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Paragens do Médio-Alto São Francisco
WJ Manso de Almeida
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Manso de Almeida, WJ, 1940-
Paragens do Médio-Alto São Francisco
1. Crônicas. I. Título.
Direitos Autorais: BN/EDA/DF 2010 Nº 623
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Preâmbulo
Sumário
1. A ilha dos Caiapós e a Vila Risonha
2. O Guaicuí e a Pirapora dos Cariris
3. São Francisco das Pedras de Cima
4. Maria da Cruz, Januário e Matias
5. O Itacarambi e o Peruaçu
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Preâmbulo
Piraporá, a outrora aldeia dos cariris, a Pirapora de hoje; Barra do Guaicuí, a
antiga N. S. do Bonsucesso e Almas do Guaicuí; Vila Risonha de Santo
Antônio da Manga de São Romão, fundada após a conquista da ilha dos
caiapós; o povoado de São José das Pedras dos Angicos, origem da atual
cidade de São Francisco; Pedras de Maria da Cruz, que homenageia a
valorosa proprietária da fazenda das Pedras de Baixo de antigamente;
Januária, a cidade da Princesa Infanta, grande centro urbano que tem no Porto
Salgado as suas origens; Itacarambi e os segredos da sua geologia e das suas
imensas formações cársticas ainda por serem desvendados; as Missões de
São João do século XVII e os xacriabás de ontem e de agora.
O vale do médio-alto São Francisco guarda histórias, sagas, aventuras, lutas
de conquista e integração do território, sertões inóspitos e sertões já
dominados, lendas e seres fantásticos ainda declamados nas roças e nas
cidades, celebrações folclóricas ainda muito apreciadas, que desafiam as
influências modernas, ao mesmo tempo em que ora volta a experimentar o
progresso e aguarda o novo ímpeto que certamente virá com o portentoso
projeto de canalização do grande rio.
De modo descompromissado e descontraído, estas anotações de viagem
recolhem coisas do passado e do presente, da monarquia e da república, do
real e do imaginário, do extraordinário e da beleza do mundo físico e da
bondade das gentes. Uma maneira de ver e considerar as coisas que parece
ser muito comum aos viajantes, aos estudiosos, aos turistas, a todos nós
brasileiros, enfim. Curiosidade, vontade de saber o que se passa nessas terras
do interior mineiro, muitas vezes despertada pelas aulas de um professor de
geografia. E, no presente caso, pelas aulas do Doutor Nicolau, no Ginásio de
Palmira, há muito tempo.
Brasília, junho de 2010
WJ Manso de Almeida
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1. A ilha dos Caiapós e a Vila Risonha
Mostra-se de proporções muito modestas, essa ilha que o rio São Francisco
forma e abraça no seu curso médio-alto, pouco depois de receber o Paracatu.
Todavia, acontecimentos significativos aí tiveram lugar.
A historiografia aponta que nesses arredores desenrolaram-se decisivos
episódios da ocupação e da organização política do território brasileiro, à
medida que avançava a interiorização promovida pelos desbravadores dos
sertões. Ou seja, a partir da chegada dos bandeirantes, dos caçadores de
riquezas naturais, dos fundadores de fazendas para a criação de gado e o
cultivo de mantimentos, dos fugitivos do fisco, do cativeiro e do ambiente de
perseguições das Minas, assim como dos autóctones que, buscando
reorganizarem-se no espaço ora invadido pelos estrangeiros, reavivavam suas
próprias rivalidades tribais e expulsavam uns aos outros.
Nessas paragens ribeirinhas, a ocupação das terras teria tido início na segunda
metade do século XVII, e o definitivo assentamento das vilas e arraiais
prolongara-se até fins do século dezenove, muitas vezes ainda em meio a
conflitos exacerbados entre os seus líderes políticos e seguidores. E várias das
cidades são-franciscanas de igual origem vieram a ser constituídas, e
firmemente reconhecidas, somente nas primeiras décadas do século XX, fato
que levara a uma nova redivisão político-administrativa do espaço regional.
Os caiapós estabeleceram-se na citada ilha são-franciscana e vieram a ser
caçados e daí rechaçados pelos bandeirantes e desbravadores, em nome da
Coroa Portuguesa. Os cariris subiram o rio um pouco mais, indo fixar aldeias
junto à barra do Guaicuí e defronte às corredeiras do pira-porá. Depois, os
novos ocupantes das terras desentenderam-se entre si.
O passado dessa ocupação não foi uma era de tranquilidade, portanto. Lutas,
que hoje, talvez, se deplora com mais veemência, aí tiveram lugar durante
longo tempo e certamente acarretaram muito sofrimento. Mas, parece que a
alegria de se ter conseguido fincar o pé na terra, de se ter conquistado o
território, de se ter construído uma nova comunidade, com os seus gostos, os
seus costumes, as suas leis de município, os seus representantes e
autoridades locais, veio a ser registrada, em muitos casos, no próprio nome
escolhido para o novo centro urbano. Eis, pois, o porquê do alegre título Vila
Risonha de Santo Antônio da Manga de São Romão! Batizar-se de risonha
uma vila e declará-la protegida por dois santos padroeiros, conquanto
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estendida às margens das águas já benditas por outro santo ainda, não pode
revelar senão um grande contentamento com o sucesso então conseguido.
Todavia, esse bonito título de Vila Risonha, sofrendo as simplificações
características dos últimos tempos, que muitas vezes mais parecem denotar
falta de imaginação ou carência poética, foi mudado para São Romão,
simplesmente. E, surpresa! Na cidade parece não haver sequer uma capela
devotada ao santo! Apenas uma tosca imagem sua pode ser vista junto ao
muro da Casa Paroquial. E poucas construções antigas aí subsistem, enquanto
as ruas e avenidas apresentam-se largas e retilíneas, as principais mostrandose ornadas de filas de altas palmeiras. A cidade, hoje próspera nas suas
atividades agropecuárias, desenvolveu-se às margens do grande rio, do lado
esquerdo do seu leito, bem defronte à ilha outrora ocupada pelos caiapós. O
Riachinho da Ponte, um pequeno tributário do São Francisco muito prezado
pela comunidade, corre nas proximidades delimitando o lado leste da área
urbana.
Nessas vizinhanças do São Francisco, as festas dos Santos Reis, ou festejos
dos Reis Magos, começam no Natal e se prolongam até fins do mês de janeiro.
E são várias as comemorações, as quais incluem diversas manifestações de
louvor e ações de graça já incorporadas aos costumes locais. Assim, num dia
especialmente escolhido pelos romeiros, São Romão torna-se o ponto de
encontro para o encerramento de uma concorrida cavalgada, o que se dá com
um desfile pela avenida principal, seguido da benção dos cavalheiros pelo
pároco e a condução das montarias ao Riachinho da Ponte, para o refresco e
descanso dos animais. Vindos de inúmeros lugares, fazendas e povoados, os
romeiros contam-se às centenas, todos se trajando de vermelho e azul,
uniformemente, enquanto os seus corcéis apresentam-se enfeitados segundo o
gosto de cada cavaleiro. Nas cercanias da cidade, o Riachinho espraia-se
generosamente entre os apartados limites determinados pelo arvoredo do
cerrado, formando uma boa aguada, limpa e sem perigo de atolamento para os
animais, conforme ensina o pessoal do lugar. Tal recanto tem o seu encanto:
uma pequena ponte de alvenaria, parecendo mostrar-se um tanto ilhada
naquela várzea, o riacho alargado, aqui e acolá coberto de uma vegetação rala
e verde, as franjas da savana brasileira, numa e na outra margem, o reboliço
que trazem os romeiros e suas montarias, as crianças que aproveitam para cair
n’água sob um sol brilhante. Tudo parece trazer alegria e levar ao
distanciamento do resto do mundo. Ao cair da noite um forró toma conta do
ambiente e enfatiza o sincretismo dessa manifestação religiosa brasileira.
O São Francisco e os seus grandes afluentes Paracatu e Urucuia
determinaram a formação de extensos areais, grandes baixios, verdadeiras
planícies num território onde, em tempos remotos e ao longo de largos
períodos, esses rios correram segundo cursos variáveis, alagando áreas
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enormes, antes de se acomodarem às suas calhas atuais. Mas, volta e meia
transbordam outra vez, tentando recuperar o espaço que dominaram ou
buscando avançar sobre novos sítios. As denominadas Planícies do São
Francisco constituem uma figura bem definida no mapa das unidades de relevo
e os grandes areais mostram-se comuns, acompanhando todo o percurso sãofranciscano. Nessa região, por vezes, as estradas de rodagem que ainda não
contam com pavimentação correm sobre esses areais por dezenas e dezenas
de quilômetros.
Entre as cidades de São Romão e Urucuia, a MG 202 percorre cerca de 60
quilômetros sobre um chão de muita areia e terreno de baixio e suaves
ondulações. De um lado e do outro dessa estrada espalha-se o areal, e sobre
esse solo estende-se um cerrado denso, com os seus típicos arbustos e
árvores de pequeno porte, de ramos suberosos e retorcidos e de folhagem
buscando a copa, que competem entre si pela luz do sol. Fechada, cerrada
mesmo, essa vegetação que no estio aguça a sensação de secura, enquanto
aproveita-se, zombeteira, para se mostrar mais florida, impede a visão mais
larga do panorama, forçando o viajante a se contentar com o horizonte que ele
possa divisar lá adiante, onde a estrada galga ligeira elevação. Aqui o
forasteiro sente certa clausura, certo isolamento no meio desse sertão árido, de
céu muito claro, de sol ardente, de mata sem fim, de silêncio quebrado apenas
pelo assovio distante da ave de rapina ou pelo estalo de um galho ressequido.
Nessa estrada, onde a sinalização é inexistente, as encruzilhadas e
bifurcações revelam caminhos iguais entre si, igualmente arenosos, igualmente
margeados pela mesma fisionomia de vegetação, onde as trilhas marcadas
pelo pouco movimento mostram-se idênticas nesse e naquele caminho que aí
se cruzam, onde, tanto numa quanto na outra direção, vê-se a contínua e
retilínea rodovia de chão esbranquiçado que ondula levemente e some ao
longe, no final de mais uma chapada. E o viajante segue quase sempre guiado
pela intuição, pois que encontrar outro transeunte ou um morador local para as
informações requeridas poderá vir a ser coisa do acaso. De repente topa-se
com uma porteira de fazenda vedando a passagem pela rodovia. Felizmente,
esse obstáculo absurdo pode ser a indicação de que o viajante encontra-se,
então, próximo do seu destino. De fato, logo adiante uma balsa o aguarda para
a travessia do rio Urucuia, que aí se apresenta largo, sereno, majestoso,
trazendo uma brisa mansa e refrescante.
Os sertões do noroeste de Minas e das paragens do São Francisco já
inspiraram muitas histórias e ainda hoje aí surgem lendas e casos muito sérios.
É fácil imaginar que lá no interior daquele cerrado surgido nos areais, naqueles
ermos onde a noite é uma escuridão que demora, onde o amanhecer tarda e,
às vezes, não chega, lá ainda viva o lendário Romãozinho, alma danada de
menino malvado, que joga areia nas janelas e pedras nos telhados das casas,
que espanta os animais do curral, que confunde as estradas nas encruzilhadas
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desencaminhando os tropeiros, que grita e chora e assobia nos buracos das
fechaduras, assustando as pessoas e lhes fazendo arrepiar os cabelos.
Mas, essa história do Romãozinho é antiga. Há uma mais nova, destes
mesmos tempos da informática. É a história da Júlia. Filha da Júlia e neta de
outra Júlia. Todas criadas pelas suas tias, posto que as suas mães somem,
sempre somem, desaparecem misteriosamente. Tudo corre muito bem, a
menina cresce com saúde e inteligência, meiga e obediente. Num dia qualquer,
sem quê nem por que, a Júlia some: Júlia! Oh Júlia! Julhaa! Oh menina! A tia
chama pela Júlia, por ela procura por todo lado, a noite vem, mas a Júlia não
volta. Assim sumiu a avó, deixando uma filha, assim sumiu a mãe, deixando a
sua filha, assim sumiu a Júlia, e mais tarde vieram dizer que ela deixara outra
filha Júlia. É sina de família. Não tem jeito. Julhaaa! Alguns dizem que as Júlias
se transformam em gavião acauã, pois quando se clama pela Julia, muitas
vezes o pássaro responde lá do meio do cerrado: acauãã! E se a gente insiste,
chamando novamente: Julhaa! Juulha! O gavião fica bravo, eriça um topete e
responde irritado: acauãã! Macauã-acauãã! E voa pra mais longe. Dizem que a
Júlia é um acauã enfeitiçado.
Travessia do rio São Francisco frente a São Romão
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A Igreja do Divino Espírito Santo
A Chegada dos romeiros a São Romão
Desfile dos cavaleiros na avenida central
O acauã
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O trecho arenoso da MG 202
O incrível rio Areias, próximo a Urucuia
Travessia do rio Urucuia
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2. O Guaicuí e a Pirapora dos Cariris
Os cariris, originários das terras hoje cearenses, subiram o São Francisco para
além da ilha dos caiapós e vieram fixar aldeia junto à barra do rio Guaicuí.
Subiram um pouco mais e construíram outra aldeia. Essa, junto às pedras do
pira-porá, as corredeiras são-franciscanas tão características da Pirapora atual.
O nome indígena Guaicuí foi mantido na identificação oficial da povoação, a
qual hoje constitui o distrito administrativo de Barra do Guaicuí, enquanto a
denominação de rio das Velhas, dada pelos bandeirantes, veio vingar para
aquele grande afluente do São Francisco.
Essa povoação do Guaicuí exercera maior influência política até o último
quartel do século XIX, quando deixou de constituir a sede de uma divisão
administrativa da Província de Minas Gerais. Até então se chamava Vila de
Nossa Senhora do Bom Sucesso e Almas do Guaicuí. Uma denominação que
bem sugere a satisfação de uma conquista bem sucedida.
Alguns testemunhos da arte colonial de cunho luso-brasileira acham-se
guardados no Museu Municipal desse histórico distrito, tratando-se de
esculturas e pinturas de motivação religiosa, cujas idades foram datadas do
século XVIII. E, cabe observar, as suas características não parecem diferir
daquelas das artes da região das Minas dos setecentos. Mas a Barra do
Guaicuí guarda um tesouro talvez ainda mais apreciado: as ruínas da igreja de
Bom Jesus de Matozinhos. Toda de pedra e argamassa, exibindo portais e
arcos esculpidos, paredes altas e muito espessas, denotando dois andares e
sugerindo um misto de casa paroquial e capela. Essa construção, que
impressiona o visitante, teria sido abandonada antes mesmo da sua conclusão.
Uma relíquia do século XVII, segundo informação corrente e em conformidade
com uma placa fincada no local, que aponta o ano de 1635. A sua aparência de
antiguidade ganhou ainda mais destaque com o crescimento de uma gameleira
junto à parede dos fundos, ou seja, do lado externo da extremidade leste da
igreja. Hoje, já enorme realmente, essa árvore tomou conta de toda a parede,
tendo a sua altura ultrapassado o topo do edifício, enquanto as suas raízes
vararam para o interior da construção. Motivado pelo espírito de comunidade e
por iniciativa própria, um morador vizinho dedica-se a manter a limpeza do
sítio. Contudo, essa preciosidade histórica está a requer cuidado especial para
que a sua preservação possa ser garantida.
A igreja de Bom Jesus de Matozinhos acha-se bem junto da margem direita do
Guaicuí, distando algumas centenas de metros do encontro desse rio com o
São Francisco. Sobranceiro, o velho edifício parece ter servido de atalaia, de
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onde os movimentos de barcos e gentes dessas vizinhanças podiam ser
vigiados, então. Daqui se vai ao interior da Bahia e ao Pernambuco pelo São
Francisco, também se alcança Paracatu do Príncipe, nos limites entre Minas e
Goiás, subindo-se o grande afluente Paracatu, enquanto seguindo-se pelo rio
das Velhas chega-se às cercanias de Curvelo, ao sopé da serra de Diamantina
e a Sabará, onde se fundia o ouro e se cunhavam moedas no Brasil Colonial.
A historiografia não deixa de lembrar que Fernão Dias Paes aqui esteve e até
sugere que o corpo do bandeirante estaria sepultado junto dessas ruínas da
igreja de Matozinhos. Numa passagem do poema épico O Caçador de
Esmeraldas, Olavo Bilac declama:
“Teu nome rolará no largo choro triste
Da água do Guaicuí... Morre, Conquistador!
Viverás quando, feito em seiva o sangue, aos ares
Subires, e, nutrindo uma árvore, cantares
Numa ramada verde entre um ninho e uma flor!”
Naqueles tempos distantes, conforme já lembrado, os cariris aldearam-se,
também, defronte às pedras do pira-porá, ou seja, às margens do lugar do salto
do peixe. Conta-se que na piracema os peixes saltam, ou saltavam, por sobre
as pedras da corredeira local são-franciscana, para prosseguirem na sua
viagem rio acima, em busca de um lugar adequado para a desova. Essa
designação indígena veio manter-se na denominação da sede do atual
município de Pirapora. E a praça pública mais famosa da cidade tem o nome
de Cariris, para não se esquecer que a antiga aldeia situava-se exatamente aí,
nesse largo da beira-rio.
A povoação evoluiu pouco a pouco, atribulada com as mesmas lutas de
definição e redefinições político-administrativas que experimentaram os demais
municípios da região. Mas nos últimos decênios do século XIX o então arraial
de São Gonçalo de Pirapora passou a ser frequentado pelas embarcações a
vapor e os maiores comerciantes de Curvelo tomaram particular interesse pelo
lugar, aí investindo em armazéns e nas transações de algodão em rama e
tecidos. O arraial tornou-se vila e, nos começos do século XX, distrito-sede do
município de São Gonçalo das Tabocas. Em seguida as duas lideranças
separaram-se: São Gonçalo das Tabocas sede de um e Pirapora sede do outro
município, o mais novo. Além de ter passado a contar com um ramal de
estrada de ferro, ligando o seu centro urbano com a malha ferroviária nacional,
já nos começos do novo século Pirapora recebia grandes embarcações de
linhas regulares, inclusive aquelas vindas da cidade mineira de Paracatu,
situada junto à divisa com o estado de Goiás. O ramal ferroviário, que hoje
serve, sobretudo, ao próspero distrito industrial de Pirapora, chegou a constituir
parte de um grande projeto nacional que previa estender-se a ligação férrea do
Rio de Janeiro até a cidade de Belém do Pará.
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A ponte metálica Marechal Hermes, que ora se vê atravessando o rio entre
Pirapora e Buritizeiro, integrava aquele destacado projeto, o qual não teve
prosseguimento, porém. Atualmente a ponte facilita a comunicação entre essas
duas cidades ribeirinhas, permitindo o trânsito de pedestres e dos veículos de
duas rodas, além de se constituir num atrativo turístico: medindo 694 metros de
comprimento, com 14 vãos de igual desenho, a sua estrutura perfaz uma bonita
composição paisagística com as corredeiras do pira-porá.
Dos pitorescos barcos a vapor das linhas regulares do passado, a cidade
guarda o estimado Benjamin Guimarães, um bonito gaiola de três andares,
dotado de uma alta chaminé e de uma grande roda d’água na sua popa, ainda
empregado para os divertidos passeios turísticos até a barra do Guaicuí. Vez
por outra dá uma esticada até Januária. No começo dos anos 1980 o Benjamin
Guimarães achava-se quase imprestável, encostado na beira do rio,
deteriorando-se. Mas, na segunda metade daquela década, o então novo
diretor da Companhia de Navegação do São Francisco, o mineiro Wilson Alves
de Carvalho, ali reconhecendo um patrimônio de valor histórico, tomou ao seu
encargo a recuperação do grande barco. O batismo do redivivo Benjamin se
deu com uma viagem a Juazeiro, carregado de autoridades municipais,
estaduais, ministeriais, da Capitania dos Portos e da própria Companhia de
Navegação, uma honorável comitiva que foi recebida com festejos especiais
naquela famosa cidade baiana.
Pirapora consolidou a sua importância político-administrativa nos primeiros
decênios do século XX, conquistando a sua independência municipal e
tomando feição de cidade moderna, de arruamento bem traçado, de porto
fluvial organizado dotado de uma Capitania da Marinha do Brasil, de praças
públicas prazerosas e de bonitas construções públicas e particulares,
comerciais e residenciais.
A arquitetura realizada naquela época ainda pode ser apreciada em muitos
pontos da cidade. O estilo dominante era o neoclássico do império brasileiro, o
qual foi seguido pelas decorações de influência francesa, art nouveaux e art
deco. A virada do século XIX e o início do século XX trouxeram para todo o
país, que então deixava a monarquia e adotava a república, novas idéias,
novos projetos e renovado surto de progresso, o qual também veio expressarse na construção civil. E essa nova etapa da vida nacional veio retratar-se,
igualmente, na arquitetura de Pirapora.
O coreto da Praça dos Cariris parece uma preciosidade, quando se considera
todos os aqueles detalhes de decoração império brasileiro, quer no seu
desenho, quer nos seus motivos, quer nas suas cores. A igreja matriz de São
Sebastião, com a sua torre alta e pontiaguda, assentada sobre um nártex que
antecede a espaçosa nave-salão, segue as sugestões do neogótico do norte
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da Europa continental. Um estilo simplificado, encontradiço na Polônia, que
veio a ser empregado nas construções católicas de igual época em várias
cidades de Minas Gerais. E muitas das residências e das casas de comércio de
Pirapora guardam bonitas fachadas de influência neoclássica, ou nouveaux, ou
deco, que o arquiteto brasileiro soube acomodar com elegância nessas
construções. Cores, guirlandas, conchas, escudos, arcos, pináculos, painéis de
figuras geométricas, aí tudo se apresenta numa expressão de alegria e riqueza.
A igreja de Bom Jesus de Matozinhos
O rio das Velhas em Barra do Guaicuí
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A ponte Marechal Hermes e as corredeiras
O histórico Benjamin Guimarães
O coreto da Praça dos Cariris
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A igreja matriz de São Sebastião
Extraordinários desenhos de fins do século XIX
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Pináculos na platibanda
Guirlandas do estilo império brasileiro
A elegante geometria do decô
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3. São Francisco das Pedras de Cima
Cidade de São Francisco, às margens do rio São Francisco. Outro, porém, é o
santo padroeiro daquela igreja branquinha que se vê lá embaixo. Erguida sobre
uma ondulação do terreno de pedra calcária e com uma torre muito alta, lá de
longe a igreja dá as boas-vindas ao visitante que faz a travessia de balsa para
a cidade. Aquela é a Matriz de São José, e o nome dessa igreja paroquial
testemunha a longa história contada nos registros oficiais ou, às vezes, apenas
oficiosos, ao que parece.
Dizem que nesses sítios, inicialmente um simples posto avançado visando ao
domínio da tribo dos caiapós aldeados mais a montante, um valente
desbravador fundou a fazenda de Pedras de Cima. Essa designação
estabelecia distinção de identidade e relação geográfica com a fazenda das
Pedras de Baixo, que pertencera à histórica personagem Maria da Cruz e que
se situava a jusante, no lugar de origem da atual Pedras de Maria da Cruz. A
fazenda das Pedras de Cima tornou-se um povoado, então inserido no âmbito
da paróquia de São José das Contendas. Emancipando-se dessa divisão
paroquial, o povoado veio denominar-se São José das Pedras dos Angicos,
dado que, além das pedras calcárias, os belos angicos ganhavam a admiração
dos moradores. Evoluindo para a condição de sede de divisão administrativa, o
povoado de Pedras dos Angicos passou a se chamar Cidade de São
Francisco, conforme decisão tomada em assembléia legislativa de 1877,
quando os deputados chegaram a considerar o nome de São Francisco das
Pedras. Quem sabe o nome completo dessa cidade não seria São José das
Pedras de Cima dos Angicos de São Francisco?
Ao longo e no entorno do leito do rio São Francisco, desde as suas nascentes
no sudoeste de Minas, a ocorrência de rochas calcárias é coisa corriqueira. E
tais formações rochosas vêm aflorar na beira-rio da cidade, apresentando uma
suave elevação no sítio onde se ergueu a igreja de São José. Esse tipo de
rocha favorece o desenvolvimento de grutas, cavernas, fossos e locas, dando
origem às chamadas formações cártiscas, as quais são características do
famoso Parque Nacional do Peruaçu.
Aqui em São Francisco, essa formação rochosa confere um aspecto altaneiro
ao frontal da cidade, com uma murada para o seu cais de atracação e uma
posição mais elevada para a igreja, fazendo da torre campanária uma espécie
de farol, ou de guia para os barcos que buscam o porto fluvial. Essas pedras
afloradas, que vieram dar nome ao antigo povoado, também esconderiam
fossos, cavernas inundadas, caves cheias d’água. E corre a lenda de que
naquelas pedras defronte à igreja, bem debaixo do velho Cruzeiro, existem uns
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buracos muito fundos, uns corredores cheios d’água, abaixo do nível do rio. Foi
para esse lugar que o surubim levou a criança que ele salvara – conforme,
nessas paragens, conclui a lenda do peixe dourado e o menino, conhecida em
tantos recantos do país. A criança fora atirada ao rio num acesso de loucura da
sua mãe. Com presteza, porém, o surubim recolhe o menino rejeitado e, na sua
morada debaixo do Cruzeiro velho, irá criá-lo com carinho. Hoje, na opinião de
alguns, nada mais se sabe do sucedido, conquanto outros digam que o menino
ainda está vivo, já de cabelos brancos como um ancião, embora não tenha
crescido, continuando pequeno como uma criança.
Não raro tais fantasias são contadas descontraidamente, com certa
naturalidade, como que demonstrando o apreço que as pessoas dispensam às
tradições e costumes da sua comunidade. E, de fato, aqui se tem um rico
acervo cultural para se cuidar, conforme bem mostra a originalidade da
decoração da cerâmica de Buriti do Meio.
Assim como noutras comunidades da região, em São Francisco os festejos dos
Santos Reis, ou dos Reis Magos, prolongam-se para além do dia seis de
janeiro, até os últimos dias e noites daquele mês. E nesses festejos incluem-se
várias celebrações, rezas e danças, que, mais uma vez, revelam o sincretismo
de muitas das manifestações religiosas brasileiras. Um sincretismo que merece
a reprovação de alguns, enquanto louvado por outros, pois que aí veem uma
manifestação onírica, uma manifestação do espírito pacífico, sonhador e alegre
que caracteriza o povo simples deste país.
O Boi de Reis é uma concretização dessas expressões culturais, e que nada
parece ter de caráter religioso. Não há um dia escolhido previamente para que
esse acontecimento seja realizado, pois que promovido quantas vezes quanto
desejarem os seus adeptos e participantes, podendo, ademais, ter lugar em
vários pontos da cidade simultaneamente, tal como se dá com as festas
juninas. Diz-se que se compra o Boi - com uma prenda, oferenda ou
contribuição em dinheiro, geralmente junto a um grupo de pessoas do bairro
residencial. Esse grupo promotor do festejo não se constitui, necessariamente,
numa entidade organizada. Embora uma irmandade, associação ou grêmio
possa interessar-se numa tal promoção, é muito comum que o festejo surja da
simples iniciativa de um grupo de jovens, os quais visariam, por exemplo,
arrecadar dada quantia em benefício próprio. Assim, o montante obtido nas
suas apresentações poderá vir a ser redistribuído entre os participantes ou, até
mesmo, usado para o custeio de uma festa de confraternização do mesmo
grupo de amigos. Contudo, as motivações podem variar sobremaneira, e o
intuito beneficente de uma entidade promotora organizada não parece excluído
desse rol de propósitos.
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E lá aparece o Boi, numa indumentária semelhante àquela do também
conhecido Bumba Meu Boi de outras regiões do país: a estilizada figura bovina
numa armação de cestaria, madeira e papier-mâché, ou coisa de igual efeito,
revestida de panos coloridos e muito enfeitada. Na região são-franciscana, o
séquito do Boi de Reis apresenta-se numeroso e com personagens
indispensáveis. Seguem-lhe, portanto: os Tocadores, com tambor, zabumba,
pandeiro e reco-reco, as Vidaleiras, que são as dançarinas muito agitadas do
grupo, os Vaqueiros, responsáveis pelas lutas ou rusgas figuradas, a Mulinha
de Ouro, presença cuja importância rivaliza-se com o aquela do próprio Boi,
além do curiosíssimo personagem Bicho Tamanduá. O deslocamento do
cortejo é feito alegremente à marcha folgada do Boi de Reis, todo enfeitado e
colorido, ao som do batido dos instrumentos dos Tocadores, à agitação das
evoluções das Vidaleiras e dos movimentos irrequietos da Mulinha, nos seus
volteios surpreendentes, e com o acompanhamento do Bicho Tamanduá e dos
Vaqueiros. Esse grupo desloca-se sem pressa, na verdade, mas com muita
movimentação interna. E cantam as Vidaleiras, incentivando a Mulinha:
A Mulinha é ouro
É ouro só
A chegada à casa do Comprador do Boi é anunciada com um verso cantado,
com o acompanhamento dos Tocadores:
Chegou, chegou
Chegou meu Boi aqui, agora
Chegou meu Boi de Reis
Neste instante, nesta hora
Segue-se a apresentação individualizada de cada personagem, declamando-se
ou cantando-se versos próprios a cada um deles, bem como uma animada e
confusa briga figurada e generalizada, com pinotes da Mulinha e investidas do
Boi. Concluída a apresentação, lá vai outra vez o Boi de Reis marchando num
requebro manso, com o seu fogoso séquito em evoluções sem descanso, na
busca de um novo endereço:
A Mulinha é ouro
É ouro só...
O visitante da cidade grande, onde esses folguedos simples inexistem, ou há
muito foram substituídos por diversões mais modernas, poderá sentir-se um
tanto surpreso, experimentando, talvez, certa estranheza quanto aos
sentimentos que tais celebrações folclóricas aí despertam. Paz de espírito,
alegria singela, distanciamento das preocupações corriqueiras do mundo atual.
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Em São Francisco também se conhece a Reza de São Gonçalo, um santo
casamenteiro de origem portuguesa, da cidade de Amarante, cuja celebração
foi modificada em terras brasileiras e se mostra variável segundo os gostos, os
costumes e as crenças das diferentes comunidades. Diferentemente do Boi de
Reis, a Reza é encomendada a uma irmandade ou grupo organizado,
geralmente com o propósito de se pagar uma promessa feita ao santo. A dança
parece constituir o ponto alto dessa manifestação folclórico-religiosa, tratandose da representação de uma corte, com vistas a um possível matrimônio.
Reúne-se à frente do anfitrião ou mestre da cerimônia uma fila de pares de
figurantes femininos, que seriam as moças pretendentes, cada par
sustentando, entre si e um pouco acima das suas cabeças, um arco enfeitado
de guirlandas e fitas brancas, e, assim, parecendo a fila formar um túnel. Ao
lado do anfitrião acha-se uma pequena orquestra: viola, sanfona, rebeca,
pandeiro, chocalho e reco-reco. Um par de figurantes masculinos, os possíveis
noivos, também se acha ao lado do mestre. Todos se vestem de branco. Essa
apresentação, ou dança, divide-se em etapas, jornadas ou langas, cuja
coreografia parece ser muito variável. Eis uma dessas langas: ao som de uma
melodia simples e repetitiva, os pares femininos enfileirados ensaiam passos
para um lado e para o outro, ondulando o corpo, suavemente. O primeiro par,
num movimento gracioso, cede o seu lugar de primazia ao segundo par da fila.
Esse, depois de ensaiar os seus passos laterais, irá ceder a primazia ao
terceiro par da fila original, que a essa altura já trocou de posição com aquele
par que viera ocupar o segundo lugar. Dá-se, pois, uma sequência de
movimentos sincronizados, em que cada par feminino apresenta-se ao mestre,
ensaia os seus passos e cede a vez ao par seguinte. A dança continua até que
venha a ser reconstituída a ordem em que os pares se achavam originalmente.
Nesse momento tem início a nova etapa da dança: o mestre ordena que o par
de noivos apresente-se a cada par feminino pretendente. Essa apresentação é
feita por meio de movimentos graciosos do par de noivos, evoluindo segundo
uma linha sinuosa entre os pares femininos da fila, que, ao mesmo tempo,
ensaiam ligeiros passos laterais. Ao que parece, a finalização dessa dança não
se conclui com um casamento, necessariamente. A corte entre os pares parece
ser o verdadeiro propósito dessa representação. Ao som da música repetida e
ritmada, os pares femininos cantam versos enquanto dançam. Eis um verso
tirado de um relato de Ariosto Espinheira, embora não faça parte do repertório
são-franciscano, necessariamente:
São Gonçalo do Amarante,
Casamenteiro das velhas,
Por que não casa as moças,
Que mal lhe fizeram elas?
22
Segundo um estudioso das artes, muitas são as variações brasileiras dessa
dramatização folclórica da Reza de São Gonçalo. E, de fato, até mesmo no
restrito âmbito dessa região do norte de Minas, certas diferenças podem ser
notadas: a Reza que se assiste no bairro da colônia de pescadores de São
Francisco, por exemplo, não parece seguir a mesma coreografia daquela
retratada e descrita pelo Centro de Artesanato Regional de Januária.
A cidade tem nos arredores do cais e da igreja de São José a sua parte mais
antiga, com uma ou duas bonitas praças arborizadas e ruas mais estreitas para
se abrigar do sol. Contudo, aí também já foram feitas obras de modernização
ao longo da beira-rio, tal como a nova pracinha denominada Orla, muito
apreciada pelos moradores. A cidade mais nova desenvolveu-se para o interior,
para trás da igreja matriz, com um centro comercial de ruas e avenidas largas,
retilíneas, algumas ornadas de canteiros centrais de altas palmeiras.
São Francisco ainda guarda bons testemunhos da sua arquitetura mais antiga,
tanto nas proximidades do cais, quanto junto ao centro de comércio. E tendo
sido fundada em fins do século XIX, essa arquitetura caracteriza-se pelas
decorações império brasileiro e art nouveaux, principalmente. Mas, a influência
do art deco francês está presente naquelas construções dos primeiros
decênios de século XX. Por seu turno, a igreja de São José mostra uma
arquitetura simplificada, influenciada pelo neogótico do norte da Europa
continental, com a sua torre campanária sobre nártex, à frente da grande navesalão. Uma arquitetura religiosa muito adotada nas cidades mineiras fundadas
naquela virada de século.
Segundo o citado escritor Ariosto Espinheira, aí canta o laborioso canoeiro:
Eu sou filho deste rio.
No São Francisco nasci:
Vivo ao norte, vivo ao sul,
Chorando com a juriti.
Essa cantiga triste, porém, não parece combinar com os dias ensolarados, de
céu azul claro e nuvens brancas, ralas, espichadas ou enroladas pelo vento, do
colorido cair da tarde e dos muitos sorvetes gostosos na sorveteria da avenida.
As boas-vindas da igreja de São José
23
O cais e a torre
O bonito Cruzeiro velho
O Boi de Reis (vindo de Itacarambi)
Originalidade da Faz. Buriti do Meio
24
Uma bonita pracinha de São Francisco
O neogótico singelo da Matriz
O edifício da Câmara Municipal
25
Riqueza de detalhes na decoração
E inovações surpreendentes
26
Balaustradas de casas comerciais
Hora de ir embora
27
4. Maria da Cruz, Januário e Matias
Os Cardoso de Almeida figuram entre os grandes personagens da história
dessa região nortenha de Minas, conforme apontam os registros mais
facilmente acessíveis. Ainda que nos tempos do Brasil Colônia os métodos de
ocupação das terras não tenham sido nada louváveis, cabe reconhecer que a
valentia daqueles antigos desbravadores foi muito grande.
Matias Cardoso de Almeida foi o primeiro a chegar, ao qual sucedeu o filho
Januário Cardoso de Almeida. E, talvez da mesma parentela, surge a corajosa
Maria da Cruz. Há quem diga que Maria era descendente dos tradicionais
Ávila, da Casa da Torre, da Bahia. E o seu nome completo sugere fidalguia:
Maria da Cruz Torre Prado de Almeida Oliveira Matias Toledo Cardoso.
Mas quem sabe, de fato, o que teria ocorrido naqueles tempos tão distantes,
dos quais tão poucos registros chegaram ao conhecimento atual? A brava
Maria da Cruz, sozinha e destemida, em tempos em que mulher em nada
mandava, construiu um grande domínio rural nos sítios então conhecidos por
Pedras de Baixo. Denominação que os diferençava daqueles onde se
estabeleceu a fazenda das Pedras de Cima, berço natal da cidade de São
Francisco. Ademais, essa valente figura da história regional teria participado de
uma denominada “conjuração do São Francisco”, o que sugere que também
fora muito ativa nos movimentos políticos que aí tiveram lugar.
O desbravador mais velho deu nome à atual próspera cidade de Matias
Cardoso, enquanto o seu filho veio a ser homenageado em 1860, quando se
batizou de Januária a cidade que então se criava a partir da vila de Porto
Salgado. Quanto a essa citada homenagem, há interpretação de que o
personagem então lembrado não foi Januário Cardoso, mas uma valorosa exescrava de nome Januária, a qual implantara um pioneiro e importante ponto
de comércio para negociar com os tropeiros e barqueiros do São Francisco,
nas proximidades do antigo Porto Salgado. Outros, ainda, propõem que o
nome fora escolhido em homenagem à Princesa Dona Januária, infanta de
Dom Pedro I e irmã de Dom Pedro II, Imperadores do Brasil.
Aqui nas Pedras de Maria da Cruz o rio corre manso, largo e imponente, deixa
a cidade à sua margem direita e, a alguns quilômetros mais adiante, desenha
uma curva para a esquerda, indo passar defronte às muradas do cais de
Januária. Cá de cima, no outeiro da igrejinha, tudo se pode apreciar: a
passagem dos barcos, a comprida e moderna ponte que ora liga as terras dos
dois municípios, as distantes e elevadas cristas rochosas no horizonte, a
planície de vegetação densa e baixa que as antecede.
28
A igrejinha de N. S. da Conceição, alta sobre a colina cercada pelo casario do
bairro residencial beira-rio, compõe um bonito quadro colorido e que muito bem
parece caracterizar a pequena e simpática Pedras de Maria da Cruz. Essa
igreja apresenta-se na tradicional arquitetura chã brasileira, a qual se
desenvolveu no século XVIII por toda a região das Minas, vindo a ser adotada
no amplo espaço definido pelas cidades interioranas das velhas províncias do
Rio de Janeiro, Minas Gerais e Goiás. Esse modelo arquitetônico caracterizase pela sua planta-baixa retangular, alçados sob a forma de caixa, cobertura de
duas águas, uma porta, duas janelas, frontão triangular e pano frontal
delimitado por duas pilastras nos cunhais terminadas por pináculos na forma de
pirâmide. Porta e janelas e as suas estruturas de alvenaria, as pilastras e os
seus pináculos, as empenas do frontão e a cornija, todas essas peças
mostram-se pintadas de azul claro, enquanto os panos dos alçados
apresentam-se caiados de branco. Parece interessante observar que esse
caiado assume nuances de cor que variam ao longo do dia, quando faz muito
sol. A figura do resplendor dourado no tímpano do frontão e o campanário sob
a forma de uma janela aberta acima do portal parecem estabelecer, nessa
igreja, o sinal distintivo de Pedras de Maria da Cruz. Tais distinções, sinais ou
identificações que singularizam a construção sacra da comunidade, são
cuidados ou detalhes adotados em muitas das cidades interioranas dos
referidos três estados brasileiros. Para completar o conjunto, tem-se no topo do
frontão uma cruz singela, pintada no mesmo azul, assim como em azul claro
apresenta-se o tradicionalíssimo cruzeiro no adro da igreja. É um primor de
testemunho histórico-arquitetônico, aos olhos do visitante.
A caminho de Januária, depois de se atravessar a bonita ponte que em ligeiro
arco alteado estende-se por mais de mil metros sobre o São Francisco, cruzase outra, menorzinha, cuja placa indicativa informa: ponte sobre o rio Ipueira.
Não se trata de um rio, propriamente, mas de uma ipueira – ou seja, de uma
lagoa espichada, de um braço fluvial temporário, sem saída, talvez, que surge
nas cheias e que pode mostrar-se seco no estio, quando as suas águas
recuam para o leito principal. E essa ipueira é muito pitoresca: apresenta-se
entre margens muito arborizadas, seguindo em meio à vegetação ciliar vistosa,
ao mesmo tempo em que a sua superfície acha-se tomada por uma planta
aquática regionalmente denominada golfe ou golfo, ou, ainda, rainha-daslagoas. Essa pontederiácea é considerada um estorvo às atividades ribeirinhas
e, particularmente, para a navegação. Exibe folhas muito verdes, cordiformes
alongadas, donde o seu o nome científico de Pontederia cordata lanceolata L.,
inseridas obliquamente em relação ao caule perpendicular à base submersa,
enquanto as suas flores azuis (ou seriam roxas?) apresentam-se em panículas
eretas.
Atualmente, as águas do São Francisco acham-se distanciadas do antigo cais,
na sua passagem pela cidade de Januária. Algumas centenas de metros
29
interpõem-se entre a murada portuária e o canal navegável, ou mesmo o leito
fluvial. Isso não exclui o fato de que cheias extraordinárias, por vezes, venham
a inundar as construções e bairros menos protegidos. Na verdade, na sua ação
natural, o rio modifica as linhas das suas margens, cava novas calhas, altera o
seu curso e, sendo assim, a ação do homem faz-se necessária para mantê-lo
dentro dos limites desejados e nas condições julgadas mais adequadas às
atividades sociais e à vida humana. Mas, mesmo assim, a vista do grande rio
que aí passa, do amplo e baixo arvoredo que na margem oposta antecede o
horizonte de curvas suaves, o céu claro dos dias de sol, a comprida murada
pintada de azul e branco e a fileira de árvores ao longo da Avenida São
Francisco, tudo compõe um agradável e inesquecível recanto.
Nesse mesmo bairro beira-rio encontram-se muitos exemplos da bonita
arquitetura mais antiga de Januária, a qual data dos últimos decênios do século
XIX e princípios do século XX. E até mesmo uma das suas ruas foi intitulada
Rua da Cultura, uma vez que abriga velhas construções bem preservadas, um
centro de artesanato regional e uma escola de artes. Não obstante, as
edificações de interesse histórico encontram-se espalhadas por toda a área
urbana. O conjunto arquitetônico formado pelos edifícios da Prefeitura e Fórum
Municipal revela-se particularmente admirável. Há aí uma bela composição
eclética. O Fórum exibe maior presença, com a sua estrutura de dois andares e
o seu estilo de inspiração neoclássica, onde a estrela da República já se faz
notar. O edifício-sede da Prefeitura apresenta uma estrutura mais leve, uma
simetria esmerada e uma decoração império brasileiro muito equilibrada.
Elementos do art deco figuram nos jardins dos fundos desse edifício, os quais,
outrora, deviam constituir jardins internos, possivelmente. Vários outros pontos
da cidade ainda irão oferecer ao estudioso, ou ao simples apreciador das artes,
novo material para as suas considerações.
O Centro de Artesanato Regional e o Mercado Municipal oferecem trabalhos
vindos de toda a redondeza de Januária, assim como criações originárias de
vários outros municípios. Os trabalhos de tear manual apresentam-se em
toalhas, panos e arazzi muito coloridos e atraentes. O artesanato de cerâmica
do povoado Fazenda do Candeal, município de Cônego Marinho, mostra uma
variada criação, utilitária e decorativa, cujas pinturas de enfeite parecem
conferir-lhe uma clara identidade. As atividades artesanais desse povoado
encontram-se bem organizadas, observando-se a divisão de tarefas e o
respeito ao direito de exclusividade de cada artesão no uso dos traços
decorativos que criara ou que a ele foram atribuídos.
O folclore está presente aqui também e, tal como sucede noutros municípios
são-franciscanos, manifesta-se nos trabalhos artesanais, nas comemorações
de episódios da história local, nos festejos de cunho religioso, nas lendas e nas
superstições, muitas destas comuns a numerosas comunidades mineiras.
30
Dessas histórias fantásticas partilhadas pelas crendices de muitos povoados
brasileiros, o cuidado dispensado à lenda da Mula Sem-Cabeça nesse norte de
Minas parece digno de nota, a julgar-se pela narração recolhida pelo estudioso
do folclore regional Manoel Ambrósio Junior. Esse caso saído da crendice
popular revela-se absolutamente extraordinário, quando se tem em conta que
aí se junta o fantástico ao surreal. Pois que a mula, mesmo não tendo cabeça,
relincha, solta fogo pelas ventas e tem uma estrela na testa. Um primor da
imaginação fantasiosa!
A igrejinha de Maria da Cruz
A quilométrica ponte sobre o São Francisco
Atravessando a ponte
31
Januária - o rio e o cais
A pitoresca ipueira
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Construções da famosa Rua da Cultura
Preciosidades do estilo império brasileiro
33
A Prefeitura Municipal
O Fórum Municipal
34
5. O Itacarambi e o Peruaçu
As terras e as imensas formações rochosas que se estendem desde as
proximidades de Januária até para além de Cônego Marinho, Itacarambi e São
João das Missões abrigam várias Áreas de Preservação Ambiental, assim
como o Parque Nacional das Cavernas do Peruaçu. Partindo-se de Januária
para Itacarambi, tais formações rochosas mostram-se à esquerda da estrada,
das quais muito se acerca já na altura do povoado do Agreste para, em
seguida, ingressar-se por entre esses morros pedregosos e de formas
inusitadas. Mais adiante a estrada distancia-se novamente dessas elevações,
passando-se a trafegar por trechos construídos sobre os baixios arenosos
formados pela ação milenar do São Francisco. Do lado direito, o grande rio, lá
longe. Do lado esquerdo, as curiosas formações rochosas calcárias de origem
marinha.
Aqui o estudante da natureza estará percorrendo os sítios de um mar extinto há
milhões de anos, conforme explicam as teorias sobre o nascimento e a
evolução da denominada placa tectônica da América do Sul. Esses sítios
correspondem, portanto, àqueles que eram banhados pelas águas do mar Perisão-franciscano, que veio a desaparecer na antiguidade geológica do
Continente. Contudo, ainda hoje essas redondezas experimentam pequenos
abalos sísmicos, decorrentes dos movimentos de uma falha tectônica que
teima em se manter ativa, após tantos milhões de anos. Ou, dito de outra
maneira, tais abalos ou tremores constituem expressões da atividade tectônica
nessa área são-franciscana. Como essa atividade persiste, volta e meia
ocorrem tremores, tais como aqueles verificados de maio a dezembro de 2007
nos povoados de Caraíba e Vargem Grande, pertencentes ao município de
Itacarambi.
Tudo aqui tem muita beleza e história natural. O rio São Francisco descreve um
arco muito aberto defronte à cidade, deixando Itacarambi à sua margem
esquerda, do lado externo desse arco fluvial. Da balaustrada alta do cais
descobre-se uma paisagem ampla, grandiosa: o rio mostra-se largo e cheio; na
margem oposta espalha-se, por muitos quilômetros, uma planície coberta de
vegetação baixa e densa; o horizonte, de perfil suave e pouco movimentado,
acha-se distante; e ao cair da tarde as nuvens apresentam belas nuances de
colorido em contínua mutação, como sempre ocorre nessas paragens sãofranciscanas.
Itacarambi é nome de origem indígena. Dizem que significa “rio de muitas
pedras”, ou das muitas pedras, corretamente indicando que, nesse lugar, o rio
passa próximo desses imensos morros de pedra calcária. Mas, há também
35
quem diga que esse nome significa “lugar onde o peixe nada em torno da
pedra”, o que parece muitíssimo mais poético, muito mais atraente à
imaginação, claro está. E essa segunda interpretação revela-se, também, muito
correta, caso se refira ao rio Itacarambi e não ao São Francisco conforme se
supõe ordinariamente. Pois que, consultando-se os mapas geográficos, por
exemplo, observa-se que o rio Itacarambi rodeia aqueles mesmos morros de
pedra, antes de ir desaguar-se no São Francisco, num baixio arenoso adiante
de São João das Missões. Assim, enquanto o rio Peruaçu encontrou passagem
por entre as rochas e aí cavou o seu caminho, o Itacarambi contornou as
pedras e foi desaguar-se mais para frente. Itacarambi, nadando o peixe
contorna a pedra.
A área urbana de Itacarambi expande-se entre a margem esquerda do São
Francisco e as grandes formações rochosas, cujas encostas começam a
alguns quilômetros de distância do cais. De longe já se distingue a
luminosidade típica que o calcário cinza reflete através da vegetação rala que
lhe serve de cobertura. Trata-se de formações cársticas, como as denominam
os geólogos, rochas calcárias afloradas, as quais, caracteristicamente,
favorecem o surgimento de lapas, cavernas, dolinas, fossos e cursos-d’água
subterrâneos, dada a peculiaridade e a facilidade com que tais rochas são
erodidas pelos elementos naturais. Aqui, a ação realizada pelo rio Peruaçu
nessas formações, coadjuvada pelas intempéries, pelas investidas dos
vegetais, que vão pouco a pouco conquistando o terreno, e pelos
desmoronamentos provocados ou facilitados pelos abalos sísmicos,
possivelmente, exemplifica as alterações naturais do meio ambiente. Ao longo
do curso desse rio, assim como nos sítios vizinhos, surgiram numerosos topos
que se mostraram de utilidade para as atividades humanas há milhares de
anos. São cavernas e coberturas que teriam sido propícias para o abrigo dos
aborígines e para a guarda dos seus víveres e pertences, assim como
paredões que serviram de painéis para o registro da passagem daquele povo,
das suas figuras de expressão, da sua arte.
Os estudos aí realizados indicam que tais sítios foram habitados há onze mil
anos por uma população de origem ainda desconhecida. Atestam essa
presença ancestral os desenhos e pinturas que se acham nos paredões
rochosos, assim como os utensílios feitos de palha encontrados nas cavernas,
muitos deles ainda contendo restos fossilizados de gêneros alimentícios. Mais
ainda, as investigações dão conta da vida de animais pré-históricos nessa
área. Ossadas de preguiças gigantes foram descobertas nesses sítios, animais
que os pesquisadores estimam terem sido extintos há 12 mil anos. E todo um
rico acervo de história natural resta por ser explorado.
A história humana mais recente refere-se à presença de novos habitantes: os
caiapós, os cariris, os xacriabás (que se mantiveram em São João das Missões
36
e hoje tratam com cuidado da sua pequena cidade) e os bandeirantes, que
chegaram a partir do século XVII, inaugurando uma nova etapa da ocupação
do território brasileiro.
O acesso à área do Parque ainda se acha muito restringido, privilegiando-se as
investigações científicas. E são várias as especialidades daqueles profissionais
que têm visitado o Peruaçu. Geólogos, arqueólogos, paleontólogos,
antropólogos e biólogos, dentre tantos pesquisadores que aí encontram
material à espera de vir a ser decifrado. A própria paisagem, na sua morfologia,
na sua constituição rochosa e na sua origem geológica, constitui uma ilustração
impar de fenômenos, certamente instrutiva para todos os estudantes da
natureza. A visita a uma dessas cavernas revela-se surpreendente, por mais
que o estudioso possa conhecer tais formações através de descrições,
desenhos e fotografias. Adiciona-se, no caso do Peruaçu, a enormidade
dessas formações rochosas, a imensidão dos ambientes dessas caves, a
variedade de formas e efeitos luminosos, os exemplos da ação dos vegetais
sobre as rochas e dos cursos d’água buscando caminhos e os testemunhos de
desmoronamentos dessas grandes pilhas de pedra. Parece difícil imaginar uma
única e abrangente descrição desses sítios. Cada estudioso, no seu campo de
interesse, terá o seu próprio caso para contar.
Mas, não só nas cavernas do Peruaçu. Mesmo nas áreas adjacentes do
Parque descobrem-se muitas curiosidades e ilustrações de fenômenos de
interesse para o estudante da história natural. As formações rochosas exibem
variados exemplos de estromatólitos colunares, ou seja, de construções
calcárias sob a forma de colunas petrificadas, de mesclas rochosas de
calcários e sílicas, cherts bandados, que são rochas de sílica amorfa exibindo
bandas de diferentes coloridos, cristais de quartzo e agulhas de lazurita, veios
de chert intrometidos na rocha calcária, entre outras ocorrências de se admirar.
Tais são atrativos que o estudioso poderá constatar num passeio de Januária a
Cônego Marinho, ou de Itacarambi ao distrito de Vargem Grande, quando irá
galgar destacadas elevações rochosas, admirar o amplo panorama da planície
do São Francisco, acercar-se de formas pétreas intrigantes e conhecer
diferentes fisionomias da vegetação desse norte de Minas. E nesse ambiente
pleno de pedras, de vegetação rupestre, de aspereza, surgem os seus
habitantes silvestres, alguns menos conhecidos que outros: o mocó, um
simpático, arisco e ágil roedor de razoável tamanho, além das corriqueiras
cobras e lagartos, por exemplo. E, de fato, os calangos e os lagartinhos aí são
vistos com frequência, ora tomando um solzinho no topo dos rochedos, ora
correndo entre as cactáceas e as herbáceas encrespadas.
O senhor Jorge, embora não seja dessa região são-franciscana, conta que
certa vez uma lagartixa encontrou-se com uma jararaca bem à beira de um
desses caminhos pedregosos. Entre assustada e temerosa, a lagartixa puxou
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conversa: Ôôh! Você é muito venenosa, não é? E a cobra calmamente
respondeu: Qual nada. As pessoas se assustam muito. Não é o veneno que
lhes faz tanto mal. Quer ver? A gente faz o seguinte: eu mordo o primeiro
camarada que passar por este caminho e me escondo, e você aparece e lhe
mostra a cara. Depois, a gente faz o contrário: você morde e se esconde,
enquanto eu apareço para a vítima. Você vai ver que é a minha presença que
mete medo e mata. E assim fizeram. A vítima surge no caminho, a cobra morde
e se esconde, a lagartixa mostra-se gingando a cabeça e o pobre exclama: Ih!
A lagartixa me mordeu. Bicho sem-vergonha! E se foi. Logo aparece outra
vítima e, dessa vez, a lagartixa morde e se esconde, a cobra exibe a sua cara
de fera e o coitado grita apavorado: Ai, ai! A jararaca me mordeu, estou
perdido! E bate as botas no ato. Vitoriosa, a cobra vira-se para a lagartixa: Viu?
Mas esses arredores do Itacarambi não são feitos de rochas e pedrouços,
somente. O arvoredo que se espalha nas encostas e nos baixios mostra uma
folhagem muito verde antes da chegada do estio, e as muitas ervas, muitas
flores. Ao longo das estradas, de um e do outro lado, as plantas herbáceas
estendem pequenos e coloridos tapetes de flores. Nos caminhos de terra de
menor movimento, onde a natureza não é tão perturbada, parece que se
trafega, aqui e acolá, em meio a canteiros de jardim: pequenas ipoméias azuis
e roxas, bolinhas de estames de cor púrpura, pequenas campânulas amarelas
e alaranjadas, onze-horas brancas e amareladas, florzinhas vermelho-grenat.
Mais adiante as ipoméias cobrem os arbustos com alegres flores azuis ao
longo de dezenas de metros. No meio das pedras também. Aí surgem as
coloridas folhas das bromélias e as bonitas e bulbosas flores de cacto. Nesses
sítios tudo faz lembrar A Pátria, onde Olavo Bilac declama:
“A Natureza, aqui, perpetuamente em festa”.
Urucum, de São João das Missões
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O São Francisco chega a Itacarambi
E se vai, descrevendo um arco
Depois se despede o sol, colorindo as nuvens
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As extraordinárias formações cársticas do Peruaçu
O difícil acesso a uma caverna
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No interior de uma enorme caverna onde corre o Peruaçu
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Dolinas e claraboias
42
Os infindáveis efeitos de luz
A caminho de Cônego Marinho, novos atrativos
43
Estromatólitos
Desenhos do artesanato do Candeal
Subindo para Vargem Grande
44
Os caminhos floridos do norte
XXX
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