORPO!”.
5
Conforme orientação do psicoterapeuta Leo Fraiman. Mestre e especialista em psicologia
escolar pela USP.
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