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camisa 8: Bobô
U FBA
11 de julho de 2006 ,
facom 7
Transferência
recorde
São Paulo realiza maior contratação
do Brasil para comprar Bobô
chegada ao São
Paulo foi problemática. O Tricolor do Morumbi estava mal esportivamente,
culpa das duas péssimas campanhas na Copa Brasil após o título de 86; os jogadores brigavam
para receber ou renovar os contratos e o treinador Cilinho, que
reclamava da estrutura de trabalho, acabara de ser demitido. A
transferência total por US$ 1 milhão 190 mil à vista - na época a
maior da história entre clubes
brasileiros -, mais os passes do
zagueiro Vagner Basílio e do atacante Marcelo, revoltou alguns atletas do clube, que não tiveram outro comportamento se não chamar
Bobô para uma conversa franca.
Eles quiseram fazê-lo ver que
o São Paulo tinha seis jogadores
de Seleção Brasileira e, ainda assim, havia sérias dificuldades para
conseguir um aumento salarial que
cobrisse a inflação, enquanto que
ele recebia um salário acima da
média da própria agremiação. Bobô
precisou de quatro, cinco meses
para lapidar e fazer as primeiras
amizades. E estas só vieram quando o futebol correspondeu à expectativa da torcida e os resultados positivos se sucederam em seqüência dentro de campo.
Talvez Bobô pudesse ter se livrado daquela realidade se houvesse
aceitado uma proposta para jogar
no exterior. Logo após o título de
campeão brasileiro, o presidente;
o vice; o diretor médico e mais um
integrante da cúpula do Rennes,
da França, estiveram no apartamento no bairro do Rio Vermelho
para negociar a transferência para
o exterior. A opção de compra por
US$ 1,5 milhão poderia parecer elevada para um clube da segunda
divisão, porém os próprios diretores
sinalizaram a real intenção. O negócio era uma ponte até a chegada
ao Olimpique de Marselha, o que
nas entrelinhas foi entendido como
dinheiro oriundo de lavagem.
Os franceses argumentaram
que a cidade de Rennes era a beiramar e que não haveria problemas
de adaptação. Para finalizar, o dono
do clube era dono também do canal
francês da televisão estatal, o que
resultaria em constantes matérias
especiais para enaltecer o talento
do novo reforço brasileiro. Para
Bobô, tudo parecia ao menos razoável, mas e o dinheiro? O salário
era igual ao proposto pelo clube do
Morumbi, com a diferença que duraria cinco anos. O papo estagnou
e Bobô rejeitou a idéia de ficar cinco anos com o mesmo salário
quando poderia assinar por 12
meses com o São Paulo e negociar um novo aumento logo depois.
Os franceses tentaram, então, persuadir Paulo Maracajá, que tampouco achou conveniente o negócio. Com as portas do Fazendão
fechadas, os investidores foram
para o Rio de Janeiro, contratando
jogadores que nunca ficaram
famosos ou fizeram sucesso.
No São Paulo, Bobô reencontrou Carlos Alberto Silva, treinador
que não o havia convocado para a
Seleção Brasileira Pré-Olímpica
que foi à Bolívia. Na concentração,
os quartos dos dois personagens
estavam frente-a-frente. De imediato, Carlos Alberto Silva bateu na
porta vizinha e perguntou se poderiam conversar. Mal sentou à mesa,
o treinador explicou que não tinha
nada contra o atleta e que sabia
que ele houvera ficado magoado.
Bobô azedou a conversa ao retrucar que mágoa não era a palavra
A
exata para exprimir a maior frustração que teve na vida. Carlos Alberto contra-argumentou que o jogador sabia dos interesses que cercavam uma lista da Seleção, mas
Bobô não havia esquecido o dia 13
de março de 1986. "Eu não sei, sei
por que você está me dizendo", endureceu. O profissional mais acostumado aos bastidores evitou prolongar o assunto, dizendo que não
havia necessidade de preocupação,
pois novas chances chegariam.
E Bobô relembrava que o
próprio Carlos Alberto Silva havia
falado com Paulo Maracajá, com
o supervisor Orlando Aragão e com
o técnico titio Fantoni, responsável por antecipar a convocação que
não veio: "Olha, vai ter uma notícia boa amanha meu filho. Você
vai ser convocado". Convocado foi
Betinho, ex-Portuguesa/SP. Durou
um dia, porém foi. Zanata também
foi relacionado. Contundido, veio
embora, mas desfilou no Shopping
Iguatemi de calça, tênis e agasalho da Seleção. "Eu não sirvo para
a Seleção, mas aqui sou Rei", tirava sarro o lateral-direito. No final
das contas, o nome de Bobô contava na lista dos clubes, não na
da imprensa, que no final é a que
vale para a história pública. Entretanto, a estréia pela amarelinha não tardou e, ainda em 1989,
Bobô foi titular por duas e últimas
vezes da Seleção Brasileira, em
amistosos contra o Peru: 4x1, em
Fortaleza; e 1x1, em Lima - a estréia, na verdade, veio ainda na
época do Bahia, contra o Paraguai,
em Goiânia.
do São Paulo
que viu nascer
de seus pés a
maioria dos gols
nas finais dos
mundiais interclubes no Japão
contra o Milan,
da Itália, em
1992, e contra o
Barcelona, da
Espanha, em
1993. O Milan,
por sinal, foi
convidado
a
ocupar o lugar
que por direito
era do campeão Entre as diversas
europeu da temporada. Mas o Olimpique de Marselha havia sido afastado da decisão
graças a acusações de suborno a
árbitros durante o Campeonato
Francês. Bobô aceitou discutir contrato com o Flamengo porque
começou a ter problemas de convivência dentro do São Paulo, em
assunto que só foi explorado pela
mídia após sua saída do clube - o
relacionamento com a filha do presidente, quando o crescente apego
da moça ao atleta resultou em interferência da família.
No vôo para Assunção, capital
do país andino, as delegações embarcaram juntas e a diretoria do
Flamengo tratou de acertar a contratação. O presidente do São
Paulo, Pimenta, reforçou que a decisão fosse por conta própria, uma
vez que aquela turbulência não lhe
dizia respeito. Mas a escolha estava tomada e, com o caneco de
placas de prata da despedida, a homenagem de Paulo Maracajá
quista/BA, chegou ao fim o ciclo
com a camisa do Flamengo. O destino foi o Fluminense para alegria
de seu Florisvaldo, tricolor carioca
de carteirinha que estava cansado
de ver o filho jogar somente em
clubes rivais aos que carregava no
coração: Bahia x Vitória, São Paulo
x Corínthians e Flamengo x Fluminense.
O desejo do pai foi reforçado
por um pedido de Têle Santana,
que assumia o São Paulo. O Fio
de Esperança estava triste com a
situação do time das Laranjeiras,
sem qualquer título há quatro anos,
e garantiu a Bobô que este ganharia os salários por fora e em dia
via patrocinador mesmo com as dificuldades financeiras do clube. Títulos não vieram, mas as duas temporadas foram extremamente felizes. Logo na primeira, Ézio, atacante comum na Portuguesa/SP,
A primeira partida pela Seleção Brasileira, contra o Paraguai
Rio 40 graus
O título do campeonato paulista
e o vice-campeonato brasileiro de
89 mantiveram alta a cotação do
passe de Bobô, novamente vencedor da Bola de Prata da Placar como melhor meia, tendo o colega de
time Raí em segundo lugar; e Zico, por conta das sucessivas lesões
por estresse e por idade, em terceiro. Sem poder mais apostar no
Galinho de Quintino, o Flamengo
quis um dos dois meias do São
Paulo.
Antes da excursão para o Chile,
onde houve um torneio para melhorar as relações entre os países
por conta da encenação do goleiro
Rojas durante partida no Maracanã
pelas eliminatórias para a Copa de
90, na Itália; a direção tricolor perguntou a dupla quem gostaria de
se transferir. Raí negou, para sorte
campeão nas mãos, Bobô anunciou que ia para o Flamengo. Louvou a atitude do dirigente, porém
quis viver no Rio de Janeiro 40
graus, cidade com calor, sol, praia. No troca-troca, o São Paulo
cedeu o lateral-esquerdo Nelsinho,
convocado para a Copa de 86, e
Bobô, enquanto recebeu do Flamengo o ainda lateral-esquerdo
Leonardo, futuro tetracampeão
mundial com a seleção, e o atacante Alcindo, que fez mais sucesso no Kashima Antlers, do Japão,
com Zico.
Foram seis meses na Gávea;
metade no campo, metade no estaleiro em decorrência de uma lesão
no púbis. A conquista da Copa do
Brasil, torneio mata-mata criado em
1989, não apagou a péssima campanha no Campeonato Brasileiro.
Após uma excursão pelo Nordeste,
que terminou em partida contra o
Conquista, em Vitória da Con-
fez tantos gols que foi apelidado
Super-Ézio. O clube ainda venceu
a Taça Guanabara, primeiro turno
do Campeonato Carioca, e eliminou o Flamengo na Copa do Brasil
de 1991. No Campeonato Brasileiro,
a surpreendente quarta colocação,
sendo eliminado pelo Bragantino
de Wanderley Luxemburgo, então
campeão paulista. E outro gosto
especial na última partida da fase
classificatória: um gol na virada por
2x1 contra o Vitória, na Fonte Nova, rebaixando o clube baiano para
a Segunda divisão.
Em 1993, o dirigente Henrique
Alves voltou a telefoná-lo para ele
ir para o Corínthians, quando entraram em acordo e a equipe
paulista comprou ao Fluminense
os 10% do passe que ainda detinha do atleta de 32 anos. A ida
para o "Todo Poderoso Timão",
apelido usado pela torcida organizada Gaviões da Fiel, não foi em
época oportuna. O Palmeiras vivia
o primeiro ano da parceria com a
multinacional Parmalat e o time
parecia mais uma seleção treinada por Wanderley Luxemburgo:
Cafu, Antonio Carlos, Cléber e
Roberto Carlos; César Sampaio,
Mazinho, Zinho e Edílson; Edmundo e Evair. Na final do Paulista,
o Corínthians chegou a vencer a
primeira partida por 2x1, quando
Viola imitou o porquinho; mas foi
goleado por 4x1 na segunda, tendo dois jogadores expulsos com
30 minutos. Pairou desconfianças
sobre o árbitro José Aparecido dos
Santos, o mesmo da derrota do
Fluminense para o Internacional
na final da Copa do Brasil. Houve
suspeita não provada que ele havia
ganhado um apartamento da Parmalat, mas fato mesmo foi a demissão da agência Bradesco depois de seguidas ameaças de
torcedores corinthianos de
depredarem o local.
O ano seguinte foi complicado.
Os pais estavam seriamente
doentes e Bobô era pouco utilizado, permanecendo mais tempo em
Senhor do Bonfim com os genitores que na concentração. A mãe
Tieta faleceu durante a passagem
pelo Corínthians, enquanto a saúde
de seu Florisvaldo suportou somente mais 10 meses, quando o
filho já havia aceitado convite de
Falcão e foi para o Internacional/RS, recusando convite do
futebol japonês. Ficou pouco tempo e arrumou as malas de volta
para a Catuense, onde buscou
ganhar ritmo de jogo para se
aposentar em grande estilo.
Fez um bom Campeonato Baiano e novamente despertou o interesse da dupla Ba-Vi, com Otto
Alencar novamente intervindo para
sua ida ao Vitória. Escolheu o Bahia
pelo coração, deixando de lado tanto uma melhor proposta financeira
do rival como uma equipe mais bem
armada. Presenciou um Bahia cheio
de dívidas, que não soube crescer
com o título de campeão brasileiro,
e sofreu com o inédito tricampeonato baiano do Vitória (95/96/97)
e com as sucessivas lesões musculares decorrentes dos 34 anos.
A situação não condizia com o que
havia se acostumado a viver e comunicou ao supervisor Orlando
Aragão que iria parar antes do
Brasileiro de 97. As derradeiras
glórias foram participar dos dois
primeiros triunfos do Bahia no Barradão, incluindo o no último clássico da carreira.
Na partida contra o Palmeiras,
na estréia do Bahia na Taça Maria
Quitéria 1997, recebeu diversas
homenagens da torcida e da diretoria. Entrou em campo, atuou por
11 minutos e se despediu do futebol justamente na primeira partida
de Luis Felipe Scolari como
treinador do alviverde paulista.
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campeonato carioca