1
Pró-Reitoria de Graduação (PRG)
Unidade de Apoio Didático Educacional (UADE)
Coordenação de Planejamento Educacional (CPE)
Disciplina de Antropologia da Religião
A UMBANDA NA REGIÃO INTEGRADA DE DESENVOLVIMENTO DO DISTRITO FEDERAL E ENTORNO (RIDE)
Estudantes: Alan Gomes dos Anjos
Eduardo Pereira
Elisângela Garcia Ferreira
Lays Rodrigues Monteiro
Maria Lúcia dos Santos de Souza
Sandro Araújo de Lima
Brasília - DF
2011
2
ALAN GOMES DOS ANJOS
EDUARDO PEREIRA
ELISÂNGELA GARCIA FERREIRA
LAYS RODRIGUES MONTEIRO
MARIA LÚCIA DOS SANTOS DE SOUZA
SANDRO DE LIMA ARAÚJO
A Umbanda na Região Integrada de Desenvolvimento
do Distrito Federal e Entorno
Projeto de Pesquisa apresentado à disciplina de
Antropologia da Religião, através da PróReitoria de Graduação (PRG), da Unidade de
Apoio Didático Educacional (UADE) e da
Coordenação de Planejamento Educacional
(CPE) da Universidade Católica de Brasília,
(UCB) Campos Taguatinga, como requisito
parcial para obtenção de nota semestral no
segundo semestre de 2011.
Professor: Dro. José Lisboa Moreira de
Oliveira.
Turma: NAG
Brasília,
2011
3
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 4
2 OBJETIVOS .......................................................................................................................... 5
2.1 Objetivo Geral ................................................................................................................... 5
2.2 Objetivos Específicos........................................................................................................ 5
2.3 Justificativa ....................................................................................................................... 5
2.4 Metodologia ...................................................................................................................... 5
2.5 Estruturas do Trabalho ...................................................................................................... 5
3 UM BREVE RELATO SOBRE SEU PROCESSO HISTÓRICO NO BRASIL ............. 6
4 A CHEGADA DA UMBANDA NO DISTRITO FEDERAL ............................................ 8
4.1 O Resgate Histórico e Artístico da Umbanda na Região Integrada de Desenvolvimento
do Distrito Federal e Entorno .................................................................................................. 9
4.2 A Descrição dos Mediadores da Umbanda, seus Elementos Centrais, Principais rituais e
Ritos na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno ................... 16
4.3 Principais Espaços Sagrados e Festas dos Terreiros de Umbanda na Região Integrada de
Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno .................................................................. 19
5 CONCLUSÃO...................................................................................................................... 21
6 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................. 22
ANEXOS ................................................................................................................................. 23
4
1 INTRODUÇÃO
O presente Projeto de Pesquisa analisará a Umbanda na Região Integrada de
Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE), escolhido a partir da análise
documental de entrevistas, artigos, depoimentos, pesquisa de campo e demais referenciais
teóricos sobre a Umbanda no Distrito Federal e Entorno que trouxe em sua essência, a posição
do Estado e das pessoas envolvidas com a referida religião sobre a importância da
manutenção, resgate e valorização do patrimônio imaterial brasileiro, cujas características
gerais giram em torno da historia de escravização de negros no Brasil e fazendo vir à tona a
descoberta de inúmeras culturas criadas por estes, contribuindo de certa forma para a quebra
de visões fundamentalistas e positivistas do que é informado e transformado para a sociedade
como verdade sobre determinadas religiões ou crenças.
Desde a fundação de Brasília, um enorme contingente de pessoas das classes menos
favorecidas, da classe média, de grupos políticos e de intelectuais, vindos de todo o Brasil,
vieram para construir a nova Capital da República e dar a configuração inicial do que hoje em
dia é o Distrito Federal e possivelmente o entorno. (IPHAN, DF, 2009).
Para atender a demanda ecumênica1 que se instalava, aos poucos houve um grande
afluxo de religiões e cultos, sendo considerados dentre eles a presença de grupos especiais de
brasileiros que para cá vieram, independente do auxilio estatal para fundar as casas espíritas,
terreiros de Candomblé, Umbanda, Quimbanda nas cidades da Região Integrada de
Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE), que devido à precariedade do início,
fez com que esses grupos se instalassem inicialmente em residências (casas, apartamentos,
chácaras ou terrenos urbanos), tanto nas Regiões Administrativas como no entorno do Distrito
Federal. (IPHAN, DF, 2009).
Este Projeto de Pesquisa buscará de forma simples e inovadora trazer uma reflexão a
cerca da Umbanda na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno
(RIDE), relacionando esta ao descaso do Estado e de boa parte da sociedade com
determinadas religiões e culturas brasileiras, a chegada da Umbanda no Distrito Federal, a
descrição atual dos principais símbolos utilizados, seus elementos centrais, mediadores,
rituais, festas, templos e localização atual dos templos com o objetivo de contribuir para
maior valorização de nossas culturas e um ambiente mais humano e social.
1
S.n. A definição eclesiástica, mais abrangente, diz que é a aproximação, a cooperação, a busca fraterna da
superação das divisões entre as diferentes igrejas cristãs. IN: http://www.dicionarioinformal.com.br; acessado
em 19/11/2011 ás 07:25: 35;
5
2.0 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Analisar A Umbanda na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e
Entorno (RIDE).
2.2 Objetivos Específicos
Relacionar o descaso do Estado e de boa parte da sociedade com determinadas
religiões e culturas brasileiras;
A chegada da Umbanda no Distrito Federal, sua descrição atual e os principais
símbolos utilizados;
Os elementos centrais, mediadores, rituais, festas, templos e localização atual dos
templos.
2.3 Justificativa
A escolha do tema A Umbanda na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito
Federal e Entorno (RIDE), surgiu por meio da análise de discussões, pesquisas de campo e
referenciais teóricos sobre a Umbanda no Distrito Federal, tendo como relevância social, levar
a sociedade, em especial, os estudantes da disciplina de antropologia da religião da
Universidade Católica de Brasília (UCB) a uma reflexão sobre a importância da preservação
imaterial e artística da cultura brasileira.
2.4 Metodologia
A metodologia utilizada para a concretização deste Projeto de Pesquisa foi à realização
de uma análise e revisão de literatura, associada à pesquisa de campo junto a Federação de
Umbanda e Candomblé do Distrito Federal e Entorno e à Superintendência Regional do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (IPHAN) no Distrito Federal, permitindo desta
forma, uma análise bibliográfica e documental mais ampla.
2.5 Estruturas do Trabalho
A presente pesquisa buscou apresentar A Umbanda na Região Integrada de
Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE), e para tanto, foi dividido em quatro
partes, além da parte introdutória que é o primeiro capítulo. Na segunda delas, foram
apresentados os objetivos da pesquisa, sua metodologia, justificativa e estrutura. Já o terceiro
capítulo, foi abordado seu processo histórico no brasil. O quarto capítulo a chegada da
Umbanda no Distrito Federal, o resgate histórico e artístico da Umbanda na região integrada
de desenvolvimento do Distrito Federal e entorno (RIDE), os terreiros inventariados, não
inventariados e visitados, os símbolos, elementos de magia utilizados, sincretismo e tabus
presentes, o panteão africano e umbandista, a descrição dos mediadores da umbanda, seus
elementos centrais, principais rituais e ritos na Região Integrada de Desenvolvimento do
Distrito Federal e Entorno (RIDE), principais terreiros e festas e por fim, o quinto capítulo
que trouxe as considerações finais acerca da pesquisa realizada.
6
3 UM BREVE RELATO SOBRE SEU PROCESSO HISTÓRICO NO BRASIL
A Umbanda aparece gradualmente no Brasil em 1889 através da vibração de Ogum2
(O Guerreiro Cósmico Pacificador), vindo a surgir posteriormente o Caboclo Curuguçu (O
Grito do Guardião), que tinha como objetivo preparar a chegada do Caboclo das Sete
Encruzilhadas. No final do século XX, no estado do Rio de Janeiro, existiram vários
seguimentos de cultos que indicavam explicitamente a origem africana, muito embora já bem
distantes das crenças trazidas pelos escravos. (SANTOS, 2006).
Toda a magia dos velhos africanos, que fora transmitida oralmente, por intermédios
das gerações, fora interpretado e mesclado com as feitiçarias de origem Portuguesa. Os
feitiços sempre existiram através de rezas e superstições, a essência do feiticismo negro, as
crenças nativas, a atividade remunerada do feiticeiro, a prática do trabalho maléfico para
prejudicar terceiros, como também o sacrifício de animais e aves para serem utilizados como
supostos objetos de satisfação de elementos do chamado baixo astral3. (SANTOS, 2006).
Essas práticas tinham por objetivo aumentar a renda do feiticeiro ou derrotar os que
não se sujeitassem perante os seus poderes. Não obstante, os conselheiros do astral superior4,
estavam observando o que se passava e organizavam um movimento para combater a magia
negativa que se propagava nesta época, no intuito de atingir, de início, as classes humildes,
que eram os mais atingidos pelas influências de superstições5. (SANTOS, 2006).
A origem da Umbanda esta também contida nas filosofias orientais, que são fonte de
todos os cultos do mundo civilizado, reunindo às práticas dos conceitos e crenças do índio,
branco e negro durante seu processo de construção de identidade. Podemos considerar que a
mesma surgiu sobre a junção de vários elementos das crenças negras e nativas com o
cristianismo, o que para Santos (2006, p.1):
[...] Toda essa complexa mistura, que o leigo chama de macumba,
baixo espiritismo, magia negra, envolvendo práticas fetichistas e
barulhentas... era a situação existente, quando surgiu um vigoroso
2
S.n. Deus da guerra, do fogo e da tecnologia, sabe trabalhar com metais, elemento ferro, dia da semana terçafeira, sacrifício gato e bode avermelhado. IN: http://www.dicionarioinformal.com.br/ogum/. Acessado em
01/11/201;
3
S.n. O baixo astral (umbral) tem uma freqüência vibratória baixa, em uma suposta escala de número zero (no
entendimento kadecista), pois o umbral seria uma escala negativa. Portanto os encarnados que alimentam
sentimentos mesquinhos, que prejudicam mais a si do que os outros, por mais que façam outros sofrerem, ele é o
principal condenado, pois não produzem energias positivas. Seus Chakras (pontos mediúnicos no corpo humano)
são opacos e pequenos, sem brilho. Quando desencarnam são tragados pelas baixas vibrações e caem nesse
mundo trevoso. IN: http://www.espiritualismo.hostmach.com.br; acessado em 31/10/2011 ás 22:35: 43;
4
S.n. O chamado "Astral Superior" ou espíritos mais evoluídos (dos mundos diáfanos em diante) são espíritos
que já processaram sua evolução no mundo terra e continuam sua evolução trabalhando astralmente. Estão em
estágio de evolução elevado, mas ainda ligados ao mundo terra, trabalhando no sentido de garantir que os
espíritos encarnados tenham as melhores condições para aproveitar ao máximo a sua encarnação. Neste
sentido, limpam o ambiente, arrebatando da atmosfera terrestre espíritos do astral inferior, encaminhando-os aos
seus respectivos mundos de estágio espiritual. Neste trabalho, precisam de pontos de apoio, pessoas com
pensamentos elevados, cuja vibração sintoniza-se com a destes espíritos. Esta corrente de pensamento é que
permite sua aproximação e limpeza dos ambientes. Espíritos de mundos opacos ajudam estes espíritos neste
trabalho astral invisível ao olho humano, mas de imenso valor aos encarnados; IN: http://www.racionalismocristao.org.br/; acessado em 07/11/2011 ás 14:15: 35;
5
S.n. Desvio do sentimento religioso, fundado no temor ou na ignorância, e que empresta caráter sagrado a
certas práticas destituídas de qualquer transcendência; crendice;
7
movimento de luz, ordenado pelo astral superior, feito pelos espíritos
que se apresentavam como Caboclos, Pretos Velhos e Crianças.
Assim sendo, como o Espiritismo, o Catolicismo, o Protestantismo, o Judaísmo, o
Esoterismo e etc., a Umbanda também é uma doutrina espiritualista, muito embora, todas
contenham diferenças essenciais que lhes atribuem características próprias. Na estrutura da
Umbanda, prevalece a influência Africana com os nomes, rituais e costumes e o seu principal
alicerce, os Orixás. Já em sua prática, a Umbanda se aproxima mais da origem nativa.
(SANTOS, 2006).
Tendo por base o sincretismo6, a Umbanda pratica a Teologia7, ou seja, corteja
divindades (relação entre os deuses e homens) através de seus cerimoniais ou Liturgias
(fórmulas consagradas de orações). Desta forma, se religião é todo culto que contém cortejo
de divindade, a Umbanda é uma religião que pode vir a ser observada como uma crença
mista, pelo fato de que nada mais é do que uma mistura de várias religiões que tem como
fundamento básico a Crença dos Espíritos.
Portanto, em 16 de novembro de 1908, foi inserido o movimento Umbandista de
forma definitiva, através da Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, em Neves, (distritio de
São Gonçalo no Rio de Janeiro) ficando estabelecido que as normas dos cultos fossem
denominadas como sessões8 a serem realizadas à noite, abertas ao público e de forma gratuíta,
vindo a oferecer passes9 e a recuperação de obsedados10. Os médiuns deveriam usar
uniformes da cor branca, de tecido simples, foram proibidos as palmas ritmadas e os
acompanhamentos de atabaques11 nos cânticos, assim como também, os atendimentos ou
trabalhos realizados relacionados á restituição financeira. Os banhos de ervas, os amacis12, a
concentração nos ambientes vibratórios da natureza, a par do ensinamento doutrinário, na
base do Evangelho, constituiriam os principais elementeos de preparação do médium que
fazia parte da Umbanda. (SILVA,2007).
6
S.n. Sistema filosófico ou religioso que combinava os princípios de diversas doutrinas.
priberam. Acessado em 01/11/2011;
IN: dicionário
7
S.n. Estudo da religião e das coisas divinas. A palavra vem do grego theos, que significa Deus, e logos,
descrição, e refere-se apenas à interpretação da doutrina de Deus. Mas a teologia moderna abrange o estudo das
várias religiões e a relação entre religião e necessidades humanas;
8
S.n. Reunião para a prática do espiritismo: sessão espírita. IN: http://www.dicio.com.br/sessao/; acessado em
12/11/2011 ás 13:15: 49;
9
S.n. Sobre o assunto, Kardec tratou sobre o aspecto geral de CURAS e nos demonstra que "este gênero de
mediunidade consiste, principalmente, no dom que possuem certas pessoas de curar pelo simples toque, pelo
olhar, mesmo por um gesto, sem o uso de qualquer medicação". (L. M. Cap. Xiv - 175 - 2 Parte). IN:
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/elferr/o-passe-espirita.html; acessado em 07/11/2011 ás 22:00: 00;
10
S.n. Que ou aquele que está dominado por uma obsessão, uma idéia fixa. Obsedado sexual, doente mental que
só pensa nos prazeres sexuais. IN: http://www.dicio.com.br/obsedado/; Acessado em 01/11/2011;
11
S.n. Tambor feito com a pele de um animal distendida sobre um pau oco. É percutido com as mãos e pode ter
vários tamanhos. Sua origem é africana e sua difusão no Brasil foi feita pelos escravos negros. IN:
http://www.dicio.com.br/atabaque/. Acessado em 01/11/2011;
12
S.n. O Amaci é um ritual umbandista, onde anualmente os médiuns iniciantes e os mais antigos da corrente
devem passar por ele, porém para o iniciante o banho será um, e para o médium coroado será outro. IN:
http://cccj.webnode.com/amaci/. Acessado em 02/11/2011;
8
Após dez anos da criação do movimento, foi anunciada a missão de fundar sete
templos para constituir o núcleo central da difusão da Umbanda, (Nossa Senhora da Guia,
Nossa Senhora da Conceição, Santa Bábara, São Pedro, Oxalá, São Jorge e São Jerônimo)
vindo a partir da criação das sete primeiras tendas, iniciar-se a propagação por todo o
território brasileiro, confirmando assim a pronunciação de Zélio de Morais: “... levar daqui
uma semente e vou plantá-la no bairro de Neves, onde ela se transformará em árvore
frondosa".(SILVA,2007).
O termo espírita e os nomes de santos católicos dados às tendas tiveram por efeito, a
proposta de evitar problemas, pois naquela época não se podia registrar o nome Umbanda e
desta maneira se estabelecia um ponto de referência para fiéis da religião católica pelo
Caboclo das Sete Encruzilhadas. Em 1937, foi criada a Federação Espírita de Umbanda do
Brasil, que posteriormente foi denominada União Espiritualista de Umbanda do Brasil,
surgindo conseqüentemente em 1947, o Jornal de Umbanda (órgão doutrinário de grande
valor por mais de vinte anos). (SILVA,2007).
Zélio Fernandino de Moraes, (um dos grandes colaboradores na propagação e
fundação da Umbanda no Brasil) após 55 anos de atividades à frente da Tenda Nossa Senhora
da Piedade (1º templo de Umbanda), entregou a direção dos trabalhos as suas filhas Zélia e
Zilméa e continuou ao lado de sua esposa Isabel (médium do Caboclo Roxo) a trabalhar na
Cabana de Pai Antônio, em Boca do Mato, distrito de Cachoeiras de Macacu – RJ, dedicando
a maior parte das horas de seu dia ao atendimento de portadores de enfermidades psíquicas e
de todos os que o procuravam. (SILVA,2007).
4 A CHEGADA DA UMBANDA NO DISTRITO FEDERAL
Os mais antigos centros de Umbanda no Distrito Federal surgiram em 1958 (dois anos
antes da inauguração oficial de Brasília). Na época, o mestre João Laus abriu sua tenda no
Plano Piloto (atualmente conhecido como avenida W3 Sul) e logo a seguir o mestre Babá
Sebastião Calazans em um terreno doado pelo então presidente Juscelino Kubitscheck, em
uma área, onde após a divisão oficial das regiões administrativas, ficou localizada na região
administrativa de Ceilândia-DF. (SILVA,2007).
Segundo a Assessoria de Comunicação da Federação Brasiliense de Candomblé e
Umbanda do Distrito Federal e Entorno, desde sua fundação (década de 70) até 2010, do total
de 2.563 centros afiliados da Federação, 2.000 são da linha da Umbanda e mesmo sendo
considerada uma religião de grande fluência no Distrito Federal, a mesma não é muito
estudada por pesquisadores. (SERRA, 2006).
Um dos primeiros estudos originados sobre a religião no Distrito Federal se deu
através do aluno de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade de Brasília,
(Carlos Eduardo Mills) permanecendo os resultados inéditos até julho de 1974, quando a
professora Eurípedes da Cunha Dias da Universidade Federal do Rio de Janeiro, realizou uma
nova pesquisa, mostrando que no Distrito Federal, os rituais da Umbanda demonstravam-se
9
bastante ecléticos13chegando até mesmo a compará-los com os rituais da ritologia dos
Fraternários de Yokaam14.
A variação dos ritos e crenças umbandistas, aparentemente parece acentuar-se próximo
aos centros fundados por goianos, mineiros, paulistas, cariocas, etc., vindo seus rituais
trazerem uma diversidade de cores e seguimentos da tradição de forma diferenciada, mesmo
que os santos sejam os mesmos, vindo o kardecismo15 ter grande influência na configuração
da umbanda no Distrito Federal, devido diversas pessoas comparar os rituais do Kardecismo
aos realizados nas tendas da Umbanda, como por exemplo, a psicografia16, o uso do termo
“sessão” para especificar as suas atividades, etc.(ABREU, 2006).
4.1 O Resgate Histórico e Artístico da Umbanda na Região Integrada de
Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE)
A Superintendência Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
(IPHAN) no Distrito Federal, preocupados com a suposta fragmentação e falta de pesquisa
aprofundada sobre a Umbanda no Distrito Federal, reuniu seu Conselho Consultivo, em 2008
para apresentar a proposta de elaboração do Inventário dos Terreiros do Distrito Federal e
Entorno, procurando realizar através deste, como se deu a chegada da Umbanda no Distrito
Federal, a descrição atual dos principais símbolos utilizados, seus elementos centrais,
mediadores, rituais, festas, templos e localização atual dos templos.
A pesquisa realizada teve seu recorte na microregião do Brasil, que compreende
municípios que integram a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e
Entorno (RIDE), sendo considerados para calcular o total de freqüentadores ou adeptos a essa
religião o número de 3,5 milhões de habitantes, que corresponde ao total da população das
trinta Regiões Administrativas (Ra’s) e aos municípios goiano de Padre Bernado, Planaltina
de Goiás, Formosa, Cabeceiras, Cocalzinho, Águas Lindas, Corumbá, Alexânia, Abadiânia,
Silvânia, Santo Antonio do Descoberto, Novo Gama, Valparaiso, Cidade Ocidental, Luziânia
e Cristalina, chegando após primeira fase da referida pesquisa, as seguintes conclusões:
Terreiros Inventariados e Visitados: Do total de 170 terreiros de Umbanda
visitados, apenas 26 tiveram inicialmente o interesse em se registrar, em virtude de os
mesmos não aceitarem a interferência do Estado em suas informações confidenciais, como
13
S.n. O que segue a filosofia ou método eclético; o que escolhe o que parece melhor em todas as manifestações
do pensamento. IN: http://www.dicio.com.br/ecletico/; acessado em 15/11/2011 ás 06:25: 27;
14
Chegaram ao Planalto Central em 1956 fundando uma cidade mística, tradicionalista e providenciando o
necessário para as pessoas que lá residem e que procuram ajuda, não utilizando dinheiro algum em prol de suas
ações. Essa comunidade religiosa tem uma população de cerca de 1500 pessoas e os seus habitantes vivem
necessariamente da agricultura, artesanato de couro e a pecuária para a sua subsistência. Todos trabalham na
cidade, da criança ao velho, de maneira que podem ajudar, fazendo sua parte na cidade, não quebrando uma
tradição que vem desde que a cidade foi fundada. IN: http://www.webartigos.com/artigos/peregrinacaorumo-ao-planalto-central-a-fundacao-da-cidade-ecletica/42083/; acessado em 15/11/2011 ás 11:45: 25;
15
S.n. segundo a definição de seu codificador, o pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail - que adotou
o pseudônimo Allan Kardec - é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de
suas relações com o mundo corporal; IN: http://www.febnet.org.br/site/; acessado em 17/11/2011 ás 09:25: 33;
16
S.n. Segundo a doutrina espírita, a psicografia seria uma das múltiplas possibilidades de expressão mediúnica
existentes. Allan Kardecclassificou-a como um tipo de manifestação inteligente, por consistir na comunicação
discursiva escrita de uma suposta entidade sobrenatural ou espírito, por intermédio de um homem. IN:
http://www.febnet.org.br/site/; acessado em 17/11/2011 ás 09:45: 37;
10
também a destinação das propriedades onde ambos estão instalados, pelo fato de a maioria ser
privada e não cedida pelo Estado. O quadro abaixo mostra a distribuição dos terreiros por
Região Integrada de Desenvolvimento, (RIDE) a Região Administrativa ou Município que
estão instalados bem como a quantidade que aceitaram ou não fazer parte do Inventário
realizado pela Superintendência Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
(IPHAN) no Distrito Federal:
TABELA DE TERREIROS INVENTARIADOS E NÃO INVENTARIADOS 2009/2010
CIDADE/MUNICÍPIO
UF
TOTAL
INVENTARIADOS
NÃO INVENTARIADOS
RA I Brasília
DF
05
2
3
RA II Gama
DF
05
0
5
RA III Taguatinga
DF
12
5
7
RA IV Brazlândia
DF
04
0
4
RA V Sobradinho
DF
03
2
1
RA VI Planaltina
DF
11
1
10
RA VII Paranoá
DF
02
0
2
RA VIII Núcleo Bandeirante
DF
01
0
1
RA IX Ceilândia
DF
16
1
15
RA X Guará
DF
06
5
1
RA XI Cruzeiro
DF
02
0
2
RA XII Samambaia
DF
03
0
3
RA XIII Santa Maria
DF
03
0
3
RA XIV São Sebastião
DF
03
0
3
RA XV Recanto das Emas
DF
02
0
2
RA XVI Lago Sul
DF
01
0
1
RA XVII Riacho Fundo
DF
03
0
3
RA XVIII Lago Norte
DF
02
0
2
RA XIX Candangolândia
DF
02
0
2
RA XX Águas Claras
DF
02
0
2
RA XXI Riacho Fundo II
DF
02
0
2
RA XXII Sudoeste/Octogonal
DF
01
0
1
RA XXIII Varjão
DF
03
0
3
RA XXIV Park Way
DF
09
0
9
RA XXV SCIA - (Cidade
Estrutural e Cidade do Automóvel)
DF
02
0
2
RA XXVI Sobradinho II
DF
07
3
4
RA XXVII Jardim Botânico
DF
00
0
0
RA XXVIII Itapoã
RA XXIX SIA - Setor de Indústria e
Abastecimento
DF
03
0
3
DF
00
0
0
RA XXX Vicente Pires
DF
03
0
3
Padre Bernardo
GO
01
0
1
Cocalzinho
GO
4
1
3
Águas Lindas
GO
06
1
5
GO
01
0
Corumbá
1
11
Santo Antônio do Descoberto
GO
04
1
3
Alexânia
GO
03
0
3
Abadiânia
GO
02
0
2
Silvânia
GO
02
0
2
Novo Gama
GO
04
0
4
Luziânia
GO
06
2
4
Valparaíso
GO
09
1
8
Cidade Ocidental
GO
02
1
1
Cristalina
GO
01
0
1
Formosa
GO
02
0
2
Cabeceiras
GO
01
0
1
Planaltina de Goiás
GO
04
0
4
Total Geral
170
26
144
Fonte: Superintendência Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (IPHAN) no Distrito Federal e Federação
Brasiliense de Umbanda e Candomblé do Distrito Federal e Entorno.
Após a realização do inventariado dos terreiros, os mesmos passaram a fazer parte do
Patrimônio Imaterial17·, tendo dessa forma, protegido legalmente, a produção do
conhecimento sobre os aspectos da vida social aos quais são atribuídos sentidos e valores e
que, portanto, constituem marcos de referenciais de identidade para determinado grupo social,
conforme mencionado no artigo 1º §1º e §2º do Decreto de Lei nº 25, de 30 de novembro de
1937 que já organizava a questão do patrimônio histórico e artístico nacional:
Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto de
bens móveis e imóveis existentes no país, cuja conservação seja de
interesse público, que por sua vinculação a fatos memoráveis da
história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou
etnográfico, bibliográfico ou artístico. [...] sendo estes considerados
partes integrantes do patrimônio histórico e artístico nacional [...]
equiparam-se também seus monumentos naturais, sítios e paisagens
com o objetivo de proteger sua feição.
Após a localização dos terreiros de Umbanda e as regiões em que os mesmos estão
localizados, iniciou-se a segunda etapa da pesquisa que teve como objetivo, independente de
estarem ou não inventariados identificar a porcentagem real de pessoas que se declaram
adeptas a Umbanda vindo os resultados serem interpretados inicialmente da seguinte forma:
Do total de 17.500 pessoas que constam cadastradas como seguidores da Umbanda na
Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE) que
correspondem a 0,5% do total da população que compõem a essa região, apenas 20% se
declaram envolvidos por completo na religiosidade pesquisada, vindo os demais, (80%) se
declararem como visitantes ou curiosos pelas supostas curas, milagres ou mensagens enviadas
e desenvolvidas através dos orixás, santos ou mediadores, o que de fato, possa ser
17
S.N. Designam as práticas, representações, expressões, conhecimento e técnicas-junto com os instrumentos,
objetos. artefatos e lugares que são associados-que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos
reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. IN: FEDERAL,Distrito. Superintendência do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do: Inventário dos Terreiros do Distrito Federal e
Entorno. 1ª Fase. Brasília, 2009;
12
supostamente a confirmação de que a mesma não tem grande importância cultural para uma
sociedade que teve em seus princípios de formação a visão eurocêntrica e positivista de que
somente determinadas religiões devem ser seguidas e consideradas por pregarem a “salvação
eterna" 18.
Símbolos, Elementos de Magia Utilizados, Sincretismo e Tabus Presentes: A
pesquisa identificou que não há existência de consenso entre os terreiros pesquisados, em
virtude da facilidade de se fundarem novos terreiros, ou seja, abrindo espaço para novos,
surgem novos "tipos" de Umbanda, cada um de acordo com o seu entendimento e, até mesmo,
as preferências místicas de quem funda um novo centro de prática da Umbanda. Os que ainda
permanecem com a mesma proposta coletiva de seguimento da Umbanda, para melhor
compreensão, dividem a mesma em duas etapas:
Panteão Africano: Que serve de base a religião Umbandista, que cultua os Orixás nos
moldes africanistas, vindo a se modificar através dos anos, vindo a permanecerem somente
alguns Orixás, dos muitos que os Cultos ainda cultuam. Para melhor conhecê-lo, o quadro 1
descreve os Orixás19 que são cultuados nos Cultos de Umbanda:
QUADRO 1
Umbanda
Observações
Exu
Várias formas
Ogun
Várias formas
Oxósi
Várias formas (*)
Obaluaiye/Omulu
Como Exu, às vezes
Xangô
Várias formas
Yansan
Várias formas
Óxun
Várias formas
Yemanjá
Várias formas
Nanan Buruku
Ibeijada
Oxalá
Fonte: Federação Brasiliense de Umbanda e Candomblé do Distrito Federal e Entorno
18
S.n. Aquela vista pela sociedade como supostamente a garantida pela vontade de Deus. IN:
http://www.desfrute.net/dicionario.php?t=396; acessado em 15/11/2011 ás 19:23: 24;
19
S.n. Arashá = Ara = Luz... Shá = Senhor; Orixá = Ori = Cabeça... Xá = Senhor; Orixá = Senhor da cabeça
ou senhor da luz. IN: http://www.guia.heu.nom.br/orixas.htm; acessado em 16/11/2011 ás 00:56: 33;
13
As várias formas citadas correspondem aos vários nomes dados aos Orixás, ou seus
falangeiros20, como por exemplo, os vários tipos de Ogun, (Matinata, Meje, Beira-Mar, Iara,
Rompe-Mato) bem como os vários Oxósi (Mata-Virgem, da Pedra Branca etc,) sempre
confundidos com os caboclos21 falangeiros de Oxósi, ora com o próprio Orixá.
Panteão Umbandista: Consiste em uma reunião de entidades espirituais ligadas aos
Orixás e que se caracterizam pela grande quantidade de entidades.
O quadro 2 mostra somente as entidades mais comuns, pois este Panteão apresenta
diferenças em relação às regiões onde se pratica a Umbanda no Brasil.
QUADRO 2
Divisão geral
Subdivisão
Exus (*)
Da Encruzilhada, Da Calunga (Cemitério)
Malandros, Ciganos, Marinheiros e Bahianos.
Linha das Almas
Caboclos (Linha de Oxósi)
Pretos-Velhos
Da Mata (ou Caboclo de Pena) e Boiadeiros
Fonte: Federação Brasiliense de Umbanda e Candomblé do Distrito Federal e Entorno
Este quadro apresenta apenas as entidades mais comuns que se apresentam nos
Terreiros, pois o Panteão Umbandista difere de região para região e os Exu’s de Umbanda
diferem dos Exu’s dos Candomblés, pois "incorporam" nos médiuns e os Exu´s dos
Candomblés não consideram em alguns terreiros os Marinheiros e Baianos como Exus.
Símbolos: Pontos riscados são os símbolos gráficos dos quais as entidades de
Umbanda, não só da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno,
(RIDE) mas de boa parte dos terreiros existentes no Brasil, servem para determinar sua
identificação, funcionando como verdadeira identidade da entidade que se manifesta,
impedindo assim que algum espírito mal intencionado engane os demais componentes do
templo onde se manifesta a entidade. São traçados geralmente, no chão, tábua de madeira ou
mármore, com uma pemba (giz), utilizando-se de símbolos como o sol, estrela, triângulos
lanças, flechas, folhas, raios, ondas ou cruzes. (LANNES,2008).
20
S.n. Falangeiros de orixás ou simplesmente Falangeiros são os representantes diretos de cada Orixá. Não são
espíritos, mas sim a própria vibração do Orixá. Diferem-se dos capangueiros (estes sim, espíritos desencarnados,
com luz e sabedoria) que trabalham para determinado Orixá. IN: http://www.caboclopery.com.br/os_orixas.htm;
acessado em 16/11/2011 ás 23:33;
21
S.n. nome dado às entidades lendárias indígenas, ou de manifestações de religiões como ocaboclo que se
incorporam nos ritos de Candomblé de Caboclo, no Catimbó, na Macumba, no Batuque e na Umbanda. IN:
Tradição, ciência do povo – Perspectiva, S. Paulo, 1971;
14
Imagem dos símbolos utilizados pelo Centro de Umbanda Cavaleiros de Ogum
Fonte: http://centrodeumbandacavaleirosdeogum.blogspot.com/2010_04_01_archive.html; acessado em 16/11/2011 ás 15:25: 37.
Através dos pontos riscados acima, a entidade mostra seu grau hierárquico e a forma
de movimentar toda uma falange22 de entidades que trabalham sobre suas ordens para um
determinado trabalho e auxilio de alguém; é pela grafia, pelos símbolos utilizados, que
podemos identificar a entidade como um caboclo, um preto-velho, de qual seguimento que
são e assim sucessivamente.
Descrição dos Símbolos: Ligados geralmente pelos orixás cultuados pela Umbanda,
sendo eles:
* Oxalá (Representa a Presença de Luz): Considerado como trono natural da fé, tem
seu campo de atuação preferencial a religiosidade dos seres, aos quais envia o tempo todas
suas vibrações estimuladoras da fé individual e suas irradiações geradoras de sentimentos de
religiosidade;
* Iansã (Representada pela Taça e o Raio): Guerreira por vocação sabe ir à luta e
defender o que é seu, a batalha do dia-a-dia é a sua felicidade. Ela sabe conquistar, seja no
fervor das guerras, seja na arte do amor. Mostra o seu amor e a sua alegria contagiantes na
mesma proporção que exterioriza a sua raiva, o seu ódio. Dessa forma, passou a identificar-se
muito mais com todas as atividades relacionadas com o homem, que são desenvolvidas fora
do lar; portanto não aprecia os afazeres domésticos, rejeitando o papel feminino tradicional;
22
S.n. O mesmo que legião, conjunto de seres espirituais que trabalham dentro de uma mesma corrente (linha).
Subdivisão das linhas de umbanda, cada uma com suas funções definidas e dirigidas por um “chefe” – espírito
superior. IN: http://cethrio.vilabol.uol.com.br/modelos/dicumbanda.htm; acesso em 17/11/2011 ás 15:23:33;
15
* Cosme e Damião (Representados por Carrinhos, Brinquedos em Geral,
Bonecos, Palhaços, etc.): Curadores que trabalhavam com a magia dos elementos. Muitas
entidades que atuam sob as vestes de um espírito infantil, são muito amigas e têm mais poder
do que imaginamos. Mas como não são levadas muito a sério, o seu poder de ação fica oculto,
são conselheiros e curadores;
* Iemanjá (Representada pelos Símbolos da Estrela, Âncora, as Ondas, etc.):
Trono feminino da geração e seu trono preferencial de atuação é o amparo a maternidade;
* Oxúm (Representado pelos Símbolos da Lua, Coração, etc.): É a divindade do rio
de mesmo nome que corre na Nigéria, em Ijexá e Ijebu. Era segundo dizem, a segunda mulher
da Xangô, tendo vivido antes com Ogum, devido ela controlar a fecundidade graças aos laços
mantidos com Iyámi-Ajé23;
* Oxóssi (Representado pelos Símbolos da Flecha e o Arco.): Considerado como
caçador por excelência, mas sua busca visa o conhecimento; logo, é visto como o cientista e o
doutrinador, que traz o alimento da fé e o saber aos espíritos fragilizados tanto nos aspectos da
fé quanto do saber religioso;
* Ogum (Representado pelos Símbolos da Espada, Lança, A Bandeira usada
pelos Cavaleiros, bem como, vários Instrumentos de Combate.): Considerado como
representante da energia primária, causadora das transformações. Na Umbanda, manifesta-se
como um guerreiro (São Jorge). Esta é uma das divindades dos orixás que trabalham dentro
das sete linhas da Umbanda;
* Xangô (Representado pelo Símbolo do Machado): Considerado como o orixá da
justiça e seu campo preferencial de atuação é a razão, despertando nos seres o senso de
equilíbrio e eqüidade, já que só conscientizando e despertando para os reais valores da vida a
evolução se processa num fluir continuo;
* Nanã (O Iberi ou Uma Chave.): Rege sobre a maturidade e seu campo preferencial
de atuação é o racional dos seres. Atua decantando os seres emocionados e preparando-os
para uma nova "vida", já mais equilibrada;
* Obaluaiê (O Cruzeiro das Almas.): Atua na evolução e seu campo preferencial é
aquele que sinaliza as passagens de um nível vibratório ou estágio da evolução para outro.
* Outras Entidades: Do vasto Panteão Umbandista retiramos dois tipos de entidades
que são bastante comuns nos Terreiros: Os Caboclos e os Pretos-Velhos. Os Caboclos são os
substitutos umbandistas do Orixá Oxósi. Considerados como falangeiros de Oxósi, os
Caboclos da Umbanda fazem o papel de conselheiros, desobsessores24 e até curandeiros,
ensinando aos adeptos o uso desta ou daquela erva, para este ou aquele fim. (LANNES,2008).
23
S.n. conhecida por Iyami Oxorongá - é a sacralização da figura materna, por isso seu culto é envolvido por
tantos tabus. Seu grande poder se deve ao fato de guardar o segredo da criação. Identificada no jogo
do merindilogun pelo odu Ôxê. IN: MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de. As senhoras do pássaro da noite.
São Paulo: Edusp, 1994;
24
S.n. capazes de orientar os espíritos que não são evoluídos, contribuindo para sua elevação (geralmente na
primeira sessão, a pessoa sente-se mal, chegando a dar trabalho para os médiuns mais velhos do centro espírita).
IN: http://www.terra.com.br/esoterico/monica/colunas/2006/04/04/000.htm; acesso em 16/11/2011 ás 23:38;
16
Os caboclos se dividem em dois tipos: Caboclos da Mata e Caboclos Boiadeiros. Cada
um desses grupos apresenta características próprias. Enquanto os Caboclos da Mata
apresentam características e denominações ameríndias, em particular do Brasil, mas, vez por
outra, aparecendo caboclos de outras terras, podendo ser denominados também como
"Caboclos de Penas", os Boiadeiros que chegam "tangendo gado" e "rodando laço"
caracterizam-se por atitudes e gestos ligados aos sertanejos do nordeste brasileiro. Estas
entidades são uma expressão puramente brasileira, pois não se encontram "boiadeiros"
estrangeiros nesta Falange, como no caso dos Caboclos de Penas. (LANNES,2008).
Os Pretos-Velhos compõem a chamada "Linha das Almas", que são ligadas ao Orixá
Omulu/Obaluaie. Os componentes da Falange de Pretos-Velhos caracterizam-se pela bondade
e resignação com que tratam os adeptos que os procuram para uma consulta. Encontramos
também, com muita freqüência, denominações tais como: Tia Chica D'Aruanda, Vovó Luiza
da Bahia e Pai Tome do Cruzeiro. (LANNES,2008).
4.2 A Descrição dos Mediadores da Umbanda, Seus Elementos Centrais, Principais
Rituais e Ritos na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno
(RIDE)
Os mediadores de cada terreiro varia conforme a orientação do seu dirigente ou
Sacerdote. Se esse Sacerdote adota mais acentuadamente o modelo africano, usa
denominações africanas para os cargos religiosos do seu Terreiro, caso contrário, adota
algumas formas comuns ou populares. O quadro abaixo mostra essa diferença:
AFRICANOS
BRASILEIROS
IYALORIXÁ
MÃE-DE-SANTO
BABALORIXÁ
PAI-DE-SANTO
IYAKEKERE
MÃE-PEQUENA
BABAKEKERE
PAI-PEQUENO
AXOGUN
MÃO DE FACA
OGÃ
OGÃ
-
CAMBONO
-
SAMBA
OMORIXÁ
FILHO-DE-SANTO
Fonte: Federação Brasiliense de Umbanda e Candomblé do Distrito Federal e Entorno
A Iyalorixá e o Babalorixá, respectivamente Mãe-de-Santo e Pai-de-Santo, são os
sacerdotes máximos de um Terreiro de Umbanda. Abaixo deles vem a Mãe-Pequena e o PaiPequeno. Procuram seguir os Ogãs, o Axogun ou Mão-de-Faca e os Cambonos e Sambas,
17
variando sua importância de Terreiro para Terreiro. Os considerados Filhos-de-Santo são
todos os filiados ao Terreiro, podendo ser iniciados ou não na religião. (LANNES,2008).
Modernamente muitos sacerdotes dizem não serem Pais ou Mães de Santo, devido os
mesmos, após estudos e relatos dizerem que "Santo não tem pai e mãe", preferindo
denominassem como "Zeladores de Santo", desconhecendo que o termo Pai ou Mãe de Santo
é uma corruptela da tradução para o Português das palavras Babalorisa e Iyalorisa, as quais
significam "Pai ou Mãe. (LANNES, 2008).
Todos os rituais celebrados seguem o que é determinado através das seis Linhas e sete
Falanges. As Linhas caracterizam-se pelos agrupamentos de entidades em torno de um Orixá,
sendo as entidades que trabalham sob as ordens de um Orixá consideradas também como uma
linha de trabalho; já as Falanges são uma subdivisão da Linha, onde entidades menores ou
secundárias aos Orixás trabalham sob as ordens dos Chefes de Linha, conforme mostra o
exemplo abaixo, através de organograma, para melhor compreensão:
ORIXÁ --> LINHA --> FALANGE
OGUN --> MEJE --> OGUN MEJE
- O Orixá Chefe é Ogun;
- Um dos componentes da Linha de Ogun é o Ogun Meje;
- Os componentes da falange de Ogun Meje, chamam-se também Ogun Meje.
Grupos Umbandistas, com várias tendências, adotam muitas outras divisões e
denominações. Alguns com influência Católica, outros com influência Ocultista. Os rituais e
ritos são muito variados, pois cada agrupamento (Terreiro) tem características próprias,
adotando o mais adequado ao seu tipo e ritmo de trabalho. Para conhecermos, dividiremos em
três partes básicas, comuns à quase todos os Terreiros:
* A Gira: Um denominador comum e talvez adotada do costume, ainda em prática, de
se dançar em volta do esteio central do terreiro, se dividindo em Gira Festiva, (caracterizada
pela comemoração de datas dedicadas aos Orixás, às entidades menores ou, ainda, por ocasião
de datas ligadas à vida civil do Terreiro), a Gira de Desenvolvimento (destinada ao
treinamento dos adeptos ao uso acertado das suas faculdades mediúnicas, bem como das
práticas ritualísticas do Terreiro) e a Gira de Caridade (que se destina ao atendimento do
público, caracterizando-se, geralmente, pela presença de Caboclos, Pretos-Velhos ou Exús,
podendo o público conversar diretamente com a entidade da sua devoção ou preferência,
contando-lhe os seus problemas, recebendo os seus conselhos e passes magnéticos, que são
prática constante entre todas as entidades da Umbanda). (LANNES, 2008).
* As Obrigações: Usado para designar um conjunto de oferendas e preceitos a
cumprir, característicos de cada Orixá; Qualquer oferenda que se faça é denominada
"obrigação" sendo que em alguns Terreiros essas obrigações são coordenadas de tal maneira
18
que, ao termino delas, o adepto é considerado Iniciado ou "Feito no Santo", pois cumpriu
todas as "obrigações" para com os Orixás. (LANNES, 2008).
* Batismo, Casamento e Cerimônia Fúnebre: Estas cerimônias diferem muito de
terreiro para terreiro, pois cada dirigente adota critérios próprios para realizá-las. O Batismo
umbandista tem duas modalidades: O batismo de crianças (segue-se um ritual semelhante ao
da Igreja Católica, contando com a presença de Entidades Espirituais) e o batismo do
Iniciando (feito nas cachoeiras ou praias, onde são consagrados ao seu Orixá Pessoal ou
regente. Este batismo é geralmente chamado de "lavagem de cabeça"). (LANNES, 2008).
O Casamento Umbandista não obedece a nenhum ritual pré- estabelecido; cada
Terreiro tem o seu próprio ritual de casamento sendo que alguns costumam "cruzar" os noivos
com "amaci" e "pemba" e outros já fazem este cruzamento usando as "curas" (características
dos Candomblés). (LANNES, 2008).
As Cerimônias Fúnebres é uma prática ha muito tempo em desuso na Umbanda. No
seu processo de aculturação com outras religiões a Umbanda abandonou as práticas do Axexe,
onde os mortos são cultuados durante alguns dias. Este Axexe ainda é executado em muitas
Casas de Nação ou Candomblés. (LANNES, 2008).
Estes rituais sofrem influência das várias práticas adotadas de outras religiões, porém
as que predominam são as de origem africana, sendo as mais comuns os Amacis e
Cruzamentos (uma espécie de pré-iniciacão, onde os adeptos iniciados procuram obter
melhores condições de contato com as suas entidades particulares). Esta prática de amacis e
cruzamentos está em processo de esquecimento, por falta de conhecedores das ervas
principais dos Orixás.
A prática de oferendas, herdada dos africanos, e constante nos Terreiros de Umbanda,
geralmente são usadas para agradar aos Orixás e entidades menores; as oferendas fazem parte
do processo de iniciação, consistindo geralmente de comidas dedicadas aos Orixás, porém,
podem se constituir de materiais diversos, desde uma simples vela, até grandes oferendas
envolvendo animais de porte. (LANNES, 2008).
A "Feitura-de-Cabeca" ou Iniciação, na Umbanda, não adota padrões rígidos como os
Cultos de Nação, onde a "feitura" é igual para todos os adeptos. Este processo de iniciação na
Umbanda varia de terreiro para terreiro, conforme a orientação do seu dirigente. Geralmente
esta iniciação estende-se por períodos de sete anos, durante os quais o adepto se especializa
nas práticas que envolvem a vida de um Terreiro; já a prática mediúnica dentro da Umbanda,
está quase restrita a chamada "incorporação", pois, todos os adeptos integrantes do Corpo
Mediúnico devem, obrigatoriamente, possuir esta faculdade mediúnica. Porém, como toda
regra, há exceções.
Existem Terreiros que se dedicam a práticas de Espiritismo Kardecista, além das de
Umbanda. Esses Terreiros "desenvolvem" seus médiuns em diversas faculdades mediúnicas.
O desenvolvimento mediúnico geralmente é um período longo de treinamentos, nos quais os
médiuns aprendem a controlar a incorporação das suas entidades particulares. Em muitos
Terreiros esse treinamento fica por conta do médium, que aprende sozinho a controlar a sua
mediunidade.
Esta faculdade mediúnica de "incorporação" é que faculta aos médiuns e adeptos o
contato direto com as entidades que lhes são mais simpáticas, pois as mesmas "incorporando"
nos seus médiuns agem e falam normalmente, tratando assim diretamente com os adeptos.
19
Algumas das faculdades mediúnicas encontradas em um ou outro médium são: Clarividência,
Vidência (visão direta da entidade espiritual), Audição e Intuição. (LANNES, 2008).
4.3 Principais Espaços Sagrados e Festas dos Terreiros de Umbanda da Região
Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE)
O quadro 1 Apresenta o nome dos principais Terreiros de Umbanda na Região Integrada de
Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE):
PRINCIPAIS TERREIROS DE UMBANDA DA REGIÃO INTEGRADA DE
DESENVOLVIMENTO DO DISTRITO FEDERAL E ENTORNO (RIDE)
TEMPLO / TERREIRO
Centro Espírita Assistencial Nossa Senhora da Gloria
Associação Espírita Pai Francisco
Centro Espírita Caboclo Serra Negra
Associação Inciática do Ramo Dourado São Jerônimo
Centro Espírita Pai Tomé de Aruanda
Centro Numba Oriolá Mãe Jequitibá
UF
DF
DF
DF
DF
GO
GO
Fonte: Superintendência Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (IPHAN) no Distrito Federal e Federação Brasiliense de
Umbanda e Candomblé do Distrito Federal e Entorno
FESTAS E DATAS COMEMORATIVAS DE UMBANDA DA REGIÃO
INTEGRADA DE DESENVOLVIMENTO DO DISTRITO FEDERAL E
ENTORNO (RIDE)
MES
JANEIRO
FEVEREIRO
FESTAS
20 - São Sebastião - Louvação a Oxossi - Festa
de Caboclo
21 - Dia Mundial da Religião
02 - Nossa Senhora dos Navegantes Louvação a Iemanjá
13 - Louvação a Omulu - Início da Quaresma
MARÇO
29 - Sexta-Feira da Paixão - Fechamento de
Corpo
ABRIL
23 - São Jorge - Louvação a Ogum
MAIO
13 - Louvação aos Pretos Velhos
30 - Santa Joana D'arc - Louvação a Obá
20
JUNHO
13 - Santo Antonio de Pádua - Louvação a
Exu
24 - São João Batista - Louvação a Xangô
29 - São Pedro e São Paulo - Louvação a
Xangô Aganju
JULHO
25 - São Cristovão
26 - Nossa Senhora Sant'Anna - Louvação a
Nanã
AGOSTO
15 - Nossa Senhora da Glória - Louvação a
Iemanjá
16 - São Roque - Louvação a Obaluaye
24 - São Bartolomeu - Louvação a Oxumarê
SETEMBRO
05 - Louvação ao Sr. Tranca Rua das
Encruzilhadas
27 - São Cosme e São Damião - Louvação a
Ibeji
28 - Festa Umbandista
29 - São Miguel Arcanjo - Louvação a Logum
Edé
30 - São Jerônimo - Louvação a Xangô Agodô
(almas)
OUTUBRO
12 - Louvação ao Sr. Tranca Rua das Almas
17 - Louvação ao Sr. Marabô
NOVEMBRO
01 - Todos os Santos - Louvação às Almas
02 - Finados - Louvação a Omulu
DEZEMBRO
04 - Santa Bárbara - Louvação a Iansã
08 - Nossa Senhora da Conceição - Louvação a
Oxum e Iemanjá
25 - Louvação a Oxalá /31 - Louvação a
Iemanjá - encerramento do ano
Fonte: Superintendência Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (IPHAN) no Distrito Federal e Federação Brasiliense
de Umbanda e Candomblé do Distrito Federal e Entorno
21
5 CONCLUSÃO
O presente projeto de pesquisa buscou analisar a Umbanda na Região Integrada de
Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno. Foi possível identificar que a Umbanda é
representada pela unidade da diversidade, sendo inúmeras as formas de manifestações que
visam atender aos aspectos culturas heterogêneos em nosso país, bem como a percepção de
seus componentes.
Com base nas informações levantadas, podemos concluir que os problemas que
interferem na consolidação desses terreiros estão possivelmente voltados para o
individualismo de ideais de cada representante do que a desvalorização da própria base da
religião, analisando assim, o quanto é difícil realizar a quebra de tabus e o reconhecimento da
diversidade e práticas culturais brasileiras.
22
6 BIBLIOGRAFIA
ABREU, Joanisa Vieira de. Os orixás dançam no Planalto Central. Brasília: Fundação
Cultural Palmares, 2006;
IN: http://www.angelfire.com/ca4/Umbanda/Port.html; acessado em 13/11/2011 às 9:00;
IN: http://www.espiritualismo.hostmach.com.br/umbanda2.htm; acessado em 13/11/2011 às
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IN: http://paulodeoxala.sites.uol.com.br/html/umbanda.htm; acessado em 13/11/2011 às 9:43;
IPHAN-DF, Superintendência do. Inventário dos TERREIROS do Distrito Federal e
Entorno. Primeira Fase. Federação de Umbanda e Candomblé do Distrito Federal e Entorno,
Brasília, 2009;
_____LANNES (pontos riscados). IN: http://www.genuinaumbanda.com.br/pontos_riscados.
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SANTOS, Daniela Cordovil Corrêa dos. Etnografia, modernidade e construção da nação:
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_____SERRA (No caminho de aruanda). IN: http://www.afroasia.com.br; acessado em
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SILVA, Rosevel Gutemberg. Entre memória e demandas sociais: as teias de reciprocidade
dos espíritos cabloclos. 2007. 148 f. Dissertação (mestrado) - Universidade de Brasília.
Download

Umbanda no DF - Universidade Católica de Brasília