Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos Capítulo 5 Uma das etapas primordiais de um levantamento geofísico é o processamento dos dados. Este tem por objetivo gerar uma imagem das estruturas geológicas, ressaltando feições de interesse ou a obtenção de parâmetros físicos. Dada às similaridades cinemáticas entre o método da sísmica de reflexão e o GPR muitas etapas do processamento de reflexão sísmica também são aplicadas aos dados do GPR. O tratamento dos dados deste estudo (GPR e sísmica de refração) foi feito pelo aplicativo Seismic Unix – SU (Stockwell & Cohen, 2000). O SU foi desenvolvido em 1987 por Jack K. Cohen & Shuki Ronen do Center for Wave Phenomena – CWP da Colorado School of Mines – CSM com o intuito de criar um ambiente de processamento sísmico com o sistema operacional Unix. É um pacote de livre distribuição, escrito em linguagem C, com código fonte aberto, permitindo uma maior interação com seus usuários. Também utilizamos pacotes gráficos e planilhas de cálculos no tratamento dos dados da refração sísmica. 5.1 – Radar de penetração no solo – GPR As seções de GPR foram processadas focalizando nosso objetivo principal que era mapear o N.A. e estimar o teor de umidade do solo. Dessa forma elegemos o fluxograma de processamento ilustrado na Figura 5.1 como o mais adequado. 54 Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos O tratamento dos dados foi dividido em três etapas assim designadas: préprocessamento, pré-empilhamento e pós-empilhamento. Como a pesquisa teve um acompanhamento sazonal, gerando um grande volume de dados, foram, então, 55 Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos desenvolvidos e adaptados vários script’s em shell para a realização de cada etapa do processamento. Na etapa de pré-processamento foram executadas as seguintes tarefas: Conversão dos arquivos rd3 para su – com os dados adquiridos com a geometria WARR fizemos a conversão do formato rd3 – arquivo em formato binário da Ramac Mala Geosciences sem cabeçalho com 16-bit sinalizado, acompanhado de um arquivo descritivo em formato ASCII rad – para su – formato idêntico ao padrão seg-y1; Edição do cabeçalho – pelo comando suaddhead e sushw que adiciona e edita palavras-chaves ao cabeçalho foram adicionados o número de amostras, o intervalo de amostragem, a posição da antena transmissora, o número dos grupos cdp’s e a distância entre antena transmissora e receptora para cada grupo WARR; Correção do tempo zero – o início da janela de aquisição de cada grupo WARR foi reposicionado a partir do início da 1ª fase da onda aérea do 1º traço de cada grupo WARR; Silenciamento de traços – por meio do comando sukill substituímos os traços indesejados por um outro com amplitude nula para todas as amostras de cada grupo WARR. Na etapa do pré-empilhamento foram executadas as seguintes tarefas: Reagrupamento dos traços em grupos cdp’s – pelo comando susort agrupamos os traços em conjuntos cdp’s; Aplicação de filtro – por meio do comando sufilter foi aplicado um filtro de freqüência do tipo passa banda. 1 Padrão seg-y é constituído de três partes: a primeira contêm 40 linhas com 80 caracteres cada; a segunda contêm 400 bytes binários e a terceira é composta pelos traços, possuindo cada traço seu próprio cabeçalho de 240 bytes, nesse cabeçalho são armazenados as informações dos traços, e.g. número de amostras e intervalos de amostragem. 56 Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos O processo de filtragem consiste primeiramente em se obter a transformada de Fourier da série temporal e a partir do seu espectro de amplitude selecionar as freqüências de corte. Para a maioria das aplicações de filtros impõem-se a condição de que a função filtro seja simétrica a fim de não haver modificação da fase do sinal. Os filtros verticais do tipo passa banda são utilizados para remover “ruídos” de altas e baixas freqüências selecionando uma banda específica de frequência de interesse. Neste filtro a amplitude máxima define a ondulação na banda de passagem. Adotamos como procedimento para aplicação dos filtros a observação do espectro de amplitude para cada grupo WARR. Dessa observação definia-se a banda do filtro a ser aplicado aos conjuntos (Tabela 5.1). Feito isso era observado o resultado, visando sempre seus efeitos na melhoria da relação S/R (relação sinal ruído) do sinal. Tabela 5.1 – Pico central observado nos espectros de amplitude e a banda do filtro empregado para as antenas de 50 MHz, 100 MHz e 200 MHz para janeiro/2004, abril/2004 e setembro/2004 (períodos chuvoso, intermédiario e seco, respectivamente) Janeiro 2004 Abril 2004 Setembro 2004 Freqüência Pico Banda do Filtro Pico Banda do Filtro Pico Banda do Filtro Central (MHz) Central (MHz) Central (MHz) 50 MHz 40 MHz 20,25,60,65 44 MHz 10,30,75,90 50 MHz 30,35,65,70 100 MHz 70 MHz 25,30,115,120 70 MHz 20,30,120,130 80 MHz 20,40,160,180 200 MHz 120 MHz 50,90,280,300 110 MHz 40,50,210,220 130 MHz 35,80,250,300 das Antenas Foi possível observar que em janeiro (período chuvoso) o pico central da energia do sinal de cada antena sempre esteve deslocado para frequências menores em relação aos observados em setembro (período seco), como já comentado por Prado (2000). Também foi necessário deslocar 180º a fase dos sinais obtidos com as antenas de 200 MHz para deixá-los com o mesmo padrão das antenas de 100 MHz e 50 MHz. Análise de Velocidade – neste processo utilizamos os arquivos que continham os grupos cdp’s filtrados. O comando utilizado foi o suvelan que emprega a relação semblance. A relação semblance busca medir a coerência do processo de empilhamento pela Equação 5.1: 57 Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos semblance = 1 n ∑s 2 t t ∑ ∑a (5.1) 2 i ,t t i onde: s = amplitude do traço empilhado; a = amplitude de cada traço do conjunto cdp; t = janela de tempo; i = número de traços do grupo cdp e st = ∑ ai . i A análise foi feita nos conjuntos cdp’s que continham o número máximo de traços, ou seja, representavam a máxima multiplicidade obtida no ensaio. A análise de velocidade é um processo bem delicado porque é determinante para a conversão dos dados do domínio do tempo para o domínio da profundidade, quando então se faz a interpretação geológica. Buscamos determinar as velocidades de forma sistemática a fim de minimizarmos possíveis fontes de erros. Analisando os semblance painéis identificamos as velocidades de empilhamento, v nmo , a partir das medidas de maior coerência. Com os valores de v nmo e seus respectivos tempos duplos de trajetória normal, t nmo , calculamos as espessuras dos diversos estratos. Assumindo que as v nmo são aproximadamente iguais às v rms , calculamos as velocidades intervalares, v n , e as espessuras dos diversos estratos (Equações 5.2 e 5.3). 2 vn = v 2 rmsn t 0n − v 2 rmsn −1 t 0n −1 t 0n − t 0n −1 t o − t o n −1 hn = v n n 2 (5.2) (5.3) onde: n = número de estratos; v rms = velocidade rms; t o = tempo de trajetória dupla normal. 58 Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos Correção NMO – com os v nmo e t nmo obtidos dos painéis semblance, utilizamos o comando sunmo e fizemos a correção NMO procurando eliminar o deslocamento do efeito da separação fonte receptor (moveout); Empilhamento – após a correção NMO utilizamos o comando sustack e empilhamos os traços dos grupos cdp’s corrigidos. Na etapa do pós-empilhamento foram executadas as seguintes tarefas: Conversão Tempo/Profundidade – com as seções empilhadas convertemos suas escalas verticais de tempo para profundidade; Seção Final – antes de obtermos as saídas gráficas das seções finais utilizamos o ganho de display com o comando perc que indica a porcentagem do valor da amplitude máxima a ser utilizado para normalizar todas as amplitudes dos registros para efeito de visualização. Aplicado este ganho, utilizamos os comandos supsimage e supswigb para gerar as saídas gráficas no formato pos-script das seções finais, as quais ainda sofreram pequenas edições de legendas em pacotes gráficos. Todas essas etapas de processamento foram realizadas para os dados obtidos com as antenas de 200 MHz, 100 MHz e 50 MHz nos períodos chuvoso, seco e intermediário. 5.1.1 – Dados sintéticos No intuito de modelar as respostas eletromagnéticas frente à geologia local e às diferentes condições de umidade e compará-las com os resultados obtidos nos levantamentos realizados, reproduzimos a mesma geometria de aquisição (WARR) e as condições de campo pelo aplicativo REFLEXW 3.0 (Sandmeier, 2003). De forma geral a construção de um modelo de camadas 2D no REFLEXW 3.0 considera: - Todo meio como linear e isotrópico; 59 Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos - Os parâmetros constitutivos (permeabilidade magnética, permissividade dielétrica e condutividade elétrica) são, em muitos casos, assumidos invariantes com a freqüência, simplificando o modelo no domínio do tempo; - O modo de propagação das ondas eletromagnéticas é o transversal eletromagnético; - O algoritmo é implementado no plano (x-z) utilizando o método das diferenças finitas no domínio do tempo (FDTD2 – finite difference time-domain). A simulação eletromagnética é baseada na solução das equações de Maxwell e os parâmetros físicos são constantes na direção y; - O domínio computacional é linearmente dependente da quantidade de células que compõe o modelo e este, por sua vez, da discretização temporal e espacial. De acordo com as considerações do programa nós modelamos as respostas a uma situação geológica semelhante a do local do ensaio, considerando antenas de freqüências de 50 MHz, 100 MHz e 200 MHz. Os parâmetros de entrada foram os apresentados na Tabela 5.2. 2 FDTD – Método introduzido por Yee (1966) que fornece uma solução numérica para as equações de Maxwell, usando diferenças centradas com solução envolvendo precisão de segunda ordem no espaço e no tempo. É baseado na amostragem volumétrica dos campos elétrico e magnético desconhecidos, rodeados pelo domínio de interesse em um determinado período de tempo. A amostragem espacial é realizada de tal forma que a periodicidade destas amostras seja suficientemente menor do que o comprimento de onda associado à freqüência mais alta do espectro do sinal sendo transmitido (Belém, 2001). Atualmente é uma das técnicas mais utilizadas para a solução de problemas eletromagnéticos. 60 Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos Tabela 5.2 – Parâmetros de entrada empregados para modelagem com as freqüências 50 MHz, 100 MHz e 200 MHz empregando o programa REFLEXW 3.0 Parâmetros de entrada – aplicativo REFLEXW 3.0 Antena de 50 MHz Dimensões = 5,8 m x 10,0 m; dt = 0,8433 s; ns = 237 e dx = 0,20 m Nº de camadas Espessura Material K (F/m) σ (S/m) µ (H/m) 1 1,5 Areia 9 0,00001 1 2 2,0 Argila-siltosa 20 0,001 1 3 1,0 Areia saturada (N.A.) 10 0,002 1 4 2,0 Areia-argilosa saturada 15 0,00001 1 5 1,0 Argila arenosa 5 0,0002 1 6 2,5 Argila arenosa 15 0,0001 1 Antena de 100 MHz e 200 MHz Dimensões = 2,9 m x 10,0 m; dt = 0,474 s; ns = 474 e dx = 0,10 m Nº de camadas Espessura Material K (F/m) σ (S/m) µ (H/m) 1 1,5 Areia 9 0,00001 1 2 2,0 Argila-siltosa 20 0,001 1 3 1,0 Areia saturada (N.A.) 10 0,002 1 4 2,0 Areia-argilosa saturada 15 0,00001 1 5 1,0 Argila arenosa 5 0,0002 1 6 2,5 Argila arenosa 15 0,0001 1 Feitos os modelos, foi gerado um arquivo de saída no formato seg-2 que foi convertido no aplicativo SU para o formato seg-y e, posteriormente, para o formato su utilizando o comando segyread que elimina o cabeçalho principal do arquivo e mantém os cabeçalhos de cada traço. De maneira semelhante aos dados reais aplicamos as rotinas do fluxograma de processamento descrito anteriormente (Figura 5.1) e obtivemos as seções dos dados sintéticos (Figura 5.2). Nos radargramas sintéticos só foram reconhecidos com clareza três diferentes eventos (Figura 5.2) que correlacionamos às interfaces do modelo de entrada e estariam associados a: 1º evento ao contato areia/argila siltosa; 2º evento ao contato argila siltosa/areia saturada (N.A.) e 3º evento ao contato areia argilosa saturada/argila arenosa. 61 Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos A diferença entre o número de eventos identificados e o número de interfaces do modelo inicial revelam que os parâmetros elétricos atribuídos aos diferentes estratos do modelo não gerariam contrastes que ressultassem em reflexão da onda EM. Foram feitas algumas manipulações nesses parâmetros de entrada, mas principalmente em relação aos estratos superiores ao N.A., onde dispúnhamos de informações adicionais quanto aos teores de umidade, granulometria e saturação. Abaixo deste nível só havia informações da descrição visual do perfil do poço de monitoramento. a) c) b) 1º refletor 1º refletor 1º refletor 2º refletor 2º refletor ??? 2º refletor 3º refletor ??? 3º refletor Figura 5.2 – Grupos WARR dos dados sintéticos gerados de acordo com os dados da Tabela 5.2 com freqüências de a) 50 MHz (offset máximo=6m), b) 100 MHz (offset máximo=3 m) e c) 200 MHz (offset máximo=3 m) 62 Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos No intuito de avaliar o erro envolvido na identificação dos eventos correspondentes aos refletores no painel semblance 10 leituras foram feitas do 1o refletor por dois intérpretes diferentes. Com este procedimento buscamos quantificar o erro envolvido na determinação das medidas de v nmo e t nmo para as diferentes antenas (Tabela 5.3). A determinação dos valores do erro padrão nos possibilitou utilizar a teoria de propagação dos erros e ver qual a grandeza do erro envolvido no processo de determinação da profundidade do N.A. Tabela 5.3 – Estimativa do erro padrão de v nmo e t nmo dos dados sintéticos para as antenas de 50 MHz, 100 MHz e 200 MHz Análise do erro padrão das medidas das v nmo e dos t nmo Erro Padrão Antena de 50 MHz Antena de 100 MHz Antena de 200 MHz v nmo (m/ns) ± 9,77 × 10 −4 ± 4,72 × 10 −4 ± 2,37 × 10 −4 t nmo (ns) ± 5,80 × 10 −1 ± 1,72 × 10 −1 ± 2,44 × 10 −1 5.1.2 – Interpretação geológica das seções empilhadas do GPR Com os dados processados do levantamento geofísico e os dados obtidos através das sondagens diretas (perfil dos poços de monitoramento, furo a trado e trincheira), mais os resultados das modelagens, pudemos fazer algumas inferências sobre os refletores identificados nas seções GPR. Na Figura 5.3 temos a seção obtida com as antenas de 50 MHz (período seco – setembro/2004) com um grupo WARR no canto superior direito. Na análise de velocidades foram identificados dois eventos, aproximadamente nos tempos de 145 ns e 178 ns. Esses eventos constituem, na seção empilhada, duas interfaces bem evidentes e contínuas. Do exame das informações geológicas disponíveis pudemos associar o primeiro evento ao contato de uma areia média argilosa com uma argila arenosa. O segundo refletor representa um contato a, aproximadamente, 7,0 m de profundidade que, de acordo com o perfil descritivo dos poços de monitoramento (Figura 4.5), seria um contato de uma argila arenosa com uma argila compacta. 63 Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos Figura 5.3 – Seção GPR obtida com as antenas de 50 MHz (setembro/2004, período seco) sem interpretação e com interpretação geológica dos refletores identificados 64 Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos Na Figura 5.4 temos a seção GPR obtida com as antenas de 100 MHz (período seco – setembro/2004) com um grupo WARR no canto superior direito. Foram identificados dois eventos na análise de velocidades em aproximadamente 49 ns e 84 ns. Tais refletores de acordo com a geologia local estariam associados ao contato argila/areia e ao N.A., respectivamente. Na seção final empilhada também podem ser observados os outros 2 refletores identificados com a antena de 50 MHz, porém estes não foram identificados com clareza nos grupos cdp’s da antena de 100 MHz escolhidos para a análise de velocidades. 65 Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos Figura 5.4 – Seção GPR obtida com as antenas de 100 MHz (setembro/2004, período seco) sem interpretação e com interpretação geológica dos refletores Finalmente na Figura 5.5 temos a seção GPR obtida com as antenas de 200 MHz (período seco – setembro/2004) com um grupo WARR no canto superior direito. A análise de velocidade revelou 2 eventos em aproximadamente 28 ns e 79 ns. Estes estariam associados ao contato argila/areia e ao N.A. Da mesma forma 66 Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos que para a antena de 100 MHz, aqui também observa-se na seção final empilhada os 2 refletores identificados com a antena de 50 MHz, que também não eram evidentes na análise de velocidade com os dados da antena de 200 MHz. Figura 5.5 – Seção GPR obtida com as antenas de 200 MHz (setembro/2004, período seco) sem interpretação e com interpretação geológica dos refletores 67 Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos A pequena diferença entre as espessuras do primeiro contato identificado com as antenas de 100 MHz e 200 MHz (que deveriam ser equivalentes) deve ser atribuída à interferência de fase da onda direta com o início do registro da onda refletida no radargrama obtido com a antena de 100 MHz. 5.2 – Sísmica de refração Os sismogramas foram processados focalizando nosso objetivo principal que era mapear o N.A. Dessa forma elegemos o fluxograma de processamento (Figura 5.6) abaixo como o mais adequado. Dividimos o processamento em duas etapas: tratamento dos sinais e tratamento dos dados. Na etapa do tratamento dos sinais foram executadas as seguintes tarefas: Conversão dos arquivos seg2 para su – com os dados adquiridos fizemos a conversão do formato seg2 para segy e por meio do comando segyread convertemos para o formato su; Edição dos dados – verificamos se existiam dados espúrios; Concatenação dos arquivos – como ocorreram vários pontos de tiros internos e externos à linha geofísica, utilizamos o comando cat para concatenar os tiros que foram dados nos mesmos locais com os geofones deslocados; “Picagem” das primeiras quebras – com o suxpicker identificamos as primeiras chegadas das ondas direta e refratada em cada sismograma. Feita essa identificação salvamos as leituras dos tempos lidos para cada offset em arquivos dat para a etapa de tratamento dos dados. Na etapa do tratamento dos dados foram executadas as seguintes tarefas: Representação dos tempos em gráficos tempo-distância – com os arquivos dat resultante da “picagem” dos arquivos concatenados; Cálculo das funções tV e t G – determinamos os valores das funções análise de velocidade e tempo-profundidade para diferentes distâncias XY; 68 Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos Escolha do valor ótimo de XY – a escolha do XY ótimo foi feita observando-se o ajuste da função tV ; Cálculo da profundidade do refrator – com o valor ótimo de XY calculamos a profundidade do refrator para cada estação a partir dos valores obtidos com a função t G ; os dados foram plotados segundo a posição das estações da linha sísmica, resultando no mapeamento do refrator correspondente ao nível freático. Figura 5.6 – Fluxograma de processamento dos dados sísmicos 5.2.1 – Interpretação dos dados sísmicos A Figura 5.7 mostra os gráficos tempo-distância dos pontos de tiro evidenciando um modelo de duas camadas. 69 Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos a) Sísmica de Refração Jan_04 60 Tempo (ms) 50 40 30 20 10 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 22 24 Distância (m) pt1 pt2 pt4 pt5 mpt1-pt2 mpt5-pt4 val_pt1 pont_pt2 b) Sísmica de Refração Abr_04 50 45 40 T em p o (m s) 35 30 25 20 15 10 5 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 Distância (m) pt1 pt2 pt4 pt5 mpt1-pt2 mpt5-pt4 val_pt5 pont_pt4 c) Sísmica de Refração Ago_04 50 45 40 Tempo (ms) 35 30 25 20 15 10 5 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 Distância (m) pt1 pt2 pt4 pt5 mpt1-pt2 mpt5-pt4 pont_pt2 Figura 5.7 – Gráficos tempo-distância para os períodos a) chuvoso (janeiro/2004), b) intermediário (abril/2004) e c) seco (setembro/2004) 70 Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos A partir dos tempos de chegada obtidos com os tiros externos PT1 e PT5 e empregando-se o princípio do paralelismo, obtivemos os valores dos tempos das ondas refratadas para os tiros direto e reverso, PT2 e PT4, respectivamente, no trecho de offsets onde a primeira chegada correspondeu à da onda direta. Observando os gráficos das funções tV e t G estimamos o valor ótimo de XY. Essa estimativa foi feita com a função tV , observando-se qual conjunto de dados apresentou o melhor ajuste linear, neste caso o maior valor de R 2 (proporção do desvio padrão em y que pode ser atribuído ao desvio padrão de x). Já para a função t G observamos o conjunto de dados de maior irregularidade, ou seja, que estaria retratando em maior detalhe a geologia da superfície refratora. Dessa forma, analisando conjuntamente os resultados obtidos com as funções tV e t G dos diferentes períodos, elegemos para o período chuvoso (janeiro/2004) XY = 0; para o período intermediário (abr/2004) XY = 0; para o período seco (setembro/2004) XY = 1,0. As Figuras 5.8 a 5.10 apresentam os gráficos das funções tV e t G obtidas para os diferentes períodos. 71 Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos a) Função Análise de Velocidade Jan/04 Tempo (ms) 60 50 R2 = 0,985 R2 = 0,924 R2 = 0,983 40 R2 = 0,931 R2 = 0,988 30 R2 = 0,944 R2 = 0,991 20 10 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 16 18 20 22 24 Distância (m) b) Função Tempo-Profundidade Jan/04 60 Tempo (ms) 50 40 30 20 10 0 0 2 4 6 8 10 12 14 Distância (m) Figura 5.8 – Gráficos das funções a) tV e b) t G do período chuvoso (janeiro/2004), sendo XY = 0 o melhor valor obtido 72 Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos a) Função Análise de Velocidade Abr/04 60 R 2 = 0,985 50 R 2 = 0,932 Tempo (ms) R 2 = 0,986 40 R 2 = 0,903 R 2 = 0,987 30 R 2 = 0,912 R 2 = 0,989 20 10 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 Distância (m) b) Função Tempo-Profundidade Abr/04 60 Tempo (ms) 50 40 30 20 10 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 Distância (m) Figura 5.9 – Gráficos das funções a) tV e b) t G do período intermediário (abril/2004), sendo XY = 0 o melhor valor obtido 73 Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos a) Função Análise de Velocidade Set/04 60 R2 = 0,993 Tempo (ms) 50 R2 = 0,944 R2 = 0,996 40 R2 = 0,940 R2 = 0,997 R2 = 0,958 30 R2 = 0,996 20 10 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 16 18 20 22 24 Distância (m) b) Função Tempo-Profundidade Set/04 50 45 40 Tempo (ms) 35 30 25 20 15 10 5 0 0 2 4 6 8 10 12 14 Distância (m) Figura 5.10 – Gráficos das funções a) tV e b) t G do período seco (setembro/2004), sendo XY = 1 o melhor valor obtido De posse dos dados processados, fizemos algumas inferências sobre a profundidade do refrator. Na Figura 5.11 temos uma interpretação dos dados sísmicos considerando os parâmetros função velocidade, função tempo- profundidade para os XY ótimos obtidos para os três períodos (janeiro/2004, abril/2004 e setembro/2004). O refrator ficou bem caracterizado em torno de 4,20 m com velocidades médias do horizonte inferior entre 1580 m/s e 1730 m/s, compatíveis com as de materiais inconsolidados saturados. 74 Capítulo 5 – Processamento dos dados geofísicos Figura 5.11 – Sismograma de um ponto de tiro externo à linha geofísica (período seco setembro/2004) com a seção sísmica obtida para o período 75