AS INFLUÊNCIAS MEDITERRÂNICAS NA OURIVESARIA
PROTO-HISTÓRICA DE PORTUGAL
Carla Maria Braz Martins
© 2008, de esta edición, EDAR
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AS INFLUÊNCIAS MEDITERRÂNICAS NA OURIVESARIA
PROTO-HISTÓRICA DE PORTUGAL
Carla Maria Braz Martins
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Este trabalho é a consequência do estudo de um conjunto de peças de ourivesaria proto-histórica com características bem definidas, ou seja com influências mediterrânicas,
seja ao nível da tecnologia, fabrico, seja ao nível da decoração. Assim sendo, prestou-se
particular atenção a técnicas como a solda, a filigrana e o granulado.
É importante estabelecer e realçar um fio condutor com o mundo mediterrânico, tendo sido o conjunto de jóias inventariadas o ponto de partida.
O objectivo foi o de esclarecer o trajecto das influências orientais patentes nas peças em
causa, tentando determinar os seus protótipos, tarefa nem sempre fácil, porém extremamente agradável.
Pretendeu-se que este estudo fosse mais um contributo para o entendimento tecnológico e decorativo da ourivesaria proto-histórica de influências mediterrânicas, patentes
no território português.
« Ela vestia um vestido mais brilhante do que as chamas do fogo,
Braceletes em espiral, brincos com fulgurantes flores, e
Lindos colares no seu delicado pescoço,
Tudo em ouro, magnificamente trabalhado.»
Homero, “Hino a Afrodite”
À MINHA FAMÍLIA
ÍNDICE
INTRODUÇÃO .......................................................................................... 7
CAPÍTULO 1 ............................................................................................. 13
O MUNDO MEDITERRÂNICO .................................................................................................... 13
CAPÍTULO 2 ............................................................................................. 21
OURIVESARIA. SEU SIGNIFICADO .......................................................................................... 21
CAPÍTULO 3 ............................................................................................. 33
MINERALOGIA E METALURGIA .............................................................................................. 33
CAPÍTULO 4 ............................................................................................. 49
TECNOLOGIA.................................................................................................................................. 49
CAPÍTULO 5 ............................................................................................. 61
ELEMENTOS DECORATIVOS ..................................................................................................... 61
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................... 69
CORPUS ..................................................................................................... 75
ESTAMPAS .............................................................................................. 131
BIBLIOGRAFIA ..................................................................................... 167
ÍNDICE ESTAMPAS.............................................................................. 179
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
«Ousarei dizer que o Ocidente deve ao Oriente as artes e ofícios elementares, que conduzem à emancipação do homem para com o meio ambiente e à fundação de laços espirituais
que coordenam os esforços humanos. Os povos de Oeste não são servis imitadores. Eles
adoptam os dons de Este e unem-nos às aquisições africanas e asiáticas numa nova orgânica capaz de se desenvolver criando as suas próprias linhas originais.»
Gordon Childe1
A necessidade de investigar a origem dos protótipos no contexto das culturas mediterrânicas desde o
Bronze Final à Romanização, de modo a esclarecer um momento de mutações em que se estabeleceu
uma vasta rede de relações económicas, sociais, culturais e religiosas, por vezes de longa distância,
conduziu-nos a elaborar esta monografia que teve como base uma dissertação de mestrado (defendida na Faculdade de Letras da Universidade do Porto), efectuando uma selecção criteriosa da ourivesaria proto-histórica existente, tendo em conta as modernas técnicas de análise (Fig. 1).
Este trabalho tenta ser um contributo para o estudo alargado da ourivesaria, como diversificada
fonte de informação, pretendendo servir como elemento de ajuda à datação, estudo tecnológico e
testemunho dos intercâmbios económico-sociais das comunidades indígenas e ainda como meio de
aproximação das suas estruturas e relações culturais.
Desde já queremos deixar expresso os nossos reconhecimentos ao Doutor Armando Coelho Ferreira da Silva, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, pela orientação prestada no
decurso de todo o trabalho; as suas obras foram o nosso ponto de partida, seguindo a sua linha de
pensamento.
Às instituições que nos facultaram o estudo das peças, e nos forneceram informações sobre as
mesmas, pela sua disponibilidade e simpatia, a nossa gratidão.
A realização deste trabalho só se tornou possível mercê do apoio recebido da JNICT, Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, que pela atribuição de uma bolsa nos permitiu a
dedicação exclusiva a este projecto de investigação.
Uma palavra de agradecimento às pessoas amigas, que directa ou indirectamente, nos ajudaram e
alentaram ao longo deste trabalho.
Este tema tem sido muito focado por diversos autores, dada a sua actualidade; uns abordam aspectos do mundo mediterrânico, outros, da ourivesaria, havendo no entanto, quem se debruce sobre
os dois temas como Armando Coelho Ferreira da Silva nos seus artigos Ourivesaria do Norte de
Portugal. Ourivesaria pré-romana do Norte de Portugal2 e Influências orientalizantes na formação da
cultura castreja do Noroeste de Portugal3.
1
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3
CHILDE, Gordon - L’aube de la civilisation européenne, Paris, Payot, 1949, p. 13.
SILVA, A.C.F. 1988.
SILVA, A.C.F. 1990a.
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AS INFLUÊNCIAS MEDITERRÂNICAS NA OURIVESARIA PROTO-HISTÓRICA DE PORTUGAL
Figura 1. Localização geográfica das peças
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INTRODUÇÃO
Para uma ampla compreensão do período em questão baseámo-nos nos trabalhos do supra-referido autor4 para o Norte e Centro do território, e nos de Mário Varela Gomes5, Carlos Tavares da
Silva, Joaquina Soares6 e Carlos Fabião7, para o Sul.
Para o tema específico de ourivesaria, recorremos aos catálogos elaborados por R. Barbara Armbruster e Rui Parreira8, e M. F. Macedo9, e aos estudos realizados por Blanco Freijeiro10, Pérez
Outeiriño11, Castro Pérez12, que nos permitiu por um lado ter um conhecimento mais detalhado
sobre o conjunto de jóias seleccionado, no que diz respeito a características morfológicas, técnicas
e estruturais, e por outro lado determinar quais as influências existentes nas jóias e suas origens.
Gérard Nicolini prestou-nos uma grande ajuda com a sua recente obra Techniques des ors antiques,
la bijouterie Ibérique du VII au IV siécle13.
É de salientar, para as relações com o mundo mediterrânico e orientalizante, os artigos de P.
Schauer14, M. Almagro-Gorbea15, M. E. Aubet Semmler16 e Serge Lancel17, que através de paralelos entre as diferentes culturas materiais nos permitiu estabelecer um fio condutor em direcção
ao Ocidente.
Os interessantes temas de mineralogia e metalurgia tiveram como suporte as obras de F. Noronha
e F. M. Ramos18, A. Perea Caveda19, C. Eluère20, Ana Maria Rauret21, C. Domergue22 e principalmente os artigos de F. J. Sánchez-Palencia23.
A problemática acerca dos métodos de análise está bem presente nos trabalhos de A. Perea Caveda24 e R. F. Tylecote25, contrapondo-se aos de Axel Hartmann26.
As fontes clássicas não foram descuradas, tendo-nos baseado essencialmente nos textos de Estrabão27 e de Plínio, o Velho28. Se Estrabão se situa cronologicamente mais próximo da época considerada (69 a.C. - 17 d.C.), há também que ter em conta que segundo parece, ele não terá estado
na Península Ibérica, sendo as suas informações recolhidas de outros. Daí a nossa preferência por
Plínio (séc. I d.C.) que, por ter conhecido as explorações auríferas do Noroeste em época romana,
escreve abundantemente sobre elas, fornecendo-nos valiosíssimas informações de como se processavam.
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SILVA, A.C.F. 1986.
SILVA, A.C.F.; GOMES, M.V. 1992.
SILVA, C.T.; SOARES, J. 1986. MAYET, F.; SILVA, C.T.; MAKAROUN, Y. 1994. SILVA, C.T.; SOARES, J. 1994.
FABIÃO, C. 1992.
ARMBRUSTER; PARREIRA 1993. ARMBRUSTER; PEREA CAVEDA 1994. ARMBRUSTER 1995.
MACEDO 1993.
BLANCO FREIJEIRO 1957.
PÉREZ OUTEIRIÑO 1982.
CASTRO PÉREZ 1990.
NICOLINI 1990.
SCHAUER 1983.
ALMAGRO-GORBEA, M. 1986a.
AUBET SEMMLER 1986a, 1986b, 1994.
LANCEL 1994.
NORONHA; RAMOS 1993.
PEREA CAVEDA 1989.
ELUÈRE 1990.
RAURET 1976.
DOMERGUE 1987, 1990.
SÁNCHEZ-PALENCIA 1983. SÁNCHEZ PALENCIA; CARLOS PÉREZ 1989.
PEREA CAVEDA 1990.
TYLECOTE 1986.
HARTMANN 1982.
Edição crítica por VELOZO; CARDOZO 1965.
Edição crítica por SCHULTEN; MALUQUER de MOTES 1987.
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AS INFLUÊNCIAS MEDITERRÂNICAS NA OURIVESARIA PROTO-HISTÓRICA DE PORTUGAL
Esta pequena resenha bibliográfica foi o alicerce de todo o trabalho, que se foi estruturando pelas
consultas feitas a artigos e obras referenciadas. Mas o que permitiu a consistência e união dos diversos temas foi a recolha de um corpo de dados que procurámos definir e localizar o melhor que
nos foi possível.
Ao fazer-se uma escolha, foi inevitável um certo grau de parcialidade, sendo o “gosto pelo belo”
um factor importante, quase que impossível de afastar. No entanto, a selecção das jóias teve como
elemento determinante, por razões práticas, o local onde estão depositadas e o acesso que teríamos ou não a elas; a inexistência de inventários/catálogos das peças do Sul para a Idade do Ferro
dificultou-nos a sua inventariação e consequente descrição.
Assim, tentámos reunir o maior número de informações de peças de ouro, ou cujo principal elemento constituinte fosse o ouro (também nós sucumbimos ao “mito do ouro”), e cuja proveniência
estivesse suficientemente definida para que se pudesse relacionar o seu aparecimento com possíveis
jazigos ou ocorrências mineiras e circuitos comerciais.
A descrição e caracterização dos exemplares estudados, todos com influências mediterrânicas, quer
ao nível da tecnologia, quer ao nível da decoração, baseou-se no inventário elaborado por Armando Coelho Ferreira da Silva A cultura castreja no Noroeste de Portugal29, e no Inventário do Museu
Nacional de Arqueologia. Colecção de ourivesaria. Do Calcolítico à Idade do Bronze, coordenado por B.
Armbruster e R. Parreira30.
Tentámos, sempre que nos foi possível, ver as jóias em causa31, tarefa nem sempre atendida, e por
vezes dificultada por parte dos museus, desconhecendo-se por vezes o paradeiro de algumas e sendo difícil o acesso a outras, especialmente as que se encontram em colecções particulares.
As jóias existentes no acervo do Gabinete de Numismática da Câmara Municipal do Porto, do
Museu Nacional de Soares dos Reis (Porto), do Museu D. Diogo de Sousa (Braga), do Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins (Paços de Ferreira), do Museu da Sociedade Martins Sarmento
(Guimarães), do Museu Regional de Arqueologia de Torres Vedras e do Museu de Arqueologia
de Sines foram analisadas e efectuado o seu estudo pormenorizado, incluindo o registo fotográfico,
pelo que nos sentimos muito gratos para com as respectivas instituições.
No Museu Nacional de Arqueologia (Lisboa) foi-nos facultado o acesso aos dados e registo fotográfico a preto e branco, o mesmo se processando com as peças existentes no Museu Britânico
(Londres, Inglaterra).
No decurso da nossa investigação, revelou-se de extrema importância fazer um estudo etno-arqueológico a várias oficinas de ourivesaria tradicional32 em Gondomar, Porto33 e em Travassos, Póvoa
de Lanhoso, Braga34. A observação nessas oficinas de trabalhos de laboração do ouro permitiu-nos
compreender os processos de aplicação da solda, filigrana e granulado, técnicas que subsistiram
através dos tempos, passadas de “geração em geração” e com alguns “segredos de família”. Nestas
oficinas encontrámos ainda utensílios paralelos aos usados outrora, agora considerados obsoletos,
e quase inalteráveis, apesar da invasão das modernas inovações mecânicas.
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SILVA, A.C.F. 1986.
ARMBRUSTER; PARREIRA 1993.
Entenda-se por “ver” não a observação através de uma vitrine, mas uma observação que nos permita estudar o anverso assim como o reverso
da peça, possibilitando uma análise conveniente e completa.
Queremos deixar expressos os nossos agradecimentos para com o Doutor António Baptista Lopes, Faculdade de Letras da Universidade
do Porto, pelo empenho mostrado aquando das visitas às oficinas de Gondomar, e para com a Drª Maria José Carvalho e Sousa pela disponibilidade mostrada nas visitas às oficinas de Travassos.
A do Sr. Moisés Ferreira Bento e a do Sr. João Monteiro e Sousa.
A do Sr. Álvaro Santos, a da família Carvalho e Sousa e a da família Rodrigues e Silva.
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INTRODUÇÃO
Na nossa dissertação tentámos abarcar o estudo da ourivesaria proto-histórica. Sendo assim, dentro desta época e tendo em conta as opiniões de diferentes autores, como Alarcão35 e Manuela
Martins36, adoptámos a periodização de A.C.F. da Silva37 para o Norte e Centro: fase IA de 900700 a.C., IB de 700-500 a.C., IIA de 500-200 a.C., IIB de 200-140 a.C., IIIA de 140 a finais do
séc. I a.C. e IIIB de fins do séc. I à segunda metade do séc. I d.C.38, e a de Mário Varela Gomes39
para o Sul: Bronze Final - séc. X a IX/VIII a.C., Iª Idade do Ferro do séc. IX/VIII a.C. ao séc. V
a.C. e IIª Idade do Ferro de meados do séc. V a.C. a começos do séc. II ou até mesmo séc. I a.C.,
por compreenderem estudos muito abrangentes e bem sistematizados no que diz respeito à evolução do habitat, actividades produtivas e organização da sociedade40, e no tocante à ourivesaria
terem em atenção a matéria-prima, a tecnologia e a decoração.
De referir ainda a subdivisão do Bronze Final Atlântico proposta por Coffyn e Sion41 em I de 1100
a 950 a.C. e II de 950 a 750 a.C., e a datação das chamadas estações tipo da Iª Idade do Ferro
Hallstatt, datada de 750/700 a 450 a.C., e da IIª Idade do Ferro La Tène, com uma cronologia que
aponta para 450 a.C. até à viragem da era42.
O presente estudo considera as importações de elementos por via marítima, tentando-se estabelecer o seu percurso através do Mediterrâneo. Contudo, tem-se bem consciente a coexistência destas
influências com as centro-europeias, também presentes nas jóias, e que terão sido trazidas por via
continental; não sendo objecto de estudo nesta investigação, poderemos porém, lançar a hipótese
de uma via terrestre com origens no Oriente e com destino ao Ocidente, passando obrigatoriamente pelo Centro da Europa.
Coffyn43 refere que já desde o séc. XI a.C. existem relações entre o Ocidente Atlântico e o Mediterrâneo, como o atestam o espeto de Amatonte que apareceu em Chipre, no século apontado, e as
fíbulas cipriotas datadas de entre os séc. X e VII a.C. em contextos atlânticos.
No entanto, o palco das transacções comerciais ter-se-á dado entre 700-500 a.C. fruto de contactos mais regulares devido ao estabelecimento de feitorias e colónias, apesar de já em cerca de 900
a.C. haver indícios de elementos exteriores, como seja a solda.
Aos movimentos pré-coloniais, Coffyn44 designa-os por grupos de prospectores, que poderão ser
mineiros, em regime de voluntariado.
A cronologia escolhida tem em atenção todas estas relações, não descurando os movimentos migratórios e políticos na Península Ibérica e fora dela, sendo importantes as datas como a de 535
a.C. da batalha de Alália, provocando uma turbulência em todo o Mediterrâneo e no Sul Peninsular, e indirectamente, juntamente com outros factores, as deslocações de célticos e túrdulos (cerca
de 500 a.C.)45, e a de 138-136 a.C. indicadora da campanha de Décimo Júnio Bruto46, catalisadora
da destruição e abandono de muitos castros no Norte do nosso território e do fenómeno de entesouramento.
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ALARCÃO 1992, p. 38: três fases baseadas em movimentos políticos e socio-económicos; 1ª de 900-700 a.C., a 2ª de 600-100 a.C. e a 3ª
a partir de 100 a.C..
MARTINS, Manuela, in ALARCÃO 1992, p. 42: 1ª fase de 900/800 a 600/500 a.C., a 2ª de 600/500 a.C. a finais de 100 a.C., a 3ª de
finais de 100 a.C. a cerca de 50 d.C. e finalmente a última de 50 d.C. a 200 d.C..
SILVA, A.C.F. 1986.
SILVA, A.C.F.; GOMES, M.V. 1992, p. 31.
SILVA, A.C.F.; GOMES, M.V. 1992, p. 123 e 167.
SILVA, A.C.F.; GOMES, M.V. 1992, p. 31.
COFFYN; SION 1993, p. 288.
SILVA, A.C.F. 1986, p. 66.
COFFYN 1985. COFFYN; SION 1993, p. 288.
COFFYN 1985, p. 61.
SILVA, A.C.F 1988, p. 83.
SILVA, A.C.F. 1986. SILVA, A.C.F.; GOMES, M.V. 1992, p. 31.
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AS INFLUÊNCIAS MEDITERRÂNICAS NA OURIVESARIA PROTO-HISTÓRICA DE PORTUGAL
As relações comerciais, incentivadas pela procura mediterrânica de recursos mineiros – ouro, prata,
cobre e estanho, seriam então, facilitadas pelos bons portos de acesso que a costa atlântica apresentava sendo os rios navegáveis para o interior numa extensão considerável.
O ouro, elemento privilegiado entre os demais metais (Coffyn47 refere a nascença de um poder territorial na Idade do Bronze associado às rotas de comercialização mineira), era desencadeador de
factores económicos, como o entesouramento, e sócio-económicos, como sejam a hierarquização e
incrementação dos cultos48.
Perante um mosaico etnográfico em constante movimento e consequente necessidade de delimitar
o espaço, amuralhando-o, verifica-se um fenómeno de crescente complexificação social, inerente a
uma hierarquização e individualização dos chefes políticos e/ou guerreiros, havendo uma tomada
de consciência do que é a própria sociedade e o local onde está estabelecida, a tal ponto que urge o
fazer representar-se diante de outrem, com o objectivo de distinção49.
Um dos meios de o conseguir é através dos chamados bens de luxo que prestigiam as elites que os
adquirem, sendo o ouro e as jóias, objectos de extrema importância, parte integrante dos mecanismos de dom e troca.
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COFFYN; SION 1993, p. 292.
COFFYN 1985, p. 60.
SILVA, A.C.F. 1986. SILVA, A.C.F.; GOMES, M.V. 1992.
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