Diário, gêneros
digitais e relato
Turmas 01m1, 01m2, 01m3
Profª.: Maria Anna Gerk
Diário
• Finalidade: registro de fatos do cotidiano ou impressões
produzidas por eles, pensamentos, observações, opiniões,
ideias, sentimentos, segredos etc.
• Locutor: quem escreve.
• Interlocutor: a própria pessoa que escreve.
Obs.: se publicado, o interlocutor passa a ser o público em geral.
Diário
• Suporte: caderno, folhas de papel.
• Tema: assuntos pessoais, fatos do cotidiano, reflexões.
• Estrutura: relativamente, livre: geralmente apresenta data,
mas o vocativo e a assinatura são facultativos.
• Linguagem: varia conforme o locutor; os verbos são
empregados na 1ª pessoa, no presente ou no pretérito.
Diário
• Os diários podem participar da construção da História: Diário
de Anne Frank, Diário de Zlata etc.
• Além dos livros, alguns ocuparam os cinemas:
Quarto de Despejo: Diário de uma favelada (1960), a primeira obra da
escritora afro-brasileira Carolina Maria de Jesus.
Literatura memorialística em consonância com sua função de crítica social.
“Eu classifico São Paulo, assim: O Palácio é a sala de visita. A prefeitura é a sala
de jantar e a cidade é o jardim. E a favela é o quintal onde jogam os lixos [...].
Estou no quarto de despejo, e o que está no quarto de despejo ou queima-se
ou joga-se no lixo”
“[...] Quando um politico diz nos seus discursos que está ao lado do povo, que
visa incluir-se na política para melhorar as nossas condições de vida pedindo o
nosso voto prometendo congelar os preços, já está ciente que abordando este
grave problema ele vence nas urnas. Depois divorcia-se do povo. Olha o povo
com os olhos semi-cerrados. Com o orgulho que fere a nossa sensibilidade.”
Nesta obra, a escritora que também é narradora, relata seu
cotidiano em forma de diário, gênero autobiográfico, que é bastante
recorrente na literatura. Na narrativa, ao mesmo tempo em que a
mulher/personagem/escritora expressa as angústias de seu eu, também
evidencia uma crítica contundente da realidade em que vive através de sua
condição de minoria social.
O texto e o hipertexto
• Na Internet, o processo de ler ou escrever um texto deixou de
ser linear, ou seja, da esquerda da direita e de cima para baixo,
com um procedimento de cada vez.
• O internauta pode, simultaneamente ao processo de leitura
de um texto, acessar links, ler outros textos, ouvir música,
examinar imagens, redigir e-mails.
O texto e o hipertexto
• A essas múltiplas possibilidades oferecidas pelo texto digital,
que envolve uma nova forma de acessar, produzir e
interpretar informações, chama-se hipertexto.
• Hipertexto exprime a ideia de leitura e escrita não linear de
texto, em um contexto tecnológico, mediado pelo computador
e pela Internet.
E-mail
• Para os jovens, o e-mail é uma forma de alcançar os mais
velhos (os pais, os professores ou chefes) ou para receber um
arquivo anexado.
• A estrutura assemelha-se à da carta: vocativo, saudação,
desenvolvimento do assunto, despedida e assinatura.
Blog
• A princípio era uma espécie de diário virtual.
• Os blogs comportam textos, fotos, em alguns casos, vídeos.
• Os blogs levam às últimas consequências dois princípios da
Internet: a interatividade e a formação de comunidades.
Relato Pessoal
• Finalidade: relatar experiências vividas, episódios marcantes
da vida de quem escreve.
• Locutor: é o escritor.
• Destinatário: público em geral.
• Suporte: livros, revistas e sites da Internet.
• Temas: assuntos pessoais, lembranças, memórias.
Relato Pessoal
• Apresenta, geralmente, tempo e espaço bem marcados.
• Os fatos relatados se situam normalmente no passado.
• É escrito na 1ª pessoa, pois o locutor é protagonista, e
costuma apresentar trechos descritivos.
• A linguagem é pessoal, subjetiva e direta, geralmente na
variedade padrão.
Relato Pessoal
“Não me lembro do amanhecer do sexto dia. Tenho uma ideia nebulosa de que, durante toda a
manhã, fiquei prostrado no fundo da balsa, entre a vida e a morte. Nesses momentos, pensava em
minha família....”
“No começo me pareceu impossível permanecer três horas sozinho no mar. Mas as cinco,
quando já se tinham passado cinco horas, achei que ainda podia esperar uma hora mais. O sol estava
descendo. Ficou vermelho e grande no ocaso, e então comecei a me orientar. Sabia agora por onde
apareceriam os aviões: pus o sol à minha esquerda e olhei em linha reta, sem me mexer, sem desviar
a vista um só instante, sem me atrever a piscar, na direção em que devia estar Cartagena, segundo
minha orientação. As seis, doíam meus olhos. Continuava, porém, olhando. Inclusive depois que
começou
a
escurecer,
continuei
olhando
com
uma
paciência
firme
e
rebelde.
Para um esfomeado marinheiro solitário no mar, a presença das gaivotas é uma mensagem de
esperança. Geralmente, um bando de gaivotas acompanha os navios, mas só até o segundo dia de
navegação, sete gaivotas sobre a balsa significavam a proximidade da terra.”
Estavam num dos bolsos da calça, quase completamente desfeitos
pela umidade. Rasguei-os, levei-os à boca e comecei a mastigar. Foi um milagre: a
garganta se aliviou um pouco e a boca se encheu de saliva. Lentamente continuei
mastigando, como se aquilo fosse chiclete. Na primeira mastigada, doeram as
mandíbulas. Depois, à medida que mastigava o cartão que guardei sem saber por
que, desde o dia em que fui fazer compras com Mary Address, me senti mais
forte e otimista. Pensava continuar mastigando os cartões indefinidamente para
aliviar a dor nas mandíbulas e até achei que seria um desperdício jogá-los ao mar.
Senti descer até o estômago a minúscula papa de papelão moído e desde esse
instante tive a sensação de que me salvaria, de que não seria destroçado pelos
tubarões.
Há um instante em que não se sente mais dor. A
sensibilidade desparece e a razão começa a se embotar até que se
perde a noção de tempo e espaço. De bruços na balsa, com os
braços apoiados na borda e a barba nos braços, senti, no começo, as
impiedosas picadas do sol. Vi o ar povoado de pontas luminosas,
durante várias horas. Finalmente fechei os olhos, extenuado, mas
então o sol já não me ardia o corpo. Não sentia nem sede nem
fome. Não sentia nada, a não ser uma indiferença total pela vida e
pela morte. Pensei que estava morrendo. E essa ideia me encheu de
uma estranha e obscura esperança.
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