Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos
Capítulo 5
Uma
das
etapas
primordiais
de
um
levantamento
geofísico
é
o
processamento dos dados. Este tem por objetivo gerar uma imagem das estruturas
geológicas, ressaltando feições de interesse ou a obtenção de parâmetros físicos.
Dada às similaridades cinemáticas entre o método da sísmica de reflexão e o
GPR muitas etapas do processamento de reflexão sísmica também são aplicadas
aos dados do GPR.
O tratamento dos dados deste estudo (GPR e sísmica de refração) foi feito
pelo aplicativo Seismic Unix – SU (Stockwell & Cohen, 2000).
O SU foi desenvolvido em 1987 por Jack K. Cohen & Shuki Ronen do Center
for Wave Phenomena – CWP da Colorado School of Mines – CSM com o intuito de
criar um ambiente de processamento sísmico com o sistema operacional Unix. É um
pacote de livre distribuição, escrito em linguagem C, com código fonte aberto,
permitindo uma maior interação com seus usuários.
Também utilizamos pacotes gráficos e planilhas de cálculos no tratamento
dos dados da refração sísmica.
5.1 – Radar de penetração no solo – GPR
As seções de GPR foram processadas focalizando nosso objetivo principal
que era mapear o N.A. e estimar o teor de umidade do solo. Dessa forma elegemos
o fluxograma de processamento ilustrado na Figura 5.1 como o mais adequado.
54
Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos
O tratamento dos dados foi dividido em três etapas assim designadas: préprocessamento, pré-empilhamento e pós-empilhamento. Como a pesquisa teve um
acompanhamento sazonal, gerando um grande volume de dados, foram, então,
55
Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos
desenvolvidos e adaptados vários script’s em shell para a realização de cada etapa
do processamento.
Na etapa de pré-processamento foram executadas as seguintes tarefas:
™ Conversão dos arquivos rd3 para su – com os dados adquiridos com a
geometria WARR fizemos a conversão do formato rd3 – arquivo em formato
binário da Ramac Mala Geosciences sem cabeçalho com 16-bit sinalizado,
acompanhado de um arquivo descritivo em formato ASCII rad – para su –
formato idêntico ao padrão seg-y1;
™ Edição do cabeçalho – pelo comando suaddhead e sushw que adiciona e
edita palavras-chaves ao cabeçalho foram adicionados o número de
amostras, o intervalo de amostragem, a posição da antena transmissora, o
número dos grupos cdp’s e a distância entre antena transmissora e receptora
para cada grupo WARR;
™ Correção do tempo zero – o início da janela de aquisição de cada grupo
WARR foi reposicionado a partir do início da 1ª fase da onda aérea do 1º
traço de cada grupo WARR;
™ Silenciamento de traços – por meio do comando sukill substituímos os traços
indesejados por um outro com amplitude nula para todas as amostras de
cada grupo WARR.
Na etapa do pré-empilhamento foram executadas as seguintes tarefas:
™ Reagrupamento dos traços em grupos cdp’s – pelo comando susort
agrupamos os traços em conjuntos cdp’s;
™ Aplicação de filtro – por meio do comando sufilter foi aplicado um filtro de
freqüência do tipo passa banda.
1
Padrão seg-y é constituído de três partes: a primeira contêm 40 linhas com 80 caracteres cada; a
segunda contêm 400 bytes binários e a terceira é composta pelos traços, possuindo cada traço seu
próprio cabeçalho de 240 bytes, nesse cabeçalho são armazenados as informações dos traços, e.g.
número de amostras e intervalos de amostragem.
56
Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos
O processo de filtragem consiste primeiramente em se obter a transformada
de Fourier da série temporal e a partir do seu espectro de amplitude selecionar as
freqüências de corte. Para a maioria das aplicações de filtros impõem-se a condição
de que a função filtro seja simétrica a fim de não haver modificação da fase do sinal.
Os filtros verticais do tipo passa banda são utilizados para remover “ruídos”
de altas e baixas freqüências selecionando uma banda específica de frequência de
interesse. Neste filtro a amplitude máxima define a ondulação na banda de
passagem.
Adotamos como procedimento para aplicação dos filtros a observação do
espectro de amplitude para cada grupo WARR. Dessa observação definia-se a
banda do filtro a ser aplicado aos conjuntos (Tabela 5.1). Feito isso era observado o
resultado, visando sempre seus efeitos na melhoria da relação S/R (relação sinal
ruído) do sinal.
Tabela 5.1 – Pico central observado nos espectros de amplitude e a banda do filtro empregado para
as antenas de 50 MHz, 100 MHz e 200 MHz para janeiro/2004, abril/2004 e setembro/2004 (períodos
chuvoso, intermédiario e seco, respectivamente)
Janeiro 2004
Abril 2004
Setembro 2004
Freqüência
Pico
Banda do Filtro
Pico
Banda do Filtro
Pico
Banda do Filtro
Central
(MHz)
Central
(MHz)
Central
(MHz)
50 MHz
40 MHz
20,25,60,65
44 MHz
10,30,75,90
50 MHz
30,35,65,70
100 MHz
70 MHz
25,30,115,120
70 MHz
20,30,120,130
80 MHz
20,40,160,180
200 MHz
120 MHz
50,90,280,300
110 MHz
40,50,210,220
130 MHz
35,80,250,300
das Antenas
Foi possível observar que em janeiro (período chuvoso) o pico central da
energia do sinal de cada antena sempre esteve deslocado para frequências
menores em relação aos observados em setembro (período seco), como já
comentado por Prado (2000).
Também foi necessário deslocar 180º a fase dos sinais obtidos com as
antenas de 200 MHz para deixá-los com o mesmo padrão das antenas de 100 MHz
e 50 MHz.
™ Análise de Velocidade – neste processo utilizamos os arquivos que
continham os grupos cdp’s filtrados. O comando utilizado foi o suvelan que
emprega a relação semblance. A relação semblance busca medir a coerência
do processo de empilhamento pela Equação 5.1:
57
Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos
semblance =
1
n
∑s
2
t
t
∑ ∑a
(5.1)
2
i ,t
t
i
onde: s = amplitude do traço empilhado; a = amplitude de cada traço do conjunto
cdp; t = janela de tempo; i = número de traços do grupo cdp e st = ∑ ai .
i
A análise foi feita nos conjuntos cdp’s que continham o número máximo de
traços, ou seja, representavam a máxima multiplicidade obtida no ensaio.
A análise de velocidade é um processo bem delicado porque é determinante
para a conversão dos dados do domínio do tempo para o domínio da profundidade,
quando então se faz a interpretação geológica. Buscamos determinar as velocidades
de forma sistemática a fim de minimizarmos possíveis fontes de erros.
Analisando
os
semblance
painéis
identificamos
as
velocidades
de
empilhamento, v nmo , a partir das medidas de maior coerência. Com os valores de
v nmo e seus respectivos tempos duplos de trajetória normal, t nmo , calculamos as
espessuras dos diversos estratos.
Assumindo que as v nmo são aproximadamente iguais às v rms , calculamos as
velocidades intervalares, v n , e as espessuras dos diversos estratos (Equações 5.2 e
5.3).
2
vn =
v 2 rmsn t 0n − v 2 rmsn −1 t 0n −1
t 0n − t 0n −1
 t o − t o n −1
hn = v n  n
2




(5.2)
(5.3)
onde: n = número de estratos; v rms = velocidade rms; t o = tempo de trajetória dupla
normal.
58
Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos
™ Correção NMO – com os v nmo e t nmo obtidos dos painéis semblance,
utilizamos o comando sunmo e fizemos a correção NMO procurando eliminar
o deslocamento do efeito da separação fonte receptor (moveout);
™ Empilhamento – após a correção NMO utilizamos o comando sustack e
empilhamos os traços dos grupos cdp’s corrigidos.
Na etapa do pós-empilhamento foram executadas as seguintes tarefas:
™ Conversão Tempo/Profundidade – com as seções empilhadas convertemos
suas escalas verticais de tempo para profundidade;
™ Seção Final – antes de obtermos as saídas gráficas das seções finais
utilizamos o ganho de display com o comando perc que indica a porcentagem
do valor da amplitude máxima a ser utilizado para normalizar todas as
amplitudes dos registros para efeito de visualização. Aplicado este ganho,
utilizamos os comandos supsimage e supswigb para gerar as saídas gráficas
no formato pos-script das seções finais, as quais ainda sofreram pequenas
edições de legendas em pacotes gráficos.
Todas essas etapas de processamento foram realizadas para os dados
obtidos com as antenas de 200 MHz, 100 MHz e 50 MHz nos períodos chuvoso,
seco e intermediário.
5.1.1 – Dados sintéticos
No intuito de modelar as respostas eletromagnéticas frente à geologia local e
às diferentes condições de umidade e compará-las com os resultados obtidos nos
levantamentos realizados, reproduzimos a mesma geometria de aquisição (WARR) e
as condições de campo pelo aplicativo REFLEXW 3.0 (Sandmeier, 2003).
De forma geral a construção de um modelo de camadas 2D no REFLEXW 3.0
considera:
- Todo meio como linear e isotrópico;
59
Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos
- Os parâmetros constitutivos (permeabilidade magnética, permissividade
dielétrica e condutividade elétrica) são, em muitos casos, assumidos invariantes com
a freqüência, simplificando o modelo no domínio do tempo;
- O modo de propagação das ondas eletromagnéticas é o transversal
eletromagnético;
- O algoritmo é implementado no plano (x-z) utilizando o método das
diferenças finitas no domínio do tempo (FDTD2 – finite difference time-domain). A
simulação eletromagnética é baseada na solução das equações de Maxwell e os
parâmetros físicos são constantes na direção y;
- O domínio computacional é linearmente dependente da quantidade de
células que compõe o modelo e este, por sua vez, da discretização temporal e
espacial.
De acordo com as considerações do programa nós modelamos as respostas
a uma situação geológica semelhante a do local do ensaio, considerando antenas de
freqüências de 50 MHz, 100 MHz e 200 MHz. Os parâmetros de entrada foram os
apresentados na Tabela 5.2.
2
FDTD – Método introduzido por Yee (1966) que fornece uma solução numérica para as equações
de Maxwell, usando diferenças centradas com solução envolvendo precisão de segunda ordem no
espaço e no tempo. É baseado na amostragem volumétrica dos campos elétrico e magnético
desconhecidos, rodeados pelo domínio de interesse em um determinado período de tempo. A
amostragem espacial é realizada de tal forma que a periodicidade destas amostras seja
suficientemente menor do que o comprimento de onda associado à freqüência mais alta do espectro
do sinal sendo transmitido (Belém, 2001).
Atualmente é uma das técnicas mais utilizadas para a solução de problemas eletromagnéticos.
60
Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos
Tabela 5.2 – Parâmetros de entrada empregados para modelagem com as freqüências 50 MHz, 100
MHz e 200 MHz empregando o programa REFLEXW 3.0
Parâmetros de entrada – aplicativo REFLEXW 3.0
Antena de 50 MHz
Dimensões = 5,8 m x 10,0 m; dt = 0,8433 s; ns = 237 e dx = 0,20 m
Nº de camadas
Espessura
Material
K (F/m)
σ (S/m)
µ (H/m)
1
1,5
Areia
9
0,00001
1
2
2,0
Argila-siltosa
20
0,001
1
3
1,0
Areia saturada (N.A.)
10
0,002
1
4
2,0
Areia-argilosa saturada
15
0,00001
1
5
1,0
Argila arenosa
5
0,0002
1
6
2,5
Argila arenosa
15
0,0001
1
Antena de 100 MHz e 200 MHz
Dimensões = 2,9 m x 10,0 m; dt = 0,474 s; ns = 474 e dx = 0,10 m
Nº de camadas
Espessura
Material
K (F/m)
σ (S/m)
µ (H/m)
1
1,5
Areia
9
0,00001
1
2
2,0
Argila-siltosa
20
0,001
1
3
1,0
Areia saturada (N.A.)
10
0,002
1
4
2,0
Areia-argilosa saturada
15
0,00001
1
5
1,0
Argila arenosa
5
0,0002
1
6
2,5
Argila arenosa
15
0,0001
1
Feitos os modelos, foi gerado um arquivo de saída no formato seg-2 que foi
convertido no aplicativo SU para o formato seg-y e, posteriormente, para o formato
su utilizando o comando segyread que elimina o cabeçalho principal do arquivo e
mantém os cabeçalhos de cada traço.
De maneira semelhante aos dados reais aplicamos as rotinas do fluxograma
de processamento descrito anteriormente (Figura 5.1) e obtivemos as seções dos
dados sintéticos (Figura 5.2).
Nos radargramas sintéticos só foram reconhecidos com clareza três
diferentes eventos (Figura 5.2) que correlacionamos às interfaces do modelo de
entrada e estariam associados a: 1º evento ao contato areia/argila siltosa; 2º evento
ao contato argila siltosa/areia saturada (N.A.) e 3º evento ao contato areia argilosa
saturada/argila arenosa.
61
Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos
A diferença entre o número de eventos identificados e o número de interfaces
do modelo inicial revelam que os parâmetros elétricos atribuídos aos diferentes
estratos do modelo não gerariam contrastes que ressultassem em reflexão da onda
EM.
Foram feitas algumas manipulações nesses parâmetros de entrada, mas
principalmente em relação aos estratos superiores ao N.A., onde dispúnhamos de
informações adicionais quanto aos teores de umidade, granulometria e saturação.
Abaixo deste nível só havia informações da descrição visual do perfil do poço de
monitoramento.
a)
c)
b)
1º refletor
1º refletor
1º refletor
2º refletor
2º refletor ???
2º refletor
3º refletor ???
3º refletor
Figura 5.2 – Grupos WARR dos dados sintéticos gerados de acordo com os dados da Tabela 5.2 com
freqüências de a) 50 MHz (offset máximo=6m), b) 100 MHz (offset máximo=3 m) e c) 200 MHz (offset
máximo=3 m)
62
Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos
No intuito de avaliar o erro envolvido na identificação dos eventos
correspondentes aos refletores no painel semblance 10 leituras foram feitas do 1o
refletor por dois intérpretes diferentes. Com este procedimento buscamos quantificar
o erro envolvido na determinação das medidas de v nmo e t nmo para as diferentes
antenas (Tabela 5.3).
A determinação dos valores do erro padrão nos possibilitou utilizar a teoria de
propagação dos erros e ver qual a grandeza do erro envolvido no processo de
determinação da profundidade do N.A.
Tabela 5.3 – Estimativa do erro padrão de v nmo e t nmo dos dados sintéticos para as antenas de 50
MHz, 100 MHz e 200 MHz
Análise do erro padrão das medidas das v nmo e dos t nmo
Erro Padrão
Antena de 50 MHz
Antena de 100 MHz
Antena de 200 MHz
v nmo (m/ns)
± 9,77 × 10 −4
± 4,72 × 10 −4
± 2,37 × 10 −4
t nmo (ns)
± 5,80 × 10 −1
± 1,72 × 10 −1
± 2,44 × 10 −1
5.1.2 – Interpretação geológica das seções empilhadas do GPR
Com os dados processados do levantamento geofísico e os dados obtidos
através das sondagens diretas (perfil dos poços de monitoramento, furo a trado e
trincheira), mais os resultados das modelagens, pudemos fazer algumas inferências
sobre os refletores identificados nas seções GPR.
Na Figura 5.3 temos a seção obtida com as antenas de 50 MHz (período seco
– setembro/2004) com um grupo WARR no canto superior direito. Na análise de
velocidades foram identificados dois eventos, aproximadamente nos tempos de 145
ns e 178 ns. Esses eventos constituem, na seção empilhada, duas interfaces bem
evidentes e contínuas. Do exame das informações geológicas disponíveis pudemos
associar o primeiro evento ao contato de uma areia média argilosa com uma argila
arenosa. O segundo refletor representa um contato a, aproximadamente, 7,0 m de
profundidade que, de acordo com o perfil descritivo dos poços de monitoramento
(Figura 4.5), seria um contato de uma argila arenosa com uma argila compacta.
63
Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos
Figura 5.3 – Seção GPR obtida com as antenas de 50 MHz (setembro/2004, período seco) sem
interpretação e com interpretação geológica dos refletores identificados
64
Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos
Na Figura 5.4 temos a seção GPR obtida com as antenas de 100 MHz
(período seco – setembro/2004) com um grupo WARR no canto superior direito.
Foram identificados dois eventos na análise de velocidades em aproximadamente 49
ns e 84 ns. Tais refletores de acordo com a geologia local estariam associados ao
contato argila/areia e ao N.A., respectivamente. Na seção final empilhada também
podem ser observados os outros 2 refletores identificados com a antena de 50 MHz,
porém estes não foram identificados com clareza nos grupos cdp’s da antena de 100
MHz escolhidos para a análise de velocidades.
65
Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos
Figura 5.4 – Seção GPR obtida com as antenas de 100 MHz (setembro/2004, período seco) sem
interpretação e com interpretação geológica dos refletores
Finalmente na Figura 5.5 temos a seção GPR obtida com as antenas de 200
MHz (período seco – setembro/2004) com um grupo WARR no canto superior
direito. A análise de velocidade revelou 2 eventos em aproximadamente 28 ns e 79
ns. Estes estariam associados ao contato argila/areia e ao N.A. Da mesma forma
66
Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos
que para a antena de 100 MHz, aqui também observa-se na seção final empilhada
os 2 refletores identificados com a antena de 50 MHz, que também não eram
evidentes na análise de velocidade com os dados da antena de 200 MHz.
Figura 5.5 – Seção GPR obtida com as antenas de 200 MHz (setembro/2004, período seco) sem
interpretação e com interpretação geológica dos refletores
67
Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos
A pequena diferença entre as espessuras do primeiro contato identificado
com as antenas de 100 MHz e 200 MHz (que deveriam ser equivalentes) deve ser
atribuída à interferência de fase da onda direta com o início do registro da onda
refletida no radargrama obtido com a antena de 100 MHz.
5.2 – Sísmica de refração
Os sismogramas foram processados focalizando nosso objetivo principal que
era mapear o N.A. Dessa forma elegemos o fluxograma de processamento (Figura
5.6) abaixo como o mais adequado.
Dividimos o processamento em duas etapas: tratamento dos sinais e
tratamento dos dados.
Na etapa do tratamento dos sinais foram executadas as seguintes tarefas:
™ Conversão dos arquivos seg2 para su – com os dados adquiridos fizemos a
conversão do formato seg2 para segy e por meio do comando segyread
convertemos para o formato su;
™ Edição dos dados – verificamos se existiam dados espúrios;
™ Concatenação dos arquivos – como ocorreram vários pontos de tiros internos
e externos à linha geofísica, utilizamos o comando cat para concatenar os
tiros que foram dados nos mesmos locais com os geofones deslocados;
™ “Picagem” das primeiras quebras – com o suxpicker identificamos as
primeiras chegadas das ondas direta e refratada em cada sismograma. Feita
essa identificação salvamos as leituras dos tempos lidos para cada offset em
arquivos dat para a etapa de tratamento dos dados.
Na etapa do tratamento dos dados foram executadas as seguintes tarefas:
™ Representação dos tempos em gráficos tempo-distância – com os arquivos
dat resultante da “picagem” dos arquivos concatenados;
™ Cálculo das funções tV e t G – determinamos os valores das funções análise
de velocidade e tempo-profundidade para diferentes distâncias XY;
68
Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos
™ Escolha do valor ótimo de XY – a escolha do XY ótimo foi feita observando-se
o ajuste da função tV ;
™ Cálculo da profundidade do refrator – com o valor ótimo de XY calculamos a
profundidade do refrator para cada estação a partir dos valores obtidos com a
função t G ; os dados foram plotados segundo a posição das estações da linha
sísmica, resultando no mapeamento do refrator correspondente ao nível
freático.
Figura 5.6 – Fluxograma de processamento dos dados sísmicos
5.2.1 – Interpretação dos dados sísmicos
A Figura 5.7 mostra os gráficos tempo-distância dos pontos de tiro
evidenciando um modelo de duas camadas.
69
Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos
a)
Sísmica de Refração
Jan_04
60
Tempo (ms)
50
40
30
20
10
0
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
22
24
Distância (m)
pt1
pt2
pt4
pt5
mpt1-pt2
mpt5-pt4
val_pt1
pont_pt2
b)
Sísmica de Refração
Abr_04
50
45
40
T em p o (m s)
35
30
25
20
15
10
5
0
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Distância (m)
pt1
pt2
pt4
pt5
mpt1-pt2
mpt5-pt4
val_pt5
pont_pt4
c)
Sísmica de Refração
Ago_04
50
45
40
Tempo (ms)
35
30
25
20
15
10
5
0
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
Distância (m)
pt1
pt2
pt4
pt5
mpt1-pt2
mpt5-pt4
pont_pt2
Figura 5.7 – Gráficos tempo-distância para os períodos a) chuvoso (janeiro/2004), b) intermediário
(abril/2004) e c) seco (setembro/2004)
70
Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos
A partir dos tempos de chegada obtidos com os tiros externos PT1 e PT5 e
empregando-se o princípio do paralelismo, obtivemos os valores dos tempos das
ondas refratadas para os tiros direto e reverso, PT2 e PT4, respectivamente, no
trecho de offsets onde a primeira chegada correspondeu à da onda direta.
Observando os gráficos das funções tV e t G estimamos o valor ótimo de XY.
Essa estimativa foi feita com a função tV , observando-se qual conjunto de
dados apresentou o melhor ajuste linear, neste caso o maior valor de R 2 (proporção
do desvio padrão em y que pode ser atribuído ao desvio padrão de x). Já para a
função t G observamos o conjunto de dados de maior irregularidade, ou seja, que
estaria retratando em maior detalhe a geologia da superfície refratora.
Dessa forma, analisando conjuntamente os resultados obtidos com as
funções tV e t G dos diferentes períodos, elegemos para o período chuvoso
(janeiro/2004) XY = 0; para o período intermediário (abr/2004) XY = 0; para o
período seco (setembro/2004) XY = 1,0. As Figuras 5.8 a 5.10 apresentam os
gráficos das funções tV e t G obtidas para os diferentes períodos.
71
Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos
a)
Função Análise de Velocidade
Jan/04
Tempo (ms)
60
50
R2 = 0,985
R2 = 0,924
R2 = 0,983
40
R2 = 0,931
R2 = 0,988
30
R2 = 0,944
R2 = 0,991
20
10
0
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
16
18
20
22
24
Distância (m)
b)
Função Tempo-Profundidade
Jan/04
60
Tempo (ms)
50
40
30
20
10
0
0
2
4
6
8
10
12
14
Distância (m)
Figura 5.8 – Gráficos das funções a) tV e b) t G do período chuvoso (janeiro/2004), sendo XY = 0 o
melhor valor obtido
72
Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos
a)
Função Análise de Velocidade
Abr/04
60
R 2 = 0,985
50
R 2 = 0,932
Tempo (ms)
R 2 = 0,986
40
R 2 = 0,903
R 2 = 0,987
30
R 2 = 0,912
R 2 = 0,989
20
10
0
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
Distância (m)
b)
Função Tempo-Profundidade
Abr/04
60
Tempo (ms)
50
40
30
20
10
0
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
Distância (m)
Figura 5.9 – Gráficos das funções a) tV e b) t G do período intermediário (abril/2004), sendo XY = 0 o
melhor valor obtido
73
Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos
a)
Função Análise de Velocidade
Set/04
60
R2 = 0,993
Tempo (ms)
50
R2 = 0,944
R2 = 0,996
40
R2 = 0,940
R2 = 0,997
R2 = 0,958
30
R2 = 0,996
20
10
0
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
16
18
20
22
24
Distância (m)
b)
Função Tempo-Profundidade
Set/04
50
45
40
Tempo (ms)
35
30
25
20
15
10
5
0
0
2
4
6
8
10
12
14
Distância (m)
Figura 5.10 – Gráficos das funções a) tV e b) t G do período seco (setembro/2004), sendo XY = 1 o
melhor valor obtido
De posse dos dados processados, fizemos algumas inferências sobre a
profundidade do refrator. Na Figura 5.11 temos uma interpretação dos dados
sísmicos
considerando
os
parâmetros
função
velocidade,
função
tempo-
profundidade para os XY ótimos obtidos para os três períodos (janeiro/2004,
abril/2004 e setembro/2004). O refrator ficou bem caracterizado em torno de 4,20 m
com velocidades médias do horizonte inferior entre 1580 m/s e 1730 m/s,
compatíveis com as de materiais inconsolidados saturados.
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Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos
Figura 5.11 – Sismograma de um ponto de tiro externo à linha geofísica (período seco setembro/2004) com a seção sísmica obtida para o período
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Capítulo 5 5.1 – Radar de penetração no solo – GPR