O ESTUDO DAS MUDANÇAS DA ESTRUTURA PRODUTIVA PELA ÓTICA DO EMPREGO
FORMAL: OS CASOS DAS REGIÕES DE PRESIDENTE PRUDENTE, ARAÇATUBA E SÃO JOSÉ
DO RIO PRETO.
Aluno-autor: Eliane Carvalho dos Santos
ALUNA BOLSISTA DO PROGRAMA PIBIC/CNPQ
E-mail: [email protected]
Orientador: Profº Dr. ELISEU SAVÉRIO SPOSITO
E-mail: [email protected]
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – CAMPUS DE PRESIDENTE PRUDENTE
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA – LICENCIATURA E BACHARELADO EM GEOGRAFIA
1 INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO
O processo de reestruturação econômica, que a partir do final dos anos 1960 atinge vários
setores da economia mundial, inclusive o produtivo, inaugura uma nova fase de acumulação do
capital caracterizada pela supressão do clássico modelo fordista de produção; modelo esse que
passa a demonstrar sinais de seu esgotamento a partir de reflexos negativos sobre as taxas de
lucros, de crescimento e de produtividade das grandes empresas.
Aliada ao emergente processo de globalização, essa nova fase do capitalismo mundial atinge em
grande proporção o padrão de produção vigente, acarretando na necessidade das empresas em
adotar medidas de adaptação dentro de um novo contexto de mudanças tecnológicas,
organizacionais e produtivas.
Esse conjunto de medidas, caracterizado como reestruturação produtiva, se demonstra,
primeiramente, mais intenso nos países capitalistas centrais; porém diante da integração da
economia mundial, esse processo não demora em demonstrar seus impactos nos países periféricos
industrializados.
No Brasil, esse momento de crise e reestruturação da economia mundial começa a se refletir mais
profundamente a partir da década de 1980. É nesse contexto que se inicia a adoção das premissas
da política neoliberal, juntamente com forte recessão econômica e moeda fraca do Estado brasileiro.
Aliado a essas mudanças de ordem política e social, o capital produtivo, financeiro e outros
setores como o de serviços, seja de capital interno ou externo instalados no Brasil, iniciam seu
processo de reestruturação com o intuito de manter-se competitivo diante da concorrência de um
mercado cada vez mais globalizado.
Essa reestruturação dentro das empresas ou no “chão da fábrica” correspondeu, na prática,
na adoção de novas formas de gestão e organização da produção, principalmente daquelas
poupadoras de mão-de-obra, através de intensa automação e uso de tecnologia; programas rígidos
de controle de qualidade, diversificação dos produtos, horizontalização da produção com aumento
maciço das terceirizações e parcerias, transformações na estrutura ocupacional das empresas,
dentre outras.
Esses aspectos da reestruturação levantados são interpretados conjuntamente como um
confronto direto ao padrão de rigidez do modelo fordista de produção, onde a flexibilidade tanto no
nível econômico como no social, passa a ser a característica fundamental desse processo.
Trata-se de uma nova configuração do capitalismo, chamada de acumulação flexível, onde se
iniciam novas formas de organização da produção industrial, que conseqüentemente impactaram
sobre as configurações da relação entre capital e trabalho.
Para Antunes (1999), a acumulação flexível
fundamenta-se num padrão produtivo organizacional e tecnologicamente avançado,
resultado da introdução de técnicas de gestão da força de trabalho próprias da fase
informacional, bem como da introdução ampliada de computadores no processo
produtivo e de serviços. Desenvolve-se uma estrutura produtiva mais flexível,
recorrendo freqüentemente à desconcentração produtiva, às empresas terceirizadas,
etc. Utiliza-se de novas técnicas de gestão da força de trabalho, do trabalho em
equipe, das “células de produção” dos “times de trabalho”, dos trabalhos em grupo
“semi-autônomos”, além de requerer, ao menos no plano discursivo, o “envolvimento
participativo” dos trabalhadores, na verdade uma participação manipuladora e que
preserva, na essência, as condições do trabalho alienado e estranhado. (p. 52).
Nesse período, observamos a emergência da primazia do capital financeiro sobre o produtivo,
além do aumento do monopólio das grandes corporações sobre parcelas de mercado, algo que
acirra a competição entre as empresas, justificando a rápida incorporação desses elementos aos
processos produtivos e de gestão.
1.1 A reestruturação produtiva no contexto político brasileiro
Como já salientamos a reestruturação do processo produtivo e a incorporação da flexibilidade
como palavra-chave dessa nova era da acumulação capitalista impactou drasticamente na relação
entre capital e trabalho, o que trouxe uma nova configuração ao mercado de trabalho dentro dos
setores e países, além de modificações na divisão internacional do trabalho, alavancada pelo
processo de globalização.
A inserção do Brasil diante dessa nova conjuntura de mundialização do capital (Chesnais,
1996), resultou em um amplo processo de mudanças no contexto político, econômico e social
orientadas pelas transformações acarretadas pela globalização e incorporação da política neoliberal
do Estado. Tais mudanças compreenderam diversos aspectos na forma de agir do Estado, que a
partir de então sai de cena na atuação em vários setores transferindo para a iniciativa privada,
iniciante em seu processo de reestruturação, a ocupação de seu espaço.
Aliado a crescente difusão da informação e da tecnologia de ponta, fatores incorporados à
acumulação flexível, o neoliberalismo juntamente com a reestruturação econômica, resultaram em
um processo nacional de desemprego estrutural e crise social aumentando conseqüentemente a
precarização das relações de trabalho, os baixos salários, o subemprego, o trabalho informal e a
pobreza da população, o que já se configurava como um problema crônico brasileiro. Com isso,
ainda acrescentamos outros pontos que configuravam o contexto dos anos 1980 e início dos anos
1990 no Brasil, a saber:
_ período de forte recessão econômica com resultado imediato no aumento do desemprego, que
permeou nas baixas do PIB, ou seja, declínios sucessivos de geração de riqueza;
_ uma explosão da inflação real, com taxas anuais acima dos 300% de aumento dos preços, algo
que precarizava ainda mais a vida do trabalhador assalariado mais pobre, pois o aumento dos
preços, principalmente dos alimentos, acarretava em uma desvalorização drástica do salário;
_ desaceleração da produção industrial e fechamento de diversas empresas e indústrias frente ao
aumento da concorrência dos produtos importados devido à extensa abertura comercial e
valorização cambial, ampliada e sentida mais profundamente no início da década de 1990 a partir do
Plano Real (1994).
Além desses fatores podemos enumerar outros que foram levantados por Hilgemberg (2003)
em sua tese de doutorado sobre os efeitos da abertura comercial e das mudanças estruturais no
mercado de trabalho brasileiro durante a década de 1990. Em seu trabalho a autora incorpora mais
informações que fazem valer uma visão geral das principais medidas incorporadas pelos governos
da década de 1990 e suas principais conseqüências no cenário macroeconômico brasileiro. Com
base em suas principais idéias, elaboramos um esquema que delimita cronologicamente esse
cenário.
Figura 1: Resumo das principais transformações transcorridas durante a década de 1990 no Brasil.
1990 – 1992
Redução do
nível de
atividade
Aumento da
taxa de
desemprego
Adoção de
medidas de
liberalização
1993
Reversão
da
recessão
Ajuste fiscal
1994
1995
1996 – 1997
1998
1999
Estabilizaçã
o
econômica
(Plano Real)
Aumento
na taxa de
juros
Ápice de
cresciment
o do PIB no
Plano Real
Política
fiscal
restritiva
Acordo
com o FMI
Aumento
Aumento
na tarifa
Aumento
da taxa de
de
das taxas
juros
importaçã
o de
setores
VALORIZAÇÃO CAMBIAL
Maior taxa
de
INTENSIFICAÇÃO DO PROCESSO DE PRIVATIZAÇÃO
Org. Eliane Carvalho dos Santos, baseado em Hilgemberg (2003).
Manutenç
ão da
mesma
taxa de
desempreg
Assim, delimitamos parcialmente o contexto socioeconômico vivenciado pela população
brasileira durante a década de 1980 e grande parte da década de 1990, contexto esse que acaba por
modificar a estrutura do mercado de trabalho brasileiro.
Nesse sentido, tais transformações trazidas no bojo desse novo padrão de acumulação em
processo, aliado a conjuntura econômica e política do Estado brasileiro que vem passando por
oscilações entre crescimento e estagnação durante as últimas décadas1, impactaram nas estruturas
regionais e, conseqüentemente na configuração dos mercados de trabalho regionais, estejam eles
mais ou menos integrados à esfera nacional.
O Estado de São Paulo esteve mais especificamente no bojo desse processo. Por ser o
centro mais dinâmico da economia brasileira, concentrando muitas plantas industriais e escritórios de
gestão industrial e financeira, nesse Estado os impactos da reestruturação produtiva se
demonstraram perversos, pois grande número de empregos industriais e de setores que expandiram
o uso de tecnologia (como bancos) foram extintos, deixando um grande contingente de trabalhadores
desempregados que passaram a buscar no subemprego e na ocupação informal sua alternativa de
sobrevivência.
Nesse sentido, buscamos nessa pesquisa analisar como se apresenta as facetas desses
processos (reestruturação produtiva, acumulação flexível) supracitados em regiões localizadas na
porção oeste do Estado de São Paulo, onde esses se apresentam mais timidamente, porém estão
presentes dando indícios de possíveis mudanças na configuração de seus mercados de trabalho
regionais.
Diante desse quadro, a pesquisa pauta-se em colher dados e informações sobre o mercado
de trabalho das Regiões Administrativas de Presidente Prudente, Araçatuba e São José do Rio
Preto, todas localizadas na porção oeste do Estado. Para uma melhor compreensão da dinâmica
produtiva do setor industrial dessas regiões, focamos nosso trabalho em um estudo específico,
relevando apenas os dados sobre o mercado de trabalho formal dos municípios que até o ano de
2007 contavam com uma população acima de 20 mil habitantes.
2 OESTE PAULISTA: DA ORIGEM INDUSTRIAL À REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA
Estabelecer um recorte territorial para análise dentro de uma complexa realidade como a do
Estado de São Paulo torna-se uma tarefa difícil, pois entendemos que a análise do espaço regional
inserido na dinâmica do território paulista expressa fatores decorrentes de decisões externas à região
e até ao Estado. Diante disso, a análise mais generalizada do momento histórico mundial e mais
pormenorizada do Estado de São Paulo, leva a considerações que se refletem no entendimento dos
processos em escala local.
1
Além dos altos e baixos da inflação, a economia brasileira já atravessou diferentes períodos de recessão e recuperação.
Para citar alguns mais recentes: recessão entre 1981/1983, recuperação do crescimento entre 1984/1986, estagnação entre
1987/1989, entre outros altos e baixos, para enfim sinalizarmos para um crescimento sustentável a partir da retomada do
crescimento no Governo Lula.
Nesse sentido, primeiramente partimos para o entendimento do papel das cidades médias
paulistas, com ênfase nas cidades de Presidente Prudente, Araçatuba e São José do Rio Preto,
diante de todo o processo de industrialização brasileira e, principalmente a paulista. A análise da
origem do capital industrial dessas cidades e como desde o início se comportou o mercado de
trabalho regional são os primeiros enfoques dados à questão industrial.
Em seguida, partimos para a compreensão do processo de desconcentração industrial no
Estado de São Paulo e como o Oeste Paulista se comportou nesse período, a saber: a
industrialização mais recente dessa região teve relação com a desconcentração industrial paulista?
Para encerrar, analisamos alguns dados extraídos de fontes secundárias sobre as cidades
pesquisadas juntamente com algumas considerações a cerca da economia e mercado de trabalho na
escala regional e os reflexos da reestruturação produtiva na região oeste do estado.
2.1 Origem e desenvolvimento da indústria do oeste paulista
A Região Oeste do Estado de São Paulo teve sua ocupação associada aos ciclos econômicos
da agricultura do Estado. Primeiramente, toda a região conhecida no início do século XX como “boca
do sertão”, tornou-se alvo de empresas de colonização impulsionadas pela chegada da ferrovia, que
cortavam o Estado e que a partir do final do século XIX chegam à região. A partir daí, a incorporação
dessas terras dá-se então a partir da possibilidade de expansão da cultura do café, que já vinha
declinando suas atividades em outras regiões pioneiras da cultura, como era o caso do Vale do
Paraíba. Sendo assim, a partir de fins do século XIX e início do século XX, a cultura do café é
introduzida em quase toda a porção oeste do Estado.
De forma mais geral, à medida que essas vastas terras eram incorporadas, processava-se o
nascimento e a emergência de núcleos urbanos com a capacidade de realização e oferta de
atividades comerciais, estabelecendo, portanto, uma hierarquia das cidades do Oeste Paulista.
Nesse cenário cabe destacar que as cidades-sede das três Regiões Administrativas estudadas
(Presidente Prudente, Araçatuba e São José do Rio Preto), já se destacavam desde essa época
como núcleos urbanos prósperos, que exerciam o papel de núcleo comercial e agregador das
primeiras funções urbanas2. Mais tarde, essas cidades se tornariam referência para a instalação de
plantas industriais durante a expansão da indústria paulista.
Desde a gênese da indústria regional até meados da década de 1970, as atividades
industriais do Oeste Paulista guardavam estreita relação com a agricultura. Assim, o que se plantava
na região determinava o tipo de atividade industrial que se estabelecia, fortalecendo esses laços
entre agricultura e indústria que seriam reforçados, mais tarde, com a incorporação da cultura do
algodão nos anos 1930.
O cultivo do algodão trouxe para a região as primeiras indústrias de beneficiamento (para a
produção de óleo). Outras lavouras também trouxeram agroindústrias para a região, entre elas, o
amendoim, o tomate e mais recentemente a cana-de-açúcar e a laranja. Além dessas indústrias de
2
Data da fundação dos municípios: Presidente Prudente, 1917; Araçatuba, 1908 e São José do Rio Preto, 1852.
beneficiamento, outras unidades pequenas de produção industrial foram instaladas na região, essas
unidades produziam bens de consumo não-duráveis, principalmente do ramo de alimentos que
abasteciam uma demanda imediata do local.
Desde a formação dos primeiros núcleos urbanos, a região Oeste do Estado passa a
comportar unidades industriais. Porém, essa indústria passa por diferentes processos de formação.
Assim, partindo da análise de Gomes (2007), elaboramos um quadro síntese com a divisão da
indústria do Oeste Paulista em quatro momentos diferentes de sua implantação, comum a região e
às suas cidades médias.
QUADRO 1: Momentos da formação industrial do Oeste Paulista.
Período
Características
1920-1930
Pequenas fábricas com baixo emprego de tecnologia, produzindo
bens de consumo não-duráveis para atender a uma demanda local.
Fábricas de origem familiar com capital local e aproveitamento das
matérias-primas locais.
Meados das
décadas de
1930, 1940
e 1950
Implantação de grandes empresas industriais nacionais e
estrangeiras (SANBRA, Anderson Clayton, Swift, Matarazzo, entre
outras) todas de beneficiamento de produtos agrícolas em todas as
cidades médias. Essas empresas passam a conviver com as mais
tradicionais de capital local e familiar.
1960, 1970
até meados
de 1980
Intensa modificação na estrutura produtiva do campo, com a
diminuição de áreas de lavoura e expansão da atividade pecuária.
Nesse período as agroindústrias se diversificam nas três regiões
com a instalação de frigoríficos e laticínios, além da instalação de
várias usinas de álcool devido à presença da cana-de-açúcar,
incentivadas pelo Proálcool do Governo Federal.
1980-1990
Observa-se o processo de reestruturação produtiva nas plantas
industriais da região, impulsionada principalmente, pela abertura
econômica e política cambial do período, esses reflexos são
sentidos nas cidades médias só que com um grau de intensidade
menor.
Org. Eliane Carvalho dos Santos, baseado em Gomes (2007, p. 24-25).
Nesse quadro, a síntese dos diferentes momentos da indústria instalada na região Oeste do
Estado, principalmente nas cidades médias, demonstra que a região passou por intensa modificação
em sua estrutura produtiva, tanto no campo quanto na cidade, através de uma extensa relação direta
entre a produção industrial e a produção do agrícola.
Porém, durante esse processo, a diversificação da produção e dos ramos industriais nas
principais cidades regionais, aliada ao crescente aumento populacional e intensificação das funções
urbanas das cidades médias, definiu o padrão produtivo regional, onde hoje, a atividade industrial é
ampla, abrangendo diversos municípios que comportam diferentes ramos de produção industrial,
desde os mais tradicionais até os mais modernos.
2.2 Desconcentração industrial no Estado de São Paulo: a inserção do Oeste Paulista nesse
contexto
Desde a década de 1960 os diferentes Governos do Estado de São Paulo passaram a lançar
mão de políticas com o intuito de desconcentrar as atividades industriais do Estado. Essas políticas
compreendiam, dentre outros fatores: melhora da infra-estrutura do sistema rodoviário, lançamento
de programas para a instalação de plantas industriais nas cidades médias, desenvolvimento das
telecomunicações, integração da malha viária, criação de centros de excelência de formação de
mão-de-obra qualificada, etc.
Essa desconcentração da indústria paulista esteve relacionada com a cisão entre a produção
e a gestão, pois apenas as unidades de produção se deslocaram rumo ao interior, enquanto a gestão
continua sendo executada no centro financeiro do país, a cidade de São Paulo.
Contudo, essas políticas estatais e a desconcentração da atividade industrial privilegiaram
alguns eixos rodoviários próximos à Região Metropolitana, diferenciando regiões dentro do Estado e
acirrando a disputa entre municípios dentro dessa lógica.
Para a região oeste do Estado, essa política de desconcentração industrial demonstrou-se de
maneira tímida, pois os investimentos estatais dessa política foram mais evidentes nas regiões mais
próximas à capital.
As RAs de Presidente Prudente, Araçatuba e São José do Rio Preto, ficaram mais à margem
do que no bojo desse processo. A instalação nesse período de novas indústrias não estabelece
relação com a desconcentração industrial do Estado, pois como já dissemos, esse processo
beneficiou apenas algumas regiões interioranas mais próximas à capital. Nas palavras de Negri
(1988, p. 29 apud Gomes 2007, p. 40)
Por sua vez acentuou-se a diminuição de participação da Região Metropolitana de
São Paulo no valor adicionado da indústria de transformação estadual de 60,0% para
52,8%, enquanto as cinco principais regiões administrativas do Interior (Litoral, Vale
do Paraíba, Sorocaba, Campinas e Ribeirão Preto) ampliaram sua participação de
32,8% para 38,0% e as demais regiões do “Oeste” Paulista (Presidente Prudente,
Araçatuba, São José do Rio Preto, Marília e Bauru) passaram de 7,2% para 9, 3%.
Para o conjunto das cidades médias que compreendem o Oeste Paulista, apenas São José
do Rio Preto teve melhora do seu sistema viário decorrente da ação do governo estadual, quando a
rodovia Washington Luiz foi duplicada. Contudo isso ficou restrito para algumas rodovias, pois até
hoje a rodovia Raposo Tavares, em Presidente Prudente, não foi duplicada algo que afeta a
circulação de mercadorias.
Outra política relacionada a esse contexto que chega à região oeste foi o Proalcool, que
atinge principalmente as regiões de São José do Rio Preto e Araçatuba. Nesse momento são
instaladas usinas de álcool na região, juntamente com a explosão da cana no campo.
Porém, a instalação de Distritos Industriais incentivado pela política estadual de
desenvolvimento das cidades médias do interior foi a política mais significativa no contexto da
desconcentração industrial que chegou até as cidades da região oeste. Onde através da Política
Municipal de Atração da Indústria foram criados esses distritos, com um esforço maior dos governos
municipais, para a atração de novas plantas industriais e expansão das já existentes.
Portanto, nas cidades médias e pequenas do Oeste Paulista os esforços para impulsionar
novos setores da indústria desligados das atividades do campo, são em grande parte,
desencadeados por iniciativas municipais, ou seja, são fatores locais que propiciaram esse
desenvolvimento industrial mesmo depois das políticas estatais de desconcentração da indústria.
2.3 Caracterização dos municípios pesquisados: indústria e mercado de trabalho
Nas Regiões Administrativas de Presidente Prudente, Araçatuba e São José do Rio Preto,
observa-se um número muito grande de municípios (total das três regiões: 189) que mantém sua
lógica urbana atrelada às cidades médias. Porém nesse universo a maioria desses municípios são
muito pequenos, com uma população inferior a 2.000 habitantes.
Mapa 1: Regiões Administrativas do Estado de São Paulo
Fonte: www.divbibliotecas.sp.gov.br, 2008.
Sendo assim, definimos que poderíamos investigar melhor como se dá o processo de
reestruturação produtiva nessas três regiões administrativas a partir dos municípios que contassem
com população acima de 20 mil habitantes. Desse modo, o universo de municípios analisados ficou
assim definido: 13 municípios da R.A. de Presidente Prudente; 08 municípios da R.A. de Araçatuba;
e 10 municípios da R.A. de São José do Rio Preto (tabela 1).
Ao investigarmos os municípios que selecionamos para nossa análise, entendemos que a
articulação desses ao papel desempenhado pela cidade média regional deve ser ressaltado. A
cidade média, sede da região administrativa, compreende um nó na articulação dos outros
municípios que compõem a região. Torna-se um espaço polarizador de atividades, principalmente de
serviços, exercendo uma centralidade que articula relações entre os municípios menores e outras
escalas.
Tabela 1: População dos municípios pesquisados das Regiões Administrativas de Araçatuba, São
José do Rio Preto e Presidente Prudente em 2007.
Municípios e RAs
População 2007
Região Administrativa de Presidente Prudente
Presidente Prudente
Presidente Epitácio
Dracena
Presidente Venceslau
Adamantina
Osvaldo Cruz
Rancharia
Rosana
Álvares Machado
Martinópolis
Pirapozinho
Santo Anastácio
Teodoro Sampaio
834.620
206.545
42.847
41.216
38.628
34.655
30.234
30.131
26.968
25.186
24.318
23.399
21.445
21.202
Região Administrativa de Araçatuba
Araçatuba
Birigui
Penápolis
Andradina
Guararapes
Mirandópolis
Ilha Solteira
716.283
180.637
106.364
58.529
57.580
30.228
27.505
25.825
Pereira Barreto
25.171
Região Administrativa de São José do Rio Preto
1.427.799
São José do Rio Preto
411.175
Catanduva
115.572
Votuporanga
83.180
Fernandópolis
66.675
Mirassol
54.885
Jales
49.377
Novo Horizonte
34.333
José Bonifácio
32.300
Santa Fé do Sul
28.732
Tanabi
23.565
TOTAL DE MUNICÍPIOS: 31
Fonte: Fundação Seade – 2008.
De maneira geral, nas três R.A.s estudadas a dinâmica econômica está mais atrelada ao
campo do que a indústria. A diversificação da produção no campo é grande, porém algumas culturas
se fazem mais presentes, devido a condicionantes históricas e sociais. No Oeste paulista, a
produção da cana-de-açúcar, do gado de corte e da laranja são as culturas mais expressivas, que
abrangem uma ocupação densa no território de diversos municípios.
Juntamente com a produção do campo, as agroindústrias como as usinas de álcool, os
frigoríficos e as processadoras de alimentos, estão inseridas nesses municípios, com uma
concentração maior nas cidades médias. Porém observamos que algumas cidades pesquisadas
apresentam dinâmicas industriais bem diversas, indo muito além da dependência da produção das
agroindústrias.
Nesse sentido, o caso de Birigui é emblemático, pois esse município tem forte tradição
industrial no ramo de calçados, onde a grande concentração de pequenas e médias empresas locais
aliadas a existência de grandes empresas do ramo de capital nacional, configuram um pólo de
produção calçadista impulsionado pela formação de um eixo de desenvolvimento a partir da rodovia
Marechal Cândido Rondon (SP-300) (CÍCERO, 2007).
A participação no PIB estadual das três R.A.s é pouco expressiva. Segundo a Fundação
Seade, em 2005 essa participação da R.A. de Presidente Prudente ficou em torno de 1,25%; já na
R.A. de Araçatuba esse número cai para 1,3% de participação; na R.A. de São José do Rio Preto
essa participação sobe, ficando em torno de 2,33%.
Ao observarmos esses dados percebemos que a Região do Oeste Paulista participa pouco do
total de geração de riqueza do Estado, e se refinarmos ainda mais esses dados, veremos que essa
produção de PIB se encontra altamente concentrada nos municípios maiores das R.A.s,
principalmente nas cidades médias.
A produção industrial do Oeste Paulista ainda é incipiente se comparada a outras regiões
mais próximas à capital, porém parte para a competitividade e reestruturação a fim de galgar
alcançar outros mercados. Desse modo, em muitos estudos realizados (CÍCERO, 2007; GOMES,
2007; entre outros) percebeu-se que há ainda certa resistência das pequenas empresas em aderir,
mesmo que parcialmente, aos aspectos da acumulação flexível, pois muitas ainda têm forte tradição
familiar de gestão, o que dificulta a reestruturação.
Sendo assim, as médias e grandes empresas são as têm aderido a esses processos,
alterando as configurações de produção no “chão da fábrica” e impactando no mercado de trabalho
regional. Como a indústria é um setor que, de maneira geral, emprega pouco se comparado ao setor
de serviços que desponta na oferta e manutenção de empregos formais em quase todos os
municípios pesquisados, o número de oferta de empregos industriais está em declínio, porém sem
afetar necessariamente na produção.
A reestruturação produtiva nas indústrias desses municípios tem corroborado para a
ascensão do setor de serviços como o grande empregador regional. Essa indústria, com exceção de
alguns municípios, tem dispensado mão-de-obra à medida que se reestrutura, porém esse espaço de
trabalhadores dispensados é preenchido por trabalhadores de prestadoras de serviços. Assim,
entendemos que essa nova fase de acumulação traz uma nova configuração do mercado de trabalho
regional nas regiões pesquisadas, fortalecendo outros setores e o trabalho informal, algo comum ao
processo em escala nacional.
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Download

Trab_compl_Eliane Carvalho dos Santos