EN DIRECTOR Pe. José Mario O. Mandía | ANO 68 | Nº 8 | 26 de JUNHO de 2015 | SEXTA-FEIRA PT EN CH EDIÇÃO TRILINGUE | TRILINGUAL EDITION | SEMANÁRIO CATÓLICO DE MACAU | PREÇO 12.00 Mop www.oclarim.com.mo D. MANUEL ANTÓNIO MENDES DOS SANTOS, BISPO DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE Igreja substitui o Estado DESTAQUE PÁGs. 2 Jogo: Accionistas pressionam Patrões LOCAL PÁG. 5 E 3 FRANCES MOFFETT-KOUADIO, COMISSÁRIA DA UKTI «Estamos interessados na Ilha da Montanha» Animais: multas com desconto LOCAL PÁG. 5 Macau reúne em Portugal LOCAL PÁG. 5 ENTREVISTA PÁG. 4 D E S TAQ U E O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015 2 PT À CONVERSA COM D. MANUEL ANTÓNIO MENDES DOS SANTOS, BISPO DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE Quando a Igreja substitui o Estado VÍTOR TEIXEIRA EM São Tomé e Príncipe Estamos em São Tomé e Príncipe, em plena gravana, a estação seca, ou mais seca, mas muito quente (para quem não é daqui), com pó. O mar está sempre a perderse de vista, em contraponto com um céu nesta altura mais azul, mas quase sempre plúmbeo. O “inferno” verde, de clorofila e exuberância vegetal, com um solo rico e fértil, nesta humidade opressiva, domina a paisagem, pontilhada por picos vulcânicos envoltos em bruma. Cacau, café, frutas, árvores tropicais, aqui, onde o equador nos toca, tudo explode em vida, numa terra fecunda mas também num mar generoso e sempre à distância do olhar. Desta vez, vamos falar da presença da Igreja neste jovem arquipélago, independente desde 1975, antes uma colónia portuguesa, de degredo mas de lucro, entreposto de escravos mas também colónia agrícola, onde o café e, principalmente, o cacau foram imperiais, dominando a economia e gerando fortunas... em Lisboa, mas problemas socais e raciais nas ilhas. Mas vamos falar não em discurso histórico apenas, antes através do olhar e da perspectiva do seu prelado, um bispo com larga experiência missionária em África e profundo conhecedor das suas idiossincrasias e singularidades. Com um pensamento crítico fino e rigoroso, estribado em conhecimento e experiência, independência e um amor eclesial de destacar, a partir de uma conversa com que nos brindou, vamos então conhecer esta diocese. E o território, as suas gentes, problemas e identidade. S E M A N Á R I O C C AT Ó L I C O D D E D M A C AU A Ilha de São Tomé (859 km²) foi descoberta pelos navegadores portugueses João de Santarém e Pêro de Escobar no dia do apóstolo São Tomé (21 de Dezembro), corria o ano de 1470. Alguns dias depois, em viagem de reconhecimento à ilha recém-descoberta, no primeiro dia do ano de 1471, aqueles dois capitães encontraram uma ilha mais pequena, a qual baptizaram Ano Bom. A 17 de Janeiro descobririam outra ilha, a que chamaram de Santo Antão, ou Santo António Abade, hoje denominada de Ilha do Príncipe (142 km² e oito mil habitantes), por ter então pertencido ao príncipe D. João, que veio a ser o rei Dom João II (1455-1495, rei desde 1481), embora o nome seja uma homenagem daquele soberano ao seu único filho, Afonso, Príncipe Real (1475-91). Já foi uma diocese enorme, esta a de São Tomé e Príncipe (STP), compreendendo Angola, Moçambique e toda a bacia do Golfo da Guiné, até 1842. Foi constituída sui iure a 31 de Janeiro de 1533 pelo Papa Clemente VII por desmembramento da Arquidiocese do Funchal. Com efeito, foi constituída em diocese a 3 de Novembro de 1534, pelo Papa Paulo III, abrangendo então Angola e Moçambique, sendo o seu primeiro bispo D. Diogo de Ortiz de Vilhegas, mais tarde bispo de Ceuta. Em 1924 designou-se por Diocese de São Tomé, sendo renomeada em 1957 na sua denominação actual. Hoje a Diocese abrange o território nacional de São Tomé e Príncipe (o segundo país mais pequeno de África, a seguir às Seychelles), numa área de 1001 km², num total de 180 mil habitantes, dos quais 120 mil católicos, ou seja, aproximadamente 60% da população distribuída por 14 paróquias. Embora o patrono da Diocese seja São Tomé Apóstolo (festa a 21 de Dezembro), o titular da Sé é Nossa Senhora da Graça (comemoração obrigatória a 25 de Março). D. Manuel António Mendes dos Santos, CMF, é o seu bispo diocesano desde 1 de Dezembro de 2006, fazendo parte da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé e Príncipe. Sacerdote claretiano desde 1985, é, de facto, um “veterano” de África. Como ele próprio nos revela, a «Diocese não é extensa territorialmente, mas é plena de desafios, não apenas pastorais, mas acima de tudo sociais e de integração». Com uma visão antropológica coerente e de largo espectro, atenta e preocupada, D. Manuel conhece bem o terreno, as suas gentes e agentes, as forças em acção, não DIRECTOR: Pe. José Mario O. Mandía I ADMINISTRADOR: Alberto Santos | ASSISTENTE DA ADMINISTRAÇÃO: Wong Sao Ieng I EDITOR: José Miguel Encarnação I EDITOR-ADJUNTO:Benedict Keith Ip | REDACÇÃO: Pedro Daniel Oliveira, Joaquim Magalhães de Castro (Grande Repórter) I SECRETARIADO DA REDACÇÃO E FOTOGRAFIA: Ana Marques I TRADUÇÃO: May Shiu-Ling Ho | COLABORAÇÃO: João Santos Gomes, Pe. João Eleutério, Carlos Frota, Luís Barreira, José Pinto Coelho, Vítor Teixeira, Manuel dos Santos, Oswald Vas, Padres Claretianos I DIRECÇÃO GRÁFICA: Miguel Augusto I PAGINAÇÃO: Lei Sui Kiang I PROPRIEDADE: Diocese de Macau MORADA: Rua do Campo, Edf. Ngan Fai, Nº 151, 1º G, Macau I TELEFONE: 28573860 - FAX: 28307867 I URL: www.oclarim.com.mo I E-MAIL: [email protected] I IMPRESSÃO: Tipografia Welfare Ltd. O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015 D E S TAQ U E 3 PT abdicando nunca de intervir e exercer o direito de opinião, dentro da esfera das suas competências e deveres. E é uma voz ouvida. Ou não fosse, afinal, o responsável máximo da mais importante, senão única, entidade nacional com acção política e social, através principalmente da Cáritas (fundada em 1981) – o braço da Diocese neste quadro de apoio aos pobres, carenciados, órfãos, idosos, desintegrados, às vítimas das conjunturas político-económicas que devastam África, que recebe também algum apoio de ONG’s de matriz católica, bem como de outras. A Diocese é pequena, diríamos, mas empenhada. Segundo D. Manuel, há 14 paróquias, uma das quais é a Ilha do Príncipe (região autónoma), possui igual número de sacerdotes: sete claretianos (quatro santomenses, um português e dois angolanos), cinco diocesanos (dois portugueses e três santomenses) e três do Instituto Missionário de São João Eudes (fundado na Colômbia pelo padre Humberto Lugo Argüelles, na década de 80 do século XX), um dos quais opera no Príncipe. O bispo refere-nos a existência de um Seminário Menor (Madre de Deus), com oito seminaristas, animado por um sacerdote. Alguns seminaristas menores, recorda, «estão ligados aos claretianos», congregação com tradição missionária no arquipélago (aqui desde 1927). Os seminaristas diocesanos (maiores) estudam fora do País: oito em Angola (seis na Arquidiocese de Luanda e dois na de Benguela), além de dois no Patriarcado de Lisboa. Neste último, D. Manuel lembra existirem duas bolsas de estudo para seminaristas diocesanos santomenses. D. Manuel enaltece «a acção inigualável das religiosas no arquipélago, um dos pilares das obras sociais da Igreja, fulcral no combate à pobreza e às necessidades e carências crónicas de boa parte da população». São mais de trinta as religiosas na Diocese: Teresianas, Canossianas, Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, as Servas da Sagrada Família e Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora. O prelado salienta o notável e imprescindível labor das Irmãs, em conjugação com os sacerdotes e a Diocese, além da Cáritas de STP e de Portugal, ou das Misericórdias, além de outras instituições eclesiásticas portuguesas. O «ciclo de pobreza é de facto» mitigado, aponta D. Manuel, pela «acção das congregações religiosas» citadas, através principalmente da «educação» (nos vários lares de meninas, por exemplo), pois, enuncia, «a base da família é fundamentalmente a mãe». Acolhimento, alimentação e preparação para a vida são os escopos desses lares das “Meninas das Roças”, uma das apostas da Igreja, refere, além de lares de idosos, centros de infância, creches, unidades de fisioterapia ou cuidados de saúde elementares. Assim, as Irmãs Teresianas dirigem um lar de quarenta meninas nos Angolares, no sul da Ilha (para meninas da 5ª à 8ª classe) e um outro, com uma dúzia de adolescentes, na cidade de São Tomé (para meninas da 9ª à 11ª classe). As Irmãs Canossianas têm igualmente um lar em Santana, com 25 crianças. A paróquia de Santana dirige também um lar com 22 crianças meninas e um com vinte rapazes. Já as Irmãs Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora dirigem um outro lar em Guadalupe, na zona norte da Ilha com 21 meninas. Sem estas obras sociais da Igreja não haveria política e acção social. Na vertente da educação, D. Manuel fala também do «Instituto Diocesano de Formação João Paulo II (IDF), fundado pela Diocese com apoio do Estado português, mas com declarada e real matriz católica», animada, reforça o bispo, por «valores de justiça, verdade e abertura». O IDF possui actualmente quatrocentos alunos, do 5º ao 12º anos. É uma «escola reconhecida pelo Ministério da Educação de Portugal, funcionando como escola portuguesa em São Tomé e Príncipe». Tivemos a oportunidade de a visitar e assim aquilatar da sua notoriedade em termos de projecto educativo e missão, reconhecida como a melhor escola secundária do arquipélago. Outras escolas existem na Diocese, animadas e geridas pelas congregações religiosas femininas referidas, assegurando educação, alimentação, formação e assistência neste país onde o dia a dia é um milagre, como descreve D. Manuel. «A Igreja – acentua o bispo – considera a educação como o caminho mais eficaz para libertar as pessoas da pobreza». Não só dar o peixe, mas ensinar também a pescar. POBREZA A «realidade social é difícil», está tudo por fazer, com «elevada dependência de ajudas do exterior». Com um alto índice de natalidade – nos últimos trinta anos a população passou de sessenta mil habitantes para os 180 mil – STP é um «país jovem (mais de 50% da população tem menos de 18 anos), com muitas dificul- dades, num caldo cultural complicado, que afecta a realidade social». «As importações, essenciais para a sobrevivência da população», fazem disparar preços, num país onde o salário mensal médio é de trezentas patacas. Por isso todos vendem, para tentar apaziguar as dificuldades. Nas «famílias, numerosas, instáveis, a figura paternal continua a ser quase ausente, ou reduzida em impacto, pois a mãe, a mulher, é a referência. Educar os filhos (de vários pais muitas vezes), criá-los e alimentá-los afigura-se normalmente – diz D. Manuel – como tarefa das mães. Daí a aposta na educação feminina por parte da Igreja». O «espectro da pobreza domina», nas palavras do prelado, «criando situações de degradação moral, alcoolismo, gravidezes adolescentes, abandono escolar, comportamentos de risco, doenças venéreas, etc.» Tudo num cenário paradisíaco, de mar e floresta, plantações, com centenas de roças, antigas ou em exploração, terras férteis e praias idílicas. O turismo é o futuro, já que o petróleo ainda é uma miragem, dada a profundidade em que se encontram os jazigos offshore. Mas «o turismo – equaciona D. Manuel – pode trazer problemas de inflação, carestia, de abandono das terras e da economia de subsistência, desintegração social, delinquência e todos efeitos sociais que podem surgir». Ou o «reverso da moeda», o lado negro do turismo, como já começa a suceder no Príncipe, onde se sente já falta de produtos hortícolas nos mercados locais, ou então a preços que a população não aguenta. E as instituições de caridade (da Igreja) também não, já que asseguram a alimentação de milhares de pessoas em STP. Com a pobreza a crescer, com as instituições de caridade a lutar pela sua mitigação, o drama aumenta. Todo este cenário ganha matizes mais escuras numa «sociedade onde a cultura mágica e neo-pagã começa a ganhar força», numa «terra de vivência mestiça, de caldo cultural com dificuldades de vida». Daí a presença cada vez mais notada de Igrejas evangélicas com dízimos e «promessas de felicidade e facilidades, pondo Deus ao serviço dos homens e já não o contrário», analisa D. Manuel. A «alienação» emparelha com essa situação, nesta «terra onde o medo é cultural, onde o dualismo bem/mal impera». Alienados, sentem-se perdidos, inseguros: claro, tudo o que se lhes aparecer a prometer segurança e algo melhor, fácil, logo é abraçado. «Seguir Cristo, pegar na sua Cruz com Ele, em liberdade, mas com esforço e persistência, é mais difícil nos dias de hoje», enuncia D. Manuel. Por isso, adianta, os «católicos em São Tomé e Príncipe são cada vez mais tímidos, vivendo com vergonha a sua fé», faltando, por exemplo, «líderes leigos a apoiar a Igreja, publicamente», embora haja bons exemplos, como o presidente da Câmara Distrital de Lembá, na costa oeste da Ilha de S. Tomé, muito empenhado na vida eclesial, como testemunhámos aliás. D. Manuel afirma «existirem boas relações entre a Igreja e o Estado, sem problemas e com diálogo». «O papel social do Estado é, aliás, assegurado pela Igreja». Também existe um bom relacionamento, regular, com a Santa Sé e com a Igreja em Portugal ou de outros países lusófonos, principalmente Angola. Existem ainda, relembra, «problemas quanto à situação jurídica da Igreja em São Tomé e Príncipe desde a Independência em 1975», sem «clarificação institucional e enquadramento jurídico», mantendo-se quase como antes daquela data, «sem novas leis». Assim, poder-se-ia dizer que o antigo «Acordo Missionário se mantém em vigor, na prática». Em STP «há um espírito religioso forte, com forte influência da religiosidade popular portuguesa, visível nas festas, procissões, liturgia», acrescenta D. Manuel, sublinhando que «a prática religiosa até tem aumentado, com as missas das seis horas da manhã sempre repletas». «A presença do sacerdote aumenta e fortalece a devoção», daí que se pugne por mais missionários. Quanto a sacramentos, perguntámos? «Baptismo é normal, socialmente importante, como o Crisma, mas quanto aos outros a situação é diferente, com uma taxa de casamentos católicos baixa», pois as «uniões de facto», uma ou várias ao mesmo tempo, «são comuns», devido a problemas de «insegurança afectiva, os tais medos, ou a cultura machista, bígama», ainda marcante na sociedade santomense. O «índice de auto-estima é muito baixo, com complexo de inferioridade cultural forte», colectivamente. Concluindo, «não se pode esconder os problemas debaixo do tapete, há que os identificar e trabalhar neles, superar, ser realista, criar uma economia social integradora forte, que não exclua», remata D. Manuel, empenhado e com uma naturalidade simples mas directa. Com um realismo que impressiona, uma agudeza na análise e uma visão própria de quem conhece a realidade africana e destas ilhas. «Porque as ilhas são sistemas frágeis». Mas em São Tomé e Príncipe há fé e esperança, alegria, hospitalidade e uma Igreja missionária que quer pegar na Cruz com Ele, sem desistir ou esmorecer. E N T R E V I S TA O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015 4 PT FRANCES MOFFETT-KOUADIO, COMISSÁRIA DA AGÊNCIA DE COMÉRCIO E INVESTIMENTO DO REINO UNIDO EM HONG KONG «Estamos interessados na Ilha da Montanha» PEDRO DANIEL OLIVEIRA [email protected] A Agência de Comércio e Investimento do Reino Unido em Hong Kong promoveu, no passado dia 19 de Junho, uma missão empresarial em Macau para atrair investimentos, com incidência nos “resort” integrados. Para Frances Moffett-Kouadio o objectivo é claro: «Estamos interessados na Ilha da Montanha». A’O CLARIM, a comissária para o comércio da entidade subordinada ao Governo britânico falou também sobre entretenimento e diversificação económica na RAEM. O CLARIM – É a primeira vez, enquanto comissária para o comércio da UKTI (sigla inglesa) em Hong Kong, que promove uma missão empresarial em Macau com o intuito de potenciar novas oportunidades de negócio para as companhias britânicas. Quais os sectores mais atractivos? FRANCES MOFFETT-KOUADIO – Estamos obviamente interessados em todos os “resorts” integrados. Embora haja um número considerável de empresas britânicas ligadas à arquitectura, à engenharia, à finança, ao serviço ao cliente e aos eventos, e a desenvolver projectos nos empreendimentos da indústria do Jogo, penso que os “resorts” integrados são a melhor solução para a diversificação económica porque trazem novas oportunidades nas áreas da formação, dos cuidados de saúde e das infra-estruturas dos transportes públicos, entre outras. CL – A julgar pela dimensão geográfica do território e pela competição com as demais empresas aqui estabelecidas, sejam locais, do continente chinês, de Hong Kong, de Portugal ou de outros países, haverá assim tantas oportunidades que chamem à atenção dos empresários britânicos? F.M.K. – Penso que o mercado é atractivo. O maior desafio para a obtenção de lucros é levar os “resorts”, neste momento, a pensar mais no lazer e no entretenimento. No Reino Unido temos as fenomenais indústrias da música, do cinema e da televisão. Há companhias a trabalhar nestas áreas com potencial para ajudar os “resorts” a desenvolver novos produtos para os seus clientes. CL – Estão focados apenas em Macau? F.M.K. – Há também o interesse de encontrar parceiros em Macau para que as empresas britânicas entrem na Ilha da Montanha e também na China continental. Macau não só é um mercado muito atractivo, como também é um trampolim para o continente chinês. CL – Será assim tão linear? F.M.K. – Pode definitivamente acontecer. Os novos empreendimentos na Ilha da Montanha são um bom ponto de partida porque são boas oportunidades para as companhias britânicas com actividade em Hong Kong de estreitarem parcerias com empresas de Macau, por forma a desenvolverem projectos em conjunto na Ilha da Montanha e também no resto da China. CL – Apesar das boas ofertas dos hotéis-casino, maioritariamente direc- cionadas para turistas e visitantes, não há nada de substancial fora destes empreendimentos que sirva as comunidades aqui residentes. Algo do género de Lan Kwai Fong... F.M.K. – Há um grupo de britânicos a apoiar o desenvolvimento do entretenimento na Vila da Taipa, com investidores do Reino Unido que estão a financiar a renovação e a regeneração daquela zona. É um exemplo de como o pensamento britânico pode ajudar à regeneração. Felizmente, há restaurantes e cafés [de várias tendências] em redor. Penso que o desenvolvimento acontecerá de forma natural à medida que parte da “cidade” se regenera. Há um número fenomenal de edifícios cuja utilidade pode ser alterada de modo a haver uma melhor rede social na zona [da Vila da Taipa], à imagem de tudo o que já existe em Lan Kwai Fong. CL – Voltando aos empreendimentos ligados ao sector do Jogo... F.M.K. – Fui ao novo Broadway Macau e vi o mercado de rua... Por exemplo, em vez de irmos para dentro de um casino ou de um hotel onde até há entretenimento e divertimento, penso que virá o tempo das pessoas quererem e exigirem algo diferente, o que também resultará em novas oportunidades para as empresas tornarem isso em realidade. CL – O que fazer então? F.M.K. – Os residentes de Macau são um grupo poderoso em termos de consumo, por isso há que exigir junto do seu Governo [da RAEM] medidas para haver mais negócios locais. CL – As receitas do Jogo decrescem a olhos vistos, o que estará a afectar o desempenho da economia local e, por arrasto, das PME. Como ultrapassar esta situação? F.M.K. – É preciso inserir a situação no seguinte contexto: embora estejam em queda, as receitas ainda são muito elevadas. A Venetian em Macau conseguiu mais em seis semanas do que num ano inteiro em Las Vegas. A taxa de desemprego ainda é muito baixa. Há muitas oportunidades, mas se chegarem tempos difíceis as pessoas terão que ser mais criativas a desenvolver uma grande variedade de negócios. O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015 5 PT LOCAL KATE O’KEEFFE, REPÓRTER DO WALL STREET JOURNAL PARA O SECTOR DO JOGO Accionistas pressionam Patrões PEDRO DANIEL OLIVEIRA [email protected] A repórter mundial do Wall Street Journal (WSJ) para o sector do Jogo, Kate O’Keeffe, disse na passada quarta-feira a’O CLARIM que a Sands China e a Wynn Resorts (Macau) estão sob forte pressão dos accionistas, razão pela qual Sheldon Adelson e Steve Wynn têm criticado o Governo da RAEM. «Muitas pessoas que investem em Macau estão perturbadas porque não há muita certeza sobre o que se está a passar e existe muita pressão de quem financia os projectos, inclusivamente dos accionistas», referiu Kate O’Keeffe, à margem da conferência-pequeno-almoço subordinada ao tema “De Macau para Las Vegas”, promovida pela Associação Comercial França-Macau. «É compreensível que, ao ser afectado por uma série de medidas, o negócio os faça ficar preocupados ou perturbados porque o que está a acontecer é algo nunca visto», frisou, acrescentando que os Patrões «deviam estar gratos pelo que têm, mas também é compreensível que estejam chocados pela forma como as receitas estão a decrescer». Invocando a postura de Steve Wynn no Nevada, exemplificou: «Criticava sempre Obama, ao dizer que o Presidente promovia uma série de políticas que des- PROTECÇÃO DOS ANIMAIS Multas com desconto A 1ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa está a estudar a hipótese de incluir na proposta da lei sobre a protecção de animais o incentivo ao pagamento de multas nas infracções administrativas menos graves, entre as duas mil e as dez mil patacas. De acordo com Kwan Tsui Hang, presidente daquele órgão da AL, a medida não só vai «reduzir os custos administrativos», como «incentivar a população a pagar as multas o quanto antes», porque se o fizerem no prazo de dez dias será apenas cobrado o valor mínimo de duas mil patacas. «O valor entre as duas mil e as dez mil patacas é grande. Se as pessoas conseguirem pagar a multa em dez dias parece que não está a ser considerada a gravidade da situação», disse no entanto Kwan Tsui Hang, acrescentando que a medida inspirada na “Lei do Trânsito Rodoviário” poderá cair numa próxima reunião. A presidente da 1ª Comissão Permanente adiantou que as multas menos graves não vão recair no âm- bito dos maus tratos a animais, pois abrangem o abate de animais com problemas congénitos, ferimentos ou doenças sem o acompanhamento de um veterinário, a venda de cães e gatos com idade inferior a três meses, a captura de animais selvagens sem a autorização do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) e a utilização de animais, à excepção de peixes, em circos, exposições ou espectáculos. As multas mais graves, entre as dez mil e as vinte mil patacas, e deste valor até às cem mil patacas, estão excluídas do incentivo ao pagamento das multas. P.D.O. truíam o negócio em Las Vegas. São homens de negócios [aludindo também a Sheldon Adelson], por isso puxam sempre para o seu lado. No meu entender, os accionistas querem [que se faça pressão], por forma a maximizar as receitas e os lucros no negócio». A repórter do WSJ vincou ainda que os “resorts” em construção no COTAI parecem-se cada vez mais com os de Las Vegas, mas os mercados são muito diferentes quanto à proveniência de clientes: «obviamente, Las Vegas tem uma visão geral, enquanto os visitantes que chegam a Macau são maioritariamente da China continental». No seu entender, «se Las Vegas já construiu uma grande variedade de infra-estruturas, Macau ainda está a passar por vários estágios de desenvolvimento nos projectos, essenciais para direccionar todo este crescimento de visitantes para as ofertas extra-Jogo». «Se olharmos para a indústria do Jogo à escala mundial, que melhor sítio há para fazer negócio do que aqui [na RAEM]? Mesmo no seu pior, o mercado de Macau é melhor do que muitos outros», sublinhou. A terminar, Kate O’Keeffe disse estar convencida que «o mais provável é as [seis] operadoras manterem as licenças» para além do actual período de validade, embora preveja que «o negócio se torne menos rentável para quem estava acostumado a receitas fabulosas». FUNDAÇÃO JORGE ÁLVARES E CASA DE MACAU EM PORTUGAL MOSTRAM SERVIÇO Convívio e mimos A Fundação Jorge Álvares realiza amanhã o II Encontro de Macau, com o objectivo de assinalar o 15º aniversário da transferência da Administração Portuguesa de Macau. O almoço-convívio, aberto a todos os que nasceram, viveram ou trabalharam em ou para Macau, vai decorrer no Refeitório dos Frades da actual Escola das Armas (Convento de Mafra). «Tal como aconteceu em 2009, não houve convites pessoais, tendo a Fundação Jorge Álvares, com vista a promover inscrições, solicitado a um elevado número de antigos residentes que divulgassem a iniciativa pela Família que os acompanhou em Macau e por todos os amigos e conhecidos que lá estiveram na mesma ocasião», refere a organização em nota de Imprensa. Por sua vez, a Casa de Macau em Portugal divulgou no último sábado a lista de instituições e empresas que proporcionam descontos (podem ir até aos 50%), ou serviços gratuitos, aos sócios daquela entidade. O Museu do Oriente, o Oceanário de Lisboa, o Teatro da Cornucópia, o Museu das Marionetas do Porto, o Museu da Electricidade/ Fundação EDP, a Casa de Tormes, o Restaurante Cantonês Dim Sum (Oeiras) e o Restaurante Dinastia Tang (zona do Poço do Bispo, Lisboa) são alguns dos aderentes à iniciativa. P.D.O. LOCAL O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015 6 PT CONHECER AS LEIS DE MACAU Breve Introdução aos Regimes de Bens do Casamento (I) Regime da comunhão de adquiridos O Código Civil prevê a vigência em Macau de quatro regimes de bens, a saber: o regime da separação, o regime da comunhão geral, o regime da comunhão de adquiridos e o regime da participação nos adquiridos. O princípio fundamental do regime da comunhão de adquiridos estabelece que os bens dos cônjuges adquiridos antes do casamento são bens próprios e os bens adquiridos por cada um depois do casamento constituem património comum, salvo disposição em contrário na lei. Por exemplo, tratando-se de imóvel adquirido pela mulher antes do casamento, este imóvel é seu bem próprio. Inversamente, caso o imóvel seja adquirido depois do casamento, este fará parte do património comum dos cônjuges. Quando cessar o regime da comunhão geral, é preciso, em princípio, fazer a partilha dos bens. Neste caso, cada um dos cônjuges fica com os seus bens próprios e metade do património comum. Regime da Separação No regime da separação, cada um dos cônjuges conserva o domínio e a fruição de todos os seus bens antenupciais ou pós-nupciais, podendo, salvo nas situações previstas na lei, dispor deles livremente. No âmbito de administração de bens, cada um dos cônjuges pode administrar e dispor livremente dos seus bens pessoais. No entanto, a lei prevê algumas excepções, designadamente, no que diz respeito à casa de morada da família. Assim, mesmo que o regime adoptado seja o da separação e a casa seja apenas propriedade de um dos cônjuges, sem o consentimento do outro, o titular do direito de propriedade sobre a casa não a pode vender, arrendar ou hipotecar. Regime da Comunhão Geral No regime da comunhão geral, os cônjuges são proprietários em comu- nhão de todos os bens antenupciais ou pós-nupciais, salvo os que estão excluídos por lei. Então quais são os bens que não fazem parte do património comum? De acordo com a lei, os bens que não fazem parte do património comum dos cônjuges são: as roupas e outros objectos de uso pessoal (por exemplo, certidões); as recordações da família de baixo valor económico; indemnização a título pessoal por acidente de viação, entre outros. Em caso de cessação do regime da comunhão geral (designadamente por divórcio, alteração do regime de bens, entre outros), os cônjuges são obrigados a fazer a partilha do património comum, ficando cada um com metade deste património e com os seus bens próprios. Na próxima semana, será apresentado nesta coluna o regime da participação nos adquiridos. Obs. Na elaboração do presente artigo teve-se como referência o disposto nos artigos 1548.º, 1601.º, 1603.º, 1609.º e 1610.º do Código Civil. Texto fornecido pela Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça PROVISÃO PROVISÃO José Lai, Bispo Diocesano de Macau José Lai, Bispo Diocesano de Macau Fazemos saber que tendo em consideração as opiniões e o consentimento Fazemos saber que achando-se vago o lugar de Directora da Escola da Rev. Superiora Provincial da Congregação das Missionárias Dominicanas Dom João Paulino, sita na Avenida Carlos da Maia, Taipa, por Provisão de do Rosário, havemos por bem desligar a Irmã Li Shue Ming, OP, do encargo 11 de Junho de 2015; de Directora da Escola Dom João Paulino, sita na Avenida Carlos da Maia, Taipa, para o qual fora nomeada por Provisão de 15 de Junho de 2009. Considerando as qualidades e experiência em Matéria de Educação e Administração Escolar na pessoa da Sra. Ng Sai Wa; Para o efeito, a dita Directora, continuará a assumir as suas funções até Havemos por bem nomeá-la Directora da referida Escola. ao dia 31 de Agosto de 2015, para a entrega de todo o trabalho de direcção e Esta provisão entrará em vigor a partir do dia 1 de Setembro de 2015. administração da escola em causa à sua substituta. Dada no Paço Episcopal em Macau, sob o Nosso Sinal e Selo de Armas, Dada no Paço Episcopal em Macau, sob o Nosso Sinal e Selo de Armas, aos 12 de Junho de 2015. aos 11 de Junho de 2015. + José Lai + José Lai Bispo de Macau Bispo de Macau O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015 7 PT O L H A N D O E M OPINIÃO R E D O R Não ao sufrágio indirecto PEDRO DANIEL OLIVEIRA [email protected] N os últimos dias houve dois assuntos que prenderam a minha atenção: o chumbo da reforma política pelo Conselho Legislativo (LegCo) de Hong Kong e a entrevista do deputado Chan Chak Mo, no passado dia 10 de Junho, ao Ponto Final. No primeiro caso, quando tudo fazia prever que iria decorrer com normalidade a votação no LegCo sobre a lei da reforma eleitoral, apresentada pelo Governo de Hong Kong e apoiada por Pequim, eis que houve um inesperado golpe de teatro, com a saída de 31 deputados pró-Pequim do plenário, momentos antes de expressarem a sua tendência de voto, para supostamente inviabilizar o quórum e dar tempo a um colega da mesma ala de votar, pois estava atrasado. E não voltaram. Apesar desta insólita manobra a roçar o ridículo, houve quórum e a proposta de lei acabou por ser rejeitada, com 28 votos contra e oito a favor. Para ser aprovada necessitava de 47 votos a favor. Tem havido muita especulação sobre as razões de todo este imbróglio. Mera incompetência? Esperteza das oligarquias? Desafio à “mão” de Pequim, até mesmo pelos alinhados? Em termos práticos, há três ilações a tirar: 1 – Pequim foi a grande beneficiada, porque não houve qualquer reforma do sistema político, mantendose a eleição do Chefe do Executivo de 2017 limitada a mil e 200 pessoas. 2 – Os empresários e as oligarquias de Hong Kong continuam a ditar as regras numa sociedade onde cada vez mais se acentua o fosso entre ricos e pobres. 3 – Por ironia do destino, a ala pró-democrata do LegCo fez um grande favor a Pequim. Quanto à entrevista de Chan Chak Mo, é de elogiar a sua posição, ao assumir ser verdade a crítica de Pereira Coutinho, quando afirmou que os deputados tomam as suas decisões na Assembleia Legislativa de Macau de acordo com os seus interesses económicos: «No meu caso, represento um sector, eu falo por eles, é claro que eu falo pelos meus. Isso acontece em todos os lugares [sic]». Chan Chak Mo tocou num ponto essencial, o da representatividade no Hemiciclo, porque ao ser dominado por empresários, maioritariamente eleitos pelo sufrágio indirecto, percebe-se que a voz da sociedade está a ser substituída pela voz dos negócios, com as devidas implicações na vida das pessoas. Embora seja importante a representatividade empresarial, também é certo que a AL não pode estar refém deste sector, sob pena de perigar a tão desejada harmonia social. Há que mudar mentalidades, a começar pela abolição gradual do sufrágio indirecto, em benefício do sufrágio directo, com representatividade predominante, e dos nomeados, que não devem ultrapassar um terço dos deputados. Os nomeados são bastante necessários para haver um contrabalanço porque, em termos comparativos, até mesmo nos parlamentos das democracias ocidentais há grande representatividade de deputados alinhados com os respectivos Governos (em alguns casos são a maioria). Apresentado de forma inteligente, o Governo da RAEM poderá ter a maior parte da população do seu lado na consulta pública sobre um hipotético projecto da proposta de lei sobre este tipo de reforma do sistema político, o que poderá depois fazer toda a diferença no seio da AL. A gradual abolição do sufrágio indirecto não pode criar pânico na comunidade macaense com direito a voto, mas ser entendida como uma soberana oportunidade de afirmação, ao mostrar total apoio a alguém da velha guarda, ou a ela conotada, o que nunca aconteceu após o estabelecimento da RAEM porque Leonel Alves teve sempre o lugar garantido pela via indirecta. Em último caso, há a possibilidade de um macaense ser nomeado pelo Chefe do Executivo. QUEM É QUEM? Numa consulta ao sítio da AL verificase que, dos catorze deputados eleitos pela via directa, dois são administrativos (Ho Ion Sang e Kwan Tsui Hang), há um desempregado (Ng Kwok Cheong), outro é docente (Au Kam San), quatro exercem a profissão de deputado (Zheng Anting, Melinda Yi, Pereira Coutinho e Chan Meng Kam), uma é gestora (Angela Leong), outra é enfermeira (Wong Kit Cheng), uma é profissional na área dos serviços sociais e comunitários (Song Pek Kei) e um é funcionário público aposentado (Leong Veng Chai). Frequentaram todos o Ensino Superior, à excepção de Angela Leong, Zheng Anting e Chan Meng Kam (Ensino Secundário), assim como Leong Veng Chai (Ensino Primário). Dos doze deputados eleitos pela via indirecta, há quatro empresários (Ho Iat Seng, Kou Hoi In, Chan Chak Mo e Cheung Lup Kwan), um dirigente associativo (Lam Heong Sang), um auditor de contas (Chui Sai Cheong), um advogado (Leonel Alves), um engenheiro civil (Chui Sai Peng), uma docente (Chan Hong), um administrador (Cheang Chi Keong), um médico (Chan Iek Lap) e uma administrativa (Lei Cheng I). Apenas Cheung Lup Kwan ficou pelo Ensino Secundário. Dos sete deputados nomeados pelo Chefe do Executivo, Fong Chi Keong e Lau Veng Seng não revelam a sua profissão, mas pelo currículo dos dois depreende-se que se trata de um empresário e de um administrador, respectivamente. Tsui Wai Kwan e Siu Chi Wai são empresários, enquanto Ma Chi Seng é gestor de empresas, Vong Hin Fai é advogado e Gabriel Tong é docente universitário na área do Direito. Todos têm formação académica, exceptuando Fong Chi Keong e Tsui Wai Kwan (Ensino Secundário). Feitas as contas, entre 33 deputados, encontram-se seis empresários assumidos, embora o número seja enganador porque, na prática, há pelo menos mais oito com “costela” empresarial: Zheng Anting, Chan Meng Kam, Angela Leong, Fong Chi Keong, Cheung Lup Kwan, Lau Veng Seng, Ma Chi Seng e Chui Sai Peng. Também se depreende que o “canudo” não é tudo na vida, a julgar pelas interpelações com valor de Leong Veng Chai. Ou do poder alcançado no mundo dos negócios por Angela Leong, Chan Meng Kam, Cheung Lup Kwan e Fong Chi Keong. OPINIÃO O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015 8 PT A tragédia grega – acto 1 LUIS BARREIRA S emana após semana e dia após dia os cidadãos da Europa e nomeadamente da zona Euro, entre os quais os portugueses, olham para o calendário das decisões sobre a situação grega tal como consultam diariamente o estado do tempo, antes de decidirem ir para a praia. Num dia o tempo vai estar bom mas, logo a seguir, a temperatura vai baixar. Por vezes a meteorologia prevê um Sol resplandecente mas, inesperadamente, começam a aparecer umas nuvens negras. É assim a disputa entre os credores e a Grécia, num jogo do rato e do gato que, a pouco e pouco e à medida da proliferação mediática sobre a evolução do “diz que disse”, nos começa a deixar quase indiferentes à sua solução. Mas pese embora estarmos em plena “campanha” de férias, à qual se junta uma outra campanha eleitoral, para a qual os “cremes protectores” vão ser muito necessários (aconselho o 50+), o Sol das praias portuguesas e o calor que irradia dos discursos sobre a Grécia podem queimar a pela sensível dos portugueses... Entre muitas observações, já ouvimos de tudo sobre a Grécia e os gregos: malandros, corruptos, calões, proxenetas e outras designações que me poupo de citar. Como também já se divulgaram muitas descrições sobre os seus credores: imperadores da finança, usurários, “donos” da UE, impostores, dominadores dos mais fracos, etc., etc. Se o que se passa entre a Grécia e as suas instituições credoras fosse identificado e resumido a estes palavrões, eu diria que estão bem uns para os outros. No entanto, a realidade é bem mais profunda do que as declarações políticas daqueles que tudo jogam no tabuleiro politico-partidário e em favor dos seus interesses particulares. Em primeiro lugar é preciso perceber, de uma vez por todas, que a linha de conduta dos partidos políticos, actualmente maioritários na União Europeia e em plena crise da mesma, nada tem a ver com as designações que estiveram na sua origem, em pleno século XIX. Comunistas, socialistas, social-democratas, cristãossociais, liberais, etc., são, no seu conjunto, apenas denominações de interesse eleitoral, pelo seu papel histórico e muito menos respeitadores do seu ideário inicial. Hoje, estes mesmos partidos, subordinados a uma “troika” de nações impositivas do seu presente e futuro e de um capitalismo selvagem que lhes asfixia a ideologia, são meras “marionetas” de um jogo de interesses políticos e financeiros, que apenas lhes dão margem para pequenas clivagens eleitorais. De um lado (os predominantes), os que fazem tábua rasa dos valores que estiveram na base da construção do Estado Social, após ESCOLHA SARDINHAS PORTUGUESAS a Segunda Guerra Mundial; do outro, os que alimentam o propósito de salvaguardar o essencial dessas conquistas sociais e, no meio, os que pretendem fazer uma ponte entre uns e outros. Com uma economia arruinada pelos primeiros, os gregos, esperançados que as democracias institucionalizadas na Europa respeitassem também a sua escolha, decidiram não votar maioritariamente em nenhum dos históricos partidos, mas num partido diferente, o Tsipras, o qual – até aparecer um ideólogo ou filósofo que o classifique – não me atrevo a rotular. Direi apenas que prometeu ao seu povo preservar e melhorar o seu bem estar, opondo-se a ver retalhada a sua pátria, em nome de inter- ESCOLHA PORTHOS esses que lhe são alheios e às condições draconianas de um “memorando” imposto pelos credores e que não tinha sido subscrito por si. Em nome de objectivos semelhantes nasceram na Europa vários novos partidos idênticos, precisamente em países em situações idênticas, que lançaram o pânico entre os tradicionais partidos políticos, levando-os a uma extremada defesa da sua existência, através de um ataque às intenções dos dirigentes do Tsipras, tentando descredibilizá-lo, vergar os seus propósitos e caluniar sistematicamente o povo que votou nele. Assim, a irredutível posição dos credores da Grécia, mais do que a defesa do dinheiro que investiram naquele país, é uma tentativa de evitar perder muito mais, ou seja, que o que se passou nas últimas eleições gregas não contagie outros povos na mesma situação. Passos Coelho bem o admitiu quando confessa que o que está em causa é o “contágio político”. Até que isto se resolva, apesar de muitos dirigentes desta Europa a várias velocidades e situações económicas distintas terem afirmado que é necessário rever as regras do Euro, dos Tratados Orçamentais, Dívidas Soberanas, Défices e o respectivo Pacto de Estabilidade e Crescimento, nada mexe. Mexe o Governo português que, em vésperas de eleições, não se cansa de afirmar que vivemos num país das maravilhas, produto do “memorando”, não tantas como aquelas que prometeu quando subiu ao poder porque, essas, eram um “mito urbano”! O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015 9 PT OPINIÃO TAP Portugal e Frente Nacional JOSÉ PINTO COELHO O desgoverno PSD/CDS resolveu entregar os destinos da TAP ao consórcio Gateway. O Estado vai encaixar 10 milhões de euros com a venda. Lembramos que, aquando da compra da quase falida Portugália ao grupo BES, a TAP, ou o Estado, desembolsaram 140 milhões de euros por uma empresa muito mais pequena e que o custo de um avião Airbus A 380 é de 200 milhões de euros. Bastam estes números para vermos que estamos perante um negócio ruinoso, que passa de imoral a criminoso aos olhos dos portugueses. Ao longo dos últimos anos a administração da TAP, recebendo ordens superiores ou por conta própria, tem vindo a destruir a empresa. Quer por má gestão, quer por negócios ruinosos, quer pelo seu crescimento desmedido a contar com a possibilidade de construção de um novo aeroporto (a obra megalómana do Governo Sócrates que não chegou – ainda – a avançar). Não nos admira portanto vermos o gestor brasileiro, que colocaram a fazer o trabalho sujo, a concordar com a venda da empresa. Nem nos espantamos pela notícia de que esse mesmo gestor vai ser mantido em funções pelo actual comprador. Primeiro, arruinou. Depois, ganhou um “tacho” na empresa arruinada. Ao contrário do afirmado por este Governo, defendo que é possível fazer uma reestruturação na TAP que traga a empresa para o bom caminho, para o caminho do lucro. Basta mudar a administração, negociar inteligentemente com Bruxelas a autorização para financiar a empresa (pois se o Governo e o sistema ajudam bancos privados, têm também a obrigação de ajudar a empresa que é a maior exportadora nacional) e esta facilmente entrará no bom caminho. O acordo agora alcançado está cheio de pontos nebulosos, não garantindo os postos de trabalho, nem a continuação de rotas e o nome da empresa terminados os dez anos de transição. Estamos perante mais um escândalo nacional, onde quem vai perder serão Portugal e os portugueses e quem vai ganhar veremos nos próximos episódios, quando constatarmos os tachos oferecidos, as doações para campanhas eleitorais, ou as casas em Paris oferecidas por algum amigo. PATIFES Sim, estamos subjugados a um bando de patifes, desqualificados, que es- crevem a nossa História com páginas de destruição, desmantelamento, capitulação, pilhagem, roubo, etc... Eles, à imagem daquilo que se passa um pouco pelos vários países da Europa e do mundo ocidental, estão vendidos a um modelo, que repudiamos e que nos querem impor: o mundialismo. O poderoso rolo compressor mundialista, do totalitarismo do capital apátrida e do multiculturalismo, aniquila, sem dó nem piedade, toda a natureza humana, ou seja, a dignidade pessoal, a família e a nação. É indiscutível o seu poder avassalador. Mas o mais grave é que essa agressão não vem abertamente de fora. Muitas vezes ela não é palpável nem evidente, mas antes espalha os seus tentáculos contando com os vassalos cobardes e traidores em cada país. Esse é justamente o nosso pior inimigo: o que vem de dentro; o que está cá dentro, que é dos nossos e que abre as portas a todos os cavalos de Tróia e também de Troika. Por isso, sendo a hora grave, reclama novos heróis. Reclama, dos verdadeiros portugueses, sacrifícios e riscos por uma esperança que igualmente vem de dentro: o nacionalismo! A nossa mundivisão, o nosso modelo de sociedade é antagónico ao que nos estão a impor e é a única alternativa. Enquanto houver um punhado de portugueses conscientes, há esperança. Lutemos pois por ela! Mas a vitória não se consuma por magia, mas antes com suor e lágrimas, à imagem do que fizeram os grandes obreiros e construtores da nossa nação. Sigamos o seu exemplo! Martim Moniz é um exemplo disso. Hoje, infelizmente, como o seu nome associado ao que de pior temos… Sim, o que de pior temos: há portugueses a viver na rua, há jovens casais sem dinheiro para uma casa onde constituir família, há idosos abandonados a precisar de apoio, mas a Câmara Municipal de Lisboa decidiu gastar aqui milhões num complexo com uma mesquita. A decisão foi de António Costa, do PS. Mas calou-se o PCP, calou-se o BE, calou-se o PSD e calou-se o CDS. Só nós erguemos a voz para dizer: em Portugal, primeiro os portugueses! A nossa forma de estar, por colocarmos a nossa Nação acima de qualquer outro interesse, é antagónica às práticas deles. Eles são os que nos vendem, os que se enganam sistematicamente nas contas, os que tiram cursos ao Domingo e os que nos lançam na bancarrota… e depois ainda têm a distinta lata de dizer que só as políticas deles é que são credíveis. Como se eles, comprovadamente incompetentes e responsáveis pelo estado a que Portugal chegou, tivessem moral para falar. Lutemos pois pela alternativa nacionalista. Só assim podemos almejar a reconquista da liberdade colectiva e individual do nosso povo. Vamos combater o inimigo que vem de dentro, traidor, e o que vem de fora, invasor. Vamos reconquistar o que nosso! Viva Portugal! EUROPA AMANHECE Marine Le Pen, líder da Frente Nacional francesa, conquistou no Parlamento Europeu poder para melhor denunciar as infâmias de Bruxelas e dar um novo rumo à Europa, ao reunir aliados suficientes para formar um grupo parlamentar. O novo grupo terá como co-presidente Marcel de Graaff, do PVV holandês, um dos aliados “históricos” da dirigente da FN na Europa, ao qual se juntam o Partido da Liberdade austríaco (FPÖ), a Liga Norte italiana e o Vlaams Belang flamengo (Bélgica). O cargo de tesoureiro será ocupado por Gerolf Annemans, deputado desta formação belga. É de congratular o facto de cada vez mais os nacionalistas europeus chegarem a entendimentos, pondo de parte pequenas divergências e compreendendo que a Europa e os europeus estão em primeiro lugar. Vivemos tempos de esperança e a criação deste grupo parlamentar é a prova disso mesmo. Na Europa começam a soprar os ventos de mais justiça social e de mais identidade e soberania. C U LT U R A O CLARIM | Semanário Católico de Maca 10 PT MEMÓRIAS E FORTALEZAS NO Chineses de Nampula e um JOAQUIM MAGALHÃES DE CASTRO [email protected] Após um voo tranquilo de três horas aterramos em Nampula. Enquanto aguardo pela bagagem na passadeira rolante constato que não conseguirei, nessa mesma noite, transporte directo para a Ilha de Moçambique. Mas não faz mal, o aeroporto fica perto do centro da cidade e abundam táxis. PARTO num deles em busca da Casa de Hóspedes de que me tinha falado Luís Filipe Pereira e deparo com a baixa de Nampula quase às escuras. Apesar das minhas indicações, o motorista deixa-me no local errado. Considero o lapso, de certa forma, conveniente, pois do outro lado da rua avisto a entrada principal do Hotel Tropical, conhecido em tempos pelo nome Pensão Parque, como revelam as letras apagadas na pintura original da fachada. Gere agora o negócio uma família de chineses, embora sejam moçambicanos de gema os empregados da recepção e restante pessoal da casa. Como complemento à unidade hoteleira – na mais fiel tradição oriental – não falta aqui o respectivo restaurante e a respectiva discoteca com karaoke a condizer. O que vale é que as paredes parecem capazes de isolar o som, penso para com os meus botões, antecipando a possibilidade de ter de ficar alojado essa noite no Hotel Tropical, se bem que a Casa de Hóspedes continue a ser uma prioridade. PRESENÇA CHINESA Para não ter de andar com a mochila às costas deixo-a na recepção do Tropical e pesquiso as redondezas da praça ali perto, pedindo direcções aos seguranças de boné e farda azul sentados em frente aos portões das residências privadas. Nada me sabem dizer a respeito da dita. Tão pouco ouviram falar dela os homens que conversam e fumam narguilé no jardim de sua casa, confortavelmente sentados em cadeiras reclináveis, e que parecem algo assustados quando os chamo da rua. Comunicam entre si em Árabe mas respondem às minhas questões num Português irrepreensível. Cansado de procurar em vão, regresso ao Tropical disposto a instalar-me num dos quartos junto ao terraço. É pequeno mas tem uma ventoinha das grandes e uma janela sem vidros, o que me obriga a procurar grandes pedaços de cartão para tapar o buraco. Espero com isso evitar a entrada de mosquitos, pois em todo o Norte de Moçambique ameaça a malária. Permanentemente. Todos os cuidados são poucos. «– Então tuga, estás a trabalhar?», questiona um jovem moçambicano, sentando-se à minha mesa sem qualquer tipo de cerimónia, dou eu as últimas garfadas na massa com legumes salteados equitativamente regada com molho de soja. Certamente intriga-o as linhas que escrevo no ecrã do meu portátil ao mesmo tempo que degluto o repasto. Quebrado o gelo inicial, Acácio – assim se chama o meu interlocutor – desata a conversar sobre os mais diversos assuntos utilizando expressões como “este gajo” e “estou lixado”. Mais portuguesas não podiam ser! Já o “ya”, tão comummente utilizado por aqui e introduzido em Portugal após o escaldante Verão de 1975, só pode ter origem na vizinha África do Sul. Dá-me a entender o Acácio que os proprietários do Hotel Tropical estão ligados ao negócio de madeiras raras, enviadas para a China nesses enormes contentores que enchem os cargueiros que cruzam o vasto Oceano. A contrapartida dos chineses pelos seus investimentos na construção de estradas e mais estradas, não se limita à venda dos inúmeros produtos que sem- C U LT U R A au | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015 11 PT O LESTE DE ÁFRICA – PARTE 3 ma “Laurentina” bem fresca pre têm, prontos a escoar; interessa-lhes também, e de sobremaneira, as matérias-primas que a floresta moçambicana, por enquanto, comporta. O interesse é tão óbvio que há quem não hesite em chamar-lhes neocolonialistas. «– Qual cooperação qual carapuça! Os chineses anseiam, acima de tudo, as riquezas naturais do nosso país», exclama Acácio. apesar ali ter nascido e ali ter crescido. Como se sabe, os boers sempre fizeram questão de não se misturarem com os autóctones. Na sala contígua à esplanada do restaurante, um grupo de chineses canta karaoke e certamente bebe Laurentinas atrás de Laurentinas. As vozes desafinadas transportam-me de imediato até aos tascos das mais recônditas cidades dessa minha China tantas vezes percorrida, hoje praticamente irreconhecível. Restam as regiões rurais, algumas quase intactas. Uma hora depois, ainda sob os efeitos da massa com demasiado molho de soja e cebola crua, o que me provoca uma enorme sede, obrigando-me a pedir mais uma Laurentina (dessa feita, não sem uma certa dose de culpabilidade, pois estava a emborcar – traduzindo em termos monetários – o correspondente a vários dias de trabalho de qualquer daqueles empregados de mesa), sou abordado por um dos chineses. Encorajado pelo álcool, embora tropeço quanto baste, aproveita a incomum presença de um ocidental na esplanada para testar a amostra de Inglês que sabe, aproveitando, simultaneamente, para satisfazer a sua curiosidade. É então que me apercebo da presença de uma rapariga chinesa ao lado, de telemóvel encostado à orelha, no que aparenta ser uma conversa normal em Mandarim. Afinal, comunica em Inglês e, pelo tom de voz, parece estar a namorar, o que não deixa de ser um encorajador sinal de alguma integração por parte de um membro de uma comunidade reputada pelo seu enclausuramento. Ao fim da noite saem da sala do karaoke vários chineses, todos eles bem aviados, e que num ápice se enfiam num jipe topo de gama. CERVEJA LAURENTINA JAZZ REINO DE DEUS Em Colónia de Sacramento, a minha companhia nalgumas das horas mais solitárias chamava-se Patricia; aqui chama-se Laurentina. Pelo menos é o que leio no rótulo colado à bojuda garrafa de cerveja que tenho à minha frente. Uma Laurentina custa trinta e cinco meticais e surge em versão lager ou preta, como a nação moçambicana, afinal. Prossigo com a escrita e mando vir mais uma. Nas mesas ao lado, grupos de moçambicanos ouvem marrabenta e bebem. Laurentina, claro está. Um boer sul-africano, louro e alto como todos os boers, entra para pedir informações e comprar uma dúzia de (já adivinharam!) Laurentinas. É o chefe de família que avistara minutos antes resfalfado num jipe, também ele buscando alojamento para essa noite. Noto que está descalço. Parece ser uma das suas poucas cedências aos caprichos da mãe África, Deixo-me ficar até tarde na esplanada presenciando as tentativas de aproximação de várias raparigas que, àquela hora, envergam a farda de prostituta. Também os vendedores de carregamentos de unidades para telemóvel, todos eles de colete amarelo, tentam a sorte. Vinte meticais dão direito a vinte unidades. Após inúmeras tentativas, consigo ter ao telefone o primo da Maria de Lourdes Pereira, a proprietária da tal Casa de Hóspedes que nunca chegaria a encontrar. Chama-se Francisco Chapa e garante-me que passará pelo hotel para me recolher, «de manhã bem cedo, a partir das sete horas». O Francisco é o motorista de uma dessas chapas (pequenas carrinhas) que asseguram o transporte diário para a Ilha, daí a origem do seu singular apelido. Essa noite, deitado frente a um televi- FOTOS | Joaquim Magalhães de Castro sor “reconcilio-me” com a Igreja Universal do Reino de Deus, graças ao seu canal TV Miramar, que transmite o Moçambique Jazz Festival directamente do Parque dos Continuadores, em Maputo. E não sou só eu que estou satisfeito com a iniciativa dos acólitos do extravagante e descarado “bispo” Emir Macedo. No rodapé do ecrã, acompanhadas com o custo da chamada para a Mcel – uma das duas operadores de telemóveis do País – sucedem-se as mensagens dos apreciadores deste género musical a agradecerem à TV Miramar por lhes proporcionar a emissão, pois, como diz um deles: «não tenho seiscentos paus para assistir ao espectáculo ao vivo». Outro telespectador é da opinião que «o jazz é a raiz de todas as músicas», louvando por isso essa tão «importante manifestação cultural». Vou fazer noitada a ouvir o jazz destes meninos, alguns deles excelentes músicos. O amigo Matteo certamente estará entre a multidão, assim como a Mi Sook Park, «artista plástica por uma verdadeira necessidade de sobrevivência», residente em Moçambique há nove anos, que incidentalmente conheci em Maputo. Na conversa que tivemos durante um jantar confidenciou-me que achava as pessoas da rua «muito mais fortes do que nós». Nós, quer dizer, representantes de uma classe média de muitas cambiantes. Lembrava depois a economia paralela, visível em todos aqueles vendedores ambulantes que insistentemente nos abordavam tentando despachar a sua mercadoria. A propósito, Mi Sook lançara a pertinente questão: «– Como é que posso eu comer tranquilamente, se lá fora há tanta gente necessitada e a viver na miséria?». OPINIÃO O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015 12 PT A dança de Guimarães e o vota no castelo JOSÉ PACHECO PEREIRA excepções, mas esta é a regra. Isto significa que todas as lutas parecem ser corporativas, mesmo quando não o são. Esta “corporativização” dos conflitos sociais enfraquece o seu impacto, dá-lhes uma dimensão que parece, vista de fora, egoísta, e dificulta, quando não impossibilita, qualquer solidariedade activa. Cada um, a seu tempo, quando precisa de lutar, protestar, pura e simplesmente levantar-se e dizer que “não”, vai pagar na sua solidão a indiferença que teve pelos outros. N ão se vai de Lisboa a Guimarães fazer política impunemente. É uma viagem cheia de responsabilidades e acima de tudo cheia de ambiguidades. Há muitos anos, ainda havia PREC, existia um partido de extrema-esquerda, a Aliança Operário-Camponesa (AOC), que tinha como símbolo o castelo de Guimarães e o slogan “vota no castelo”. Estávamos na época dos dois imperialismos, o americano e o soviético, e Cunhal e Brejnev personificavam este último, na altura o que era tido como mais perigoso. Era uma interpretação caseira de um maoísmo nacionalista anti-social-imperialista. Logo, os verdadeiros patriotas tinham de “votar no castelo” para defenestrar Cunhal e os seus lacaios. A AOC desapareceu com o fim do PREC, mas o “castelo” continuava lá. Nos anos seguintes até aos dias de hoje foi a extremadireita que foi lá a Guimarães para junto do castelo fazer uns números de nostalgia do braço ao alto, agora em nome do “nacionalismo revolucionário”. Uns 20 ou 30 militantes do PNR já lá foram mais do que uma vez também atraídos pelo “castelo”, que não tem culpa nenhuma. Nem o castelo, nem Guimarães, nem D. Afonso Henriques, nem muito menos a Pátria. Mas custa ver a nova coligação PSD-CDS voltar também ao “castelo” para “celebrar” um ano de saída da Troika de Portugal e fazer mais um acto de propaganda eleitoral à sombra do esquecimento e da CONTA E TEMPO falta de vergonha. Na verdade, pouca gente em Portugal se comportou mais do que Passos e Portas como representantes fiéis e dedicados de um internacionalismo europeu que está a erodir a nossa democracia e que, já de há muito, colocou em causa a nossa independência nacional. Já estamos muito esquecidos, mas se Sócrates “chamou” a Troika, foi não só com a assinatura conjunta do PSD e do CDS, como com a colaboração entusiástica de Passos e menos entusiástica de Portas, mas mesmo assim colaboração. É um prémio à desresponsabilização e ao vale-tudo esquecer que em particular PassosCatroga-Moedas manifestaram várias vezes uma concordância plena com as políticas da Troika, que não entendiam como uma política imposta de emergência e de passagem, mas como o modelo benéfico e exemplar de transformação de um país perdulário e gastador num disciplinado e puritano aluno da senhora Merkel. E não, os perdulários e gastadores não eram Sócrates e os socialistas em geral, mas os portugueses. Sim, os portugueses. Portas, por seu lado, tornouse o arauto do “protectorado”, primeiro dito de forma genérica, depois corrigido para a fórmula de “protectorado financeiro”, que lhe permitiu aquele teatro ridículo do relógio na sede do CDS. Mas se antes éramos um “protectorado” porque é que agora deixámos de o ser? A saída da Troika significa acaso alguma “independência” orçamental num país cujo Parlamento perdeu o papel essencial de fazer o seu orçamento e sobre o qual existe um direito de veto alheio? O CDS bem pode andar de bandeira nacional na mão, que nele deixou de ser bandeira para ser apenas uma bandeirinha de lapela, e bem pequena por sinal. O que é que estão estes homens a fazer em Guimarães? Dançam a ver se chovem votos. Se for preciso vestirem-se de mineiros e irem de braço dado, cravo ao peito, entoar um cante alentejano em terras de Catarina também vão. Na verdade vão a todas. E o problema é mais nosso do que deles. A SOLIDÃO DAS LUTAS Hoje quem luta e quem reivindica está sempre sozinho. Pode contar consigo ou com os seus e nada mais. Os mecanismos clássicos que geravam solidariedade foram erodidos na sociedade durante várias décadas e praticamente destruídos pela crise do “ajustamento”. Há Deus pede estrita conta de meu tempo. E eu vou do meu tempo, dar-lhe conta. Mas, como dar, sem tempo, tanta conta Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo? Para dar minha conta feita a tempo, O tempo me foi dado, e não fiz conta, Não quis, sobrando tempo, fazer conta, Hoje, quero acertar conta, e não há tempo. Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta, Não gasteis vosso tempo em passatempo. Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta! Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo, Quando o tempo chegar, de prestar conta Chorarão, como eu, o não ter tempo… (Frei António das Chagas) !"#$%&#$'()*&+,-./0#$12 ENTREGUE ESTE CUPÃO NAS BILHETEIRAS DO CINETEATRO DE MACAU #$3456783 DATA DO SORTEIO: 2 DE JULHO DE 2015 LITURGIA O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015 13 PT 13° DOMINGO COMUM – Ano B – 28 de Junho Subtraídos à morte pelo Deus da vida INTRODUÇÃO ÀS LEITURAS A vitória de Cristo sobre a morte, ilustrada pela ressurreição da filha de Jairo (EVANGELHO: Mc., 5, 21-43), é iluminada com palavras do livro da Sabedoria (PRIMEIRA LEITURA: Sb., 1, 13-15; 2, 2324): «Deus não fez a morte»; apenas por inveja do demónio, a morte entrou no mundo. Assim, se nós formos redimidos do pecado pela morte de Cristo, somos já ressuscitados na esperança, em Cristo. S. Paulo pede aos cristãos de Corinto (SEGUNDA LEITURA: II Cor., 8, 7. 9. 13-15) que ajudem os seus irmãos de Jerusalém, recordando-lhes que «ajudar os pobres é imitar a Cristo». Jesus quer as pessoas livres e vivas Deus criou-nos para a vida e não para a morte. Criou-nos incorruptíveis, mas o pecado tornou-nos corruptíveis. HORÁRIO DAS MISSAS (DOMINGOS E DIAS SANTOS) 7:00 horas 7:30 horas 7:30 horas 8:15 horas 8:30 horas 9:00 horas 9:30 horas — — — — — — — — — 10:00 horas — — — 10:30 horas — 11:00 horas — 11:00 horas — — 11:00 horas — 11:15 horas — 12:00 horas — 16:30 horas — 17:30 horas — 18:00 horas — 20:30 horas — r " WJOEB EF +FTVT F B 4VB BDÉÈP no mundo querem devolver ao ser humano a sua verdadeira natureza de filhos de Deus e mostrar que a vida supera a morte, o bem supera PNBMBHSBÉBTVQFSBPQFDBEP Fátima (C). Sé, S. Lourenço e St.º António (C). S. Lázaro (C). S. Francisco Xavier Mong-Há (C). St.º António. Sé, S. Lourenço, N.ª Sr.ª do Carmo Taipa (C); Fátima (C). S. Lázaro, S. Francisco Xavier (Mong-Há), S. José Operário (C). St.º António (P); S. Francisco Xavier Coloane (I, C); N.ª Srª do Carmo Taipa (I). Sto. Agostinho (Tagalog). Sé (P), Hospital de S. Januário (P); N.ª Srª do Carmo Taipa (P). S. Lázaro (I). Instituto Salesiano (I). Fátima (I). S. Agostinho (I); Fátima (vietnamita) S. José Operário (I). Sé (I); S. Fr. Xavier Mong-Há (C). S. Lázaro (P). S. José Operário (M). MISSAS ANTECIPADAS 17:00 horas 17:30 horas 18:00 horas 18:30 horas — — — — — 19:00 horas — 20:00 horas — r+FTVTFOGSFOUPVFWFODFVUPEPTPT seus inimigos: a tempestade (Mc. 4, 35-41), a legião de demónios (Mc. B EPFOÉB JODVSÃWFM F B NPSUF&MFÊEFGBDUPP.FTTJBT r " SFTTVSSFJÉÈP EB NFOJOB àMIB EF +BJSP VN EPT DIFGFT EB TJOBHP- BQÓTBSFTTVSSFJÉÈPEPQSÓQSJP+FTVT ga, confirma, por outro lado, que a morte não é o fim, realidade que vai r " MJUVSHJB EF IPKF DPOEV[OPT B ser revelada com mais clarividência uma reflexão sobre a morte e sobre S. Domingos (P). S. Fr. Xavier Mong-Há (I). Sé (P). N.ª S.ª do Carmo Taipa (I). S. Lázaro (C). Fátima (C). ABREVIATURAS P NPEP DPNP B FOGSFOUBNPT NBT convida-nos principalmente a reáFDUJS TPCSF B SFTTVSSFJÉÈP B WJEB que continua para além da morte. C - Em Cantonense I - Em Inglês M - Em Mandarim P - Em Português PAQUISTÃO Minoria cristã recusa ser silenciada O presidente EB $POGFSËODJB &QJTDPQBMEP1BRVJTUÈP%+PTFQI$PVUUTEJTTFÆBHËODJB&$$-&4*"RVFBNJOPSJB católica neste país se recusa a ficar «calada», apesar de todas as dificuldades RVFFOGSFOUB «Posso dizer, com orgulho, que não somos uma minoria silenciosa ou escondida, nós contribuímos para o bem do País», assinalou. 0QSFMBEPEÃDPNPFYFNQMPBTFTDPlas, hospitais e clínicas católicas, bem DPNP P USBCBMIP SFBMJ[BEP KVOUP EBT pessoas com deficiência, toxicodependentes e marginalizados. «O trabalho que fazemos é para todos», explicou. % +PTFQI $PVUUT FTUFWF FTUB TFNBOB em Portugal num momento particularmente delicado para os católicos paquistaneses por causa dos episódios que FOWPMWFNBDIBNBEBiMFJEBCMBTGÊNJBu DPNBDVTBÉ×FTRVFBDBCBNQPSTFSVN rastilho de violência contra cristãos e outras minorias. 4FHVOEPPBSDFCJTQPja própria lei, a forma como está formulada, é o problema» e o Governo, após muitos anos de protestos, «começa a aperceber-se disso». "NVEBOÉBUFNEFDPNFÉBSjnos líderes islâmicos», para que todos se apercebam de que a lei «precisa de mudanças», DPOUSBSJBOEPUPEBTBTNBOJGFTUBÉ×FTEF GBOBUJTNPEJ[%+PTFQI$PVUUT O presidente do episcopado católico OP 1BRVJTUÈP GBMB OVNB jIgreja pobre», RVF QSFDJTB EB BKVEB NBUFSJBM F FTQJSJtual de outras comunidades católicas. "1PSUVHBMPSFTQPOTÃWFMMFWPVPUFTtemunho de viver como cristão num país NVÉVMNBOP RVF TF FTUà B UPSOBS jcada vez mais islâmico» nos últimos anos. «Como cristãos, não somos cidadãos de segunda classe, não somos imigrantes, temos tantos direitos como os outros», observa. O arcebispo de Karachi esteve em 1PSUVHBMBDPOWJUFEB'VOEBÉÈP"KVEBB *HSFKB RVF 4PGSF "*4 F QBSUJDJQPV OP passado Domingo na Ronda da Lapi- nha, em Guimarães, que este ano reuniu NJMQFTTPBTFNPSBÉÈPQFMPTDSJTUÈPT perseguidos no mundo. «Não sabemos quando será o próximo ataque contra uma igreja, ou quando e onde o próximo cristão vai ser falsamente acusado de blasfémia e condenado à morte», alertou o arcebispo de Karachi, em Guimarães. % +PSHF 0SUJHB BSDFCJTQP EF #SBHB EFTUBDPVPGBDUPEFB3POEBEB-BQJOIB UFSTJEPSFBMJ[BEBDPNFTUBJOUFOÉÈPQBSUJDVMBSEFJOUFSDFTTÈPEF/PTTB4FOIPSB pelos cristãos perseguidos. «Há cristãos espalhados pelo mundo inteiro que, por fidelidade à fé, arriscam a vida e muitos morrem mesmo», assinalou. ECLESIAL O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015 14 PT O DIA DE UM MEMBRO DO OPUS DEI – 1 Rezando 24 horas por dia, todos os dias PE. JOSÉ MARIO MANDÍA Este ano, o dia 26 de Junho assinala o 40º aniversário da morte de São Josemaría Escrivá de Balaguer, o fundador do Opus Dei. À data da sua morte, já 60 mil pessoas, na sua maioria casadas, se tinham comprometido com o caminho que ele indicava. Esse caminho consistia em tornar a Santidade acessível aos leigos, propondo um plano sistemático de vida espiritual e formação adaptada às necessidades individuais. São Josemaría seguiu os ensinamentos de São Paulo, que nos dizem que a vida espiritual é como se fosse um desporto, e que se alguém quiser praticar este desporto precisa de (1) alimentação correcta e (2) treino adequado. Hoje falaremos do primeiro. De onde nos vem a alimentação? Das orações e dos Sacramentos. Jesus disse: «Sem Mim não podereis fazer nada (João 15:5)». Ele não afirmou: “Podereis fazer pouco”. Antes disse: «não podereis fazer nada». Por isso São Josemaría recomendou um plano de alimento espiritual que pode ser adaptado às necessidades de cada um individualmente, sejam eles, pais de dez filhos, Sede do Opus Dei em Roma. ou médicos ou motoristas de autocarros que trabalham fora de horas. Este plano concede-nos energia e ritmo sobrenatural. O plano inclui meditação pessoal diária entre 15 a 30 minutos de manhã, e de novo durante a tarde ou ao fim do dia; ir à Missa e receber a Comunhão, rezar o Terço, ler um qualquer livro espiritualmente adequado e o Novo Testamen- to, o Angelus (ou o Regina Coeli durante a Páscoa) e exames de consciência. Ele encoraja-nos a começar o dia assim que acordarmos, sem ficarmos na cama a fazer “ronha”. Ele chamava a esse acto “o minuto heróico”. São Josemaría confessava-se semanalmente (algo que São João Paulo II também fazia) e encorajava cada um de nós a fazer o mesmo. Para além disso, recomendava que se procurasse direcção espiritual. Sobre este tema falaremos numa outra ocasião. Mensalmente devemos rever os nossos momentos, um período de oração e auto-exame que dura algumas horas. Anualmente, deveremos participar num retiro de três a cinco dias. O fundador do Opus Dei recomendava acções que possam ser efectuadas em qualquer lugar a qualquer momento: acções de graças, acções de penitência, pequenas orações sussurradas ao Senhor, ou aos Santos. Falou sobre a necessidade da mortificação – pequenos sacrifícios que nos ajudam a efectuar correctamente as nossas obrigações diárias. Talvez o que fosse único na sua espiritualidade e que ele incluiu no meio de todas as devoções fora o “trabalho, ordem e optimismo”. Trabalho: porque uma grande parte da oração dos leigos seja o seu trabalho, que é feito para Deus. Desta maneira, 24 horas de trabalho e descanso tornam-se em 24 horas de oração. Ordem: porque um atleta espiritual não pode permitir ter uma vida desorganizada. Ele tem que manter a compostura. Optimismo: porque alguém que viva nos braços de Deus sentir-se-á sempre a salvo, seguro e abençoado. São João Paulo II disse que existe a necessidade de «um treino para a Santidade». Então, pense, o Opus Dei é um dos “prestadores de serviços” que podem dar este treino... Falaremos sobre isto da próxima vez. (Tradução: António R. Martins) Família, um ninho de paz SUSANA MEXIA (*) A família é a primeira e insubstituível educadora para a paz, é a célula vital e o fundamento da sociedade. Ela é o lugar por autonomásia onde se devem praticar as virtudes da convivência e onde se dá o principal relacionamento social das crianças com os adultos. A família natural, enquanto comunhão íntima de vida e de amor fundada no matrimónio entre um homem e uma mulher, constitui o centro da humanização da pessoa e da sociedade, o berço da vida e do amor. Nela se vivem as componen- tes indispensáveis ao ser humano, como a justiça, o amor, a autoridade manifestada pelos pais, a ajuda e a disponibilidade para os outros, nomeadamente os mais fragilizados pela idade ou doença. Naturalmente que combater a instituição familiar debilita a paz em toda a comunidade, nacional e internacional, porque enfraquece e impede a formação do ser humano no sentido duma maior compreensão de si, dos outros e das instituições. Quando a sociedade e a política não se empenham em ajudar a família nesses campos tão necessários, privam toda a humanidade de um recurso essencial ao serviço do bem e da paz. Também os Meios de Comunicação Social, pelas potencialidades educativas de que dispõem, têm uma responsabi- lidade especial na promoção do respeito pela família, exaltando e enaltecendo toda a riqueza que pode existir no seu seio. Em suma, se a paz no mundo se constrói a partir da educação, de serenidade, do amor e dos valores que se praticam na intimidade desse ecossistema a que se chama lar, é uma realidade que a todos nos assiste a possibilidade e a responsabilidade de acrescentar a nossa parte, sabendo que estamos a contribuir para uma sociedade cada vez menos imperfeita. Fortalecer a família será o caminho privilegiado para curar os conflitos existentes no coração humano, substituir o ódio pelo amor, a solidão pela partilha e afundar o mal em abundância de bem. (*) Professora ECLESIAL O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015 PT 15 FÉLIX DA ROCHA, SJ O cartógrafo ignorado JOAQUIM MAGALHÃES DE CASTRO [email protected] Quando se fala em Expansão Portuguesa, invariavelmente se imaginam naus enfrentando vagas alterosas atiçadas por borrascas ou totalmente estagnadas nas calmarias da região equatorial. Mas o certo é que não raras vezes os navegadores abandonaram as embarcações para se aventurarem terra adentro. A saga dos bandeirantes no Brasil, a exploração das massas continentais africanas, os grandes espaços asiáticos submetidos ao Islão – Império Otomano, Irão safévida, Afeganistão, Índia do Grande Mogol – a imensa Tartária, o Tibete ou ainda a China continental, provam que os portugueses não receavam afastar-se dos mares. Esses destemidos pioneiros, no caso asiático, maioritariamente religiosos jesuítas, inauguraram uma nova era: a era da observação científica. Não obstante, as enciclopédias e os atlas da actualidade ignoram-os por completo. E por que será? Provavelmente por desconhecimento dos factos e/ou mero desprezo por uma nação à qual nunca foi reconhecida o seu real valor no palco da História. Lamentavelmente continuamos a precisar que venham os investigadores estrangeiros lembrar-nos das nossas responsabilidades. Ainda recentemente o investigador norte-americano Liam Matthew Brockery, a respeito da versão chinesa do seu livro “Journey to the East – The Jesuit Mission to China”, publicada pela Universidade de Macau, admitia que, no que respeita ao historial dos jesuítas na Ásia, «tem havido uma maneira de contar a história que beneficia os italianos, os franceses, os alemães», alertando para a necessidade de estudar as fontes originais. Dizia Brockery que embora «não se possa negar que esses jesuítas também fizeram parte deste encontro entre o oriente e o ocidente», importava recordar que «a esmagadora maioria dos seus pares eram missionários portugueses». Resumindo e concluindo: «A história mais vasta é assente na presença portuguesa do Oriente». Entre os muitos desses injustiçados da história consta o eminente Félix da Rocha. Nascido em Lisboa a 31 de Agosto de 1713, Rocha optou pela missão da China após oito anos de estudos – quatro de Filosofia e quatro de Teologia. Enfrentou os inúmeros mistérios do continente em 1735, após ter frequentado o Seminário de Macau, tendo ingressado posterior- Joaquim Magalhães de Castro mente na Corte de Pequim, em 1738, onde foi astrónomo. Cedo caiu nas boas graças do imperador que via nele um homem de muita ciência e virtude. O seu superior, Ignacio Koegler, descreve-o como «um jovem de génio vivo e penetrante e ávido de saber». Em 1753 é nomeado, pelo imperador Qialong (1736-1796), Assessor do Tribunal das Matemáticas. Após o falecimento do seu director, August von Hallerstein, passou a dirigir o Observatório Astronómico de Pequim. Na companhia do alemão viajou até ao país de Muran, nas proximidades da Coreia, para traçar o mapa de toda essa região. Em 1755, como recompensa por ter mapeado as regiões do Turquestão e da Tartária – a Dzoungária – habitadas pelos elutos e torgutes, o imperador nomeia-o mandarim de segunda ordem. Para a execução desse trabalho ciclópico Félix da Rocha tinha contado com a preciosa colaboração do seu amigo, o padre Pedro Espinha. Desafiando perigos sem conta, ambos os jesuítas regressariam a essa inóspita região para terminar o trabalho: observar a latitude, deduzir a longitude, as curvas orográficas e as distâncias. Estiveram em Khami, Barkul. Turfan, Korle, Manas e muitos outros lugares. No total deter- minaram quarenta e três posições geográficas. Foram os dois primeiros europeus a percorrer tais paragens, desde que nela andara, século e meio antes, Bento de Góis na demanda do Cataio. Por duas ocasiões, em 20 de Agosto de 1774 e em Março de 1777, Félix da Rocha seria enviado ao pequeno Tibete, Tibete Oriental, acabado de ser anexado ao império chinês, com o objectivo de traçar o mapa de toda aquela região. Ficaria assim identificado o país dos Miao-tse acabado de conquistar pelo imperador Qialong. Os mapas de Félix da Rocha e de Pedro Espinha serviriam de base para os estudos e mapas sobre a Ásia Central, hoje mundialmente conhecidos, efectuados por Klaproth, Ritter e Alex de Humboldt. Também o Ephemerides (1776), de Maximiliano Hell, trouxeram a lume as observações astronómicas desses missionários. Estes personagens do mundo científico acabariam por ficar com todos os louros dessas investigações, relegando para o esquecimento os pioneiros portugueses. A propósito de tão grande injustiça, o jesuíta Cibot escrevia, em 1770, o seguinte: «Acabam de ser publicadas mapas e notícias sobre regiões recentemente conquistadas, sem que sejam mencionados os nomes dos nossos padres portugueses que, por ordem imperial, recolheram os dados e as coordenadas desses mesmos locais». No ano de 1750, em carta enviada a D. Policarpo de Sousa, bispo de Pequim – que aportara a Macau, vindo de Portugal, em 1726 – Félix da Rocha desabafava assim: «eu sou o da Vice Província o mais velho na missão dos que se acham em Pequim, porque todos os padres que aqui achei, excepto sua Exa., já lá vão para outra vida e nenhum desde que cá estou, tem servido mais por neves, frios, perigos e consomições do que eu, mas como tudo é por Deus, só dele terei o prémio, como espero na Sua Divina Bondade...». O padre Rocha ocupou o cargo de procurador da missão portuguesa em Pequim, e de vice provincial em 1754 –1757 e de 1762 a 1766. A sua intervenção foi preponderante para que os prisioneiros portugueses em Nanquim – padres Araújo, Viegas, Pires, Dinis Ferreira e José da Silva – fossem libertados e pudessem regressar a Macau. Resta acrescentar que o padre Rocha remeteu à prestigiadíssima Academia de São Petersburgo 64 tomos das obras escritas pelos jesuítas de Pequim, cidade onde, a 22 de Maio de 1781, faleceria. Faltavam dois meses para completar 68 anos. PUBLICIDADE O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015 16 PT O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015 17 PT R OTA D O S 5 0 0 A N O S Chá e vela JOÃO SANTOS GOMES [email protected] E screvi a última crónica sentado no poço do veleiro a olhar para o mar em Bequia (São Vicente). Desta vez estou dentro do barco porque está a chover com vento fortíssimo em Carriacou (Grenada). Foi uma semana preenchida com muita vela, chuva, vento e também muito Sol. Como planeado, saímos de Bequia, em direcção às ilhas mais ao Sul. Planeávamos visitar Canouan mas decidimos ir directamente para Marieaux, mesmo ao lado das Tobago Cays. Acabámos por não visitar este parque natural marinho (Tobago Cays) porque o vento estava forte e queríamos rumar a Sul. Pernoitámos nessa ilha com um mar muito incómodo e no dia seguinte, bem cedo, levantámos âncora para navegarmos para a ilha de Union, onde iríamos sair do arquipélago de São Vicente. Pensávamos ficar por ali uma noite mas com a chegada de um barco de amigos (um casal franco-brasileiro), decidimos sair no mesmo dia rumo à ilha de Carriacou, já em Grenada, onde demos entrada no País. Desde então temos estado por aqui e temos conhecido algumas pessoas interessantes, apesar do local ser pouco mais do que a baía, uma pequena marina e uma vila que nada tem de especial... Os nossos amigos franco-brasileiros continuaram a viagem logo no dia seguinte, juntamente com um outro veleiro brasileiro que já aqui estava e que veio connosco desde Martinica. Nós decidimos ficar mais uns dias e agora vamos ter de prolongar a nossa permanência porque o tempo piorou e vão chegar uns dias de muita chuva e vento. Como estamos confor- táveis e a zona é segura é mais sensato ficar do que arriscar chegar à ilha de Grenada, apesar de serem apenas dez horas de viagem. Entretanto, no dia da nossa chegada ficámos sem o motor de fora de bordo. O tubo que leva a água do mar para refrigerar o motor partiu. Demos pelo problema quando regressámos à noite depois de um jantar com o casal franco-brasileiro. No dia seguinte agendámos o arranjo com o mecânico da marina e ao tentarmos voltar para casa a remos fomos abordados por uma pessoa que vive num veleiro e que perguntou se precisávamos de ajuda. Aceitámos de pronto dado que o vento estava forte e o esforço para remar estava a ser pouco produtivo. Quando chegámos ao nosso veleiro ficámos a saber que é espanhol e tem o seu veleiro na doca seca, também a ser reparado. Foi ter connosco de propósito para nos ajudar, porque nos viu, de terra, a remar com uma criança a bordo. Ficámos bastante surpreendidos com a sua acção e perguntámos o que podíamos fazer para lhe retribuir o favor. Ele disse que não era preciso nada, que temos de olhar uns pelos outros quando vivemos a bordo. Tocados com tamanha bondade prometi-lhe uma cerveja. No dia seguinte, enquanto esperávamos que o motor fosse arranjado, disse que preferia beber chá ou sumo, visto que não bebe álcool. Já no veleiro com o motor concertado, sentados no poço, entre uma chuvada com ventos a rondar os trinta nós, ficámos a saber que viaja de veleiro desde os anos 80 e que desde 1991 anda pelas Caraíbas entre algumas travessias para a Europa. Está agora a preparar-se para regressar a Palma de Maiorca, onde irá ficar durante os próximos anos porque a mãe, já viúva, está nos oitentas e ele sente a obrigação, como filho único, de estar ao seu lado nos últimos anos de vida. Depois, pretende continuar viagem se ainda estiver com disposição para tal e se ainda não houver condições em Espanha para viver a bordo. É que diz não conseguir viver longe do seu veleiro de ferro de dez metros que, até há cinco anos, nem sequer tinha motor. O motor foi instalado a pedido da sua última namorada – brasileira – que não se sentia segura a velejar sem motor. A embarcação tem apenas uma bateria, não tem frigorífico nem ventoin- has e as luzes do habitáculo só se ligam para ver se funcionam ou quando se tem de trabalhar no motor. É, ou melhor, confessou ter sido, um velejador purista. Agora vai tentando ter mais algum conforto mas, se possível, sem muita tecnologia porque essa só vem atrapalhar com problemas técnicos. O Jimmy (como gosta que lhe chamem) visitou tudo quanto há para visitar nas Caraíbas, América do Sul e Central e guarda boas recordações de todos os locais. Apenas algumas amarguras da última visita à Venezuela, onde se viu em apuros com as autoridades por três vezes. Duas delas em terra e uma na embarcação. Em todas elas extorquiram-lhe dinheiro, fazendo crer que estava envolvido com drogas. Da primeira vez, em plena rua, foi abordado pela polícia perto do ancoradouro onde estava e como não tinha passaporte foi levado para a esquadra. Ameaçaram-no com uma pena por posse de droga se não pagasse determinado montante. Acabou por entregar todo o dinheiro que tinha, cerca de 500 patacas, e a situação resolveu-se. Da segunda vez o mesmo procedimento mas em plena rua por estar a fumar tabaco de enrolar. Acabou por pagar outra vez porque não queria problemas. A terceira, já noutra localidade da Venezuela, em plena marina onde estava a consertar o veleiro, entraram no barco e disseram que tinha droga a bordo pedindo descaradamente dinheiro para o deixarem em paz. Nessa altura não tinha qualquer dinheiro porque estava para sair do País no dia seguinte, nem tinha forma de receber dinheiro porque na Venezuela as transacções em moeda estrangeira são controladas pelo Governo e restringidas a um pequeno montante diário. Começaram a destruir-lhe o barco, cortando velas e partindo armários para dar a entender que estavam à procura de droga. Levaram-lhe os poucos aparelhos electrónicos que tinha a bordo (chartplotter, computador e telemóvel) e documentos. Acabou por ser salvo pelo dono da marina que viu o que se estava a passar e telefonou para o “chefe” da polícia dizendo que tinha pago o montante mensal de “protecção” e que, mesmo assim, estavam a ameaçar um cliente. Os polícias acabaram por se ir embora, dizendo-lhe que não reportasse o assunto à embaixada espanhola. Se o fizesse acabaria como o velejador italiano que, na semana anterior, tinha sido encontrado morto na embarcação. Veio depois a saber que esse italiano tinha sido também “apertado” mas foi apresentar queixa na capitania marítima. Dias depois apareceu morto no poço do veleiro ancorado precisamente em frente da esquadra da polícia com um tiro na cabeça. São pessoas como estas que gostamos de ir conhecendo para aprender com a sua experiência. Acabámos de beber o nosso chá (oolong) e ainda teve tempo para nos explicar como teremos de fazer para colocar o leme de vento a funcionar. Agora vamos esperar mais uns dias até o tempo melhorar para seguirmos viagem até à ilha de Grenada. CADERNO DIÁRIO O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015 18 Segunda 22 Quarta 24 Grécia 1 Museu Andam por aí uns “doutos” de barriga cheia apregoando mais sacrifícios e mais austeridade para o povo grego que, segundo esses mesmos doutos, deve pagar pelos desmandos do passado. Em primeiro lugar, esses “doutos” não têm em conta que esses desmandos foram feitos por políticos, “boys” e empresários corruptos em nome do povo grego e não pelo povo grego. Em segundo lugar, esses “doutos” ignoram que quando se fala de povo grego não se está a falar de uma abstracção. Está-se a falar de pessoas com sentimentos à beira do desespero e da miséria causada pelos agentes que as “representavam” no poder. Em terceiro lugar, quem provocou a dívida é quem tem de a pagar. Prendam e arrestem os bens dos cor- ruptos. E isto aplica-se tanto na Grécia, como em Portugal, próximo país na mira dos agiotas. Por tudo isto nos devemos solidarizar com o povo grego – a quem a Europa tanto deve ao nível cultural e civilizacional – que, mais uma vez na sua história, ousa fazer frente aos agentes da agiotagem internacional que o querem humilhar e destruir. Que o seu exemplo seja um farol que ilumine o povo português, também ele herdeiro de uma história gloriosa. A Estação da Luz é uma das mais importantes estações ferroviárias da cidade de São Paulo. A estação abriga ainda o Museu da Língua Portuguesa, uma instituição cultural ligada PT à Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, inaugurada em 2006. Grécia 2 Em todos os países que compõem a União Europeia há um pequeno número de governantes sérios e patriotas que apenas desejam o melhor para o seu país; outros há que deveriam estar a contas com a justiça, governantes desprezíveis para os quais é necessário criar uma nova lei de responsabilização civil e criminal por gestão danosa. Medidas exigentes e controlo das finanças é um princípio que devemos seguir para o bem comum. Deixar um povo afundar-se, claro que não. Cada povo tem a sua identidade cultural. Devemos condenar os Governos – gregos e outros – que falsificaram contas nacionais. Repudiamos totalmente tais práticas, mas apelamos à solidariedade Pensamento Há uma espécie de animais que sem cessar imagina formas no vazio crendo serem representações fiéis do que lá está. Uma delas é a de existir separada do que entre povos europeus. E repudiamos os governantes europeus que se põem em bicos dos pés a acusar os gregos de serem relapsos, e fugirem aos impostos, porque são meias verdades que escondem a falta de uma estratégia para a Europa. Terça 23 Mistério Desde que Aristarco e Giordano Bruno, entre muitos outros, afirmaram há séculos que havia “outros mundos habitados”, várias interrogações pertinentes têm levado a humanidade a uma busca incessante sobre os princípios básicos que deram origem à vida na Terra: Estaremos sós no universo? Estará a vida por todo ele disseminada? Em caso afirmativo, qual o grau de evolução? Reduzindonos à nossa insignificância cósmica, alguns cientistas tentam responder àquelas interrogações através de fór- mulas matemáticas, esquecendo-se, ignorando ou ocultando o nosso passado profundo, onde há registos que contêm respostas a algumas daquelas questões. Leia O CLARIM na net chama mundo. A isso chama pensamentos, isso comanda a sua vida sem que de tal se aperceba e nisso se tem por superior. Há coisas espantosas. Quinta 25 Lugar Terra de origens perdidas na noite da História de Portugal, São Martinho do Porto conserva uma beleza ancestral que a cada dia se renova. Por aqui passaram D. Afonso Henriques, D. Manuel ou D. Sebastião; marcou figuras como Ramalho Ortigão, Roque Gameiro, Eugénio de Castro ou D. João da Câmara; aqui foram construídas as caravelas que levaram Portugal a todo o mundo – a África, às Américas ou ao longínquo Oriente. Mas São Martinho do Porto é, sobretudo, um local de afectos. À população local, que com a sua fé, www.oclarim.com.mo a sua coragem, o seu labor e os seus anseios, são os principais obreiros de um lugar mágico, juntam-se a cada Verão inúmeras famílias, que ali regressam trazendo consigo novos amigos, pois sabem que essa terra é também a sua casa, na qual reencontram ou fazem novas amizades enquanto admiram o mais deslumbrante pôr-do-Sol existente em Portugal. São Martinho do Porto é um lugar de encanto, testemunho que os mais velhos passam aos mais novos, que o eternizam pelas gerações seguintes. ENTRETENIMENTO O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015 19 PT TDM Canal 1 Sexta-feira Segunda-feira Quarta-feira 13:00 TDM News (Repetição) 13:00 TDM News (Repetição) 13:00 TDM News (Repetição) 13:30 Telejornal RTPi (Diferido) 13:30 Telejornal RTPi (Diferido) 13:30 Telejornal RTPi (Diferido) 14:30 RTPi (Directo) 14:30 RTPi (Directo) 14:30 RTPi (Directo) 18:20 Telenovela: O Astro (Repetição) 17:45 Telenovela: O Astro (Repetição) 18:20 Telenovela: O Astro (Repetição) 19:10 TDM Talkshow (Repetição) 18:40 Contraponto (Repetição) 19:10 TDM Entrevista (Repetição) 19:40 Telenovela: Paixões Proibidas 19:40 Telenovela: Paixões Proibidas 19:40 Telenovela: Paixões Proibidas 20:30 Telejornal 20:30 Telejornal 20:30 Telejornal 21:30 Vingança 21:00 TDM Desporto 21:00 Montra do Lilau 22:10 Telenovela: O Astro 22:10 Telenovela: O Astro 21:40 Literatura Agora 23:00 TDM News 23:00 TDM News 22:10 Telenovela: O Astro 23:30 Cinema: O Querido Lilás 23:30 O Extraordinário Mundo das Fibras 23:00 TDM News 01:10 Telejornal (Repetição) 00:05 Telejornal (Repetição) 23:30 Com Ciência 02:00 RTPi (Directo) 00:40 RTPi (Directo) 00:05 Telejornal (Repetição) 00:35 RTPi (Directo) Sábado Terça-feira 10:45 Os Ursos Boonie Cinema: O Querido Lilás. Hoje, às 23:30 horas. 13:00 TDM News (Repetição) 11:35 Boarding Madeira 23:00 TDM News 17:00 Pit Stop 13:30 Telejornal RTPi (Diferido) 13:00 TDM News (Repetição) 12:00 Mesa Brasileira 23:30 Pop Lusa 17:45 Pela Sua Saúde 14:30 RTPi (Directo) 13:30 Telejornal RTPi (Diferido) 13:00 TDM News (Repetição) 00:20 Telejornal (Repetição) 18:10 Portugal Seis Estrelas 17:45 Telenovela: O Astro (Repetição) 14:30 RTPi (Directo) 13:30 Telejornal RTPi (Diferido) 01:00 RTPi (Directo) 18:45 Decisão Final 18:40 TDM Desporto (Repetição) 18:50 Telenovela: O Astro (Repetição) 19:30 Bem-Vindos a Beirais 19:40 Telenovela: Paixões Proibidas 19:40 Telenovela: Paixões Proibidas 20:30 Telejornal 20:30 Telejornal 20:30 Telejornal 11:00 Missa Dominical 21:00 Contraponto 21:00 TDM Entrevista 21:00 TDM Talk Show 12:00 A Hora de Baco 22:00 Homem Em Marte: 21:40 Viver é Fácil 21:30 Endereço Desconhecido 14:30 Telenovela: Paixões Proibidas (Compacto) 18:15 Reportagem SIC: O Caçador de Diamantes Domingo Missão ao Planeta Vermelho Quinta-feira 19:00 Quem Quer Ser Milionário 12:30 Especial Saúde 22:10 Telenovela: O Astro 22:10 Telenovela: O Astro 20:00 Palcos Agora 13:00 TDM News (Repetição) 23:00 TDM News 23:00 TDM News 23:00 TDM News 20:30 Telejornal 13:30 Telejornal RTPi (Diferido) 23:30 Construtores de Impérios 23:30 Portugal Aqui Tão Perto 23:30 A História Com Fernando Rosas 21:10 Conta-me Como foi 14:30 Zig Zag 00:05 Telejornal (Repetição) 00:30 Telejornal (Repetição) 00:05 Telejornal (Repetição) 22:10 Um Lugar Para Viver 16:10 Super Miúdos 00:40 RTPi (Directo) 01:00 RTPi (Directo) 00:35 RTPi (Directo) C A PARTIR DE 26/6/2015 A PARTIR DE 26/6/2015 SALA 1 SALA 2 ted2 SPL 2: A TIME FOR CONSEQUENCES 14:30 | 16:30 | 19:30 | 21:30 14:30 | 16:45 | 19:15 Um filme de: Cheang Pou-soi Com: Tony Jaa, Louis Koo, Simon Yam, Wu Jing, Zhang Jin Língua: Falado em Cantonês/Mandarim, com legendas em Chinês e Inglês Um filme de: Seth MacFarlane Com: Mark Wahlberg, Amanda Seyfried, Morgan Freeman B A PARTIR DE 26/6/2015 A PARTIR DE 26/6/2015 SALA 2 SALA 3 JURASSIC WORLD FAR FROM THE MADDING CROWD 21:30 Um filme de: Colin Trevorrow Com: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Irrfan Khan C 14:30 | 16:45 | 19:15 | 21:30 Um filme de: Thomas Vinterberg Com: Carey Mulligan, Matthias Schoenaerts, Tom Sturridge B TEMPO www.smg.gov.mo MUITO NUBLADO 27º Min. - 31º Máx. 20 | ÚLTIMA | SEXTA - FEIRA | 26 - 06 - 2015 Rua do Campo, Edf. Ngan Fai, Nº 151, 1º G, MACAU TEL. 28573860 FAX. 28307867 | www.oclarim.com.mo Céu muito nublado intervalado de abertas. Aguaceiros ocasionais no início do período. Vento na escala Beaufort 3 a 4 de Sul a Sudoeste. Humidade relativa entre 70% e 95%. O índice UV máximo previsto é de 9, classificado de Muito Alto. TAXAS DE CÂMBIO http://https://www.bcm.com.mo MOP USD EUR 1 1 GBP JPY AUD NZD RMB HKD 1 100 1 1 100 1 7.9737 8.8962 12.5044 6.43 6.1702 5.5025 78.57 103.00 COSTA DA MEMÓRIA Algarve de África JOAQUIM MAGALHÃES DE CASTRO [email protected] À boa maneira árabe, a estrada até Tetuão fora transformada numa longa avenida com canteiros floridos, separando o monte pejado de oliveiras e pinheiros-mansos, verdadeiro prolongamento da Andaluzia e do Alentejo, de uma série de povoações metamorfoseadas em aldeamentos turísticos e campos de golfe, prontos ou em preparação. Restinga Smir, Mdiq, Cabo Negro, Martil. A costa mediterrânica de Marrocos apressava-se a seguir o exemplo do Algarve e da Costa del Sol. Transformava-se gradualmente num dos retiros predilectos para reformados europeus endinheirados. Da pena sempre inspirada da escritora e historiadora Elaine Sanceau, que, na década de 1950, por ali andou, respigo a seguinte passagem: “Algarve de África: montes ondulantes revestidos das moitas verdes de uma vegetação rasteira; pinheiros-mansos, como guarda sóis abertos, a espalharem sombras nas alturas”. Algarve de África, sim. Não só pelas similaridades geográficas, mas porque a partir de 1471, com a tomada de Arzila e de Tânger por D. Afonso V, os reis portugueses passariam a juntar ao título de rei de Portugal o de “rei dos Algarves d’aquém e d’além mar em África”. Para chegar de Ceuta a Tânger por terra tinha duas opções. O caminho mais curto, uns meros sessenta quilómetros, passava por Alcácer Ceguer. Aquando das aventuras de D. Henrique, era um trajecto perigoso, visto atravessar um vale apertado entre montes ermos, sujeito às ciladas dos angeras, aguerrida tribo berbere. Armado em legionário romano, o Infante, de olho em Tânger – a par de Ceuta, o outro único porto com baía de feição virado para a Ibéria – quis tomar tal atalho, mas logo seria travado por essa versão local de lusitanos, que obrigaria a coluna de exploração a retroceder. Optou-se então por se seguir em direcção ao Sul pelo caminho mais longo, uns cento e dez quilómetros, o que obrigaria a passar por Tetuão, na época praticamente despovoada. Seria reedificada mais tarde, tornando-se num activo centro de corsários. «Um único mouro de Tetuão valia mais que mil em outra parte», comentava, em 1514, o capitão de Ceuta. Por essa razão, D. Manuel quis erguer fortaleza no porto vizinho, enviando Pedro de Mascarenhas Joaquim Magalhães de Castro para sondar a barra do rio de modo a encontrar um sítio adequado. A dificuldade de desembarque naquela costa, porém, dissuadiu-o do projecto. A 9 de Setembro de 1437, um exército de quase dez mil homens encetava um caminho terrestre de quatro dias rumo àquela que seria a primeira e malograda tentativa de conquista da tão apetecida cidade portuária. Nessa mesma senda, décadas mais tarde, morreria D. Duarte de Meneses, «defendendo o rei contra a gente mais aguerrida de norte de África». Ainda hoje se opta por essa estrada para atingir a cidade do Estreito, uma das várias designações pela qual Tânger é conhecida entre os marroquinos. A longa avenida era interrompida por rotundas decoradas em toda a volta com enormes bandeiras nacionais. Em todas elas, duplas de polícias constituíam o único entrave à pacífica progressão de todo o cristão, muçulmano ou pagão. Devidamente equipados com aparelhos de medição de velocidade montados num tripé, os agentes anunciavam a sua presença com duas placas circulares colocadas no asfalto, embora não houvesse qualquer veículo oficial à vista. Provavelmente eram ali depositados no início do dia e recolhidos ao fim do mesmo. Avistada a primeira placa, havia que diminuir a velocidade; já o intimidante “Halte” da segunda obrigava a parar, embora isso pudesse exasperar quem seguisse na retaguarda, pois podia dar-se o caso de os polícias estarem entretidos com uma outra coisa qualquer, ocultos em parte incerta ou ostensivamente especados no meio da estrada sem nada para fazer, quais senhores da estrada e redondezas. Como era o Hassan que ia ao volante do Toyota, as ordens de paragem pelos ditos sucediam-se. Uma das vezes foi porque Hassan desrespeitou um sinal de stop; as outras duas, muito simplesmente, porque aos polícias lhes apeteceu mandar-nos parar. Entretanto, eu ia servindo de álibi, visto que os marroquinos não estão autorizados (pelo menos oficialmente) a ter namoradas estrangeiras. Portanto, se acompanhavam estrangeiros, pressupunha-se que fossem guias, e para serem guias deviam estar munidos da respectiva autorização. Não nos soube dizer Hassan se essa era lei antiga, entretanto anulada, ou se continuava em vigor, o certo é que ele, para evitar aborrecimentos de maior monta, todas as vezes que o interpelavam metia a mão ao bolso e de lá sacava umas boas dezenas de dirhams para aplacar a gula dos agentes, que, à falta do aguardado presente, iriam com certeza encontrar motivos para nos atrasar a viagem. «– Não faças isso. Assim só contribuis para a continuidade do sistema», dizia Isabel. De nada valia o conselho da namorada. Hassan, temente à autoridade como qualquer marroquino, sabia o que a casa gastava. Além do mais, tivera não há muito tempo uma má experiência. Acusado de roubar pedras fossilizadas no deserto, fora mantido no cárcere quinze dias até pagar a devida caução: um milhar de euros, direitinhos para a algibeira do chefe da polícia de Zagora. Para Hassan, essa seria, doravante, uma pesada dívida a saldar junto de quem lhe tinha emprestado tão elevado montante. O berbere, contudo, fazia a distinção devida entre os diferentes tipos de forças de segurança. «– La gendarmerie, si que es buena. Mas la polícia, no», dizia ele. Esse “no” viera acompanhado de um simulacro de cuspidela, sinal de profundo desprezo.