sumário
FidelidadESPÍRITA |Agosto 2010
14 capa
4 chico
“Libertação”- referÊncia ao “voltei”
Troca de idéias entre Chico e Wantuil
nas fronteiras da epilepsia
6 estudo
18 COMPREENSÃO
Mensagens e ensinamentos
Elevação moral da sociedade
9 mensagem
20 reflexão
A estrada do progresso
Crença na vida após a morte
10 esclarecimento
24 ensinamento
A revelação de João
Faculdade mediúnica
12 diálogo
26 com todas as letras
Assuntos importantes
Importantes dicas da nossa língua portuguesa
a fala dos espíritos
nova ordem social
as duas estradas e as duas portas
os vivos e as outras vidas
os mortos sairão dos seus túmulos
incompreensão
diálogo com divaldo
Edição
Centro de Estudos Espíritas
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Jornalista Responsável
Renata Levantesi (Mtb 28.765)
Projeto Gráfico
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Revisão
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Administração e Comércio
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nem sempre “de o” se torna “do”
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editorial
Agosto 2010 | FidelidadESPÍRITA
Companheiros Difíceis
por Emmanuel / Chico Xavier
Companheiros difíceis não são as criaturas
que ainda não nos atingiram a intimidade e
sim aquelas outras que se fizeram amar por
nós e que, de um momento para outro, modificaram pensamento e conduta, impondo-nos
estranheza e inquietação.
Erigiam-se-nos por esteios à fé, soçobrando
em pesada corrente de tentações...
Brilhavam por balizas de luz, à frente da
marcha, e apagaram-se na noite das conveniências humanas, impelindo-nos à sombra e à
desorientação...
Examinado, porém, o assunto com discernimento e serenidade, seria, justo albergarmos
pessimismo ou desencanto, simplesmente porque esse ou aquele companheiro haja evidenciado fraquezas humanas, peculiares também a
nós? Atentos às realidades do campo evolutivo,
em que nos achamos carregando fardos de culpas e débitos, deficiências e necessidades que
se nos encravaram nos ombros, em existências
passadas, como exigir dos entes amados, que
nos respiram o mesmo nível, a posição dos
heróis ou o comportamento dos anjos?
Com isso, não queremos dizer que omissão
ou deserção nas criaturas a quem empenhamos
confiança e ternura sejam condições naturais para a ação espiritual que nos compete
desenvolver, e sim, que, em lhes lastimando
as resoluções menos felizes, é imperioso orar
por elas na pauta da tolerância fraternal com
que devemos abraçar todos aqueles que se nos
associam às tarefas da jornada terrestre.
Se Jesus nos recomendou amar os inimigos,
que diretriz adotar ante os companheiros que
se fizeram difíceis, senão abençoá-los em mais
alto grau de entendimento, carecedores como
se encontram de mais ampla dedicação? Sem
dúvida, eles não podem, em muitas ocasiões,
compartilhar-nos, de imediato, as atividades
cotidianas, à vista dos compromissos diferentes a que se entregam; entretanto, ser-nos-á
possível, no clima do espírito, agradecer-lhes o
bem que nos fizeram e o bem que nos possam
fazer, endereçando-lhes a mensagem silenciosa
de nosso respeito e afeto, encorajamento e
gratidão.
Cumprindo semelhante dever, disporemos
de suficiente paz interior para seguir adiante,
na desincumbência dos encargos que a vida
nos confiou. Compreenderemos que se o próprio Senhor nos aceita como somos, suportando-nos as imperfeições e aproveitando-nos em
serviço, segundo a nossa capacidade de sermos
úteis, é nossa obrigação aceitar os companheiros difíceis como são, esperando por eles, em
matéria de elevação ou reajuste, tanto quanto
o Senhor tem esperado por nós.
Fonte:
XAVIER, Francisco Cândido. Alma e Coração. Págs. 63 – 64. Editora
Pensamento. 1972.
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chico
FidelidadESPÍRITA |Agosto 2010
“Libertação”:
Referência ao “Voltei”
por Suely Caldas Schubert
13-3-1949
“(...) Nossos amigos do Alto consideram interessante a palavra sendas,
mas os termos “evolutivas” ou “espirituais” são muito longos para um
título. Que dirias do título “sendas
libertas”? (Nota inserida no final da
carta: “Wantuil, o nosso devotado
Emmanuel é de opinião que o livro
de André Luiz tem por centro a missão libertadora de Gúbio, efetuada
pela força milagrosa do amor. Daí
a necessidade de alguma palavra no
título que nos recorde “liberdade” ou
“libertação”.)
Fico ciente de que os originais
seguiram para as mãos de Ismael.
Esperemos o que dirá. Considero
muito acertado o que comentas com
relação ao outro. Agirás como julgares acertado. É pena verificarmos
certas particularidades tendentes a
inovação brusca na mediunidade do
nosso amigo, porque as faculdades
dele são sublimes. Parece-me haver-lhe
faltado Evangelho em começo, assim
como a criança bem nascida, cheia
de bondade e inteligência naturais,
que se torna caprichosa por ausência
de punição benéfica, no princípio da
luta. As mensagens que ele recebe estão cheias de luz consoladora, e, tendo
lido também as últimas, a que te re-
portas, nelas encontrei muito material
iluminativo, embora julgue que tens
muita razão em esperar que o caso seja
convenientemente estudado, de vez
que o nosso meio, no momento, a meu
ver, assemelha-se a uma sementeira ciclópica e promissora, mas ainda tenra,
exigindo muito cuidado no trato, com
adubação controlada e desenvolvimento progressivo. (...) O caso da moça,
no trabalho de André Luiz, refere-se
ao paladar. Como julgarem, quanto à
expressão a ser usada, assim ficará. De
acordo com tuas observações últimas,
concordo, com aquiescência dos nossos
benfeitores, quanto ao verbo “perder”
que, realmente, é o termo exato. Nosso
perispírito ainda é matéria e estamos
infinitamente longe da substância
espiritual pura, sem a matéria qual
a conhecemos em nosso veículo de
manifestação.”
Troca de idéias entre Chico e
Wantuil quanto ao título do novo
livro de André Luiz, título que, conforme mencionamos, fica sendo,
afinal, “Libertação”.
Em carta anterior (de 28-1-1949)
o médium o anuncia e menciona
que há em suas páginas interessante
material sobre a obsessão.
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
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chico
Agosto 2010 | FidelidadESPÍRITA
A atual carta dá-nos ciência de
que para Emmanuel o título deveria
expressar a “missão libertadora de
Gúbio, efetuada pela força milagrosa do amor”.
“Libertação” apresenta um caso
de obsessão, o de Margarida, e todo
o complexo processo de desobsessão
visto pelo lado espiritual.
Pela primeira vez inteiramo-nos
dos detalhes de como se realizam
os reajustamentos entre Espíritos,
promovidos pelos Instrutores Espirituais que se dedicam a esses
misteres.
A desobsessão não consiste apenas na doutrinação pura e simples
do obsessor, trazido às reuniões
mediúnicas próprias.
Os Espíritos envolvidos em
vingança, os que têm propósitos
maléficos, os que se organizam para
perseguir, pelo desejo único de praticar o mal, os que sentem nisso um
prazer e o executam com requintes
de perversidade, os que o fazem
por ignorância, enfim, todos os que
imbuídos dessas intenções buscam
influenciar os encarnados, transformando-se em algozes renitentes
e empedernidos no erro, não serão
convencidos ou demovidos de seus
projetos apenas pelo brevíssimo
tempo de uma doutrinação.
Na realidade, quando a Entidade perseguidora é trazida a uma
sessão de desobsessão pelos Mentores, todo o longo, moroso e difícil
empreendimento de resgatá-la já foi
efetuado.
Com que zelos e prudência os
Benfeitores Espirituais se entregam
a essa tarefa tão delicada; com que
bondade e dedicação se empenham
para despertar no infelicitador de
hoje os latentes sentimentos posiassine: (19) 3233-5596
tivos que tão habilmente sufocam
e ocultam; com que paciência e
perseverança aguardam o melhor
momento ou repetem as tentativas
sem jamais esmorecerem; com que
amor o fazem! Agora já o sabemos:
todo um minucioso plano é elaborado pelos Benfeitores da Espiritualidade, após cuidadosas pesquisas,
abrangendo os elementos envoltos
nas tramas urdidas. Investigam, detalham, sem desprezar as mínimas
possibilidades, vão aos meandros
do passado, mergulham nas teias
dessas vidas entrelaçadas até que
consigam desenredar toda a trama
e encaminhar algozes e vítimas à
reconstrução de seus destinos.
Essa a conquista pelo amor, este
divino sentimento que transforma,
redime e eleva o ser humano das
sombras para a luz.
A desobsessão é, em todos os
sentidos, um processo de libertação,
tanto para o algoz quanto para a
sua vítima, em qualquer plano se
situem.
Em seguida, comentários de
Chico a respeito de um confrade
que começa a apresentar inovações
em sua mediunidade, exigindo-se da
parte de Wantuil mais cautela.
Acordo final para que o verbo
“perder” permaneça em “Libertação”.
“Quanto ao “Voltei”, Emmanuel
insiste em que o nome a adotar-se
seja o de “Irmão Frederico” e nos
recomenda que ainda nos serão
apresentadas umas duas ou três
corrigidas para o texto, para que a
identificação verbal não seja feita.
São as passagens em que ele fala das
crônicas, no “Correio da Manhã”,
e em que diz (se diz) introdutor
do fonógrafo de Edison. Colherei
a opinião de Emmanuel para as
retificações e as enviarei. Diz o
nosso amigo que não convêm as
reticências, porque devemos tratar
de fazer assentamentos definitivos
de serviço para que, em nos desencarnando, não tenhamos a aflição
de vir consertar. (...) As reticências
toda vez que vistas acordariam
nos leitores um risinho produtor
de vibrações desagradáveis para o
Espírito do Sr. Figner, depois de
haver possuído ele tantos nomes
através de muitas reencarnações, ele
é o que é — irmão da Humanidade
e filho de Deus. As filhas, desse
modo, não terão com que proclamar afirmativas públicas desse ou
daquele teor e estaremos tranqüilos
por nossa vez.
(...) Peço a ti, D. Zilfa e ao Zêus
incluírem, de vez em quando, o
nome da Maria Pena Xavier nas
orações intercessórias. Trata-se de
minha irmã anteontem desencarnada em PL, depois de alguns meses
de tratamento e luta. Felizmente,
tudo correu bem, até o fim da tarefa. (...)“
Prosseguem os acertos sobre o
“Voltei”, na busca de uma forma
conciliatória que agrade e seja benéfica a todos os envolvidos.
Fonte:
SCHUBERT, Suely Caldas. Testemunhos de
Chico Xavier. Págs. 259 – 262. Feb. 1998.
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estudo
FidelidadESPÍRITA |Agosto 2010
A Fala dos Espíritos
por Therezinha Oliveira
OS ESPÍRITOS NOS FALAM
Os seres espirituais e imortais
não deixam de existir, quando
morre o corpo que animavam na
encarnação. Continuando vivos,
conservam inteligência e sentimento e se comunicam com os que
aqui ficaram, pela linguagem do
pensamento, que conhecemos sob
a denominação de telepatia.
Mas nem sempre os ainda encarnados estão exercitados nessa linguagem, para captarem, com clareza
e conscientemente, os pensamentos
que lhes enviam os que se encontram por ora libertos da matéria, no
intervalo de reencarnações.
Entretanto, mesmo não consciente e perfeitamente registrado
pelos encarnados, esse fenômeno
de comunicação mental entre “mortos” e “vivos” ocorre constantemente, sendo a origem das sugestões e
inspirações que nos alcançam com
maior ou menor frequência, sem
que saibamos discernir de quem e
de onde vêm.
Em alguns casos, porém, o encarnado chega a ouvir a mensagem
com sentido completo e até identifica o timbre da voz de seu emissor,
conseguindo, por vezes, identificar
quem está falando.
Para tanto, será preciso haver
condições de sintonia entre ambos e
uma vontade maior de comunicação
e de recepção que supere as naturais
limitações entre céu e terra. Talvez
ocorra, também, nesses casos, um
fenômeno não apenas intelectual,
mas de efeitos físicos.
Para os interessados, a doutrina
espírita oferece estudos mais aprofundados sobre esses processos da
comunicação entre os Espíritos
e nós, desde os pressentimentos,
intuições e inspirações, até a mediunidade de audição, propriamente
dita, que podem ser consultados
em vários capítulos de O Livro dos
Médiuns.
Registro, apenas, a realidade
do fenômeno da comunicação dos
Espíritos falando-nos à mente e
ao ouvido, para citar uns poucos
casos em que me foi dado ouvir
mensagens dos Espíritos, uma vez
que não possuo a mediunidade
ostensiva, caso em que as pessoas
veem, ouvem e sentem, com mais
frequência e mais nitidamente, as
manifestações dos invisíveis.
Quão importantes, porém, me
foram essas poucas vezes em que
pude conscientemente registrar a
fala de alguns participantes dessas
“nuvens de testemunhas” que nos
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cercam, no dizer do apóstolo Paulo,
para me solidificar a fé e a compreensão sobre a vida imortal.
Essa fé e compreensão é que
desejo partilhar com os leitores,
narrando alguns acontecimentos
que me foram ensejados.
MENSAGEM
CONSOLADORA
A prece é a elevação do pensamento ao alto, buscando simples
comunicação afetiva ou solicitando
ajuda, para nós mesmos ou para
outros, e nunca deixa de causar um
efeito benéfico em quem ora, seja
de renovação das energias, pacificação dos sentimentos, indicação de
caminhos a seguir.
Muitas vezes orei, na vida, em
momentos de alegria, de apreensão
ou apenas para obter convivência espiritual, e nunca me foi dado ouvir
em resposta nenhum pensamento
ou mensagem articulada.
Nada ouvia em resposta, mas
perseverava na oração, por compreender e saber da realidade
dos dois planos de vida, o além
e o aquém, a se interpenetrarem segundo as leis e para os fins da sábia
e bondosa Providência Divina.
Certa vez, porém, coração conassine: (19) 3233-5596
estudo
Agosto 2010 | FidelidadESPÍRITA
frangido, mergulhada em tristeza,
viajava eu em ônibus intermunicipal, rumo a uma tarefa de pregação
na capital paulista.
Procurando que o passageiro ao
lado não me percebesse os olhos
marejados, elevei o pensamento a
Deus, suplicando: Tem misericórdia
de mim!
Para minha surpresa, ouvi uma
voz feminina assegurar: “Você tem
a proteção divina e...”. Permito-me
ocultar, por muito pessoal, a rápida informação que me foi dada,
então.
Junto com a mensagem, devia
haver um componente de vibração
e energia benéfica, vinda daquela
entidade benévola, pois que me
senti inteiramente renovada. Não
obstante, registrava o inusitado do
ocorrido e parei instantaneamente
de chorar, como se não me sentisse
mais autorizada a qualquer lamentação.
Por que dessa vez percebi uma
resposta e nada em outras vezes?
Será porque nem sempre oramos
com verdadeira fé e nem sempre
há uma real necessidade no que
pedimos? O fato é que a intensidade
e veracidade do sentimento que me
levou àquela exclamação rompeu
barreiras e alcançou sintonia no
plano espiritual, consolando-me e
ensinando-me de modo indelével.
til numeroso, de repertório vasto,
acompanhado de muitos assistentes, fazendo o ambiente festivo mas
bastante tumultuado.
Em seguida, veio um grupo de
adultos também cantando demoradamente e com mensagens nem
sempre adequadas a um local onde
se realizaria um estudo doutrinário.
Sentada na platéia, eu me recordava de comentários na família
sobre eu me ausentar muito e
pensava:
— Será que faço bem em me
ausentar casa, talvez sobrecarregando os familiares que lá ficam,
e vir a outra cidade realizar uma
palestra? Será isso tão necessário e
importante?
E o tema que me marcaram é de
estudo, requerendo toda uma hora
de exame da questão.
Será que este ambiente comportará? Não será vaidade de minha
parte manter as viagens doutrinárias, como às vezes me sugerem?
Repentinamente ouvi uma voz
de homem a dizer: “Você não sabe
dos desígnios divinos.
Sirva!” De novo o inesperado,
eu só estava pensando! Mas alguém
ouvia o que eu pensava e com severidade me advertiu.
E eu não sabia, mesmo, dos
desígnios divinos, pois o ambiente
do salão se modificou
quando o público que ali estava
saiu e entraram outras pessoas, para
quem a palestra programada estava
perfeitamente adequada.
Reparei, nessa oportunidade,
UMA REPRIMENDA
Cheguei a um bairro da capital
de São Paulo, em local não espírita,
mas que, àquela noite, fora cedido
para uma palestra doutrinária, que
me competia fazer.
Ainda era cedo e o local estava
sendo utilizado por um coral infanassine: (19) 3233-5596
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estudo
FidelidadESPÍRITA |Agosto 2010
que os bons Espíritos são sucintos
no falar e dizem com objetividade o
que é necessário. Nunca são longas
digressões. Talvez pela nossa própria dificuldade de sintonizar mais
demoradamente com eles.
Então, falam pouco, mas falam
bem, conseguindo, em poucas palavras, informar, esclarecer e ajudar.
A FALA DE UM
ADVERSÁRIO
Era um sábado de tarde. Caminhando pela calçada, dirigia-me
para uma reunião da diretoria do
Centro Espírita.
De súbito, uma indagação se fez
em minha mente. Não deu para
identificar qualquer voz, mas o
pensamento era claro: “Você é uma
mulher forte?”
Desprevenida, pus-me a recordar
as lutas da vida em que, graças ao conhecimento espírita, e certamente
à ajuda dos benfeitores espirituais,
pude superar situações trabalhosas
e difíceis.
Acreditando estar pensando
“com os meus botões”, respondi
mentalmente: “Sim, eu sou uma
mulher forte...”.
No instante seguinte eu estava
estatelada na calçada, batera o rosto
no chão e fraturara o nariz.
Levantei-me, o rosto a sangrar
olhei para a rua, onde os carros
haviam parado por causa do sinaleiro, e pedi a um motorista que
me ajudasse. Prestativo, ele desceu
e me ajudou a entrar no carro. Ofereceu-me um rolo de papel para ir
aparando o sangue que continuava
a jorrar. Pedi-lhe que me levasse ao
pronto-socorro, que felizmente era
ali perto.
Chegando lá, o fraterno motorista queria entrar comigo, mas
agradeci e o liberei, dizendo que
conhecia o local. Fui bem atendida
e horas depois, devidamente medicada, voltei para casa.
O autor da pergunta fora um
adversário espiritual, por causa das
atividades benfeitoras que o Centro
Espírita realizava. Pretendia dificultarme a presença nas reuniões,
tanto administrativas como nas de
assistência espiritual, o que não
conseguiu de todo, porque na outra
semana, apesar da cara arrebentada,
lá estava eu com os demais companheiros nas lides doutrinárias.
E testemunhei ser mesmo uma
mulher forte, que forte temos todos
de ser nas lutas da nossa vida, já
que possuímos o esclarecimento
espírita e contamos com o amparo
constante dos bons Espíritos, não
obstante os obstáculos que se nos
anteponham.
Aprendi nesse episódio, que
mais do que supomos vivemos em
intercâmbio de pensamentos e
sentimentos com o plano invisível,
cabendo-nos vigiar e orar, para não
cairmos quando nas experimentações da fé.
AVISO PROTETOR
Morávamos ainda na capital
paulista, minha família e eu. Recordo-me bem do sobradinho e
do quarto fronteiro, na parte de
cima, em que eu e minha irmã
dormíamos.
Uma tarde de domingo, sentada
na cama, eu me entretinha lendo
um livro. Sem razão aparente, parei
de ler, olhei na parede ao lado, o
local da tomada, e vi uns fios de-
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sencapados, torcidos um para cada
lado, distanciados entre si.
Então, me veio o pensamento:
“Se o gato subir aqui (sim, tínhamos um gato muito querido) e for
brincar com esses fios, poderá levar
um choque. Vou querer socorrê-lo,
mas não devo tocar nele. Que fazer?
Ah, no banheiro há um tapete de
borracha, com ele pegarei o gato e
o libertarei”.
Quando acabei de ter toda essa
ordem de raciocínios, pensei comigo: “Que absurdo! Cada tolice que
a gente pensa...”. E voltei à leitura
interrompida.
Logo escutei um miado dolorido
e, quando olhei para a tomada, lá
estava o gato preso, recebendo a
descarga elétrica.
Lembrando dos pensamentos
de há pouco, contive a vontade
de segurar o bichano e corri para
o banheiro à procura do tapete de
borracha.
Voltei, rápida, com ele, mas o
gato já fora atirado à distância e
lambia os beiços chamuscados...
Que conclusão tirei de tudo
isso?
A de que os bons Espíritos não
podem tolher o livre-arbítrio de
Espíritos que nos queiram fazer
algum mal, até mesmo agindo sobre
animais ou outras pessoas ao nosso
redor, mas podem nos inspirar as
atitudes corretas para que enfrentemos com bom êxito a dificuldade
que esses maus Espíritos quiserem
nos causar.
Fonte:
OLIVEIRA, Therezinha. Coisas que eu não
Esqueci Porque me Ensinaram Muito. Págs. 5 – 21.
Editora Allan Kardec. 2010.
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mensagem
Agosto 2010 | FidelidadESPÍRITA
A Duas Estradas e as Duas Portas
por Cairbar Schutell
“Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta e espaçosa é a estrada que conduz
à perdição, e muitos são os que entram por ela; porque estreita é a porta e apertada
a estrada que conduz à Vida e poucos são os que acertam com ela.”
(Mateus, VII, 13-14.)
D
uas são as estradas que
se apresentam aos homens: a da Evolução e
a da Degradação.
Também são duas as portas que
se abrem à pobre criatura humana: a porta da Vida e a porta da
Morte.
Aqueles que caminham pela
Estrada da Evolução, hão de, forçosamente, passar pela porta estreita
que conduz à Vida.
Os que descem o declive da degradação, hão de atravessar a porta
larga para viverem na Morte!
Há vida na Vida e há “vida” na
Morte!
Na vida da Terra há morte; na
Vida do Espaço a vida venceu a
Morte.
A Estrada da Evolução é apertada, poucos são os que acertam com
ela, mas grande é o número dos que
não querem acertar, pois ouviram
dizer que ela é “apertada”.
A Estrada da Degradação é larga,
muitos são os que por ela passam
e dela não querem sair, por ser
espaçosa e facultar-lhes uma série
considerável de diversões.
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A Estrada do Progresso vê-se
com os olhos da alma, e a alma a
deseja, ardentemente, para a aquisição de seus destinos felizes; a da
Degradação proporciona no presente os gozos efêmeros do mundo e o
homem material por ela caminha
preso a essas delícias pereciveis.
Evolução e entrar-se pela porta do
Progresso, é preciso Prudência,
Fortaleza, Temperança, Retidão,
Fé, Esperança e Caridade. Por isso:
“Estreita é a porta e apertado é o caminho que conduz à Vida, e poucos
são os que acertam com ela.”
A Estrada da Degradação é a da
Na vida da Terra há morte; na Vida
do Espaço a vida venceu a Morte.
A Estrada do Progresso, por ser
apertada, exige conhecimentos,
reclama atenção, critério, raciocínio, para que não se decline para a
direita ou para a esquerda.
A Estrada da Degradação é
guarnecida de todos os atrativos,
festejada com todas as músicas:
nela os cinco sentidos humanos
se fascinam, embriagam-se pelas
sensações exteriores, aniquilando
o Espírito que fala à consciência,
adormecendo a alma que deixa de
agitar a razão.
Para subir-se pela Estrada da
Soberba, da Avareza, da Luxúria, da
Ira, do Ódio, da Gula, da Preguiça,
da Inveja, de que o mundo está
cheio; eis porque: “Larga é a porta
e espaçosa é a estrada que conduz
à perdição e muitos são os que por
ela entram.”
Entrai pela Porta Estreita porque
é a que dá entrada à Vida Eterna.
Fonte:
SCHUTELL, Cairbar. Parábolas e Ensinos de
Jesus. Págs. 154 – 155. O Clarim. 1979.
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esclarecimento
FidelidadESPÍRITA |Agosto 2010
Os Mortos sairão de
seus Túmulos
por Allan Kardec
— Povos, escutai!... Uma voz se faz
ouvir de um extremo a outro dos mundos:
é a do precursor anunciando a vinda do
Espírito de Verdade, que vem endireitar
os caminhos tortuosos por onde o espírito
humano se desgarrava em falsos sofismas.
É a trombeta do anjo vindo despertar os
mortos para que saiam de seus túmulos.
Muitas vezes tendes lido a revelação
de João e vos perguntastes: Mas, que
quer ele dizer? Como se cumprirão
essas coisas surpreendentes? E, confusa, vossa razão mergulhava num tenebroso labirinto, de onde não podia
sair, porque queríeis tomar ao pé da
letra o que estava escrito em sentido
figurado.
Agora que chegou o tempo em
que uma parte dessas predições vai
cumprir-se, pouco a pouco aprendereis a ler nesse livro onde o discípulo
bem-amado consignou as coisas que
lhe tinha sido dado ver. Entretanto,
as más traduções e as falsas interpretações ainda vos aborrecerão um pouco,
mas com um trabalho perseverante
chegareis a compreender o que, até
o presente, tinha sido para vós uma
carta fechada.
Apenas compreendei que, se Deus
permite que os selos sejam levantados
mais cedo para alguns, não é para que
esse conhecimento fique estéril em
suas mãos, mas para que, pioneiros
infatigáveis, desbravem as terras incultas; é para que fecundem com o
doce orvalho da caridade os corações
ressequidos pelo orgulho e impedidos
pelos embaraços mundanos, onde a
boa semente da palavra de vida não
pôde ainda germinar.
Ah! quantos encaram a vida humana como devendo ser uma festa
perpétua, em que as distrações e os
prazeres se sucedem sem interrupção!
Inventam mil nadas para encantar
os seus lazeres; cultivam seu espírito,
porque é uma das facetas brilhantes
que servem para fazer ressaltar sua
personalidade; são semelhantes a
essas bolhas efêmeras, refletindo as
cores do prisma e se balançando no
espaço: atraem os olhares por algum
tempo, depois as procurais... e elas
desapareceram sem deixar traços. Do

10
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esclarecimento
Agosto 2010 | FidelidadESPÍRITA
mesmo modo, essas almas mundanas
brilharam com uma luz que não lhes
era própria, durante sua curta passagem terrena, e dela nada restou de útil,
nem para os seus semelhantes, nem
para elas mesmas.
Vós que conheceis o valor do
tempo, vós a quem as leis da eterna
sabedoria são reveladas pouco a pouco, sede nas mãos do Todo-Poderoso,
instrumentos dóceis servindo para
levar a luz e a fecundidade a essas
almas, das quais é dito: “Têm olhos
e não vêem, ouvidos e não escutam”,
porque se tendo desviado do facho da
verdade e escutado a voz das paixões,
sua luz não passa de trevas, em meio
das quais o Espírito não pode reconhecer a estrada que o faz gravitar
para Deus.
O Espiritismo é essa voz poderosa
que já repercute até os confluis da
Terra; todos a ouvirão. Felizes os que,
não tapando voluntariamente os ouvidos, sairão de seu egoísmo, como o
fariam os mortos de seus sepulcros,
e daí por diante realizarão os atos
da vida verdadeira, a do Espírito se
desembaraçando dos entraves da matéria, como fez Lázaro de seu sudário,
à voz do Salvador.
O Espiritismo marca a hora solene
do despertar das inteligências que usaram o seu livre-arbítrio para se demorarem nos atalhos lamacentos, cujos
miasmas deletérios infectaram a alma
com um veneno lento, que lhe dá as
aparências da morte. O Pai celeste tem
piedade desses filhos pródigos, caídos
tão baixo que nem mesmo pensam
na morada paterna e é para eles que
permite essas manifestações brilhantes, destinadas a convencer que, além
deste mundo de formas perecíveis, a
alma conserva a lembrança, o poder
e a imortalidade.
Possam eles, esses pobres escravos
da matéria, sacudir o torpor que os
impediu de ver e compreender até
hoje; possam estudar com sinceridade,
a fim de que a luz divina, penetrando
sua alma, dela expulse a dúvida e a
incredulidade.
João Evangelista — Paris, 1866
Fonte:
Revista Espírita, 1868.
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Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP
11
diálogo
FidelidadESPÍRITA |Agosto 2010
Diálogo com
Divaldo
1.8 - Contribuições ao Centro Espírita
Quais as contribuições que poderiam
ser levadas ao Centro Espírita para
o aprimoramento de suas atividades,
tanto no campo administrativo quanto
no doutrinário?
Divaldo - Aprofundar mais o estudo e a vivência da Doutrina Espírita. Há uma tendência,
talvez ingênua e possivelmente honesta, de se
pensar, de alguma forma, que o
Centro Espírita,
vinculando-se
tão somente às
diretrizes evangélicas, realiza
o s e u m i s t e r,
O propósito é
muito nobre,
mas não é um
propósito espírita, porque se o fora, as igrejas
protestantes, as instituições cristãs de todo o
porte, poderiam ser, também, catalogadas como
Entidades Espíritas.
Allan Kardec é muito claro na introdução
de O Livro dos Espíritos, quando caracteriza o
Espiritismo e o comportamento espírita, informando sobre a crença em Deus, a imortalidade
da alma, a comunicabilidade dos Espíritos, a multiplicidade dos mundos habitados, o exercício da
caridade, a vivenda dos postulados morais... etc.
(Item 6 e seguintes da “Introdução ao Estudo
da Doutrina Espírita”).
O Centro Espírita não pode
prescindir da vivência da Doutrina
Espírita, conforme os postulados
apresentados pelos Espíritos
O Centro
Espírita não
pode prescindir
da vivência da
Doutrina Espírita, conforme os
postulados apresentados pelos
Espíritos e codificados por Allan
Kardec.
Há uma tendência natural para a vivência,
pura e exclusivamente do Evangelho; merece,
porém, recordar que o próprio Evangelho deve

12
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP
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diálogo
Agosto 2010 | FidelidadESPÍRITA
Diálogo com
Divaldo
ser examinado à luz do Espiritismo, por causa
das colocações ancestrais e do atavismo que
trazemos das outras religiões.
O bem é bom em qualquer situação, porém
o bem, conscientemente realizado, é muito
melhor nos resultados que persegue. O bem, à
luz da Doutrina Espírita, a fim de que o Evangelho, no Centro
Espírita, volte a
ter o vigor do
Cristianismo primitivo e não das
diretrizes que
foram impostas
ao Cristianismo
através da história, numa falsa
vivência evangélica. Muitas pessoas argumentam, afirmando
ser Chico Xavier o homem evangélico por
excelência. E, de fato, ele o é, porque nunca
se aparta da diretriz Kardeciana. E generoso
e fraternal para com todos, sem abandonar o
comportamento espírita, porque aderir é uma
coisa e ser conveniente é outra. Poderemos ser
muito gentis com todos, sem abdicarmos dos
nossos postulados.
O Centro Espírita não pode abdicar das
austeras diretrizes da Codificação, para que não
se transforme numa miscelânea de conceitos e
objetivos que podem ser muito parecidos com a
Doutrina Espírita, mas não são a Doutrina Espírita. “Parecer
— já diz o
velho chavão —
não é ser”. Podemos encontrar
uma coisa muito agradável e
tentar introduzir
no mecanismo
da Casa Espírita.
Isto será sempre, porém, um apêndice perigoso, porque descaracteriza a atividade espírita
na Casa, que deveria preservar, pela vivência e
pela melhor atividade coerente, os postulados
da Doutrina Espírita.
O bem é bom em qualquer
situação, porém o bem,
conscientemente realizado, é muito
melhor nos resultados que persegue
assine: (19) 3233-5596
Fonte:
FRANCO, Divaldo. Diálogo com Trabalhadores e Dirigentes Espíritas.
U.S.E. 2001.
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13
CAPA
FidelidadESPÍRITA |Agosto 2010
Nas Fronteiras da Epilepsia
por Prof. Dr. Núbor Orlando Facure
D
ostoiewisk e Machado de Assis, portadores de epilepsia, utilizaram-se
de protagonista de seus romances
para descreverem suas próprias crises. Vultos
ilustres da História tiveram epilepsia, mas, para
o homem comum, é na sarjeta das ruas que ele
costuma tomar contato e se amedrontar com a
violência da crise convulsiva.
Embora Hipócrates tenha feito em seus escritos uma brilhante descrição da crise do Grande
Mal, indicando o cérebro como o responsável
por toda essa sintomatologia, a Epilepsia foi tida
como uma doença mental pelos séculos afora
e só depois do surgimento da Neurologia, no
século passado, é que a Epilepsia passou a ser
compreendida como uma síndrome decorrente
de uma lesão orgânica no cérebro.
Hoje entende-se a epilepsia como uma descarga elétrica desorganizada que atinge os neurônios
cerebrais, provocando sintomas correlacionados
com a área cerebral afetada.
Embora os relatos mediúnicos do porte de No
Mundo Maior e Nos Domínios da Mediunidade
14
ditados pelo Espírito André Luiz, façam descrições inconfundíveis de sintomatologia epiléptica
em seus protagonistas, submissos à interferência
espiritual francamente obsessora, a medicina
de hoje rejeita qualquer presença espiritual na
gênese de crises epilépticas, especialmente pelo
temor de ver ressurgir a nefasta participação de
“demônios” dos antigos textos bíblicos, versão
da qual a Idade Média e a Inquisição souberam
tirar proveito.
Os exames sofisticados de hoje identificam
os traumas, as infecções, os tumores e as degenerações entre diversas outras causas de natureza
orgânica para a etiologia da Epilepsia, entretanto, nenhum desses exames está apropriado para
detectar as vibrações do plano espiritual que
nos fariam compreender mais profundamente a
natureza essencial do problema da Epilepsia.
Nem sequer de longe pretendemos excluir a
gênese cerebral da manifestação epiléptica, mas
a visão exclusivamente materialista da Medicina
tradicional a envolve de um obscurantismo estúpido que não lhe permite identificar um outro
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

assine: (19) 3233-5596
CAPA
Agosto 2010 | FidelidadESPÍRITA
universo de interferência situado
na dimensão espiritual que, como
causa ou como agravante, interfere
na freqüência e na constelação de
sintomas que o epiléptico manifesta.
Negando a interferência do
Espírito, a Medicina não consegue
enxergar que, através do próprio
estudo da Epilepsia, ela teria muito o que aprender, por exemplo,
com o que os pacientes epilépticos
vivenciam durante as chamadas
“crises psíquicas”, nas quais observa-se uma riqueza de expressão
clínica cognitiva, que o simples
desarranjo de neurônios em “curtocircuito” não tem argumentos para
justificar.
Na classificação das crises epilépticas, a Neurologia destaca um tipo
de crise chamada Crise Focal ou
Parcial em que não há comprometimento da consciência e a sintomatologia será decorrente do local no
cérebro afetado pela descarga neuronal desorganizada. Na área motora,
o paciente irá apresentar contrações
musculares na mão, no braço, na
perna ou em qualquer outra parte
do corpo correspondente à região
motora do cérebro afetado.
Numa área sensitiva, os sintomas
serão referidos como adormecimentos, sensações estranhas ou deformações no membro atingido.
No grupo das crises focais é que
estão incluídas as crises psíquicas
nas quais o paciente relata sensações subjetivas que experimenta
espontaneamente, podendo ter duração de minutos, horas ou dias.
As descrições clássicas das crises
psíquicas fazem referência mais comumente às crises de “Dejá vú” e de
“Jamais Vú”. Esses dois quadros são
assine: (19) 3233-5596
reconhecidos como decorrentes de
lesões na base do cérebro na região
dos lobos temporais.
No “Dejá vú” (já visto), o paciente relata uma sensação de familiaridade com o ambiente ou com as
pessoas, mesmo que lhe sejam estranhas e que ele as esteja vendo pela
primeira vez. Num local que lhe seja
completamente desconhecido, o
paciente, ao ter sua crise, sente uma
forte impressão de que já conhece
ou já esteve naquele lugar.
Na crise do “Jamais vú” (jamais
visto), o paciente manifesta sensação de estranheza em lugares
conhecidos ou por pessoas da sua
convivência.
Ambas as situações que descrevemos podem ocorrer ocasionalmente
com qualquer pessoa normal, mas,
no epiléptico, essas sensações são comumente repetitivas e duradouras.
Muitos epilépticos apresentam
crises psíquicas freqüentes mas que
mos adequados para descrevê-las.
Elas merecem, ao meu ver, um
estudo meticuloso, procurando-se
valorizar as verdadeiras sensações
dessas experiências subjetivas, que
os pacientes procuram nos passar,
sentindo inclusive, com freqüência,
a incredulidade que a maioria dos
médicos manifesta ao ouvi-los.
Os relatos dessas crises, à primeira vista, parecem inconsistentes, inverossímeis, superficiais,
misturando-se com os sintomas
da própria ansiedade com que os
pacientes convivem quando vítimas
desse tipo de crise. Elas podem ser
muito demoradas e não têm o caráter ictal de subtaniedade das crises
convulsivas. Não há uma afetação
da consciência mas sim da percepção de funções complexas como
da noção de tempo, do espaço, da
realidade, do movimento, da noção
do Eu e até do pensamento.
Essas várias sensações no nível
Muitos epilépticos apresentam
crises psíquicas freqüentes mas que
têm merecido pouco destaque por
parecerem corriqueiras
têm merecido pouco destaque por
parecerem corriqueiras, como as
mudanças súbitas de humor, um entristecimento súbito ou uma agressividade imotivada e desproporcional
que pode beirar a violência.
Neste artigo, estou interessado
em relatar outros tipos de crises
psíquicas, relativamente raras, em
que os próprios pacientes têm
muita dificuldade em achar ter-
de vivência psíquica do indivíduo,
a mim parecem fornecer preciosa
observação da fronteira entre as
experiências vividas física ou espiritualmente por esses pacientes.
Uns poucos relatos que fizeram
esses pacientes ajudaram-me a
confirmar que o mundo mental
de cada um de nós transita numa
dimensão espiritual que transcende

a experiência física.
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP
15
capa
FidelidadESPÍRITA |Agosto 2010
Um deles é médico, freqüenta
meu consultório desde garoto,
por ter convulsões decorrentes de
neurocisticercose e, recentemente,
procurou-me, acompanhado da
esposa, com uma certa inquietação,
tentando relatar que, nos últimos
dois dias, tinha perdido a capacidade de acompanhar a passagem
do tempo. Não era a identificação
do tempo, das horas ou do dia e
da noite. Ele dizia ser uma perda
da “noção do tempo”. Os acontecimentos processavam-se na sua
mente e quando ele se dava conta,
esses acontecimentos já tinham
acabado de ocorrer. Ao dirigir-se
para seu consultório, conduzindo
seu carro pela estrada, fazia as cur-
vas, mas sempre com a idéia de que
isso não lhe tomava tempo, porque
ocorria na sua mente, literalmente
falando, antes de acontecerem fisicamente. O que tinha em mente,
do trajeto que percorria, não era
uma imaginação, era o próprio
acontecimento. Dizia que não lhe
fazia sentido o antes ou o depois,
porque, tudo o que ocorria em
seqüência, ele vivenciava ocorrendo
simultaneamente. Sua esposa o auxiliava como auxiliar de anestesia e
na entrevista me contava que apesar
de permanecer o tempo todo com
essas sensações que descrevia. Ele
procedia normalmente enquanto
anestesiava seus pacientes, apenas
dizia que toda atitude que tomava
A neurologia descreve, também, um
estado de crise psíquica em que o
paciente tem a sensação constante
de estar vivendo um sonho
16
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP
já lhe parecia ter ocorrido não como
uma premonição, mas como um
acontecimento “já feito”, se assim
podemos dizer, por ele, e, ao terminar a anestesia, para sua mente,
os fatos lhe pareciam continuar
acontecendo.
A neurologia descreve, também,
um estado de crise psíquica em que
o paciente tem a sensação constante de estar vivendo um sonho. É
chamado de “Dreamy States” pelos
clássicos.
Tivemos dois pacientes que nos
relataram episódios em que sentiam
uma alteração no que eles chamavam de “realidade”. Uma jovem
senhora referia que essas sensações
a perturbavam há anos, principalmente à noite e se estivesse perto
de muitas pessoas. Isto a deixava
insegura. Parecia fazer as coisas
por instinto. Insistia em dizer que
nas crises tinha a sensação de estar
vivendo em um “estágio antes da
realidade”.
Um outro paciente com crises
semelhantes a acrescentava que
também tinha a impressão de “não
estar vivendo a realidade” e tudo
que fazia, para ele, “não tinha conteúdo emocional”.
Duas crianças e dois adultos jovens, que já acompanhávamos por
antecedentes de convulsões, nos
relataram episódios de percepção
alterada no movimento dos objetos
e do próprio pensamento.
Ouvi deles expressões do tipo:
“os movimentos das coisas e das
pessoas parecem aceleradas”: “quando estendo as mãos para pegar um
objeto, parece que meus gestos são
muito rápidos”; as pessoas atravessam a rua muito depressa”; “fica
difícil atravessar a rua com os carros
assine: (19) 3233-5596
capa
Agosto 2010 | FidelidadESPÍRITA
todos correndo”; “tudo ao redor
parece estar acelerado”; “as pessoas
parecem falar muito rápido”. Um
dos garotos dizia ser acordado pela
crise. Para um deles, o seu próprio
pensamento, quando em crise, parecia acelerado.
Nessas horas ele evitava o diálogo
com receio de demonstrar aos outros alguma perturbação. Um desses
pacientes, com 23 anos, é pintor e
dizia que nas crises sentia que tudo
passava lentamente, seus próprios
gestos ao lidar com o pincel lhe pareciam ser feito em câmara lenta, embora seus colegas não confirmavam
essa vagareza. Ele se sentia assim
por mais de uma semana seguida,
entrando e saindo das crises sem
qualquer motivo aparente.
Uma senhora que também
acompanhávamos por ter desmaios,
tinha um eletrencéfalo com alterações focais no hemisfério esquerdo
e uma tomografia cerebral típica
de neurocisticercose. Ela contava
que vinha tendo episódios em que
parecia se deslocar, sentia-se estar
muito longe, “como se num outro
mundo”, “ocupando um outro espaço”. Esses episódios duravam 20
minutos e, a seguir, mantendo-se
sempre muito lúcida, ela sentia a
cabeça vazia, ficava pálida e ofegante. Outros quadros, mais complexos
e às vezes muito elaborados, têm
sido rotulados como alucinatórios
e comumente relacionados com as
disritmias do lobo temporal ou as
patologias do sono.
Alguns pacientes dizem sentir-se
fora do corpo, sensação que a neurologia chama de “despersonalização”.
Para outros, os objetos que vêem ou
os sons que ouvem, estão aumentados, diminuídos ou distorcidos.
assine: (19) 3233-5596
Às vezes há uma concentração de
cenas e episódios memorizados e o
paciente, num relance, recapitula
toda a sua existência. Dá-se o nome
de “visão panorâmica” da vida.
Tivemos, entre muitos outros,
o caso de uma garota de nove anos
que nos consultava devido manifestações comuns de epilepsia.
Ela nos relatou que por algumas
ocasiões, estando absolutamente
desperta, se sente saindo do seu
corpo em completa lucidez. Numa
dessas últimas crises estava sentada
no sofá, assistindo televisão quando, subitamente, se vê, ao lado do
corpo físico. Questionei sobres seus
medos nesta hora e qual sua atitude
ao se ver nessa duplicidade.
Ela respondeu-nos com muita
simplicidade que, assustada, procurou se dirigir para perto da televisão
para ver se o seu corpo ali sentado
a acompanhava.
Os quadros que descrevemos
não surpreenderiam qualquer neurologista habituado a atender casos
de epilepsia. Seguramente serão
atribuídos à presença de distúrbios
da atividade neuronal, especialmente do lobo temporal e a maioria
deles vai se ver livre dessas crises
com medicação disponível para
atuar especificamente nas disritmias
dessa região.
É curioso, entretanto, que, essas
descrições, os relatos de como esses
pacientes vivenciam ou “decodificam” a noção do sentido do tempo,
da apreensão da realidade, da relação espaço-tempo no deslocamento
dos objetos, da síntese e projeção
do pensamento, nos permite despretensiosamente conjeturar uma
série de semelhanças com certas
descrições não acadêmicas na lite-
ratura espiritualista.
Os textos especializados em
descrições sobre técnicas de meditação, por exemplo, revelam que os
“grandes mestres” e “místicos” que
atingem os graus mais profundos de
interiorização da consciência, fazem
interessantes descrições em ralação
ao sentido do tempo, ao espaço
ocupado pela matéria, à velocidade
das partículas de matéria/energia
que sintonizam, bem como, o turbilhão do fluxo do pensamento,
descrições estas, que ao meu ver,
têm correspondência muito provocativa com as dos epilépticos que
aqui registramos.
Para nós, espíritas, os conceitos
de tempo no mundo espiritual, de
espaço na dimensão extra-física,
de projeções do pensamento, de
deslocamento do corpo espiritual
podem ser facilmente reconhecidos nessa série de histórias que
registramos. As lesões objetivas que
a massa cerebral evidencia nesses
quadros são, para mim, nada mais
que portas de intercessões entre as
duas dimensões, a expressão física
de uma realidade que o corpo
nos permite palpar e a percepção
espiritual que vivenciamos sem os
sentidos perceberem.
O autor, Dr. Nubor Orlando Facure, espírita
desde criança, especialista em Neurologia,
diretor do Instituto do Cérebro de Campinas, ex-professor titular de Neurocirurgia da
UNICAMP, pesquisador, escritor e expositor
espírita, é colaborador desta Revista.
Fonte:
http://nuborfacure.blogspot.com/
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP
17
compreensão
FidelidadESPÍRITA |Agosto 2010
Nova Ordem Social
por Eurípedes Barsanulfo / Divaldo Pereira Franco
A
nova ordem social por
todos anelada, na qual
os direitos do homem
constituam a essência das expressões
dignificadoras, não poderá ser estabelecida pelo desrespeito à ordem
vigente, nem por meio da convulsão
fratricida.
Todo empreendimento de elevação moral da sociedade, nos dias
modernos, deve apoiar-se na educação infanto-juvenil - base do futuro
da humanidade - ao mesmo tempo
envolvendo as massas, nesse processo
de aquisição dos valores que estruturam o comportamento do individuo
para melhor compreender e viver os
objetivos da sua evolução.
Sem uma consciência das nobres
finalidades da vida, o homem pode
adquirir recursos para a sua comodidade e a do clã, nunca, porém, para
a felicidade, a paz interior.
Transposta a meta imediatista do
que considera essencial, parte, insatisfeito ou atormentado, deprimido
ou violento, na busca de novas sensações que o atraem pela novidade ou
que o perturbam, graças à comunicação massificadora decorrente dos
veículos de informação.
Por outro lado, a metodologia da
afirmação dos interesses, mediante
a imposição da violência e do constrangimento, redunda no esvaziamento ideológico pelos desforços
18
que inspira e graças às reações de
igual teor que provoca.
Dessa atitude para a insurreição,
a luta de classes e as famigeradas
reações terroristas, que abrem as
portas para as guerras civis, há um
passo apenas, conduzindo o povo
a mergulhar nos ódios acirrados e
criminosos.
Dir-se-á que a mão armada, através da História, levantou impérios
e nações, arrancando-os do talante
infeliz de ditadores famigerados que
usurparam o poder...
sem deixar de conquistar alguns dos
seus exploradores, que se renderam
ao conteúdo da Sua ideologia superior.
Zaqueu, de tal forma se permitiu
convencer da verdade que Ele ensinava, que propiciou soldo digno
aos servos, propondo-se a resgatar
qualquer dívida, com correção monetária excessiva.
Nicodemos ficou tão perplexo
ante a inteireza revolucionária dos
Seus ensinos, que Lhe propôs a magna questão dos destinos humanos
Todo empreendimento de elevação
moral da sociedade, nos dias
modernos, deve apoiar-se na
educação infanto-juvenil
Não nos referimos, porém, a tal
questão política, senão à social de
profundidade, que é a do homem
em si mesmo, transformando-se e
moralizando-se, do que decorrerá a
sua real conquista e integração nos
códigos da justiça e da liberdade.
Nesse sentido, o movimento de
renovação social teve começo, nas
suas expressões mais legítimas, com
Jesus, que sensibilizou as massas
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP
quanto à necessidade da vida eterna,
recebendo a resposta que a propicia
ao homem em termos de plenitude,
por meio da reencarnação.
José de Arimatéia respeitou-Lhe
os postulados, dos quais se convenceu, tornando-se-Lhe simpático e
adeso.
Pilatos, aferrado à dominação arbitrária que a posição governamental
lhe impunha, perturbou-se de tal
assine: (19) 3233-5596
compreensão
Agosto 2010 | FidelidadESPÍRITA
forma que, irresoluto, foi vencido
pela “consciência de culpa”, caindo
em torpe alienação mental.
E quantos outros, que não tiveram a coragem de adotar a Sua
conduta?
A Sua mensagem foi tão extraor-
logrados os objetivos dos “direitos do
homem”, por negligência do próprio
homem, que ainda confunde liberdade com licença, direito com desrespeito, fraternidade com exploração
do mais fraco e dependente...
O progresso é lei inevitável no
O Espiritismo possui a chave para
o problema, educando o homem,
moral e espiritualmente
dinária, que nem o túmulo, após a
crucificação do Excelso Revolucionário do amor, conseguiu encerrar
o Seu apostolado...
Demonstrando pela confirmação, reiteradas vezes, a sobrevivência da vida, fez que os códigos da
justiça humana, ao largo do tempo,
sofressem modificações para melhor,
abrindo as portas para a fraternidade, a liberdade e o amor.
Certamente que ainda não foram
assine: (19) 3233-5596
processo de crescimento das sociedades. Todavia, cada conquista
realizada pela força produz desequilíbrios na área moral, que retardam
a marcha da evolução, em face do
imperativo da reencarnação que traz
de volta o agressor, o adversário, em
condição dolorosa que lhe propicia
reparar os danos assim sofrendo as
conseqüências dos seus atos transatos, não perturbando o processo da
evolução geral.
É comum este fenômeno nas
chamadas “sociedades ricas”, onde
o fantasma da miséria econômica
foi afastado, embora não totalmente,
mas permitindo, em contrapartida, a
miséria moral, que se reflete nos vícios, nos crimes, nas alienações e no
terrorismo como forma de afirmação
da personalidade das gerações novas
e insatisfeitas.
O Espiritismo possui a chave para
o problema, educando o homem,
moral e espiritualmente, auxiliandoo a sair da faixa dos instintos para os
sentimentos e destes para a razão.
Proclama a revolução moral,
imediata, cujas vítimas são os vícios
e as imperfeições, os atavismos
ancestrais negativos e as paixões
dissolventes...
Sem mecanismos de evasão à
responsabilidade, mas sem a violência geradora do caos, não se apóia
em pieguismos narcisistas e ergue
a flama da verdade, demonstrando
que o homem integral não é o vencedor transitório do mundo, mas o
conquistador de si mesmo, assim
fomentando o trabalho digno como
alavanca propulsora dos objetivos
que levam à nova ordem social, que
é de paz, de amor, de liberdade com
responsabilidade, de bem.
Para esse cometimento ninguém
se pode eximir, porquanto, membro
do organismo social, cada homem,
em se transformando para melhor,
está realizando o programa de revolução espiritual da nova ordem pela
qual todos lutamos.
Eurípedes Barsanulfo
Fonte:
FRANCO, Divaldo P. Páginas Elucidativas. Págs
17 – 21. Verificar...
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP
19
reflexão
FidelidadESPÍRITA |Agosto 2010
Os Vivos e as Outras Vidas
por Gabriela Carelli, com reportagem de Tiago Cordeiro e Thereza Venturoli
É
possível que a existência
humana, tão complexa e
rica, se dissolva quando
o coração pára? Com uma resposta
prática para essa questão crucial e
a promessa de comunicação direta
com os mortos, o espiritismo tornou-se a religião – ou, pelo menos,
a segunda opção religiosa – de 40
milhões de brasileiros
O homem passa boa parte do
tempo projetando o futuro. Descobrir o mundo, aprender novas
lições, apaixonar-se, gerar e criar
filhos, perseguir objetivos, aspirar
à felicidade. Tudo isso compõe um
ritual de celebração da vida e torna
início de outro tipo de existência,
que começaria pela sobrevivência
de uma parte da essência humana
– chame-se a ela de alma, espírito
ou qualquer outro nome. A crença
na vida após a morte é universal.
Os brasileiros, claro, não são exceção. Entre nós, talvez mais do que
entre outros povos, não apenas se
crê na eternidade da alma, mas se
dá como certo que a reencarnação
e a comunicação com os mortos
são possíveis.
Há nisso um sincretismo religioso tipicamente brasileiro. De acordo
com o IBGE, 74% dos brasileiros
declaram-se católicos, e a doutrina
da Igreja Católica não concebe a
A crença na vida após a morte é
universal
tão rica a aventura humana que
uma reflexão crucial se impõe: é
possível que a existência, tão complexa, se dissolva feito fumaça assim
que o coração e o cérebro param de
funcionar? Desde tempos imemoriais o homem se recusa a acreditar
nessa fatalidade. Todas as religiões,
sem exceção, enxergam na morte o
20
comunicação direta entre mortos
e vivos. Pelo menos não entre
mortais comuns e mortos idem. A
comunicação entre santos e mortais
é admitida pela doutrina católica.
Mas apenas quando ocorre um milagre. Coisa rara, como se sabe. Na
prática, boa parte desse contingente
católico também dirige sua fé ou
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP
sofre a influência de outro credo
sem expressão no exterior e que
só cresce no Brasil: o espiritismo.
Segundo essa doutrina, codificada
em 1857, na França, por Allan
Kardec – pseudônimo do pedagogo
Hippolyte Léon Denizard Rivail –,
a alma de todo ser humano morto
reencarna tantas vezes quantas
forem necessárias para que, devido
às boas ações, ela se purifique.
Quando atinge o patamar mais alto,
torna-se um espírito puro, livre de
imperfeições, e não mais retorna
ao corpo físico. O espiritismo também crê que, com algum treino,
qualquer pessoa pode se comunicar
com os mortos. A questão é: para
que fazer isso? Há várias respostas
possíveis. A primeira é receber conselhos e orientação daqueles que já
superaram os constrangimentos da
existência corpórea. A segunda diz
respeito à dor humana. Imagine
uma mãe que chora a perda de um
filho. Pode haver mais conforto que
um contato espiritual, no qual ele
lhe assegura que passa bem na vida
póstuma?
No princípio era o medo. E o
medo se fez crença. Para o sociólogo
alemão Max Weber (1864-1920)
essa seria a maneira mais simples de
explicar o surgimento das religiões
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reflexão
Agosto 2010 | FidelidadESPÍRITA
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que a pergunta seguinte seja: o que
vem depois?
Essa pergunta aparece nas obras
mais ancestrais da cultura humana.
Na cultura grega clássica era permitido às almas escolher novos seres
para encarnar, fossem humanos ou
animais. O ciclo de reencarnações
e renascimentos é o núcleo do hinduísmo e do budismo, e estava na
base da própria vida do Egito dos
faraós. Não por acaso, eles eram
sepultados com suas riquezas, para
que pudessem desfrutá-las no outro
mundo. Como os espíritas atuais, os
egípcios acreditavam que só depois
da morte a existência humana alcançava a plenitude. William Shakespeare reservou a um espírito um dos
papéis principais de sua obra-prima,
Hamlet. O pai do personagem-título, príncipe da Dinamarca, volta
em forma de fantasma para lhe informar que fora morto pela mulher
e seu amante, que lhe roubara o
trono. O célebre diálogo dessa peça
(“ser ou não ser”) trata exatamente
da angústia humana diante da impossibilidade de saber que sonhos
trará o sono da morte.
Além de cultivar ainda hoje os
ritos de origem africana, comuns a
diversos países onde a escravidão foi
a base da economia no passado, o
país sobressai nas estatísticas mundiais como a pátria do espiritismo
de inspiração kardecista – nome
que deriva do francês Allan Kardec, estudioso positivista do fim
do século XIX que produziu uma
versão cientificista dos fenômenos
religiosos focados na vida depois da
morte. Segundo a Federação Espírita Brasileira, mais de 40 milhões de
pessoas seguem a doutrina de Allan
Kardec no Brasil. Apenas 2% dos
brasileiros se dizem espíritas nos
censos oficiais. A imensa maioria
simplesmente acrescenta, sem drama de consciência, os ensinamentos
de Kardec aos das religiões que
professam oficialmente. Funcionam
no país 10.000 centros espíritas. Eles
eram apenas 3.000 no começo dos
anos 90. Duzentas editoras publicam somente livros voltados para a
comunidade espírita. Já foram vendidos 22 milhões de exemplares de
sete livros escritos por Allan Kardec
no Brasil.
Foto: Marcos Mauricio Pelicia
nas sociedades humanas. Por temor
à fome, aos perigos e à morte, em
determinada fase de sua evolução
cultural, a humanidade apegou-se ao
fervor religioso. Com ele veio a crença na vida eterna e no renascimento
da alma e até do corpo físico em
uma ou sucessivas existências. Veio
também a idéia de que é possível a
comunicação entre vivos e mortos.
De uma maneira ou de outra, as
convicções acima estão presentes em
quase todas as religiões, mesmo nas
que renegam essas facetas. Quando
um católico reza para um santo de
sua devoção ou quando, em caso de
milagre, uma figura sagrada lhe aparece em carne e osso ou em forma
éterea, está se dando uma espécie de
comunicação entre vivos e mortos.
Os budistas negam a existência de
uma alma substantiva, mas acreditam na transmigração do carma
– conjunto das ações dos homens e
suas conseqüências – em algo que só
pode ser definido como espírito.
Sigmund Freud (1856-1939),
criador da psicanálise, tinha uma
explicação para a prevalência na
história das sociedades humanas
da crença na transcendência do
espírito. Ela não difere muito da
de Weber. “Podemos dizer que,
para a psicanálise, conceitos como
reencarnação e comunicação com
os mortos servem de consolo para a
angústia que sentimos diante da finitude”, explica a psicanalista freudiana Karin Wondracek, professora da
Escola Superior de Teologia de São
Leopoldo, no Rio Grande do Sul.
De várias formas, os psicanalistas e
os místicos estão atrás de respostas
à mesma pergunta. O ser humano
já foi definido como o único animal
que sabe que vai morrer. É natural
Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP
21
reflexão
FidelidadESPÍRITA |Agosto 2010
A razão do sucesso é a mesma
que alavanca esse tipo de crença
em todo o mundo – e alavancou
no passado: a rejeição da idéia de
que o sofrimento, o som e a fúria
sem significado da vida humana
possam ser totalmente em vão. “O
espiritismo conforta seus seguidores
porque oferece explicações para
todas as mazelas da vida e coloca
o sofrimento como uma forma de
purificação da alma”, diz Antonio
Flávio Pierucci, sociólogo especialista em religiões da Universidade
de São Paulo. O espiritismo é mais
direto, mas oferece um produto
bastante similar ao das demais religiões. Todas prometem um mundo
melhor além-túmulo, em geral em
contato próximo com o esplendor
do Divino. O que o espiritismo tem
de próprio, ainda que não seja um
monopólio seu, é o fato de acenar
com a certeza de que, no futuro,
haverá outras vidas, quantas forem
necessárias, para tirar as manchas
da alma. “A doutrina católica não
ensina aos fiéis como lidar com a
dor que os mortos deixam nos vivos
nem explica as injustiças da vida.
Uma pesquisa recente mostrou que
51% dos americanos acreditam em
espíritos e 27% crêem em reencarnação. O que nos diferencia são a
respeitabilidade alcançada por essas
crenças na sociedade brasileira e as
dimensões do espiritismo no país.
O Brasil foi desde sempre um terreno fértil para crenças baseadas na
comunicação com os espíritos e na
reencarnação. Os escravos vindos
da África entre os séculos XVI e
XIX trouxeram crenças no contato
direto com o mundo dos mortos,
que floresceram e permearam todos
os estratos da sociedade. Também
os índios conversavam com seus
mortos, cujo espírito, acreditavam,
permanecia entre os membros da
tribo por algum tempo. Nos Estados Unidos, os negros e os índios
cultivavam práticas semelhantes,
mas elas foram perseguidas até a
extinção pelos protestantes – para
eles, o conceito de encarnação era
coisa do diabo, não de espíritos. Os
primeiros brasileiros foram mais tolerantes com o mundo mágico dos
escravos e dos índios, aproveitando-se das dificuldades encontradas
A crença maciça na reencarnação e
na comunicação com os mortos não é
uma extravagância brasileira
O sucesso do espiritismo deriva
justamente dessa capacidade”, diz o
frei Luiz Carlos Susin, professor de
teologia da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul.
A crença maciça na reencarnação
e na comunicação com os mortos
não é uma extravagância brasileira.
22
pela Inquisição para impor o rigor
católico na parte de baixo do Equador. Conclui Ceres Medina, antropóloga da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo: “Quando
as idéias de Allan Kardec chegaram
ao Brasil, pelas mãos da elite que
costumava estudar na França, foram
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assimiladas facilmente porque o
brasileiro já convivia com as práticas
espiritualistas”.
O espiritismo desembarcou no
Brasil no momento de crise política que antecedeu o advento da
República. Naquele período, havia
uma insatisfação com a cúpula da
Igreja Católica, ligada ao conservadorismo político da monarquia.
A doutrina de Allan Kardec era ao
mesmo tempo uma filosofia de vida
e uma lista de preceitos religiosos,
e os brasileiros foram hábeis em
transformar esse caldo em religião.
“Os adeptos procuravam usar ao
máximo os conceitos científicos em
voga na época, principalmente o racionalismo e o evolucionismo, para
justificar o espiritismo, o que dava
aos cultos uma respeitabilidade que
atraía a elite letrada”, diz José Luiz
dos Santos, chefe do departamento
de antropologia da Universidade Estadual de Campinas. “Para divulgar
a doutrina, a elite tratou de atrair
pobres como clientes. Já no fim
do século XIX eles procuravam os
centros espíritas para resolver seus
problemas de saúde”, explica ele.
O espiritismo deslanchou de vez
no Brasil pelas mãos do médium
mineiro Chico Xavier (1910-2002),
que se tornou uma celebridade
nacional ao receber diariamente,
em seu centro espírita, caravanas
intermináveis de crentes em busca
de curas e contatos com os mortos.
De origem humilde e com instrução
primária, o médium escreveu 400
livros atribuídos por ele a autores já
mortos e que venderam mais de 30
milhões de cópias. Para os milhares
de brasileiros que acorreram a ele,
no entanto, Chico Xavier era quase
um santo. “A grande contribuição
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reflexão
Agosto 2010 | FidelidadESPÍRITA
de Xavier foi mostrar o lado da
caridade que pontua a cartilha de
Allan Kardec”, diz Ceres Medina.
“Ao propagar a prática da caridade, ele humanizou o espiritismo e
acabou com o preconceito contra
ele”, completa. Em outros países,
o espiritismo kardecista não teve
tanta sorte. Em seu país de origem,
a França, ele definhou. “Até hoje
o espiritismo é confundido com
bruxaria”, disse a VEJA Charles
Kempf, coordenador do Centro de
Estudos Espíritas Léon Denis, da
cidade francesa de Thann. Kempf
tem uma explicação adicional para
o êxito do espiritismo no Brasil. É
uma explicação bem material. Se a
prática da caridade e do assistencialismo chancelou o espiritismo no
Brasil, na França isso não ocorreu. A
razão? O assistencialismo do Estado
francês funciona com razoável perfeição, não deixando espaço para os
espíritas utilizarem esse recurso para
angariar um rebanho maior.
“O espiritismo não consola,
explica as desgraças da vida”
Todas as noites Lily Marinho,
viúva do fundador das Organizações
Globo, Roberto Marinho, segue um
ritual: enche um copo de água e o
coloca ao lado do retrato do marido,
na cabeceira da cama. De manhã, joga
fora a água. “Dizem que tudo de ruim
fica concentrado ali”, diz Lily, que é católica, mas desde que o filho Horácio
morreu, em 1966, encontrou conforto
no espiritismo. Leu Allan Kardec, foi a
centros espíritas, visitou Chico Xavier
e chegou a ter uma visão. “Eu estava
em Paris quando vi Horácio, vestido
de branco, segurando uma criança.
Entendi que era um recado dele para
eu adotar um menino”, conta. Sete
meses depois da morte do filho ela
adotou um garoto, João Baptista.
Lily afirma ter encarado a morte de
Roberto de forma mais tranqüila e
que sente a presença dele pela casa.
Aos 84 anos, ela não tem o hábito
de ir à missa (apesar de ter providenciado celebrações em memória do
filho numa igreja de Milão), garante
que não teme a morte e acredita em
reencarnação. Diz Lily: “O espiritismo
não é um consolo. É uma explicação
para as desgraças da vida”.
“Uma carta psicografada mudou
minha vida”
Ex-jogadora da Seleção Brasileira
de Basquete, Maria Paula Gonçalves
da Silva, a Magic Paula, de 43 anos,
é espírita desde 1992. Conheceu a
doutrina em 1983, quando se submeteu a uma cirurgia espiritual, que
sanou uma lesão grave que tinha no
joelho. Em 1999, passou por uma
experiência marcante. Durante uma
sessão de massagem, a profissional
que a atendia passou mal e saiu da
sala. “Quando ela voltou tinha nas
mãos uma carta psicografada com
uma mensagem do meu pai”, diz
Paula. “Eu me senti culpada quando
ele morreu. A carta era sobre essa
culpa. Mudou minha vida.”
Hollywood e o
cenário do além
Uma série de sucessos de bilheteria cujo tema é a comunicação entre
vivos e mortos reflete o interesse
despertado pelo tema, sobretudo o
existente nos Estados Unidos, onde
os filmes são produzidos. As pesquisas mostram que mais de 50% dos
americanos acreditam em espíritos,
27% deles, em reencarnação, e nove
em dez estão certos de que a alma
sobrevive à morte. À esquerda,
Nicole Kidman em Os Outros, e,
à direita, Bruce Willis em O Sexto
Sentido, ambos filmes sobre fantasmas (imagem não disponível).
Nota: As informações sobre dados e
índices indicados pelos CENSOS oficiais,
FEB, IBGE, VEJA e outras pesquisas são
pertinentes ao ano de 2005.
Fonte:
Crédito: Oscar Cabral
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Crédito: Roberto Setton
Revista Veja. Edição 1904. 5 de Maio de
2005.
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23
ensinamento
FidelidadESPÍRITA |Agosto 2010
Incompreensão
por Yvonne A. Pereira
D
urante uma palestra
entre amigos, ouvimos
que adversários do Espiritismo costumam pôr à prova a
veracidade da faculdade de alguns
médiuns que se habituaram às experimentações em público, pedindolhes receituário para pessoas inexistentes, falecidas, e até para bonecas,
e que algumas vezes as receitas têm
sido concedidas. Procuramos então
expor aos amigos, que, escandalizados, comentavam a ocorrência, os
quesitos que dariam causa ao desagradável acontecimento, dentro dos
ensinamentos da Doutrina. A fim
de estudarmos as particularidades
desse caso, poderemos até mesmo
reportar-nos à lição inserida no
raciocinar que, em primeiro lugar,
o médium não é criatura infalível,
semideus que pudesse vencer todas
as dificuldades para estar ininterruptamente harmonizado com
as forças superiores. Às vezes, até
será bom que certas dificuldades e
decepções o surpreendam, a fim de
que não advenham a presunção e a
vanglória e ele se esforce sempre por
melhorar os próprios atributos e
obter possibilidades de intercâmbio
mais ou menos permanentes com as
esferas iluminadas.
O médium, em vez de ser uma
personagem infalível, é um ente
humano como outro qualquer, embora, graças aos próprios esforços,
tenha atingido uma possibilidade
O médium, em vez de ser uma
personagem infalível, é um ente
humano como outro qualquer
Evangelho de Mateus, cap. XIII, vv.
10 a 15, que esclarece:
“Àquele que já tem mais se lhe
dará e ele ficará na abundância;
àquele, entretanto, que não tem,
mesmo o que tem se lhe tirará.”
E partindo dessa tese teremos de
24
psíquica algo avantajada do comum
das criaturas. Se hoje se sente na
posse plena das suas melhores
disposições supranormais, amanhã já sofrerá deficiências no seu
sistema de vibrações, tornando-se
indisposto, portanto, por este ou
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aquele motivo, para o exercício da
delicada função que lhe cabe, pois
a mediunidade é intermitente e está
longe, por isso mesmo, de o seu brilhantismo ser constante, invariável,
mormente tratando-se daqueles
médiuns cujos desempenhos se
verificam em contato direto com
o público. Quem é médium sabe
dos sacrifícios necessários à sua faculdade para apresentar ao mundo
as provas edificantes da sua feição
celeste. Por isso mesmo não será
motivo para escândalo ou desilusão
se um ou outro médium deixar de
apresentar testemunhos intercambiais verdadeiramente perfeitos
com o Além, se nos lembrarmos de
que até o local, o ambiente onde se
exerça o mistério augusto, muitas
vezes poderá influir nas comunicações recebidas.
O médium é um aparelho receptor de alta sensibilidade, capaz de
sofrer as mínimas influências dos
desencarnados e até dos encarnados, sejam estas boas ou más, tal
como os aparelhos de rádio e de
televisão, que nem sempre registram
com clareza os acontecimentos que
transmitem. E assim como sentimos zelos pelos nossos receptores
mecânicos acima citados, e somos
incapazes de prejudicá-los propo-
sitadamente, antes tudo fazemos
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ensinamento
Agosto 2010 | FidelidadESPÍRITA
para que os vejamos sempre em boa
forma, também deveremos contribuir para auxiliar os médiuns a se
desincumbirem o melhor possível
das suas melindrosas tarefas.
Em segundo lugar, os indivíduos
que se atrevem a uma provocação
dessa natureza, ou seja, provar o
médium com uma mentira soez,
quando já tantas provas os Espíritos
deram da verdade mediúnica, e desrespeitando a veneração devida ao
intercâmbio com o Além, faltando
ainda com os deveres da caridade
e até da boa educação, realmente
não são merecedores de receber a
Verdade, e por isso não na recebem. Receberão, sim, de retorno,
a inconveniência a que fizeram jus.
Cumpre-se então a assertiva de Jesus
em Mateus, XIII, 10 a 15: “Aquele
que já tem mais se lhe dará e ele
terá em abundância; mas àquele
que não tem, mesmo o que tem lhe
será tirado.”
A criatura que, levada pelo respeito e pela sinceridade, pela confiança e pela humildade, se dirige
aos médiuns a fim de obter uma
receita de que realmente necessita,
ou um consolo para o coração dolorido, receberá bons testemunhos
da Verdade Espírita em todos os
ângulos em que a procurou, pois
que a eles, médiuns, auxiliaram com
a própria boa vontade. Mas aquele
que, junto de quaisquer médiuns,
apenas levou o desrespeito e a
mentira, afrontando com a própria
malícia uma reunião realizada em
nome de Deus Todo-Poderoso, perdeu, certamente, a diminuta crença
que possuía na possibilidade da
comunhão com os desencarnados,
pois seus maus pensamentos, seus
sentimentos heterogêneos foram
os mesmos que perturbaram as
vibrações ambientes, dando causa a
que o médium se perturbasse também, sem devidamente atentar na
qualidade das ondas vibratórias, ou
fluidos que recebia. E os vigilantes
espirituais, que presidiam os serviços, não puderam ou não quiseram
intervir, pois os homens em geral
devem aprender à própria custa e
todos esses percalços serão lições
educativas para todos nós.
De outro lado, as vezes que a
mediunidade em geral tem acertado, como intérprete dos Espíritos,
são tão superiores, em número e
qualidade, às que deixou de acertar,
que não nos deveremos escandalizar
diante das últimas. O movimento
doutrinário científico, filosófico,
moral, literário, etc., que aí vemos,
capaz de reeducar e enaltecer a
Humanidade, é o atestado inconfundível da veracidade mediúnica,
a qual, por isso mesmo, se faz credora não apenas do nosso respeito,
mas também do nosso amor e do
nosso zelo, para que, através dela,
nos possamos entender cada vez
melhor com os consoladores planos
da Luz.
Fonte:
PEREIRA, Yvonne A. À Luz do Consolador.
Págs. 58 – 61. Feb. 1998.
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com todas as letras
FidelidadESPÍRITA |Agosto 2010
Nem sempre “de o”
se torna “do”
por Eduardo Martins
N
ão faça a contração da preposição de
com os artigos o, a, os e as nem com
os pronomes este, esse, aquele, etc.,
sempre que houver depois um infinitivo (forma
pura do verbo). Segundo a maioria dos gramáticos,
o sujeito não pode ser regido de preposição. Há
quem aceite essa contração, mas é conveniente
evitá-la.
Veja os exemplos: Depois de o (e não “do”) técnico
ter anunciado a escalação, quis entrar no time. / Não
concordo com a idéia de a (e não “da”) reunião ser adiada. / É hora de ela (e não “dela”) ir embora. /Apesar
de esses (e não “desses”) homens o condenarem...
Em rigor a o, por a, por o, em o e em ela,
também não devem ser contraídos. Então:
Reclamou por a (e não “pela”) irmã não ter sido
convidada. /Assistiram a o (e não “ao”) amigo ser
condecorado. /Acreditou em ela (e não “nela”) ser
inocente.
Neste segundo caso, o melhor é buscar alternativas que soem menos estranhas.
Mais bem preparado
Antes de particípio, use mais bem e mais mal,
em vez de melhor e pior: Era o candidato mais bem
(e não “melhor”) preparado. / Conhecia o jornalista
mais bem (e não “melhor”) informado da TV. / Eram
os textos mais mal (e não “pior”) escritos da revista. /
Nunca vi palavra mais mal (e não “pior”) utilizada
que essa.
Nos demais casos, recorra a melhor e pior:
Conhecia os amigos melhor (e não “mais bem”) do
que pensavam. / Mesmo que quisesse, não faria pior
26
26
(e não “mais mal”) o trabalho. / Veja os que se saíram
melhor e pior (e não “mais bem”, “mais mal”, “melhores”
ou “piores”).
Mais pode introduzir comparações corretas como:
Ele é mais bom (e não “melhor”) que mau. / A cidade é
mais grande (e não “maior”) que pequena.
Em função de
A locução em função de só pode ser usada
quando indica dependência ou finalidade.
Repare nos exemplos: O time jogava em função
do adversário (dependência). / Vivia em função da
família (finalidade). /Agia sempre em função dos
seus objetivos (finalidade).
Atualmente, no entanto, ela aparece, na
quase totalidade das vezes, num sentido que
não tem: o de por causa de, em razão de,
em conseqüência de, em virtude de, graças
a ou por. Nesses casos, deve ser substituída
por uma dessas opções. Assim: O acidente
ocorreu “em função das” (o certo: por causa das)
más condições da estrada. / O jogo não terminou
“em função da” (em conseqüência da) violência em
campo. / Foi promovido “em junção da” (graças
à) nova política da empresa.
Fonte:
MARTINS, Eduardo. Com Todas as Letras. Pág. 76. Editora Moderna.
São Paulo/SP, 1999.
Uma
Umapublicação
publicaçãodo
doCentro
Centrode
deEstudos
EstudosEspíritas
Espíritas“Nosso
“NossoLar”
Lar”––Campinas/SP
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MENSAGEM
Agosto 2010 | FidelidadESPÍRITA
Também Tu
“E os principais dos sacerdotes tomaram a deliberação de
matar também a Lázaro.”
(João, 12:10.)
Interessante observar as cogitações do farisaísmo, relativamente a Lázaro, nas horas supremas de Jesus.
Não bastava a crucificação do Mestre.
Intentava-se, igualmente, a morte do amigo de Betânia.
Lázaro fora cadáver e revivera, sepultara-se nas trevas do túmulo e regressara à luz da vida. Era, por isso, uma glorificação
permanente do Salvador, uma cura insofismável do Médico
Divino. Constituiria em Jerusalém a carta viva do poder do
Cristo, destoava dos conterrâneos, tornara-se diferente.
Considerava-se, portanto, indispensável a destruição
dele.
O farisaísmo dos velhos tempos ainda é o mesmo nos dias
que passam, apenas com a diferença de que Jerusalém é a civilização inteira. Para ele, o Mestre deve continuar crucificado
e todos os Lázaros ressurgirão sentenciados à morte.
Qualquer homem, renovado em Cristo, incomoda-o. Há
participantes do Evangelho que se sentem verdadeiramente
ressuscitados, trazidos à claridade da fé, após atravessarem o
sepulcro do ódio, do crime, da indiferença...
O farisaísmo, entretanto, não lhes tolera a condição de
redivivos, a demonstrarem a grandeza do Mestre. Instala perseguições, desclassifica-os na convenção puramente humana,
tenta anular-lhes a ação em todos os setores da experiência.
Somente os Lázaros que se unam ao amor de Jesus conseguem vencer o terrível assédio da ignorância.
Tem, pois, cuidado contigo mesmo.
Se te sentes trazido da sombra para a luz, do mal para o
bem, ao sublime influxo do Senhor, recorda que o farisaísmo,
visível e invisível, obedecendo a impulsos de ordem inferior,
ainda está trabalhando contra o valor de tua fé e contra a
força de teu ideal.
Não bastou a crucificação do Mestre.
Também tu conhecerás o testemunho.
Emmanuel - Chico Xavier
Vinha de Luz
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27
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“Nosso Lar”
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Constant em frente à
biblioteca municipal.
R. Prof. Luís Silvério, 120
Vl. Marieta - Campinas/SP
(19) 3386-9019 / 3233-5596
CURSOS GRATUITOS
ATIVIDADES PARA 2010
CursosDiasHorários
1º Ano: Curso de Iniciação
ao Espiritismo com aulas e
projeção de filmes (em telão)
alusivos aos temas. Duração
1 ano com uma aula por semana.
1º Ano: Curso de Iniciação
ao Espiritismo com aulas e
projeção de filmes (em telão)
alusivos aos temas. Duração
1 ano com uma aula por semana.
2ª Feira
20h00 - 21h30
Início
01/03/2010
Aberto ao Público:
Necessário Inscrição:
3386-9019 / 3233-5596
Aberto ao Público:
Necessário Inscrição:
3386-9019 / 3233-5596
domingo
10h00 - 11h00
07/03/2010
2º Ano
3ª Feira
20h00 - 22h00
02/02/2010
Restrito
2º Ano
Sábado
16h00 – 18h00
06/02/2010
Restrito
3º Ano
4ª Feira
20h00 - 22h00
03/02/2010
Restrito
3º Ano
Sábado
16h00 – 18h00
06/02/2010
Restrito
Evangelização da Infância
Domingo
10h00 – 11h00
Fev / Nov
Aberto ao público
Mocidade Espírita
Domingo
10h00 – 11h00
ininterrupto
Aberto ao público
Atendimento ao público
Assistência Espiritual: Passes
2ª Feira
20h00 - 20h40
ininterrupto
Aberto ao Público
Assistência Espiritual: Passes
4ª Feira
14h00 - 14h40
ininterrupto
Aberto ao Público
Assistência Espiritual: Passes
5ª Feira
20h00 - 20h40
ininterrupto
Aberto ao Público
Assistência Espiritual: Passes
Domingo
09h00 - 09h40
ininterrupto
Aberto ao Público
Palestras Públicas
Domingo
10h00 - 11h00
ininterrupto
Aberto ao Público
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