UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A HISTÓRIA DO RÁDIO ESPORTIVO.
OS DOCENTES CONHECEM?
Por: André Luís Pinto Gonçalves
Orientador
Prof. Marcelo Saldanha
Rio de Janeiro
2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A HISTÓRIA DO RÁDIO ESPORTIVO.
OS DOCENTES CONHECEM?
Apresentação
Candido
de
Mendes
monografia
como
à
requisito
Universidade
parcial
para
obtenção do grau de especialista em Docência do
Ensino Superior
Por: André Luís Pinto Gonçalves
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AGRADECIMENTOS
Ao Marcelo Saldanha, meu professor
orientador, pela colaboração.
Ao cara lá de cima.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho primeiramente ao
meu filho Arthur Gomes Gonçalves, a
minha esposa Daniele A. Gomes de
Souza, pela colaboração e sobretudo
pelo amor, carinho, apoio, estímulo,
colaboração e paciência. E a minha
mãe Rosangela Maria Teixeira Pinto,
por me ajudar em todos os momentos.
E aos meus avôs paternos, que vivem
lá em cima, os queridos José Maria L.
Gonçalves
e
Ivalda
dos
Santos
Gonçalves, por me proporcionarem a
possibilidade de cursar a graduação e
esta especialização.
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RESUMO
Sempre fui fascinado pelo jornalista esportivo. Aprendi a ler com seis
anos e na época, assim como hoje, adorava ler, principalmente a editoria de
esportes dos jornais e, além disso, gostava muito de escrever e falar muito, até
demais. Hoje em dia, claro, tem internet, televisão e similares. Mas o que me
fascina mesmo é o rádio. Veículo de comunicação fantástico.
Meu primeiro curso na área foi em 1994. Com 14 anos, fiz um estágio
numa emissora pequena do rádio carioca. Amei. Os anos se passaram, fiz
vários cursos e também a graduação de Jornalismo, onde aprendi um pouco
mais da profissão sonhada. O tempo passou mais e entrei no mercado. Hoje já
sou um pouco conceituado, não estou em veículo de massa, mas tenho
credibilidade no mercado.
Mesmo com a bibliografia escassa, a história do radialismo esportivo é
sensacional. O locutor esportivo é importante e marcante nessa trajetória. O
rádio e o esporte tiveram papéis fundamentais no que é o jornalismo esportivo.
Tanto é que nos cursos de jornalismo das faculdades e universidades, mesmo
com toda a tecnologia atual, o tema é um capítulo à parte nas didáticas dos
docentes.
A proposta desta monografia é contar um pouco dessa brilhante história
do rádio esportivo, desvendar a evolução desse meio e o principal, através de
entrevistas com os docentes atuais de radiojornalismo, saber se os próprios
conhecem a história do rádio esportivo.
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METODOLOGIA
O método utilizado para o desenvolvimento do tema proposto baseou-se
no cotidiano, nas histórias do dia a dia, pouca leitura de livros devido à
escassez de referências bibliográficas e claro, entrevistas com os docentes.
O desenvolvimento desta monografia consistiu em reunir algumas fontes
de informação como referência imediata para tratar o assunto com a devida
importância.
O propósito é reunir informações muito importantes sobre a história do
rádio esportivo no Rio de Janeiro. Tem por fim, transformá-la em uma fonte de
consulta para aqueles que desejam iniciar estudos sobre o tema e ainda,
mostrar, positiva ou negativamente, o conhecimento sobre o assunto dos
docentes da área.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
08
CAPÍTULO I
09
CAPÍTULO II
14
CAPÍTULO III
20
CAPÍTULO IV
40
CONCLUSÃO
46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
48
ÍNDICE
49
FOLHA DE AVALIAÇÃO
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INTRODUÇÃO
É inegável que o esporte tem um papel importante na vida do brasileiro.
Segundo pesquisas, 80% das pessoas acompanham esse setor. O futebol
ocupa lugar de destaque na preferência do público brasileiro. Visando atingir
estas pessoas, cresceram muito e de forma considerada na mídia, publicações
e programas especializados no assunto. Os veículos de comunicação
perceberam que a programação esportiva era um filão a ser explorado.
O rádio sempre explorou esse potencial, sendo destaque também entre
as pessoas, principalmente na freqüência AM. O FM começa a despontar, mas
o AM sempre foi a preferência. Claro que hoje, temos TV, sites e jornais
inúmeros. E hoje, as tradicionais transmissões de um jogo de futebol pelo
rádio, então, têm que concorrer com a sedução e a tecnologia da televisão. Os
programas esportivos no rádio ainda têm um público fiel e apaixonado. O rádio
tenta se modernizar, não é fácil, é preciso reavalia toda a estrutura.
Nem sempre foi assim. Até os anos 90 o imediatismo e o dinamismo do
rádio eram soberanos. Grande parte da audiência se devia a fidelidade do
locutor, que tem o dom de transformar o ato de narrar futebol uma arte. É
como se o ouvinte estivesse dentro do estádio. Fazer o ouvinte ver o jogo é ou
era a especialidade de todos os nomes citados neste trabalho.
E os docentes de hoje, como Francisco Aiello, Fábio Azevedo,
entrevistados da monografia, sabem e/ou conhecem esta fantástica história?
Entrevistas com perguntas interessantes foram realizadas. Respostas foram
dadas. E cada um que tire a conclusão se os docentes de radiojornalismo do
mundo atual conhecem o passado
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CAPÍTULO I
A IMPRENSA E O ESPORTE
A Imprensa é a principal divulgadora do esporte. Não é a única
responsável pela criação dos ídolos, mas sem dúvida, responde pela
manutenção dos astros dos esportes.
Sem o apoio dos veículos de
comunicação, nenhum craque na sua modalidade é efetivamente conhecido e
reconhecido. Existem jornalistas ídolos sim. Inicialmente o futebol era tratado
nos jogos como um assunto corriqueiro, merecia poucas linhas quando o
assunto era um jogo importante ou a conquista de um campeonato, para logo
em seguida, esquecer o próprio assunto. Claro que isso era nos jornais. E
também nas emissoras de rádio.
Mas quando o rádio descobriu o fascínio que o futebol exercia sobre o
público, mudou de comportamento. Teve maior espaço na programação. Tudo
era notícia. Treinos, concentrações, entrevistas, tudo isso fora o jogo em sim,
virou informação, novidade. Surgiram então, repórteres, redatores e cronistas
esportivos especializados. Hoje vemos subcategorias em cada profissional no
mercado de trabalho.
Quando a televisão surgiu, o futebol estava consolidado como a alegria
do povo. Era o esporte que mais empolgava a população brasileira. João
Saldanha, cronista até 1990, dizia que a televisão estava assassinando o
futebol, pois o torcedor não precisava mais ir aos estádios, bastava
acompanhar os gols da rodada nos programas esportivos e às transmissões de
jogos. Ele tinha razão, em parte. A TV trouxe inovações, diversas câmeras e
outras situações mais, e copiou um pouco o rádio, com informações mais do
que precisas durante as transmissões. É claro que nada disso substitui a
emoção de assistir aos jogos nos estádios, sentado na arquibancada.
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O rádio é emoção. A TV tem mais frieza. O jornal é só no dia seguinte e
tem que ter criatividade. O que resta dizer e isso parece ser confirmado é que
todos os meios de comunicação, sobretudo de massa, buscam vender mais e
faturar mais e para isso não importa o que tem que ser feito.
Partidas medíocres são transformadas em grandes espetáculos, ídolos
aparecem de uma hora para outra e somem com a mesma rapidez. Tudo isso
para conquistar o torcedor e não perdê-lo nunca mais.
1.1- HISTÓRICO DA COBERTURA ESPORTIVA NO BRASIL
O crescimento da narração esportiva no Brasil está intimamente ligado
ao espaço que a mídia dedicou ao esporte durante décadas. Por isso, antes
ainda de falarmos da História dos locutores no Rio de Janeiro, onde se faz a
História do rádio, é interessante mostrarmos como se deu a evolução esportiva
nos últimos tempos, evolução esta, contada no livro “O Brasil na Era do Rádio”.
Década de 20: primeira participação do Brasil em Jogos Olímpicos, em
1924, em Paris. Pela precariedade dos veículos de comunicação da época, o
evento foi pouco divulgado no Brasil. Enquanto acontecia a Olimpíada, o povo
voltava suas atenções para o esporte mais popular da época: o remo.
Década de 30: o futebol começava a se destacar, surgiam os primeiros
ídolos do esporte: Leônidas da Silva e Domingos da Guia, que acabaram
incentivando os mais jovens nos primeiros passos do esporte. Em 1932, nos
Jogos Olímpicos de Los Angeles, o rádio dava apenas pequenos flashes sobre
algumas modalidades em que o Brasil participava. Em 1938, na Copa do
Mundo da França, quase quinhentas mil pessoas acompanhavam pelo rádio as
partidas da seleção brasileira. Nesta Copa, Leônidas da Silva voltou
consagrado como artilheiro e começou a ser escolhido para anunciar vários
produtos, entre eles o chocolate Diamante Negro, seu apelido, da lacta.
Década de 40: nesses anos, o esporte praticamente estagnou-se no
mundo. A mídia voltava-se para a cobertura de fatos envolvendo a II Guerra
Mundial. Só em 1948, depois de terminado o conflito, é que voltaram as
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transmissões com os jogos da XIV Olimpíada, realizada em Londres. No
entanto, o rádio não deu muita atenção à delegação brasileira que estava na
Inglaterra, pois estava voltado para a Copa do Mundo de futebol de 1950, que
se realizaria no Brasil.
Década de 50: a Copa do Mundo de 50 não deu o título de campeão ao
Brasil, mas o rádio, principal divulgador do evento, cumpriu sua missão.
Transmitiu o evento para cerca de 9 milhões de pessoas, um número
expressivo considerando-se a população da época. Brasil vice-campeão: o
país se integrava pelo rádio. A grande novidade da Copa eram os cinejornais,
que exibiam os gols e principais lances dos jogos. Dois anos depois, na XV
Olimpíada, em Helsinque, o Brasil ganha as suas primeiras medalhas em
atletismo e tiro. O rádio comenta, mas não dá muita atenção ao fato, ao passo
que os jornais dão maior destaque. Ainda nos anos 50 surge uma
revolucionária novidade: a televisão. Primeiramente em São Paulo e Rio de
Janeiro e depois, no fim da década em Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife.
Como o único esporte transmitido pela TV era o futebol, o povo começou a se
apaixonar pelas partidas. A televisão permitia um comentário especializado e
didático enquanto as imagens iam aparecendo na tela. Em 1958 o Brasil
conquista seu primeiro título mundial. A televisão transmitia o entusiasmo dos
jogadores, tendo um papel importante, mas ainda coadjuvante. Durante essa
Copa o rádio ainda era essencial. Prendendo cerca de 32 milhões de ouvintes
com suas transmissões, enquanto o público da televisão não ultrapassava os 2
milhões de telespectadores.
Década de 60: aconteceram os jogos da XVII Olimpíada, em Roma. A
televisão não comentou muito, até em virtude dos frascos resultados da
delegação brasileira. Entretanto, o público televisivo crescia cada vez mais,
principalmente com a cobertura da Copa de 1962 da conquista do
bicampeonato do Brasil, saltando de 2 para 7 milhões de telespectadores. As
coberturas deixavam de ser feitas em videotapes com cortes e passavam a ser
transmitidas na íntegra, com apenas um dia de defasagem. A Olimpíada de
1964, em Tóquio, finalmente teve um apoio maior da mídia. Mas, infelizmente,
o Brasil não teve uma participação significativa, o que acabou por desestimular
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a população a acompanhar a maioria dos esportes. Em 1966, na Copa da
Inglaterra, o Brasil decepcionou, mas, em compensação, o Santos de Pelé
sagrava-se campeão mundial interclubes. A televisão já movimentava uma
massa de 26 milhões de telespectadores, crescendo em uma proporção
assustadora em relação ao rádio.
Década de 70: Copa do Mundo do México, Brasil tri-campeão mundial
de futebol. Pela primeira vez o país estava assistindo a uma transmissão direta
da Copa do Mundo pela televisão. Imagem e emoção ajustadas ao mesmo
tempo na conquista definitiva da taça Jules Rimet, depois de quarenta anos de
disputa. A aquela altura, o rádio já tinha uma audiência de 65 milhões de
pessoas e a televisão 34 milhões. A Copa do Mundo de 1974, na Alemanha,
trouxe uma novidade para os telespectadores: a transmissão direta e em cores
para todo o país. Com isso, a televisão atingiu uma audiência de 44 milhões,
enquanto o rádio chegava aos 80 milhões. A copa da Argentina, em 1978, que
recebeu a visita de muitos brasileiros deu ao rádio uma audiência de 86
milhões, enquanto a TV beirava os 60 milhões. Se a TV reinou absoluta nas
coberturas de Copas e Olimpíadas a partir de 70, o rádio mantinha seu
prestígio nas transmissões de campeonatos estaduais e nacionais de futebol,
em conseqüência da proibição da transmissão direta das partidas pela TV para
as praças onde houvesse no mesmo dia e horário. A Olimpíada de Montreal,
transmitida ao vivo para todo o mundo, teve intensa cobertura em todas as
redes e foi onde começaram a surgir os primeiros investimentos em marketing
esportivo fora do futebol.
Década de 80: seria praticamente impossível descrever todas as
alterações nas transmissões esportivas dos anos 80. Praticamente tudo
mudou. As transmissões via satélite, a computação gráfica, as redes voltadas
exclusivamente para o esporte, entre outros. O futebol ratifica-se como paixão
nacional e as transmissões de jogos estaduais e nacionais pelo rádio ainda
dão bastante audiência. Surge a TV Bandeirantes como o “Canal do Esporte”,
cobrindo todas as provas olímpicas e campeonatos das mais diversas
modalidades esportivas. O desenvolvimento da computação gráfica permite a
criação de vinhetas e aberturas criativas, transformando as competições
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internacionais em verdadeiros shows para a população, que passa a dar
atenção a outros esportes.
Década de 90: há o desenvolvimento da TV a cabo, atingindo, no início
da década, uma camada da população de maior poder aquisitivos e, agora, já
chegando às camadas menos favorecidas, em bairros periféricos e com taxas
de adesão e mensalidades mais populares. No início de 1997 as emissoras de
TV a cabo tinham como um dos principais apelos junto ao público, transmitir,
ao vivo, jogos para as praças onde eles estariam se realizando, seguindo um
modelo consagrado nos Estados Unidos, muito comum para o boxe, basquete,
baseball, e outros, o sistema pay-per-view. O assinante pagava uma cota extra
para poder assistir a esses jogos. A crescente segmentação manifesta-se mais
uma vez no surgimento de canais a cabo voltados unicamente para a
transmissão e coberturas esportivas.
De 2000 até hoje aconteceu à proliferação da TV a cabo, legal ou
ilegalmente, para praticamente toda a população, sobretudo nas grandes
metrópoles. E também, transmissões da TV aberta dos jogos até para as
cidades que ocorrem. Com isso, o rádio perdeu força. Em comparação ao
passado, poucas pessoas escutam o futebol pelo rádio. Hoje, no RJ, contando
todas as rádios, com futebol nos estádios, o número é 500 mil ouvintes por
minuto. Mesmo assim, o rádio continua fascinante, mesmo com essa pouca
quantidade de pessoas em relação aos anos anteriores, podemos considerar
um público fiel.
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CAPÍTULO II
A PERSONALIDADE DO LOCUTOR
O rádio é, antes de tudo, companhia e diversão, pois pode ser escutado
em qualquer lugar, no carro, no quarto, na cozinha e no local de trabalho,
esses são os espaços mais importantes e, geralmente, por uma só pessoa. O
rádio é amigo. Praticamente toda a programação radiofônica baseia-se nesse
pressuposto, procurando chegar ao ouvinte, ocupado com alguma atividade,
de maneira informal e íntima. Nesse aspecto têm fundamental papel os
locutores e animadores, pois viram amigos dos ouvintes.
Se nos anos 40 o apresentador dos programas radiofônicos era ao
mesmo tempo próximo e distante, também acessível e de certa forma meio
travado, com uma aura de austeridade, que lhe conferia maior credibilidade
mas também distanciamento, a atual revolução dos costumes e a comunicação
de massa exigiram locutores mais populares, antenados com a população
ouvinte, que são as empregadas domésticas, os motoristas, os operários, os
porteiros, enfim, as pessoas que sentissem na voz do locutor muito mais que a
prestação do serviço de informar, mas a voz de um companheiro, de um amigo
próximo que lhes compreenda as necessidades, alegrias e tristezas. Sendo o
rádio um meio cujo público é altamente heterogêneo, o uso de uma linguagem
especificamente cativante e simplificada também se faz necessária. Portanto, a
mensagem radiofônica necessita de um tratamento mais delicado, a fim de se
tornar mais alegre.
É nesse momento que o papel do radialista é importante. Ao locutor,
caberá encontrar o estilo homogeneizado para os diversos conteúdos, pois é
preciso minimizar a mobilidade semântica da mensagem. A personalização
deste locutor não é de hoje, apenas está calcada em outras bases. O que
vivemos hoje seria a continuação do estilo que ficou consagrado a partir dos
anos 40, com muita força.
Mário Erbolato, em “Radiodifusão Brasileira”, lembra que muitos dos
radialistas são frutos das camadas populares, por isso com formas de pensar e
expressar-se muito próximas: “Muitos dos radialistas em atividade no Brasil
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formaram-se com a prática, fazendo carreira nas emissoras. Alguns
começaram como Office-boys, aproximaram-se dos colegas tarimbados e de
projeção e com eles aprenderam”. E é o próprio autor quem completa: “O
locutor é um semi-poderoso profissional, cuja voz chega as populações e
passa a orientá-las. Há um diálogo, paradoxalmente unilateral, quando o
locutor responde a uma carta, atende ao pedido para execução da faixa de um
disco ou dirige um cumprimento ao ouvinte amigo estaria na descontração das
frases o êxito radiofônico. Em resumo, o radialista tem uma personalidade, que
se projeta perante os ouvintes, que o consideram um ídolo. É enfim, o que
marca presença pela quantidade de sua voz, assuntos que aborda ou que
sabe dizer, dirigindo-se a um público, do qual captou a simpatia.”
Mas que discurso é esse, que pretende e cativa o ouvinte? São formas
de falar, expressões como “minha amiga dona de casa”...” nossa ouvinte
querida”, “ você, minha amiga, você, meu amigo que está aí do outro lado...”,
“nós dois, juntinhos, aqui na sua rádio...”, a utilização do nome próprio no trato
com os ouvintes, pequenos detalhes que prendem audiência, são usados com
frequência pelos locutores, verdadeiros personagens, ícones identificados com
as rádios em que trabalham e com a postura que adotam no ar, seja ela qual
for. Assim, o locutor torna-se não apenas um informador, mas que é a própria
cara do que o rádio pretende ser: amigo, companheiro, informante, tudo o que
o ouvinte precisar. Um dos slogans do locutor Francisco de Assis, que foi da
rádio Tupi na década passada, explicita isso: “Se você quer um amigo, pode
contar comigo”. Essa “amizade” transforma o apresentador em parte do show,
em uma metalinguagem que se acrescenta ao sentido de interação pretendido
pela rádio. Isso porque todo o processo de elaboração e transmissão das
mensagens pelo comunicador deve refletir as experiências culturais, sobretudo
as experiências de fala do público receptor. O comunicador, escritor, jornalista,
cineasta, produtor de rádio e TV e outros têm a obrigação de estar sintonizado
com a linguagem falada pelas pessoas às quais vai se dirigir.
As pessoas podem receber suas mensagens sozinhas, em qualquer
lugar que estejam. Essa característica faz com que o locutor possa falar para
todos os que ouvem como se estivesse falando para cada um em particular,
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dirigindo-se àquele ouvinte específico. Sendo assim, o ouvinte se sente
valorizado, acompanhado e os objetivos de informar ou entreter se tornam
mais eficazes no rádio.
A grade de programação é elaborada a partir dos locutores e do perfil de
programa que eles apresentam, das atrações que eles trazem e do que
oferecem ao ouvinte. Tanto o programa quanto a própria estrutura da
transmissão são elaboradas a partir da personalidade do locutor, criando uma
relação de fidelidade com o ouvinte amigo, coisa que uma profissão de
quadros e programas soltos não conseguiria construir. Isso porque o locutor
tem que envolver o público, precisa tornar o ouvinte próximo a ele. Isso é uma
estratégia e uma necessidade, já que o rádio não pode ser impessoal. Cada
radialista procura criar estilo próprio, evidentemente para torná-lo diferente dos
demais. Exemplo: dirigindo-se aos motoristas de caminhões, procuram
entusiasmá-los e valorizá-los, enquanto também transmitem músicas, notícias
e informes ligados aos transportes.
Outro ponto importante a ser destacado no comportamento do locutor é
o improviso na transmissão diária dos programas. Esse recurso varia de
locutor para locutor, mas sempre alcança seu objetivo: torna mais frouxo,
natural, sem as amarras do script do programa ou aos horários dos quadros, e
permitindo também ao próprio locutor expressar uma opinião, disfarçar uma
falha da técnica ou simplesmente suavizar o ambiente depois de uma notícia
mais desagradável.
Sônia Virgínia Moreira no seu livro “O Rádio no Brasil”, explica que a
improvisação tem sido um recurso fartamente utilizado pelos apresentadores,
ao ponto de assegurar inclusive o sucesso junto a diferentes camadas de
audiência. Isso acontece porque na comunicação radiofônica, tanto a narração
do locutor quanto a transmissão de determinados sinais acústicos levam o
ouvinte a relacionar essa transmissão a algo que lhe é familiar. Esse signo não
será necessariamente uma palavra; poderá ser qualquer coisa capaz de dar
origem a outros signos. Dessa forma, improvisar é trazer para o ouvinte a idéia
de familiaridade, na medida em que ao improvisar o locutor aproxima-se mais
ainda de sua fala e ações normais, emitindo signos, emissões vocais,
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expressões, suspiros ou risos que identificam o ouvinte no locutor. Entretanto,
é válida a ressalva feita por Luís Fernando Maglioca, em “Como falar no
Rádio”, do locutor paulista Cyro César: “Será que esta fala é produzida,
estudada e planejada? Será que é muito importante ir ao microfone sabendo o
que se vai falar? Ou o decantado improviso é mais comunicativo? Ambas são
válidas. O que importa é ter noção do que se vai falar”.
Outro fator decisivo no sucesso de um locutor é a sensoriedade.
Segundo Cyro César: “O rádio envolve o ouvinte, fazendo-o participar por meio
de um diálogo mental. Ao mesmo tempo. O ouvinte sente a emoção das
palavras do locutor e dos recursos da sonoplastia. Na sensoridade está à
ligação direta locutor-ouvinte, onde cabe ao locutor quando ocupar o microfone
discernir o certo do errado, o coerente do absurdo. O comunicador manipula a
opinião do grupo que o escuta. O ouvinte acredita no que você fala, portanto
seja claro, lógico, consciente, razoável e responsável em tudo aquilo que
disser.”
Entretanto, em vários casos esse poder de convencimento e esse poder
de discernir certo do errado podem ser perniciosos ao locutor, e por
conseqüência a todo o trabalho da equipe. Como no radialismo AM a opinião
tem um espaço privilegiado dentro dos programas, o que diz diante do
microfone toma uma dimensão muito maior do que pensa. O comentário, se
feito sem responsabilidade ou cautela, pode resultar num mal entendido grave
para a informação e consequentemente formação ideológica do ouvinte, e até
mesmo para a credibilidade do locutor – embora seja justamente essa
credibilidade que possa aumentar mais o estrago feito.
Como personagem, o locutor tem o poder de manipular opinião e
sentimentos do seu receptor, apresentando pontos de vista que este venha a
apropriar-se. Todo radialista, pelo alcance e poder de persuasão de seu meio,
deve ter em mente que é um formador de opinião, pois é o responsável pela
divulgação de um fato, o qual será traduzido por ele em palavras escritas ou
faladas. Entretanto o que se vê são casos de profissionais que não falam com
essa responsabilidade como tal, e sim como uma vantagem ou um status
sobre o resto do mundo.
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O repórter ou entrevistador, ao formular perguntas e mesmo interferir na
explanação do entrevistado não deve invadir o que costumamos chamar de
primeiro plano. Este é sempre o fato que se examina, simbolizado pelo
entrevistado que o apresenta. Na medida em que o repórter ou entrevistador é
um mero intermediário entre o público receptor e o fato, o entrevistado
representa o fato. Portanto o primeiro plano são as intervenções do repórter ou
entrevistador, se não forem as de mero intermediário, se não buscam
unicamente o maior esclarecimento do fato que está sendo examinado,
constituem invasão do primeiro plano.
A preocupação é com o ouvinte e tem que ser assim. Desde que o
jornalista ou o radialista não venha com princípios éticos, que são consensuais
universais, não tem o menor problema. E desde que ele também não vá contra
questões fechadas da emissora, nem se posicione contra determinados
assuntos. Existem coisas de caráter universal, princípios éticos, e disso a
emissora não abre mão.
Muitos consideram falha de utilização da posição de locutor, outro nem
tanto, nisso não tem como dizer o que é certo ou o que errado, opiniões se
divergem. Era o estilo de Cidinha Campos, hoje apresentadora na TV: ao início
de cada um de seus programas, a radialista fazia um pequeno editorial,
comentando uma notícia geralmente política, e o faz de maneira ferina e
muitas vezes acusatória, sempre guiada apenas pela indignação popular, não
pela análise desapaixonada dos fatos. Cidinha Campos fez história no rádio.
Nesse caso, a defesa é da própria jornalista e apresentadora, em depoimento
recolhido por Sônia Moreira em junho de 1989 no jornal Rádio X. Da entrevista,
Sônia destaca que Cidinha “afirmava que se sentia um pouco como porta-voz
da sociedade”, um pouco como todos os locutores se sentem; “eu sofro os
problemas como cidadã. Existe aquela sintonia de eu me colocar ao lado do
ouvinte nas mesmas dificuldades. O ouvinte sabe tudo de mim e essa
identificação cria a intimidade”. Justiça seja feita: apesar de levada ao extremo
por Cidinha, essa “necessidade” de ser íntima e compartilhar a opinião do
ouvinte é o que faz de um locutor o que ele é: acima de tudo, um amigo.
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Hoje, podemos considerar apresentadores no rádio com estilos próprios.
Ricardo Boechat, na Band News FM, sereno e crítico ao mesmo tempo.
Roberto Canázio e Antônio Carlos, na Globo, têm a linguagem popular, sendo
que o segundo é pouco mais comedido nas palavras. Francisco Barbosa, na
Tupi, tem um estilo alegre de ser e por isso é bem quisto pelo público.
No esporte, José Carlos Araújo e Gilson Ricardo apresentam na Globo o
Globo Esportivo e o Panorama Esportivo, respectivamente, e o segundo é mais
brincalhão no ar. Na Tupi Wagner Menezes é o apresentador titular do Giro
Esportivo e também leva brincadeiras ao ar, sobretudo quando tem o
comentarista Jorge Nunes ao seu lado. No Momento Esportivo, da Rádio Brasil
940 AM, na hora do almoço, o apresentador Maurício Moreira é um pouco mais
sério.
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CAPÍTULO III
O RÁDIO ESPORTIVO CARIOCA, O INÍCIO
A Rádio Sociedade, inaugurada por Roquete Pinto em 20 de abril de
1923 foi a primeira emissora de rádio do RJ e também a primeira do Brasil. No
início, investiu em alto estilo informativo e elitista com transmissões apenas de
óperas, música clássica e conferências. Aos poucos, o veículo foi se
modificando. A programação da Rádio Clube do Brasil, criada em 1924, já era
bem mais popular. Apesar da precariedade em termos de tecnológica e
serviço, as duas rádios dividiram o público carioca em toda a década de 20.
Somente em 1929 foi inaugurada a terceira emissora: a Rádio Mayrink Veiga.
Até o final dos anos 20, as emissoras de rádio no país seguiam basicamente o
modelo de radio clubes, se sustentando a partir da contribuição de seus
sócios. Nesse contexto, o esporte ainda não tinha qualquer destaque.
As primeiras transmissões esportivas do rádio brasileiro foram feitas de
forma muito precária em 1930, por Amador Santos, locutor da Rádio Clube do
Brasil. Também conhecido como o repórter do ar, o locutor tinha marca
registrada o tom neutro e absoluta sobriedade. Amador narrava futebol e
corridas de cavalo com voz pausada, sem qualquer empolgação ou emoção. O
radialista Renato Murce, em seu livro Os bastidores do rádio, chegou a dizer
que Amador Santos transmitia futebol como quem transmite uma ópera no
Teatro Municipal.
Estas primeiras transmissões esportivas geraram vários conflitos entre
dirigentes de clubes e profissionais do rádio. Os cartolas impediram os
locutores de entrarem nos estádios, acreditando que se o jogo fosse
transmitido pelo rádio o público não compareceria. A proibição gerou casos
folclóricos. Amador Santos passou a transmitir jogos de binóculo, em cima do
muro, lajes e telhados. Chegou a narrar jogos do Fluminense em cima de um
galinheiro de uma casa vizinha ao estádio das Laranjeiras.
Em 1932, César Ladeira se transformou o primeiro locutor a utilizar o
rádio como instrumento de mobilização nacional, durante a Revolução
Paulista. No mesmo ano, Getúlio Vargas baixou um decreto que permitia a
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veiculação de propaganda no rádio. Esse fato mudou de maneira definitiva o
perfil do veículo. As principais emissoras começaram a contratar artistas, que
antes só se apresentavam em programas como forma de divulgação de
trabalho. Além disso, o Brasil passou a distribuir concessões de canais a
particulares, o que reforçou o caráter comercial do rádio. Com programas mais
elaborados, que traziam chamariz ídolos da música, o veículo passou a se
popularizar. Com a diminuição do preço do custo dos aparelhos, o rádio se
incorporou definitivamente ao lar da família brasileira.
Em 1936, foi inaugurada a Rádio Nacional, que se tornou o principal
símbolo da época de ouro do rádio brasileiro. Estatizada em 1940, a Nacional
passou a receber investimentos internacionais e do próprio governo, pois
Getúlio pretendia utilizar a emissora como veículo maior de propaganda de seu
governo. Esse investimento governamental levou a Nacional ao primeiro lugar
na audiência, posto que ocuparia por mais 20 anos.
3.1- GAGLIANO NETO, O PIONEIRO
Em 1932, a Rádio Mayrink Veiga trouxe de São Paulo um locutor de
ficou marcado pelo pioneirismo. Apesar das primeiras transmissões feitas por
Amador Santos, Gagliano neto foi quem tornou a locução esportiva conhecida
em todo o país, transmitindo jogos até o fim da década de 50. Gagliano se
transferiu para a Rádio Clube do Brasil onde foi o primeiro locutor a narrar uma
Copa do Mundo, em ap38, na primeira transmissão internacional do rádio
brasileiro. Apesar do clima total de amadorismo e do desempenho ruim da
seleção brasileira, Gagliano neto se tornou uma celebridade nacional, pois sua
voz era a única ligação entre o povo e a seleção. Como o Brasil não possuía
um grande número de aparelhos de rádio, as pessoas se aglomeravam em
frente a alto-falantes que transmitiam a narração dos jogos. Mais que um
pioneiro, ele foi um herói, já que estas primeiras transmissões foram feitas por
uma total falta de estrutura.
O som limpo dos sinais de satélite que recebemos hoje em dia não
passava de utopia naquela época. Os primeiro cabos submarinos, que
22
melhoraram muito a qualidade do áudio só sugiram nos anos 60. O sinal das
transmissões de Gagliano era ouvido através de ondas curtas, que refletem na
camada atmosférica, chegando até os ouvintes. O resultado era um desafio ao
coração do torcedor apaixonado. Como as camadas são imperfeitas,
diferentemente da superfície lisa e espelhada por satélites atuais, o som
chegava muitas vezes distorcido e marcado por oscilações que tornavam as
palavras do locutor incompreensíveis. A aflição do torcedor era tanta que
muitos ouviam os jogos nas ruas, na tentativa de conseguir uma melhor
localização e uma melhor qualidade de som.
É importante lembrar que muitos dos maneirismos dos locutores
esportivos vieram exatamente dessa baixa qualidade de som. A letra R, por
exemplo, era falada de forma puxada, semelhante a pronúncia espanhola,
para facilitar a compreensão por parte dos ouvintes. Invariavelmente as
transmissões abriam com um ‘senhorrras e senhorrrres do rrrrádio’ bem
característico.
3.2- ODUVALDO
COZZI,
ARY
BARROSO
E
ANTONIO
CORDEIRO
No final dos anos 30, a Rádio Nacional já fazia transmissões esportivas
com certa regularidade. Às vésperas de um Fla-Flu na Gávea, o principal
locutor da emissora adoeceu. A fatalidade foi o pontapé inicial na carreira de
um dos grandes nomes do cenário histórico deste meio. A Nacional escalou
sem muita alternativa, Urbano Lóes, famoso locutor de comerciais,
acostumado a gravar textos de poesias e que não entendia nada de futebol.
Para auxiliá-lo, escalou um novato locutor, de apenas 19 anos. Oduvaldo
Cozzi. Uma hora antes do jogo, Urbano e Oduvaldo iniciaram a transmissão.
Urbano, como seu tom poético fez elogios ao gramado, ao estádio e a entrada
dos times em campo. Foi só. Mal a bola rolou e o empostado locutor percebeu
que não poderia continuar e entregou o microfone para o garoto Cozzi, que
apesar do nervosismo, deu conta do recado. O resultado agradou. É bem
verdade, que, como receio de lançar um rapaz tão jovem como locutor
23
principal, a Nacional contratou o experiente Antônio Cordeiro, mas o
desempenho de Cozzi lhe rendeu muito prestígio na emissora.
Considerado um dos narradores mais completos do rádio, Oduvaldo
Cozzi, foi também o criador de várias novidades em termos de transmissão
esportiva. Dizem que Cozzi foi o primeiro a colocar gravador escondido no
túnel dos técnicos para divulgar declaração dos treinadores durante os jogos.
Cozzi ficou pouco tempo na Nacional. No final dos anos 40, a Rádio
Continental inovou o esquema das transmissões esportivas, lançando um
modelo de rádio totalmente voltado para o esporte. Não à toa o seu slogan era
“A rádio 100% esportiva”. E para este projeto a emissora contratou Oduvaldo
Cozzi.
Ás vésperas da Copa de 1950, disputada no Brasil, a Rádio Nacional de
Antônio Cordeiro se mantinha como a número 1. Entre seus repórteres de
campo, destacava-se César de Alencar, que apresentava um dos programas
de auditório de maior audiência na época. Outro repórter era Jorge Curi, recém
chegado da mineira Caxambu e iniciando uma brilhante carreira como locutor.
Anos depois ele substituiria definitivamente Antonio Cordeiro, que era sisudo e
sério, como narrador titular da Nacional. Porém, antes que seu talento como
locutor fosse conhecido e reconhecido, Curi teve que trabalhar animando
programas de calouros chamado “A hora do pato”. Curi também sofria com as
broncas de Antônio Cordeiro, que muitas vezes esbravejava e reclamava no
meio de uma transmissão, coisa pouco comum na época. Mas a espera valeu
a pena. Jorge Curi foi um dos nomes mais importantes do rádio na década de
50 e se tornou conhecido como o locutor padrão do rádio brasileiro.
3.3- ARY BARROSO
Na mesma época, a segunda força do radiojornalismo esportivo era a
Tupi. Seu principal locutor era Ary Barroso, um torcedor apaixonado pelo
Flamengo, e que não fazia a menor questão de ser imparcial e transmitia os
jogos torcendo com fervor para o rubor-negro. Quando um adversário do
Flamengo atacava, ele chegava a interromper a transmissão como um ‘não
24
quero nem ver’. Por causa dessa falta de neutralidade, Ary era odiado pelos
dirigentes de outros clubes e várias vezes impedido de entrar em São
Januário, estádio do Vasco, maior rival do Flamengo, acusado de ser um
defensor do time de maior torcida do país segundo as pesquisas feitas pelo
Ibope. Mas ao contrário dos cartolas, torcedores de todos os clubes se sentiam
atraídos pelo jeito dele, os rubro-negros vibravam com sua narração
apaixonada, enquanto os rivais escutavam sua narração para ouvir a reação
do locutor diante de um gol do adversário do Fla. Graças a esse jeito particular
e politicamente incorreto, Ary Barroso foi líder de audiência por toda a vida.
A carreira de Ary começou de maneira curiosa. Trabalhando na Rádio
Cruzeiro do Sul, ele era responsável por programas musicais humorísticos.
Numa tarde de Fla-Flu, o locutor oficial da rádio teve uma úlcera e como Ary
gostava muito de futebol, foi chamado para substituí-lo. Nunca mais saiu.
Estreia bem parecida com a de Oduvaldo Cozzi. Foi Ary Barroso quem
acrescentou às transmissões esportivas as figuras do repórter de campo e a
do comentarista do intervalo. Outro diferencial do locutor era sua famosa
gaitinha. Ao invés do tradicional grito de gol, era com o som da gaita que ele
comemorava os triunfos dos atacantes. No livro Radiojornalismo eletrônico ao
vivo, de Sidney Resende e Sheila Kaplan, o jornalista Sérgio Cabral conta
como este história começou. “Naquela época não havia cabine para as
transmissões nos estádios. Os narradores ficavam geralmente na social ou na
arquibancada mesmo. Quando havia um gol o ouvinte não percebia, tal a
barulhada. Ary ficou imaginando um jeito de contornar isso. Pesquisou em
casas de música, ouvindo vários instrumentos até que, numa loja de
brinquedos, encontrou uma gaitinha de plástico, que passou a tocar sempre
que tinha gol. Ficou conhecido como o home da gaitinha. Se era gol do
Flamengo, ele tocava um tempão, se era gol de outro time, acabava logo,
porque ele não ia perder tempo com o gol dos outros”.
O som da gaitinha virou referência para os rubro-negros. Quando
Moraes Moreira fez a música em homenagem à conquista do Mundial em
1981, um dos versos dizia ‘a gaitinha vai tocar, como nos tempos de Ary...’
25
De temperamento forte, o locutor provocou confusões folclóricas. Em
um jogo entre Brasil e Argentina, em Buenos Aires, ele quase foi linchado
depois de provocar os argentinos, achando que o árbitro roubara o Brasil,
largou a transmissão e invadiu o gramado para brigar. Outro episódio
conhecido foi em um Vasco e Flamengo, onde o time de São Januário era
favorito. O Flamengo marcou o gol da vitória aos 41 minutos do segundo
tempo e de forma ilegal. Ary não agüentou e largou a transmissão para
comemorar com os jogadores.
No panorama do final da década de 40, os ouvintes se dividiam entre a
paixão de Ary Barroso, na Tupi e o jeito forma de Antônio Cordeiro, na
Nacional. Porém, duas forças iam surgindo. Uma era a Rádio Globo,
inaugurada em 1946 e então emissora de pequeno porte. Seu primeiro locutor
era Doalcei Camargo, paulista de Marília, cuja carreira se confunde com a
própria história do rádio esportivo. A outra potência era a Rádio Continental,
que ficaria famosa por suas inovações nas transmissões.
3.4- AS HISTÓRIAS DE JOÃO SEM MEDO
Na história do radiojornalismo esportivo, João Saldanha merece um
capítulo à parte. Sua carreira começou por acaso, em 1945, com matéria pela
Europa para uma pequena agência de notícias do tio de um colega na
faculdade. Apaixonado pro futebol foi dirigente e técnico do Botafogo no final
da década de 50. Foi nessa época que surgiu um dos mais brilhantes
comentaristas que o rádio já teve.
Em março de 59, Cozzi, Curi e Waldir Amaral disputavam a preferência
do público. Na ocasião, Cozzi já estava na Mayrink Veiga, Amaral defendia a
Continental com seu estilo aplicado, sério, sem preocupações detalhistas nem
audácias verbais e Curi utilizava seu vozeirão na Nacional, dando força a cada
sílaba das palavras. Nesse fim de 50, Cozzi era o número 1, Waldir em
segundo e Curi na terceira posição. O Brasil iria iniciar sua primeira competição
depois de conquistar a Copa de 58, o Campeonato Sulamericano de Buenos
26
Aires e as emissoras estavam empenhadas em novidades para suas
transmissões. João Máximo, em seu livro ‘João Saldanha sobre nuvens de
fantasia’, conta como o comentarista foi contratado pela Nacional. “Alguém
sugeriu Curi a levar com ele um comentarista diferente, sem o tenicismo mal
humorado de José Maria Scassa nem o palavrório envernizado de Luis
Mendes. Quer dizer, alguém que falasse simples, claro, articulado, com
capacidade
de
transmitir
seus
conhecimentos
de
futebol
tanto
à
intelectualidade mais exigente quanto ao povão menos sofisticado. Portanto,
que Jorge Curi buscasse outro parceiro. E por que não João Saldanha?” João
aceitou na hora e nunca mais saiu. Nos 30 anos seguintes passou pelas rádios
Nacional, Mayrink Veiga, Continental, Guanabara, Globo e Jornal do Brasil.
Saldanha tinha um estilo único, que inovou com a linguagem do
radiojornalismo. Seus comentários eram coloquiais com o um papo de esquina,
qualquer menino entendia sua análise. Enquanto a regra na época eram frases
rebuscadas e palavras difíceis, João iniciava seus comentários com simples
‘meus amigos’. Ao mesmo tempo atraía os intelectuais, que aprenderam a
gostar de futebol com ele. João virou o ‘realmente técnico’, o ‘comentarista que
o Brasil consagrou’, o ‘João sem medo’. Porém o próprio se intitulou como ‘um
homem que gostava de viver.
Saldanha virou um fenômeno. A audiência aumentava a cada dia. Até
quem ouvia o jogo em outras rádios, sintonizava a Nacional no intervalo. De
temperamento forte, dizia o que vinha a mente. Foi autor de frases polêmicas.
“Todo técnico favorável a concentrações longas é um candidato a corno”, “se
macumba ganhasse jogo, o Campeonato Baiano terminaria empatado”,
“pênalti é tão importante que deveria ser batido pelo presidente do clube”. João
era célebre pelas histórias que contava em uma disse que Pelé era míope não
enxergava a bola direito. Na época de ditadura, a maioria dos comentaristas
era obrigada a se omitir, João sempre dava um jeito peculiar de criticar o
Governo e como a forma era tão sutil, ninguém encontrava argumentos para
puni-lo. O temperamento forte foi responsável por conflitos. Em sua passagem
pela Rádio Globo, divergiu em dois lances em duas partidas consecutivas com
Jorge Curi. Waldir Amaral, então chefe, deu razão ao narrador e Saldanha
27
pediu demissão. Apesar do jeito intempestivo, para José Carlos Araújo, João
Saldanha foi um mestre. “Saldanha foi o maior gênio da comunicação que eu
conheci. Ele era um homem muito viajado e por isso seu grande trunfo era sua
cultura geral. Para ser um bom comunicador, você ter que ser no microfone o
que você é fora dele. E João era extraordinariamente simples. Uma
característica que o diferenciava dos demais era que ele não comentava o jogo
em si e sim um detalhe do jogo. Falava da grama, da bola e em cima disso
fazia o comentário. Graças a esse estilo ele atraía até quem não gostava de
futebol”.
João terminou como técnico da seleção brasileira. Entrou em 4 de
fevereiro de 69 com a missão de arrumar a equipe que fez péssima campanha
em 66 e saiu boicotado, em 17 de março de 70. Não sem antes organizar as
feras e entregar a seleção pronta para Zagallo, que conquistou o tri no México.
Mas isso é outra história.
3.5- AS INOVAÇÕES DE WALDIR AMARAL
Em 1962, a Rádio Guanabara deu início ao projeto de formar uma
verdadeira seleção. Alguns escalados para a empreitada foram Doalcei
Camargo, Jorge Curi, José Cunha e Luis Mendes. Na época, um timaço. Só
que a emissora era pequena, tinha som ruim e não oferecia estrutura. Não
durou muito tempo. A equipe se diluiu. Curi voltou para a Nacional, Doalcei
para a Tupi onde o comentarista era Ruy Porto e na Continental a dupla era
Waldir Amaral e Luis Mendes.
No ano seguinte a Rádio globo preparava sua ascensão e contratou
Waldir e Mendes. A negociação marcou o princípio de uma mudança
fundamental na linguagem do rádio. Waldir começou sua carreira na Rádio
Clube de Goiânia. Contratado pela Globo, aperfeiçoou um formato de
programação esportiva altamente inovador, com aspecto que priorizava o show
da transmissão e que seria adotado por todas as emissoras a partir de 70. O
locutor deixou ser ao ar sério e passou a interagir mais com o público. Waldir
percebeu certos elementos sonoros que poderiam enriquecer e dar mais força
28
a transmissão. Foram dele inovações como vinheta com sinal eletrônico para
marcar o tempo e criação de jingle para cada locutor, que até hoje são usadas.
Essas características de transmissão são até hoje importantes, tanto é que o
anunciante que quiser ter o nome do produto ligado a essas características
paga mais do que um anúncio normal. Com suas vinhetas, Waldir Amaral criou
uma espécie de valores publicitários. Pouco antes da Copa de 70, Amaral e
Mário Viana, então diretor da Rádio Globo, criaram uma das vinhetas mais
famosas e representativas do rádio brasileiro. Depois de duas horas num
estúdio, na voz de Edmo Zariff, surgiu o “Brasiiiilllll”, vinheta utilizada até hoje.
O processo de mudança foi lento e só se concretizou no fim de 70. Até
essa época os locutores começavam suas transmissões com o formal ‘boa
noite senhoras e senhores’, a bola era chamada de pelota ou balão de couro.
Outra mania era usar ‘off side’. O que Waldir Amaral fez foi levar para os
programas esportivos a linguagem do povo. As expressões eram colhidas no
dia a dia e qualquer situação servia de bordão. Tanto é que no cinema que
surgiu o ‘indivíduo competente, esse’, que seria marcante nas suas narrações.
Foi ele que deu o apelido de ‘galinho de Quintino’ ao Zico, o ‘demônio de
pernas tortas’ ao Garrinha e o de ‘termômetro da Copa’ ao Didi. Até hoje é
considerado o inventor do radiojornalismo esportivo, um dos grandes nomes
em termos de locução e referência obrigatória aos locutores. Não à toa e nem
por acaso, recebeu o prêmio de melhor locutor esportivo do rádio por 10 anos
consecutivos, isso quando os prêmios eram sérios, mas isso também é outra
história.
3.6- DOBRADINHA WALDIR AMARAL E JORGE CURI
A Copa de 1970, no México, foi a primeira a ser transmitida por satélite.
Porém a falta de condições técnicas e a precariedade das linhas de
transmissão determinaram que as emissoras de rádio brasileiras se
organizassem em trios, formando pools de transmissão conjunta. As duas
maiores emissoras cariocas da época, a Nacional e a Globo, se uniram com a
Rádio Gaúcha, do Rio Grande do Sul, formando um time praticamente
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imbatível. Na época a equipe da Nacional tinha Jorge Curi narrando, João
Saldanha comentando e Denis Menezes como repórter de campo. A Globo por
sua vez trazia Waldir Amaral na narração, com Luis Mendes nos comentários e
Washington Rodrigues como repórter. Dois verdadeiros timaços, que dividiram
o trabalho de transmissão dos jogos em que o Brasil se tornou tricampeão. Na
verdade, em 70, o Brasil tinha duas grandes seleções.
Uma em campo e outra nas cabines de rádio. A terceira emissora
carioca, a Tupi, montou um esquema forte, mas que não fazia frente aos seus
concorrentes. Com um pool formado pela Tupi de São Paulo e a Rádio
Guarani de Belo Horizonte, trazia Doalcei Camargo como narrador e Rui Porto
como comentarista.
A direção da Rádio Globo ficou tão satisfeita com o resultado do
trabalho, que no final do Mundial levou Curi, Saldanha e Denis para seus
microfones. Juntamente com Waldir Amaral, os três ficaram na Globo até
1976, formando uma equipe que até hoje não foi superada. Ainda nessa época
as transmissões esportivas tinham um detalhe curioso, que as diferenciava das
transmissões atuais. Cada emissora possuía dois locutores oficiais e cada um
narrava um tempo do jogo. O sistema era revezamento, quem narrava o
primeiro tempo em um jogo, narrava o segundo tempo de outro jogo, e o
locutor que narrava o primeiro tempo fazia a promoção do companheiro que
iria narrar o segundo tempo. Era comum ouvir Jorge Curi anunciar entre um
lance e outro da partida “e no segundo tempo você vai ouvir o clássico dos
locutores brasileiros: Waldir Amaral”. Foi uma dobradinha e tanto. Tanto é que
quando as emissoras de rádio fazem hoje em dia alguma dobradinha,
independentemente dos jogos, sempre informam que tudo começou assim,
com dobradinha feita por Curi e Waldir.
No meio desse time de feras, um outro locutor, escalado para transmitir
os jogos de menor importância começou a ganhar espaço. Era o “verdadeiro
garotinho”, José Carlos Araújo, até hoje no rádio. Ele é o grande elo entre os
narradores experientes e os mais novos e ainda o grande ídolo dos recémformados e que buscam brilhar no rádio.
30
3.7- JOSÉ CARLOS ARAÚJO, O VERDADEIRO GAROTINHO
Quando alguém perguntava para José Carlos Araújo o que ele queria
ser quando crescesse era apenas uma resposta: locutor. E foi uma brincadeira
de criança que abriu as portas do mundo do rádio para aquele que é hoje um
dos nomes da locução brasileira.
José Carlos Araújo descobriu seu dom de comunicador narrando
partidas intermináveis de seu time de futebol de mesa, o jogo de botão. O pai
queria um filho diplomata, a mãe preferia vê-lo médico. José Carlos Araújo
formado como professor de Geografia, não porque as salas de aula o
atraíssem, mas porque era a única profissão que permitia que ele conciliasse
os estudos com sua verdadeira paixão: o rádio. Até hoje, José Carlos Araújo
afirma que a maioria dos bordões que utiliza em suas transmissões surgiu no
convívio com seus alunos.
A carreira de um dos maiores locutores do rádio brasileiro começou
quando José Carlos Araújo começou a trabalhar, aos 14 anos, em um
programa para estudantes na Rádio Nacional e no programa “Bandeirantes no
Ar”, da Rádio Roquete Pinto. Aos 15 já era profissional na Rádio Continental,
da qual seu pai era contador. Durante três anos, fez o noticiário da cidade.
Cobriu carnavais e eleições. Mas ser repórter de rádio não bastava para José
Carlos. Ele queria realizar seu grande sonho que era trabalhar com o esporte:
Recentemente José Carlos Araújo concedeu entrevista à Boa Vontade TV,
canal 23 da SKY. “Sou de uma época em que jornalista não precisava de
diploma. O que contava mesmo era a vocação. As pessoas ingressavam no
jornalismo com uma base única, sua cultura geral”. Hoje em dia voltou a ser
assim, para trabalhar como jornalista não é necessário diploma, basta o dom.
Lógico que os estatutos particulares de cada emissora, mas isso é outro
assunto.
O apelido pelo qual passou a ser conhecido, veio da mania de José
Carlos chamar todas as pessoas de garotinho ou garotinha. Foi na cobertura
de sua primeira Copa como locutor da Rádio Globo, em 1974, na Alemanha: “o
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Denis Menezes (repórter), de tanto me ouvir chamar os outros de garotinho,
colocou o apelido, que rapidamente virou marca registrada”.
Em 1968, o novato José Carlos Araújo foi para Rádio Globo para ser o
segundo locutor da emissora. No final de 76, aconteceu uma verdadeira
revolução no radio jornalismo esportivo carioca. José Carlos Araújo achou que
era hora de se tornar o primeiro locutor e trocou a Rádio Globo pela Nacional.
O repórter Marcus Aurélio de Carvalho, o ceguinho do rádio, atual âncora da
Rádio CBN e da Rádio Globo e que trabalhou no esporte durante 15 anos,
conta o episódio, numa conversa informal: “em uma entrevista da época, José
Carlos Araújo, chegou a dizer que se sentia como produto no fundo de uma
vitrine, uma vez que Waldir Amaral e Jorge Curi se revezavam no comando
dos jogos principais”.
Junto com o Garotinho, foram para a Nacional o comentarista Luis
Mendes e o repórter Denis Menezes. Foi uma época de muitas mudanças.
José Carlos Araújo adotou o sistema de dois repórteres cobrindo cada partida
e para fazer parceria com Denis Menezes, trouxe Washington Rodrigues, na
época e hoje, da Rádio Tupi, ao invés dos três habituais. O sistema foi adotado
por todas as outras emissoras, dando origem às duplas que marcaram o radio
jornalismo esportivo. Um exemplo era a parceria Loureiro Neto/Kléber Leite,
contratada pela Rádio Globo após a saída de José Carlos. Ao final de cada
partida o locutor Jorge Curi falava “fim de papo, Kléber/ Loureiro”, como deixa
para que os repórteres iniciassem os trabalhos de entrevistas. A frase virou
marca registrada das transmissões da Globo e caiu no gosto do público.
Quando se queria dizer que alguma coisa tinha acabado era só falar ao
mesmo tempo em que Curi. Hoje José Carlos Araújo, referência de muitos,
apresenta o Globo Esportivo e é ainda o número 1 no Ibope. A Rádio Tupi hoje
tomou a liderança da Globo, com a bola rolando e o Garotinho narrando, ele é
o campeoníssimo do Ibope.
Agora, como é que José Carlos Araújo conseguiu e consegue ficar tanto
tempo no topo. Ele mesmo diz na entrevista. “Eu me inovei, sempre estou
antenado com o povo, sempre mesmo, converso com todos, entendo o
processos da internet, da TV e dou aulas para jovens”.
32
3.8- ANOS 80 E 90
No início dos anos 80, Washington Rodrigues e Denis Menezes tiveram
um sério desentendimento por causa de problemas envolvendo publicidade. Já
nessa época os profissionais do rádio esportivo tinham um envolvimento muito
grande com a colocação de placas publicitárias nos estádios e a veiculação de
anúncios durante as transmissões. Essa prática é comum até hoje, quando
vários profissionais são também agenciadores de publicidade. A discussão se
torna ainda mais delicada quando esbarra na questão de isenção, uma vez
que grandes anunciantes são diretamente ligados aos dirigentes de clubes.
Mas voltando à história, o fato é que Denis Menezes e Washington
Rodrigues se desentenderam de forma definitiva. Para evitar constrangimento
de dois repórteres que não mantinham boas relações serem obrigados a dividir
as reportagens de campo, José Carlos Araújo colocou Washington como
comentarista. Surgia aí o “Apolinho”, famoso por seus comentários feitos numa
linguagem informal e cheios de gírias e expressões de efeito, que agradaram
em cheio ao ouvinte. O apelido surgiu porque Washington utilizava em suas
transmissões um aparelho portátil usado pela NASA na missão Apolo.
Foi Washington quem apelidou os freqüentadores de estádios como
“Geraldinos e Arquibaldos” e criou a expressão “briga de cachorro grande” para
definir os clássicos de futebol.
Para o lugar de Washington a Nacional apostou em um garoto recém
chegado de Campos: Eraldo Leite, que atualmente comanda parte das
transmissões da Globo. Nesse início dos anos 80, a Rádio Nacional recuperou
muito do seu prestígio, tirando da Tupi o segundo lugar de audiência. Graças a
esse feito, o prestígio de José Carlos Araújo como locutor cresceu de forma
extraordinária.
Mas os tempos áureos da Nacional duraram pouco. Em 1984, a Rádio
Globo afastou Waldir Amaral da narração dos jogos, que passaram a ser
divididos por Edson mauro e Jorge Curi. Na verdade, esse foi o primeiro passo
para afastar Amaral e trazer Garotinho de volta. A reestreia de José Carlos
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Araújo na emissora líder de audiência só poderia ser num grande clássico do
futebol brasileiro: um Fla-Flu em dezembro de 1984. Em sua volta, José Carlos
promoveu outra grande mudança: o sistema de dois locutores, um narrando
cada tempo foi abolido definitivamente na Rádio Globo. Mais tarde o locutor
único foi adotado por todas as outras emissoras.
Contrariado por ter sido preterido, Jorge Curi se transferiu para a Rádio
Tupi, onde dividiu o microfone com Doalcei Camargo. Foi uma época de dura
disputa pela audiência. A Globo contava com o jeito inovador e moderno de
Garotinho, enquanto a Tupi apostava na força e na tradição de Jorge Curi. Os
ouvintes tinham tamanha adoração por Curi que, em um primeiro momento,
chegaram a se revoltar com a Rádio Globo pela dispensa do locutor,
considerado a voz padrão do rádio jornalismo esportiva carioca.
Foi em dezembro de 1985 que o rádio perdeu essa voz padrão como
conta no mesmo papo informal o jornalista Marcus Aurélio de Carvalho, que na
época trabalhava na Rádio Tupi: “no dia 22 de dezembro a Tupi fez um grande
almoço de confraternização para seus funcionários. A equipe de esportes
estava toda lá e a imagem mais forte na minha memória, é a do Jorge Curi se
despedindo, dizendo que ia sair cedo porque de manhã viajaria para Caxambu.
No dia seguinte, estávamos na rádio e no meio do programa de esportes que
era apresentado pelo Kléber leite, chegou à notícia de que o Curi tinha batido
com o carro e morrido na hora. O Kléber se desesperou e começou a chorar,
todos nós ficamos muito consternados. Fui o único repórter do Rio a cobrir o
velório e o enterro de um dos meus maiores ídolos de infância”.
Na Rádio Globo, líder de audiência, um nome começou a despontar
nessa época, foi o de Luiz Penido. Com um estilo parecido com o de José
Carlos, Penido passou rapidamente de sexto para segundo locutor da
emissora. A idéia era ter os primeiros locutores com estilos de voz e narração
bem parecidos, para criar uma espécie de marca da emissora que fosse
facilmente identificada pelo ouvinte.
Penido havia entrado para a Globo em 1969, com apenas 14 anos de
idade, com o rádio-escuta. Considerado uma revelação, apenas três anos
depois já recebia convites de outras rádios, cobria o time do Botafogo e
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irradiava trechos de jogos de menor porte. Em 1973, estava escalado para
acompanhar Botafogo x Bahia, em Salvador. O jogo principal da tarde seria um
Flamengo x Vasco, no Maracanã. Quatro horas antes da partida, o jogo do
Maracanã foi adiado e Penido foi avisado que teria que transmitir toda a partida
do Botafogo. Em menos de três horas teve que arranjar um comentarista,
repórteres de campo e ainda se preparar para a transmissão que acabou
sendo um sucesso. A partir daquele dia Penido começou a ser respeitado
como locutor e sua carreira ganhou força. Como primeiro locutor da Rádio
Eldorado, atual CBN, quando transmitiu basquete, regatas, corridas de
fórmula-1. Nessa fase ganhou por oito anos seguintes o prêmio de melhor
locutor de basquete do Brasil e voltamos a dizer quando os prêmio eram sério
e conceituados. Quando José Carlos Araújo retornou para a Rádio Globo, em
1984, Penido foi convidado para ser seu segundo locutor.
Luiz Penido começou a se destacar e a buscar espaço cada vez maior.
Foi então, que na ironia do destino, em 1988, a Rádio Tupi convidou Penido
para ser seu primeiro locutor, adotando o esquema de único narrador por jogo,
assim como antes a Nacional havia feito com José Carlos Araújo. Penido
mudou radicalmente a imagem do jornalismo esportivo da Rádio Tupi, levando
com ele a linguagem jovem e dinâmica que havia desenvolvido na época que
trabalhou com Waldir Amaral na Rádio Globo.
Foi Luiz Penido que criou o programa esportivo de duas horas no final
da noite, copiado mais tarde por várias emissoras. O locutor também aboliu
expressões antigas que ainda eram utilizadas pela equipe da emissora, como
“o time ganhou por dois TENTOS a zero”
Em 1996, a Rádio Tupi tenta um esquema ousado, trazendo Osvaldo
Maciel da Rádio Globo de São Paulo, que era o número dois na equipe de
Osmar Santos. Apesar de ser um excelente locutor, Maciel não emplacou.
Faltou a Tupi uma estratégia de marketing eficiente para que se tornasse
conhecido o nome do novo locutor. “O Osvaldo era um cara desconhecido no
RJ, por isso a ousadia da Tupi foi um fracasso, tudo que acontece ao rádio
está diretamente ligado a tradição. O sucesso depende da confiança que o
público tem em você”, avalia Marcus Aurélio de carvalho.
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Consciente do fracasso, a Tupi trouxe de volta Luiz Penido, que havia
estado uma temporada na Tropical FM, da qual falaremos mais adiante.
Quando transmite um jogo, o locutor abusa dos elementos que façam
com que o público se identifique com a rádio. Vinhetas musicais, linguagem
despojada, gírias e bordões. Todo material lingüístico que foi sendo
desenvolvido e aperfeiçoado por grandes profissionais através dos tempos.
Outro fator que inclui bastante na criação de uma nova linguagem para
a transmissão esportiva foi a publicidade. Ter encontrado no futebol pelo rádio
um filão a ser explorado. Até a década de 50 os anunciantes preferiam exibir
seus produtos nos jornais e revistas por acreditar que as imagens captavam
mais a atenção dos consumidores que as palavras. Hoje em dia esse
pensamento foi superado, os locutores criaram uma linguagem na qual
associam o patrocinador a um fato determinado do jogo como o tempo e o
placar. Isso faz com que o ouvinte estabeleça uma ligação imediata entre o
futebol e o produto anunciado sem perceber. A quantidade de anúncios
durante as transmissões aumentou tanto que chega a prejudicar a narração.
Não é raro o locutor perder um lance ou uma falta importante enquanto fala um
comercial. Lógico que a TV ganhou espaço nesse cenário há uns 15 anos,
mas no rádio, Globo e Tupi continuam com inúmeros comerciais. As outras
menos cotadas na audiência, como a Brasil, da LBV e a Manchete, não têm
tantos anunciantes.
Durante as transmissões dos jogos, a equipe da Globo mantém uma
ligação constante com o jornalismo. O Amarelinho da Globo, que surgiu em
1974, é um repórter que fica pela cidade, cobrindo acontecimentos importantes
e transmitindo um noticiário de utilidade pública como condições do trânsito,
acidentes, assaltos e outros. Outra figura marcante era a de Alberto Brandão,
que hoje está na Tupi e que com sua voz inconfundível, dava um panorama da
situação nos principais hospitais e delegacias da cidade. José Carlos Araújo se
orgulha de cobrir assim uma lacuna deixada pelo Jornalismo convencional. “eu
entendo esporte como jornalismo. Aos domingos, ou à noite, quando as
relações estão vazias, eu procuro explorar aquilo que o rádio tem de mais
importante, que é a velocidade e o imediatismo”.
36
É exatamente essa interatividade do rádio que José Carlos Araújo
explora. A Rádio Globo busca uma ligação com a televisão. Quando o jogo é
transmitido pela TV, a rádio baseia suas transmissões em bordões como “de
olho na telinha e ouvido na caixinha” e “se o jogo está na TV, a Globo se liga
em você”. Para o chefe da equipe, o rádio supre a grande deficiência da
televisão que é o áudio. “A televisão evoluiu muito em termos de imagem. Mas
a qualidade do áudio do locutor e a do som ambiente deixa muito a desejar. A
TV tem um som muito grave e por isso a equalização fica ruim. Já o rádio tem
um som que transmite mais alegria e emoção”. Nas coberturas esportivas o
som da TV dá ênfase muito grande à voz do locutor e dos comentaristas. O
som ambiente praticamente desaparece e o espectador perde muito do calor
da competição.
O rádio teve que desenvolver estratégias próprias para enfrentar a
concorrência da televisão. O primeiro mecanismo é priorizar a transmissão dos
jogos de acordo com o tamanho da torcida de cada clube. Um jogo do
Flamengo ou do Vasco rende mais audiência do que um do Botafogo e do
Fluminense. Se existem dois jogos no mesmo horário envolvendo clubes
cariocas, o que hoje é difícil, mas ainda tem, a Rádio Brasil 940 AM, por
exemplo, procura transmitir aquele que não será televisionado. Já as rádios
Globo e Tupi estão sempre com o que dá mais audiência e procuram atrair o
ouvinte para a participação direta. Na Globo, então, durante o jogo o ouvinte é
convidado a ligar para a emissora para dizer o que pensa do jogo que está
vendo pela televisão. Essa parceria é marcada pelo bordão “fique de olho na
telinha e ouvido na caixinha”.
Outra vantagem do rádio em relação à televisão é a possibilidade de
uma linguagem mais coloquial, que produz uma interação maior com o ouvinte.
Mesmo em seus programas mais populares a televisão segue um padrão de
linguagem mais formal e burocrático, apesar de na TV Globo, por exemplo, o
Globo Esporte tem mudado o visual e o linguajar com apresentadores mais
engraçados. O profissional do rádio por sua vez pode abusar das expressões
populares e bordões utilizados em qualquer conversa de esquina. Esse estilo
imprime ao veículo uma linguagem que se torna familiar ao ouvinte.
37
Na busca constante pela audiência, o rádio jornalismo esportivo muitas
vezes é obrigado a alterar suas características. Um fato que ilustra bem essa
mudança ocorreu no final de 1998. O mês de dezembro marca a época da final
do Campeonato Brasileiro de futebol, que é esporte carro chefe das
transmissões. Como neste ano, nenhum clube carioca participou das finais e
prevendo uma queda de audiência as rádios Globo e Tupi resolveram apostar
em outra área.
Se por um lado o futebol carioca beirava o desastre, por outro a decisão
do Campeonato Brasileiro de Basquete era decidido por Flamengo e Vasco, os
dois clubes de maior torcida no RJ. Sem deixar de noticiar e transmitir as
partidas de futebol, as duas rádios passaram a fazer uma promoção enorme
em torno dos jogos finais de basquete. Por força das circunstâncias o basquete
havia se tornado a paixão do carioca e as emissoras souberam capitalizar
muito bem, explorando a grande rivalidade existente entre os dois times. O
próprio José Carlos Araújo narrou os jogos entre Flamengo e Vasco, enquanto
o futebol foi transmitido por Edson Mauro e Luis Carlos Silva, segundo e
terceiro locutores respectivamente na época. A idéia, na época, deu certo.
3.9- FUTEBOL NAS FMS E O RÁDIO ESPORTIVO HOJE
A Tropical FM foi durante um tempo uma exceção no dial carioca, como
a única emissora FM no Rio de Janeiro a transmitir jogos de futebol e a ter um
espaço grande em sua grade para a programação esportiva. A iniciativa
começou em 1987, quando Waldir Amaral se tornou coordenador de esportes
da emissora. Apesar das dificuldades e de certo estranhamento por parte do
público, a iniciativa foi considerada válida e rendeu audiência. Segundo uma
pesquisa do Ibope em agosto de 1997, a Rádio Tropical, que hoje não existe
mais no FM, atingia o segundo lugar nos horários das transmissões esportivas,
perdendo apenas para a Rádio Globo AM. Um fator favorável às emissoras de
freqüência FM é a qualidade do som, muito superior a das rádios AM.
A Tropical proporcionou mudanças nas transmissões esportivas de
modo a adequá-las à linguagem da freqüência FM. Com uma linguagem mais
38
jovem e dinâmica, a jornada esportiva começa meia hora antes e termina meia
hora depois, ao contrário das rádios AM que iniciam a transmissão cerca de
uma hora e meia ou até mais antes da partida. Seu narrador principal era
Sidney Marinho, que segue o estilo moderno, abusando das gírias e das
metáforas durante as transmissões. Segundo o locutor Luiz Penido na
conversa em que ele foi taxativo a declaração foi esta: “a transmissão em FM
é uma opção extraordinária e acho que no futuro as coisas tendem a
encaminhar para o FM. Uma transmissão mais enxuta, mais compacta e mais
moderna”. E hoje é assim, Globo, Tupi e CBN transmitem o futebol também no
FM, além da Transamérica.
O futebol da Tropical se encerrou no ano de 1999, mesmo ano em que
outra FM se entregava às transmissões esportivas. A 94 FM, do Governo, com
Ricardo Mazela coordenando a equipe de esportes, com Rogério Ribeiro e
Pierre Carvalho como os principais repórteres. A 94 FM apenas cobria os
jogos, não tinha programa diário. Fez sucesso, mas foi extinta no ano de 2001.
Seguindo essa tendência de levar o futebol para a FM, durante a Copa
de 98, o Sistema Globo de Rádio e a Rádio Tupi, transmitiram alguns jogos
também em suas emissoras de freqüência FM, a 98 FM e a Tupi FM, agora
Nativa FM, respectivamente.
Hoje no FM, além das de grande porte, tem o estilo despojado da
Transamérica. Globo, Tupi e CBN, que têm no dial no AM e no FM com a
mesma programação, continuam com a linguagem própria, com estilo
jornalismo e noticiário. Na Globo, o coordenador foi contratado no fim do ano
passado e é o Gilmar Ferreira, que também tem coluna no jornal Extra. Na
Tupi segue Luiz Penido até hoje. Na CBN, Álvaro Oliveira Filho.
No AM, além destas, tem a Rádio Brasil, com um programa super
conceituado na hora do almoço, das 12:10h às 14h, com interatividade com o
público e uma bela equipe de esportes. O coordenador é o Marcelo Figueiredo
e os comentaristas são Francisco Aiello e André Gonçalves. A Rádio Brasil é
emissora mais citada em jornais e sites especializados no esporte no país,
devido as matérias feitas de forma exclusiva. A Rádio Manchete está no ar tem
39
cinco anos. O esporte é liderado por Rodrigo Campos e o principal nome da
emissora é João Guilherme, que é narrador também no Sportv.
40
CAPÍTULO IV
AVALIAÇÃO DO DOCENTE
Depois de praticamente toda a história contada, é a hora de sabermos
como o estudo está sendo transmitido aos estudantes da área. E para isso,
buscamos informações atuais dos docentes na área de Comunicação Social
com habilitação em jornalismo.
Na grade do curso há a disciplina radiojornalismo. Os docentes
conhecem a história do rádio? Esse é o tema proposto do trabalho.
Escolhemos apenas dois docentes do ramo. O critério foi bem simples.
Um entrevistado é Fábio Azevedo, da Cândido Mendes.
O outro é Francisco Aiello, da Estácio.
A escolha foi feita com esses dois pelo fato de um ser da universidade
onde se concentra o A Vez do Mestre e outro por ministrar aulas na melhor
universidade de ensino privado, segundo pesquisas. Já dá para ter uma noção
se realmente os docentes conhecem do estão informando aos alunos.
A entrevista consiste em dez perguntas, alguma simples, outras nem
tanto e alguma situações de análise.
4.1
ENTREVISTA COM FÁBIO AZEVEDO
Qual foi a primeira rádio inaugurada no Brasil?
R: Rádio Sociedade, em 1923. Um ano antes, primeira demonstração pública
através de uma Expo.
41
As primeiras transmissões esportivas no Brasil foram feitas em 1930 e de
forma precária. Qual era a rádio e qual era o locutor?
R: Em termos de Copa, foi a de 38, com Galliano Neto pelo Clube do
Brasil/DF.
O primeiro símbolo de ouro do meio foi a Rádio Nacional. Em que década foi
fundada?
R: Década de 30
Em 1932 a Rádio Mayrink Veiga trouxe de SP para o RJ um locutor que ficou
marcado pelo pioneirismo, mesmo não sendo o primeiro a realizar
transmissões esportivas. Qual o nome deste locutor?
R: Boa pergunta, mas não sei. Teria que pesquisar.
O que você sabe sobre Ary Barroso? Sintetize por favor.
R: Inventor da sonoridade nas transmissões, pioneiro mesmo. A gaitinha
famosa ganhou eco. Ele lançou um estilo diferente de transmitir uma partida.
De quem é a voz daquele grito famoso Brasiiiiilll?
R: Edmo Zarife
A Rádio Globo, carro chefe das transmissões esportivas, teve uma dupla bem
conhecida nas narrações. Um narrava o primeiro tempo e o outro narrava o
segundo tempo. Quem eram? Conte um pouco do que você sabe sobre esta
época.
R: Jorge Cury e Waldir Amaral. Dois gênios do rádio e que marcaram época. A
42
década de 70 mostrava que o Rádio tinha muita força, apesar da TV ter tirado
grandes nomes deste veículo. Os dois locutores dividiam a transmissão.
Mesmo com narradores de peso no rádio, José Carlos Araújo foi e é o melhor
de todos? Dê sua opinião.
R: Tenho a honra de trabalhar com ele na TV e tive o privilégio de trabalhar
com ele no Rádio, onde ele é FERA. Simples e muito profissional, o Zé faz
questão de estar atento aos fatos. Sempre com o tom de voz tranquilo, ele
sabe conquistar o seu espaço. Um verdadeiro Garotinho, que ainda tem muito
para ensinar no Rádio. Para mim, o melhor. Pelo conjunto da obra!
Quais são os maiores e melhores narradores, comentaristas e repórteres de
todos os tempos?
R: Vou apontar os que ouvi e trabalhei. Eraldo Leite, melhor repórter, José
Carlos Araújo, o melhor locutor, e Washington Rodrigues, melhor comentarista.
Não posso deixar de citar outras feras do Rádio, como Gerson, Mestre Luís
Mendes, Luiz Ribeiro e Elso Venâncio, como repórter.
Como você analisa o rádio esportivo hoje?
R: Atravessa um momento de mudança e com algumas caras novas. A Rádio
Brasil representa a geração do lado bom, os que estão preocupados com a
credibilidade da informação, Por isso, viraram referência na hora do almoço. A
minha geração, talvez, tenha trazido nomes legais para o Rádio e marcado
uma mudança: pessoas com formação acadêmica entram no Rádio. Isso é
bom porque dá mais qualidade às notícias.
43
4.2
ENTREVISTA COM FRANCISCO AIELLO
Qual foi a primeira rádio inaugurada no Brasil?
R: Rádio Sociedade, que foi fundada em Abril de 1923, por Edgar Roquette
Pinto e Henrique Morize.
As primeiras transmissões esportivas no Brasil foram feitas em 1930 e de
forma precária. Qual era a rádio e qual era o locutor?
R: A Rádio era Pan-americana ou Rádio Record e o locutor Nicolau Tuma.
O primeiro símbolo de ouro do meio foi a Rádio Nacional. Em que década foi
fundada?
R: Foi criada em 1936, de início uma entidade privada e percebendo o sucesso
e o potencial da emissora, Getúlio Vargas encampou a Rádio Nacional em
1940 e ela passou a partir deste ano a fazer parte da União.
Em 1932 a Rádio Mayrink Veiga trouxe de SP para o RJ um locutor que ficou
marcado pelo pioneirismo, mesmo não sendo o primeiro a realizar
transmissões esportivas. Qual o nome deste locutor?
R: Não sei, mas vou chutar Gagliano Neto.
O que você sabe sobre Ary Barroso? Sintetize por favor.
R: É compositor de sucesso das décadas de 40, 50 e 60 e também locutor
esportivo, tinha como principal característica as narrações dos jogos do
Flamengo, a cada gol do Flamengo ele tocava uma gaita de uma forma mais
efusiva, mais intensa. E no gol do adversário o toque da gaita era mais suave.
44
De quem é a voz daquele grito famoso Brasiiiiilll?
R: Edmo Zarife numa composição com José Cláudio Barbedo, o formiga.
Criaram essa vinheta para a Copa do Mundo de 1970, já na Rádio Globo.
A Rádio Globo, carro chefe das transmissões esportivas, teve uma dupla bem
conhecida nas narrações. Um narrava o primeiro tempo e o outro narrava o
segundo tempo. Quem eram? Conte um pouco do que você sabe sobre esta
época.
R: Jorge Cury e Waldir Amaral. Cada um narrava um tempo, era também uma
época de ouro do rádio esportivo, o rádio era absoluto, porque não existia a
transmissão de jogos pela televisão. O rádio era forte e presente, bem
diferente dos tempos atuais. O rádio era o grande informador esportivo.
Mesmo com narradores de peso no rádio, José Carlos Araújo foi e é o melhor
de todos? Dê sua opinião.
R: Eu acho que ele é o melhor da geração dele, é complicado dizer que ele é o
melhor de todos, acho que ao longo dos anos tivemos grandes locutores
esportivos. Dá para citar o nome de alguns como Oduvaldo Cozzi, Doalcei
Camargo, Jorge Curi, Waldir Amaral e o próprio José Carlos Araújo. No mundo
contemporâneo, da década de 80 para cá, ele de fato é o melhor.
Quais são os maiores e melhores narradores, comentaristas e repórteres de
todos os tempos?
R: É complicado citar alguns nomes, porque a gente acaba esquecendo
alguém e na verdade locutores como Oduvaldo Cozzi, Doalcei Camargo, José
Carlos Araújo, Edson Mauro, a galera nova como o Evaldo José.
Comentaristas João Saldanha, Rui Porto, Sérgio Noronha, Luiz Mendes e
45
Washington Rodrigues. Repórteres Deni Menezes, Eraldo Leite, Ronaldo
Castro, Kléber Leite, pra mim esse sim é o melhor deles e Elso Venâncio que
também pra mim é Top.
Como você analisa o rádio esportivo hoje?
R: Acho que o rádio hoje necessita de uma transformação, a última
transformação do rádio quem deu foi José Carlos Araújo com a mudança da
linguagem. O rádio tinha uma linguagem muito rebuscada, uma forma lenta de
se transmitir futebol e o Garotinho mudou isso com uma linguagem mais jovem
e narrando jogo com uma velocidade maior. Essa pra mim foi a última grande
mudança do rádio. Acho que o rádio está precisando viver outro marco. A
gente teve marcos importantes na história do rádio esportivo, o Waldir Amaral
colaborou e muito com isso, com a colocação das vinhetas, da questão sonora
das transmissões, elas eram muito chatas, enfadonhas, porque era só voz e os
sinais sonoros deram uma graça maior as transmissões esportivas e aí o
Garotinho chegou e mudou a forma de se transmitir futebol e agora está
faltando alguém. Essa mudança do José Carlos Araújo no final dos anos 70,
início dos anos 80 e a gente já está aí há um bom tempo sem ter uma
mudança no rádio esportivo. Eu não sei o que seja, eu até imagino que a rádio
CBN esteja tentando fazer isso com uma transmissão mais interativa, com a
participação do ouvinte, com a questão de e-mail, chat, twitter, ou seja, uma
transmissão com a presença mesmo do ouvinte. Inserindo o ouvinte na
transmissão. Não sei se esse possa ser o caminho, mas que algo precisa ser
feito, isso com certeza.
46
CONCLUSÃO
Apesar dos avanços tecnológicos, o rádio mantém o charme e parte do
público continua fiel e apaixonado. A história basicamente se limita ao esporte,
o carro chefe das principais emissoras. Claro que no passado, o AM foi o alvo
dos musicais e novelas, mas não é de hoje que o futebol toma boa parte da
programação. Desde 1938, com Gagliano Neto, o rádio atingiu todas as
camadas populares. O veículo mexe com a emoção. Numa partida de futebol,
o poeta Nelson Rodrigues dizia: o jogo no rádio era bem melhor que ao vivo.
E se o esporte é o número 1 na programação das rádios principais, este
trabalho consistiu em contar a história através deste segmento. E com o
futebol, claro. E a época áurea se baseou com os narradores e locutores.
Devido a eles, a história se constituiu. Nomes receberam atenção especial
porque fizeram por merecer, como Ary Barroso, João Saldanha, Waldir Amaral,
Jorge Curi, José Carlos Araújo, que é ainda o principal nome no meio, entre
outros. No passado a linguagem radiofônica era outra, hoje é mais rápida.
Com o passar do tempo, o mundo se aperfeiçoou. Independente do
diploma ou não, cada vez mais vemos pessoas interessadas em cursar
jornalismo, seja com o foco no rádio ou não. Como está o aprendizado? Como
o rádio está sendo ministrado? Como as pessoas estão aprendendo? Como os
docentes estão informando a história? Através de entrevistas com dois
docentes importantes desse meio. Perguntas feitas em entrevistas cara a cara,
para podermos analisar a performance, sobretudo visual, dos professores.
A análise é que foram dois estilos iguais de respostas, porém com
gêneros diferentes. Na primeira entrevista, tivemos uma linguagem mais
simples e com bom humor e obviamente, já era de esperar, como conteúdo.
Mais jovem, Fábio Azevedo deu importância a profissionais mais atuais. Por
outro lado Francisco Aiello, mais experiente, tem uma fala mais rebuscada,
mais coloquial, é um professor meio centrado em todos os assuntos, porém
47
meio político e diz que o rádio necessita atualmente de mais uma mudança
radical para significar uma melhora.
Com isso, aparentemente, o ensino do rádio está em boas mãos.
48
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FELICE, Mauro de. Jornalismo de Rádio. Brasília, Ed. Thesaurus, 1981.
MÁXIMO, João. João Saldanha, Sobre Nuvens de Fantasia. Rio de Janeiro,
Ed. Relume Dumará, 1996.
MOREIRA, Sônia Virgínia. O Rádio no Brasil. Rio de Janeiro, Ed. Rio Fundo,
1991.
MURCE, Renato. Bastidores do Rádio. Rio de Janeiro, Ed. Imago, 1976.
REZENDE, Sidney; KAPLAN, Sheila. Jornalismo Eletrônico ao Vivo. Rio de
Janeiro, Ed. Vozes, 1994.
SOARES, Edileusa. A Bola Ar – O Rádio Esportivo em São Paulo. São Paulo,
Ed. Summus, 1994.
CÉSAR, Cyro. Como Falar no Rádio – Prática de Locução AM e FM: Dicas e
Toques, Ed. Vozes, 1990.
49
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO
2
AGRADECIMENTO
3
DEDICATÓRIA
4
RESUMO
5
METODOLOGIA
6
SUMÁRIO
7
INTRODUÇÃO
8
CAPÍTULO I
A Imprensa e o Esporte
09
1.1- Histórico da Cobertura Esportiva no Brasil
10
CAPÍTULO II
A Personalidade do Locutor
14
CAPÍTULO III
O Rádio Esportivo Carioca, O Início
20
3.1- Galliano Neto, O Pioneiro
21
3.2- Oduvaldo Cozzi, Ary Barroso e Antônio Cordeiro
22
3.3- Ary Barroso
23
3.4- As Histórias de João Sem Medo
25
3.5- As Inovações de Waldir Amaral
27
3.6- Dobradinha Waldir Amaral e Jorge Curi
28
3.7- José Carlos Araújo, O Verdadeiro Garotinho
30
3.8- Anos 80 e 90
32
3.9- Futebol nas FMs e o Rádio Esportivo Hoje
37
CAPÍTULO IV
Avaliação do Docente
40
50
4.1- Entrevista com Fábio Azevedo
40
4.2- Entrevista com Francisco Aiello
43
CONCLUSÃO
46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
48
ÍNDICE
49
51
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição:
Título da Monografia:
Autor:
Data da entrega:
Avaliado por:
Conceito:
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universidade candido mendes pós-graduação “lato sensu” instituto