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DIRECTOR Pe. José Mario O. Mandía | ANO 68 | Nº 8 | 26 de JUNHO de 2015 | SEXTA-FEIRA
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EDIÇÃO TRILINGUE | TRILINGUAL EDITION | SEMANÁRIO CATÓLICO DE MACAU | PREÇO 12.00 Mop
www.oclarim.com.mo
D. MANUEL ANTÓNIO MENDES DOS SANTOS, BISPO DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE
Igreja
substitui
o Estado
DESTAQUE PÁGs. 2
Jogo: Accionistas
pressionam Patrões
LOCAL PÁG. 5
E
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FRANCES MOFFETT-KOUADIO, COMISSÁRIA DA UKTI
«Estamos interessados
na Ilha da Montanha»
Animais: multas
com desconto
LOCAL PÁG. 5
Macau reúne
em Portugal
LOCAL PÁG. 5
ENTREVISTA PÁG. 4
D E S TAQ U E
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015
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À CONVERSA COM D. MANUEL ANTÓNIO MENDES DOS SANTOS, BISPO DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE
Quando a Igreja substitui o Estado
VÍTOR TEIXEIRA
EM
São Tomé e Príncipe
Estamos em São Tomé e Príncipe,
em plena gravana, a estação seca,
ou mais seca, mas muito quente
(para quem não é daqui), com
pó. O mar está sempre a perderse de vista, em contraponto com
um céu nesta altura mais azul,
mas quase sempre plúmbeo. O
“inferno” verde, de clorofila e
exuberância vegetal, com um
solo rico e fértil, nesta humidade
opressiva, domina a paisagem,
pontilhada por picos vulcânicos
envoltos em bruma. Cacau, café,
frutas, árvores tropicais, aqui,
onde o equador nos toca, tudo
explode em vida, numa terra
fecunda mas também num mar
generoso e sempre à distância do
olhar. Desta vez, vamos falar da
presença da Igreja neste jovem
arquipélago, independente
desde 1975, antes uma colónia
portuguesa, de degredo mas de
lucro, entreposto de escravos mas
também colónia agrícola, onde o
café e, principalmente, o cacau
foram imperiais, dominando a
economia e gerando fortunas...
em Lisboa, mas problemas
socais e raciais nas ilhas. Mas
vamos falar não em discurso
histórico apenas, antes através
do olhar e da perspectiva do seu
prelado, um bispo com larga
experiência missionária em África
e profundo conhecedor das suas
idiossincrasias e singularidades.
Com um pensamento crítico
fino e rigoroso, estribado em
conhecimento e experiência,
independência e um amor eclesial
de destacar, a partir de uma
conversa com que nos brindou,
vamos então conhecer esta
diocese. E o território, as suas
gentes, problemas e identidade.
S E M A N Á R I O C C AT Ó L I C O D D E D M A C AU
A Ilha de São Tomé (859 km²) foi descoberta pelos navegadores portugueses
João de Santarém e Pêro de Escobar no
dia do apóstolo São Tomé (21 de Dezembro), corria o ano de 1470. Alguns dias
depois, em viagem de reconhecimento à
ilha recém-descoberta, no primeiro dia
do ano de 1471, aqueles dois capitães
encontraram uma ilha mais pequena, a
qual baptizaram Ano Bom. A 17 de Janeiro descobririam outra ilha, a que chamaram de Santo Antão, ou Santo António Abade, hoje denominada de Ilha do
Príncipe (142 km² e oito mil habitantes),
por ter então pertencido ao príncipe D.
João, que veio a ser o rei Dom João II
(1455-1495, rei desde 1481), embora o
nome seja uma homenagem daquele soberano ao seu único filho, Afonso, Príncipe Real (1475-91).
Já foi uma diocese enorme, esta a de
São Tomé e Príncipe (STP), compreendendo Angola, Moçambique e toda a
bacia do Golfo da Guiné, até 1842. Foi
constituída sui iure a 31 de Janeiro de
1533 pelo Papa Clemente VII por desmembramento da Arquidiocese do
Funchal. Com efeito, foi constituída
em diocese a 3 de Novembro de 1534,
pelo Papa Paulo III, abrangendo então
Angola e Moçambique, sendo o seu primeiro bispo D. Diogo de Ortiz de Vilhegas, mais tarde bispo de Ceuta. Em 1924
designou-se por Diocese de São Tomé,
sendo renomeada em 1957 na sua denominação actual. Hoje a Diocese abrange o território nacional de São Tomé e
Príncipe (o segundo país mais pequeno
de África, a seguir às Seychelles), numa
área de 1001 km², num total de 180 mil
habitantes, dos quais 120 mil católicos,
ou seja, aproximadamente 60% da população distribuída por 14 paróquias.
Embora o patrono da Diocese seja São
Tomé Apóstolo (festa a 21 de Dezembro), o titular da Sé é Nossa Senhora da
Graça (comemoração obrigatória a 25
de Março).
D. Manuel António Mendes dos Santos, CMF, é o seu bispo diocesano desde 1
de Dezembro de 2006, fazendo parte da
Conferência Episcopal de Angola e São
Tomé e Príncipe. Sacerdote claretiano
desde 1985, é, de facto, um “veterano”
de África. Como ele próprio nos revela, a
«Diocese não é extensa territorialmente, mas é
plena de desafios, não apenas pastorais, mas
acima de tudo sociais e de integração». Com
uma visão antropológica coerente e de
largo espectro, atenta e preocupada, D.
Manuel conhece bem o terreno, as suas
gentes e agentes, as forças em acção, não
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D E S TAQ U E
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abdicando nunca de intervir e exercer
o direito de opinião, dentro da esfera
das suas competências e deveres. E é
uma voz ouvida. Ou não fosse, afinal,
o responsável máximo da mais importante, senão única, entidade nacional
com acção política e social, através
principalmente da Cáritas (fundada em
1981) – o braço da Diocese neste quadro de apoio aos pobres, carenciados,
órfãos, idosos, desintegrados, às vítimas
das conjunturas político-económicas
que devastam África, que recebe também algum apoio de ONG’s de matriz
católica, bem como de outras.
A Diocese é pequena, diríamos, mas
empenhada. Segundo D. Manuel, há
14 paróquias, uma das quais é a Ilha
do Príncipe (região autónoma), possui
igual número de sacerdotes: sete claretianos (quatro santomenses, um português e dois angolanos), cinco diocesanos
(dois portugueses e três santomenses) e
três do Instituto Missionário de São João
Eudes (fundado na Colômbia pelo padre Humberto Lugo Argüelles, na década de 80 do século XX), um dos quais
opera no Príncipe. O bispo refere-nos
a existência de um Seminário Menor
(Madre de Deus), com oito seminaristas, animado por um sacerdote. Alguns
seminaristas menores, recorda, «estão
ligados aos claretianos», congregação
com tradição missionária no arquipélago (aqui desde 1927). Os seminaristas
diocesanos (maiores) estudam fora do
País: oito em Angola (seis na Arquidiocese de Luanda e dois na de Benguela),
além de dois no Patriarcado de Lisboa.
Neste último, D. Manuel lembra existirem duas bolsas de estudo para seminaristas diocesanos santomenses.
D. Manuel enaltece «a acção inigualável das religiosas no arquipélago, um dos
pilares das obras sociais da Igreja, fulcral no
combate à pobreza e às necessidades e carências crónicas de boa parte da população». São
mais de trinta as religiosas na Diocese:
Teresianas, Canossianas, Franciscanas
Hospitaleiras da Imaculada Conceição,
as Servas da Sagrada Família e Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora.
O prelado salienta o notável e imprescindível labor das Irmãs, em conjugação
com os sacerdotes e a Diocese, além da
Cáritas de STP e de Portugal, ou das Misericórdias, além de outras instituições
eclesiásticas portuguesas.
O «ciclo de pobreza é de facto» mitigado,
aponta D. Manuel, pela «acção das congregações religiosas» citadas, através principalmente da «educação» (nos vários lares
de meninas, por exemplo), pois, enuncia, «a base da família é fundamentalmente
a mãe». Acolhimento, alimentação e preparação para a vida são os escopos desses
lares das “Meninas das Roças”, uma das
apostas da Igreja, refere, além de lares
de idosos, centros de infância, creches,
unidades de fisioterapia ou cuidados de
saúde elementares. Assim, as Irmãs Teresianas dirigem um lar de quarenta meninas nos Angolares, no sul da Ilha (para
meninas da 5ª à 8ª classe) e um outro,
com uma dúzia de adolescentes, na cidade de São Tomé (para meninas da 9ª
à 11ª classe). As Irmãs Canossianas têm
igualmente um lar em Santana, com 25
crianças. A paróquia de Santana dirige
também um lar com 22 crianças meninas e um com vinte rapazes. Já as Irmãs
Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora dirigem um outro lar em Guadalupe, na zona norte da Ilha com 21 meninas. Sem estas obras sociais da Igreja
não haveria política e acção social.
Na vertente da educação, D. Manuel
fala também do «Instituto Diocesano de
Formação João Paulo II (IDF), fundado
pela Diocese com apoio do Estado português,
mas com declarada e real matriz católica»,
animada, reforça o bispo, por «valores de
justiça, verdade e abertura». O IDF possui
actualmente quatrocentos alunos, do 5º
ao 12º anos. É uma «escola reconhecida pelo
Ministério da Educação de Portugal, funcionando como escola portuguesa em São Tomé
e Príncipe». Tivemos a oportunidade de a
visitar e assim aquilatar da sua notoriedade em termos de projecto educativo e
missão, reconhecida como a melhor escola secundária do arquipélago. Outras
escolas existem na Diocese, animadas
e geridas pelas congregações religiosas
femininas referidas, assegurando educação, alimentação, formação e assistência
neste país onde o dia a dia é um milagre, como descreve D. Manuel. «A Igreja
– acentua o bispo – considera a educação
como o caminho mais eficaz para libertar as
pessoas da pobreza». Não só dar o peixe,
mas ensinar também a pescar.
POBREZA
A «realidade social é difícil», está tudo
por fazer, com «elevada dependência de
ajudas do exterior». Com um alto índice
de natalidade – nos últimos trinta anos a
população passou de sessenta mil habitantes para os 180 mil – STP é um «país
jovem (mais de 50% da população tem
menos de 18 anos), com muitas dificul-
dades, num caldo cultural complicado, que
afecta a realidade social». «As importações,
essenciais para a sobrevivência da população», fazem disparar preços, num país
onde o salário mensal médio é de trezentas patacas. Por isso todos vendem,
para tentar apaziguar as dificuldades.
Nas «famílias, numerosas, instáveis, a figura paternal continua a ser quase ausente, ou
reduzida em impacto, pois a mãe, a mulher,
é a referência. Educar os filhos (de vários
pais muitas vezes), criá-los e alimentá-los
afigura-se normalmente – diz D. Manuel
– como tarefa das mães. Daí a aposta na
educação feminina por parte da Igreja».
O «espectro da pobreza domina», nas palavras do prelado, «criando situações de degradação moral, alcoolismo, gravidezes adolescentes, abandono escolar, comportamentos
de risco, doenças venéreas, etc.» Tudo num
cenário paradisíaco, de mar e floresta,
plantações, com centenas de roças, antigas ou em exploração, terras férteis e
praias idílicas. O turismo é o futuro, já
que o petróleo ainda é uma miragem,
dada a profundidade em que se encontram os jazigos offshore. Mas «o turismo
– equaciona D. Manuel – pode trazer problemas de inflação, carestia, de abandono das
terras e da economia de subsistência, desintegração social, delinquência e todos efeitos
sociais que podem surgir». Ou o «reverso da
moeda», o lado negro do turismo, como
já começa a suceder no Príncipe, onde
se sente já falta de produtos hortícolas
nos mercados locais, ou então a preços
que a população não aguenta. E as instituições de caridade (da Igreja) também
não, já que asseguram a alimentação de
milhares de pessoas em STP. Com a pobreza a crescer, com as instituições de
caridade a lutar pela sua mitigação, o
drama aumenta.
Todo este cenário ganha matizes mais
escuras numa «sociedade onde a cultura
mágica e neo-pagã começa a ganhar força»,
numa «terra de vivência mestiça, de caldo
cultural com dificuldades de vida». Daí a
presença cada vez mais notada de Igrejas
evangélicas com dízimos e «promessas de
felicidade e facilidades, pondo Deus ao serviço
dos homens e já não o contrário», analisa D.
Manuel. A «alienação» emparelha com
essa situação, nesta «terra onde o medo é
cultural, onde o dualismo bem/mal impera».
Alienados, sentem-se perdidos, inseguros: claro, tudo o que se lhes aparecer
a prometer segurança e algo melhor, fácil, logo é abraçado. «Seguir Cristo, pegar
na sua Cruz com Ele, em liberdade, mas com
esforço e persistência, é mais difícil nos dias
de hoje», enuncia D. Manuel. Por isso,
adianta, os «católicos em São Tomé e Príncipe são cada vez mais tímidos, vivendo com
vergonha a sua fé», faltando, por exemplo, «líderes leigos a apoiar a Igreja, publicamente», embora haja bons exemplos,
como o presidente da Câmara Distrital
de Lembá, na costa oeste da Ilha de S.
Tomé, muito empenhado na vida eclesial, como testemunhámos aliás.
D. Manuel afirma «existirem boas relações entre a Igreja e o Estado, sem problemas
e com diálogo». «O papel social do Estado
é, aliás, assegurado pela Igreja». Também
existe um bom relacionamento, regular, com a Santa Sé e com a Igreja em
Portugal ou de outros países lusófonos,
principalmente Angola. Existem ainda,
relembra, «problemas quanto à situação jurídica da Igreja em São Tomé e Príncipe desde
a Independência em 1975», sem «clarificação institucional e enquadramento jurídico»,
mantendo-se quase como antes daquela
data, «sem novas leis». Assim, poder-se-ia
dizer que o antigo «Acordo Missionário
se mantém em vigor, na prática». Em STP
«há um espírito religioso forte, com forte influência da religiosidade popular portuguesa, visível nas festas, procissões, liturgia»,
acrescenta D. Manuel, sublinhando que
«a prática religiosa até tem aumentado, com
as missas das seis horas da manhã sempre repletas». «A presença do sacerdote aumenta e
fortalece a devoção», daí que se pugne por
mais missionários. Quanto a sacramentos, perguntámos? «Baptismo é normal,
socialmente importante, como o Crisma, mas
quanto aos outros a situação é diferente, com
uma taxa de casamentos católicos baixa»,
pois as «uniões de facto», uma ou várias
ao mesmo tempo, «são comuns», devido
a problemas de «insegurança afectiva, os
tais medos, ou a cultura machista, bígama»,
ainda marcante na sociedade santomense. O «índice de auto-estima é muito baixo,
com complexo de inferioridade cultural forte»,
colectivamente.
Concluindo, «não se pode esconder os
problemas debaixo do tapete, há que os identificar e trabalhar neles, superar, ser realista,
criar uma economia social integradora forte,
que não exclua», remata D. Manuel, empenhado e com uma naturalidade simples mas directa. Com um realismo que
impressiona, uma agudeza na análise e
uma visão própria de quem conhece a
realidade africana e destas ilhas. «Porque
as ilhas são sistemas frágeis». Mas em São
Tomé e Príncipe há fé e esperança, alegria, hospitalidade e uma Igreja missionária que quer pegar na Cruz com Ele,
sem desistir ou esmorecer.
E N T R E V I S TA
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015
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FRANCES MOFFETT-KOUADIO, COMISSÁRIA DA AGÊNCIA DE COMÉRCIO E INVESTIMENTO
DO REINO UNIDO EM HONG KONG
«Estamos interessados
na Ilha da Montanha»
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
[email protected]
A Agência de Comércio e
Investimento do Reino Unido em
Hong Kong promoveu, no passado
dia 19 de Junho, uma missão
empresarial em Macau para atrair
investimentos, com incidência nos
“resort” integrados. Para Frances
Moffett-Kouadio o objectivo é
claro: «Estamos interessados na
Ilha da Montanha». A’O CLARIM,
a comissária para o comércio da
entidade subordinada ao Governo
britânico falou também sobre
entretenimento e diversificação
económica na RAEM.
O CLARIM – É a primeira vez, enquanto
comissária para o comércio da UKTI (sigla inglesa) em Hong Kong, que promove uma missão empresarial em Macau
com o intuito de potenciar novas oportunidades de negócio para as companhias britânicas. Quais os sectores mais
atractivos?
FRANCES MOFFETT-KOUADIO –
Estamos obviamente interessados em
todos os “resorts” integrados. Embora
haja um número considerável de empresas britânicas ligadas à arquitectura,
à engenharia, à finança, ao serviço ao
cliente e aos eventos, e a desenvolver
projectos nos empreendimentos da indústria do Jogo, penso que os “resorts”
integrados são a melhor solução para
a diversificação económica porque trazem novas oportunidades nas áreas da
formação, dos cuidados de saúde e das
infra-estruturas dos transportes públicos, entre outras.
CL – A julgar pela dimensão geográfica do território e pela competição com
as demais empresas aqui estabelecidas,
sejam locais, do continente chinês, de
Hong Kong, de Portugal ou de outros
países, haverá assim tantas oportunidades que chamem à atenção dos empresários britânicos?
F.M.K. – Penso que o mercado é
atractivo. O maior desafio para a obtenção de lucros é levar os “resorts”,
neste momento, a pensar mais no lazer
e no entretenimento. No Reino Unido temos as fenomenais indústrias da
música, do cinema e da televisão. Há
companhias a trabalhar nestas áreas
com potencial para ajudar os “resorts”
a desenvolver novos produtos para os
seus clientes.
CL – Estão focados apenas em Macau?
F.M.K. – Há também o interesse de
encontrar parceiros em Macau para
que as empresas britânicas entrem na
Ilha da Montanha e também na China
continental. Macau não só é um mercado muito atractivo, como também é um
trampolim para o continente chinês.
CL – Será assim tão linear?
F.M.K. – Pode definitivamente acontecer. Os novos empreendimentos na
Ilha da Montanha são um bom ponto de
partida porque são boas oportunidades
para as companhias britânicas com actividade em Hong Kong de estreitarem
parcerias com empresas de Macau, por
forma a desenvolverem projectos em
conjunto na Ilha da Montanha e também no resto da China.
CL – Apesar das boas ofertas dos
hotéis-casino, maioritariamente direc-
cionadas para turistas e visitantes, não
há nada de substancial fora destes empreendimentos que sirva as comunidades aqui residentes. Algo do género de
Lan Kwai Fong...
F.M.K. – Há um grupo de britânicos
a apoiar o desenvolvimento do entretenimento na Vila da Taipa, com investidores do Reino Unido que estão
a financiar a renovação e a regeneração daquela zona. É um exemplo de
como o pensamento britânico pode
ajudar à regeneração. Felizmente, há
restaurantes e cafés [de várias tendências] em redor. Penso que o desenvolvimento acontecerá de forma natural
à medida que parte da “cidade” se
regenera. Há um número fenomenal
de edifícios cuja utilidade pode ser alterada de modo a haver uma melhor
rede social na zona [da Vila da Taipa],
à imagem de tudo o que já existe em
Lan Kwai Fong.
CL – Voltando aos empreendimentos
ligados ao sector do Jogo...
F.M.K. – Fui ao novo Broadway Macau
e vi o mercado de rua... Por exemplo, em
vez de irmos para dentro de um casino
ou de um hotel onde até há entretenimento e divertimento, penso que virá o
tempo das pessoas quererem e exigirem
algo diferente, o que também resultará
em novas oportunidades para as empresas tornarem isso em realidade.
CL – O que fazer então?
F.M.K. – Os residentes de Macau são
um grupo poderoso em termos de consumo, por isso há que exigir junto do
seu Governo [da RAEM] medidas para
haver mais negócios locais.
CL – As receitas do Jogo decrescem a
olhos vistos, o que estará a afectar o desempenho da economia local e, por arrasto, das PME. Como ultrapassar esta
situação?
F.M.K. – É preciso inserir a situação
no seguinte contexto: embora estejam
em queda, as receitas ainda são muito
elevadas. A Venetian em Macau conseguiu mais em seis semanas do que
num ano inteiro em Las Vegas. A taxa
de desemprego ainda é muito baixa. Há
muitas oportunidades, mas se chegarem
tempos difíceis as pessoas terão que ser
mais criativas a desenvolver uma grande
variedade de negócios.
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LOCAL
KATE O’KEEFFE, REPÓRTER DO WALL STREET JOURNAL PARA O SECTOR DO JOGO
Accionistas pressionam Patrões
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
[email protected]
A repórter mundial do Wall Street Journal (WSJ) para o sector do Jogo, Kate
O’Keeffe, disse na passada quarta-feira
a’O CLARIM que a Sands China e a
Wynn Resorts (Macau) estão sob forte
pressão dos accionistas, razão pela qual
Sheldon Adelson e Steve Wynn têm criticado o Governo da RAEM.
«Muitas pessoas que investem em Macau estão perturbadas porque não há muita
certeza sobre o que se está a passar e existe
muita pressão de quem financia os projectos,
inclusivamente dos accionistas», referiu
Kate O’Keeffe, à margem da conferência-pequeno-almoço subordinada
ao tema “De Macau para Las Vegas”,
promovida pela Associação Comercial
França-Macau.
«É compreensível que, ao ser afectado por
uma série de medidas, o negócio os faça ficar
preocupados ou perturbados porque o que
está a acontecer é algo nunca visto», frisou,
acrescentando que os Patrões «deviam
estar gratos pelo que têm, mas também é compreensível que estejam chocados pela forma
como as receitas estão a decrescer».
Invocando a postura de Steve Wynn
no Nevada, exemplificou: «Criticava
sempre Obama, ao dizer que o Presidente
promovia uma série de políticas que des-
PROTECÇÃO DOS ANIMAIS
Multas com desconto
A 1ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa está a estudar
a hipótese de incluir na proposta
da lei sobre a protecção de animais
o incentivo ao pagamento de multas nas infracções administrativas
menos graves, entre as duas mil e
as dez mil patacas.
De acordo com Kwan Tsui Hang,
presidente daquele órgão da AL, a
medida não só vai «reduzir os custos
administrativos», como «incentivar a
população a pagar as multas o quanto
antes», porque se o fizerem no prazo
de dez dias será apenas cobrado o
valor mínimo de duas mil patacas.
«O valor entre as duas mil e as dez
mil patacas é grande. Se as pessoas conseguirem pagar a multa em dez dias
parece que não está a ser considerada
a gravidade da situação», disse no
entanto Kwan Tsui Hang, acrescentando que a medida inspirada na
“Lei do Trânsito Rodoviário” poderá cair numa próxima reunião.
A presidente da 1ª Comissão Permanente adiantou que as multas
menos graves não vão recair no âm-
bito dos maus tratos a animais, pois
abrangem o abate de animais com
problemas congénitos, ferimentos
ou doenças sem o acompanhamento de um veterinário, a venda de
cães e gatos com idade inferior a
três meses, a captura de animais selvagens sem a autorização do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) e a utilização de
animais, à excepção de peixes, em
circos, exposições ou espectáculos.
As multas mais graves, entre as
dez mil e as vinte mil patacas, e
deste valor até às cem mil patacas,
estão excluídas do incentivo ao pagamento das multas.
P.D.O.
truíam o negócio em Las Vegas. São homens de negócios [aludindo também a
Sheldon Adelson], por isso puxam sempre para o seu lado. No meu entender, os
accionistas querem [que se faça pressão],
por forma a maximizar as receitas e os lucros no negócio».
A repórter do WSJ vincou ainda que
os “resorts” em construção no COTAI
parecem-se cada vez mais com os de Las
Vegas, mas os mercados são muito diferentes quanto à proveniência de clientes: «obviamente, Las Vegas tem uma visão
geral, enquanto os visitantes que chegam a
Macau são maioritariamente da China continental».
No seu entender, «se Las Vegas já
construiu uma grande variedade de infra-estruturas, Macau ainda está a passar por
vários estágios de desenvolvimento nos projectos, essenciais para direccionar todo este
crescimento de visitantes para as ofertas
extra-Jogo».
«Se olharmos para a indústria do Jogo à
escala mundial, que melhor sítio há para fazer negócio do que aqui [na RAEM]? Mesmo
no seu pior, o mercado de Macau é melhor do
que muitos outros», sublinhou.
A terminar, Kate O’Keeffe disse estar convencida que «o mais provável é
as [seis] operadoras manterem as licenças»
para além do actual período de validade, embora preveja que «o negócio se torne
menos rentável para quem estava acostumado
a receitas fabulosas».
FUNDAÇÃO JORGE ÁLVARES E CASA DE MACAU
EM PORTUGAL MOSTRAM SERVIÇO
Convívio e mimos
A Fundação Jorge Álvares
realiza amanhã o II Encontro de Macau, com o objectivo de assinalar o 15º aniversário da transferência da
Administração Portuguesa
de Macau.
O almoço-convívio, aberto a todos os que nasceram,
viveram ou trabalharam em
ou para Macau, vai decorrer no Refeitório dos Frades
da actual Escola das Armas
(Convento de Mafra).
«Tal como aconteceu em 2009,
não houve convites pessoais, tendo a Fundação Jorge Álvares,
com vista a promover inscrições,
solicitado a um elevado número
de antigos residentes que divulgassem a iniciativa pela Família
que os acompanhou em Macau
e por todos os amigos e conhecidos que lá estiveram na mesma
ocasião», refere a organização
em nota de Imprensa.
Por sua vez, a Casa de Macau em Portugal divulgou
no último sábado a lista de
instituições e empresas que
proporcionam
descontos
(podem ir até aos 50%), ou
serviços gratuitos, aos sócios
daquela entidade.
O Museu do Oriente, o
Oceanário de Lisboa, o Teatro da Cornucópia, o Museu
das Marionetas do Porto, o
Museu da Electricidade/
Fundação EDP, a Casa de
Tormes, o Restaurante Cantonês Dim Sum (Oeiras) e o
Restaurante Dinastia Tang
(zona do Poço do Bispo, Lisboa) são alguns dos aderentes à iniciativa.
P.D.O.
LOCAL
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PT
CONHECER AS LEIS DE MACAU
Breve Introdução aos Regimes de Bens do Casamento (I)
Regime da comunhão de adquiridos
O Código Civil prevê a vigência em Macau de quatro regimes de bens, a saber:
o regime da separação, o regime da comunhão geral, o regime da comunhão
de adquiridos e o regime da participação nos adquiridos.
O princípio fundamental do regime
da comunhão de adquiridos estabelece
que os bens dos cônjuges adquiridos antes do casamento são bens próprios e os
bens adquiridos por cada um depois do
casamento constituem património comum, salvo disposição em contrário na
lei. Por exemplo, tratando-se de imóvel
adquirido pela mulher antes do casamento, este imóvel é seu bem próprio.
Inversamente, caso o imóvel seja adquirido depois do casamento, este fará parte do património comum dos cônjuges.
Quando cessar o regime da comunhão
geral, é preciso, em princípio, fazer a partilha dos bens. Neste caso, cada um dos
cônjuges fica com os seus bens próprios e
metade do património comum.
Regime da Separação
No regime da separação, cada um dos
cônjuges conserva o domínio e a fruição
de todos os seus bens antenupciais ou pós-nupciais, podendo, salvo nas situações
previstas na lei, dispor deles livremente.
No âmbito de administração de bens,
cada um dos cônjuges pode administrar
e dispor livremente dos seus bens pessoais. No entanto, a lei prevê algumas
excepções, designadamente, no que diz
respeito à casa de morada da família.
Assim, mesmo que o regime adoptado
seja o da separação e a casa seja apenas
propriedade de um dos cônjuges, sem o
consentimento do outro, o titular do direito de propriedade sobre a casa não a
pode vender, arrendar ou hipotecar.
Regime da Comunhão Geral
No regime da comunhão geral, os
cônjuges são proprietários em comu-
nhão de todos os bens antenupciais ou
pós-nupciais, salvo os que estão excluídos por lei.
Então quais são os bens que não fazem parte do património comum? De
acordo com a lei, os bens que não fazem parte do património comum dos
cônjuges são: as roupas e outros objectos de uso pessoal (por exemplo, certidões); as recordações da família de
baixo valor económico; indemnização
a título pessoal por acidente de viação,
entre outros.
Em caso de cessação do regime da
comunhão geral (designadamente por
divórcio, alteração do regime de bens,
entre outros), os cônjuges são obrigados
a fazer a partilha do património comum,
ficando cada um com metade deste património e com os seus bens próprios.
Na próxima semana, será apresentado nesta coluna o regime da participação nos adquiridos.
Obs. Na elaboração do presente artigo teve-se como referência o disposto nos artigos 1548.º,
1601.º, 1603.º, 1609.º e 1610.º do Código Civil.
Texto fornecido pela Direcção dos Serviços de
Assuntos de Justiça
PROVISÃO
PROVISÃO
José Lai, Bispo Diocesano de Macau
José Lai, Bispo Diocesano de Macau
Fazemos saber que tendo em consideração as opiniões e o consentimento
Fazemos saber que achando-se vago o lugar de Directora da Escola
da Rev. Superiora Provincial da Congregação das Missionárias Dominicanas
Dom João Paulino, sita na Avenida Carlos da Maia, Taipa, por Provisão de
do Rosário, havemos por bem desligar a Irmã Li Shue Ming, OP, do encargo
11 de Junho de 2015;
de Directora da Escola Dom João Paulino, sita na Avenida Carlos da Maia,
Taipa, para o qual fora nomeada por Provisão de 15 de Junho de 2009.
Considerando as qualidades e experiência em Matéria de Educação e
Administração Escolar na pessoa da Sra. Ng Sai Wa;
Para o efeito, a dita Directora, continuará a assumir as suas funções até
Havemos por bem nomeá-la Directora da referida Escola.
ao dia 31 de Agosto de 2015, para a entrega de todo o trabalho de direcção e
Esta provisão entrará em vigor a partir do dia 1 de Setembro de 2015.
administração da escola em causa à sua substituta.
Dada no Paço Episcopal em Macau, sob o Nosso Sinal e Selo de Armas,
Dada no Paço Episcopal em Macau, sob o Nosso Sinal e Selo de Armas,
aos 12 de Junho de 2015.
aos 11 de Junho de 2015.
+ José Lai
+ José Lai
Bispo de Macau
Bispo de Macau
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015
7
PT
O L H A N D O
E M
OPINIÃO
R E D O R
Não ao sufrágio indirecto
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
[email protected]
N
os últimos dias houve dois
assuntos que prenderam a minha
atenção: o chumbo da reforma
política pelo Conselho Legislativo
(LegCo) de Hong Kong e a entrevista do
deputado Chan Chak Mo, no passado dia
10 de Junho, ao Ponto Final.
No primeiro caso, quando tudo
fazia prever que iria decorrer com
normalidade a votação no LegCo sobre a
lei da reforma eleitoral, apresentada pelo
Governo de Hong Kong e apoiada por
Pequim, eis que houve um inesperado
golpe de teatro, com a saída de 31
deputados pró-Pequim do plenário,
momentos antes de expressarem a sua
tendência de voto, para supostamente
inviabilizar o quórum e dar tempo a um
colega da mesma ala de votar, pois estava
atrasado. E não voltaram.
Apesar desta insólita manobra a roçar
o ridículo, houve quórum e a proposta
de lei acabou por ser rejeitada, com
28 votos contra e oito a favor. Para ser
aprovada necessitava de 47 votos a favor.
Tem havido muita especulação
sobre as razões de todo este imbróglio.
Mera incompetência? Esperteza
das oligarquias? Desafio à “mão” de
Pequim, até mesmo pelos alinhados?
Em termos práticos, há três ilações
a tirar: 1 – Pequim foi a grande
beneficiada, porque não houve qualquer
reforma do sistema político, mantendose a eleição do Chefe do Executivo de
2017 limitada a mil e 200 pessoas. 2 – Os
empresários e as oligarquias de Hong
Kong continuam a ditar as regras numa
sociedade onde cada vez mais se acentua
o fosso entre ricos e pobres. 3 – Por
ironia do destino, a ala pró-democrata do
LegCo fez um grande favor a Pequim.
Quanto à entrevista de Chan Chak Mo,
é de elogiar a sua posição, ao assumir ser
verdade a crítica de Pereira Coutinho,
quando afirmou que os deputados
tomam as suas decisões na Assembleia
Legislativa de Macau de acordo com os
seus interesses económicos: «No meu caso,
represento um sector, eu falo por eles, é claro que
eu falo pelos meus. Isso acontece em todos os
lugares [sic]».
Chan Chak Mo tocou num ponto
essencial, o da representatividade no
Hemiciclo, porque ao ser dominado por
empresários, maioritariamente eleitos
pelo sufrágio indirecto, percebe-se que
a voz da sociedade está a ser substituída
pela voz dos negócios, com as devidas
implicações na vida das pessoas.
Embora seja importante a
representatividade empresarial, também
é certo que a AL não pode estar refém
deste sector, sob pena de perigar a
tão desejada harmonia social. Há que
mudar mentalidades, a começar pela
abolição gradual do sufrágio indirecto,
em benefício do sufrágio directo, com
representatividade predominante, e dos
nomeados, que não devem ultrapassar
um terço dos deputados.
Os nomeados são bastante necessários
para haver um contrabalanço porque,
em termos comparativos, até mesmo nos
parlamentos das democracias ocidentais
há grande representatividade de
deputados alinhados com os respectivos
Governos (em alguns casos são a maioria).
Apresentado de forma inteligente, o
Governo da RAEM poderá ter a maior
parte da população do seu lado na
consulta pública sobre um hipotético
projecto da proposta de lei sobre este
tipo de reforma do sistema político,
o que poderá depois fazer toda a
diferença no seio da AL.
A gradual abolição do sufrágio
indirecto não pode criar pânico na
comunidade macaense com direito a voto,
mas ser entendida como uma soberana
oportunidade de afirmação, ao mostrar
total apoio a alguém da velha guarda, ou
a ela conotada, o que nunca aconteceu
após o estabelecimento da RAEM
porque Leonel Alves teve sempre o lugar
garantido pela via indirecta. Em último
caso, há a possibilidade de um macaense
ser nomeado pelo Chefe do Executivo.
QUEM É QUEM?
Numa consulta ao sítio da AL verificase que, dos catorze deputados eleitos
pela via directa, dois são administrativos
(Ho Ion Sang e Kwan Tsui Hang), há
um desempregado (Ng Kwok Cheong),
outro é docente (Au Kam San), quatro
exercem a profissão de deputado (Zheng
Anting, Melinda Yi, Pereira Coutinho e
Chan Meng Kam), uma é gestora (Angela
Leong), outra é enfermeira (Wong Kit
Cheng), uma é profissional na área dos
serviços sociais e comunitários (Song
Pek Kei) e um é funcionário público
aposentado (Leong Veng Chai).
Frequentaram todos o Ensino
Superior, à excepção de Angela Leong,
Zheng Anting e Chan Meng Kam
(Ensino Secundário), assim como
Leong Veng Chai (Ensino Primário).
Dos doze deputados eleitos pela via
indirecta, há quatro empresários (Ho
Iat Seng, Kou Hoi In, Chan Chak Mo
e Cheung Lup Kwan), um dirigente
associativo (Lam Heong Sang), um
auditor de contas (Chui Sai Cheong), um
advogado (Leonel Alves), um engenheiro
civil (Chui Sai Peng), uma docente
(Chan Hong), um administrador
(Cheang Chi Keong), um médico (Chan
Iek Lap) e uma administrativa (Lei
Cheng I). Apenas Cheung Lup Kwan
ficou pelo Ensino Secundário.
Dos sete deputados nomeados pelo
Chefe do Executivo, Fong Chi Keong
e Lau Veng Seng não revelam a sua
profissão, mas pelo currículo dos
dois depreende-se que se trata de um
empresário e de um administrador,
respectivamente.
Tsui Wai Kwan e Siu Chi Wai são
empresários, enquanto Ma Chi Seng
é gestor de empresas, Vong Hin Fai é
advogado e Gabriel Tong é docente
universitário na área do Direito. Todos
têm formação académica, exceptuando
Fong Chi Keong e Tsui Wai Kwan
(Ensino Secundário).
Feitas as contas, entre 33 deputados,
encontram-se seis empresários
assumidos, embora o número seja
enganador porque, na prática, há
pelo menos mais oito com “costela”
empresarial: Zheng Anting, Chan Meng
Kam, Angela Leong, Fong Chi Keong,
Cheung Lup Kwan, Lau Veng Seng, Ma
Chi Seng e Chui Sai Peng.
Também se depreende que o
“canudo” não é tudo na vida, a julgar
pelas interpelações com valor de Leong
Veng Chai. Ou do poder alcançado no
mundo dos negócios por Angela Leong,
Chan Meng Kam, Cheung Lup Kwan e
Fong Chi Keong.
OPINIÃO
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015
8
PT
A tragédia grega – acto 1
LUIS BARREIRA
S
emana após semana e dia
após dia os cidadãos da
Europa e nomeadamente
da zona Euro, entre os quais
os portugueses, olham para o
calendário das decisões sobre a
situação grega tal como consultam diariamente o estado do
tempo, antes de decidirem ir
para a praia.
Num dia o tempo vai estar
bom mas, logo a seguir, a temperatura vai baixar. Por vezes
a meteorologia prevê um Sol
resplandecente mas, inesperadamente, começam a aparecer umas nuvens negras. É assim
a disputa entre os credores e
a Grécia, num jogo do rato e
do gato que, a pouco e pouco
e à medida da proliferação
mediática sobre a evolução do
“diz que disse”, nos começa a
deixar quase indiferentes à sua
solução.
Mas pese embora estarmos
em plena “campanha” de férias, à qual se junta uma outra
campanha eleitoral, para a qual
os “cremes protectores” vão ser
muito necessários (aconselho
o 50+), o Sol das praias portuguesas e o calor que irradia
dos discursos sobre a Grécia
podem queimar a pela sensível
dos portugueses...
Entre muitas observações,
já ouvimos de tudo sobre a
Grécia e os gregos: malandros,
corruptos, calões, proxenetas
e outras designações que me
poupo de citar. Como também já se divulgaram muitas descrições sobre os seus
credores: imperadores da
finança, usurários, “donos” da
UE, impostores, dominadores
dos mais fracos, etc., etc.
Se o que se passa entre a
Grécia e as suas instituições
credoras fosse identificado e
resumido a estes palavrões,
eu diria que estão bem uns
para os outros. No entanto, a
realidade é bem mais profunda
do que as declarações políticas
daqueles que tudo jogam no
tabuleiro politico-partidário
e em favor dos seus interesses
particulares.
Em primeiro lugar é preciso perceber, de uma vez por
todas, que a linha de conduta
dos partidos políticos, actualmente maioritários na União
Europeia e em plena crise da
mesma, nada tem a ver com as
designações que estiveram na
sua origem, em pleno século
XIX. Comunistas, socialistas,
social-democratas, cristãossociais, liberais, etc., são, no
seu conjunto, apenas denominações de interesse eleitoral,
pelo seu papel histórico e
muito menos respeitadores do
seu ideário inicial. Hoje, estes
mesmos partidos, subordinados a uma “troika” de nações
impositivas do seu presente e
futuro e de um capitalismo selvagem que lhes asfixia a ideologia, são meras “marionetas” de
um jogo de interesses políticos
e financeiros, que apenas lhes
dão margem para pequenas
clivagens eleitorais. De um lado
(os predominantes), os que
fazem tábua rasa dos valores
que estiveram na base da construção do Estado Social, após
ESCOLHA SARDINHAS PORTUGUESAS
a Segunda Guerra Mundial;
do outro, os que alimentam o
propósito de salvaguardar o essencial dessas conquistas sociais
e, no meio, os que pretendem
fazer uma ponte entre uns e
outros.
Com uma economia arruinada pelos primeiros, os
gregos, esperançados que
as democracias institucionalizadas na Europa respeitassem também a sua escolha,
decidiram não votar maioritariamente em nenhum dos
históricos partidos, mas num
partido diferente, o Tsipras,
o qual – até aparecer um
ideólogo ou filósofo que o
classifique – não me atrevo a
rotular. Direi apenas que prometeu ao seu povo preservar
e melhorar o seu bem estar,
opondo-se a ver retalhada a
sua pátria, em nome de inter-
ESCOLHA
PORTHOS
esses que lhe são alheios e às
condições draconianas de um
“memorando” imposto pelos
credores e que não tinha sido
subscrito por si.
Em nome de objectivos semelhantes nasceram na Europa
vários novos partidos idênticos,
precisamente em países em situações idênticas, que lançaram
o pânico entre os tradicionais
partidos políticos, levando-os
a uma extremada defesa da
sua existência, através de um
ataque às intenções dos dirigentes do Tsipras, tentando
descredibilizá-lo, vergar os seus
propósitos e caluniar sistematicamente o povo que votou
nele.
Assim, a irredutível posição
dos credores da Grécia, mais
do que a defesa do dinheiro
que investiram naquele país, é
uma tentativa de evitar perder
muito mais, ou seja, que o que
se passou nas últimas eleições
gregas não contagie outros
povos na mesma situação.
Passos Coelho bem o admitiu
quando confessa que o que
está em causa é o “contágio
político”.
Até que isto se resolva,
apesar de muitos dirigentes
desta Europa a várias velocidades e situações económicas
distintas terem afirmado que
é necessário rever as regras do
Euro, dos Tratados Orçamentais, Dívidas Soberanas, Défices
e o respectivo Pacto de Estabilidade e Crescimento, nada
mexe.
Mexe o Governo português
que, em vésperas de eleições,
não se cansa de afirmar que
vivemos num país das maravilhas, produto do “memorando”,
não tantas como aquelas que
prometeu quando subiu ao
poder porque, essas, eram um
“mito urbano”!
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015
9
PT
OPINIÃO
TAP
Portugal e Frente Nacional
JOSÉ PINTO COELHO
O
desgoverno PSD/CDS resolveu
entregar os destinos da TAP ao
consórcio Gateway. O Estado
vai encaixar 10 milhões de euros com
a venda. Lembramos que, aquando da
compra da quase falida Portugália ao
grupo BES, a TAP, ou o Estado, desembolsaram 140 milhões de euros por uma
empresa muito mais pequena e que o
custo de um avião Airbus A 380 é de 200
milhões de euros. Bastam estes números
para vermos que estamos perante um
negócio ruinoso, que passa de imoral a
criminoso aos olhos dos portugueses.
Ao longo dos últimos anos a administração da TAP, recebendo ordens superiores ou por conta própria, tem vindo a
destruir a empresa. Quer por má gestão,
quer por negócios ruinosos, quer pelo
seu crescimento desmedido a contar
com a possibilidade de construção de um
novo aeroporto (a obra megalómana do
Governo Sócrates que não chegou – ainda
– a avançar). Não nos admira portanto
vermos o gestor brasileiro, que colocaram
a fazer o trabalho sujo, a concordar com a
venda da empresa. Nem nos espantamos
pela notícia de que esse mesmo gestor
vai ser mantido em funções pelo actual
comprador. Primeiro, arruinou. Depois,
ganhou um “tacho” na empresa arruinada.
Ao contrário do afirmado por este
Governo, defendo que é possível fazer
uma reestruturação na TAP que traga a
empresa para o bom caminho, para o
caminho do lucro. Basta mudar a administração, negociar inteligentemente com
Bruxelas a autorização para financiar a
empresa (pois se o Governo e o sistema
ajudam bancos privados, têm também a
obrigação de ajudar a empresa que é a
maior exportadora nacional) e esta facilmente entrará no bom caminho.
O acordo agora alcançado está cheio
de pontos nebulosos, não garantindo os
postos de trabalho, nem a continuação
de rotas e o nome da empresa terminados os dez anos de transição.
Estamos perante mais um escândalo
nacional, onde quem vai perder serão
Portugal e os portugueses e quem vai
ganhar veremos nos próximos episódios, quando constatarmos os tachos
oferecidos, as doações para campanhas
eleitorais, ou as casas em Paris oferecidas por algum amigo.
PATIFES
Sim, estamos subjugados a um bando
de patifes, desqualificados, que es-
crevem a nossa História com páginas de
destruição, desmantelamento, capitulação, pilhagem, roubo, etc...
Eles, à imagem daquilo que se passa
um pouco pelos vários países da Europa e
do mundo ocidental, estão vendidos a um
modelo, que repudiamos e que nos querem impor: o mundialismo. O poderoso
rolo compressor mundialista, do totalitarismo do capital apátrida e do multiculturalismo, aniquila, sem dó nem piedade, toda
a natureza humana, ou seja, a dignidade
pessoal, a família e a nação.
É indiscutível o seu poder avassalador.
Mas o mais grave é que essa agressão não
vem abertamente de fora. Muitas vezes
ela não é palpável nem evidente, mas antes espalha os seus tentáculos contando
com os vassalos cobardes e traidores em
cada país. Esse é justamente o nosso pior
inimigo: o que vem de dentro; o que
está cá dentro, que é dos nossos e que
abre as portas a todos os cavalos de Tróia
e também de Troika.
Por isso, sendo a hora grave, reclama
novos heróis. Reclama, dos verdadeiros
portugueses, sacrifícios e riscos por
uma esperança que igualmente vem de
dentro: o nacionalismo!
A nossa mundivisão, o nosso modelo
de sociedade é antagónico ao que nos
estão a impor e é a única alternativa.
Enquanto houver um punhado de portugueses conscientes, há esperança. Lutemos pois por ela! Mas a vitória não se
consuma por magia, mas antes com suor
e lágrimas, à imagem do que fizeram os
grandes obreiros e construtores da nossa
nação. Sigamos o seu exemplo!
Martim Moniz é um exemplo disso.
Hoje, infelizmente, como o seu nome
associado ao que de pior temos… Sim,
o que de pior temos: há portugueses
a viver na rua, há jovens casais sem
dinheiro para uma casa onde constituir
família, há idosos abandonados a precisar de apoio, mas a Câmara Municipal
de Lisboa decidiu gastar aqui milhões
num complexo com uma mesquita.
A decisão foi de António Costa, do
PS. Mas calou-se o PCP, calou-se o BE,
calou-se o PSD e calou-se o CDS. Só nós
erguemos a voz para dizer: em Portugal,
primeiro os portugueses!
A nossa forma de estar, por colocarmos a nossa Nação acima de qualquer
outro interesse, é antagónica às práticas
deles. Eles são os que nos vendem, os
que se enganam sistematicamente nas
contas, os que tiram cursos ao Domingo
e os que nos lançam na bancarrota…
e depois ainda têm a distinta lata de
dizer que só as políticas deles é que são
credíveis. Como se eles, comprovadamente incompetentes e responsáveis
pelo estado a que Portugal chegou,
tivessem moral para falar.
Lutemos pois pela alternativa nacionalista. Só assim podemos almejar
a reconquista da liberdade colectiva e
individual do nosso povo.
Vamos combater o inimigo que vem
de dentro, traidor, e o que vem de
fora, invasor. Vamos reconquistar o que
nosso! Viva Portugal!
EUROPA AMANHECE
Marine Le Pen, líder da Frente
Nacional francesa, conquistou no Parlamento Europeu poder para melhor
denunciar as infâmias de Bruxelas e dar
um novo rumo à Europa, ao reunir aliados suficientes para formar um grupo
parlamentar.
O novo grupo terá como co-presidente Marcel de Graaff, do PVV holandês,
um dos aliados “históricos” da dirigente
da FN na Europa, ao qual se juntam o
Partido da Liberdade austríaco (FPÖ),
a Liga Norte italiana e o Vlaams Belang
flamengo (Bélgica). O cargo de tesoureiro será ocupado por Gerolf Annemans,
deputado desta formação belga.
É de congratular o facto de cada vez
mais os nacionalistas europeus chegarem a entendimentos, pondo de parte
pequenas divergências e compreendendo que a Europa e os europeus estão
em primeiro lugar.
Vivemos tempos de esperança e a criação deste grupo parlamentar é a prova
disso mesmo. Na Europa começam a
soprar os ventos de mais justiça social e
de mais identidade e soberania.
C U LT U R A
O CLARIM | Semanário Católico de Maca
10
PT
MEMÓRIAS E FORTALEZAS NO
Chineses de Nampula e um
JOAQUIM MAGALHÃES DE CASTRO
[email protected]
Após um voo tranquilo de três
horas aterramos em Nampula.
Enquanto aguardo pela bagagem
na passadeira rolante constato
que não conseguirei, nessa
mesma noite, transporte directo
para a Ilha de Moçambique.
Mas não faz mal, o aeroporto
fica perto do centro da cidade e
abundam táxis.
PARTO num deles em busca da Casa de
Hóspedes de que me tinha falado Luís
Filipe Pereira e deparo com a baixa de
Nampula quase às escuras. Apesar das
minhas indicações, o motorista deixa-me no local errado. Considero o lapso, de certa forma, conveniente, pois
do outro lado da rua avisto a entrada
principal do Hotel Tropical, conhecido
em tempos pelo nome Pensão Parque,
como revelam as letras apagadas na pintura original da fachada. Gere agora o
negócio uma família de chineses, embora sejam moçambicanos de gema os empregados da recepção e restante pessoal
da casa. Como complemento à unidade
hoteleira – na mais fiel tradição oriental
– não falta aqui o respectivo restaurante
e a respectiva discoteca com karaoke a
condizer.
O que vale é que as paredes parecem
capazes de isolar o som, penso para com
os meus botões, antecipando a possibilidade de ter de ficar alojado essa noite no
Hotel Tropical, se bem que a Casa de Hóspedes continue a ser uma prioridade.
PRESENÇA CHINESA
Para não ter de andar com a mochila às
costas deixo-a na recepção do Tropical e
pesquiso as redondezas da praça ali perto, pedindo direcções aos seguranças de
boné e farda azul sentados em frente aos
portões das residências privadas. Nada me
sabem dizer a respeito da dita. Tão pouco
ouviram falar dela os homens que conversam e fumam narguilé no jardim de
sua casa, confortavelmente sentados em
cadeiras reclináveis, e que parecem algo
assustados quando os chamo da rua. Comunicam entre si em Árabe mas respondem às minhas questões num Português
irrepreensível.
Cansado de procurar em vão, regresso
ao Tropical disposto a instalar-me num
dos quartos junto ao terraço. É pequeno
mas tem uma ventoinha das grandes e
uma janela sem vidros, o que me obriga a
procurar grandes pedaços de cartão para
tapar o buraco. Espero com isso evitar
a entrada de mosquitos, pois em todo o
Norte de Moçambique ameaça a malária.
Permanentemente. Todos os cuidados são
poucos.
«– Então tuga, estás a trabalhar?», questiona um jovem moçambicano, sentando-se à minha mesa sem qualquer tipo de
cerimónia, dou eu as últimas garfadas
na massa com legumes salteados equitativamente regada com molho de soja.
Certamente intriga-o as linhas que escrevo no ecrã do meu portátil ao mesmo
tempo que degluto o repasto. Quebrado
o gelo inicial, Acácio – assim se chama
o meu interlocutor – desata a conversar
sobre os mais diversos assuntos utilizando expressões como “este gajo” e “estou
lixado”. Mais portuguesas não podiam
ser! Já o “ya”, tão comummente utilizado por aqui e introduzido em Portugal
após o escaldante Verão de 1975, só pode
ter origem na vizinha África do Sul. Dá-me a entender o Acácio que os proprietários do Hotel Tropical estão ligados ao
negócio de madeiras raras, enviadas para
a China nesses enormes contentores que
enchem os cargueiros que cruzam o vasto Oceano. A contrapartida dos chineses
pelos seus investimentos na construção
de estradas e mais estradas, não se limita
à venda dos inúmeros produtos que sem-
C U LT U R A
au | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015
11
PT
O LESTE DE ÁFRICA – PARTE 3
ma “Laurentina” bem fresca
pre têm, prontos a escoar; interessa-lhes
também, e de sobremaneira, as matérias-primas que a floresta moçambicana, por
enquanto, comporta. O interesse é tão
óbvio que há quem não hesite em chamar-lhes neocolonialistas.
«– Qual cooperação qual carapuça! Os chineses anseiam, acima de tudo, as riquezas naturais do nosso país», exclama Acácio.
apesar ali ter nascido e ali ter crescido.
Como se sabe, os boers sempre fizeram
questão de não se misturarem com os autóctones.
Na sala contígua à esplanada do restaurante, um grupo de chineses canta
karaoke e certamente bebe Laurentinas
atrás de Laurentinas. As vozes desafinadas transportam-me de imediato até
aos tascos das mais recônditas cidades
dessa minha China tantas vezes percorrida, hoje praticamente irreconhecível.
Restam as regiões rurais, algumas quase
intactas. Uma hora depois, ainda sob os
efeitos da massa com demasiado molho
de soja e cebola crua, o que me provoca
uma enorme sede, obrigando-me a pedir mais uma Laurentina (dessa feita,
não sem uma certa dose de culpabilidade, pois estava a emborcar – traduzindo
em termos monetários – o correspondente a vários dias de trabalho de qualquer daqueles empregados de mesa),
sou abordado por um dos chineses.
Encorajado pelo álcool, embora tropeço quanto baste, aproveita a incomum
presença de um ocidental na esplanada
para testar a amostra de Inglês que sabe,
aproveitando, simultaneamente, para
satisfazer a sua curiosidade. É então
que me apercebo da presença de uma
rapariga chinesa ao lado, de telemóvel
encostado à orelha, no que aparenta ser
uma conversa normal em Mandarim.
Afinal, comunica em Inglês e, pelo tom
de voz, parece estar a namorar, o que
não deixa de ser um encorajador sinal
de alguma integração por parte de um
membro de uma comunidade reputada
pelo seu enclausuramento.
Ao fim da noite saem da sala do karaoke vários chineses, todos eles bem aviados, e que num ápice se enfiam num jipe
topo de gama.
CERVEJA LAURENTINA
JAZZ REINO DE DEUS
Em Colónia de Sacramento, a minha
companhia nalgumas das horas mais solitárias chamava-se Patricia; aqui chama-se
Laurentina. Pelo menos é o que leio no
rótulo colado à bojuda garrafa de cerveja
que tenho à minha frente. Uma Laurentina custa trinta e cinco meticais e surge
em versão lager ou preta, como a nação
moçambicana, afinal. Prossigo com a escrita e mando vir mais uma. Nas mesas ao
lado, grupos de moçambicanos ouvem
marrabenta e bebem. Laurentina, claro
está. Um boer sul-africano, louro e alto
como todos os boers, entra para pedir informações e comprar uma dúzia de (já
adivinharam!) Laurentinas. É o chefe de
família que avistara minutos antes resfalfado num jipe, também ele buscando alojamento para essa noite. Noto que está
descalço. Parece ser uma das suas poucas
cedências aos caprichos da mãe África,
Deixo-me ficar até tarde na esplanada presenciando as tentativas de aproximação de várias raparigas que, àquela
hora, envergam a farda de prostituta.
Também os vendedores de carregamentos de unidades para telemóvel, todos
eles de colete amarelo, tentam a sorte.
Vinte meticais dão direito a vinte unidades. Após inúmeras tentativas, consigo ter ao telefone o primo da Maria de
Lourdes Pereira, a proprietária da tal
Casa de Hóspedes que nunca chegaria a
encontrar. Chama-se Francisco Chapa e
garante-me que passará pelo hotel para
me recolher, «de manhã bem cedo, a partir das sete horas». O Francisco é o motorista de uma dessas chapas (pequenas
carrinhas) que asseguram o transporte
diário para a Ilha, daí a origem do seu
singular apelido.
Essa noite, deitado frente a um televi-
FOTOS | Joaquim Magalhães de Castro
sor “reconcilio-me” com a Igreja Universal
do Reino de Deus, graças ao seu canal TV
Miramar, que transmite o Moçambique
Jazz Festival directamente do Parque dos
Continuadores, em Maputo. E não sou
só eu que estou satisfeito com a iniciativa
dos acólitos do extravagante e descarado
“bispo” Emir Macedo. No rodapé do ecrã,
acompanhadas com o custo da chamada para a Mcel – uma das duas operadores de telemóveis do País – sucedem-se as
mensagens dos apreciadores deste género
musical a agradecerem à TV Miramar por
lhes proporcionar a emissão, pois, como
diz um deles: «não tenho seiscentos paus para
assistir ao espectáculo ao vivo». Outro telespectador é da opinião que «o jazz é a raiz de
todas as músicas», louvando por isso essa tão
«importante manifestação cultural».
Vou fazer noitada a ouvir o jazz destes
meninos, alguns deles excelentes músicos. O amigo Matteo certamente estará
entre a multidão, assim como a Mi Sook
Park, «artista plástica por uma verdadeira
necessidade de sobrevivência», residente
em Moçambique há nove anos, que incidentalmente conheci em Maputo. Na
conversa que tivemos durante um jantar
confidenciou-me que achava as pessoas
da rua «muito mais fortes do que nós». Nós,
quer dizer, representantes de uma classe
média de muitas cambiantes. Lembrava depois a economia paralela, visível
em todos aqueles vendedores ambulantes que insistentemente nos abordavam
tentando despachar a sua mercadoria. A
propósito, Mi Sook lançara a pertinente
questão: «– Como é que posso eu comer tranquilamente, se lá fora há tanta gente necessitada e a viver na miséria?».
OPINIÃO
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015
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PT
A dança de Guimarães
e o vota no castelo
JOSÉ PACHECO PEREIRA
excepções, mas esta é a regra.
Isto significa que todas as
lutas parecem ser corporativas,
mesmo quando não o são. Esta
“corporativização” dos conflitos sociais enfraquece o seu
impacto, dá-lhes uma dimensão que parece, vista de fora,
egoísta, e dificulta, quando não
impossibilita, qualquer solidariedade activa. Cada um, a seu
tempo, quando precisa de lutar,
protestar, pura e simplesmente
levantar-se e dizer que “não”, vai
pagar na sua solidão a indiferença que teve pelos outros.
N
ão se vai de Lisboa a
Guimarães fazer política
impunemente. É uma
viagem cheia de responsabilidades e acima de tudo cheia de
ambiguidades. Há muitos anos,
ainda havia PREC, existia um
partido de extrema-esquerda, a
Aliança Operário-Camponesa
(AOC), que tinha como símbolo o castelo de Guimarães
e o slogan “vota no castelo”.
Estávamos na época dos dois
imperialismos, o americano e
o soviético, e Cunhal e Brejnev
personificavam este último, na
altura o que era tido como mais
perigoso. Era uma interpretação caseira de um maoísmo
nacionalista anti-social-imperialista. Logo, os verdadeiros
patriotas tinham de “votar no
castelo” para defenestrar Cunhal e os seus lacaios. A AOC desapareceu com o fim do PREC,
mas o “castelo” continuava lá.
Nos anos seguintes até aos
dias de hoje foi a extremadireita que foi lá a Guimarães
para junto do castelo fazer uns
números de nostalgia do braço
ao alto, agora em nome do
“nacionalismo revolucionário”.
Uns 20 ou 30 militantes do
PNR já lá foram mais do que
uma vez também atraídos pelo
“castelo”, que não tem culpa
nenhuma. Nem o castelo, nem
Guimarães, nem D. Afonso
Henriques, nem muito menos
a Pátria.
Mas custa ver a nova coligação PSD-CDS voltar também
ao “castelo” para “celebrar”
um ano de saída da Troika
de Portugal e fazer mais um
acto de propaganda eleitoral à
sombra do esquecimento e da
CONTA E TEMPO
falta de vergonha. Na verdade,
pouca gente em Portugal se
comportou mais do que Passos
e Portas como representantes
fiéis e dedicados de um internacionalismo europeu que está
a erodir a nossa democracia e
que, já de há muito, colocou
em causa a nossa independência nacional. Já estamos muito
esquecidos, mas se Sócrates
“chamou” a Troika, foi não
só com a assinatura conjunta
do PSD e do CDS, como com
a colaboração entusiástica de
Passos e menos entusiástica
de Portas, mas mesmo assim
colaboração.
É um prémio à desresponsabilização e ao vale-tudo esquecer que em particular PassosCatroga-Moedas manifestaram
várias vezes uma concordância
plena com as políticas da
Troika, que não entendiam
como uma política imposta de
emergência e de passagem,
mas como o modelo benéfico e
exemplar de transformação de
um país perdulário e gastador
num disciplinado e puritano
aluno da senhora Merkel. E
não, os perdulários e gastadores não eram Sócrates e os
socialistas em geral, mas os portugueses. Sim, os portugueses.
Portas, por seu lado, tornouse o arauto do “protectorado”,
primeiro dito de forma genérica, depois corrigido para
a fórmula de “protectorado
financeiro”, que lhe permitiu
aquele teatro ridículo do
relógio na sede do CDS. Mas
se antes éramos um “protectorado” porque é que agora
deixámos de o ser? A saída da
Troika significa acaso alguma
“independência” orçamental
num país cujo Parlamento
perdeu o papel essencial de
fazer o seu orçamento e sobre
o qual existe um direito de
veto alheio? O CDS bem pode
andar de bandeira nacional na
mão, que nele deixou de ser
bandeira para ser apenas uma
bandeirinha de lapela, e bem
pequena por sinal.
O que é que estão estes
homens a fazer em Guimarães?
Dançam a ver se chovem votos.
Se for preciso vestirem-se de
mineiros e irem de braço dado,
cravo ao peito, entoar um
cante alentejano em terras de
Catarina também vão. Na verdade vão a todas. E o problema
é mais nosso do que deles.
A SOLIDÃO DAS LUTAS
Hoje quem luta e quem
reivindica está sempre sozinho.
Pode contar consigo ou com os
seus e nada mais. Os mecanismos clássicos que geravam solidariedade foram erodidos na
sociedade durante várias décadas e praticamente destruídos
pela crise do “ajustamento”. Há
Deus pede estrita conta de meu
tempo.
E eu vou do meu tempo, dar-lhe
conta.
Mas, como dar, sem tempo,
tanta conta
Eu, que gastei, sem conta, tanto
tempo?
Para dar minha conta feita a
tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz
conta,
Não quis, sobrando tempo, fazer
conta,
Hoje, quero acertar conta, e não
há tempo.
Oh, vós, que tendes tempo sem
ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em
vossa conta!
Pois, aqueles que, sem conta,
gastam tempo,
Quando o tempo chegar, de
prestar conta
Chorarão, como eu, o não ter
tempo…
(Frei António das Chagas)
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ENTREGUE ESTE CUPÃO NAS BILHETEIRAS DO CINETEATRO DE MACAU
#$3456783
DATA DO SORTEIO: 2 DE JULHO DE 2015
LITURGIA
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015
13
PT
13° DOMINGO COMUM – Ano B – 28 de Junho
Subtraídos à morte
pelo Deus da vida
INTRODUÇÃO ÀS LEITURAS
A vitória de Cristo sobre a morte, ilustrada pela ressurreição da filha de Jairo (EVANGELHO: Mc., 5,
21-43), é iluminada com palavras do livro da Sabedoria (PRIMEIRA LEITURA: Sb., 1, 13-15; 2, 2324): «Deus não fez a morte»; apenas por inveja do
demónio, a morte entrou no mundo. Assim, se nós
formos redimidos do pecado pela morte de Cristo, somos já ressuscitados na esperança, em Cristo.
S. Paulo pede aos cristãos de Corinto (SEGUNDA
LEITURA: II Cor., 8, 7. 9. 13-15) que ajudem os
seus irmãos de Jerusalém, recordando-lhes que
«ajudar os pobres é imitar a Cristo».
Jesus quer as pessoas livres e vivas
Deus criou-nos para a vida e não
para a morte. Criou-nos incorruptíveis, mas o pecado tornou-nos corruptíveis.
HORÁRIO DAS MISSAS
(DOMINGOS E DIAS SANTOS)
7:00 horas
7:30 horas
7:30 horas
8:15 horas
8:30 horas
9:00 horas
9:30 horas
—
—
—
—
—
—
—
—
—
10:00 horas —
—
—
10:30 horas —
11:00 horas —
11:00 horas —
—
11:00 horas —
11:15 horas —
12:00 horas —
16:30 horas —
17:30 horas —
18:00 horas —
20:30 horas —
r " WJOEB EF +FTVT F B 4VB BDÉÈP
no mundo querem devolver ao ser
humano a sua verdadeira natureza
de filhos de Deus e mostrar que a
vida supera a morte, o bem supera
PNBMBHSBÉBTVQFSBPQFDBEP
Fátima (C).
Sé, S. Lourenço e St.º António (C).
S. Lázaro (C).
S. Francisco Xavier
Mong-Há (C).
St.º António.
Sé, S. Lourenço, N.ª Sr.ª do Carmo
Taipa (C); Fátima (C).
S. Lázaro, S. Francisco Xavier (Mong-Há),
S. José Operário (C).
St.º António (P); S. Francisco Xavier
Coloane (I, C); N.ª Srª do Carmo
Taipa (I).
Sto. Agostinho (Tagalog).
Sé (P), Hospital de S. Januário (P);
N.ª Srª do Carmo
Taipa (P).
S. Lázaro (I).
Instituto Salesiano (I).
Fátima (I).
S. Agostinho (I); Fátima (vietnamita)
S. José Operário (I).
Sé (I); S. Fr. Xavier Mong-Há (C).
S. Lázaro (P).
S. José Operário (M).
MISSAS ANTECIPADAS
17:00 horas
17:30 horas
18:00 horas
18:30 horas
—
—
—
—
—
19:00 horas —
20:00 horas —
r+FTVTFOGSFOUPVFWFODFVUPEPTPT
seus inimigos: a tempestade (Mc. 4,
35-41), a legião de demónios (Mc.
B EPFOÉB JODVSÃWFM F B
NPSUF&MFÊEFGBDUPP.FTTJBT
r " SFTTVSSFJÉÈP EB NFOJOB àMIB
EF +BJSP VN EPT DIFGFT EB TJOBHP- BQÓTBSFTTVSSFJÉÈPEPQSÓQSJP+FTVT
ga, confirma, por outro lado, que a
morte não é o fim, realidade que vai r " MJUVSHJB EF IPKF DPOEV[OPT B
ser revelada com mais clarividência uma reflexão sobre a morte e sobre
S. Domingos (P).
S. Fr. Xavier Mong-Há (I).
Sé (P).
N.ª S.ª do Carmo
Taipa (I).
S. Lázaro (C).
Fátima (C).
ABREVIATURAS
P NPEP DPNP B FOGSFOUBNPT NBT
convida-nos principalmente a reáFDUJS TPCSF B SFTTVSSFJÉÈP B WJEB
que continua para além da morte.
C - Em Cantonense I - Em Inglês
M - Em Mandarim P - Em Português
PAQUISTÃO
Minoria cristã recusa ser silenciada
O presidente EB $POGFSËODJB &QJTDPQBMEP1BRVJTUÈP%+PTFQI$PVUUTEJTTFÆBHËODJB&$$-&4*"RVFBNJOPSJB
católica neste país se recusa a ficar «calada», apesar de todas as dificuldades
RVFFOGSFOUB
«Posso dizer, com orgulho, que não somos uma minoria silenciosa ou escondida,
nós contribuímos para o bem do País», assinalou.
0QSFMBEPEÃDPNPFYFNQMPBTFTDPlas, hospitais e clínicas católicas, bem
DPNP P USBCBMIP SFBMJ[BEP KVOUP EBT
pessoas com deficiência, toxicodependentes e marginalizados. «O trabalho que
fazemos é para todos», explicou.
% +PTFQI $PVUUT FTUFWF FTUB TFNBOB
em Portugal num momento particularmente delicado para os católicos paquistaneses por causa dos episódios que
FOWPMWFNBDIBNBEBiMFJEBCMBTGÊNJBu
DPNBDVTBÉ×FTRVFBDBCBNQPSTFSVN
rastilho de violência contra cristãos e outras minorias.
4FHVOEPPBSDFCJTQPja própria lei, a
forma como está formulada, é o problema» e
o Governo, após muitos anos de protestos, «começa a aperceber-se disso».
"NVEBOÉBUFNEFDPNFÉBSjnos líderes islâmicos», para que todos se apercebam de que a lei «precisa de mudanças»,
DPOUSBSJBOEPUPEBTBTNBOJGFTUBÉ×FTEF
GBOBUJTNPEJ[%+PTFQI$PVUUT
O presidente do episcopado católico
OP 1BRVJTUÈP GBMB OVNB jIgreja pobre»,
RVF QSFDJTB EB BKVEB NBUFSJBM F FTQJSJtual de outras comunidades católicas.
"1PSUVHBMPSFTQPOTÃWFMMFWPVPUFTtemunho de viver como cristão num país
NVÉVMNBOP RVF TF FTUÃ B UPSOBS jcada
vez mais islâmico» nos últimos anos.
«Como cristãos, não somos cidadãos de
segunda classe, não somos imigrantes, temos
tantos direitos como os outros», observa.
O arcebispo de Karachi esteve em
1PSUVHBMBDPOWJUFEB'VOEBÉÈP"KVEBB
*HSFKB RVF 4PGSF "*4
F QBSUJDJQPV OP
passado Domingo na Ronda da Lapi-
nha, em Guimarães, que este ano reuniu
NJMQFTTPBTFNPSBÉÈPQFMPTDSJTUÈPT
perseguidos no mundo.
«Não sabemos quando será o próximo ataque contra uma igreja, ou quando e onde o
próximo cristão vai ser falsamente acusado de
blasfémia e condenado à morte», alertou o
arcebispo de Karachi, em Guimarães.
% +PSHF 0SUJHB BSDFCJTQP EF #SBHB
EFTUBDPVPGBDUPEFB3POEBEB-BQJOIB
UFSTJEPSFBMJ[BEBDPNFTUBJOUFOÉÈPQBSUJDVMBSEFJOUFSDFTTÈPEF/PTTB4FOIPSB
pelos cristãos perseguidos.
«Há cristãos espalhados pelo mundo inteiro que, por fidelidade à fé, arriscam a vida e
muitos morrem mesmo», assinalou.
ECLESIAL
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015
14
PT
O DIA DE UM MEMBRO DO OPUS DEI – 1
Rezando 24 horas por dia, todos os dias
PE. JOSÉ MARIO MANDÍA
Este ano, o dia 26 de Junho
assinala o 40º aniversário da
morte de São Josemaría Escrivá de Balaguer, o fundador
do Opus Dei. À data da sua
morte, já 60 mil pessoas, na
sua maioria casadas, se tinham
comprometido com o caminho que ele indicava. Esse caminho consistia em tornar a
Santidade acessível aos leigos,
propondo um plano sistemático de vida espiritual e formação adaptada às necessidades
individuais.
São Josemaría seguiu os ensinamentos de São Paulo, que
nos dizem que a vida espiritual
é como se fosse um desporto, e
que se alguém quiser praticar
este desporto precisa de (1) alimentação correcta e (2) treino
adequado. Hoje falaremos do
primeiro.
De onde nos vem a alimentação? Das orações e dos Sacramentos. Jesus disse: «Sem
Mim não podereis fazer nada
(João 15:5)». Ele não afirmou: “Podereis fazer pouco”.
Antes disse: «não podereis fazer
nada». Por isso São Josemaría recomendou um plano de
alimento espiritual que pode
ser adaptado às necessidades
de cada um individualmente,
sejam eles, pais de dez filhos,
Sede do Opus Dei em Roma.
ou médicos ou motoristas de
autocarros que trabalham
fora de horas. Este plano
concede-nos energia e ritmo
sobrenatural.
O plano inclui meditação
pessoal diária entre 15 a 30
minutos de manhã, e de novo
durante a tarde ou ao fim do
dia; ir à Missa e receber a Comunhão, rezar o Terço, ler um
qualquer livro espiritualmente
adequado e o Novo Testamen-
to, o Angelus (ou o Regina Coeli durante a Páscoa) e exames
de consciência.
Ele encoraja-nos a começar o
dia assim que acordarmos, sem
ficarmos na cama a fazer “ronha”. Ele chamava a esse acto
“o minuto heróico”.
São Josemaría confessava-se
semanalmente (algo que São
João Paulo II também fazia) e
encorajava cada um de nós a fazer o mesmo. Para além disso,
recomendava que se procurasse
direcção espiritual. Sobre este
tema falaremos numa outra
ocasião.
Mensalmente devemos rever os nossos momentos, um
período de oração e auto-exame que dura algumas horas. Anualmente, deveremos
participar num retiro de três a
cinco dias.
O fundador do Opus Dei recomendava acções que possam
ser efectuadas em qualquer
lugar a qualquer momento:
acções de graças, acções de
penitência, pequenas orações
sussurradas ao Senhor, ou aos
Santos. Falou sobre a necessidade da mortificação – pequenos
sacrifícios que nos ajudam a
efectuar correctamente as nossas obrigações diárias.
Talvez o que fosse único na
sua espiritualidade e que ele incluiu no meio de todas as devoções fora o “trabalho, ordem e
optimismo”.
Trabalho: porque uma
grande parte da oração dos
leigos seja o seu trabalho, que
é feito para Deus. Desta maneira, 24 horas de trabalho e
descanso tornam-se em 24 horas de oração.
Ordem: porque um atleta espiritual não pode permitir ter
uma vida desorganizada. Ele
tem que manter a compostura.
Optimismo: porque alguém
que viva nos braços de Deus
sentir-se-á sempre a salvo, seguro e abençoado.
São João Paulo II disse que
existe a necessidade de «um
treino para a Santidade». Então,
pense, o Opus Dei é um dos
“prestadores de serviços” que
podem dar este treino...
Falaremos sobre isto da próxima vez.
(Tradução: António R. Martins)
Família, um ninho de paz
SUSANA MEXIA (*)
A família é a primeira e insubstituível educadora para a paz, é
a célula vital e o fundamento da
sociedade.
Ela é o lugar por autonomásia
onde se devem praticar as virtudes da convivência e onde se dá
o principal relacionamento social das crianças com os adultos.
A família natural, enquanto
comunhão íntima de vida e de
amor fundada no matrimónio entre um homem e uma
mulher, constitui o centro da
humanização da pessoa e da
sociedade, o berço da vida e
do amor.
Nela se vivem as componen-
tes indispensáveis ao ser humano, como a justiça, o amor, a
autoridade manifestada pelos
pais, a ajuda e a disponibilidade
para os outros, nomeadamente
os mais fragilizados pela idade
ou doença.
Naturalmente que combater
a instituição familiar debilita a
paz em toda a comunidade, nacional e internacional, porque
enfraquece e impede a formação do ser humano no sentido
duma maior compreensão de
si, dos outros e das instituições.
Quando a sociedade e a política não se empenham em ajudar a família nesses campos tão
necessários, privam toda a humanidade de um recurso essencial ao serviço do bem e da paz.
Também os Meios de Comunicação Social, pelas potencialidades educativas de que
dispõem, têm uma responsabi-
lidade especial na promoção do
respeito pela família, exaltando
e enaltecendo toda a riqueza
que pode existir no seu seio.
Em suma, se a paz no mundo
se constrói a partir da educação, de serenidade, do amor e
dos valores que se praticam na
intimidade desse ecossistema a
que se chama lar, é uma realidade que a todos nos assiste a possibilidade e a responsabilidade
de acrescentar a nossa parte, sabendo que estamos a contribuir
para uma sociedade cada vez
menos imperfeita.
Fortalecer a família será o caminho privilegiado para curar
os conflitos existentes no coração humano, substituir o ódio
pelo amor, a solidão pela partilha e afundar o mal em abundância de bem.
(*) Professora
ECLESIAL
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015
PT
15
FÉLIX DA ROCHA, SJ
O cartógrafo ignorado
JOAQUIM MAGALHÃES DE CASTRO
[email protected]
Quando se fala em Expansão Portuguesa, invariavelmente se imaginam
naus enfrentando vagas alterosas atiçadas por borrascas ou totalmente
estagnadas nas calmarias da região
equatorial. Mas o certo é que não raras vezes os navegadores abandonaram
as embarcações para se aventurarem
terra adentro. A saga dos bandeirantes
no Brasil, a exploração das massas continentais africanas, os grandes espaços
asiáticos submetidos ao Islão – Império Otomano, Irão safévida, Afeganistão, Índia do Grande Mogol – a imensa Tartária, o Tibete ou ainda a China
continental, provam que os portugueses não receavam afastar-se dos mares.
Esses destemidos pioneiros, no caso
asiático, maioritariamente religiosos
jesuítas, inauguraram uma nova era: a
era da observação científica. Não obstante, as enciclopédias e os atlas da actualidade ignoram-os por completo. E
por que será? Provavelmente por desconhecimento dos factos e/ou mero desprezo por uma nação à qual nunca foi
reconhecida o seu real valor no palco
da História.
Lamentavelmente continuamos a
precisar que venham os investigadores
estrangeiros lembrar-nos das nossas responsabilidades. Ainda recentemente
o investigador norte-americano Liam
Matthew Brockery, a respeito da versão
chinesa do seu livro “Journey to the East
– The Jesuit Mission to China”, publicada pela Universidade de Macau, admitia
que, no que respeita ao historial dos jesuítas na Ásia, «tem havido uma maneira de
contar a história que beneficia os italianos,
os franceses, os alemães», alertando para a
necessidade de estudar as fontes originais. Dizia Brockery que embora «não se
possa negar que esses jesuítas também fizeram
parte deste encontro entre o oriente e o ocidente», importava recordar que «a esmagadora maioria dos seus pares eram missionários
portugueses». Resumindo e concluindo:
«A história mais vasta é assente na presença
portuguesa do Oriente».
Entre os muitos desses injustiçados
da história consta o eminente Félix da
Rocha.
Nascido em Lisboa a 31 de Agosto de
1713, Rocha optou pela missão da China
após oito anos de estudos – quatro de Filosofia e quatro de Teologia. Enfrentou
os inúmeros mistérios do continente em
1735, após ter frequentado o Seminário
de Macau, tendo ingressado posterior-
Joaquim Magalhães de Castro
mente na Corte de Pequim, em 1738,
onde foi astrónomo. Cedo caiu nas boas
graças do imperador que via nele um
homem de muita ciência e virtude. O
seu superior, Ignacio Koegler, descreve-o como «um jovem de génio vivo e penetrante e ávido de saber».
Em 1753 é nomeado, pelo imperador Qialong (1736-1796), Assessor do
Tribunal das Matemáticas. Após o falecimento do seu director, August von
Hallerstein, passou a dirigir o Observatório Astronómico de Pequim. Na companhia do alemão viajou até ao país de
Muran, nas proximidades da Coreia,
para traçar o mapa de toda essa região. Em 1755, como recompensa por
ter mapeado as regiões do Turquestão
e da Tartária – a Dzoungária – habitadas pelos elutos e torgutes, o imperador nomeia-o mandarim de segunda
ordem. Para a execução desse trabalho
ciclópico Félix da Rocha tinha contado
com a preciosa colaboração do seu amigo, o padre Pedro Espinha. Desafiando
perigos sem conta, ambos os jesuítas regressariam a essa inóspita região para
terminar o trabalho: observar a latitude, deduzir a longitude, as curvas orográficas e as distâncias. Estiveram em
Khami, Barkul. Turfan, Korle, Manas e
muitos outros lugares. No total deter-
minaram quarenta e três posições geográficas. Foram os dois primeiros europeus a percorrer tais paragens, desde
que nela andara, século e meio antes,
Bento de Góis na demanda do Cataio.
Por duas ocasiões, em 20 de Agosto
de 1774 e em Março de 1777, Félix da
Rocha seria enviado ao pequeno Tibete,
Tibete Oriental, acabado de ser anexado ao império chinês, com o objectivo
de traçar o mapa de toda aquela região.
Ficaria assim identificado o país dos
Miao-tse acabado de conquistar pelo imperador Qialong.
Os mapas de Félix da Rocha e de Pedro Espinha serviriam de base para os estudos e mapas sobre a Ásia Central, hoje
mundialmente conhecidos, efectuados
por Klaproth, Ritter e Alex de Humboldt. Também o Ephemerides (1776), de
Maximiliano Hell, trouxeram a lume as
observações astronómicas desses missionários. Estes personagens do mundo
científico acabariam por ficar com todos
os louros dessas investigações, relegando para o esquecimento os pioneiros
portugueses.
A propósito de tão grande injustiça,
o jesuíta Cibot escrevia, em 1770, o seguinte: «Acabam de ser publicadas mapas e
notícias sobre regiões recentemente conquistadas, sem que sejam mencionados os nomes dos
nossos padres portugueses que, por ordem imperial, recolheram os dados e as coordenadas
desses mesmos locais».
No ano de 1750, em carta enviada a
D. Policarpo de Sousa, bispo de Pequim
– que aportara a Macau, vindo de Portugal, em 1726 – Félix da Rocha desabafava assim: «eu sou o da Vice Província
o mais velho na missão dos que se acham
em Pequim, porque todos os padres que aqui
achei, excepto sua Exa., já lá vão para outra vida e nenhum desde que cá estou, tem
servido mais por neves, frios, perigos e consomições do que eu, mas como tudo é por Deus,
só dele terei o prémio, como espero na Sua
Divina Bondade...».
O padre Rocha ocupou o cargo de
procurador da missão portuguesa em
Pequim, e de vice provincial em 1754
–1757 e de 1762 a 1766. A sua intervenção foi preponderante para que os
prisioneiros portugueses em Nanquim
– padres Araújo, Viegas, Pires, Dinis Ferreira e José da Silva – fossem libertados e
pudessem regressar a Macau.
Resta acrescentar que o padre Rocha remeteu à prestigiadíssima Academia de São Petersburgo 64 tomos das
obras escritas pelos jesuítas de Pequim,
cidade onde, a 22 de Maio de 1781, faleceria. Faltavam dois meses para completar 68 anos.
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O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015
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O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015
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R OTA D O S 5 0 0 A N O S
Chá e vela
JOÃO SANTOS GOMES
[email protected]
E
screvi a última crónica
sentado no poço do
veleiro a olhar para o
mar em Bequia (São Vicente).
Desta vez estou dentro do barco porque está a chover com
vento fortíssimo em Carriacou
(Grenada).
Foi uma semana preenchida
com muita vela, chuva, vento e
também muito Sol. Como planeado, saímos de Bequia, em
direcção às ilhas mais ao Sul.
Planeávamos visitar Canouan
mas decidimos ir directamente
para Marieaux, mesmo ao lado
das Tobago Cays. Acabámos
por não visitar este parque
natural marinho (Tobago
Cays) porque o vento estava
forte e queríamos rumar a Sul.
Pernoitámos nessa ilha com
um mar muito incómodo e no
dia seguinte, bem cedo, levantámos âncora para navegarmos
para a ilha de Union, onde iríamos sair do arquipélago de São
Vicente. Pensávamos ficar por
ali uma noite mas com a chegada de um barco de amigos
(um casal franco-brasileiro),
decidimos sair no mesmo dia
rumo à ilha de Carriacou, já
em Grenada, onde demos entrada no País.
Desde então temos estado
por aqui e temos conhecido
algumas pessoas interessantes,
apesar do local ser pouco mais
do que a baía, uma pequena
marina e uma vila que nada tem
de especial... Os nossos amigos
franco-brasileiros continuaram
a viagem logo no dia seguinte,
juntamente com um outro veleiro brasileiro que já aqui estava
e que veio connosco desde Martinica. Nós decidimos ficar mais
uns dias e agora vamos ter de
prolongar a nossa permanência
porque o tempo piorou e vão
chegar uns dias de muita chuva
e vento. Como estamos confor-
táveis e a zona é segura é mais
sensato ficar do que arriscar
chegar à ilha de Grenada, apesar de serem apenas dez horas
de viagem.
Entretanto, no dia da nossa
chegada ficámos sem o motor
de fora de bordo. O tubo que
leva a água do mar para refrigerar o motor partiu. Demos pelo
problema quando regressámos
à noite depois de um jantar com
o casal franco-brasileiro. No dia
seguinte agendámos o arranjo
com o mecânico da marina e ao
tentarmos voltar para casa a remos fomos abordados por uma
pessoa que vive num veleiro e
que perguntou se precisávamos
de ajuda. Aceitámos de pronto
dado que o vento estava forte
e o esforço para remar estava a
ser pouco produtivo. Quando
chegámos ao nosso veleiro
ficámos a saber que é espanhol
e tem o seu veleiro na doca seca,
também a ser reparado. Foi ter
connosco de propósito para
nos ajudar, porque nos viu, de
terra, a remar com uma criança a bordo. Ficámos bastante
surpreendidos com a sua acção
e perguntámos o que podíamos
fazer para lhe retribuir o favor.
Ele disse que não era preciso
nada, que temos de olhar uns
pelos outros quando vivemos a
bordo. Tocados com tamanha
bondade prometi-lhe uma cerveja. No dia seguinte, enquanto
esperávamos que o motor fosse
arranjado, disse que preferia
beber chá ou sumo, visto que
não bebe álcool.
Já no veleiro com o motor
concertado, sentados no poço,
entre uma chuvada com ventos
a rondar os trinta nós, ficámos a
saber que viaja de veleiro desde
os anos 80 e que desde 1991
anda pelas Caraíbas entre algumas travessias para a Europa.
Está agora a preparar-se para
regressar a Palma de Maiorca,
onde irá ficar durante os próximos anos porque a mãe, já viúva,
está nos oitentas e ele sente a
obrigação, como filho único,
de estar ao seu lado nos últimos
anos de vida. Depois, pretende
continuar viagem se ainda
estiver com disposição para tal e
se ainda não houver condições
em Espanha para viver a bordo.
É que diz não conseguir viver
longe do seu veleiro de ferro
de dez metros que, até há cinco
anos, nem sequer tinha motor.
O motor foi instalado a pedido
da sua última namorada – brasileira – que não se sentia segura
a velejar sem motor. A embarcação tem apenas uma bateria,
não tem frigorífico nem ventoin-
has e as luzes do habitáculo só se
ligam para ver se funcionam ou
quando se tem de trabalhar no
motor. É, ou melhor, confessou
ter sido, um velejador purista.
Agora vai tentando ter mais
algum conforto mas, se possível,
sem muita tecnologia porque
essa só vem atrapalhar com
problemas técnicos.
O Jimmy (como gosta que
lhe chamem) visitou tudo
quanto há para visitar nas
Caraíbas, América do Sul e
Central e guarda boas recordações de todos os locais.
Apenas algumas amarguras
da última visita à Venezuela,
onde se viu em apuros com
as autoridades por três vezes.
Duas delas em terra e uma na
embarcação. Em todas elas
extorquiram-lhe dinheiro,
fazendo crer que estava envolvido com drogas.
Da primeira vez, em plena
rua, foi abordado pela polícia perto do ancoradouro
onde estava e como não tinha
passaporte foi levado para a
esquadra. Ameaçaram-no com
uma pena por posse de droga
se não pagasse determinado
montante. Acabou por entregar todo o dinheiro que tinha,
cerca de 500 patacas, e a situação resolveu-se.
Da segunda vez o mesmo
procedimento mas em plena
rua por estar a fumar tabaco
de enrolar. Acabou por pagar
outra vez porque não queria
problemas.
A terceira, já noutra localidade da Venezuela, em plena
marina onde estava a consertar
o veleiro, entraram no barco
e disseram que tinha droga
a bordo pedindo descaradamente dinheiro para o deixarem em paz. Nessa altura
não tinha qualquer dinheiro
porque estava para sair do País
no dia seguinte, nem tinha forma de receber dinheiro porque
na Venezuela as transacções
em moeda estrangeira são
controladas pelo Governo e
restringidas a um pequeno
montante diário. Começaram a
destruir-lhe o barco, cortando
velas e partindo armários para
dar a entender que estavam à
procura de droga. Levaram-lhe
os poucos aparelhos electrónicos que tinha a bordo
(chartplotter, computador e
telemóvel) e documentos. Acabou por ser salvo pelo dono da
marina que viu o que se estava
a passar e telefonou para o
“chefe” da polícia dizendo que
tinha pago o montante mensal
de “protecção” e que, mesmo
assim, estavam a ameaçar um
cliente. Os polícias acabaram
por se ir embora, dizendo-lhe
que não reportasse o assunto
à embaixada espanhola. Se o
fizesse acabaria como o velejador italiano que, na semana
anterior, tinha sido encontrado
morto na embarcação. Veio
depois a saber que esse italiano
tinha sido também “apertado”
mas foi apresentar queixa na
capitania marítima. Dias depois
apareceu morto no poço do
veleiro ancorado precisamente
em frente da esquadra da polícia com um tiro na cabeça.
São pessoas como estas que
gostamos de ir conhecendo
para aprender com a sua experiência. Acabámos de beber
o nosso chá (oolong) e ainda
teve tempo para nos explicar
como teremos de fazer para
colocar o leme de vento a
funcionar.
Agora vamos esperar mais uns
dias até o tempo melhorar para
seguirmos viagem até à ilha de
Grenada.
CADERNO DIÁRIO
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015
18
Segunda 22
Quarta 24
Grécia 1
Museu
Andam por aí uns “doutos” de barriga cheia apregoando mais sacrifícios
e mais austeridade para o povo grego
que, segundo esses mesmos doutos,
deve pagar pelos desmandos do passado. Em primeiro lugar, esses “doutos”
não têm em conta que esses desmandos foram feitos por políticos, “boys”
e empresários corruptos em nome do
povo grego e não pelo povo grego. Em
segundo lugar, esses “doutos” ignoram
que quando se fala de povo grego não
se está a falar de uma abstracção. Está-se a falar de pessoas com sentimentos à
beira do desespero e da miséria causada
pelos agentes que as “representavam”
no poder. Em terceiro lugar, quem provocou a dívida é quem tem de a pagar.
Prendam e arrestem os bens dos cor-
ruptos. E isto aplica-se tanto na Grécia, como em Portugal, próximo país
na mira dos agiotas. Por tudo isto nos
devemos solidarizar com o povo grego
– a quem a Europa tanto deve ao nível
cultural e civilizacional – que, mais uma
vez na sua história, ousa fazer frente aos
agentes da agiotagem internacional que
o querem humilhar e destruir. Que o
seu exemplo seja um farol que ilumine
o povo português, também ele herdeiro
de uma história gloriosa.
A Estação da Luz é uma
das mais importantes
estações ferroviárias da
cidade de São Paulo.
A estação abriga ainda o Museu da Língua
Portuguesa, uma instituição cultural ligada
PT
à Secretaria de Cultura do Estado de São
Paulo, inaugurada em
2006.
Grécia 2
Em todos os países que compõem a
União Europeia há um pequeno número de governantes sérios e patriotas
que apenas desejam o melhor para o
seu país; outros há que deveriam estar a contas com a justiça, governantes
desprezíveis para os quais é necessário
criar uma nova lei de responsabilização civil e criminal por gestão danosa. Medidas exigentes e controlo das
finanças é um princípio que devemos
seguir para o bem comum. Deixar um
povo afundar-se, claro que não. Cada
povo tem a sua identidade cultural.
Devemos condenar os Governos – gregos e outros – que falsificaram contas
nacionais. Repudiamos totalmente tais
práticas, mas apelamos à solidariedade
Pensamento
Há uma espécie de animais que sem cessar imagina formas no vazio crendo serem representações fiéis do que lá está.
Uma delas é a de existir separada do que
entre povos europeus. E repudiamos
os governantes europeus que se põem
em bicos dos pés a acusar os gregos de
serem relapsos, e fugirem aos impostos, porque são meias verdades que escondem a falta de uma estratégia para
a Europa.
Terça 23
Mistério
Desde que Aristarco e Giordano Bruno, entre muitos outros, afirmaram
há séculos que havia “outros mundos
habitados”, várias interrogações pertinentes têm levado a humanidade a
uma busca incessante sobre os princípios básicos que deram origem à vida
na Terra: Estaremos sós no universo?
Estará a vida por todo ele disseminada?
Em caso afirmativo, qual o grau de evolução? Reduzindonos à nossa insignificância cósmica,
alguns cientistas tentam responder
àquelas interrogações através de fór-
mulas matemáticas, esquecendo-se,
ignorando ou ocultando o nosso passado profundo, onde há registos que
contêm respostas a algumas daquelas
questões.
Leia O CLARIM na net
chama mundo. A isso chama pensamentos, isso comanda a sua vida sem que de
tal se aperceba e nisso se tem por superior. Há coisas espantosas.
Quinta 25
Lugar
Terra de origens perdidas
na noite da História de
Portugal, São Martinho
do Porto conserva uma
beleza ancestral que a
cada dia se renova. Por
aqui passaram D. Afonso
Henriques, D. Manuel
ou D. Sebastião; marcou
figuras como Ramalho
Ortigão, Roque Gameiro, Eugénio de Castro ou
D. João da Câmara; aqui
foram construídas as caravelas que levaram Portugal a todo o mundo – a
África, às Américas ou ao
longínquo Oriente. Mas
São Martinho do Porto
é, sobretudo, um local
de afectos. À população
local, que com a sua fé,
www.oclarim.com.mo
a sua coragem, o seu
labor e os seus anseios,
são os principais obreiros de um lugar mágico,
juntam-se a cada Verão
inúmeras famílias, que
ali regressam trazendo
consigo novos amigos,
pois sabem que essa terra é também a sua casa,
na qual reencontram
ou fazem novas amizades enquanto admiram
o mais deslumbrante
pôr-do-Sol existente em
Portugal. São Martinho
do Porto é um lugar de
encanto,
testemunho
que os mais velhos passam aos mais novos, que
o eternizam pelas gerações seguintes.
ENTRETENIMENTO
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 26 de Junho de 2015
19
PT
TDM Canal 1
Sexta-feira
Segunda-feira
Quarta-feira
13:00 TDM News (Repetição)
13:00 TDM News (Repetição)
13:00 TDM News (Repetição)
13:30 Telejornal RTPi (Diferido)
13:30 Telejornal RTPi (Diferido)
13:30 Telejornal RTPi (Diferido)
14:30 RTPi (Directo)
14:30 RTPi (Directo)
14:30 RTPi (Directo)
18:20 Telenovela: O Astro (Repetição)
17:45 Telenovela: O Astro (Repetição)
18:20 Telenovela: O Astro (Repetição)
19:10 TDM Talkshow (Repetição)
18:40 Contraponto (Repetição)
19:10 TDM Entrevista (Repetição)
19:40 Telenovela: Paixões Proibidas
19:40 Telenovela: Paixões Proibidas
19:40 Telenovela: Paixões Proibidas
20:30 Telejornal
20:30 Telejornal
20:30 Telejornal
21:30 Vingança
21:00 TDM Desporto
21:00 Montra do Lilau
22:10 Telenovela: O Astro
22:10 Telenovela: O Astro
21:40 Literatura Agora
23:00 TDM News
23:00 TDM News
22:10 Telenovela: O Astro
23:30 Cinema: O Querido Lilás
23:30 O Extraordinário Mundo das Fibras
23:00 TDM News
01:10 Telejornal (Repetição)
00:05 Telejornal (Repetição)
23:30 Com Ciência
02:00 RTPi (Directo)
00:40 RTPi (Directo)
00:05 Telejornal (Repetição)
00:35 RTPi (Directo)
Sábado
Terça-feira
10:45 Os Ursos Boonie
Cinema: O Querido Lilás. Hoje, às 23:30 horas.
13:00 TDM News (Repetição)
11:35 Boarding Madeira
23:00 TDM News
17:00 Pit Stop
13:30 Telejornal RTPi (Diferido)
13:00 TDM News (Repetição)
12:00 Mesa Brasileira
23:30 Pop Lusa
17:45 Pela Sua Saúde
14:30 RTPi (Directo)
13:30 Telejornal RTPi (Diferido)
13:00 TDM News (Repetição)
00:20 Telejornal (Repetição)
18:10 Portugal Seis Estrelas
17:45 Telenovela: O Astro (Repetição)
14:30 RTPi (Directo)
13:30 Telejornal RTPi (Diferido)
01:00 RTPi (Directo)
18:45 Decisão Final
18:40 TDM Desporto (Repetição)
18:50 Telenovela: O Astro (Repetição)
19:30 Bem-Vindos a Beirais
19:40 Telenovela: Paixões Proibidas
19:40 Telenovela: Paixões Proibidas
20:30 Telejornal
20:30 Telejornal
20:30 Telejornal
11:00 Missa Dominical
21:00 Contraponto
21:00 TDM Entrevista
21:00 TDM Talk Show
12:00 A Hora de Baco
22:00 Homem Em Marte:
21:40 Viver é Fácil
21:30 Endereço Desconhecido
14:30 Telenovela:
Paixões Proibidas (Compacto)
18:15 Reportagem SIC:
O Caçador de Diamantes
Domingo
Missão ao Planeta Vermelho
Quinta-feira
19:00 Quem Quer Ser Milionário
12:30 Especial Saúde
22:10 Telenovela: O Astro
22:10 Telenovela: O Astro
20:00 Palcos Agora
13:00 TDM News (Repetição)
23:00 TDM News
23:00 TDM News
23:00 TDM News
20:30 Telejornal
13:30 Telejornal RTPi (Diferido)
23:30 Construtores de Impérios
23:30 Portugal Aqui Tão Perto
23:30 A História Com Fernando Rosas
21:10 Conta-me Como foi
14:30 Zig Zag
00:05 Telejornal (Repetição)
00:30 Telejornal (Repetição)
00:05 Telejornal (Repetição)
22:10 Um Lugar Para Viver
16:10 Super Miúdos
00:40 RTPi (Directo)
01:00 RTPi (Directo)
00:35 RTPi (Directo)
C
A PARTIR DE 26/6/2015
A PARTIR DE 26/6/2015
SALA 1
SALA 2
ted2
SPL 2:
A TIME FOR CONSEQUENCES
14:30 | 16:30 | 19:30 | 21:30
14:30 | 16:45 | 19:15
Um filme de: Cheang Pou-soi
Com: Tony Jaa, Louis Koo, Simon Yam, Wu Jing, Zhang Jin
Língua: Falado em Cantonês/Mandarim, com legendas em
Chinês e Inglês
Um filme de: Seth MacFarlane
Com: Mark Wahlberg, Amanda Seyfried, Morgan Freeman
B
A PARTIR DE 26/6/2015
A PARTIR DE 26/6/2015
SALA 2
SALA 3
JURASSIC WORLD
FAR FROM THE
MADDING CROWD
21:30
Um filme de: Colin Trevorrow
Com: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Irrfan Khan
C
14:30 | 16:45 | 19:15 | 21:30
Um filme de: Thomas Vinterberg
Com: Carey Mulligan, Matthias Schoenaerts, Tom Sturridge
B
TEMPO
www.smg.gov.mo
MUITO NUBLADO
27º Min. - 31º Máx.
20 | ÚLTIMA | SEXTA - FEIRA | 26 - 06 - 2015
Rua do Campo, Edf. Ngan Fai, Nº 151, 1º G, MACAU
TEL. 28573860 FAX. 28307867 | www.oclarim.com.mo
Céu muito nublado intervalado de abertas.
Aguaceiros ocasionais no início do período.
Vento na escala Beaufort 3 a 4 de Sul a Sudoeste.
Humidade relativa entre 70% e 95%. O índice UV
máximo previsto é de 9, classificado de Muito Alto.
TAXAS DE CÂMBIO
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MOP
USD
EUR
1
1
GBP
JPY
AUD
NZD
RMB
HKD
1
100
1
1
100
1
7.9737
8.8962
12.5044
6.43
6.1702
5.5025
78.57
103.00
COSTA DA MEMÓRIA
Algarve de África
JOAQUIM MAGALHÃES DE CASTRO
[email protected]
À boa maneira árabe, a estrada até Tetuão
fora transformada numa longa avenida
com canteiros floridos, separando o monte pejado de oliveiras e pinheiros-mansos,
verdadeiro prolongamento da Andaluzia
e do Alentejo, de uma série de povoações
metamorfoseadas em aldeamentos turísticos e campos de golfe, prontos ou em
preparação. Restinga Smir, Mdiq, Cabo
Negro, Martil. A costa mediterrânica de
Marrocos apressava-se a seguir o exemplo
do Algarve e da Costa del Sol. Transformava-se gradualmente num dos retiros predilectos para reformados europeus endinheirados.
Da pena sempre inspirada da escritora e historiadora Elaine Sanceau, que, na
década de 1950, por ali andou, respigo
a seguinte passagem: “Algarve de África:
montes ondulantes revestidos das moitas
verdes de uma vegetação rasteira; pinheiros-mansos, como guarda sóis abertos, a
espalharem sombras nas alturas”.
Algarve de África, sim. Não só pelas
similaridades geográficas, mas porque
a partir de 1471, com a tomada de Arzila e de Tânger por D. Afonso V, os reis
portugueses passariam a juntar ao título
de rei de Portugal o de “rei dos Algarves
d’aquém e d’além mar em África”.
Para chegar de Ceuta a Tânger por
terra tinha duas opções. O caminho mais
curto, uns meros sessenta quilómetros,
passava por Alcácer Ceguer. Aquando das
aventuras de D. Henrique, era um trajecto
perigoso, visto atravessar um vale apertado
entre montes ermos, sujeito às ciladas dos
angeras, aguerrida tribo berbere. Armado
em legionário romano, o Infante, de olho
em Tânger – a par de Ceuta, o outro único
porto com baía de feição virado para a Ibéria – quis tomar tal atalho, mas logo seria
travado por essa versão local de lusitanos,
que obrigaria a coluna de exploração a retroceder. Optou-se então por se seguir em
direcção ao Sul pelo caminho mais longo,
uns cento e dez quilómetros, o que obrigaria a passar por Tetuão, na época praticamente despovoada. Seria reedificada mais
tarde, tornando-se num activo centro de
corsários. «Um único mouro de Tetuão valia
mais que mil em outra parte», comentava, em
1514, o capitão de Ceuta. Por essa razão,
D. Manuel quis erguer fortaleza no porto
vizinho, enviando Pedro de Mascarenhas
Joaquim Magalhães de Castro
para sondar a barra do rio de modo a encontrar um sítio adequado. A dificuldade
de desembarque naquela costa, porém,
dissuadiu-o do projecto.
A 9 de Setembro de 1437, um exército de quase dez mil homens encetava um
caminho terrestre de quatro dias rumo
àquela que seria a primeira e malograda
tentativa de conquista da tão apetecida cidade portuária. Nessa mesma senda, décadas mais tarde, morreria D. Duarte de Meneses, «defendendo o rei contra a gente mais
aguerrida de norte de África».
Ainda hoje se opta por essa estrada para
atingir a cidade do Estreito, uma das várias
designações pela qual Tânger é conhecida
entre os marroquinos.
A longa avenida era interrompida por
rotundas decoradas em toda a volta com
enormes bandeiras nacionais. Em todas
elas, duplas de polícias constituíam o único entrave à pacífica progressão de todo
o cristão, muçulmano ou pagão. Devidamente equipados com aparelhos de medição de velocidade montados num tripé, os
agentes anunciavam a sua presença com
duas placas circulares colocadas no asfalto, embora não houvesse qualquer veículo
oficial à vista. Provavelmente eram ali depositados no início do dia e recolhidos ao
fim do mesmo. Avistada a primeira placa,
havia que diminuir a velocidade; já o intimidante “Halte” da segunda obrigava a parar, embora isso pudesse exasperar quem
seguisse na retaguarda, pois podia dar-se o
caso de os polícias estarem entretidos com
uma outra coisa qualquer, ocultos em parte incerta ou ostensivamente especados
no meio da estrada sem nada para fazer,
quais senhores da estrada e redondezas.
Como era o Hassan que ia ao volante
do Toyota, as ordens de paragem pelos
ditos sucediam-se. Uma das vezes foi porque Hassan desrespeitou um sinal de stop;
as outras duas, muito simplesmente, porque aos polícias lhes apeteceu mandar-nos parar. Entretanto, eu ia servindo de
álibi, visto que os marroquinos não estão
autorizados (pelo menos oficialmente)
a ter namoradas estrangeiras. Portanto,
se acompanhavam estrangeiros, pressupunha-se que fossem guias, e para serem
guias deviam estar munidos da respectiva
autorização. Não nos soube dizer Hassan
se essa era lei antiga, entretanto anulada,
ou se continuava em vigor, o certo é que
ele, para evitar aborrecimentos de maior
monta, todas as vezes que o interpelavam
metia a mão ao bolso e de lá sacava umas
boas dezenas de dirhams para aplacar a
gula dos agentes, que, à falta do aguardado presente, iriam com certeza encontrar
motivos para nos atrasar a viagem.
«– Não faças isso. Assim só contribuis para a
continuidade do sistema», dizia Isabel.
De nada valia o conselho da namorada. Hassan, temente à autoridade como
qualquer marroquino, sabia o que a casa
gastava. Além do mais, tivera não há muito tempo uma má experiência. Acusado
de roubar pedras fossilizadas no deserto,
fora mantido no cárcere quinze dias até
pagar a devida caução: um milhar de euros, direitinhos para a algibeira do chefe
da polícia de Zagora. Para Hassan, essa seria, doravante, uma pesada dívida a saldar
junto de quem lhe tinha emprestado tão
elevado montante. O berbere, contudo,
fazia a distinção devida entre os diferentes
tipos de forças de segurança.
«– La gendarmerie, si que es buena. Mas la
polícia, no», dizia ele. Esse “no” viera acompanhado de um simulacro de cuspidela,
sinal de profundo desprezo.
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Edição 26-06-15