ANÁLISE DA MICROBACIA DO CÓRREGO DA PEDRA BRANCA
(DOS AFLITOS), NA ÁREA URBANA DE ALFENAS (MG), A
PARTIR DE CRITÉRIOS GEOMORFOLÓGICOS
RODOLFO LOPES DE SOUZA OLIVEIRA¹ e MARTA FELICIA MARUJO
FERREIRA²
[email protected], [email protected]
¹Acadêmico do curso da Geografia da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG)
²Professora Adjunta II da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG)
Palavras chaves: Geomorfologia Urbana, Mapeamento Geomorfológico, Alfenas, Córrego da
Pedra Branca
Introdução
O meio físico tem o seu papel no espaço. Apesar de ser considerado por alguns geógrafos
como meramente um palco onde se processam as ações humanas, ele mesmo tem dado provas
de que existe a manutenção de uma relação com a sociedade que não ruiu com o avanço e
desenvolvimento tecnológico das civilizações, mas sim que se tornou mais complexo.
Interpretar o relevo não é somente descrever os padrões das formas e feições que ele apresenta,
e sim identificá-los e relacioná-los com os processos atuais e pretéritos que ocorrem na
paisagem (ROSS, 1990). O mapa geomorfológico é uma importante ferramenta, pois deve
mostrar um inventário do relevo expondo áreas propícias ou não a ocupação humana. Este
trabalho tem como objetivo apresentar o mapeamento geomorfológico de detalhe da microbacia
do Córrego da Pedra Branca (ou dos Aflitos), localizada na área urbana de Alfenas.
A microbacia estudada (Figura 1) localiza-se no setor leste da área urbana de Alfenas e
orienta-se no sentindo S – N. A ocupação da cidade se deu a partir do divisor de águas do
Córrego da Pedra Branca e do Córrego do Chafariz, expandindo-se ao longo do tempo em
direção às encostas e vales.
Amparados pela necessidade de ampliação de estudos de caráter geomorfológico no sul de
Minas Gerais, este trabalho tem como objetivo principal estudar a geomorfologia da microbacia
do Córrego da Pedra Branca (ou dos Aflitos) utilizando, como proposta metodológica, estudo
elaborado por Ross (1992).
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Figura 1 – Vista aérea do trecho intermediário da Micro-bacia do Córrego da Pedra
Branca. Foto: Francisco José Cardoso (2003)
Material e Método
Foram reunidas as cartas topográficas em escala de 1:50.000 de Alfenas, (IBGE, 1970), o
plano cadastral da área urbana de Alfenas – MG em escala de 1:1.000 e fotografias aéreas da
área urbana de Alfenas em escala de 1:6.000.
A base cartográfica da carta de Alfenas em 1:50.000 foi digitalizada utilizando o software
R2V e exportada para o SIG Ilwis 3.6. Neste SIG, por interpolação das curvas de nível, foi
possível gerar modelos matemáticos do terreno, como a hipsometria. Após a análise desse
modelo, foi elaborada a Clinografia da microbacia do Córrego da Pedra Branca, segundo a
metodologia de Ross (1992), com classes variando de menos de 6% a mais de 30%. Com a
união dos dados interpolados da hipsometria e da declividade foi possível elaborar o modelo
digital em 3D da área de estudo (Figura 2). A todos os produtos cartográficos, foram
acrescentados os dados do Plano Cadastral de Alfenas, em escala de 1:1.000.
O mapeamento geomorfológico foi realizado com base na interpretação de fotografias
aéreas na escala de 1:6.000, sendo os elementos identificados, traçados na planta cadastral da
área urbana de Alfenas na escala 1:1.000, checados no campo e, posteriormente, digitalizados
no software AutoCad. Neste mapeamento, trabalhou-se mediante a proposta de Ross (1992)
para a identificação das formas, sendo que estas se encaixaram no 5º e no 6º táxons. Seguiu-se
também conforme o proposto por Verstappen e Zuidam (1975), tanto nas etapas como na
simbologia adotada para chegar-se à geomorfologia da microbacia do Córrego da Pedra Branca,
Área Urbana de Alfenas/ MG (Figura 3).
Resultados e Discussões
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As encostas da margem oeste do Córrego da Pedra Branca começaram a ser ocupadas já no
fim do século XIX e início do século XX, especialmente pelo Centro, pelo bairro Vila Formosa
e pelo bairro Santos Reis. Já nas encostas da margem direita, até a década de 1970, estavam
localizadas propriedades rurais e a pista do aeroporto. Com o crescimento da cidade, a partir de
1970, começaram a ser implantados lotes do Jardim Aeroporto. Grande parte do córrego, a
montante, se desenvolve numa transição de relevos de morros convexos e de morros angulosos.
Pela clinografia, nota-se que a formação de pequenos lagos, mesmo se dando em áreas mais
elevadas que as planícies, ocorre em áreas de declividade baixa, de 6% a 12%. No modelo em
3D (Figura 2), são visíveis as formas convexas e angulosas dos morros e as côncavas, do vale e
das nascentes do córrego, além da hipsometria da área, ressaltando que as nascentes do Córrego
da Pedra Branca, ao Sul, localizam-se nas áreas mais altas, próximo dos 920m e 930m. À
medida que o curso avança para jusante e recebe seus tributários, ele atinge áreas mais
rebaixadas, até próximo dos 760m.
Figura 2 – Modelo Digital do Terreno em 3D da Micro-bacia do Córrego do Pântano
Pelo mapeamento geomorfológico, vê-se que, no trecho à montante, as vertentes da margem
direita do córrego exibem um perfil convexo-côncavo, sem ruptura de declive positiva contínua
na borda, mas com ocorrência de rupturas restritas em algumas reentrâncias da topografia,
formando pequenas cabeceiras de drenagem em anfiteatros. Essas vertentes não possuem uma
ocupação densa como àquelas da margem esquerda do córrego, que é onde está instalada parte
do Centro, Vila Formosa, Jardim São Lucas e Cruz Preta.
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Figura 3 – Feições geomorfológicas da microbacia do Córrego da Pedra Branca, Área
Urbana de Alfenas/MG
Nota-se maior presença de depósitos coluvionares nos sopés das vertentes da margem
direita do córrego, além de leques aluviais atuais (provenientes das vertentes e associados a
materiais constituídos seixos, tijolos, papéis, plásticos, vidros). Verificam-se nascentes nas áreas
mais elevadas, onde também se forma pequenos lagos próximos às áreas das nascentes no setor
Sul e onde se verificam afloramentos rochosos de gnaisses. As nascentes encontram-se em áreas
com mata ciliar.
As vertentes da margem esquerda do córrego apresentam ocupação mais densa. Além
disso, nota-se que as planícies também acham-se indevidamente ocupadas. Em geral as margens
dos cursos d’água não apresentam cobertura vegetal onde se observa alterações da morfologia
original pelas moradias e pela implantação de aterros. Comumente ocorre nos fundos dos vales
fluviais a presença de material tecnogênico associado a materiais das vertentes. Muitas vezes, as
moradias ou os fundos de quintais se assentam sobre os depósitos tecnogênicos. Embora não
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esteja cartografado, foram observados diversos processos de rastejo na transição da área urbana
com a área rural (na região do entorno imediato – REI). Este processo ocorre principalmente, na
margem direita do córrego, associados aos relevos de colinas.
Observa-se que o sistema viário é composto por arruamentos que partem do centro em
direção ao bairro Vila Formosa e, em seguida, ao bairro Jardim Aeroporto. Este sistema foi
instalado em antigas cabeceiras de drenagem de cursos efêmeros. Na bacia, também se vê o uso
para pastagem e para silvicultura de eucalipto. No interflúvio destes relevos de colinas, estão
instalados o Café Campinho e a Penitenciária de Alfenas.
Considerações Finais
A ação antrópica na área urbanizada vem alterando a morfologia original com a
implantação de aterros, cortes, retificação de alguns córregos. O processo de ocupação alterou o
nível do terreno, o qual ocorreu de uma forma previsível: primeiro, ocupam-se os topos, que,
posteriormente, tendem a serem as áreas mais valorizadas em uma cidade; por conseguinte, as
áreas próximas ao fundos de vale são ocupadas à medida que ocorre o crescimento urbano,
tendo em vista que essas áreas tornar-se-ão menos valorizadas.
A partir da análise geomorfológica realizada é possível afirmar que o sítio urbano de
Alfenas alterou as formas de relevo originais criando uma morfologia antropogênica que está
relacionada com depósitos tecnogênicos antigos e atuais.
Referências Bibliográficas
CARDOSO, F. J. Ação Pública em Terrenos de Fundo de Vale – Estudo de uma bacia
Hidrográfica do Município de Alfenas. Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade
Católica, Campinas, 2003.
ROSS, J. L. S.. Geomorfologia: ambiente e planejamento. 8ª ed. São Paulo: Contexto, 1990.
ROSS, J. L. S.. O Registro Cartográfico do Fatos Geomórficos e a Questão da Taxonomia
do Relevo. In: Revista do Departamento de Geografia – FFLCH-USP, n° 6,São Paulo, 1992.
VERSTAPPEN, H. Th. & VAN ZUIDAN, R.A. ITC System of Geomorphological Survey.
Dutchland. Enschede Textbook ITC, 49p, 1975.
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