Contexto
Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe
O sergipano
é um povo
receptivo?
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Ano 8 - Nº 29
[email protected]
Edição Especial:
ECONOMIA
Turismo e
desenvolvimento local
Iniciativas públicas e
privadas investem
na ampliação
dos roteiros
POLÍTICAS
Programas de
regionalização
não avançam
no Estado
conteXtando
5
CULTURA
Feiras livres e
artesanato mostram
o potencial da
interiorização
ARTE & HISTÓRIA
Véio faz brotar
uma nação de
madeira lascada
em pleno sertão 8
GASTRONOMIA
Sabores variados
da culinária local
surpreendem
os visitantes
9
ECOTURISMO
TRANSPORTES
ENSINO & PESQUISA
CIDADES
Segmento que alia
preocupação
ambiental recebe
pouca atenção 10
O ir e vir nas
estradas e no
céu do menor
estado do País
Cursos e eventos
científicos
impulsionam
setor turístico
Potencial turístico do
Parque da Cidade e
do Mercado Central
é mal explorado
11
2
Opinião
janeiro-março/2011
Contexto
Editorial
O pequeno notável
O clichê do título surge à mente em resposta a
uma pergunta instigante: como mostrar Sergipe de
uma forma que se contraponha ao desgastado estigma
de “menor estado país”? Este foi o primeiro desafio
apresentado à equipe deste jornal-laboratório, na reunião de pauta que escolheu o turismo e sua relação
com o desenvolvimento local como o foco temático
desta edição especial. O segundo desafio seria se diferenciar das páginas e cadernos de turismo da grande
mídia, que se concentram em roteiros e serviços de
viagem, para discutir o setor no Estado como um
campo de múltiplos interesses: econômicos, políticos,
culturais e até de produção de conhecimento. O resultado foi um quadro crítico, mas ao mesmo tempo promissor, dessa atividade em todo o território sergipano.
Começamos mostrando que Sergipe vem ampliando sua participação entre os destinos turísticos nacionais, a partir de investimentos privados e públicos
no setor, para o que a divulgação de informação e o
marketing turístico têm sido fundamentais. Quanto
mais ouvem falar dos atributos de Aracaju, mais paulistas, pernambucanos e cariocas aportam por aqui,
em busca da tal “cidade da qualidade de vida”. E ao
chegarem, descobrem que há outros atrativos além da
capital, como a riqueza cultural das feiras livres do interior, a variada produção artesanal, os sabores das frutas e da culinária locais, e o potencial do ecoturismo.
No entanto, a regionalização prevista pelo Plano
Nacional de Turismo para todo o país ainda caminha
a passos lentos no Estado. Dos cinco pólos ou regiões
turísticas definidas pelo governo estadual em 2004,
apenas dois vêm sendo alvo de ações concretas: o
do Velho Chico (que abrange o Baixo São Francisco
e o Alto Sertão, onde ficam os Cânions de Xingó) e
o Costa dos Coqueirais, que inclui a Grande Aracaju
e as praias do litoral Sul até a divisa com a Bahia.
Três áreas de serviços ligados ao setor também
foram identificadas como deficitárias pelos repórteres
do Contexto: a da segmentação de roteiros por perfil de público (crianças, “terceira idade”, gays) ou por
interesse temático (histórico, religioso, gastronômico, rural etc); a de transportes, tanto aéreo quanto
rodoviário; e a de formação de recursos humanos, sobretudo guias turísticos, profissionais para a rede hoteleira e atendimento nos diversos serviços de lazer.
Essas deficiências ficaram explícitas nas respostas à pesquisa de opinião sobre a hospitalidade (ou
não) dos sergipanos em geral, e dos aracajuanos em
particular. Os jovens candidatos a jornalistas também mostraram que Aracaju não anda cuidando bem
de todos os seus cartões postais, como o conjunto
dos mercados do Centro Histórico e o Parque da Cidade, cujo ainda pouco conhecido teleférico oferece uma vista panorâmica privilegiada da capital.
Por tudo isso, o setor é visto como fundamental para
o desenvolvimento local, como alertou, em um seminário realizado na UFS, uma das maiores especialistas
no assunto, a geógrafa cearense Luzia Coriolano (também citada no artigo ao lado). Boa leitura e boas viagens!
Sonia Aguiar
[email protected]
Contexto
Praça São Francisco, em São Cristóvão, que recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade em 2010
Ponto de vista
Turismo e desenvolvimento local
Mércia Queiroz*
O chamado “subdesenvolvimento”, com seus
problemas sociais, assim como as guerras políticas e
religiosas, podem inviabilizar políticas de turismo. Essa
realidade vem despertando uma nova consciência e
a compreensão de que sua transformação passa pela
mudança do modelo de desenvolvimento.
Isso se observa nas premissas que hoje regem o
turismo mundial, onde o modelo de desenvolvimento
do turismo cultural aparece estreitamente vinculado à
reflexão sobre um modelo de desenvolvimento humano,
integral e sustentável – baseado na compreensão de que
para que o desenvolvimento se concretize, não basta
crescer a economia, a produção de riqueza ou o PIB
(Produto Interno Bruto), faz-se necessário, sobretudo,
que essa riqueza seja para todos, elevando o poder
aquisitivo e a qualidade de vida do global da sociedade,
dentro dos princípios dos direitos humanos (IBERTUR,
2004).
Neste sentido, Luzia Coriolano aponta que o
desenvolvimento só ocorre de fato quando todas as
pessoas são beneficiadas, quando atinge a escala humana –
quando elas tiverem assegurado uma existência digna, um
padrão de vida capaz de garantir a si e a sua família saúde,
bem estar, alimentação, vestuário, habitação, cuidados
médicos, segurança, repouso e lazer. (CORIOLANO,
2003: 26- 27).
Embora o turismo seja uma atividade atrelada
especialmente aos grandes capitais, tem efeito
multiplicador e pode oferecer oportunidades também
para pequenos comércios, empresas, e negócios mais
participativos, como bares, restaurantes e pousadas, com
as mais diversas prestações de serviços, que se espalham
por todos os espaços turísticos, como já mostram
algumas experiências no Brasil e no mundo. No entanto,
de modo geral e na perspectiva do desenvolvimento, a
promoção do turismo cultural tem sido feita sem que
ele seja planejado de modo culturalmente sustentável
e integrado à comunidade local, possibilitando a
participação e a inclusão desta, tanto no que diz respeito
ao seu planejamento quanto à fruição dos resultados
obtidos com esta atividade.
Assim, na perspectiva do turismo cultural como
estratégia para o desenvolvimento local, alguns desafios se
colocam na arena turística: 1) Como conciliar a extração
de benefícios econômicos do turismo cultural sem
reduzir a cultura a uma simples mercadoria, sem depredar
o patrimônio ou descaracterizar as manifestações
tradicionais? 2) Como socializar as oportunidades e
possibilitar que os segmentos majoritários da população
efetivamente participem dos canais de decisão e os
utilizem como instrumento de mudança e ação política,
tendo em vista a promoção do desenvolvimento na escala
humana?
Referências:
CORIOLANO, Luzia Neide Menezes. “Os limites do
desenvolvimento e do turismo”. In: CORIOLANO, Luzia
Neide Menezes (org.) O turismo de inclusão e o
desenvolvimento local. Fortaleza: Editora Premius, 2003.
IBERTUR (Red de Patrimônio, Turismo y Desarrollo
Sostenible). “Turismo Cultural en América Latina y Europa:
investigación, formación y desarrollo regional”. Disponível
na World Wide Web: <www.gestioncultural.org/ibertur>.
Acessado em 09/09/2004 C
Artigo originalmente publicado em: http://www.cult.ufba.br/
maisdefinicoes/TURISMOEDESENVOLVIMENTOLOCAL.pdf
* Mércia Maria Aquino Queiroz é assistente social e
produtora cultural, com Mestrado Multidisciplinar em Cultura e Sociedade (UFBA), Coordenadora do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra (CNIRC)
da Fundação Cultural Palmares ([email protected])
Versão digital: http://issuu.com/contextoufs/
Edição concluída em março de 2011
Universidade Federal de Sergipe
Jornal Laboratório do curso de Jornalismo
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Economia
Contexto janeiro-março/2011
Sergipe amplia sua participação
como destino turístico nacional
Eduardo Barreto
Foto: Divulgação
[email protected]
D
iminuto em termos territoriais, mas
repleto de atrativos turísticos, o estado
de Sergipe tem ampliado seus investimentos na
divulgação do setor como meio de incentivar a
entrada de visitantes. O trabalho tem sido promovido pela parceria firmada entre o governo
estadual, através da Empresa Sergipana de Turismo (Emsetur), e a iniciativa privada (agências
de viagens, operadoras, hotéis e receptivos).
A participação em feiras nacionais como a da
Associação Brasileiras das Agências de Viagens
(ABAV), que é a maior da America Latina e da
Feira Internacional de Turismo (FIT), ocorrida
na Argentina, tem se configurado como uma das
mais estratégicas.
De acordo com o relatório do turismo no
estado em 2009, divulgado pela Emsetur, o turismo de lazer aumentou de 37,78% (em 2008)
para 43,10% (em 2009). Um dos fatores responsáveis por esse crescimento está relacionado à
presença de operadoras nacionais no estado.
”Nós lutamos muito para colocar Sergipe nos
nossos fretamentos, que neste caso busca turista exclusivamente de lazer. Fizemos a divulgação do estado nas feiras e em nossos cadernos
distribuídos no Brasil inteiro”, ressalta Valber
Ribeiro, representante em Sergipe de uma operadora de turismo de renome nacional.
Os dados mostram, também, o crescimento
no número de vagas em hotéis. “O setor hoteleiro sergipano registrou um crescimento de
26% do seu parque, que atualmente são cerca
de dez mil leitos. Esse número leva em consideração apenas os hotéis. Não abrange pousadas
ou outras formas de hospedagem”, ressaltou
José Roberto Lima, presidente da Emsetur, em
recente entrevista à imprensa.
Boas perspectivas
Para Valter Soares Filho, diretor de um hotel
quatro estrelas na Orla de Atalaia, o aumento
nos leitos comprova que o número de turistas
e o período em que eles passam no estado têm
crescido. “Tivemos que ampliar o hotel, pois a
procura aumentou. O turista que vem a negócio
fica em média três noites na cidade, porém esse
Arcos da Orla de Atalaia: cartão postal que simboliza a porta de entrada dos turistas que chegam à Aracaju
mesmo turista está ficando mais duas e fazendo
o turismo de lazer, ou seja, estamos recebendo
o mesmo visitante para duas situações distintas
e fazendo com que pernoite mais tempo na cidade”, ressalta o empresário.
Outra informação relevante é que o estado
tem recebido turistas de regiões que antes não
apareciam nas pesquisas. “Pessoas de estados
como Mato Grosso, Santa Catarina, Rio Grande
do Sul, que mal ouvíamos falar por aqui, têm
vindo com freqüência visitar Sergipe”, diz entusiasmada Tirzah Duarte, dona de uma agência de receptivo que atua em todo estado. Ela
acrescenta, ainda, que os turistas estrangeiros
começam a aparecer, porém em pouco número.
”Já estamos começando a colher os frutos do
turismo nacional, depois que arrumarmos mais
a casa, poderemos divulgar o estado em outros
países”.
Quem vem cá
Para a carioca Paula Fernandes, o interesse
em conhecer o estado surgiu depois que viu
uma reportagem sobre Sergipe em um telejornal
de cadeia nacional. “Estava almoçando e de repente vejo a chamada sobre Sergipe. A matéria
era sobre a Praia do Saco, achei linda. Entrei na
Internet e fui ler sobre o destino. Procurei uma
agência de viagem, comprei um pacote para
Aracaju, pois descobri que não precisa pernoitar
lá. Adorei a idéia, pois assim pude conhecer outros roteiros no estado”, relata a turista.
Já para Carlos Santos, da Paraíba, vir a Sergipe foi um acaso. “Estava em Maceió a trabalho
com dois amigos, quando resolvemos aproveitar
o final de semana e vir a Aracaju, pois nenhum
dos três conhecia a cidade. Se soubesse que o lugar era tão aconchegante teria vindo antes, mas
com certeza voltarei outras vezes”, promete.
Os estados que mais enviam turistas a Sergipe, de acordo com os dados da Emsetur, são
Bahia (35,10 %) e São Paulo (13,46%), seguidos por Pernambuco (8,8%) e Rio de Janeiro
(7,8%). Apesar de tão próximo (meia hora de
avião e cerca de 3 horas de carro), Alagoas contribui com apenas 7,32% dos visitantes, seguido
pelo Distrito Federal (4,67%) e por Minas Gerais (4,02%). Os demais estados representam
18,83% do total. A Emsetur calcula que tenha
havido um aumento de 15% no número de turistas em 2010, porém o relatório do setor para
esse ano ainda estava em fase de finalização na
época do fechamento dessa edição. C
Saiba mais:
www.emsetur.se.gov.br
www.turismosergipe.net
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
Praia do Saco localizada no município de Estância litoral sul do estado
Canyon do Xingó em Canindé do São Francisco na divisa com Alagoas
4
Economia
janeiro-março/2011 Contexto
Segmentação de pacotes turísticos
ainda é tímida no estado
Andreza Lisboa e Bianca de Silveira
drecas.slv@gmail / [email protected]
S
eja para concorrer de igual para igual em
um mercado cada vez mais competitivo
ou para atender às demandas de uma clientela
exigente, a criação de novos segmentos turísticos tem sido amplamente adotada por agências
em todo o mundo. Faixa etária, estado civil e
orientação sexual são algumas das características levadas em conta pelas empresas na hora de
montar pacotes que visam agradar aos diversos
perfis de usuários dos serviços turísticos.
A postura pessoas exigentes, que se negam a
viajar pelo padrão turístico de massa e buscam
uma programação mais personalizada, estimula
o investimento na segmentação. Daí a necessidade de observar os chamados ‘fatores de homogeneidade’, ou seja, as semelhanças entre os
consumidores. Desta forma, a empresa pode
agrupar pessoas que apresentem interesses e
comportamentos de compra semelhantes e encaixá-los em um mesmo grupo.
A professora do departamento de Turismo
da Universidade Federal de Sergipe (UFS) Fabiana Britto explica que a segmentação pode acontecer de várias formas: por faixa etária (crianças,
idosos); por níveis de renda (popular, classe
média ou luxo); por tipo de grupo (individual,
casais, famílias e grupos de amigos); por motivação da viagem (aventura, curiosidade histórica,
gastronomia); ou ainda pelo tipo de destinação
geográfica desejada (praia, montanha, campo,
neve). Esses segmentos dão margem a diversas
possibilidades de turismo, uma vez que se subdividem e se associam a outros segmentos.
Enveredando lentamente pelo universo do
turismo segmentado, as agências da capital sergipana investem muito mais na criação de pacotes
generalistas do que no direcionamento para grupos específicos. Com isso, um mesmo pacote
pode ser comprado por diferentes públicos e, a
princípio, a empresa lucraria mais.
Segmentação em Sergipe
Ao deixar de lado as idiossincrasias de cada
cliente, as agências montam pacotes de acordo
com o período. “A gente aproveita a data e faz
a divulgação. Então, algumas pessoas procuram,
outras não, e se vende dessa forma”, explica a
consultora de viagens Daniela Tete. A técnica
adotada pela agência em que ela trabalha é aplicada na maioria das empresas turísticas do estado, e mesmo aquelas que optaram por algum
tipo de segmentação demonstram receio em
ampliar esse mercado.
É o caso da Balbitour, empresa que investe
no ‘turismo da melhor idade’. Mesmo como uma
experiência bem sucedida nesse segmento, a empresa ainda não faz parte planos para expandir
sua atuação para outros grupos específicos. “A
gente prefere direcionar em um (segmento) do
que em vários, porque às vezes pode complicar.
Nós temos outros públicos e fazemos várias excursões durante o ano, mas de público segmentado somente a ‘melhor idade’, por enquanto”,
afirma a agente Nilza Nascimento Teles.
Dentro das agências sergipanas, os públicos
mais privilegiados são o infantil e o ‘da melhor
idade’. O turismo infantil encabeça a lista dos
segmentos que mais crescem no mundo e o
fato desses pacotes se estenderem a toda família
facilita a venda. Para os idosos, a existência de
congressos da terceira idade e a disponibilidade
dos vovôs e vovós para viajar são os principais
responsáveis pelo crescente foco nessa faixa
etária. “Não tem alta nem baixa temporada para
eles, pois são pessoas aposentadas e, então, o
tempo deles é livre”, avalia Nilza Nascimento.
Responsável por organizar os destinos
turísticos de Sergipe, a Emsetur - Empresa Sergipana de Turismo- atua na direção oposta à
da iniciativa privada. Enquanto as agências levam o turista sergipano para fora do estado, a
Emsetur procura trazer o turista ‘de fora’ para
conhecer os destinos turísticos sergipanos. Para
isso, recorre a uma pequena segmentação dos
roteiros disponíveis.
Os principais segmentos trabalhados pela
Emsetur são o ‘turismo do sol’, que tem o litoral
como principal produto motivador da viagem;
o turismo histórico-cultural, com ênfase nas
cidades de Laranjeiras e São Cristóvão (agora
reforçada pelo título de Patrimônio Cultural
da Humanidade à Praça São Francisco); e o tu-
Foto: Sílvio Rocha/ Divulgação
Emsetur investe na divulgação das “rotas do sol” para atrair turistas a Sergipe
rismo de natureza, em que Xingó e Canindé de
São Francisco são as principais atrações. Em
contraponto, empresas do setor privado se envolvem mais com a segmentação por faixa etária
ou classe social.
Mercado limitado
Para além dos esforços realizados por esses
dois setores, o turismo segmentado ainda tem
poucos adeptos em Sergipe. “Não se evidencia uma preocupação em diversificar as opções
turísticas da área de segmentação. É possivel
notar que o estado apresenta um grande potencial em trabalhar certos tipos de segmentos, mas
falta interesse do poder público em investir mais
nestes setores”, destaca a professora Fabiana
Britto, da UFS.
É o caso do turismo de aventura. Por mais
que o estado possua uma geografia favorável à
prática de esportes como o rapel e o vôo livre,
por exemplo, não há nenhum um investimento
efetivo para concretizar essas práticas em Sergipe. O sucesso da segmentação em outras partes do Brasil e do mundo está atrelado à estrutura da oferta, pois quando direcionado a um
público específico, os pacotes geram melhor
relação custo-benefício e permitem que se alcancem mais facilmente os anseios do cliente
em sua viagem. C
Saiba mais:
Agências de turismo segmentado em sergipe:
Zezé Tour- Av. Hermes Fontes, nº 206. Bairro
Suíça. CEP: 49052-000. Aracaju- SE. Tel: (79)
3043- 2789.
Balbitour- Rua Riachuelo, nº 1001. Bairro São
José. CEP: 49015-160. Aracaju -SE. Tel: (79)
3214- 2932.
Papagaios Tour- Rua Ananias Azevedo, nº92.
Sala 02. Bairro: 13 de Julho. CEP: 49020-080.
Aracaju- SE. Tel: (79) 3246-2520.
Associações brasileiras de turismo segmentado
A crescente segmentação do turismo,
somada às necessidades de um público
cada vez mais exigente, tem fomentado
o surgimento de diversas associações e
grupos turísticos. Condicionadas por demandas que variam demasiadamente de
pessoas para pessoa, essas associações
buscam contemplar as idiosincrassias de
cada turista. Em comum, há somente o
anseio de satisfazê-lo. Para tanto, associações de todo o mundo procuram inovar com propostas de roteiros que se
tornam abrangentes justamente por conseguir enxergar as especificidades de cada
grupo. A seguir, estão listadas três grandes
associações brasileiras voltadas para segmentos específicos.
www.abeta.com.br
www.abratgls.com.br
www.mulherespelomundo.com.br
Presente em 22 estados, a Associação
Brasileira das Empresas de Ecoturismo
e Turismo de Aventura pretende unir os
amantes dos esportes radicais em prol da
inserção desse segmento como atividade
econômica, social e ambientalmente viável. Entre as atividades contempladas pela
Abeta destacam-se o rafting, o espeleoturismo e o windsurf.
Com o intuito de contemplar um dos
segmentos turísticos de maior crescimento no mundo, a Associação Brasileira de
Turismo para Gays, Lésbicas e Simpatizantes procura garantir ao público GLS
formas de lazer e entretenimento que atendam às suas especificidades. A Abrat
possui diversas redes de hotéis e companhias aéreas associadas.
O projeto Mulheres pelo Mundo elabora roteiros para os mais variados perfis
femininos. Seja para aquela mulher que
deseja viajar mas não tem companhia, ou
para aquelas que escolhem seguir viagem
sozinhas, o Mulheres pelo Mundo tem
uma programação que se adequa à demanda dos mais diversos grupos femininos.
Políticas
Contexto janeiro-março/2011
5
Regionalização a passos lentos
Dos cinco polos, apenas dois recebem atenção
Janaina de Oliveira
[email protected]
F
ortalecer o turismo interno, promover o turismo como fator de desenvolvimento regional, assegurar a aposentados, traba-lhadores e estudantes o
acesso a pacotes de viagens em condições
facilitadas; inves-tir na qualificação profissional e na geração de emprego e renda; e
garantir a promoção do Brasil no exterior
são algumas das ações que fazem parte do
Plano Nacional de Turismo (PNT).
Dentro dessa diretriz geral da política
de incentivo ao setor turístico no País,
existe um programa de regionalização
do turismo que propõe a estruturação,
ordenamento e a diversificação de oferta
turística do país.
Essa proposta surgiu da observação
de que os roteiros turísticos, às vezes,
atravessam as fronteiras dos municípios
e até mesmo dos estados. Alguns estados
já estão desenvolvendo polos, circuitos e
zonas turísticas que muitas vezes incluem
vários municípios.
O que se pretende é combinar aquilo
que é único na cultura e nos conhecimentos locais e regionais com os recursos disponíveis, para a criação, administração e
venda de produtos turísticos, com vistas
ao desenvolvimento regional sustentável. As principais propostas do programa
são: a integração e cooperação entre municípios e regiões, a ampliação e qualificação do mercado de trabalho e o aumento
do tempo de permanência e do gasto do
turista na região.
Descentralização e diversificação
Segundo o coordenador do Núcleo
de Turismo (NTU) da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Luís Henrique de
Souza, “o Programa de Regionalização
do Turismo (PRT) torna-se uma política
pública de apoio a elaboração de roteiros
turísticos e que, de certa forma, diversificam o turismo, evitando concentrá-lo em
capitais ou em alguns outros destinos consagrados”. Para o professor “essa ‘interiorização’ é altamente positiva, pois orienta
os municípios a planejar de forma a obter
melhores impactos”.
Melissa Waric, coordenadora de turismo da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (SEDETC), avalia que o programa
de regionalização propicia descentralização, expansão e criação de instâncias de
governança em todos os pólos turísticos.
“O programa de regionalização aparece,
então, para dar continuidade e aumentar o
alcance dessas ações, incentivando a participação e a criatividade de cada região
turística. Integrar os municípios de uma
região é a melhor maneira de incluir esses municípios nos lucros trazidos pelo
turismo”.
O processo de regionalização do turismo precisa ter representantes de todos os
setores da comunidade e deve abrir espaço
para que todos possam contribuir. Porém,
deve fazer isso respeitando as diferenças
de opinião e promovendo a conversa e a
negociação para resolver os problemas. A
regionalização do turismo deve considerar e aproveitar o que já existe de cultura,
conhecimento, habilidade, experiência e
vocação.
Polos regionais
A implementação do Programa
Regional de Turismo em Sergipe,
iniciada em 2004,
foi estruturada para
atender os cinco
pólos ou regiões turísticas do estado: Costa dos
Coqueirais, Velho Chico, Serras
Sergipanas, Tabuleiros e Sertão
das Águas. Foram definidos, também, os nove roteiros prioritários:
Aracaju-Xingó, Cidades históricas, Litoral Sul, Foz do Rio São
Francisco, Aracaju e Praias,
Trilhas de Pirambú, Trilhas nas
Serras, Cangaço e Petróleo.
O foco foi nos segmentos
turísticos
de sol
e praia,
negócios e
eventos e
ecoturismo,
considerando-se
atual oferta de
atrativos, equipamentos e serviços
no estado. Melissa Waric explica
que hoje em dia a
realidade do estado é
trabalhar os polos Costa
dos Coqueirais e Velho
Chico e que apenas o Conselho
dos Coqueirais existe. “A instância
de governança do Velho Chico vai ser
criada, o processo já está em andamento,
os outros três polos por enquanto estão
em stand by [estado de espera]”.
A estratégia de desenvolvimento territorial em Sergipe com ênfase no turismo
vem sendo discutida desde 2001, quando, com o apoio técnico e financeiro do
Programa de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur), foi formulado o Plano
de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável (PDITS) no polo Costa
dos Coqueirais, atualizado em 2005, por
meio de oficinas participativas. “A ação
começou por esse polo porque já existia
um Conselho estruturado desde 2000.
Agora ele está desativado, mas tem um
corpo, é mais fácil de conseguir reativá-lo.
Além disso, ele é o polo que mais recebe
turistas, é o portal de entrada do estado, é
próximo de Laranjeiras, São Cristóvão e
das praias”, explica a coordenadora
O coordenador do NTU da UFS destaca algumas melhorias decorrentes do
Plano. “Já existe uma comissão específica que trabalha o turismo em Sergipe,
principalmente infraestrutura de
rodovias, das duas pontes
construídas, de marinas
e piers, obras de
saneamento. O
ra da SEDETC. “Na teoria ele funciona
muito bem, na prática, não. Para mim o
motivo maior é a falta de incentivo. Para
esse programa dar certo a gente precisa
construir um relacionamento com as instâncias locais e elas precisam caminhar
com próprias pernas”, lamenta Waric.
A etapa atual é a de revisão do Plano
Estadual de Turismo, de modo a incorporar as demandas do planejamento participativo, ajustar metas e estratégias, alinhado-as às do PNT. “Para que isso ocorra,
a ação deve começar a partir do dialogo,
das trocas e da construção coletiva entre
o governo e agentes de mercado, organizações sociais, instituições públicas e
profissionais autônomos. Só assim teremos um desenvolvimento harmônico
e equânime” avalia o professor Luís
Henrique de Souza. C
Breve histórico
próximo passo depois da consolidação do Plano, com toda
infra-estrutura implantada, seria uma
forte ação de marketing”, avalia Souza.
O processo não avançou nas demais
regiões. Apenas o polo Velho Chico e o
das Serras Sergipanas instruíram suas instâncias, entre os anos 2004 e 2005, mas
sem atuar efetivamente. Entre outros motivos por causa da centralização das atividades no governo estadual e da pouca organização das entidades do setor turístico,
o que reforça a importância de mobilizar a
sociedade para a consolidação do projeto.
“Infelizmente o Plano não anda como a
gente gostaria”, reconhece a coordenado-
O Ministério do Turismo elaborou, em
conjunto com os diversos participantes da
cadeia produtiva do turismo, o Plano Nacional
do Turismo (PNT), tendo como orientação
principal a ética e a sustentabilidade. As
metas básicas do plano eram: diminuição das
desigualdades regionais e sociais, geração e
distribuição de renda, geração de empregos e
o equilíbrio do balanço de pagamentos.
O Conselho Nacional de Turismo foi
reorganizado, criaram-se Fóruns e o tentouse implantar no país um modelo de gestão
descentralizada. Segundo o Ministério do
Turismo, o PNT deve ser o elo entre os
governos federal, estadual e municipal, e entre
as entidades não governamentais, a iniciativa
privada e toda a sociedade. Deve ser fator
de integração de objetivos, otimização de
recursos e junção de esforços para incrementar
a qualidade e a competitividade, aumentando
a oferta de produtos brasileiros no mercado
nacional e internacional.
6
Cultura
janeiro-março/2011 Contexto
Feiras livres, o coração dos centros
urbanos e das cidades interioranas
Thayza D. Machado
Foto: Robério Xikita
[email protected]
Geralmente desprezada pelas secretarias de
turismo, a riqueza simbólica contida nas feiras
livres pode representar importante segmento
do setor, na avaliação da professora do Núcleo
de Turismo da Universidade Federal de Sergipe
(UFS) Rosana Eduardo. Para verificar essa
possibilidade, o Contexto visitou feiras livres de
Aracaju, Itabaiana e Nossa Senhora da Glória
em busca daquelas criaturas emblemáticas que
levam câmeras fotográficas às mãos, botas
adventure nos pés e ilusão desbravadora na alma:
o turista. A intenção primordial dos passeios
foi perceber o que o levaria a se interessar pelo
frenético ambiente. Resultado: de turista só se
encontrou ausência. De potencial turístico, um
mundo.
A observação levada adiante pela repórter
do jornal se deteve com mais afinco na Feira
de Itabaiana, considerada a maior do estado.
Lá, percorreu toda a sua extensão, rastreando a
presença dos visitantes. A cada barraca visitada,
porém, aumentava a impressão de que o que deveria ser buscado não era o turista e sim o povo,
razão maior da feira.
A pechincha da compradora de pimentões,
a oferta do vendedor de facas, a crítica a certo
cidadão de Riachuelo, já bastante conhecido,
que teimava em roubar objetos das barracas.
A criança das maçãs, a senhora dos jeans e o
velho da farinha. Seus traços, cores, (dis)sabores,
furtados pela audição e olhar desta observadora,
marcaram-na tanto que, mesmo com máquina e
gravador em punho, não se atreveu a interromper
o fluir da vida feirante.
Buscou-se, depois desse mergulho, saber
do secretário de Turismo da cidade, Marcos
Henrique de Lima, se haveria algum tipo de
investimento, ou projeto, que pretendesse elevar
aquela feira livre à categoria de ponto turístico. O
representante da secretaria não foi encontrado,
nem atendeu aos telefonemas. Visitamos o site
da Prefeitura em busca das informações, mas
a única oferta turística anunciada na seção que
divulga o setor é a Serra de Itabaiana.
Encontramos, porém, na Universidade
Federal de Sergipe, a professora Rosana
Eduardo, uma entusiasta nesse campo.
Docente do Núcleo de Turismo desde 2009,
ela desenvolve junto com seus alunos uma
atividade interdisciplinar de visita a feiras para
mapear aspectos econômicos e socioculturais.
Rosana enxerga nesse ambiente “o coração dos
centros urbanos e cidades interioranas”, e uma
modalidade potencial de turismo. Para conhecer
seu parecer acerca do pulsar desse ‘coração’,
entrevistamos a professora. Confira abaixo o
resultado da conversa:
Contexto: As feiras livres têm potencial
turístico? De que forma esse segmento pode
ser explorado aqui no estado?
Rosana: As feiras livres têm um papel fundamental para o turismo, pois representam
universos materiais e simbólicos de grande relevância cultural, social e econômica para as localidades. Elas representam o coração dos cen-
e turística que possibilite o melhor acolhimento
aos visitantes. As feiras livres representam
um recurso histórico-cultural que pode ser
promovido em conjunto com outros atrativos
existentes em cada localidade.
C.: O turismo tem injetado vultosas cifras na economia nacional todos os anos.
Aqui em Sergipe ele é representativo?
R.: Sem dúvida que sim. Sergipe está paulatinamente se fazendo presente no cenário turístico
nacional. Trata-se de um estado que aos poucos
começa a ser descoberto pelos brasileiros, pelas
suas singularidades naturais e culturais. Contudo,
sabemos que os destinos turísticos não se consolidam apenas com seus recursos e atrativos, pois
precisam também de equipamentos e serviços
turísticos que dêem suporte aos visitantes. Algo
que precisamos ainda melhorar. C
O projeto
Personagens da Feira de Itabaiana
tros urbanos e cidades interioranas, onde pulsam
os saberes e fazeres de sua população. São espaços que possibilitam experiências singulares de
aprendizagem sociocultural, na medida em que
permitem o contato dos turistas com a diversidade de cheiros, cores e sabores. Por isso, uma
forma de promover tais ambientes é incluí-los
nos roteiros já comercializados pelo mercado,
desenvolvendo também novas propostas de visitação turística.
C.: Qual a razão para as feiras ainda não
estarem incluídas nesses roteiros?
R.: O mercado turístico ainda não percebeu
a importância das feiras públicas como espaços
de produções tradicionais onde se pode observar uma série de costumes e hábitos locais. Essa
realidade não acontece apenas em Sergipe, mas
em vários estados brasileiros que ainda não se
deram conta da riqueza sociocultural que tais
ambientes possuem. Percebo que ainda falta
sensibilidade por parte dos planejadores do turismo sobre tal universo de comércio, trocas e
práticas sociais, que muito pode contar a história
das localidades e do seu povo.
C.: O que pode levar o turista a querer
conhecer uma feira livre? Acredita que esse
interesse pode ser fomentado? De que forma e por quem?
R.: O que leva o turista a querer conhecer
uma feira livre é justamente seu interesse em conhecer os hábitos das localidades. Sabemos que
tais espaços armazenam uma série de elementos
identitários presentes nas trocas materiais e simbólicas que envolvem comércio, alimentação e
sociabilidade. Acredito ser possível fomentar a
visitação turística nas feiras livres desde que haja
o diálogo entre os vários atores sociais envolvidos neste universo. Tais visitações poderiam ser
fomentadas pelas secretarias municipais de turismo em conjunto com entidades, associações e
cooperativas dos feirantes.
C.: Nas visitas que realizei a feiras como
a de Nossa Senhora da Glória e Itabaiana,
notei que o ambiente é bastante marcado
pelo despejo aleatório de lixo (orgânico e
inorgânico). Esse fato é comum, ou melhor,
representa um traço cultural do próprio ambiente? Ele pode vir a ser um dos obstáculos
ao interesse do turista?
R.: Sabemos que a limpeza é algo que precisa ser melhorada em algumas feiras livres, para
garantir a qualidade dos alimentos comercializados. Não vejo a presença desordenada de lixo
como traço cultural, pois compreendo que tal
problema resulta da insuficiente infraestrutura e
falta de conscientização da população que circula nestes espaços, seja para comercializar ou
comprar. Mesmo assim, não vejo como algo que
possa se transformar em obstáculo para o turista.
C.: O interesse econômico acaba por determinar o investimento em determinado
segmento turístico, de modo que, por exemplo, uma prefeitura não investe em dado
setor se não tem a perspectiva de que ele
resultará lucrativo. A senhora acredita que
investir nas feiras livres pode movimentar de
forma considerável o turismo local?
R.: As prefeituras precisam investir em
vários aspectos para melhorar o turismo em
seus municípios. Tais preocupações devem
voltar-se, sobretudo, para a infraestrutura básica
A visita às feiras livres surgiu
durante um projeto interdisciplinar que
as professoras Rosana Eduardo (foto)
e Fernanda Meneses desenvolveram
no segundo semestre de 2009. Teve
como finalidade estudar a relação
entre turismo e alimentação a partir
do olhar de disciplinas como Produto
Histórico-Cultural do Turismo;
Sociologia do Turismo e do Lazer;
Alimentos e Bebidas e Gestão de
Meios de Hospedagem. Durante a
pesquisa, as educadoras e seus alunos
visitaram a feira do Augusto Franco,
os mercados públicos de Aracaju e
a Feira de Itabaiana. O objetivo era
fazer um estudo sócio antropológico
dos alimentos, considerando aspectos
como locais de produção, grupos
sociais envolvidos, formas tradicionais
e modernas de transformação do
alimento, produtos derivados, locais de
comercialização, hábitos alimentares e
o vínculo do alimento com a atividade
turística.
Cultura
Contexto janeiro-março/2011
7
Com criatividade, artesanato sergipano é
fonte de renda em municípios do interior
Elaine Mesoli e Samara Menezes
[email protected]
[email protected]
Do barro ou da madeira, artesãos criam
peças decorativas ou utilitárias de pequeno
valor, mas que contribuem para o desenvolvimento local em todas as regiões de Sergipe.
Nas formas resultantes, que podem ser santos, carroças de boi ou cangaceiros, estão explícitos o passado, o cotidiano e o imaginário
do nordestino. A partir de materiais simples,
como linha e tecido, as bordadeiras produzem
peças ricas em beleza e originalidade e com
fios entrelaçados confeccionam tapetes exclusivos. O Sebrae - Serviço Brasileiro de Apoio às
Pequenas e Micro Empresas, que desenvolve
projetos voltados para este setor desde 2000,
identifica os tipos artesanais de cada município. Os bordados são encontrados principalmente na região do Baixo São Francisco, na
grande Aracaju e no Sul do estado, enquanto
o litoral e o alto sertão se destacam pela produção com palhas e madeira. “O rendendê,
figuras geométricas vazadas em tecido de linho ou étamine, recebe acabamento em relevo com linhas da mesma cor do tecido. O
ponto cruz, estilo em que o tecido, bordado
com linhas finas, recebe motivos coloridos, o
tecido é desfiado com precisão até que formem figuras vazadas e geométricas”, descreve Maria José do Nascimento, coordenadora
do Sebrae.
Rosenilda de Carvalho, vendedora e bordadeira desde os oito anos de idade, diz que
o ponto russo é muito procurado: “para fazer
ponto russo risca-se o desenho no tecido e
fura-se com uma agulha especial”. Outro tipo
de artesanato que se destaca em Aracaju é o
trabalho com fitas e pintura feito por Vânia
Firmino. Ela decora toalhas com as fitas entrelaçadas, faz vagonites (bordado nas barras
das toalhas) e pinta tecidos.
O artesanato em palha é um trabalho bastante lucrativo, mas não é fácil e envolve toda
a família. O marido vai ao campo para cortar
a palha ideal descoberta por um grupo de artesãs de Neópolis. O trabalho para fazer as
peças começa na sede da Associação Artesanal Formiguinhas em Ação e já vem sendo
negociado com lojistas de quatro estados.
Mas para o negócio dar certo é administrado como uma empresa. Tanto que o Sebrae
ofereceu uma consultoria para aperfeiçoar o
artesanato e as artesãs produzem bolsas, bandejas, cestas. A consultora do Sebrae Wânia
Alzira Santos afirma que “a produção mudou
a vida das mulheres de Neópolis, pois elas fazem do talento artístico um complemento da
renda familiar”.
Já em Estância (Sul do estado) os destaques são os bordados de ponto cruz, o rendendê, as bonecas de pano, a tecelagem e o
crochê – “a arte de moldar com mãos e agulhas peças com linhas e barbantes” – que
também tem muitas adeptas em Nossa Senhora do Socorro, segundo Maria José do
Nascimento, do Sebrae.
Diversos estilos de bordado podem ser
encontrados em Tobias Barreto (centro sul):
o richelieu, trazido pelos colonizadores euro-
Alguns tipos de rendas
peus, caracteriza-se por desenhos recobertos
em ponto cheio que acompanham detalhes
vazados do tecido; o bordado aplicado, que
utiliza cola de farinha de mandioca; o caseado,
acabamento como o de casa de botão feito à
máquina de costura sobre desenhos em tecido que, depois é recortado entre os espaços
do bordado; e o ponto cheio, utilizado como
acabamento de outros tipos de bordados.
Outros materiais
Santana do São Francisco (Baixo São
Francisco) é a central ceramista do estado, e
Itabaianinha (Sul) reúne grandes mestres da
arte de modelar a argila. O barro da região, de
ótima qualidade, permite aos artesãos fabricar
maior variedade de produtos: potes, vasos,
jarros, miniaturas de animais, caricaturas do
homem do campo. São antigos fragmentos
da cultura regional que, com a modernidade,
passaram a ter finalidade ornamental. O ceramista Walfredo Elzébio conta que seu pai
o ensinou a modelar o barro em Santana do
São Francisco e hoje ele possui uma loja no
Mercado Municipal que vende peças ornamentais.
No município do Cumbe (Médio Sertão
sergipano), sisal e lã são as matérias-primas,
e a tela é o instrumento. Segundo Maria José,
“aproximadamente 250 artesãos de Cumbe
confeccionam os mais bonitos tapetes e painéis do Brasil”, utilizando os pontos brasileirinho e arraiolo, em formas geométricas ou
florais, com acabamento em franjas. Os tapetes são produzidos em cores de várias tonalidades e traduzem a originalidade das mulheres do interior.
No município de Poço Redondo (Alto
Sertão), a produção artesanal utiliza principalmente a madeira, da qual são feitas imagens.
Ana Paula Lisboa, consultora de artesanatos
do Sebrae, conta que o destaque na produção
é a do Mestre Tonho, “conhecido nacionalmente” por suas produz imagens de santos,
animais e personagens sertanejos em madeira. Na cidade destaca-se também a renda de
bilro, confeccionada sobre uma almofada de
capim, entrelaçando os fios com bilros (peças
de madeira).
A renda que vem da renda
Os 75 municípios de Sergipe foram agrupados em 13 microrregiões econômicas e cinco polos turísticos, criados pela Secretaria do
Estado de Turismo para melhor divisão dos
recursos advindos do Programa de Desenvolvimento do Tu-rismo do Nordeste (Prodetur-NE), que pretende investir cerca de R$
100 milhões em cinco anos.
É na microrregião do Cotinguiba, composta por onze municípios, que está inserido
o polo turístico dos Tabuleiros Costeiros,
principal região da renda irlandesa, na qual se
destaca Divina Pastora, localizada a 39 km da
capital. As missionárias irlandesas que aportaram na localidade trouxeram a arte de fazer
renda e a difundiram para três mulheres e irmãs, que se transformaram em matriarcas no
ensino do ofício na cidade. Hoje essas mulheres oferecem um artesanato rico em detalhes e tiram renda dessa renda, embora os gestores públicos e a maior parte da população
pouco conheçam tal riqueza cultural.
Esse trabalho artesanal é tão importante
para a cidade e para o país, que no dia 27 de
novembro de 2008 a renda irlandesa foi reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Conselho Consultivo do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(Iphan). O modo de fazer a renda irlandesa
produzida em Divina Pastora foi incluído no
Livro de Registro dos Saberes, e o município
registrado como principal território dessa arte
e ofício no país.
Poucos são os turistas que têm a oportunidade de apreciar uma rendeira traba-lhando.
Não há um roteiro oficial que englobe a cidade de Divina Pastora e que inclua visitas
às suas rendeiras. Os roteiros oficiais de turismo cultural existentes no estado são apenas
o de Laranjeiras, o de São Cristóvão e o dos
cânions de Xingó, que concentram a atenção
e os recursos advindos das esferas estadual e
federal.
Para Elizabete Raimundo Santos, pre-sidente da Associação para o Desenvolvimento
da Renda Irlandesa (Asderen), é preciso que,
com o reconhecimento como patrimônio cultural do Brasil pelo Iphan, os gestores públicos e a população sergipana valorizem mais
esse artesanato e dêem condições melhores
para as rendeiras trabalharem.
“Elas [rendeiras] precisam ser respeitadas.
A comercialização desses produtos deve ser
intensificada através de um projeto em que
não precisem vender as rendas através de
atravessadores e que haja venda não só por
encomendas, mas também diretamente para
turistas e por ou-tros mecanismos que fortaleçam a economia das rendeiras”, defende
a presidente da Asderen.
Apesar das queixas, o artesanato sergipano
vem ganhando destaque e espaço em outros
mercados além Sergipe. Com o apoio do Sebrae e do governo do Estado, os artesãos e
artesãs passam por uma formação contínua
no sentido de focar sua produção voltada ao
profissionalismo e geração de renda. Os investimentos no setor têm surtido efeitos positivos, uma vez que todas as peças produzidas
pelos trabalhadores têm destino certo e são
vendidas tanto em Sergipe quanto em outros
estados. C
ONDE ENCONTRAR:
•Centro de Arte e Cultura J.Inácio:
Orla de Atalaia;
•Centro de Artesanato Chica
Chaves: Orla do Bairro Industrial;
•Mercado Municipal: Centro
Histórico;
•Associação Artesanal Formiguinhas
em Ação: Rua Mário Gonçalves,
154, Povoado Passagem-Neópolis tel.(79) 3344-2702;
•Sebrae-SE: Av. Tancredo Neves,
5.500
Saiba mais:
http://portal.mj.gov.br/sedh/pndh3/pndh3.pdf
http://oexpressobandeirante.com/?p=1342
http://www.proconferencia.com.br
http://www.fndc.org.br
8
Arte e História
janeiro-março/2011 Contexto
Sertanejo redescobre seu povo e
ganha destaque internacional
Fotos: Marta Olivia Costa/Contexto
Gustavo Costa
[email protected]
Mostrar a história que ninguém conhece
do sertanejo. Com esse objetivo, Cícero Alves
dos Santos, o Véio, se dedica há 58 anos a retratar na madeira o cotidiano do alto-sertão de
Sergipe e a reunir objetos que revelam a vida
do povo de Nossa Senhora da Glória, a 126
km da capital. Conhecido internacionalmente
por sua arte, Véio tem muito mais a mostrar
em sua residência-oficina, localizada no Km 8
da rodovia Engenheiro Jorge Neto.
Sua fascinação pela história começou
quando ainda tinha 5 anos, época em que adorava escutar as conversas dos mais velhos, mas
não lhe era permitido ficar entre eles. Devido
à sua curiosidade, Cícero foi conquistando,
aos poucos, a confiança dos idosos e passou a
dedicar mais tempo às prosas do que às brincadeiras na rua. Por esse motivo, desde muito
novo, ele se tornou o Véio.
Precupação com a natureza
Seus primeiros trabalhos foram feitos com
cera, mas com o crescente desmatamento, encontrar matéria-prima tornou-se mais difícil.
Véio decidiu, então, trabalhar com madeira.
“Só uso a madeira morta. Não derrubo nenhuma árvore para trabalhar”, garante. Sua
preocupação com a natureza, inclusive, já lhe
rendeu um prêmio pela preservação do bioma
Caatinga. Em uma de suas propriedades, decidiu reunir diversas espécies de plantas nativas.
A iniciativa também faz parte da tentativa de
reunir elementos que retratam a vida do povo
sertanejo. “Como é que alguém pode conhecer o modo de vida dessas pessoas se não conhecem um pé de juazeiro, um pau-preto e
um mandacaru?”, questiona.
As obras expostas à beira da estrada infelizmente estão minguando. Moradores, turistas e
desavisados que não reconhecem a beleza da
arte de Véio roubam e destroem as dezenas
Para Véio, suas obras possuem “vida” e são como parte da família. Por isso, não são vendidas, apenas expostas para visitação
de esculturas que antes ficavam expostas no
local, conhecido como a “Nação”. Neste espaço, o artista retrata todos os elementos presentes na sociedade: o povo, o governo, a religião e o desconhecido, além do preconceito
e da humilhação sofrida por aqueles que são
subjugados no mundo moderno.
Refúgio
Ao se decepcionar com a cidade e o modo
de vida de seus habitantes, Véio decidiu se
refugiar no campo. Lá, como ele mesmo diz,
trabalha como agricultor para “não morrer de
fome”. Segundo ele, sua arte não está voltada
para o lucro. E por esse motivo, Cícero Alves
As esculturas atraem quem passa pela rodovia Engenheiro Jorge Neto, em Glória
dos Santos viaja dando palestras sobre a história do povo sertanejo em escolas, universidades, congressos, etc. sem cobrar nada.
Em sua residência-oficina, o artesão adora
receber visitas de pequenos grupos previamente agendadas. Tem receio em receber excursões ou visitantes inesperados por causa de
seu ofício paralelo como agricultor. “Às vezes
chegam pessoas aqui e eu não posso receber
porque estou na roça trabalhando. E coordenar muita gente sozinho fica muito difícil para
mim”, explica, revelando o desejo de ter apoio
governamental para fazer de sua “Nação” um
ponto turístico no Estado.
Tema de quatro documentários e homena-
geado do Rock Sertão, famoso evento musical da cidade, a arte de Véio é um tesouro a
ser descoberto no meio do sertão sergipano.
Sua sabedoria acerca do seu povo e de toda
a sociedade brasileira encanta os visitantes. O
local é melhor visitado durante o dia e levase pelo menos 1h30 para conhecer todas as
obras, objetos e histórias que compõem o
mundo fantástico da “Nação lascada de Véio,
a Glória do Sertão”. C
Saiba mais:
Documentário “A Nação Lascada de Véio, a
Glória do Sertão”
No acervo do “Véio”, peças raras que recontam histórias do povo sertanejo da região
Contexto janeiro-março/2011
Gastronomia
9
Os sabores da culinária sergipana
Turistas que saem em busca do caranguejo supreendem-se com a variedade de outras comidas típicas
Bárbara Kruschewsky
[email protected]
Q
uando pensamos na gastronomia
sergipana vem imediatamente
à cabeça o famoso caranguejo ou os
demais frutos do mar. Por ser uma cidade
litorânea, esse tipo de comida atrai muito
os turistas, que visitam os bares da Orla
de Atalaia. Mas poucos conhecem os
inúmeros sabores que caracterizam a
culinária local, a começar pelos produtos
primários. A região tem uma variedade de
frutas muito grande, dentre as quais estão
as nativas do Nordeste mangaba, caju,
jenipapo, acerola, umbu, tamarindo, e as
cultivadas mangelão (também chamada
jamelão), pitomba, atemóia, carambola,
pinha e ameixa. Delas são feitos também
sucos e sorvetes que atraem muita gente.
Além disso, há também as raízes,
que são ingredientes dos principais
pratos da gastronomia sergipana, como
a macaxeira e o inhame. “A maioria dos
turistas compra o inhame pra levar pros
outros estados”, explica Júnior, que há 11
anos vende raízes no Mercado Augusto
Franco, em Aracaju. Sergipe também é
o segundo maior produtor de coco do
Nordeste, que é um dos ingredientes
mais usados na culinária local.
Os turistas que vão ao Mercado
ou às feiras livres se encantam com os
diferentes tipos de doce de Sergipe.
Dentre os mais exóticos estão a rapadura
de caju, o creme de batata, as castanhas
cobertas com chocolate, o caju-ameixa, o
doce de pimenta e o doce de queijo. Lá
também se encontra a famosa castanha
natural e castanha do Pará, além do queijo
coalho, que é produzido em Glória e em
Aquidabã, interiores de Sergipe.
Para aqueles que querem levar
lembrancinhas da cidade, são feitos
potinhos decorados com molho de
pimentas nativas. “O que os turistas mais
compram é a pimenta mesmo, que é o
que dá o gosto da comida nordestina”,
diz Cristina Dantas, vendedora da iguaria
no Mercado Augusto Franco há mais de
10 anos. Os doces e licores como os de
jenipapo, tamarindo, mangaba também
são uma opção de lembrança do local.
Café nordestino
Uma marca importante da culinária
sergipana é o chamado café nordestino,
que é servido em restaurantes de comidas
típicas que abrem por volta das cinco
da tarde e servem macaxeira ao forno,
carneiro, carne do sol, sopas, cuscuz e
tapioca recheada. Um dos lugares mais
tradicionais dessa mistura de lanche
com jantar é o restaurante Mangará, que
além de servir pratos típicos ainda tem
uma decoração que representa a cultura
local, marcada pelos festejos juninos.
“Até nossos pratos têm nomes ligados à
cultura popular, como o arroz jururu, o
feijão matuto, galinha da vó, farofão de
tonha”, diz Nathália Lucena, funcionária
do Mangará.
Os turistas também ficam encantados
com o preço do camarão, muito mais em
conta do que na região Sudeste. Mas a
culinária local também oferece outras
comidas ligadas à vida litorânea. A Orla
de Atalaia é um dos melhores locais
para comer moqueca de peixe, caldo de
sururu, casquinha de siri ou guaiamum
e caranguejo. Alguns restaurantes são
famosos pelo pirão, uma mistura do caldo
onde o peixe, o pitú ou o caranguejo foi
cozido com farinha e óleo de dendê.
Pelas ruas da Orla também pode ser
encontrado o beiju, massa feita com a
goma da tapioca e servida com recheios
variados, alguns mais típicos, como o
charque, carne do sol ou coco. Na época
dos festejos juninos, a Orla é ocupada
por barraquinhas com comidas típicas
como milho, pamonha, pé-de-moleque e
bolos variados. c
Queijos e doces são as iguarias apreciadas por quem visita o mercado Thales Ferraz
Fotos: Marta Olivia Costa/Contexto
Pratos típicos servidos no restaurante Mangará encantam o paladar dos turistas
Mercado Thales Ferraz é o ponto tradicional da tapioca e doces regionais
O caju é o símbolo da cidade, mas mangaba, graviola e jenipapo também agradam
10
Meio ambiente
janeiro-março/2011 Contexto
Ecoturismo ainda é pouco explorado no estado
Apesar de sua riqueza ecológica, é difícil encontrar roteiros turísticos associados a recursos naturais
Rafael Santos Barboza
[email protected]
U
m segmento da atividade turística que
utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação
e busca a formação de uma consciência ambientalista, promovendo o bem-estar das populações.
Esta é a definição de ecoturismo publicada em
1994 pela Empresa Brasileira de Turismo (Ebratur) e o Ministério do Meio Ambiente, incluída
no documento Diretrizes para uma Política Nacional do Ecoturismo. A breve conceituação, até
hoje usada como referência, coloca em relevo a
característica mais importante desse segmento:
a utilização sustentável dos atrativos turísticos.
Em Sergipe, a prática do ecoturismo ainda
se desenvolve a passos lentos. Cláudio Braghini, professor do Instituto Federal de Sergipe
(IFS) e pesquisador da área, acredita que ainda
há muito potencial a ser aproveitado: “Como
biólogo, entendo que Sergipe tem ecossistemas
variados à disposição. Para quem associa a prática do ecoturismo a atividades em meio natural,
há inúmeras paisagens e possibilidades, mas elas
são pouco exploradas. Um turista que viaje buscando roteiros genuinamente ecoturísticos terá
dificuldades de encontrar esse tipo de operação
turística por aqui”.
Como exemplos de locais com potencial
para essa modalidade de turismo, há o Parque
Nacional da Serra de Itabaiana, a Floresta Nacional do Ibura, a Reserva da Vida Silvestre
Mata do Junco, a Reserva do Caju, a Represa
Econativus
de Xingó e a Reserva Ecológica do Crasto. São
opções ecológicas que, com o investimento de
políticas públicas apropriadas, poderiam se tornar bastante atrativas àqueles que se interessam
em aliar a prática do turismo com as dimensões
do desenvolvimento sustentável e a apreciação
da natureza.
“Temos locais com potencial enorme, mas
há pouco aproveitamento. O governo deve
investir em políticas eficientes de prática do
ecoturismo, deve firmar parcerias com as instituições de ensino”, acrescenta Luis Ricardo
Araújo, consultor na área e graduado no antigo
curso de Ecoturismo do CEFET - o qual, após
uma reformulação proposta pelo MEC para padronizar os cursos técnicos e tecnológicos no
país, passou a se chamar Gestão de Turismo.
Já Cadu Silva, Diretor de Comunicação e
Documentação da Sociedade Brasileira de Ecoturismo, apresenta um olhar mais pessimista em
relaçãoao interesse que a máquina pública mantém em relação ao ecoturismo no estado: “Sinceramente, Sergipe vive um caos nessa temática.
O governo não aproveita em nada o potencial
ecoturístico e o estado é um dos únicos que se
quer tem uma Secretaria de Turismo. As políticas de turismo em Sergipe estão focadas em
grandes festas, que têm maior apelo eleitoral e
empresarial”.
Praticantes
Apesar de o ecoturismo - com toda a sua
variedade de elementos e características que o
envolve - ainda ser incipiente e pouco cultivado
Econativus
Integrantes do Econativus em uma das trilhas exploradas pelo grupo
Cachoeira do São Francisco
pelo estado, há em Sergipe práticas que se relacionam com o segmento, a exemplo de trilhas
e esportes radicais que são realizados em ambientes onde a natureza sofreu pouca alteração.
O grupo sergipano Econativus, criado em 2002
e hoje freqüentado por uma média de 20 a 30
pessoas, foi fundado por jovens que mantinham
o interesse comum nesse tipo de atividade.
“O que nos motivou primeiro foi nossa periodicidade em praticar trilhas e acampamentos,
em segundo lugar o bem estar que sentimentos
quando estamos em contato com a natureza e
outro ponto era a necessidade de divulgar e lutar
pela preservação e conscientização ambiental.
Nossos principais roteiros são feitos na Serra
de Itabaiana, Poções de Ribeira, Xingó, Serra
da Miaba,Lagoa Redonda, Cachoeira Poção de
Pedras e outros lugares de Sergipe. O contato
com a natureza dá uma imensa sensação de paz,
de liberdade, faz com que as pessoas se sintam
mais vivas”, conta Wagner Guimarães, um dos
fundadores do grupo.
Há empresas de iniciativa privada como a Peregrinos Tour e a Ecotur Viagens que trabalham
diretamente com a oferta de pacotes turísticos
com destino aos principais pontos ecológicos
do estado de Sergipe. Um dos projetos mantidos pela Peregrinos Tour é a EcoEscola, que
leva alunos de 6 a 14 anos para conhecer cenários naturais, com o objetivo de aprimorar o conhecimento dos estudantes e trazer discussões e
debates acerca do desenvolvimento sustentável,
além de promover aos jovens a riqueza ecológica do seu estado:
“O EcoEscola é uma aula viva de natureza,
nós levamos as escolas para conhecerem cenários naturais, incluindo algumas atividades físicas
e um conteúdo adequado ao público atingido.
Trabalhamos hoje com condutores de aventura
certificados pela Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo de Aventura (ABETA)
e biólogos formados”, acrescenta Fabrício, um
dos responsáveis pela empresa. C
PONTOS PRINCIPAIS
Serra de Itabaiana
Parque Nacional situado em
Itabaiana, a 40km de Aracaju,
mas que se estende a outros
municípios do estado. Abriga espécies de fauna e flora muito importantes para a biodiversidade
brasileira.
Cânion de Xingó
Formação rochosa de 50 metros
de altura, que em alguns pontos
atinge até 190 metros de profundidae. Situa-se no município
de Canindé do São Francisco,
distante 213 km de Aracaju.
Floresta Nacional do Ibura
Criada por decreto federal em
2005, é administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade,
vinculado ao Ministério do Meio
Ambiente e também responsável pela Serra de Itabaiana.
Situa-se no município de Nossa Senhora do Socorro, a
cerca de 15 km de Aracaju.
Saiba mais:
Peregrinos Tour
http://www.peregrinostour.com.br
(79) 9927-6343 / 8814-5925
Econativus
http://www.econativus.blogspot.com
(79) 8844-0180
Contexto
Transportes
‘
janeiro-março/2011
11
Os desafios para trafegar pelo estado
Matheus Fortes e Thiago Vieira
[email protected] e [email protected]
foto: Marta Olívia
C
omo chegar? Esta é uma pergunta que
aparece em quase todos os guias de turismo, sejam impressos ou online. E a resposta,
claro, é: depende. No caso de Sergipe, a maior
parte do fluxo de visitantes é por terra, principalmente vindos da Bahia. Mas será que se
houvessem voos mais frequentes para Aracaju
o estado não receberia mais turistas de outras
regiões? Para avaliar como andam os meios de ir
e vir de quem quer conhecer as belezas sergipanas, a equipe do Contexto percorreu terminais
rodoviários e hidroviários, além do aeroporto da
capital, e conversou com os responsáveis por esses setores.
As rodovias são o coração do sistema de
transportes em quase todo o território nacional,
o que não é diferente em Sergipe. No estado,
são cerca de 320 quilômetros de extensão de
malha rodoviária federal, distribuídos entre a
BR-101, com 206 quilômetros, e a BR-235, com
114 quilômetros. Isto fora as rodovias estaduais
que fazem a ligação entre todos os municípios,
servindo como vias de escoamento para vários
fins, inclusive o turismo.
Rodovias federais
É através das estradas que Sergipe recebe
mais pessoas. “É bom destacar que a maior parte das visitas vem da Bahia. Nesse caso, a via
mais importante que liga Sergipe ao estado vizinho é a BR-101”, afirma Adel Riberio, assessor
de comunicação do Departamento Estadual de
Infra-Estrutura Rodoviária (DER). No entanto,
uma nova via será possível após a construção da
ponte Gilberto Amado, que ligará os municípios
de Indiaroba (no extremo sul do estado) ao município de Estância. “Essa ponte também tem
potencial de fortalecer o turismo naquela região,
além de trazer mais desenvolvimento para a
mesma”, explica Adel. Interligada à recém-inaugurada ponte Joel Silveira, essa via permitirá a
quem vier de carro de Salvador ou de outras localidades pelo litoral norte da Bahia encurtar seu
tempo de viagem, além de desembarcar direto
nas praias da capital.
No entanto, os benefícios não serão proporcionados somente para os viajantes do litoral.
A ‘Rodoviária Velha’ é o destino certo para quem deseja ir para o interior sergipano
Segundo Adel Ribeiro, um projeto de duplicação da BR-101, ligando Aracaju a Cristinápolis,
já está com alguns trechos em andamento. O
restante do projeto ainda passará por processo
de licitação em 2011, e quando seu orçamento for aprovado a obras restantes começarão.
A duplicação da BR-101 está sendo feita pelo
Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes (DNIT), em parceria com o DER.
Segundo o engenheiro Luiz Antonio Cardoso,
analista em infraestrutura de transportes do
DNIT, o trecho da BR-101 que liga Aracaju a
Propriá já começou a ser duplicado e a previsão
é que essas obras estejam finalizadas em 2011.
Enquanto isso, a BR-235, que liga Aracaju
às demais cidades do sertão sergipano (como
Areia Branca, Itabaiana e Carira) já está reformada e sinalizada, segundo Cardoso. A previsão
de vida útil da estrada é de cinco anos, tempo
que poderá ser ampliado ou reduzido, conforme
a intesidade de uso. “Se houver um maior fluxo
de veículos, a vida útil diminui. Cabe ao DNIT
fazer a manutenção da via e fiscalizar a vida útil
das rodovias federais”, explicou o analista de
infraestrutura.
Caminhos para o interior
Para aqueles que pretendem viajar por vias
estaduais, a rodovia Lourival Batista (via obrigatória para os municípios de Salgado, Lagarto
e Simão Dias) também foi restaurada recentemente. Quanto aos projetos futuros, o assessor
do DER Adel Ribeiro confirmou a proposta de
uma ponte ligando Sergipe a Alagoas. “Está havendo um diálogo entre os governos dos dois
estados para decidir a melhor localização dessa
ponte, que poderá ser entre os municípios de
Neópolis (SE) e Penedo (AL), ou entre Brejo
Grande (SE) e Piaçabuçu (AL)”, informou.
Mas para quem não tem carro à disposição
e deseja visitar as cidades do interior, o grande ponto de encontro é o terminal rodoviário
localizado no Centro de Aracaju, também conhecido como ‘rodoviária velha’. O entre e sai
das pessoas é combinado com a fumaça dos
microônibus que são característicos das viagens
intermunicipais realizadas pelas cooperativas de
transportes alternativos.
São por volta de 350 veículos que circulam diariamente no terminal do Centro, tendo
como principais destinos as cidades de Lagarto,
Estância, Itabaiana, Nossa Senhora da Glória e
Propriá. A maioria dos usuários desse tipo de
transporte é de moradores dos municípios do
interior que precisam trafegar para trabalhar ou
mesmo para visitar familiares.
As principais reclamações das pessoas que
viajam nos microônibus não se referem ao serviço, como ressalta a funcionária pública Luciene dos Santos, de 43 anos: “eu viajo todos os
dias para Capela, pois trabalho aqui em Aracaju
e moro lá. Os ônibus são bons e nunca tive problema com eles ou mesmo com os motoristas.
Os horários são cumpridos à risca”. A estudante
Ana Cláudia Feitosa, de 23 anos, esclarece que
“o grande problema daqui são as estradas, pois
existem muitos buracos e isto alonga demais as
viagens”. A maioria delas pertence à malha estadual, mas o assessor do DER não respondeu
sobre o assunto.
Apesar dos problemas, os microonibus podem ser uma boa saída para quem quer conhecer as cidades do interior sem gastar muito. A a
passagem para Canindé do São Francisco, nas
margens do rio São Francisco e um dos destinos
mais procurados do estado, por causa dos cânions da Represa de Xingó, custa R$ 19,50 para
uma viagem que, segundo os controladores de
tráfego do terminal, leva 4 horas em média para
percorrer os 194 quilômetros de distância.
Para fazer o mesmo passeio, as principais
operadoras de turismo de Aracaju cobram R$
115,00 por pessoa, valor que inclui os R$ 45,00
do barco catamarã que faz o trajeto ida e volta
ao cânion de Xingó. Ou seja, R$ 31,00 a mais do
que se gastaria utilizando o transporte coletivo.
Se considerarmos uma família de quatro pessoas, a economia ultrapassaria R$ 120,00. C
Voando para a capital
Nem todos que vêm a Sergipe chegam
por via terrestre. O Aeroporto Santa Maria, em Aracaju, é o único acesso aéreo do
estado, e tem capacidade anual para receber 1,3 milhão de passageiros. No entanto,
desde 2003 o número dos que utilizam o
aeroporto tem aumentado relativamente a
cada ano. Em 2009, a Infraero registrou
movimento de 728 mil passageiros no
período de janeiro a dezembro. Em 2010,
até outubro, 766 mil passageiros passaram
pelas salas de embarque, o que representa
um aumento de 32% em relação a todo o
ano anterior.
A promessa de construção de um novo
terminal aéreo para a capital sergipana foi
mais uma vez renovada na última campanha eleitoral, mas a estimativa agora é
que ele só entre em operação em 2014, ano
da Copa do Mundo no Brasil. Segundo
Luiz Alberto Bittencourt, superintendente
do aeroporto de Aracaju, o novo terminal
será
construído em uma área a 200 metros do
atual, com 32.000 m². A pista terá mais
245 metros e sete posições para aeronaves, sendo que quatro delas terão ponte
de embarque. O projeto prevê também a
construção de uma segunda taxi way (trecho que liga a pista de pouso ao estacionamento das aeronaves). O atual terminal
será destinado apenas para o transporte
de cargas. C
12
Educação
janeiro-março/2011 Contexto
´
Formação profissional em turismo
cresce no mercado sergipano
Carol Correia
[email protected]
O
setor do turismo no estado de
Sergipe vem acompanhando o
bom ritmo de crescimento do país. Em
2009, a movimentação de passageiros no
aeroporto de Aracaju teve um aumento
de 8,75% em relação ao ano anterior, segundo dados da Empresa Sergipana de
Turismo (Emsetur). Também houve um
aumento de 19% no número de turistas que vieram para Sergipe através das
agências de viagem. A fim de suportar a demanda crescente, a hotelaria foi
ampliada em 26%, o que corresponde a
um aumento de cerca de dez mil leitos.
Com tantas visitas, o estado deve estar
preparado com profissionais capacitados
para atender os turistas com qualidade.
O curso de graduação em Turismo da
Universidade Federal de Sergipe (UFS) é
uma opção para quem quer seguir carreira na área. Iniciada em 2007 no turno
vespertino e localizada no campus de São
Cristóvão, a graduação teve sua primeira
turma formada no final de 2009. O currículo inclui disciplinas das áreas de Administração, Economia, Geografia, entre
outras, além de conteúdos relacionados a
gestão de alimentos e bebidas, organização de eventos, etc.
De acordo com o chefe do departamento de Turismo, Luís Henrique de
Souza, a formação do profissional é um
diferencial no mercado de trabalho. Segundo ele, a partir da graduação, o aluno torna-se mais apto para lidar com o
segmento. “No curso, o estudante entra
em contato com a pesquisa e a extensão, pode participar de um laboratório
para vivenciar melhor a organização e o
planejamento de eventos, compreende de
forma mais ampla a lógica das agências
de viagem, elabora cardápios específicos,
dentre inúmeras atividades que ele pode
desempenhar no campo”, enumera.
Para Carlos Eduardo Barreto, 28
anos, sócio de uma agência de turismo,
o estudo sobre a área foi imprescindível.
Formado em Turismo e Hotelaria pelo
Centro Federal de Educação Tecnológica
de Sergipe (Cefet), com duração de dois
anos, Barreto acredita que não teria conseguido levar a agência adiante sem o
conhecimento que adquiriu.
“O envolvimento com o turismo não
pode se dar de forma amadora, pois há o
risco de sofrer prejuízos. O curso me fez
ter uma visão melhor sobre o turismo e
o conhecimento técnico que aprendi foi
fundamental para desenvolver o meu trabalho. Além disso, o mercado leva mais a
sério uma pessoa com formação”.
Mas a formação técnica para hotelaria (camareiros, garçons, cozinheiros) e
serviços de agências e operadoras de turismo também é importante para o setor.
Os cursos, oferecidos principalmente
pelo Senac e pelo Sebrae, têm duração
variável: o de guia turístico, por exemplo,
é de cerca de um ano; já o de camareira,
de três a quatro meses.
Profissões necessárias
O instrutor do setor de hotelaria do
Senac Paulo Henrique de Souza, que atua
há 20 anos na área, identifica o aumento
do número de interessados no setor. “O
Brasil e Sergipe estão vivendo um momento muito favorável para o turismo. A
procura pelos nossos cursos tem crescido cada vez mais e acredito que dará um
salto ainda maior com a Copa do Mundo
de 2014 e as Olimpíadas, em 2016. O interessante é que o mercado logo absorve
Carol Correia
Alunos do curso de cozinheiro do Senac durante aula prática
os profissionais que se formam aqui, pois
a demanda é muito grande”, destaca.
Nos cursos de hospitalidade e lazer
os alunos aprendem noções de higiene
e manipulação de alimentos, ética, relações interpessoais, nutrição, segurança
no trabalho, elaboração de menus, entre
outras. Em seguida, partem para as matérias mais específicas como preparação
de sobremesas e saladas no curso de cozinheiro e postura e disposição de talheres,
no caso do curso de garçom. Quando a
parte teórica é finalizada, a turma segue
para a prática.
Muitas pessoas enxergam no Turismo uma oportunidade para mudar
de vida. A aluna do curso de camareira
do Senac, Vanúsia Santos, de 39 anos, é
uma delas. “Antes eu trabalhava como
porteira, mas acho que sendo camareira
eu vou ter mais espaço, mais chances de
crescer dentro de um hotel. Fazendo o
curso, eu sei que depois vou estar empregada”, afirma.
Fabiano Aroldo Santos, de 30 anos,
aluno do curso de garçom do Senac, no
momento está desempregado, mas espera ingressar logo no mercado de trabalho
depois que se formar. “Os restaurantes
e os hoteis estão muito necessitados de
garçons que atendam bem, que sejam
qualificados; é justamente isso que estou fazendo, me qualificando. Acho que
vai ser mais fácil arranjar um emprego,
pois já aprendi uma série de coisas que
vou utilizar na profissão, como montar
a mesa, como se comportar, ter uma boa
postura”, explica. C
Carol Correia
Carol Correia
Alunos do curso de garçom do Senac durante aula sobre destilados
Futuros camareiros do Senac assistem aula teórica
Universidade
Contexto janeiro-março/2011
13
Seminário debateu a relação entre
as áreas de Turismo e Geografia
Layanna Machado
lay_santosmachado@com
O 1° Seminário de Turismo e Geografia de Sergipe - realizado em parceria
com o curso e o departamento das duas
áreas na Universidade Federal de Sergipe
(UFS), em novembro passado – surpreendeu os organizadores ao receber 220
inscritos de diversos estados do Nordeste,
além de Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul
e Mato Grosso. Com um foco temático
amplo (Abordagens teóricas e metodológicas do turismo), o evento teve como
um dos seus principais objetivos abordar
o turismo como uma área interdisciplinar,
que engloba elementos da História, da
Psicologia, da Economia e, em especial,
da Geografia, que dá suporte à análise espacial dos territórios, fundamental para o
desenvolvimento da prática turística.
Segundo a professora Cristiane Alcântara, do Núcleo de Turismo da UFS, doutora em Geografia e uma das organizadoras do Seminário, essa interação entre os
dois cursos já era experimentada na própria sala de aula. “No curso de Turismo
nós temos uma disciplina chamada Geografia no Turismo, ministrada por mim, e
no curso de Geografia, que recentemente
passou por uma reforma curricular, foi
inserida Fundamentos geográficos do Turismo. Foi também devido à inserção dessa nova disciplina que pensamos em abrir
um espaço onde a gente pudesse discutir
de que maneira a Geografia pode contribuir para a área do Turismo”, explicou.
O evento também visou servir como
estratégia para que os alunos pudessem
publicar seus trabalhos acadêmicos, algo
que nunca havia sido feito nos demais
eventos de turismo realizados no estado. Um exemplo disto é Laise Santos,
estudante do 8° período de Turismo da
UFS, que produziu e publicou seu projeto de pesquisa acerca da prestação de
Alejandro Zambrana/Sedetec
serviços que é fornecida pelos hotéis
em Sergipe, utilizando o Hotel Radison
como objeto de estudo. Segundo ela,
o Seminário foi de grande importância
para os estudantes e a expectativa é de
que outros ocorram nos próximos anos.
Conhecimento e patrimônio
O seminário teve início com o professor Antônio Carlos Campos, do Núcleo
de Turismo da UFS, graduado em Geografia e também coordenador do evento,
que especificou os objetivos e os temas a
serem abordados ao longo dos mini cursos, mesas redondas e apresentação dos
projetos de graduandos e pós-graduandos.
Logo após, o professor da PUC-SP e
da USP Luiz Gonzaga Godoi Trigo, que
tem diversos livros publicados na área,
como Turismo e civilização, e América e
outras viagens, iniciou sua palestra alertando para a necessidade de pesquisas que
respondam aos novos problemas apresentados pelo turismo e que o libertem
da idéia de uma área de conhecimento
insignificante. Segundo ele, a necessidade
de se “fazer turismo” devido à globalização, ao estresse da modernidade e como
uma forma de autoconhecimento vem se
mostrando crescente em todo o mundo.
Com isso, já se nota um aumento das produções na área, bem como dos cursos de
graduação e pós-graduação.
Questões relacionadas aos “patrimônios da humanidade” - título recentemente concedido à Praça São Francisco, em São Cristóvão - também foram
debatidas. Devido ao seu reconhecimento
e valor histórico, estes se tornam pontos referenciais do turismo. Para falar a
respeito disso e de alguns projetos governamentais voltados para o incentivo e
reconhecimento da atividade turística no
estado, foi convidada a Secretária de EsAlejandro Zambrana/Sedetec
Palestra sobre Economia da Cultura realizada no segundo dia do Seminário
Luzia Neide Coriolano, geógrafa e pesquisadora na área de Turismo
tado da Cultura de Sergipe, Eloísa Galdino. Ela dividiu a mesa intitulada Turismo,
Patrimônio e Território com o professor
Rogério Proença, do Departamento de
Ciências Sociais da UFS, e a professora
Silvana Pirillo, da UFAL, ambos doutores,
que fizeram o contraponto sob o ponto
de vista do contexto nacional.
Prática capitalista
Outra questão referente aos dois campos de estudo – Geografia e Turismo – foi
acerca da cruel lógica capitalista que transforma o espaço geográfico em produto
para se obter lucro e, muitas vezes, essa
“imagem” vendida de determinado local
não corresponde à realidade. “A Aracaju
que se vende não é a Aracaju do homem
daqui, o Ceará que vendem não é o do
cearense que tem miséria, feiúra, pobreza.
O que se vende é a imagem atrativa que
dá lucro”, afirmou a geógrafa, professora
e pesquisadora cearense Luzia Neide Coriolano, que já publicou mais de 14 livros
sobre turismo. Segundo ela, para entender
e ter uma visão crítica dessa área, enxergando tanto os lados positivos como os
negativos, são necessários critérios, teoria
e rigor, caso contrário, esse campo de estudo, que ainda é recente, não se impõe e
cai na idéia de que tudo é turismo.
“É preciso entender que ele é uma
prática econômica do capitalismo e que
para haver essa atividade é necessário que
haja a viagem – o deslocamento geográfico – e o lazer. Ele envolve dois tipos de
pessoas: os que trabalham e os que viajam; um grupo trabalha para que o outro
possa ter lazer e se divertir. O turismo é
essencialmente espacial, e sua relação com
a geografia diz respeito ao fato de que
você viaja para conhecer lugares, e o lugar
é geográfico. O turismo em si é uma abstração, o que existe é o espaço físico, é o
lugar”, analisou a pesquisadora.
Segundo Luiza Coriolano, existem propostas alternativas a essa lógica do capitalismo: “A atividade turística é, em parte,
contraditória. Pode predominar a acumulação, porque ele é feito para reestruturar
o capitalismo através dos serviços, mas ele
também deixa brechas não ocupadas pelo
capital, pelo empreendedor, pelo hoteleiro, que ao serem descobertos terminam fazendo um contraponto ao turismo
tradicional, que é o chamado turismo comunitário, de base local, que respeita os
valores, a cultura, e é mais distributivo”,
concluiu.
O evento contou também com o lançamento do livro “Território, meio ambiente e turismo no litoral sergipano”, organizado pelos professores José Wellington
Carvalho Vilar (IFS) e Hélio Mário de
Araújo (UFS), que traz textos acerca do
ordenamento dos cenários ambientais
no litoral sergipano produzidos por uma
equipe da Universidade Federal e do
Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Sergipe (IFS) formada por
pesquisadores e pós-graduandos na área
da ciência geográfica.
Segundo Cristiane Alcântara, coordenadora do Seminário, devido à grande
participação e aos resultados obtidos,
a expectativa é a de que o evento perdure. “Nós acreditamos que ele vai ser
bienal. Já distribuímos aos participantes
um questionário de avaliação do evento
onde a última pergunta é uma sugestão
de novo tema para um futuro congresso.
A comissão organizadora se reunirá novamente para avaliar essa possibilidade”,
anunciou. C
Saiba mais:
http://seminarioturismogeografia.wordpress.com
http://br.linkedin.com/pub/luzia-neidecoriolano/21/822/807
14
ConteXtando
janeiro-março/2011
Contexto
´
Aracaju está preparada para ser uma
cidade turística?
Marta Olivia Costa*
[email protected]
Desde que recebeu o título de “capital da qualidade de vida”, em
2008, Aracaju vem melhorando a sua infraestrutura turística. A rede
hoteleira, sobretudo na Orla de Atalaia, foi ampliada significativamente. A quantidade e a variedade de restaurantes, também. Os
pontos turísticos receberam mais atenção, a antiga Rua 24 Horas
foi reinaugurada como Rua do Turista, e recentemente a cidade ganhou uma nova orla, a do Por do Sol, à beira do Rio Vaza Barris. A
propaganda externa também aumentou a demanda. Aracaju hoje
faz parte do roteiro de boa parte das agências de viagem do país,
SIM
“N
ota-se uma boa organização da cidade. Ela é
muito limpa, as pessoas não incomodam, são
hospitaleiras, sabem atender muito bem. E realmente se
enquadra no perfil de uma cidade turística, mesmo que
um pouco imatura, mas que apresenta um bom padrão
de vida.
”
X
Edson Piron, turista de São Paulo (SP)
“A
racaju está preparada sim. Mesmo com uma pequena estrutura de
hotéis, restaurantes, bares e poucos pontos turísticos estruturados, a
cidade tem a seu favor a paisagem e um clima muito agradável, além de lindas
praias. O pouco que temos é muito bom, não deixa a desejar. Trabalho em uma
rede de hotéis e nunca ouvi nenhum turista reclamando da cidade. Lógico que
precisa ampliar a rede hoteleira ainda mais, porque os hotéis já não suportam
a demanda crescente dos últimos anos. Mas só de ter a mais linda orla do país
já estamos muito à frente.
Polyana Candido do Araujo, 6º periodo de Turismo (UFS)
”
“O
jeito de atender do sergipano é diferenciado. O
ritmo daqui é mais calmo, se comparado ao de
outras capitais. As pessoas são mais gentis, educadas
e atenciosas. Os locais apresentam um bom padrão
de higiene e sociabilidade. Em qualquer lugar, desde
o hotel ou até mesmo comprando um remédio, o
atendimento é muito bom. Trago minha família quase
todos os anos e acredito que Aracaju merece ser a capital
da qualidade de vida.
Tarsis Vaz, Turista de Salvador (BA)
o geral sim. Aracaju é o ponto de partida do turismo em Sergipe. Os
hotéis são bonitos e estruturados, os bares e restaurantes são bem
localizados. E é a partir daqui que o estado é conhecido. Sempre que os turistas
chegam a Aracaju estendem o passeio para os demais municípios, a exemplo
de Canindé, São Cristovão, Itabaiana, etc. Por isso acaba cumprindo seu papel
turístico.
”
“N
”
Emanuela Perreira, 4º período de Secretariado Executivo (UFS)
“A
capital oferece a calmaria de uma cidade pequena e
noites agitadas como as das grandes capitais. O
turismo aqui é diferente. A maioria das pessoas procura
a cidade por ser tranqüila. No Carnaval, por exemplo,
os turistas fogem das grandes folias para aproveitar a
tranqüilidade e o clima pacato de uma capital ainda
provinciana.
”
Imary Santos, 2º período de Eng. de Alimentos UFS
por ligar Salvador a Alagoas pelo litoral. Mas será que a cidade está
mesmo preparada para receber bem os seus visitantes? Será que
os sergipanos são de fato hospitaleiros como se diz por aí? E a tal
qualidade de vida é percebida pelos turistas? O Contexto saiu pelas
ruas da capital e percorreu o Campus da UFS em São Cristóvão
para saber a opinião de estudantes, de moradores e dos principais
envolvidos no assunto: os turistas. Muitos sentiram dificuldade para
responder; outros pareciam ter a resposta na ponta da língua e arriscavam até sugestões. Confira o debate.
NÃO
“P
rimeiro não acredito nessa propaganda de Aracaju ser a “capital de
qualidade de vida”. Pode ser até a do Nordeste, mas não do Brasil.
Outra situação confusa são as ofertas turísticas. Como Aracaju não possui
tantos lugares para conhecer, os pacotes de viagens sempre oferecem passeios
em todo o estado. E é um contraste imenso, porque enquanto a capital é limpa
e organizada, os municípios são sujos, desestruturados e desorganizados.
O atendimento ainda precisa melhorar muito, acho que precisa ser mais
carismático, as pessoas aqui muito fechadas.
Leonardo Viana, turista de Ribeirão Preto (SP)
ara uma cidade ser considerada turística o todo precisa
estar envolvido. Não basta investimento se não há
uma cultura para o turismo. Uma coisa essencial que eu
senti falta foi a de preparo dos guias. As falas sempre
são muito artificiais. Eles não sabem orientar, nem
sugerir algo fora do roteiro ensaiado. Ficou evidente que
é recente o investimento e a introdução do turismo na
capital. Precisa melhorar léguas para transformar uma
cidade linda como Aracaju em uma cidade extremamente
turística como Gramado, por exemplo.
Mauricio Troiani, turista de Ribeirão Preto (SP)
oro em Aracaju há aproximadamente quatro anos e acredito que ela
pode chegar a ser uma cidade turística melhor do que se apresenta hoje.
Fora a Orla de Atalaia e a Passarela do Caranguejo, não há muita diversidade na
capital. Se existe, não há divulgação. Falta mais entretenimento. Shopping tem
em todas as capitais, belezas naturais são poucas que possuem, e Aracaju peca
por não saber utilizar melhor seus recursos. O atendimento também precisar
ser aprimorado, pois está próximo do horrível.
Claudiane dos Santos - mestranda em Física
”
“P
”
“M
”
“N
ão, mas já melhorou bastante. Eu sou do Rio [de Janeiro] e moro
em Aracaju há 14 anos. Nesse tempo aumentou
o
número de hotéis, bares, restaurantes. Foi construída
uma Orla que é muito organizada, mas falta muito
ainda. Agora o que falta aqui de verdade, não só em
Aracaju, mas Sergipe como um todo, é o incentivo à
cultura sergipana, amor pelo estado, pelas raízes. O
orgulho de ser sergipano que ainda não foi incorporado
pela população. As pessoas não valorizam o que tem aqui,
não gostam de seus artistas, não valorizam sua cultura.
”
Denise Duarte, Engenheira Civil e 7º período de Matemática UFS
“E
mbora Aracaju já possua hotéis de boa qualidade e com boas
acomodações, não oferece um menu com bons lugares turísticos
para conhecer. Fora a Orla, o mercado Thalles Ferraz e o Parque da Cidade,
não existem locais disponíveis e bem divulgados dentro da cidade. Turistas
gostam de conhecer coisas regionais próprias do estado e aqui não há muita
variedade.
Nara Lima Oliveira, 6º período de Eng. Civil UFS
”
Cidades
Contexto janeiro-março/2011
15
Parque da Cidade está esquecido
Apesar dos atrativos, o lugar não é incluído em roteiros turísticos locais
Ivo Jeremias
Fotos: Ivo Jeremias
[email protected]
Q
uem chega a Aracaju para visitar logo
se encanta pela cidade. Mas enquanto
uns locais ganham destaque nos guias turísticos, outros passam praticamente em branco. É
o caso do Parque José Rollemberg Leite, conhecido como Parque da Cidade, que apesar
dos seus 31 anos de existência ainda não atrai
a devida atenção dos turistas. Atrativos é o que
não faltam. Com uma área de 1 milhão e 500
mil metros quadrados, é o único lugar de Mata
Atlântica remanescente na capital, abriga o
zoológico da cidade, um teleférico, trilha para
caminhada, lagos, pista de asa delta, centro de
ecoterapia, centro hípico, entre outras atrações.
Ainda assim, não foram suficientes para inserilo nos roteiros turísticos locais.
Para a turismóloga Ana Kelly Costa, o Parque da Cidade teria muito mais a oferecer se
recebesse atenção do governo. “O ecoturismo
seria a melhor opção para alavancar a visitação
do local, porque iria favorecer a expansão e a
preservação do lugar, além de proporcionar o
desenvolvimento do turismo”, afirma. A turismóloga diz que também seria necessário uma
nova infraestrutura no Parque. “Para atender à
demanda dos visitantes, uma repaginada deve
ser feita no lugar, como a disponibilização
de bens e serviços utilizados pelos turistas, a
exemplo de hospedagem, transporte, alimentação e tantas outras coisas que são necessárias
para preservar o ambiente e deixar o turista sa-
O Parque está situado no Bairro Industrial
tisfeito”, destaca. Segundo Ana Kelly, as questões que impedem o desenvolvimento do lugar
estão ligadas a disputas políticas. “O Parque foi
construído na gestão de um governo,
e sempre será
visto como
i desde
uma obra do
Moro aquque foi
“
tal candidaue o par o. No início
q
to, por isso,
nstruíd ele ia
o
c
quem assumiu
recia quesas vidas,
a
p
a gestão posdar nos ilusão.”
u
m
terior não quer
do
mas foi tu
realizar obras
no local para não
enaltecer o concorrente. Com isso, quem sai perdendo é a economia
sergipana, e, conseqüentemente, o sergipano”,
aponta.
Desvalorização
Visitando Sergipe pela terceira vez, a mineira
Iolanda Vieira Duarte diz que nunca ouviu falar do Parque da Cidade. “Sempre que chego
vou aos lugares que a minha agência de turismo
indica. Aqui em Aracaju já fui a todos os lu-
emprego, mas foi tudo ilusão. Agora tá tudo aí, só quem aproveita são
os moradores e algumas pessoas
que trazem as crianças para ver os
bichos”, desabafa.
História
Inaugurado em 1979, o Parque
da Cidade está situado no bairro
Industrial, na região do Morro do
Urubu, zona Norte de Aracaju.
Foi construído pelo Prefeito da
Capital João Alves Filho, entre os
anos de 1975 e 1979, mas não chegou a ser totalmente utilizado pela
população devido às fortes chuvas
que caíram em 1979 e danificaram
as instalações. No dia 25 de maio
de 1985, o Parque foi reinaugurado
com muita festa e com a presença
do homenageado, o ex-governador
José Rollemberg Leite.
Ao longo dos anos o local passou por duas reformas. Em 2006
recebeu melhorias e mais recentemente passou por uma revitalizaO Teleférico oferece uma visão privilegiada de Aracaju ção, que incluiu a instalação de um
teleférico, no qual o visitante pode
gares, agora estou abrindo espaço para conhefazer um tour por cima do parque, tendo uma
cer outras áreas em Sergipe, mas nunca soube
visão privilegiada de Aracaju e usufruindo do
da existência desse parque”, afirma. O baiano
ar puro oferecido pelo parque. C
Hugo Chagas Santos
mora em Aracaju há
dois anos e se surpreende ao ser indagado
sobre o parque. “Eu
conheço o Parque
da Sementeira, mas
esse da cidade,
nunca ouvi falar.”
A
aposentada
Maria Francisca
de Assis Menezes, 68,
mora próximo ao parque e fica indignada
com a falta de aproveitamento do espaço.
“Moro aqui desde que
o parque foi construído. No início parecia
que ele ia mudar nossas vidas, víamos granAbrigo para os animais
des oportunidades de
C
16
Cidades
janeiro-março/2011 Contexto
O que move o mercado central?
Importante centro comercial e turístico de Aracaju reclama mais investimentos
Bárbara Nascimento e Karina Garcia
[email protected] e [email protected]
C
ores, formas, cheiros, gostos e
sons são elementos que não passam despercebidos por quem decide ir ao
complexo de mercados de Aracaju. Seja
para passeios ou compras, o lugar comum
alia a sua função primeira - o comércio - à
cultura e ao convívio social que lhe é inerente. A área conhecida como mercado
central abriga três prédios, construídos
entre 1910 e 2002 (ver quadro abaixo). O
primeiro é destinado ao artesanato, o segundo às variedades da gastronomia nordestina, e o último compreende o ramo de
hortifrutigranjeiros.
Doces, queijos, castanha e ervas são
apenas alguns dos produtos que vagueiam
pelo gosto do público e que garantem o
fluxo incessante na área, seja da população local ou de turistas dos mais diversos
lugares. Mas, segundo comerciantes, os
mercados não vêm recebendo a atenção
que merecem. Os prédios precisam de reparos na estrutura. Entupimentos de esgotos, problemas na rede elétrica e falta
de higiene dos banheiros são alguns dos
itens que fazem parte da lista de reclamações. E em períodos chuvosos, algumas
lojas são invadidas por goteiras e infiltrações, provocando perda de mercadorias e
danos em equipamentos.
A enfermeira Milena Moreira, da Paraíba, disse que logo quando sua família
e ela chegaram à capital, buscaram de
imediato o local para conhecer e apreciar a cultura sergipana. “Buscamos o
lugar onde pudéssemos encontrar o artesanato e percebemos que está faltando a construção de uma estrutura mais
adequada para receber os turistas. Os banheiros do mercado, por exemplo, devem
ser mais higiênicos porque do jeito que
está fica impossível de utilizar”, opina.
Investimentos a passos lentos
Quem viu o mercado ser alvo de grandes atrações e um dos principais berços da
economia do estado, surpreende-se hoje
com a estagnação que gera revolta entre
comerciantes locais e insatisfação de turistas. Desde janeiro de 2010 existe um projeto para a reforma, assunto levado várias
vezes à tribuna da Câmara Municipal de
Aracaju, mas as obras ainda não iniciaram.
Outro queixa é sobre a má divulgação
do local. “O turista, por vezes, enxerga
o Mercado somente como uma feira de
alimentação. Por isso, muitos quando conhecem a Feira de Artesanatos da Orla
(ponto turístico da zona sul de Aracaju)
nem passam por aqui”, lamenta Patrícia
dos Santos, comerciante de camisas e produtos artesanais há 5 anos.
“Aqui tem que ser melhorado porque o
Mercado é do povo. Aqui é a raiz, é onde
estão as coisas mais tradicionais, como o
pessoal da capoeira, do folclore. Parece
mais que as autoridades não querem que
os turistas se aproximem do povão. Um
dia apareceu uma pessoa de fora e disse
que pensou que aqui era uma ‘bagaçada’,
mas na verdade temos uma variedade
enorme, muita coisa boa e bonita”.
Para Lia Amorim, assessora de comunicação da Fundação Municipal de
Cultura, Turismo e Esportes de Aracaju
(Funcaju), responsável por formular, implementar e executar as políticas públicas
desses setores, “os comerciantes dos mercados nunca venderam tanto para turistas
como nesses últimos tempos. Todos eles
estão satisfeitos com os investimentos
que o poder público tem feito para atrair
os turistas para Aracaju, portal de entrada
do nosso Estado”.
Porém a falta de anúncios em pontos
estratégicos (como aeroportos, rodoviárias e terminais) faz com que os turistas
não tomem conhecimento do local – a não
ser pelo ‘boca-a-boca’. Elisângela Santos,
administradora, natural do Espírito Santo,
afirmou ter conhecido o Mercado Central
através de uma cunhada que mora na cidade. “Se eu não fosse informada sobre o
lugar certamente iria para a Orla”, disse.
Choro e muito mais
A criação de bares e cabarés na região
dos mercados, nos anos 1940 e 1950, fez
surgir na área uma vida boêmia – hábito
cultivado até os dias de hoje, embora com
uma roupagem diferente. Além do já tradicional Forró Caju, evento que acontece
no período junino, outras atividades dão
vida ao local durante todo o ano. As segundas-feiras passaram a integrar a agenda cultural com peças e apresentações
musicais à noite, atividade organizada há
seis anos pela Rua da Cultura. O espaço
é palco para alegria e identidade do povo
e reflete a diversidade do cenário artístico
de Aracaju, de outras cidades sergipanas e
também de diversos cantos do país, sempre que um convidado passa por lá.
Os sábados também têm um toque diferente. Entre o ir e vir da população, o
chorinho é um convite à descontração. A
boa música pode ser acompanhada porpetiscos, como o queijo coalho e regada
à cerveja gelada. Há quem prefira feijoada
Fotos: Marta Olívia e Maria Josefina.
ou amarradinho, antes ou depois do som.
Esse pedaço de chão situado na Avenida Rio Branco, à beira do Rio Sergipe,
é mais do que um ponto de comércio ou
de turismo. Ele integra a cultura popular;
conta a história de um povo, traduzindo
na arquitetura, nas artes, na literatura de
cordel, nas cores dos vestidos pendurados, nos sorrisos descontraídos, no vermelho delirante da pimenta, no rico verde de tantas ervas, no bate-papo entre os
trabalhadores e na delicadeza da passarela
das flores o sentimento e o jeito sergipano
de ser.
Lá não falta calor humano, diversidade
e interação de manifestações culturais capazes de encher os olhos e o coração das
pessoas. É raridade que precisa ser cultivada diariamente. C
Dona Maria Lúcia (à esquerda) é
especialista em ervas e temperos; Milena
(acima) vende objetos de decoração; e
Patrícia (abaixo) comercializa camisetas e
produtos artesanais. Todas esperam por
dias melhores no Mercado
Os três pilares do “mercadão”
A história do mercado tem início em 1910, quando
a estrutura física ainda era de madeira, e se consolida
1926, com a construção do prédio que recebeu o
nome de Antônio Franco e passou a ser conhecido
como Mercado Modelo. Nos anos 1940 foi
construído o Mercado Novo Thales. Ferraz, nome
que homenageia um dos maiores comerciantes de
Sergipe. De 1994 a 2002 foi projetado e construído
o mercado Albano Franco. Juntos, os três formam o
mercadão, cada um com sua peculiaridade.
O horário de funcionamento é das 6h às 18h, de
segunda a sábado, e das 6h às 12h aos domingos.
Fonte: PMA. Imagem: Internet.